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segunda-feira, outubro 13, 2014

Para 2035 faltam só vinte anos

Na berma. Encontrado por Carlos Gomes nos caminhos insondáveis da Net

 

Vamos ter que mudar quase tudo em menos de uma geração


Mais do que continuarmos imersos na interminável guerra de palavras em volta das causas e efeitos que trouxeram a humanidade à presente crise financeira, económica, social, humanitária e cultural de que têm resultado epifenómenos conhecidos, como a proliferação do caos institucional e social, a instabilidade crescente dos sistemas políticos, as guerras civis e a crescente fricção bélica mundial, chegou o momento de olharmos para a geografia dos problemas, percebendo que há tendências objetivas de fundo, e que todos ganharemos em partilhar conhecimentos e soluções, pondo de lado o maniqueísmo social e os divisionismos locais e regionais. Estes, por melhores que sejam as razões, face à dimensão estrutural dos problemas em causa, não nos levarão a lado algum, salvo ao agravamento e extensão da tragédia coletiva que aflige já milhões de pessoas, se persistirmos na cegueira das causas imediatas do natural egoísmo de cada um e de cada grupo de interesses.

Sem percebermos a crise do paradigma energético não entenderemos nada do que se passa.

World primary energy consumption is projected to peak in 2035, when the world primary energy consumption rises to 15,914 million metric tons of oil-equivalent. By 2050, world primary energy consumption is projected to fall to 14,906 million metric tons of oil-equivalent. Peak Oil Barrel.

World carbon dioxide emissions from fossil fuels burning are projected to peak in 2027, with total emissions rising to 39,385 metric tons. Total carbon dioxide emissions are projected to fall to 29,309 million metric tons by 2050 and to 8,371 million metric tons by 2100. Peak Oil Barrel.

Não vale a pena irmos muito longe, nem sobretudo demasiado perto, procurar as causas da austeridade que caiu repentinamente sobre a maioria das pessoas. A população humana cresceu para lá da capacidade de satisfazer as suas necessidades materiais e culturais, e por isso envelhece agora como modo de adaptação à insustentabilidade coletiva, em vez de continuar a reproduzir-se exponencialmente.

A origem deste fenómeno encontra-se no esgotamento do próprio modelo de crescimento demográfico que assentou ao longo dos últimos duzentos anos no uso de técnicas de produção revolucionárias baseadas em fontes de energia que até então o homem não conhecia, ou conhecia mal, ou não dominava suficientemente:
  • o carvão usado nas locomotivas, barcos e outras máquinas alimentadas a vapor de água sob pressão, e ainda na produção da eletricidade aplicada à iluminação, alimentação de máquinas e exploração dos invisíveis, etéreos e virtualmente inesgotáveis campos eletromagnéticos; 
  • o petróleo necessário aos motores de ignição/explosão de vapores, que tornaram possível a expansão da indústria automóvel, náutica, aeronáutica e espacial, mas de onde sairia também a vasta e complexa indústria petroquímica imbuída no fabrico de quase tudo o que hoje usamos e consumimos; 
  • a energia hidroelétrica oriunda de centenas de grandes barragens; 
  • mais tarde a energia nuclear, 
  • e ainda os geradores eólicos, 
  • a energia fotovoltaica, etc. 

Sem carvão, sem petróleo e sem gás natural, porém, não haveria petroquímica, nem mais de 70% da energia elétrica hoje produzida e da qual depende criticamente o funcionamento das sociedades industriais e tecnológicas contemporâneas.

Pois bem, é este paradigma de energia abundante, transportável, armazenável e relativamente barata que tem vindo, desde 1973, a aproximar-se rapidamente do auge e do subsequente período de declínio. A observação dos quatro gráficos seguintes poupa muita retórica!

O peso do petróleo no PIB mundial cresce há mais de 40 anos


O consumo aumenta mais depressa do que a produção

Os produtores de petróleo precisam de vender cada vez mais caro...

Este mapa, em conjunção com os anteriores, mostra os limites temporais objetivos da globalização equitativa

No primeiro gráfico é clara a tendência para o encarecimento no petróleo e para a fatia crescente do PIB mundial dedicado à sua produção.

No segundo gráfico mostra-se que o mundo consome neste momento mais petróleo do que produz, ou seja, que a despensa das reservas começa a encolher.

No terceiro gráfico mostra-se até que ponto os principais países produtores de petróleo dependem cada vez mais dos elevados preços do mesmo para manterem os seus orçamentos públicos equilibrados. Na realidade, o chamado fiscal break-even oil price variava, em 2012, entre os 53,6USD por barril (no Kwait) e os 153,1USD pb (na Venezuela). Mesmo no caso da Arábia Saudita, o valor mínimo a que têm que vender o crude, para não afetar a respetiva estabilidade orçamental (e polítics!), encontra-se, desde 2012, acima dos 90USD. Ou seja, abaixo dos 80 dólares o barril, a maiorira dos países produtores de petróleo colapsa, e acima dos 120 dólares, é a economia mundial que estagna ou entra em recessão.

Finalmente, no quarto quadro, um mapa-mundo da distribuição do consumo do petróleo per capita em 2013, ficamos a saber que a tendência para um consumo geograficamente mais equilibrado e equitativo do petróleo está definitivamente comprometido, suscitando uma situação extremamente perigosoa no mundo, pois a expansão económica acelerada de países como a China, Rússia, Índia, Indonésia, Brasil, África do Sul, Angola, etc., pode ter chegado ao fim, pois a produção petrolífera em todos estes países já atingiu o pico. A China é agora o primeiro importador mundial de petróleo, tendo ultrapassado os Estados Unidos, e a Índia o terceiro. É pois difícil imaginar como o movimento de equalização económica que o fenómeno dos chamados países emergentes permitiu antever chegará a bom porto, sendo certo que tal aproximação é de todo impossível sem exportações maciças de petróleo do Médio Oriente e da Rússia para a Ásia. Mesmo a África e a América do Sul não tardarão a ver os limites dos gigantescos recursos de que ainda dispõem e que exportam já para lá do limiar da sustentação futura das suas economias.

Este mapa permite ainda perceber claramente porque motivo a Europa de Leste e o Médio Oriente se transformaram ao longo das últimas duas décadas nas duas zonas militarmente mais explosivas do planeta. O aumento de tensão e a probabilidade de guerras nos mares da China, Amarelo, do Japão e das Filipinas decorre da dependência crescente dos países do Oriente e Extremo Oriente (Índia, Indonésia, Filipinas, China, Coreia e Japão) dos recursos energéticos do Médio Oriente, África e América do Sul.

As soluções não estão à vista, mas é provável que as situações na China, no Japão e na Índia, cada vez mais dependentes de recursos essenciais que são forçados a importar em larga escala, venha a complicar-se num futuro relativamente próximo. A Revolução dos Guarda-chuvas, em Hong Kong, tal como as revoltas no Brasil, a Primavera Árabe, a nova crise na Crimeia e na Ucrânia, a guerra pela fragmentação da Síria e o cerco ao Irão depois da destruição do Iraque, são sinais mais do que evidentes da crise aguda de crescimento instalada à escala global.

Vamos ter que consumir menos energia e mudar radicalmente os paradigmas valorativos da prosperidade e do desenvolvimento. Tal como a economia digital caminhou rapidamente para modelos de consumo gratuito e garantido, tirando o máximo partido das economias de escala e das mais valias proporcionadas por serviços de valor acrescentado, também a economia tradicional, sobretudo aquela que diz respeito ao acesso básico à água, alimentação, energia e mobilidade e transportes terá que passar em breve por uma verdadeira revolução económica e social.

Mas para que esta metamorfose possa ocorrer de forma ordenada precisaremos de abrir as janelas da razão, da criatividade, da ética e do amor, e desligar os perigosos motores do maniqueísmo.


REFERÊNCIAS

  1. Fiscal break-even oil prices for major OPEC members
    April 3, 2014
    Dr Abhishek Deshpande and Nic Brown
    Oil&Gas Financial Journal


    Estimates point to a reduction of 200,000 barrels per day (b/d) in oil output and exports during 2014, which will sharply increase Saudi Arabia’s fiscal break-even oil price to approximately $97 per barrel (bbl). Coupled with mounting domestic fiscal pressure, tensions among OPEC members could be amplified as the debate over individual country output quotas is put in the spotlight.
    [...]
    Lower forecasts for 2014
    Collectively, these five key OPEC crude oil producers [Saudi Arabia, Iran, Iraq, Kuwait, UAE] have an output-weighted fiscal break-even oil price of around $93.3/bbl for 2014. Kuwait and the UAE have the lowest fiscal break-even oil prices, owing to high levels of oil production and exports relative to the size of their population.
  2. Deutsche Bank AG
    Commodities Outlook

    Supply momentum, supply curtailments and supply shock
    July 2014
     
  3. What is Fiscal Breakeven for Oil States?
    Posted on 19 April, 2014    by alfin2101
    When a national government depends upon income from oil & gas to balance its budget, the prices of oil & gas become very important to the economic health of that country. When oil-state governments grow financially over-extended through greed, corruption, ambition, or desperation, fiscal breakeven oil prices rise — even if market oil prices fall.
  4. BP Statistical Review of World Energy, June 2014
    BP-pdf

Atualização: 13/10/2015, 11:23 WET

segunda-feira, setembro 01, 2014

Portugal: que crescimento?

Clique para ampliar

E quem pode afirmar que vai fazer Portugal crescer, sem que o nariz lhe cresça desmesuradamente? 


20 years of the European single market: growth effects of the EU integration

by Bertelsmann Stiftung Future Social Market Economy (PDF)

The ongoing European integration has increased the eco- nomic growth of participating national economies. Calculating the cumulative gains in the real gross domestic product per capita resulting from the integration of Europe between 1992 and 2012, every national economy under considera- tion realized income gains from the European integration. Denmark and Germa ny saw the greatest gains per resident. If the values from only 1992 and 2012 are compared, every country except for Greece has been able to achieve a higher per capita income due to the European integration.

De Hollande a Seguro, passando pela viragem eleitoralista do governo de Passos Coelho, amparados todos pela promessa de facilidade monetária anunciada por Mario Draghi, embora orientada quase exclusivamente para socorrer bancos, governos, empresas e famílias sobre-endividadas, todos procuram acalmar as populações furiosas e ganhar votos, prometendo mais um shot de endividamento e confisco nas veias dos atordoados cidadãos europeus. Como se isto não fosse já uma tragédia anunciada, americanos, judeus sionistas radicais e europeus inconscientes empurram a Europa para uma situação política ameaçadora da sua própria estratégia comunitária.

Em 20 anos de integração europeia (1992-2012) a Alemanha viu o seu PIB real per capita aumentar 9000 euros. Portugal, no fim da tabela (só ultrapassado pelo Reino Unido), apenas melhorou 400 euros per capita. Ou seja, uma democracia capurada por rendeiros e devoristas não pode dar bom resultado.

Apesar de tudo, o gráfico deste sucinto mas esclarecedor estudo demonstra que não há alternativa ao processo de integração europeia, pois apenas este poderá diminuir as fortes assimetrias regionais e nacionais ainda existentes, sobretudo quando a inércia dos poderes indígenas, preguiçosos e parasitários, for finalmente varrida do lugar privilegiado que ocupa junto das tetas orçamentais.

As cleptocracias nacionais, os carteis e os rentistas que vivem em união de facto com os estados paquidérmicos e ineficientes que temos —verdadeiras reservas eleitorais das partidocracias dominantes— resistem à mudança e atrasam a Europa. Mas o seu prazo de validade chegou ao fim.

Está na hora de exigir e provocar uma alteração profunda nas instituições democráticas da União: desde o presidente da Comissão Europeia aos presidentes das Juntas de Freguesia.

Cuidado, em suma, com as promessas de crescimento, e vigilância redobrada sobre o uso dos dinheiros do próximo quadro comunitário de apoio!

Quatro novos gráficos sobre Portugal

Estes quatro gráficos sobre Portugal dizem quase tudo, mostram que, em geral, temos seguido as tendências económicas do Ocidente. Só que em registo quase sempre medíocre e indigente.



 Todos os gráficos (exceto o último) in: Desvio Colossal, de Pedro Serrano (grazia tanta ;)


Atualização: 6/9/2014, 16:04 WET

domingo, junho 15, 2014

Solução mágica para crescer?

Bombardeiro nuclear americano B-1


O estado de negação predomina entre os ignorantes economistas


Tal como o tardo-keynesiano Paul Krugman, Tyler Cowen acha que uma grande carnificina mundial poderia espevitar o crescimento! Escreve este patusco no NYT (what else?):
“An additional explanation of slow growth is now receiving attention, however. It is the persistence and expectation of peace.”
O pletórico Cowen está, porém, teoricamente errado no seu execrável raciocínio. E por uma razão muito simples: o crescimento rápido do Ocidente e parte do Oriente nos séculos 19 e 20 deveu-se à abundância, acessibilidade e baixo preço de duas fontes de energia hoje em declínio: carvão e petróleo. Basta empurrar um automóvel sem gasolina para perceber o valor inestimável de um litro de gasolina!

As duas grandes guerras mundiais e boa parte das guerras posteriores andaram sempre à volta disto: carvão, petróleo, gás natural e alguns minérios essenciais. Sem isto, nem sequer há maneira de pagar novas guerras mundiais, salvo se algum suicida no poder optar uma guera nuclear, ou biológica, cuja contenção, nomeadamente geográfica, ninguém pode assegurar — basta refletir um pouco sobre as consequências catastróficas do desastre nuclear de Fukushima (ver este vídeo impressionante). Por outro lado, depois de uma guerra nuclear, ou biológica, que seria necessariamente acompanhada de ataques químicos, guerra convencional e operações especiais de guerra assimétrica (terrorismo), causando certamente dezenas de milhões de mortos em pouco tempo, o crescimento que tantos anseiam, à direita e à esquerda (basta ouvir o que diz Jerónimo de Sousa), só mesmo alavancado em minhocas!

The Lack of Major Wars May Be Hurting Economic Growth
By Tyler Cowen, The Upshot/The New York Times, JUNE 13, 2014


The continuing slowness of economic growth in high-income economies has prompted soul-searching among economists. They have looked to weak demand, rising inequality, Chinese competition, over-regulation, inadequate infrastructure and an exhaustion of new technological ideas as possible culprits.

An additional explanation of slow growth is now receiving attention, however. It is the persistence and expectation of peace.

sexta-feira, junho 06, 2014

Emprego mentiroso



Criar emprego é o problema mais difícil de resolver


...virtually every job gaines since the trough of the depression has been matched by at least one person dropping out of the labor force. In fact, since December 2007, the total number of jobs is virtually unchanged, while the number of people not in the labor force has increased by an unprecedented 12.8 million from 79.2 million to a record 92 million. Recovery?

in US Finally Recovers All Jobs Lost Since 2007 While People Not In Labor Force Increase By 12.8 Million | Submitted by Tyler Durden on 06/06/2014 08:50 -0400 | ZeroHedge

A 'esquerda' desmiolada e oportunista que temos, que vive confortavelmente sentada nos bancos da indigente partidocracia que deixámos alegremente crescer e inchar, berra contra quem governa (PS ou PSD-CDS) por causa do desemprego e da falta de emprego, e propagandeia invariavelmente que a culpa é do governo de turno, clamando sempre contra a legitimidade política dos mesmos, no que é quase sempre acompanhada pelas ratas sábias da mérdia televisiva. Ao PCP e ao seu braço sindical compete a ladainha da exigência de demissão de Sócrates, de Passos Coelho, e amanhã do renascido Seguro.

E no entanto a desgraça é bem mais grave do que se imagina e frequentemente se mostra aos eleitores como sendo mero resultado da ganância privada e da capitulação dos 'socialistas'.

O problema tem uma origem com dupla face: a face dos longos ciclos (Fischer, D. H.) e a face não cíclica que resulta do fim do petróleo barato

O mundo inteiro só tem um horizonte credível pela frente: decrescer.

Pode fazê-lo de modo gradual, amigável e ordenado, ou pode caminhar para sucessivos colapsos, tensões e guerras. Uma possível extinção das sociedades civilizadas que conhecemos não é provável mas pode acontecer se não houver uma adequada gestão global da crise. A leitura de Collapse, de Jared Diamond, poderá ajudar a substituir o maniqueísmo dos bonzos mediáticos por um diálogo ponderado e informado sobre as alternativas concretas efetivamente à nossa disposição.

sábado, maio 17, 2014

Todos prometem crescimento!

Os stocks acumulam-se...

Todos prometem o que não existe. E há idiotas que acreditam e votam nas promessas — são os eleitores...


A promesa de crescimento é uma ladainha populista que só convence os idiotas e os que vivem aninhados no orçamento de estado. E Você, que não é idiota, acredita que vem aí crescimento, só porque o governo promete que agora sim, ou porque o pascácio do PS diz que com ele é que vai ser?

Então repare bem (clique nos gráficos para ampliar)

As vendas a retalho da Caterpillar mostram o fim do boom Keynesiano

Milhões de carros por vender em todo o mundo...
O Baltic Dry Index, que mede a procura de navios e carga marítima, o gráfico do colapso nas vendas da Caterpillar, líder mundial de máquinas usadas na contrução civil, as acumulações clandestinas de carros por vender que acabam na sucata (Unsold Cars), ou a queda imaprável do crédito privado na Europa, são indicadores da natureza sistémica da crise, cujo fim pressupõe outros paradigmas de desenvolvimento humano — precisamente aquilo de que as democracias populistas fogem, como o Diabo foge da cruz.

Tudo o que vimos até agora foi um maremoto de liquidez virtual deslocando-se dos bancos centrais para os bancos e governos, perpetuando o mito de que são ambos demasiado grandes para falir. À economia não chega, nem pode chegar, um cêntimo que seja!

Outro dado indesmentível da impossibilidade de crescimento económico nas atuais circunstâncias vem do setor financeiro, onde, não só é patente e escandalosa a indigência da banca portuguesa (BES, BANIF, BCP, ex-BPN, etc.), como é assustadora a exposição catastrófica do Deustche Bank (8º maior banco do mundo) ao buraco negro dos derivados financeiros.

Exposição do DB aos derivados financeiros especulativos

Deutsche Bank Scrambles To Raise Capital: Will Sell €8 Billion In Stock At Up To 30% Discount
Tyler Durden on 05/18/2014 11:46 -0400. Zero Hedge.

This is a chart we have been presenting since last year, updated periodically, showing just how vast Deutsche Bank's potential undercapitalization is/would be if, as in the case of Lehman, for some reason gross exposure suddenly became net, and there was counterparty failure. It is also the reason why we predicted as recently as last month when Deutsche announced it would issue another €1.5 billion in Tier 1 capital, that the German megabank's capital raising is far from over.

Sure enough, just out from Bloomberg:

    Deutsche Bank preparing a capital increase, aims to raise EU8 billion through new shares by end of June, Handelsblatt says, citing unidentified people in the finance industry.
    Deutsche Bank likely to get new single investor
    Negotiations ongoing, haven’t been made final
    Deutsche Bank declined to comment: Handelsblatt

Who will buy the shares?

Atualizado: 18/05/2014 19:06 WET

segunda-feira, maio 12, 2014

Crescimento? Onde?

Dois gráficos ilustrativos do não crescimento


Europa: desde 2007 que deixou de haver financiamento à economia

Japão: maior dívida soberana do planeta soma-se a contas externas negativas.

Crescimento zero não é problema.

O problema é que a economia e a segurança social dos países estão a ser engolidos pelo buraco negro da especulação financeira (derivados financeiros OTC) gerado pela carestia inevitável do petróleo e dos recursos naturais em geral, pela imparável intensidade energética e financeira da produção tecnológica, e pelo subsequente endividamento incontrolado dos governos, bancos, empresas e famílias em todo o mundo.

Solução?

Só consigo imaginar, infelizmente, a continuação do colapso em curso à escala global :(

quarta-feira, maio 07, 2014

O fim do crescimento, seguido de deflação e...


Medina Carreira precisa de mudar de discurso

The Death Cross Of American Business
Submitted by Tyler Durden on 05/06/2014 17:44 -0400 | ZeroHedge

So much for the recovery... As WaPo reports, the American economy is less entrepreneurial now than at any point in the last three decades. A rather damning new Brookings Institution report shows that US businesses are being destroyed faster than they're being created. As the authors of the report ominously explain: If the decline persists, "it implies a continuation of slow growth for the indefinite future," as new business creation has been cut in half since 1978.

O suicídio da capitalismo americano não vai ser bonito de ver.
Desde 2008 que mais empresas morrem por ano do que aquelas que nascem. Ou seja, depressão económica inevitável.

O Medina Carreira deveria começar a olhar para as estatísticas de outros países, e depois tentar perceber o que se passa, coisa que ainda não consegue, de todo!

Mas eu explico-lhe numa frase: sem petróleo barato, que acabou de vez, o crescimento capitalista acelerado e anormal dos últimos 120 anos (i.e. acima dos 2-3%) morreu. O que vimos de 1996 para cá foram bolhas financeiras e endividamento desenfreado desenhados com o único propósito de esconder e atrasar o inevitável, i.e. a chegada de uma nova era de equilíbrio macro-económico, precedida embora por um período de colapso, depressão e deflação, que irá desgraçar todos os indivíduos, empresas, especuladores e estados sobre-endividados.



É aliás esta a explicação simples para o insucesso a que a 'esquerda' idiota que temos, a começar pelo PS do acólito Seguro, está inexoravelmente condenada. A 'esquerda' indígena, ou ganha juízo, ou vai pulverizar-se rapidamente, com possíveis erupções extremistas episódicas e sem qualquer hipótese de êxito, pela explicação sociológica dada em post anterior.

Recomendo a todos a leitura de The Great Wave, de David Hackett Fischer.

domingo, fevereiro 23, 2014

Mais portugueses!

À entrada do congresso do PSD. Foto: Jornal de Negócios


O primeiro crescimento que temos que cuidar é o crescimento demográfico


A preocupação com a natalidade é tardia, mas mais vale tarde que nunca.

Que vamos a caminho de reduzir a população portuguesa para os níveis da Catalunha é algo que vem em todas as previsões demográficas. Que é possível mitigar o desastre combinado do envelhecimento e simultânea perda de população, é. Mas temos que agir com clareza, determinação e sem mais demora.

Algumas ideias simples:
  1. abertura de uma conta de obrigações de dívida pública em nome de cada nova pessoa nascida em Portugal a partir de dezembro de 2014, no valor de 2000 euros, com rendimento garantido de 3 a 4%, e senioridade perante qualquer hipotética reestruturação da dívida. Estes dois mil euros seriam divididos em títulos a 10 e 20 anos, resgatáveis a favor exclusivo dos seus titulares.
  2. atribuição de um abono de família equivalente a metade do chamado rendimento de inserção social por cada um dos três primeiros filhos biológicos do agregado familiar.
  3. isenção total de taxas moderadoras na prestação de cuidados de saúde até aos 14 anos.
  4. escolaridade obrigatória totalmente gratuita, incluindo todos os manuais escolares, que deverão ser digitalizados, acessíveis online, e produzidos segundo economias tecnológicas e de escala favoráveis à sua atualização permanente e baixo custo de produção.
  5. favorecer a formação profissional e académica superior privilegiando um amplo e rigoroso sistema de bolsas atribuíveis apenas em função do mérito dos candidatos.

Esta medidas devem ser aplicadas independentemente dos níveis de rendimento dos agregados familiares, e devem abranger apenas os primeiros três descendentes de cada agregado familiar.

Esperemos que as palavras de Pedro Passos Coelho não tenham saído da sua boca como mera propaganda eleitoralista.


POST SCRIPTUM

A notícia que entretanto veio nos jornais
Incentivo a natalidade proposto por Passos Coelho exige mais emprego e mudanças na lei laboral — Público, 23/02/2014 - 23:14.

Não se conhecem ainda os pormenores, mas o anúncio de Pedro Passo Coelho, neste domingo, no congresso do PSD, mostrou-se ambicioso quanto baste: criar uma comissão multidisciplinar, chefiada por Joaquim Azevedo, da Universidade Católica, para, em três meses, preparar um plano de acção na área da natalidade
Última atualização: 24/2/2014 12:38 WET

quinta-feira, janeiro 30, 2014

Marek Dabrowski says that the global economy's glory days are in the past. - Project Syndicate

Marek Dabrowski says that the global economy's glory days are in the past. - Project Syndicate
WARSAW – The global economy’s glory days are surely over. Yet policymakers continue to focus on short-term demand management in the hope of resurrecting the heady growth rates enjoyed before the 2008-09 financial crisis. This is a mistake. When one analyzes the neo-classical growth factors – labor, capital, and total factor productivity – it is doubtful whether stimulating demand can be sustainable over the longer term, or even serve as an effective short-term policy.

Menos atenção à propaganda e mais pensamento estratégico, p.f.
WARSAW
– The global economy’s glory days are surely over. Yet policymakers
continue to focus on short-term demand management in the hope of
resurrecting the heady growth rates enjoyed before the 2008-09 financial
crisis. This is a mistake. When one analyzes the neo-classical growth
factors – labor, capital, and total factor productivity – it is doubtful
whether stimulating demand can be sustainable over the longer term, or
even serve as an effective short-term policy.
Read more at http://www.project-syndicate.org/commentary/marek-dabrowski-says-that-the-global-economy-s-glory-days-are-in-the-past#Ub3Uc2TDLGGdJVBI.99
WARSAW
– The global economy’s glory days are surely over. Yet policymakers
continue to focus on short-term demand management in the hope of
resurrecting the heady growth rates enjoyed before the 2008-09 financial
crisis. This is a mistake. When one analyzes the neo-classical growth
factors – labor, capital, and total factor productivity – it is doubtful
whether stimulating demand can be sustainable over the longer term, or
even serve as an effective short-term policy.
Read more at http://www.project-syndicate.org/commentary/marek-dabrowski-says-that-the-global-economy-s-glory-days-are-in-the-past#Ub3Uc2TDLGGdJVBI.99
WARSAW
– The global economy’s glory days are surely over. Yet policymakers
continue to focus on short-term demand management in the hope of
resurrecting the heady growth rates enjoyed before the 2008-09 financial
crisis. This is a mistake. When one analyzes the neo-classical growth
factors – labor, capital, and total factor productivity – it is doubtful
whether stimulating demand can be sustainable over the longer term, or
even serve as an effective short-term policy.
Read more at http://www.project-syndicate.org/commentary/marek-dabrowski-says-that-the-global-economy-s-glory-days-are-in-the-past#Ub3Uc2TDLGGdJVBI.99
WARSAW
– The global economy’s glory days are surely over. Yet policymakers
continue to focus on short-term demand management in the hope of
resurrecting the heady growth rates enjoyed before the 2008-09 financial
crisis. This is a mistake. When one analyzes the neo-classical growth
factors – labor, capital, and total factor productivity – it is doubtful
whether stimulating demand can be sustainable over the longer term, or
even serve as an effective short-term policy.
Read more at http://www.project-syndicate.org/commentary/marek-dabrowski-says-that-the-global-economy-s-glory-days-are-in-the-past#Ub3Uc2TDLGGdJVBI.99

quarta-feira, novembro 06, 2013

A Europa é o centro

Para Portugal a memória de África continua no coração.

Levantar a cabeça e olhar o horizonte...

AO CONTRÁRIO DA UNIÃO EUROPEIA, JAPÃO E ESTADOS UNIDOS, que vegetam entre o crescimento débil e a recessão desde 2009, e dos 12 países ricos em matérias primas sob ameaça de crise mencionados neste estudo de Bryson e Miller, há 37 países a crescer mais de 6% ao ano (Banco Mundial). Os profissionais e as empresas da Europa devem olhar para estas paragens, propondo-se levar-lhes valor acrescentado: profissional, tecnológico, científico, organizacional e cultural.

CURIOSAMENTE, a América Latina parece já ter atingido o pico da sua desequilibrada prosperidade, em grande medida atada às matérias primas e à perpetuação de sociedades oligárquicas autoritárias e populistas, havendo mesmo países, como a Venezuela, rapidamente a caminho do colapso económico e social. África e Ásia Pacífico são as paragens mais promissoras para criar riqueza nas próximas três décadas — apesar dos perigos e condições de partida nada favoráveis em muitos destes lugares.

MAS ATENÇÃO: a União Europeia, apesar do crescimento vegetativo em que se encontra e da metamorfose do paradigma de desenvolvimento que está dolorosamente em curso, é a plataforma integrada mais apta para promover e lucrar com a transição em curso da economia mundial.

Solidariedade, transparência, justiça e imaginação ao poder!

37 países a crescer a mais de 6% ao ano desde (2012):
  1. Afeganistão,
  2. Angola,
  3. Arménia,
  4. Bangladesh,
  5. Butão,
  6. Burkina Fasso,
  7. Cambodja,
  8. China,
  9. Macau,
  10. Rep. Congo,
  11. Costa do Marfim,
  12. Eritreia,
  13. Etiópia,
  14. Gana,
  15. Indonésia,
  16. Iraque,
  17. Kuwait,
  18. Laos,
  19. Libéria,
  20. Moldávia,
  21. Mongólia,
  22. Moçambique,
  23. Níger,
  24. Nigéria,
  25. Panamá,
  26. Papua Nova Guiné,
  27. Peru,
  28. Filipinas,
  29. Ruanda,
  30. Serra Leoa,
  31. Tajaquistão,
  32. Tanzânia,
  33. Tailândia,
  34. Timor-Leste,
  35. Turquemenistão,
  36. Uzebequistão,
  37. Zâmbia

segunda-feira, março 04, 2013

E depois do petróleo?

A era pós-industrial está a transformar-se num pesadelo

1415-2015: uma era que chega ao fim

Começa a ser tempo de sabermos a verdade. Apesar do declínio demográfico português, a população mundial vai continuar a crescer até 2050, dos atuais sete mil milhões de almas, para mais de nove mil milhões, ou seja, somaremos à população que hoje somos, até 2050, o equivalente à população mundial de 1927.

Sabe-se que não é possível aumentar significativamente a produção de petróleo (1), gás natural e carvão, e que a simples manutenção dos atuais níveis de produção está a revelar-se cada vez mais difícil e dispendiosa, por efeito da degradação rápida do chamado EROEI (Energy Return On Energy Investment). Os países exportadores exportam cada vez menos, também porque consomem mais, e os países importadores têm cada menos meios financeiros para importar o petróleo, gás natural e carvão de que necessitam para manter as suas economias a funcionar. As balanças comerciais dos importadores de combustíveis fósseis têm vindo a deteriorar-se e o seu endividamento é cada vez mais dramático.

A tendência para o endividamento é geral

Vamos, pois, ter que alimentar, vestir, abrigar, transportar e prestar serviços de educação, saúde e assistência social, entre outros, a mais cerca de sessenta milhões de pessoas por ano até 2050. Será o mesmo que vermos nascer anualmente uma nova Itália, mas sem mais território, nem mais recursos energéticos, minerais e alimentares suficientes para suportar qualquer incremento real do chamado produto interno bruto das economias.

A energia fóssil que permitiu transformar radicalmente a civilização nos últimos duzentos anos —carvão, petróleo e gás natural— entrou num patamar de estagnação relativa, e deverá começar  a declinar depois de 2015, acelerando dramaticamente o movimento de queda lá para 2030-2040 (2).

Mesmo sem aumentarmos o consumo destas fontes de energia —o que significará inexoravelmente uma qualquer forma de racionamento energético, dado o crescimento demográfico em curso— todos os estudos sérios apontam para o colapso destes motores da civilização moderna e contemporânea até ao fim deste século.

E o entanto os efeitos desta escassez anteciparam-se às previsões dessa ciência oculta a que chamam economia! O endividamento disfarçado das nações acumulou desequilíbrios que acabariam por atirar o mundo inteiro para um gravíssimo problema financeiro, económico, social e político desde 2008. A maioria das economias nacionais e regionais já está ou caminha para espirais recessivas de que dificilmente sairá, salvo por breves períodos de alívio. O tempo dos estímulos puramente financeiros, assentes no consumo, na criação fictícia de massa monetária e na especulação, ou seja, no endividamento público e privado dos povos, terminou. Já nem a China se livra dos efeitos desta mistificação económica.


A China não pode crescer sem ameaçar as reservas mundiais de carvão e petróleo, e vive, como se vê neste gráfico, imersa em bolhas keynesianas típicas

Estamos, como se pode imaginar, metidos num imenso sarilho. Em breve perceberemos que o discurso do crescimento morreu, que o empobrecimento veio para ficar, que o risco de implosão social é muito sério, que o colapso das classes médias está em marcha, que o sistemas financeiro global está preso por fios cada vez mais frágeis, que o perigo de um fascismo fiscal espreita as democracias, que estas, por sua vez, estão estruturalmente ameaçadas, e que, em suma, ou descobrimos uma maneira ordenada de fechar esta era de desperdício e insustentabilidade, ou a transição civilizacional mergulhará povos, nações, países, regiões inteiras numa espiral de caos e destruição violentos.

Até ao aparecimento da máquina a vapor o desenvolvimento económico, social e cultural dos povos mais avançados do planeta fez-se à custa da tração animal e da escravatura (foram essas as suas energias motrizes!) As taxas anuais de crescimento andaram então sempre entre 0% e 1%, sucedendo-se, todavia, eras inflacionistas sempre que a procura agregada de produtos crescia mais depressa do que a oferta [D. H. Fischer]. Só depois da introdução em massa dos combustíveis fósseis no desenvolvimento da economia e da tecnologia é que o crescimento mundial chegaria à média dos 3% (com picos geográficos, sempre temporários, na ordem dos dois dígitos). No estado a que chegámos, se o crescimento mundial conseguir um patamar dinâmico na ordem dos 1% até ao fim deste século já seria extraordinário.

Para alcançar tão ambiciosa meta —a alternativa a isto chama-se estagflação— teremos ainda que descobrir um caminho credível e exequível para as chamadas sociedades de transição. E temos que colaborar todos —à escala planetária—numa melhor repartição e uso dos recursos disponíveis, em vez de nos envolvermos numa guerra sem fim pelo último atum, pelo último barril de petróleo, pelo último ribeiro de água fresca, pela última nesga de ar puro. O desafio é ciclópico, mas é também uma gigantesca oportunidade para a imaginação e criatividade da raça humana.

Precisamos de nos preparar para uma verdadeira metamorfose cultural, deixando para trás as dicotomias felizes da ideologia moderna. Em 1983 lancei, com um grupo de artistas, entre os quais, pintores, arquitetos, músicos, encenadores e desenhadores moda, um grande evento cultural a que demos o título DEPOIS DO MODERNISMO. Foi há trinta anos, mas não andámos longe da realidade!

NOTAS
  1. Experimentem escrever na janela dum buscador (Google, DuckDuckGo, etc.) assaltos+bombas+gasolina. Numa pesquisa agora mesmo feita no Google obtive 374 mil resultados!
    Esta é a dimensão mais evidente de uma realidade chamada Pico do Petróleo. Perguntem às cartomantes da economia o que é isto. Tenho a certeza que meterão os pés pelas mãos.
    Sem petróleo, ou com este a preço de ouro, a civilização moderna colapsa — pura e simplesmente! Acima dos 100 dólares o barril, durante 6 meses ou mais, a economia mundial entra em recessão. Acima dos 140 dólares —preço de ouro— a economia mundial colapsa, pura e simplesmente, como ocorreu entre agosto e setembro de 2008.
    Reparem no gráfico do preço do Brent desde 2002
    .
  2. Para os mais interessados neste tema vale mesmo a pena assistir em diferido ao seminário promovido em Estocolmo, em novembro de 2012, sobre os dados mais recentes relativos ao pico do petróleo e suas consequências no preço dos combustíveis, a par dos impactos inflacionistas no resto da economia, por efeito do chamado Energy Return On Energy Investment (EROEI).
Peak Oil Postponed? – Seminar at the think tank Global Challenge in Stockholm Sweden (7 nov 2012)

 
Professor Kjell Aleklett speaks of the Peak Oil phenomenon at a seminar arranged by think tank Global Challenge in Stockholm. Eva Alfredsson opens the "Peak Oil Postponed?" seminar.


Peak Oil Postponed? — Professor Charles A. S. Hall speaks of his concept "Energy Return on Investment" (EROI) at a seminar arranged by think tank Global Challenge in Stockholm.


Biophysical Economics - Professor Charles A.S. Hall



Discussion on Peak Oil with Professors Kjell Aleklett and Charles A. S. Hall moderated by Anders Wijkman.



ÚLTIMA HORA

China ultrapassa EUA e torna-se no maior importador de petróleo do mundo

Os EUA lideravam o “ranking” dos países importadores de petróleo desde 1970. Em Dezembro de 2012, as importações líquidas de crude caíram para os 5,98 milhões de barris por dia, igualando valores de 1992. No mesmo mês, as importações líquidas chinesas cresceram para os 6,12 milhões de barris por dia, segundo a alfândega do país — in Jornal de Negócios, 04 março 2013; 14:47.

Esta notícia é importante.

Por um lado, porque as duas maiores economias do mundo só poderão sobreviver como tais se importarem mais de 12 milhões de barris de petróleo por dia (a produção mundial total de petróleo convencional não supera os 80 milhões bpd), e por outro, porque os dois maiores exportadores de crude do planeta, Arábia Saudita e Rússia, vendem pouco mais de 15 milhões bpd e tenderão a exportar menos a cada ano que passa...

Irão, Emiratos Árabes Unidos, Nigéria e Kuwait exportam, cada um, pouco mais de 2Mbpd, e cada um dos restantes exportadores tem menos de 2Mbpd para vender.

Segundo estatísticas da BP, em 2005 exportaram-se 47,9Mbpd, mas em 2010 este número tinha baixado para 43,8Mbpd.

A terceira guerra mundial vai, pois, ter a mesma espoleta das anteriores —o petróleo— a menos que os países da Lusofonia consigam propor e fazer vingar uma espécie de Novo Tratado de Tordesilhas sobre a repartição ponderada dos recursos vitais da atual civilização industrial e tecnológica, entre o Ocidente e o Oriente.

Vejam o meu mapa sobre este assunto (é essencial ir aos zooms....)

Os números que se seguem sobre as importações portuguesas de petróleo são meramente indicativos, pois a informação indígena a este respeito (como noutros temas cruciais) é tudo menos clara e fiável...

Barris por dia

2001: 357 300
2003: 106 300
2005: 390 300
2008: 323 000
2009: 294 600
2010: 277 400 (ou 224,5)
2011: 205 400 (ou 207,5)

Grosso modo podemos dizer que não passamos sem importar à volta de 260 mil barris de petróleo por dia, ou seja, uns 95 milhões de barris/ano.

Aos preços de hoje isto significa que a nossa fatura petrolífera é de 8 mil milhões de euros/ano!

Uma metodologia para trabalharmos na transição da economia portuguesa para a era pós-industrial e pós-petrolífera seria começar por cortar as importações de petróleo em 2% ao ano (taxa de exaustão do crude disponível no planeta) de aqui em diante! Em 2013, menos 160 milhões de euros de importações, etc...

Com esta equação na cabeça é possível caminharmos solidariamente para uma sociedade de transição. Doutra forma será o caos político permanente e um desastre económico e social com data marcada :(

MAIS DADOS PARA PENSAR, E SOBRETUDO AGIR!

A subida do preço do petróleo desde 1998 (ver este gráfico interativo) para cá implicou a maior transferência de sempre de riqueza da Europa para os países produtores de petróleo (António Costa e Silva/Partex).

Assim sendo, perante a recessão imparável, se há setor obrigado a fazer uma travagem às quatros rodas, é o dos transportes, começando desde logo pelo transporte aéreo, seguido pelo rodoviário.

A União Europeia é hoje o segundo maior consumidor e o segundo maior importador de petróleo do planeta. No entanto, o consumo e as importações têm vindo a decair desde 2008. Pelo contrário, os países exportadores têm vindo a consumir mais e portanto a exportar menos. Se querem perceber a principal casa da recessão europeia e americana, aqui vai: menos consumo de energia oriunda do petróleo!

Veja-se (neste gráfico) o que vai acontecer em breve ao transporte aéreo, e porque ninguém quis comprar a TAP :(

Repare-se ainda (nesta listagem) como o consumo de petróleo perdeu elasticidade e a sua mais equilibrada distribuição regional prejudicou claramente os consumos de crude nos EUA e ainda mais na União Europeia...


Última atualização: 8 mar 2013, 14:07 WET

terça-feira, janeiro 29, 2013

1,2,3, Portugal

A barreira energética é a verdadeira causa da metamorfose em curso...

Os dados estão lançados. Cabe-nos, como ao resto mundo, tentar a transição par uma espécie de futuro-anterior

O Crescimento potencial do PIB mundial previsto pela OCDE (1) em 2012 é, no período 2012-2017, de 3,4%, em 2018-2030, de 3,3%, e entre 2031 e 2050, de 2,4%. Os crescimento do emprego nos mesmos períodos será de 0,9%, 0,6% e 0,1%. Tendo em conta o crescimento acelerado dos países mais populosos, menos industrializados, menos protegidos socialmente, e também menos instruídos da OCDE —Turquia, China, Indonésia, Índia e Chile (com taxas anuais médias de crescimento acima dos 5%)— é evidente que os países mais desenvolvidos tenderão a crescer abaixo dos valores médios acima indicados.

Assim, para Portugal, as previsões da OCDE em matéria de crescimento do PIB são de 0,7% no intervalo 2012-2017, de 1,9%, entre 2018 e 2030 e de 1,6% de 2031 a 2050. O crescimento potencial do emprego nos mesmos períodos será sucessivamente de 0,1%, 0,1% e -0,4%.

Ou seja, quer a nível global, quer no cantinho luso-galaico, nos próximos trinta e sete anos é sempre a descer. O ritmo do crescimento abranda, incluindo na China, onde a OCDE prevê que passe de um crescimento potencial na ordem dos 8,9% em 2012, para 2,8% em 2050. Esta tendência é também verdadeira para a demografia mundial, cujo pico de crescimento deverá ocorrer, segundo a ONU, por volta de 2030-2040.

Se houver erro neste cenário da OCDE, será por excesso (de otimismo), e não por defeito.

A algazarra mediática interminável a que temos assistido não passa, portanto, de uma cortina de fumo que é preciso desfazer, sob pena de não vermos o que realmente aí vem: o fim de uma era de crescimento e inflação (2); um longo período de estagnação económica e empobrecimento, eventualmente acompanhado por guerras sucessivas em volta dos principais recursos energéticos da nossa civilização industrial: carvão, petróleo, gás natural e urânio; e depois desta grande contração que poderá só bater no fundo por volta de 2030 —se tivermos sabido evitar a mesma sorte dos habitantes da Ilha da Páscoa— iniciar então uma nova era de equilíbrio mundial.

Chegou o momento de afastarmos as dicotomias confortáveis. José Sócrates foi um irresponsável, mas o que está a cair em cima de todos nós não é fundamentalmente obra sua. Vem de trás, vem, pelo menos, dos anos 70 do século passado, e até foi previsto por um geólogo americano em 1956 —M. King Hubbert (3).

Os números acima citados do relatório da OCDE (1) ajustam-se que nem uma luva negra a este quadro sobre a evolução das taxas médias de crescimento mundial ao longo dos últimos sete mil anos (4):

A grande aceleração deu-se entre 1950 e 1970.

Estamos neste preciso momento a entrar à escala global numa fase muito perigosa.

Não é possível crescer sem consumir mais energia. Crescer pela via do endividamento (usando o consumo como falácia do crescimento) é um falso crescimento e uma solução tentada desde a década de 1970, mas que chegou ao fim. As principais fontes energéticas do crescimento real acelerado —carvão, petróleo, gás natural e urânio—estão à beira de deixarem de ser abundantes e baratas.

Por duas vezes a Alemanha foi travada no seu dinamismo industrial, precisamente pela via da limitação do seu acesso à energia petrolífera. O mesmo sucedeu ao Japão durante a Segunda Guerra Mundial, inicialmente desencadeada para travar a Alemanha, mas que serviu também para condicionar manu militare a expansão já então iminente da Ásia. A recente criação do Africon, por iniciativa e comando dos Estados Unidos da América, a par da desestabilização árabe, e da recente operação especial montada no Mali (principal fornecedor de urânio à França e à China—que nos próximos vinte anos poderá ter que passar das atuais onze centrais nucleares para... 245!), ou ainda a guerra movida pelo dólar contra o euro desde 2008, são sinais evidentes de um novo e próximo choque das placas geopolíticas mundiais. O motivo é um só: assegurar o acesso ao último atum, ao último barril de petróleo, e ao último átomo de urânio!

Se não houver vontade nem imaginação suficientes, a correção do excesso de procura agregada mundial será realizada uma vez mais pela via da destruição maciça da capacidade produtiva global e de milhões de vidas humanas inocentes.

Portugal, uma sociedade a caminho da transição?

Admitindo que cada país pode e deve fazer o seu trabalho de casa, creio que entre nós é cada vez mais urgente tomar consciência de uma realidade: o nosso sistema político está esgotado e não pode ultrapassar a inércia que o tolhe se não rasgar a presente Constituição e escrever uma outra, mais inteligente, menos ideológica, menos autoritária, menos orientada para a defesa económica e institucional das burocracias e da casta partidária, e mais estimulante do ponto de vista cultural.

O país está prisioneiro de uma nomenclatura burocrática, partidária e rentista, que não só agravou irresponsavelmente o sobre-endividamento do país —o quinto maior do planeta (5)— como resiste de todas as formas e feitios à mudança necessária, usando nomeadamente a constituição, o parlamento, os juízes e o presidente da república como armas de arremesso. A nomenclatura partidocrata, burocrática e rentista portuguesa age contra a própria economia, induzindo mesmo, pelo bloqueio que ergue à ação do governo, maior austeridade sobre a generalidade dos portugueses. Vale tudo para defender os seus indecorosos privilégios e mordomias. Esta realidade tem que mudar!

Neste ponto, como na situação mundial, não sabemos se o ajustamento que ainda falta fazer será conseguido de forma caótica, pela via da destruição social e da guerra civil, ou se, pelo contrário, seremos capazes de desenhar uma via de partilha efetiva de dificuldades e de cooperação criativa no desenho da sociedade de transição para que devemos caminhar em alternativa ao modelo de extinção da Ilha da Páscoa.

Temos que refundar o nosso modelo constitucional, de desenvolvimento e de sociedade. Por menos do que isto não iremos a parte nenhuma. O caminho passa por três decisões estratégicas fundamentais e urgentes:
  1. menos Estado
  2. eficiência económica
  3. fim do fascismo fiscal
O diagrama que se segue é sobretudo uma agenda de discussão que proponho à sociedade numa altura em que o sistema resiste como pode à adaptação e às necessárias mudanças.



NOTAS
  1. OECD Economic Outlook,
    Volume 2012/1
    Chapter 4
    MEDIUM AND LONG-TERM SCENARIOS
    FOR GLOBAL GROWTH
    AND IMBALANCES 
  2. Vale a pena ler a este propósito, de uma ponta à outra, The Great Wave—Price Revolution and the Rhythm of History, de David Hackett Fischer (1996); e ainda The End of Growth—Adapting to Our New Economic Reality, de Richard Heinberg (2011).
  3. Não há como ir às fontes, em vez de perdermos tempo com os Roubini e os Krugman da farsa mediática em curso. E a principal fonte é esta: M. King Hubbert, “Nuclear Energy and the Fossil Fuels”. Presented before the Spring Meeting of the Southern District, American Petroleum Institute, Plaza Hotel, San Antonio, Texas, March 7–8-9, 1956 (PDF).
  4. As décadas sombreada a verde (1950-1970) correspondem ao período de ouro negro abundante e barato. O crescimento em contra tendência da primeira década deste século corresponde ao grande endividamento da América e da Europa e ao período das maiores bolhas especulativas de sempre na história da economia mundial.
  5. As estatísticas variam consoante as fontes de informação e os métodos de estimativa utilizados. Todas elas, porém, colocam Portugal entre os cinco países mais endividados do mundo. Citamos, para o efeito, a estatística porventura menos desfavorável das que tenho consultado: “Total Debt in Selected Countries Around the World”, Global Finance, 2012.


terça-feira, janeiro 08, 2013

Hipocrisia constitucional

Marcel Duchamp, Eau & gaz à tous les étages. 1958, Paris. (1)

A Constituição não pode castrar a liberdade e o futuro

“We all know what to do, we just don’t know how to get re-elected after we have done it.” — Jean-Claude Juncker, primeiro ministro do Luxemburgo e presidente do Euro Grupo.

Basta ler o preâmbulo da nossa Constituição para percebermos que a mesma tem mais olhos que barriga. Ou seja, que promete o que não pode, em si mesma, assegurar: “...abrir caminho para uma sociedade socialista” (2).

Uma constituição consubstancia, ou deve consubstanciar, os princípios civilizacionais e culturais que um dado povo pretende assumir e fazer respeitar tendo em vista atingir determinados patamares de liberdade, bem estar, justiça e felicidade. No entanto, deve-se ter o cuidado de não forçar um texto constitucional a prometer algo cuja realização dependa mais do trabalho, da boa administração, da cooperação e dos recursos disponíveis, do que do mero respeito pelos princípios e regras morais. As constituições definem limites à prepotência e traduzem pactos de utopia, mas não podem decretar o progresso dos povos. Este depende do que estes forem capazes de realizar no dia a dia, mas também de circunstâncias que nem sempre conseguem ou podem controlar.

Vem isto a propósito da frente oportunista que de repente se ergueu para travar a inevitável austeridade decorrente da bancarrota do país. Os credores condicionam os seus empréstimos e as suas ajudas in extremis ao cumprimento de um memorando destinado a reduzir no mais curto prazo possível o excesso de endividamento público e privado, interno e externo. A dívida soberana, empresarial e doméstica dos portugueses não deveria nunca ultrapassar os 180% do PIB. Mas o facto é que está bem acima dos 300%. Logo, sob pena de termos que entregar o país aos credores, é nossa obrigação inalienável tudo fazer para corrigir no mais curto prazo possível décadas de irresponsabilidade, populismo e cleptocracia. A Constituição não o permite? Não é verdade, mas se fosse, então haveria que suspendê-la, ou suspender temporariamente a aplicação de algumas das suas normas, até que a situação excepcional em que nos encontramos fosse ultrapassada.

A Constituição prevê emergências graves cujo efeito pode ser a suspensão parcial dos direitos constitucionais (3). Em caso de guerra ou ameaça grave iminente ao regular funcionamento das instituições democráticas pode haver lugar a uma limitação de alguns dos direitos constitucionais. Ora bem, uma insolvência soberana, ou o perigo visível de deixar o país resvalar para um período de graves convulsões sociais e luta política sem quartel, são emergências mais do que evidentes desde que o governo de José Sócrates se viu sem dinheiro para pagar aos funcionários públicos e teve, em tal contingência humilhante, previsível e anunciada, que submeter o país a uma espécie de protetorado. Os argumentos da corja devorista que em fila indiana se juntou à porta do Tribunal Constitucional com o único fito de travar a extensão da austeridade aos seus próprios privilégios indecorosos não colhem, pois, para nada!


Quanto mais depressa nos livramos da canga da dívida, melhor para todos

“Since the Second Wold War, debt levels in the developed economies have continually risen, with a notable increase since 1990. According to a study by the Bank for International Settlements (BIS), the combined debt of governments, private households, and non financial companies in the 18 core countries of the OECD rose from 160 percent of GDP in 1980 to 321 percent in 2010. In real terms, after inflation is taken into account, governments have more than four times, private households more than six times, and non financial companies more than three times the debt they had in 1980.” […]
“Today the developed world looks for a “next buyer” to take over its excessive debt load. Unfortunately, there is no such buyer in sight. The Ponzi scheme will have to be unwound.”
—  Daniel Stelter, Ending the Era of Ponzi Finance. BCG, january 2013 (4).

Entre 2005 e 2010 os países da OCDE reduziram as suas importações de petróleo em 15%. Se esta tendência se mantiver, em 2020 a redução das importações chegará aos 50%. Entretanto, países que foram grandes exportadores de petróleo passaram a importar este recurso precioso: Estados Unidos, Reino Unido, Indonésia, Austrália, ou o próprio Dubai. Nos EUA, 2/3 do petróleo consumido vai para o transporte automóvel, 60% na OCDE. Por outro lado, 98% dos transportes continuam a depender do petróleo. Como se isto não bastasse, o aquecimento global é mesmo uma realidade, e os fenómenos climáticos extremos agravam-se em número e dimensão catastrófica das ocorrências. Os Estados Unidos, por exemplo, estão ainda a braços com os efeitos de duas grandes calamidades: a devastação provocada, nomeadamente no estado de Nova Iorque, pelo Furacão Sandy, e a seca extrema que tem vindo a destruir as colheitas de cereais em vários estados americanos, nomeadamente no Iowa, no Minnesota e Wisconsin. A cereja em cima deste bolo estragado é o gigantesco movimento das placas tectónicas da economia mundial...


Para onde vão as classes médias?Global Trends 2030: Alternative Worlds.

Os países industriais mais desenvolvidos (o gráfico do Economist protege os cenários sombrios do mundo anglo-saxónico) encolhem visivelmente, enquanto países e regiões emergentes sul americanos, africanos e sobretudo asiáticos atravessam momentos de euforia expansionista. No entanto, para um número crescente de investigadores, além do gravíssimo problema das alterações climáticas, a humanidade enfrenta o fim de 250 anos de um longo e porventura único período de crescimento económico e desenvolvimento tecnológico. Na realidade, desde 1956 que os avisos têm vindo a ser feitos: M. King Hubbert (Nuclear Energy and the Fossil Fuels, 1956), Donella H. Meadows, Dennis L. Meadows, Jørgen Randers, e William W. Behrens III (The Limits to Growth, 1972), David Hackett Fischer (The Great Wave—Price Revolutions and the Rhythm of History, 1996), Jared Diamond (Collapse: How Societies Choose to Fail or Succeed, 2005), Robert Hirsh (Peaking of World Oil Production: Impacts, Mitigation, and Risk Management, 2005), etc. No ano passado, um paper escrito por Robert J. Gordon —Is U.S. Economic Growth Over? Faltering Innovation Confronts the Six Headwinds; NBER Working Paper 18315, August 2012— veio reavivar a discussão sempre reprimida do declínio de um modelo de civilização e tecnologia único e porventura sem herdeiros. A civilização industrial baseia-se em três combustíveis fósseis de grande poder energético, formados ao longo de milhares ou milhões de anos, mas cuja existência a baixo custo é limitada: o carvão, o petróleo e o gás natural.

Como disse recentemente Richard Heinberg, numa palestra em Sydney (5):
“Our economy is based on a model of constant growth - growth in production, consumption and population. Economic growth has provided rising standards of living in the West and seen millions in China and India lifted out of poverty. This model has been disrupted in many countries by the global financial crisis, which is now seeing another round of casualties, particularly in Europe. Will things settle down with growth resuming, or will our economies bump up against a wall of finite resources? And if they do, what will this mean the global balance of power?”

Por sua vez, Robert J. Gordon resume assim a sua hipótese:
“This paper raises basic questions about the process of economic growth. It questions the assumption, nearly universal since Solow’s seminal contributions of the 1950s, that economic growth is a continuous process that will persist forever. There was virtually no growth before 1750, and thus there is no guarantee that growth will continue indefinitely. Rather, the paper suggests that the rapid progress made over the past 250 years could well turn out to be a unique episode in human history.”

Os desafios imediatos, ao longo de toda esta década, e depois dela, não poderiam ser mais radicais.

A crise portuguesa, apesar de localmente agravada e precipitada por quem capturou o regime para benefício de uns tantos piratas e banksters, é tão só um dos vários epifenómenos de um grande terramoto económico, social e financeiro global preste a eclodir. Daí que a nossa resposta precise urgentemente de evoluir para um outro patamar de discussão e decisão!


Gráfico do BCG sobre as alternativas de resposta à crise das dívidas

O artigo de Daniel Stelter publicado este mês por The Boston Consulting Group é uma resposta construtiva à bazuca analítica de Robert J. Gordon. Se a hipótese deste último se confirmar, em linha, embora por via diversa, com as hipóteses de M. King Hubbert, Donella Meadows, Jared M. Diamond, Robert Hirsch, e outros, a metamorfose que nos espera será muito dolorosa. Na melhor das hipóteses, entraremos num longo período de deflação, depressão económica e colapso social, ao qual se seguirá eventualmente um novo renascimento. Mas para que esta hipótese, por assim dizer, positiva, seja viável, teremos que conservar boa parte das tecnologias e sistemas energéticos conhecidos, o que implicará forçosamente, no que ao petróleo se refere, uma redução drástica do seu consumo. Bastaria talvez, para atingirmos este objetivo verdadeiramente estratégico, que metade ou mesmo 2/3 da frota automóvel mundial passasse a usar gás natural liquefeito (GPL) em vez de gasolina ou gasóleo. Que implicações logísticas envolveria uma tal operação? É bem possível que alguém anda a estudar este assunto.

Robert J. Gordon — Um gráfico que perturba muitas ideias feitas.

Há, no entanto, problemas urgentes que precisam de ser atalhados com inteligência, precisão e coragem. O primeiro destes problemas é o sobre-endividamento associado ao populismo democrático e à explosão dos casinos financeiros do Ocidente. Os contratos de derivados financeiros não transparentes e não regulados (ditos OTC—over the counter), envolvendo sobretudo a especulação com taxas de juro e com o mercado cambial, equivalem a uma bomba-relógio dez vezes maior do que PIB mundial. A somar a esta bomba temos as ações desesperadas dos governos, as quais conduziram, por exemplo, em Espanha, a enterrar 90% dos seus fundos públicos de pensões na compra de dívida governamental, boa parte da qual seria por sua vez aplicada na compra de ativos tóxicos do sobre-endividado e corrompido sistema bancário espanhol. Esta gangrena tem que ser estancada rapidamente, sob pena de lançar países como a Espanha, Portugal, Irlanda, Grécia, Chipre, etc., em um de dois cenários catastróficos: ou o colapso irreparável seguido de uma desorganização económica, social e política gravíssima, ou a estagnação — que não é menos triste.

The Wall Street Journal—Spain Drains Fund Backing Pensions Jan, 2013)

A alternativa ao colapso, segundo o artigo publicado este mês pelo BCG, passa por fazer duas coisas: pagar as dívidas —assegurando um plano credível, transparente, verificável e publicamente partilhado com os credores— e realizar, sem mais demoras, todas as reformas estruturais necessárias.

Curiosamente, as dez medidas propostas por Daniel Stelter são um mix de austeridade, proteção das camadas mais desfavorecidas e reformas estruturais que não anda muito longe do que tem sido feito em Portugal, apesar dos protestos naturais de quem está submetido a tão violento tratamento de choque. Resumindo, eis o que propõe o BCG:
  1. Atacar imediatamente o fardo da dívida, tendo em conta que há dívidas incobráveis.
  2. Reduzir compromissos que não disponham do necessário financiamento.
  3. Aumentar a eficiência da governação e diminuir a percentagem do PIB consumido pelo Estado.
  4. Mitigar a escassez progressiva de recursos humanos (atacar a recessão demográfica).
  5. Desenvolver uma política de imigração inteligente (atacar a recessão demográfica).
  6. Investir na Educação (proteger e aumentar o PIB per capita).
  7. Reinvestir na manutenção e melhoria de eficiência das infraestruturas; promover o investimento privado, nomeadamente pela via fiscal — estimulando o investimento, por um lado, penalizando a distribuição de rendimentos, por outro.
  8. Incrementar a eficiência no uso dos recursos: baixar a intensidade energética da economia; potenciar as energias renováveis; apostar na eficiência dos materiais.
  9. Cooperar, além de competir (aposta em diplomacias económicas positivas).
  10. Lançamento da próxima onda Kondratiev.

O desafio deste artigo é claro:
“...the developed world needs to prove Robert Gordon wrong. By investing in a growing and hghly productive workforce and making it easier for engineers and technologists to innovate and for entrepreneurs to start new businesses, the developed economies need to unleash a new Kondratiev wave of global economic development.”

Não tardaremos a saber quem tem razão. Na opinião de Robert J. Gordon, a instalação de água e luz nas nossas casas foi uma revolução tecnológica infinitamente mais importante e duradoura do que a invenção do iPhone, ou do Facebook (7). Em que ficamos?


NOTAS
  1. Marcel Duchamp, Water and Gas on All Floors (Eau et gaz à tous les étages), June-Sept. 1958, Paria. Imitated ready-made: white lettering on blue enamel plate (15x20cm), facsimile of the plates affixed to apartment houses in France in the early 1890s.
    in toutfait.com
  2. “A Assembleia Constituinte afirma a decisão do povo português de defender a independência nacional, de garantir os direitos fundamentais dos cidadãos, de estabelecer os princípios basilares da democracia, de assegurar o primado do Estado de Direito democrático e de abrir caminho para uma sociedade socialista, no respeito da vontade do povo português, tendo em vista a construção de um país mais livre, mais justo e mais fraterno.”
    —in Constituição da República Portuguesa, AR.
  3. “Os órgãos de soberania não podem, conjunta ou separadamente, suspender o exercício dos direitos, liberdades e garantias, salvo em caso de estado de sítio ou de estado de emergência, declarados na forma prevista na Constituição.” (Suspensão do exercício de direitos — Artigo 19.º, 1).
    —in Constituição da República Portuguesa, AR.
  4. BCG—The Boston Consulting Group
    Collateral Damage; Ending the Era of Ponzi Finance; Ten Steps Developed Economies Must Take. By Daniel Stelter, January 2013. (PDF)
  5. Richard Heinberg, The End of Growth, Festival of Dangerous Ideas, Sydney Opera House, Australia, 26/10/2012 (vídeo).
  6. Robert J. Gordon, Is U.S. Economic Growth Over? Faltering Innovation Confronts the Six Headwinds; NBER Working Paper 18315, August 2012.
  7. “A thought experiment helps to illustrate the fundamental importance of the inventions of IR #2 compared to the subset of IR #3 inventions that have occurred since 2002. You are required to make a choice between option A and option B. With option A you are allowed to keep 2002 electronic technology, including your Windows 98 laptop accessing Amazon, and you can keep running water and indoor toilets; but you can’t use anything invented since 2002.

    Option B is that you get everything invented in the past decade right up to Facebook, Twitter, and the iPad, but you have to give up running water and indoor toilets. You have to haul the water into your dwelling and carry out the waste. Even at 3am on a rainy night, your only toilet option is a wet and perhaps muddy walk to the outhouse. Which option do you choose?
    I have posed this imaginary choice to several audiences in speeches, and the usual reaction is a guffaw, a chuckle, because the preference for Option A is so obvious. The audience realizes that it has been trapped into recognition that just one of the many late 19th century inventions is more important than the portable electronic devices of the past decade on which they have become so dependent.”— in Robert J. Gordon, Is U.S. Economic Growth Over? Faltering Innovation Confronts the Six Headwinds; NBER Working Paper 18315, August 2012.

Última atualização: 12 jan 2013, 10:55 WET