segunda-feira, março 28, 2011

Pela maioria

Já tínhamos batido contra a parede. Só que a representação mediática do evento decorreu em "slow motion"...

Standard&Poor's corta rating a 5 bancos portugueses
O Santander Totta passa assim de A/A-1 para BBB/A-3, a Caixa Geral de Depósitos passa de A-/A-2 para BBB/A-3, o BES e o BESI de A-/A-2 para BBB/A-3, o BPI de A-/A-2 para BBB/A-3, o BCP de BBB+/A-2 para BBB-/A-3. DN Economia, 28-03-2011.

Sondagem TVI: PSD venceria legislativas mas sem maioria absoluta
Se as eleições legislativas ocorressem hoje, o PSD seria o partido vencedor com 42,2 por cento dos votos, mais 9,4 pontos percentuais que o PS alcançaria (32,8), indica uma sondagem Intercampus para a TVI, a primeira avançada desde a demissão do Governo. Mas o partido de Passos Coelho não conseguiria uma maioria absoluta e para isso teria de se unir ao CDS-PP. Juntos chegariam aos 50,9 por cento dos sufrágios. Público, 28-03-2011.

Sem um governo de maioria, por mais mal que cheire, o país entrará em colapso económico e social. O colapso financeiro já se deu.

O presidencialismo mitigado do nosso regime constitucional vai finalmente ter que assumir uma face proeminente.

Quer a Alemanha volte as costas ao euro (tragédia n.1), quer coloque os PIGS em quarentena, forçando-os a uma saída temporária da moeda única, ou a uma queda brutal dos rendimentos do trabalho, na ordem dos 30% (tragédia n.2), a verdade é que estamos numa situação de emergência indisfarçável.

Uma maioria de esquerda, entre o PCP, Bloco e PS, seria um desastre completo, não por estes partidos serem de esquerda, mas por serem burocracias partidárias de estado, que odeiam a propriedade privada, a liberdade criativa e a produção — bens que preferiram trocar pela apropriação fiscal da riqueza disponível, em nome de uma igualdade social fictícia, que apenas serviu para manter e potenciar o velho corporativismo de Salazar, vestido, nos últimos trinta e tal anos, com uma toga democrática. O que faltou entre 25 de Abril e 25 de Novembro não foi a tal revolução socialista, que nunca esteve, de facto, na agenda, mas uma revolução democrática a sério. As castas mantiveram-se, dando uma côdea ao povo, e virando a casaca. Nada mais. É por isto que a nossa democracia degenerou e se aproxima fatalmente dum estado falhado e de uma cleptocracia. Não pensem que estou a exagerar.

Que podemos esperar agoral? A trajectória de Passos de Coelho está neste preciso momento a ser minada e objecto de ataques públicos sucessivos por parte dos seus próprios correlegionários! O PS pirata de Sócrates promete a terra queimada. Bloco e PCP continuam a falar e agir como zombies do marxismo-leninismo (não chamem Léon Trotsky para este filme, por favor!) Temo o pior...

O presidente da república deveria falar quanto antes ao país, e dizer claramente que não deixará o actual governo demissionário de Sócrates fazer mais estragos, nem agir como máquina de propaganda na campanha eleitoral que já começou.

Cavaco Silva deve também esclarecer o país que não empossará nenhum próximo governo minoritário. Ou seja, deverá dizer claramente aos eleitores que lhes cabe assegurar uma próxima maioria governativa.

E senhor Passos de Coelho, por favor, cale-se, antes de ter um programa eleitoral a apresentar ao país!

E já agora, substitua essa gente perigosa que o rodeia com ar vagamente desesperado: Miguel Relvas, Paula Teixeira da Cruz e Paulo Teixeira Pinto. Rodeie-se apenas de gente lúcida, arejada e corajosa.


POST SCRIPTUM
Três notícias do dia, sintomáticas:
  • Dia de escalada nos juros com novos máximos em todos os prazos (act.) — Jornal de Negócios.
  • 80% dos economistas europeus pensa que Portugal vai evitar incumprimento — Jornal de Negócios.
  • JPMorgan diz que Portugal poderá pedir ajuda já este fim-de-semana — Jornal de Negócios.

sábado, março 26, 2011

Passos de Coelho

E se o PSD não conseguir a maioria absoluta?



Daniel Bessa faz hoje um tardio mas nem por isso menos louvável acto de contrição sobre o silêncio cúmplice que a esmagadora maioria dos economistas portugueses manteve, entre 2006 e 2008, sobre o estado das nossas finanças públicas e o nosso endividamento externo. Apesar dos sinais de que uma grave crise de insolvência se aproximava das costas lusitanas, boa parte dos economistas e dos jornalistas limitou-se a comentar a propaganda governamental de José Sócrates como se fosse factual, dedicando páginas e páginas de análise paliativa aos cada vez mais martelados e ilegíveis relatórios oficiais. Era tão simples saber o que se passava!

Economistas avisados, como Daniel Bessa, ou Eduardo Catroga, Miguel Cadilhe, Luís Campos e Cunha, Cavaco Silva, e um longo etc., sabiam há muito, ou deveriam saber, que Portugal caminhava a passos largos para a falência, e que não é por termos um primeiro ministro mitómano, manipulador, propagandista e casmurro, nem por causa das pressões e conveniências das nomenclaturas económico-financeira e político-partidária que nos conduziram até aqui, que esconder a verdade ajudaria a resolver fosse o que fosse. A maioria dos economistas portugueses assobiou para o ar quando Medina Carreia e Manuela Ferreira Leite chamaram a atenção do país para o muro onde iríamos todos bater. Batemos. E agora?

Vamos por partes:
  1. Aníbal Cavaco Silva está tudo menos parado. Quem o critica por este lado, ou é tonto, ou teme o futuro. O reeleito presidente da república despediu José Sócrates de forma quase brutal, usando para este fim o próprio discurso de posse (de facto, o primeiro acto do presidencialismo sui generis que aí vem). O pobre diabo cor-de-rosa só teve tempo de inventar um incidente manhoso para tentar sair de palco, protegendo (é a única tarefa que de momento o aflige) a sua retirada e a retirada do exército de piratas e indigentes intelectuais que com ele levaram alegremente Portugal à bancarrota;
  2. O Partido Socialista corre o risco de uma cisão, ou de um definhamento prolongado, se demorar demasiado tempo a substituir o seu já inútil líder; deveria fazê-lo quanto antes, e não esperar pela crise de formação do próximo governo de base laranja;
  3. Passos de Coelho tem todas as condições para ganhar as próximas eleições, com maioria absoluta, desde que ignore os galináceos que começaram já a esvoaçar em volta da expectativa de um regresso em força do PSD ao poder;
  4. Ao contrário do que todos os analistas e alguns políticos de pequena dimensão opinaram, o volte-face na avaliação dos professores foi um golpe de mestre na campanha eleitoral violenta que o governo-partido-cacique ainda em funções se preparava para colocar na rua. Passos de Coelho mostrou, com esta simples e surpreendente iniciativa parlamentar, que estará disposto a deixar um corredor de oportunidade política e margem de manobra institucional aos partidos à esquerda do PS, entalando assim o PS;
  5. Em vez do comportamento Caniche que Sócrates vem exibindo, entre abraços e beijinhos à ama Merkel, Passos de Coelho, que também conhece as fragilidades do gigante alemão, explicou a esta física, considerada a mulher mais poderosa do planeta, que vai ter que lidar em breve com um novo primeiro ministro português, por sinal tão transmontano quanto o actual presidente da Comissão Europeia, e para quem, naturalmente, a dívida portuguesa é para pagar, mas sem assassinar os velhos do seu país, nem asfixiar o tecido económico que paga impostos reais (os impostos pagos pelos funcionários públicos, pelos políticos e pelos boys&girls do sistema são, na realidade, um mero desconto na dívida).
É bem provável que depois da decisão ontem anunciada in extremis pelos líderes comunitários, de criarem o Mecanismo Europeu de Estabilidade (ESM), que mais do que duplicará o actual fundo de salvação financeira da Eurolândia, não seja imperativo, do lado português, pedir o resgate do nosso sobre endividamento em pleno período eleitoral. A palavra sobre o IVA dada por Passos de Coelho aos mercados era o mínimo que havia a fazer para sossegar as aparências. A contradição desta decisão intempestiva com pelo menos um dos argumentos que conduziram ao chumbo do PEC 4 é, neste momento, irrelevante.

Escrevi neste blogue, há já muitos meses, que num país tão à rasca quanto Portugal, o IVA terá que subir até aos 25%, embora exceptuando alguns produtos essenciais (que não o golfe do BES na Comporta!) Atacar o consumo é o menor dos males numa economia que não pode sugar, mais do que Sócrates já sugou, os rendimentos do trabalho e os rendimentos dos profissionais liberais, e das nano, micro, pequenas e médias empresas. O que Bruxelas e Frankfurt querem ouvir é se há ou não redução da despesa pública, efectiva e em tempo útil, não como tal objectivo será alcançado. O PS, em nome da sua predadora base partidária, e da sua íntima e corrupta relação com uma nomenclatura económico-financeira imprestável e agarrada, como verdadeira carraça, às tetas do orçamento de estado, preferiu atacar o bem-estar de milhões de portugueses; o PSD não tem outra alternativa, se não fazer diferente — sob pena de colapsar ao fim de seis meses de governo.

Mas a pergunta do momento é esta: e se o PSD não consegue a maioria absoluta?

Estou convencido de que conseguirá, na medida em que uma parte significativa do eleitorado "socialista", perante a reeleição norte-coreana de José Sócrates para o cargo de cacique-mor do PS, tenderá a votar na mudança, e esta, a vir, só poderá vir do único facto novo das próximas eleições: a estreia de Pedro Passos Coelho. Falo por mim, que nunca votei à direita: se o mitómano vendedor de cobertores de Vilar de Maçada permanecer aos comandos do PS, votarei, naturalmente, embora pela primeira vez, no PSD, isto é, em Passos Coelho. A democracia deixou de ser dos partidos, e será cada vez menos dos partidos. O voto tem vindo a transformar-se num acto democrático instrumental destinado a premiar e sancionar os nossos representantes políticos — aqueles que os nossos impostos pagam para defender o interesse do país e o equilíbrio e justiça sociais. E assim deverá ser. A religião partidária acabou!

Mas repito: e se o PSD apenas conseguir uma maioria relativa? Como fará o próximo governo?

Se tal vier a ocorrer, é porque a campanha eleitoral do PS foi suficientemente populista e mentirosa para ter convencido uma apreciável fatia do eleitorado. E neste caso, teremos um grande impasse institucional. Das duas uma, ou o PSD+CDS fazem maioria, e neste caso teremos uma nova AD. Ou nem sequer fazem, e neste caso restará uma única hipótese de coligação governamental: PSD+PS+CDS, já que uma coligação PSD+PS, isto é a reedição do Bloco Central, com Passos Coelho no cargo de primeiro ministro, seria um absurdo inaceitável por parte de José Sócrates.

Como uma coligação PS+PCP+BE, ou mesmo um novo governo PS apoiado num compromisso de esquerda com o PCP e o Bloco, não ocorrerá antes de Cristo descer à Terra, as alternativas governativas pós-eleitorais, em caso de o PSD não conseguir uma maioria absoluta, só ou acompanhado do CDS, são escassas. E então, das duas uma: ou o PSD e o PS aceitam uma coligação com o CDS, apoiando Paulo Portas para o cargo de primeiro ministro, ou então teremos um governo de salvação nacional de iniciativa presidencial, apoiado pelos mesmos três partidos.

Se o mitómano casmurro que ainda nos desgoverna insistir numa vitória de Pirro, ameaçando destruir o PS e o país, então aconselho vivamente os meus concidadãos a votarem na nova carta do baralho democrático português: Pedro Passos Coelho. Escrevi o que acabo de escrever? Parece que sim!

Lebensraum

Alemanha suporta mais de 1/4 do Fundo Europeu de Estabilidade

"Angela Merkel mostra os seus atributos"—Dalje.
Europe agrees on how to cobble together 700-billion euro safety net

Germany will contribute over one quarter of the European Union's new permanent fund set aside to rescue floundering economies. Europe is trying to establish a long-term shield against debt-related meltdown — DE-World.

 O actual fundo de resgate será substituído pelo novo Mecanismo Europeu de Estabilidade (ESM) em 1 de janeiro de 2013. Aprovado in extremis na madrugada de ontem, e anunciado hoje (25 mar 2011) em Bruxelas, o novo fundo de defesa do euro será de 700 mil milhões de euros, 80 000 000 000€ em dinheiro vivo, e 620 000 000 000€ “on call capital”, i.e., garantias soberanas. Entretanto, e até lá, o Fundo Europeu de Estabilização Financeira (EFSF) será eventualmente aumentado até aos 500 mil milhões, para fazer face à esperada bancarrota portuguesa e ao efeito de arrastamento que um tal colapso inevitavelmente terá sobre a Espanha, que detém um terço da nossa dívida externa.

Esta gigantesca reserva monetária deverá prover liquidez, em empréstimos de emergência, até meio bilião de euros (500 mil milhões), destinando-se no essencial a segurar a moeda única europeia, contra o dólar-libra e outras moedas. O verdadeiro braço de ferro entre a declinante divisa americana (e a sua mana inglesa), de um lado, e o euro, do outro, obrigou a Alemanha a abrir os cordões à bolsa muito para lá do que queria e esperava — amamentando por mais algum tempo os sempre esfomeados leitões irlandeses, gregos, portugueses e espanhóis. Foi sobre este jogo que Sócrates construiu todo o bluff, bazófia e gritaria contra o FMI.

Este novo fundo não é muito diferente do Quantitative easing (QE) inventado pelos japoneses em 2001 e seguido pelas administrações dos bancos centrais americano, inglês e europeu durante a crise financeira de 2007-2010. E por isso escrevo: se a América e a Europa não acordarem a tempo para a imperiosa necessidade de regionalizar a globalização, o que estes fundos de liquidez virtual acabarão por gerar será inflação. Os sinais da espiral de preços já chegaram a vários países europeus. Resta saber como evoluirá nos meses e anos mais próximos.

80% do ESM será financiado por operações de venda e recompra de títulos de dívida europeia. Se for para continuar a financiar o consumo europeu, sem contrapartidas sérias do lado da produção, da produtividade, das exportações comunitárias e da criatividade, o resultado não poderá ser muito diferente do beco sem saída para que facilidades semelhantes conduziram os EUA.

Segurar a notação triple-A (que os EUA já perderam) da dívida da Eurolândia é a grande e compreensível obsessão da mãe Merkel, mas a que preço? Se o dólar-libra caírem primeiro, o euro safa-se? Os chineses acreditam que sim, e por isso têm sido os principais compradores da dívida europeia canalizada através do BCE. O problema é que a aliança espúria entre a Alemanha e a China (bem evidenciada no imbróglio líbio) poderá em breve tornar-se explosiva, e precipitar, ou uma revolução social na Europa, ou uma nova guerra mundial. Seria preferível, na minha opinião, fazer um novo Tratado de Tordesilhas, introduzindo uma rede de sofisticados buffers alfandegários entre o Pacífico e o Atlântico. Sem equilíbrio nas trocas comerciais as nações acabam sempre por ir para a guerra.

A Alemanha contribuirá para o Mecanismo Europeu de Estabilidade, mesmo antes de 2013, com 27,1% do dinheiro necessário: 21,68 mil milhões em cash, e 168 mil milhões em reservas. O interesse das economias europeias vizinhas, a norte e a leste, foi imediato.

‘Euro-plus pact’ divides non-eurozone members

Six non-eurozone countries said they would join a Berlin-inspired project called the ‘euro-plus pact’ that will prompt countries to further coordinate their economic policies and give them access in return to the EU's permanent bailout facility after 2013. 
Bulgaria, Romania, Poland, Latvia, Lithuania and Denmark have decided to join the Berlin-inspired project, according to summit conclusions published on Friday (25 March) — Euractiv.

Esta notícia dá bem a medida do projecto alemão: para aguentar o euro é preciso segurar todo o lebensraum outra vez! Angela Merkel será uma grande ama da União Europeia, mas todos sabemos que a fertilidade alemã tem limites, e estes podem ser menos abundantes do que parecem.


POST SCRIPTUM — ler também, no Jornal de Negócios, esta detalhada explicação sobre o novo fundo de resgate europeu.

sexta-feira, março 25, 2011

A nova moeda

Portugal deve 500 pontes Vasco da Gama!

Ponte Vasco da Gama © CML
A comunicação social e os políticos, em vez de trocarem sistematicamente os mil milhões, por milhões, ou por biliões (dois erros milionários) que tal começarem a medir o peso da canga do nosso endividamento em pontes Vasco da Gama (pVG)?

A ideia veio do inestimável RR. Aqui vão as estatísticas, bem simples de entender, à prova de inflação, e para qualquer criança perceber —pois são elas que as vão pagar com sangue, suor e lágrimas.

Total das dívidas portuguesa que vencem em 2011: 80 pontes Vasco da Gama (cada ponte Vasco da Gama (pVG) equivale a mil milhões de euros)
  • dívida pública a pagar este ano: 43,5 pVG
  • dívida total do sector privado a pagar este ano: 20 pVG
  • dívida total do sistema financeiro a pagar este ano: 15 pVG
  • dívida total das grandes empresas públicas a pagar este ano: 1,5 pVG
  • PIB português (2010): 160 pVG 
Conclusão: como estes números não são de ontem, já se sabia há meses que evitar a declaração formal da bancarrota de Portugal passaria inevitavelmente por um pedido de ajuda ao Fundo Europeu de Estabilidade Financeira e ao Fundo Monetário Internacional (FMI). Sócrates foi seguramente mal informado, e apostou tudo na diabolização do FMI. O tiro saiu-lhe pela culatra.

Estamos em plena campanha eleitoral, e a instrumentalização por parte do governo, parlamento e Partido Socialista, dos canais mediáticos teve hoje uma resposta exemplar na Assembleia da República. Se a máquina de propaganda de Sócrates continuar como dantes, o PS arrisca-se a ver demolidas uma a uma as medidas mais polémicas que decretou nos últimos meses. A frente que hoje derrotou o plano de avaliação dos professores foi, de facto, uma jogada de mestre por parte do PSD.

quinta-feira, março 24, 2011

Energia pirata

...quanto mais exportamos para Espanha, mais o consumidor português paga!” — Mira Amaral

“O INE mostra-nos que de Janeiro a Outubro de 2010, comparado com o período homólogo de 2009, houve um aumento de importações de combustíveis de 1 400 milhões de euros. As renováveis da moda não nos reduzem a dependência aflitiva do petróleo e vamos continuar a importar carvão e gás natural pois continuaremos a precisar das centrais térmicas quando não há sol ou vento! Até Novembro de 2010 houve 15,556 GWh de produção termoeléctrica contra 22,009 GWh no período homólogo de 2009, o que significará então, devido às renováveis, uma poupança de importação apenas de cerca de 174 milhões de euros em gás natural e carvão o que contrasta com um sobrecusto da Produção em Regime Especial bem superior! (...)
Em suma, com esta política centrada nas renováveis da moda, geraram-se terríveis sobrecustos para a economia e a dependência do petróleo mantém-se intacta!

Quando é que entraremos no realismo energético? Quando é que abandonaremos a mera propaganda política e começaremos a tratar da energia seriamente? Quando é que perceberemos que a eólica e a fotovoltaica só conseguem representar cerca de 3% do consumo total de energia primária? Quando é que perceberemos que discutir a Política Energética não se pode confundir com o apoio às renováveis da moda, com custos demasiados elevados para um País pobre como o nosso?” — in “Petróleo, renováveis e sobrecustos”, Luís Mira Amaral, Jornal de Negócios.

Este excelente artigo de Mira Amaral (vale a pena ler os detalhes do mecanismo perverso da formação dos preços da energia no nosso país) mostra claramente o gene que ao longo das últimas três décadas se infiltrou na estrutura económica, financeira e de poder em Portugal, transformando-o, de facto, numa democracia capturada por piratas. Admira-me muito que Mário Soares e Jorge Sampaio só agora tenham acordado deste pesadelo.

O problema que temos pela frente é, pois, gigantesco. Trata-se de corrigir um país onde tradicionalmente abundam a corrupção e a pequena corrupção, cujo sistema de poder traduz uma simbiose oportunista e familiar entre clientelas económico-financeiras, corporativas e partidárias, e que infelizmente se habituou a viver, desde 1415, de rendas coloniais, de monopólios e da emigração.

Como escrevi várias vezes, estamos no fim dum ciclo de 600 anos. E a razão deste colapso histórico é só um: as árvores das patacas já não nos pertencem.

Conclusão: o regime entrou num buraco negro de sobre endividamento de onde não sairá tão cedo, o qual induzirá inevitavelmente uma revolução social. A gente lúcida e honesta deste país (imagino que um punhado de pessoas) deve abdicar dos seus pergaminhos familiares, profissionais e partidários, juntar-se para conversar, e preparar o país para uma insurreição constitucional, da qual resulte uma nova assembleia constituinte e uma nova constituição: simples, justa, transparente e firme.

Portugal é uma língua de areia estreita com um grande e decisivo mar pela frente. Mais de 20% da sua população emigrou de 1960 para cá. Não tem como pagar o seu actual sobre endividamento — qualquer coisa como quinhentas pontes Vasco da Gama, quando só produz 170 pontes por ano, e apenas tem no banco 140. Que fazer? A nova centralidade do Atlântico Norte e Sul, bem como a crise das ditaduras do norte de África, são duas oportunidades que se avizinham a passos largos. Mas aproveitar o novo T deitado da geoestratégia da Europa Ocidental implica mudar Portugal de alto a baixo.

Teleponto demite-se, finalmente!

Sócrates e Teixeira dos Santos viram costas ao parlamento

Mas quero dizer aos portugueses que o País não ficou sem Governo. Que podem contar com a mesma atitude e com o mesmo sentido institucional de sempre. O Governo cumprirá totalmente o seu dever, dentro das competências que são próprias de um Governo de gestão, com a consciência da gravidade da situação para que o país acaba de ser atirado. A crise política só pode ser resolvida pela decisão soberana dos Portugueses. Com a determinação de sempre e a mesma vontade de servir o meu País, irei submeter-me a essa decisão. José Sócrates, Comunicação do Primeiro-Ministro ao País, após a apresentação da sua demissão ao Presidente da República, 13-03-2011.

A criatura, apesar de ferida, sobrevive. Qualquer outro exemplar cor-de-rosa que concorresse em vez do PM demissionário às próximas eleições seria cilindrado.

Sócrates vai renascer daqui a umas semanas na forma de um anjo socialista, devoto, inspirado, distribuindo memórias heróicas do partido entre os seus militantes, tentando sobretudo convencer os eleitores de esquerda. O objectivo é duplo: por um lado, conter a hemorragia de votos PS a favor do PSD, do Bloco e do PCP; e por outro, encostar o PSD e o PP à direita, assustando o eleitorado, sobretudo os funcionários públicos e a vasta clientela do estado socialista, com os fantasmas do FMI e as intenções ocultas de Passos Coelho, e de Paulo Portas. Pelo meio, usará e abusará do governo de gestão, colocando-o ao serviço da sua campanha eleitoral.

Sócrates, que viu encurtados os prazos da sua planificação táctica, está furioso.  E tem apenas um objectivo: ganhar as próximas eleições, nem que seja repetindo a maioria relativa das últimas eleições. Se tal acontecer, o povo português, e nomeadamente as suas elites profissionais, intelectuais e culturais, merecerão tudo o que lhes acontecer depois.

Estou, porém, convencido de que o PS sofrerá uma derrota humilhante. Não creio que Passos de Coelho e Portas cometam erros suficientes para entregar de novo o poder a uma espécie de menor dos males entre a esquerda e a direita. E não creio que o PCP e o Bloco percam de um dia para o outro as centenas de milhar de votos da gente revoltada contra os principais responsáveis pela bancarrota do país —inevitável causa do fim deste regime. Sem um novo processo constituinte, Portugal acabará por perder a sua independência, ou deslizará para um novo regime autoritário, provavelmente de tipo presidencialista-populista.

Quanto à grande coligação proposta pelas sumidades do Bloco Central que nos conduziu à presente desgraça, não creio que seja viável com Sócrates à frente do PS e Cavaco na presidência da república.

E no entanto, um pacto de emergência e solidariedade seria a melhor aposta eleitoral que o PSD poderia propor ao eleitorado. Se Passos de Coelho desafiar os partidos a explicarem quais são as suas condições para confluírem num esforço colectivo de resposta à bancarrota do país, aceitando ao mesmo tempo procurar essa filigrana de entendimento patriótico, sem preconceitos, nem agendas escondidas, nem a mão invisível dos interesses que nos conduziu até aqui, então conseguirá gerar uma pressão eleitoral agregadora fortíssima.

O Coelho da Madeira, que encontrei na manif da Geração à Rasca, trazia consigo um cartaz onde se lia: "O Povo Unido Não Precisa de Partido". Não é bem isto, mas anda lá perto.

O povo quer desesperadamente alguém que convoque e agregue uma resposta unida à crise, como se estivéssemos numa guerra. Quem souber fazer passar este discurso vencerá as eleições. José Sócrates não tem, obviamente, qualquer credibilidade para ler o teleponto deste desígnio. Por ser  um vigarista consumado e o boneco de uma tríade de interesses inepta e corrupta até à quinta casa, merece julgamento, e não uma terceira oportunidade para desgraçar ainda mais o país.

Mas será o aparachique Passos de Coelho capaz de dar este passo?


POST SCRIPTUM

Ao contrário do que tentei prever, foi Sócrates que se demitiu, e não Cavaco que o demitiu. A menos que consideremos o discurso da tomada de posse do presidente da república como uma carta de despedimento. Que foi!

quarta-feira, março 23, 2011

Alemanha a Leste

Luteranos demarcam-se da intervenção militar euro-americana na Líbia, ao lado da Rússia e da China

E no campo económico, veremos amanhã. Repito o que já escrevi: ou os PIGS saiem do euro, ou sai a Alemanha! O meio termo parece cada vez mais longínquo.




À medida que os EUA e o Reino Unido colapsam num mar de dívidas, e a competição pelo petróleo, e pelo último atum, se agrava, a questão do Novo Tratado de Tordesilhas ganha rapidamente actualidade. A Alemanha começou um notório tropismo em direcção à Rússia e à China. Mas Israel também!


Ver declaração de Hillary Clinton sobre a competição com a China.

A dolce vita dos europeus do Sul tem os dias contados. Mas a mudança de hábitos seculares não será nem fácil, nem rápida. Daí o nervosismo crescente da Alemanha. A economia mudou-se para o Oriente. Mas atenção: boa parte do petróleo e do gás natural, apesar das novas descobertas de gás natural na Papua-Nova Guiné, continua na bacia mediterrânica, no Médio Oriente, em volta do Mar Cáspio, no Golfo da Guiné, delta do Congo, Angola e continente americano. Há, por conseguinte um T deitado formado pelo Atlântico e pelo Mediterrâneo que a senhora Merkel e os luteranos não deverão hostilizar demasiado, sob pena de voltarem a partir os dentes numa mais do que provável e última guerra mundial pelos recursos petrolíferos.

Os fantasmas regressam.

terça-feira, março 22, 2011

Soares angustiado

Bancarrota 2011. Estamos fritos!

Apesar de aqui termos alertado, desde 2006, para o terramoto económico, financeiro e social que se aproximava, os nossos irresponsáveis e indigentes políticos ignoraram os avisos, continuando a roubar e a especular com o endividamento do país. A bancarrota já se deu. Falta só negociar o castigo.

Os célebres quarenta e oito anos de ditadura de Salazar a que esta já degenerada democracia sucedeu, ocorreram precisamente por causa de uma grande crise financeira de sobre endividamento do Estado, que foi preciso pagar. E agora?



Primeiro-ministro devia ter informado Cavaco Silva, avisa antigo Presidente da República. Que diz que a insatisfação dos portugueses tem de ser ouvida. "É o País, no seu conjunto, que está à rasca!" — Mário Soares, 15-3-2011 (DN).

No meu modesto entender, só uma pessoa, neste momento, tem possibilidade de intervir, ser ouvido e impedir a catástrofe anunciada: o Senhor Presidente da República. Tem ainda um ou dois dias para intervir. Conhece bem a realidade nacional e europeia e, ainda por cima, é economista. Por isso, não pode - nem deve - sacudir a água do capote e deixar correr.

(…) Se não intervier agora, quando será o momento para se pronunciar? É uma responsabilidade que necessariamente ficará a pesar-lhe. Por isso - e com o devido respeito - lhe dirijo este apelo angustiado, quebrando um silêncio que sempre tenho mantido em relação ao exercício das funções dos meus sucessores, no alto cargo de Presidente da República. — Mário Soares, 22-3-2011 (DN).

José Sócrates esticou a corda até perceber que não passaria sem capitular perante o BCE e o FMI. Quando percebeu que o fim estava próximo, desencadeou uma crise política intempestiva, com o objectivo claro de partilhar as culpas da bancarrota do país com os demais partidos parlamentares. Na realidade, são todos responsáveis!

A causa do sucedido é só uma: estamos colectivamente falidos! Nesta rampa declinante do inevitável colapso, Sócrates deu ainda tempo aos piratas do regime para se abotoarem com tudo o que puderam, e para enterrar ainda mais os contribuintes, com facturas a pagar durante as próximas décadas aos mesmos piratas da burguesia palaciana indigente que há séculos vive (muito bem, claro!) agarrada às tetas do Orçamento, sugando o sangue, suor e lágrimas da esmagadora maioria dos pobres e ignorantes indígenas lusitanos.

Mas se é verdade que a crise portuguesa é em grande parte fruto da mendicidade intelectual e da corrupção congénita das nossas elites, também é certo que fomos engolidos por uma crise de sobre endividamento e de especulação financeira mundiais, resultado de um assustador buraco negro conhecido por derivados financeiros (ou derivatives). Este tema, sobre o qual vimos insistido ao longo dos últimos anos, conduzirá provavelmente o mundo a nova e imprevisível guerra mundial, a menos que os mais ricos e mais armados países deste planeta voltem a fazer como espanhóis e portugueses fizeram em 1494: desenhar e assinar um novo Tratado de Tordesilhas! A globalização actual está moribunda, mas pode provocar, precisamente por isso, uma catástrofe. Como aqui também escrevi, e outros têm vindo a defender, é necessário e urgente regionalizar a globalização.

Os países endividados, e são quase todos, precisam de uma moratória sobre as suas dívidas. Mais do que deixar de as pagar, pois esta seria a receita certa para uma guerra mundial, é preciso reconduzir a produção, o comércio e a circulação de pessoas e bens a regras de equilíbrio, sem as quais será impossível retomar a vida normal no interior das comunidades humanas.

A livre especulação dos mercados conduziu as economias outrora prósperas do Ocidente ao consumismo desmiolado, à especulação financeira sem regras, à destruição paulatina do emprego produtivo, ao desequilíbrio imparável das suas balanças comerciais e de pagamentos, ao envelhecimento, à destruição demográfica, em suma, ao fim das sociedades do bem-estar.

Talvez estejamos já demasiado velhos para fazer uma revolução. Mas outros poderão fazê-la por nós!

O que vai acontecer

Sócrates II, do PS ninguém o tira
... a não ser com uma chuva de tomahawks!

O governo cairá provavelmente esta Quarta-feira, uma semana antes do mês que apontei neste blogue como fim do prazo de validade da grande farsa socialista. Rodeado da sua guarda pretoriana (Almeida Santos, Pedro Silva Pereira, Vitalino Canas, Augusto Santos Silva, Jorge Lacão, etc.), o actual e futuro secretário-geral do PS promete assegurar emprego aos milhares de desempregados políticos que há semanas e meses correm pelo convés agitado de um navio que mete água por todos lados, e em breve afundará. Sócrates promete controlar, com apurado sentido de vingança, a lista de deputados para a próxima legislatura. E como uma parte significativa dos deputados do PS é composta por militantes sem profissão, a entronização do mitómano será tão unânime quanto deprimente.

Os danos que esta perspectiva comporta para o futuro do Partido Socialista é que são inimagináveis.

São tantos os interesses protagonizados pelo actual chefe de governo que, ou muito me engano, ou o próximo PS vai radicalizar-se em torno duma estratégia populista sem limites, de que José Sócrates será o inesperado paladino. Rejeitará toda e qualquer coligação com o PSD, e apostará tudo na fragilidade de um futuro governo PSD-CDS.

Só uma coisa poderá salvar o Partido Socialista de uma morte lenta: perder de forma desastrosa as próximas eleições. Se tal vier a ocorrer, talvez sobreviva. Se, pelo contrário, Sócrates conseguir segurar uma votação próxima das últimas legislativas, então teremos que o suportar por uma década ou mais. Neste cenário, José Sócrates poderá mesmo renascer na pele do populista radical que ninguém esperava que pudesse ser!

Quando as crises são profundas e agudas como a actual é, a lógica deixa frequentemente de funcionar, e as mais monstruosas metamorfoses podem ocorrer.

Antes, porém, de tal entorse ver a luz do dia espero que a gente decente e corajosa do PS seja capaz de apear a imprestável criatura que levou Portugal à bancarrota.

domingo, março 20, 2011

O CDS finalmente ao centro

Paulo Portas poderá revelar-se como o primeiro ministro possível, e até desejável, no decorrer da crise de regime que se desenrola diante de nós.

O discurso de encerramento do congresso do CDS, que decorreu este fim-de-semana em Viseu, é uma notável peça de oratória política, e mostra claramente que Paulo Portas é o líder partidário melhor preparado, e porventura melhor colocado, para substituir José Sócrates no difícil papel de liderar em breve um governo de coligação maioritário no nosso país.

Passos de Coelho é um político sem provas dadas, medíocre nas palavras, mole nos actos, rodeado de gente pouco recomendável, e comprometido com o pior do Bloco Central; em suma, uma criatura que não oferece qualquer esperança de configurar uma alternativa credível ao abismo de inépcia e corrupção cavado pela tríade de piratas que tomou de assalto o PS e o país. Até poderá ganhar as próximas eleições, mas duvido que seja capaz de formar um governo maioritário.

Como tudo leva a crer, José Sócrates colocou a sua tropa de choque a segurar posições dentro do PS, e vai auto eleger-se como secretário-geral do farrapo partidário que o Partido Socialista hoje é, com a complacência e cobardia da esmagadora maioria dos aparachiques cor-de-rosa. O seu objectivo é, em primeiro lugar, proteger-se pessoalmente do tecto de críticas e revelações que inexoravelmente desabará sobre a sua cabeça e sobre as muitas cabeças da hidra que invadiu e colonizou a casa socialista ao longo da última década. O segundo objectivo desta entronização norte-coreana é, obviamente, uma tentativa desesperada de salvar o Bloco Central da Corrupção, para o que se considera, com o sim-sim de muito pirata laranja, melhor preparado, e sobretudo conhecedor, do que o titubeante e eterno imberbe Pedro Passos de Coelho.

Os jovens turcos do Partido Socialista —Francisco Assis, António José Seguro, e o entediado Sérgio Sousa Pinto— que deveriam aproveitar esta ocasião de ouro para ajudar a restaurar os valores matriciais do partido que os alimenta, desistiram, ao que parece, de fazer o que a sua geração naturalmente deles esperava: agir com lucidez e coragem num momento particularmente dramático para o país e para o próprio Partido Socialista. É o que dá não terem profissão própria!

António Costa emitiu um sinal de vida a semana passada, dando a entender que, em caso de necessidade, o PS tem pelo menos um dirigente experiente e com provas dadas, à mão se semear: ele! Mas como este simpático personagem também vive da política, reserva-se o direito de esperar pelo naufrágio de Sócrates, antes de ser levado em ombros pelos seus patrícios cor-de-rosa. Acontece, porém, que o futuro imediato do país dificilmente se compadecerá destes calculismos oportunistas. Depois de Sócrates, no PS, espera-se ver emergir alguém com ideias, vontade de reformar o país e o regime, e capacidade de liderança. Se não houver sucessor à altura das circunstâncias, o Partido Socialista entrará em crise profunda. Mas mau mesmo é a permanência de Sócrates à frente do partido poder transformar até ao fim o PS naquilo que realmente já é, embora sem o saber: um partido de direita e um instrumento de corrupção ao mais alto nível. Se isto acontecer, e está à beira de acontecer, não restará outra alternativa à gente decente e convicta que ainda milita no PS que não seja uma cisão partidária em massa e a constituição dum novo partido de esquerda, que recupere, nomeadamente, todos os socialistas convictos que hoje também desesperam com a experiência do Bloco de Esquerda.

Mas atenção: até o PSD caminha, ao contrário do que transparece, para uma profunda crise interna. A previsível meia-vitória eleitoral laranja nas eleições antecipadas que aí vêm poderá transformar-se num boomerang com energia suficiente para decapitar a direcção de Passos de Coelho. Fazem bem Pedro Santana Lopes e Rui Rio prepararem-se, desde já, para o "day after"!

Por fim, no que se refere aos partidos da velha esquerda estalinista, que são o PCP e mais de metade da direcção eterna do BE, e ainda ao herdeiro camuflado de Léon Trotsky, Francisco Louçã, abandonemos toda a esperança! Cumprirão as respectivas funções sindicais (aliás, necessárias), mas são radicalmente inúteis para resolver o que quer que seja em matéria de governação. A crise para onde nos deixámos cair é grave, estrutural e duradoura. Como estes partidos são por natureza burocráticos e defendem a ditadura do Estado, e este, desgraçadamente, está falido, o seu futuro é, de facto, nenhum. Esperemos, pois, que nos próximos meses e anos, do seu interior, se libertem as energias mais recentes e descomprometidas com passados cheio de equívocos, assuntos inconfessáveis, e impotência intelectual, abrindo caminho a novas formas de acção política —inteligentes, criativas, audazes, mas realizáveis.

Dado o xadrez complexo actual, em que é previsível uma perda eleitoral do PS e do PSD para propostas políticas e partidos menos comprometidos com o atoleiro para onde o Bloco Central conduziu Portugal, a oferta de Paulo Portas para liderar uma futura maioria, precisamente na condição de partido minoritário, mas fortalecido pela presente crise, faz mais sentido do que à primeira vista parece.

sábado, março 19, 2011

Beja ou Portela?

Aeromoscas de Beja precisa duma Low Cost. A TAP?

'Girls of Ryanair' — Michael O'Leary, o homem da Ryanair, com duas das suas assistentes
de bordo no calendário de 2011 editado pela companhia para apoio a obras de caridade.

Que tal uma Nova TAP, com metade do pessoal e 1/4 dos administradores actuais, Low Cost e em Beja? Estou a brincar! O fantasma de Figo Maduro, sim, deve ir para Beja, e a TAP deve aproveitar o resto da sua vida, que será mais curta do que a do aeroporto da Portela, usando mais racionalmente, e sem manipulação partidária, as suas pistas de sempre, na Portela!

Início dos voos regulares no aeroporto de Beja mais uma vez adiado

No debate que decorreu durante a apresentação do voo para Cabo Verde e no qual se abordaram as futuras valências do Terminal Civil de Beja, António Pinto da Silva, da Agência Abreu, expressou a sua convicção de que uma das alternativas para o novo aeroporto estará na realização de voos de baixo custo, admitindo que o aeroporto de Beja só ficará "operacional" quando surgir uma companhia low cost. — Público.

O senhor Sócrates e a tríade de piratas que o promoveu, aparou e continua a teleguiar, e que conduziram o país à bancarrota, deveriam ser criminalmente responsabilizados por este e outros desfalques da riqueza nacional. O aeromoscas de Beja, tal como o apoio partidário ao BCP, EDP, Mota-Engil, Grupo Lena, e por aí adiante, serão um dia escalpelizados — na barra dos tribunais, ou na barra, mais pesada ainda, da História.

O génio Mateus deveria ser publicamente interrogado pelas suas mirabolantes consultorias cor-de-rosa, e chamado a responder por este aeromoscas sem futuro, que derrapou para a nossa austeridade, dos inicialmente anunciados 34,1 milhões de euros, para 74 milhões (in Expresso), e também pela famosa cidade aeroportuária com que publicitou o grande objectivo cor-de-rosa, laranja e vermelho (sim, o PCP apoia sempre o investimento público, bom ou mau) de destruir alegremente o que resta dos estuários do Tejo e Sado, com o desnecessário e colossal elefante branco a que chamam NAL, i.e. o novo aeroporto da Ota em Alcochete.

O aeromoscas civil de Beja não tem futuro na aviação comercial, e nunca deveria ter sido sequer pensado para tal. As obras que lá fizeram são de pura fachada. Nem sequer mexeram na pista! Deveria permanecer o que é: um importante aeródromo militar, com valências civis pontuais, e para onde o lóbi corporativo e burocracia militares do aeroporto fantasma de Figo Maduro, e da pista NATO do Montijo, esses sim, deveriam emigrar, libertando, o primeiro, a placa que ocupa indevidamente na Portela, para futuro estacionamento das aeronaves de carga civil que demandam Lisboa, e o Montijo, uma pista suplementar para o aeroporto de Lisboa (leia-se Portela-Montijo).

  • A TAP não tem futuro, a não ser reestruturando-se radicalmente. Isto é, focando-se na única actividade que lhe dá dinheiro: voar!
  • A TAP não tem futuro, a não ser partindo-se em três companhias ponto-a-ponto: TAP Atlântica (Brasil, Venezuela, Angola, Cabo-Verde, São Tomé, etc.); TAP Europa (mais de 80% do seu movimento actual); e TAP Oriente (Turquia, Golfo, Índia, China, Japão), com parceiros regionais fortes ( na Europa, a Lufhtansa, em África a TAG, na Ásia, com a Air China, etc.)
  • A TAP precisa, como do pão para a boca, da Portela, mas de uma Portela renovada a sério e bem gerida, talvez por uma ANA privada, não para engordar a burguesia palaciana, inepta e preguiçosa nacional, mas para entregar a gestão aeroportuária do país a um consórcio privado com provas dadas, subordinado a obrigações de serviço público muito claras, mas libertando de uma vez por todas a gestão desta empresa rentável dos indecorosos boys&girls do PS e do PSD.
  • A Portela precisa, como do pão para a boca de obras que aumentem a segurança das pistas e a gestão dos movimentos no ar e em terra. Para tal precisa de libertar espaço aéreo militar reservado na zona de Lisboa sem qualquer justificação e que apenas permanece como está pela estúpida e proverbial resistência dos lóbis burocráticos às decisões racionais (1). Num estado civil, os militares obedecem ao poder civil democraticamente eleito, ponto final! O ministério da defesa, infelizmente dirigido nas últimas décadas por amadores e aparachiques, continua a ocupar corredores aéreos de bases militares à volta de Lisboa, inúteis ou até desactivadas: Sintra e Montijo (inúteis), e Alverca (desactivada).
  • A TAP precisa dum aeroporto na cidade, porque 80% dos seus voos são para e do espaço comunitário europeu, porque apenas 9% dos aviões que demandam a Portela são da classe wide-body (i.e. adequados a viagens de longo curso, nomeadamente intercontinentais), o que afasta liminarmente a verborreia dos vendedores-ambulantes do PS e do PSD sobre o "Hub aeroportuário de Lisboa".
  • A Portela deve permanecer, pelo menos até 2020, como o único aeroporto civil de Lisboa, pois tem ainda oportunidades de ver crescer o número de passageiros que por ele transitam, sem precisar de aumentar muito mais o número de movimentos de aeronaves. Só no filet mignon dos horários prime-time, há falta de slots na Portela. Mas isso é assim em todos os aeroportos! O que mais importa saber é que os aviões da TAP andam vazios, para ser mais preciso, com taxas de ocupação muito baixas e sempre a descer desde que as Low Cost atacaram, e bem, o mercado português. Os nossos imbecis governantes ainda não perceberam que o sucesso das Low Cost, que tem vindo a encostar a TAP literalmente às boxes (em Faro, Porto, e em breve Funchal e Lisboa) se deve, em grande parte, ao enorme contingente de novos emigrantes portugueses que viajam, desde que há tarifas convenientes, não uma ou duas vezes por ano, como antes acontecia, mas de dois em dois meses, todos meses, ou até quinzenalmente (sobretudo quando têm emprego ou negócios simultaneamente em Portugal e nalgum outro país comunitário). Os irresponsáveis e incompetentes políticos agarrados à mama orçamental habituaram-se às borlas e mordomias da TAP, e como qualquer viciado em heroína, custa-lhes a deixar os maus hábitos  pagos pela nossa austeridade!
  • Finalmente o aeroporto da Portela, que tem ainda margem para crescer fisicamente (nova taxiway, afastamento dos militares do aeroporto fantasma de Figo Maduro, desalojamento de alguns serviços e empresas do perímetro mais próximo da zona operacional das pistas, etc.) precisa de importantes e urgentes obras de saneamento básico. Tudo junto: uns 100 a 200 milhçoes de euros de investimento útil, para prolongar a vida de um dos mais seguros, pontuais e convenientes aeroportos do mundo. Como se vê, a construção civil ainda tem muito que fazer em Portugal. Só não queremos que continue a roubar à descarada e a enterrar o país, em vez de o construir!

POST SCRIPTUM: a ideia de construir por fases um novo aeroporto na margem sul (em Alcochete, Canha ou Rio Frio), mantendo durante a construção das sucessivas fases, e mesmo depois, a Portela, é uma opção inviável por motivos económicos, de logística e mesmo de compatibilização dos corredores aéreos. Mas o principal argumento contra esta sugestão decorre da caríssima operação de protecção dos críticos lençóis friáticos existentes no subsolo, a qual corresponde a uma fatia muito grossa de todo o investimento previsível (que não é de 3,5 MM de euros, mas de 11 a 12 MM de euros!) Além de desnecessário, pelo que o horizonte energético nos reserva a todos, a novo aeroporto de Alcochete não se fará, por óbvia falta de dinheiro … que a Alemanha não deixará, de vez, aos piratas lusitanos esconder da dívida soberana, uma vez mais, debaixo de um qualquer tapete PPP.

NOTAS
  1.  Que privilégios protegem a permanência injustificada do fantasma de Figo Maduro na Portela? Se o aeroporto da Portela fosse encerrado, como defende o Bloco Central da Corrupção (mas que não será), que aconteceria ao fantasma de Figo Maduro e respectivos corredores aéreos?

    O principal impasse deste país é a inércia corporativa que, depois da ditadura, em vez de diminuir por força da democracia, aumentou desmesuradamente por força da corrupção. A degenerescência do actual regime tem, estou convencido, uma origem genética: a apropriação oportunista de pedaços do fascismo derrotado em 25 de abril.

    terça-feira, março 15, 2011

    Por uma nova constituinte!

    Geração à Rasca — Av. Liberdade, Lisboa, 12mar2011 (Foto: ACP)

    A monumental manifestação de cidadania que por todo o país respondeu à convocatória da Geração à Rasca foi, na realidade, a certidão de óbito de uma democracia degenerada e já sem capacidade de auto-regeneração. De facto, só uma revolução constitucional poderá superar de forma realista e saudável o impasse sistémico a que chegámos. Precisamos, como escreveu Manuel Maria Carrilho, de uma nova república, mas para lá chegarmos precisamos também de uma nova constituição, e de uma nova assembleia constituinte. Esta é aliás a única via de saída pacífica e democrática para um regime que chegou miseravelmente ao fim. Resta apenas saber se o actual presidente da república tem condições para liderar um tal processo, ou se vai ser preciso um grande empurrão popular para lá chegarmos!

    A manifestação de 12 de março de 2011 assinala a tomada de consciência patriótica, em sentido profundo e construtivo, de que algo muito importante e íntimo se quebrou e não pode ser reparado sem uma mudança de regime político. Refiro-me à confiança dos portugueses nas suas instituições democráticas.

    Depois do avisado discurso de posse de Cavaco Silva, e dos sinais visíveis de realidades prontas a emergir —quer da alma amordaçada do PS, quer da insustentável duplicidade liberal-populista do PSD, ou ainda de múltiplos movimentos espontâneos de indignação, com o potencial de evoluírem para decisivas forças políticas de mudança—, Portugal está perante um dilema: prolongar por mais algumas semanas, meses, uma década que seja, a actual agonia, pagando o preço de entregar o país à guarda da Alemanha e da Espanha; ou então, despedir sem cerimónias o regime corrupto e inepto que deixámos imprudentemente proliferar como um cancro, substituindo-o rapidamente por uma nova república, constituída por poderes efectivamente democráticos, eticamente responsáveis, tecnicamente competentes e culturalmente ambiciosas.

    O exemplo da Islândia

    ... a Islândia (ler aqui, e aqui) dispõe [desde 27 de novembro passado] de uma Assembleia Constituinte composta por 25 simples cidadãos eleitos pelos seus pares. É seu objectivo reescrever inteiramente a constituição de 1944, tirando nomeadamente as lições da crise financeira que, em 2008, atingiu em cheio o país. Desde esta crise, de que está longe de se recompor, a Islândia conheceu um certo número de mudanças espectaculares, a começar pela nacionalização dos três principais bancos, seguida pela demissão do governo de direita sob a pressão popular.

    As eleições legislativas de 2009 levaram ao poder uma coligação de esquerda formada pela Aliança (agrupamento de partidos constituído por social-democratas, feministas e ex-comunistas) e pelo Movimento dos Verdes de esquerda. Foi uma estreia para a Islândia, bem como a nomeação de uma mulher, Johanna Sigurdardottir, para o lugar de Primeiro-Ministro. — De um amigo.
    Na sequência da falhada tentativa de golpe estado "socialista" da passada sexta-feira, Paulo Portas fez uma intervenção oportuna, denunciando pela primeira vez, em simultâneo, o "TGV" e o novo aeroporto. Estou convencido que esta declaração, e a decisão de forçar a discussão do PEC-4 no parlamento, foram momentos decisivos para o fim do governo Sócrates. Sem esta intervenção, que sorrateiramente impediu Passos de Coelho de continuar a manobrar, estaríamos ainda suspensos da secreta e difícil negociação entre o PS e o PSD em volta da partilha dos 55 mil milhões de euros de obras públicas que ambos querem levar por diante, em nome das construtoras e bancos que neles mandam, nem que para tal tenham que expropriar toda a classe média da sua condição, e acelerar a morte dos mais idosos e mais pobres recorrendo a restrições e cargas fiscais verdadeiramente assassinas (1).

    O instinto de sobrevivência de Portas falou mais alto. Com Rui Rio anunciando o fim do regime, Pedro Santana Lopes avisando que poderá formar um novo partido, e a Geração à Rasca inundando as principais cidades do país, só um tolo não perceberia que a crise política está instalada, e que antecipar o calendário eleitoral será o menor dos males. A Alemanha que espere!

    NOTAS
    1. A saída de Manuel Avelino Jesus da comissão de avaliação das parcerias público-privadas (ler aqui), anunciada ontem, é apenas mais um sintoma do sinistro arquipélago de sombras disputado por grandes empresas e bancos endividados incapazes de largar as tetas do orçamento, sabendo embora que a dívida soberana portuguesa acaba de explodir. Nem que seja preciso escravizar uma nação inteira, enchendo o país de estradas, barragens, pontes e aeroportos de que não precisamos, nem podemos pagar, esta burguesia palaciana e burocrática continuará a enviar os seus testas de ferro para a frente televisiva e para os corredores e alcovas governamentais. Até que alguém lhes diga: basta!

    domingo, março 13, 2011

    Sociologia de bolso e Geração à Rasca

    Filomena Mónica tocou num ponto sensível, mas não disse toda a verdade

    Geração à Rasca, manif, Av. Liberdade, Lisboa, 12mar2011 (Foto OAM)

    Os mitras, os boys e os betos

    Há anos, há décadas, que venho a alertar para o facto de a correlação entre educação e desenvolvimento não ser uma relação causal. É mentira que mais ensino conduza necessariamente a uma economia mais dinâmica. Quem duvide disto, deve ler a obra que, em 2002, Alison Wolf publicou, Does Education Matter?. O consenso oficial é exactamente o oposto, ou seja, para os nossos políticos, quanto mais "educação", melhor. Não admira que as expectativas dos pais tenham crescido. Até ao dia em que, entre o espanto e a indignação, viram que, apesar de terem um diploma, os seus filhos não arranjavam trabalho. No dia 5 deste mês, The Economist publicou um gráfico no qual Portugal vem à cabeça. A coisa era tão extraordinária que me debrucei sobre ele gulosamente. Eis o que descobri: entre 2000 e 2007, relativamente ao grupo etário correspondente, Portugal teve a percentagem mais elevada de estudantes pós-graduados do mundo. Durante a última década, o número de doutorandos quadruplicou, ultrapassando países como a Suécia, a Inglaterra e os EUA. Parece exaltante, mas não é. — Filomena Mónica, Público, 13 mar 2011.

    A leitura da senhora Professora é certeira, mas incompleta: ontem, na rua, a sua geração também por lá andava, e a minha, e a da minha filha, e a dos netos que não tenho! Pense e estude melhor o tema e escreva outro artigo menos salpicado de preconceitos e mais abrangente. O problema é bem mais grave do que julga.

    Workers with years of education, skills, and experience face the very real prospect of being made redundant by the new forces of automation and information. — Jeremy Rifkin, The End of Work (1996).

    A massificação dos sistemas nacionais de ensino foi programada a frio, nomeadamente através da liberalização e desregulamentação indiscriminada do ensino universitário e pós-universitário.

    Pelo menos desde meados da década de 1970, que esta estratégia acompanha a par e passo a descida do patamar de segurança conhecido como "pleno emprego". Nos anos 20-30 do século passado este andava, na América, pelos 3% de desempregados, e foi depois paulatinamente subindo até aos actuais 6%, percentagem de desempregados considerada útil ao bom desempenho da economia capitalista, pela pressão que exerce sobre os salários, impedindo desta forma surtos de inflação que possam afectar seriamente a balança comercial e competitividade económica dos países no sector das exportações.

    Por outro lado, a massificação e libertação laica da instrução pública sofreu uma radicalização decorrente da explosão dos saberes, nomeadamente científicos e tecnológicos, mas também linguísticos e culturais, a que os herdeiros tardios da Ilustração e da Revolução Francesa apenas souberam oferecer uma resistência, no melhor dos casos, académica, e em geral, puramente corporativa e sindical. A verdade é que hoje o sistema de ensino se encontra triplamente desfasado da realidade: transmite de forma incompleta e deficiente conhecimentos disponíveis no iPad de todos nós, fá-lo com custos per capita injustificáveis e insustentáveis considerando os níveis decrescentes da poupança individual, e coloca os corpos docentes da maioria dos graus de ensino perante a ameaça permanente da sua obsolescência enquanto transmissores de conhecimentos.

    Cidade americana despede todos os professores!
    The mayor of Providence, the capital of the US state of Rhode Island, is facing criticism after he fired all of the city's nearly 2,000 school teachers in an effort to tackle a $100m deficit.

    Not all will ultimately go, but sending dismissal notices to everyone means the city can fire teachers at the end of the school year without regard to seniority.

    Angel Taveras, who only took office in January, defended the move by saying it was a necessary "protective measure" to help tackle the shortfall. — Al Jazeera's Scott Heidler reports from Providence.

    O avanço da ciência trouxe-nos um aumento exponencial da produtividade do trabalho e a subsequente diminuição da durabilidade dos empregos disponíveis. Agravando esta tendência, boa parte das empresas industriais e até os serviços do Ocidente começaram a deslocalizar-se para Oriente, em busca da proximidade das matérias primas ou do trabalho barato. Perante uma tal tenaz, não há qualificação que valha aos países da velha Europa e dos Estados Unidos. Na realidade, os antigos colonizadores imperiais dedicaram-se nas últimas décadas, mais precisamente desde a primeira crise petrolífera de 1973, a expedientes especulativos, à falsificação estatística, ao entretenimento educativo e ao consumismo como forma de manterem um status quo historicamente condenado.

    O preço desta economia virtual e autofágica foi uma bolha de sobre endividamento sem precedentes, que os países emergentes, legitimamente, deixaram de estar interessados em financiar. Só a proximidade euro-atlântica das principais reservas mundiais de petróleo, metais e minerais essenciais, e de alimentos (Mar Cáspio, Golfo Pérsico, norte de África, Golfo da Guiné, Brasil, Argentina, Venezuela e Chile) garante, por assim dizer, um seguro de vida às decadentes economias ocidentais. Mas mesmo esta vantagem é frágil, como o demonstra a revolução social que há menos de três meses começou a varrer o continente africano.

    O futuro do ensino em Portugal não passa, apesar da ilusão mediática, pelo conflito que sindicatos, PCP e Bloco de Esquerda há anos alimentam contra o governo de turno. Sem a desgovernamentalização e sem a desburocratização do ensino, todas as falsas reformas serão em vão. O Estado não tem, pura e simplesmente, receitas suficientes para manter a actual ficção educativa. Vai ter por isso, muito brevemente, que optar entre o colapso financeiro e institucional do sistema de ensino, e a sua reestruturação radical, em nome da própria sobrevivência cognitiva do país. Terá forçosamente que separar o essencial do acessório, elegendo os sectores estratégicos do ensino a que o Estado deve acudir com perspicácia e meios adequados (nomeadamente subsidiando directamente o aluno e não o sistema), e deixando fora do perímetro institucional tudo o que a sociedade civil —cooperativa e empresarial— pode e deve assumir como parte da sua própria qualificação instrumental necessária e permanente. O Estado tem que se retirar de onde não faz falta, atrapalha e corrompe.

    Não insultemos, pois a juventude! Não insultemos, pois, os alunos! O que falta fazer, e é muito e muito importante, foi e é da exclusiva responsabilidade do poder político e dos seus agentes, nomeadamente partidários.

    Um 25 de Abril sem partidos?

    Mário Soares não esperou certamente assistir a uma nova revolução popular no seu país, muito menos contra o PS!

    Geração à Rasca, Avenida da Liberdade, Lisboa, 12 mar 2011 (Foto: OAM)
    Tal como escrevi noutra ocasião, a ira que se vem acumulando na sociedade portuguesa não resulta apenas da precariedade profissional de uma juventude mal orientada, mas também da desilusão e revolta, por enquanto contida, dos pais e avós dessa mesma juventude. Estes dedicaram atenção, esforço e poupança ao futuro dos seus entes mais queridos. Quantas vezes, ao som cantante do optimismo libertário que ajudaram a fundar.

    De há uma década para cá, porém, assistem incrédulos ao desmoronar aparentemente imparável de um imenso sonho e de uma não menos formidável esperança. O que eu hoje vi e senti ao longo da avenida da Liberdade foi a aliança, que irá crescer nas próximas semanas e meses, entre avós, filhos e netos, revoltados contra uma democracia que degenerou num regime partidocrata, clientelar e burocrático, a caminho de uma descarada cleptocracia.

    Como se não bastasse este cancro instalado no âmago e nos vasos capilares do regime saído do 25 de Abril, estamos também no olho de um furacão financeiro e geoestratégico sem precedentes. O Ocidente decadente, apesar de todas as aparências modernas e pós-modernas, tem vindo a empobrecer, tem vindo a deixar de produzir, e entregou-se ao clássico frenesim do pão e circo, acumulando ao longo das últimas quatro décadas uma monumental dívida, acompanhada da transferência suicida do trabalho produtivo para os países, nações e tribos que colonizou e violentou ao longo dos últimos seiscentos anos.

    Mais recentemente, em meados da década de 1980, perante a deterioração acelerada dos termos de troca entre os grandes consumidores anglo-americanos e europeus, e os novos grandes produtores de energia, matérias primas e bens transaccionáveis, os piratas da finança euro-americana resolveram abandonar o padrão-ouro e criar dinheiro a partir do nada. Nem sequer se deram ao trabalho de imprimir papel-dinheiro. Um simples clique de rato, um tecla de computador e uma escritura, passaram a ser suficientes para gerar meios de pagamento autocráticos e puramente virtuais, criando por esta via (de derivados financeiros e quantitative easing) um inimaginável buraco negro financeiro, cujo potencial destrutivo equivale, segundo o Bank For International Settlements, a dez vezes o PIB mundial. Ou seja, 600 mil pontes Vasco da Gama!

    Estamos, como se vê, perante um problema de sobre endividamento generalizado, que não diz apenas respeito a Portugal, à Espanha, à Grécia e à Irlanda. Castanhas muito maiores estão prestes a rebentar: Inglaterra, Japão e... Estados Unidos. A situação mundial não poderia ser mais perigosa.

    Mas ao contrário do que diz o mitómano que em má hora elegemos para primeiro ministro, o mal dos outros não nos ajuda nada. A Alemanha rejeitou claramente o financiamento das economias que produzem pouco, consomem muito, e aldrabam as contas.

    Só percebendo este ponto, estaremos em condições de tomar algumas decisões colectivas inadiáveis. Como, por exemplo, correr com Sócrates, travar sem hesitação o Bloco Central do Betão, refundar a democracia partidária e parlamentar, e fazer um novo contrato social, inteligente, transparente, justo e solidário. Só depois disto, que não é pouco, os cidadãos activos estarão em condições de ponderar um envolvimento sadio na vida partidária do país.

    Mário Soares não esperou certamente assistir a uma nova revolução popular no seu país, muito menos contra o PS! Mas a verdade é que ela está a caminho.

    sábado, março 12, 2011

    O caniche lusitano de Merkel

    Passos de Coelho retira apoio parlamentar ao PS
    Cavaco só tem um caminho: demitir o mentiroso compulsivo que elegemos para primeiro-ministro e convocar eleições gerais antecipadas.


    O dia de hoje culmina uma sucessão de factos que configura uma descolagem completa e definitiva do mitómano José Sócrates, e do seu caricato ministro das finanças, das regras mínimas da convivência democrática e de boa educação num país soberano. Este primeiro-ministro, reiteradamente mentiroso, traiçoeiro e arrogante, assumindo agora ares de caniche acrobático da chanceler alemã, não pode prosseguir no cargo que ocupa, sob pena de Portugal se transformar numa gargalhada.

    Faço votos para que os socialistas e os sociais-democratas compreendam bem a gravidade da actual situação, e encontrem com urgência a forma expedita de despedir com justa causa o actual primeiro-ministro. Os juros da dívida pública portuguesa vão disparar na próxima segunda-feira. Nada pode justificar o prolongamento da patética agonia do actual quadro parlamentar. Os mercados já votaram com os pés, reiteradamente, ao longo dos últimos meses, contra este inútil atoleiro político.

    Só nos resta uma solução: ir para eleições.

    sexta-feira, março 11, 2011

    Regime à rasca

    Uma estreita e terrível janela de oportunidade!
    [fonte governamental da Alemanha à agência Dow Jones]: “Portugal está a afundar-se debaixo de uma montanha de dívida e os custos de financiamento são intoleráveis. Julgo que até final de Março ou início de Abril, [um pedido de auxílio] acontecerá”, afirmou. — in Jornal de Negócios, 11mar2011.
    Manuel Maria Carrilho escrevia ontem, no DN, ideias certeiras sobre o governo à rasca de Sócrates. Mas eu vou mais longe, interpretando o balbuciar de pânico emitido ontem também por Francisco Assis, no frente-a-frente com Miguel Macedo, no Jornal das Nove da SIC: não é só o governo, mas também o regime, que está à rasca e cada vez mais atordoado. Muito grave, esta situação, se tivermos em conta que o mitómano Sócrates, por ser uma criatura sem escrúpulos, pode mesmo deitar de vez o país ao lixo. Como no parlamento parece só haver sucata política, o perigo de assistirmos ao colapso do regime é real.

    Só um evento poderá salvar Sócrates, Passos de Coelho e o país de uma vergonhosa, dolorosa e prolongada bancarrota: uma nova guerra no Golfo Pérsico, ou o fecho do Canal de Suez, em consequência do alastramento e agravamento do colapso das ditaduras do norte de África.

    Em ambos os casos, os abastecimentos da China, do Japão e da Índia, passariam obrigatória e maioritariamente por Moçambique, Tanzânia, Zâmbia e Angola, e pelo Atlântico Sul e Norte!

    Nesta circunstância, aliás provável (supondo a bom supor aquela que será neste momento a estratégia anglo-americana de sobrevivência e de contenção, uma vez mais, da poderosa Alemanha), Portugal e Espanha atrairiam avultados investimentos orientados para os transportes marítimos e ferroviários, e até para a indústria de logística militar. Marinha, portos marítimos e fluviais, e ferrovia de bitola europeia são, pois, as óbvias prioridades de Portugal.

    As outras prioridades, igualmente urgentes e decisivas, passam pela segurança alimentar do país e pelo controlo público de todos os sectores estratégicos da nossa economia natural. Oferecer à Alemanha, de mão-beijada, como garantia de futuros empréstimos, a REN, ou os portos atlânticos, bem como outros sectores estratégicos, seria um crime contra a integridade nacional.

    Só há, assim, uma solução: reformar de alto a baixo o Estado e travar o insaciável apetite da nossa incompetente e parasitária burguesia.

    Presidente subliminar

    Cavaco Silva aponta estratégia ordoliberal para Portugal
    Como tem a faca e o queijo na mão... Sócrates acabará por ser demitido.

    Por mais que Francisco Assis e Miguel Macedo tentem dourar a pílula, a verdade é que Cavaco Silva colocou José Sócrates a caminho do cadafalso. Suspeito, aliás, que Passos de Coelho se veja forçado a seguir, encapuçado, no mesmo auto de fé que começou a ser instaurado à degenerada democracia que empurrou Portugal para uma bancarrota que poderá escravizar-nos ao longo dos próximos noventa anos!

    As palavras de posse do actual presidente da república foram demasiado claras, cortantes e audíveis, para que este regime indecoroso, corrupto e incompetente, dure muito mais. Cavaco ontem fez um discurso tipicamente cesarista, iniciando assim o processo de uma nova relação institucional com o povo português, cujo futuro está em aberto. O que lhe faltou em votos para uma legitimidade substancial no mandato que ontem iniciou, poderá em breve recuperar como resultado de um programa político que é seu. Muito acima dos partidos acossados por uma opinião pública cada vez mais impaciente, as palavras de Cavaco tiveram o sopro supra partidário de um autêntico programa de salvação nacional — a que o formalismo da actual democracia indecente acabará por sucumbir.

    Sócrates jamais se demitirá por livre vontade e iniciativa própria. Nisto não difere de nenhum dos ditadores que recentemente têm vindo a provar o sabor amargo da poeira da ira popular. Não lhe desejo a mesma a sorte, mas todos sabem que a paciência tem limites. Em suma, acabará por ser demitido por Cavaco Silva, quando já nada nem ninguém der um cêntimo pelo mitómano.  O cronómetro da crise está efectivamente nas mãos do presidente, que ontem premiu o botão.

    A manifestação da Geração à Rasca, que traduz o tal direito à indignação que tanto agrada a Mário Soares, é a próxima estação do calvário de Sócrates. Pudesse ele, e faria o mesmo que José Eduardo dos Santos. Mas não pode...

    Hoje, em resultado da cimeira extraordinária dos chefes de estado e de governo da Eurolândia, outro grande prego será porventura martelado no caixão do actual governo. A agonia, sob o olhar atento de Cavaco, prosseguirá nua e crua, até que não reste qualquer dúvida sobre a necessidade imperiosa de demitir o desgraçado pirata a que a súbita fuga de Guterres, do pântano "socialista", abriu caminho.

    Um dos motivos por que suspeito que a demissão de Sócrates estará, no cronómetro de Cavaco Silva, sincronizada com o afastamento de Passos de Coelho, e a sua substituição por um líder mais social-democrata, é que o discurso de tomada de posse do novo presidente afasta liminarmente qualquer apoio ao actual líder laranja.

    Cavaco Silva sabe que a receita neoliberal está nos antípodas do que é necessário e é possível fazer nas actuais circunstância de explosão da bolha das dívidas soberanas. Nem neoliberalismo, nem socialismo burocrático. A única receita que poderá fazer algum efeito no corpo exangue da nossa economia chama-se ordoliberalismo, vem da Alemanha do pós-guerra, e encontra nas economias emergentes, nomeadamente a da China, ecos cada vez mais convincentes. Sem um efectivo direito à propriedade privada, sem liberdade empresarial, e sem circulação internacional de pessoas e mercadorias, regressaríamos a uma qualquer forma de Idade Média. Mas, por outro lado, sem equilibrar estes direitos com os direitos, igualmente inalienáveis, ao bem público e ao bem comum, as sociedades tendem a precipitar-se numa fatal espiral de egoísmo individual, de grupo e de geração. Ou seja, a liberdade individual, e a liberdade dos grupos de interesses, têm ou devem ter na teleologia republicana um princípio moderador imperativo, de que a propriedade pública (nomeadamente dos recursos estratégicos) e o bem comum são constituintes democráticos inalienáveis. Há, pois, um trilho por explorar entre o socialismo corrompido do PS, do PCP e dos trotsquistas-e-estalinistas-unidos do Bloco de Esquerda, e o liberalismo imberbe, colado com cuspo, de Passos de Coelho. O estimável Eduardo Catroga que se cuide, pois, quando recomenda ou aceita a ideia louca de entregar as autoestradas, os aeroportos e a saúde a uma única família do nosso desgraçado e incestuoso capitalismo (o Grupo Mello), está, consciente ou inconscientemente, a tentar apagar um fogo com gasolina!


    Discurso presidencial comentado
    Pela minha parte, pode contar o Governo com uma magistratura activa e firmemente empenhada na salvaguarda dos superiores interesses nacionais.
    Não disse com a “minha colaboração leal”, mas sim magistratura activa e firme...
    ...serei rigorosamente imparcial no tratamento das diversas forças políticas, mantendo neutralidade e equidistância relativamente ao Governo e à oposição.
    Ou seja, o PSD que não espere tratamento deferente, pelo menos enquanto mantiver o incapaz Passos de Coelho a fazer de chefe partidário e putativo candidato primo-ministerial.
    Os indicadores conhecidos são claros. Portugal vive uma situação de emergência económica e financeira, que é já, também, uma situação de emergência social, como tem sido amplamente reconhecido.
    Quer dizer, estão criadas as condições para a presidencialização do regime.
    Nos últimos dez anos, a economia portuguesa cresceu a uma taxa média anual de apenas 0,7%, afastando-se dos nossos parceiros da União Europeia. Esta divergência foi ainda mais evidente no caso do Rendimento Nacional Bruto, que constitui uma medida aproximada do rendimento efectivamente retido pelos Portugueses. O Rendimento Nacional Bruto per capita, em termos reais, cresceu apenas 0,1% ao ano, reflectindo na prática uma década perdida em termos de ganhos de nível de vida.

    De acordo com as últimas estimativas do Banco de Portugal, “o crescimento potencial da economia portuguesa, o qual determina a capacidade futura de reembolso do endividamento presente”, é actualmente inferior a 1% e, em 2010, o valor real do investimento ficou cerca de 25% abaixo do nível atingido em 2001.

    O défice externo de Portugal tem permanecido em valores perto de 9% do produto, contribuindo, por força do pagamento de juros ao exterior, para a deterioração do saldo da balança de rendimentos, cujo défice anual, de acordo com o Banco de Portugal, se aproxima rapidamente dos 10 mil milhões de euros, privando a nossa economia de recursos fundamentais para o seu desenvolvimento.

    Simultaneamente, a taxa de poupança nacional tem vindo a decair, passando de cerca de 20% do produto em 1999 para menos de 10% nos últimos dois anos.

    Em 2010, o desemprego atingiu mais de 600 mil pessoas, o que contrasta com cerca de 215 mil em 2001. Nestes dez anos, a taxa de desemprego subiu de 4% para um valor de 11%.

    Os dados publicados pela Comissão Europeia indicam que, em 2008, o número de residentes em Portugal que se encontravam em “risco de pobreza ou exclusão social” superava os 2 milhões e 750 mil, o que equivale a cerca de 26% da nossa população. De acordo com as informações qualitativas disponibilizadas pelas instituições que operam no terreno, esta situação ter se á agravado nos últimos dois anos.
    Arrasador!
    Neste contexto, surpreende que possa ter passado despercebido nos meios políticos e económicos o alerta lançado pelo Governador do Banco de Portugal, em Janeiro passado, de que, e cito, “são insustentáveis tanto a trajectória da dívida pública como as trajectórias da dívida externa e da Posição de Investimento Internacional do nosso País”.
    Esta vai direitinha para os políticos de serviço e para os banqueiros.
    Neste contexto difícil, impõe-se ao Presidente da República que contribua para a definição de linhas de orientação e de rumos para a economia nacional que permitam responder às dificuldades do presente e encarar com esperança os desafios do futuro.
    Segunda nota presidencialista evidente.
    A nível estrutural, e como há muito venho a insistir, temos de apostar de forma inequívoca nos sectores de bens e serviços transaccionáveis. Só com um aumento da afectação de recursos para a produção competitiva conseguiremos iniciar um novo ciclo de desenvolvimento. Este é um desafio que responsabiliza, em primeiro lugar, o Estado e o sistema financeiro. De resto, é fundamental que os Portugueses assimilem, de forma convicta, a necessidade de produzir mais bens que concorram com a produção estrangeira. Um défice externo elevado e permanente é, por definição, insustentável.
    Pelo menos neste passo do discurso o PCP deveria ter batido palmas. Mas não bateu, claro. E no entanto...
    Ainda no âmbito da afectação de recursos, é necessário estimular a poupança interna e travar a concessão indiscriminada de crédito, em especial para fins não produtivos e para sustentar gastos públicos. É imperioso reafectar o crédito disponível para as pequenas e médias empresas criadoras de valor económico e de emprego e para as exportações.
    É isto que o BCE e a senhora Merkel farão com todos os PIGS: travar a fundo o insaciável endividamento especulativo e burocrático.
    Em paralelo, é essencial traçar um caminho que permita o reforço da nossa competitividade e o aumento da produtividade do trabalho e do capital. A perda de competitividade da economia portuguesa é talvez o sintoma mais grave das nossas fragilidades.
    Aqui, uma nota para Cavaco: sem partir a espinha à burguesia geriátrica e clientelar que cerca e definha o país, e que V. bem conhece, isto é, sem arrumar de vez o compadrio e o proteccionismo burocrático que atropelam e esmagam há séculos a iniciativa e a criatividade nacionais, as suas palavras continuaram a esfumar-se no deserto da indiferença.
    Neste contexto, é crucial a realização de reformas estruturais destinadas a diminuir o peso da despesa pública, a reduzir a presença excessiva do Estado na economia e a melhorar o desempenho e a eficácia da administração pública.
    Palpite:  duvido que as criaturas que actualmente se sentam na Assembleia da República alguma vez se atrevam a dar semelhante passo. E se for assim, têm razão aqueles que já começaram a defender uma mudança de regime. A evidente degenerescência da actual democracia portuguesa não deixa lugar a muitas saídas.
    É preciso valorizar a iniciativa empresarial e o conceito de empresa como espaço de diálogo e cooperação entre gestores e trabalhadores, captar e manter investimento de qualidade e aproveitar as vantagens comparativas de que Portugal dispõe.

    É crucial aprofundar o potencial competitivo de sectores como a floresta, o mar, a cultura e o lazer, as indústrias criativas, o turismo e a agricultura, onde detemos vantagens naturais diferenciadoras. A redução do défice alimentar é um objectivo que se impõe levar muito a sério, tal como a remoção dos entraves burocráticos ao acesso da iniciativa privada à exploração económica do mar.
    100% de acordo! Não é isto a essência da social-democracia? Que estranha praga atacou os corações ideológicos do PS e do PSD?
    As iniciativas locais de emprego e os investimentos de proximidade são aqueles que podem produzir resultados de forma mais imediata e que melhor podem ser avaliados, reformulados ou reproduzidos.
    100% de acordo. Mas não interessa à clientela que alimenta a federação partidária instalada.
    Urge remover os obstáculos à reabilitação urbana, cujas potencialidades de criação de emprego e de promoção turística, embora há muito reconhecidas, permanecem em larga medida desaproveitadas.
    100% de acordo. Mas é preciso mudar primeiro o paradigma do financiamento autárquico que imperou nas últimas décadas.
    Não podemos privilegiar grandes investimentos que não temos condições de financiar, que não contribuem para o crescimento da produtividade e que têm um efeito temporário e residual na criação de emprego. Não se trata de abandonar os nossos sonhos e ambições. Trata-se de sermos realistas.
    Porque será que o CDS de Portas, e o PSD de Passos de Coelho, leram nestas palavras “TGV”? Também poderiam ter lido novo aeroporto da Ota em Alcochete (ou embuste aeroportuário nº 2), mas não leram. Porque será? Também podiam ter lido novas SCUDs em projecto, mas não leram. Porque será? Também podiam ter lido novos hospitais PPP. Mas não leram. Porque será? Também podiam ter lido barragens. Mas não leram. Porque será? Cavaco percebeu e avisa que não há dinheiro. Já todos sabemos disso. Mas então porque insiste a direita, em vésperas de regressar ao poder, num último e desesperado assalto à riqueza nacional (ANA, portos, sistema de saúde, bacias hidrográficas, etc.), para desgraça de todos nós?
    A nossa sociedade não pode continuar adormecida perante os desafios que o futuro lhe coloca. É necessário que um sobressalto cívico faça despertar os Portugueses para a necessidade de uma sociedade civil forte, dinâmica e, sobretudo, mais autónoma perante os poderes públicos.
    A marcha para um presidencialismo menos mitigado já começou.
    O País terá muito a ganhar se os Portugueses, associados das mais diversas formas, participarem mais activamente na vida colectiva, afirmando os seus direitos e deveres de cidadania e fazendo chegar a sua voz aos decisores políticos. Este novo civismo da exigência deve construir-se, acima de tudo, como um civismo de independência face ao Estado.
    O populismo acabará por ir ter com Cavaco se os partidos insistirem no encapsulamento atávico dos seus privilégios.
    Em vários sectores da vida nacional, com destaque para o mundo das empresas, emergiram nos últimos anos sinais de uma cultura altamente nociva, assente na criação de laços pouco transparentes de dependência com os poderes públicos, fruto, em parte, das formas de influência e de domínio que o crescimento desmesurado do peso do Estado propicia.
    O populismo ameaça a Europa, mas não seremos capazes de o evitar, se a passividade de todos nós continuar a dar rédea solta aos piratas que tomaram de assalto a democracia.
    É uma cultura que tem de acabar. Deve ser clara a separação entre a esfera pública das decisões colectivas e a esfera privada dos interesses particulares.
    100% de acordo!
    Os cidadãos devem ter a consciência de que é preciso mudar, pondo termo à cultura dominante nas mais diversas áreas. Eles próprios têm de mudar a sua atitude, assumindo de forma activa e determinada um compromisso de futuro que traga de novo a esperança às gerações mais novas.

    É altura dos Portugueses despertarem da letargia em que têm vivido e perceberem claramente que só uma grande mobilização da sociedade civil permitirá garantir um rumo de futuro para a legítima ambição de nos aproximarmos do nível de desenvolvimento dos países mais avançados da União Europeia.
    É preferível que o apelo venha de Cavaco, do que uma inesperada Le Pen Lusitana qualquer...
    Necessitamos de recentrar a nossa agenda de prioridades, colocando de novo as pessoas no fulcro das preocupações colectivas. Muitos dos nossos agentes políticos não conhecem o país real, só conhecem um país virtual e mediático. Precisamos de uma política humana, orientada para as pessoas concretas, para famílias inteiras que enfrentam privações absolutamente inadmissíveis num país europeu do século XXI. Precisamos de um combate firme às desigualdades e à pobreza que corroem a nossa unidade como povo. Há limites para os sacrifícios que se podem exigir ao comum dos cidadãos.
    Por mais cordatos e subtis que os actuais líderes parlamentares do PS e do PSD sejam, a verdade é que a política portuguesa se deixou corromper até à medula. Sem rupturas internas, de onde brotem porventura novos partidos, a gangrena que actualmente enche de pús a matriz partidária do regime acabará por liquidá-lo.
    A pessoa humana tem de estar no centro da acção política. Os Portugueses não são uma estatística abstracta. Os Portugueses são pessoas que querem trabalhar, que aspiram a uma vida melhor para si e para os seus filhos. Numa República social e inclusiva, há que dar voz aos que não têm voz.
    Somos um país cristão. Este pormenor, que a estúpida “esquerda” portuguesa ignorou até agora com arrogância ganhará, quando menos se esperar, a força de um magma imparável.
    O exercício de funções públicas deve ser prestigiado pelos melhores, o que exige que as nomeações para os cargos dirigentes da Administração sejam pautadas exclusivamente por critérios de mérito e não pela filiação partidária dos nomeados ou pelas suas simpatias políticas.
    Além do mais, a gula partidária revelou-se como uma monumental degenerescência do ideal democrático.
    A coesão entre as gerações representa um importante activo de que Portugal ainda dispõe. Os jovens não podem ver o seu futuro adiado devido a opções erradas tomadas no presente. É nosso dever impedir que aos jovens seja deixada uma pesada herança, feita de dívidas, de encargos futuros, de desemprego ou de investimento improdutivo.
    A pesada herança que esta democracia degenerada deixará à minha filha e ao netos que ainda não tenho é infelizmente um dado adquirido e inultrapassável. Só esta responsabilidade sinistra move a minha indisfarçável ira.
    É fundamental que a sociedade portuguesa seja despertada para a necessidade de um novo modo de acção política que consiga atrair os jovens e os cidadãos mais qualificados. O afastamento dos jovens em relação à actividade política não significa desinteresse pelos destinos do País; o que acontece, isso sim, é que muitos jovens não se revêem na actual forma de fazer política nem confiam que, a manter-se o actual estado de coisas, Portugal seja um espaço capaz de realizar as suas legítimas ambições. Precisamos de gestos fortes que permitam recuperar a confiança dos jovens nos governantes e nas instituições.
    Acredito, senhor presidente (que asperamente critiquei, e em que continuo a depositar fracas esperanças), que não só a pobreza cruzou já o Mediterrâneo em direcção à Europa, mas ambém a revolta vem a caminho!
    Seria extremamente positivo que os jovens se assumissem como protagonistas da mudança, participando de forma construtiva, e que as instituições da nossa democracia manifestassem abertura para receber o seu contributo. A geração mais jovem deve ser vista como parte da solução dos nossos problemas.
    Fá-lo-ão, sobretudo a partir da nova Diáspora a que a nomenclatura bem sentada deste regime condenou centenas de milhar de portugueses ao longo dos últimos vinte anos.
    Os nossos jovens movem-se hoje à escala planetária com uma facilidade que nos surpreende. Cidadãos do mundo, familiarizados com as novas tecnologias e a sociedade em rede, dispõem de um capital de conhecimento e de uma vontade de inovação que são admiráveis. Muitos dos académicos, investigadores, profissionais de sucesso e jovens empresários que trabalham no estrangeiro aspiram a regressar ao seu país, desde que possuam condições para aqui fazerem florescer as suas capacidades. Temos de aproveitar o enorme potencial desta nova geração e é nela que deposito a esperança de um Portugal melhor.
    Uma vez mais, para que às galinhas cresçam dentes é preciso introduzir a ideia de mérito em Portugal.
    Foi especialmente a pensar nos jovens que decidi recandidatar-me à Presidência da República. A eles dediquei a vitória que os Portugueses me deram. Agora, no momento em que tomo posse como Presidente da República, faço um vibrante apelo aos jovens de Portugal: ajudem o vosso País!
    Este compromisso é talvez o momento crucial da tomada de posse presidencial.
    Façam ouvir a vossa voz. Este é o vosso tempo. Mostrem a todos que é possível viver num País mais justo e mais desenvolvido, com uma cultura cívica e política mais sadia, mais limpa, mais digna. Mostrem às outras gerações que não se acomodam nem se resignam.
    Dito assim, tão claramente, não tem volta atrás.
    Sonhem mais alto, acreditem na esperança de um tempo melhor. Acreditem em Portugal, porque esta é a vossa terra. É aqui que temos de construir um País à altura das nossas ambições. Estou certo de que, todos juntos, iremos vencer.
    Coragem, senhor Presidente!

    quinta-feira, março 10, 2011

    Parque Escolar e lóbi do betão

    A arquitectura e as suas vítimas


    Parque Escolar. Consumos energéticos triplicaram nas escolas requalificadas
    Salas de aulas aquecidas no Inverno e frescas no Verão, quadros interactivos e retroprojectores em todas as salas, um computador para cada dois alunos, são só algumas das regalias que entraram em centenas de estabelecimento de ensino que foram requalificados pela empresa pública Parque Escolar. Só que a modernidade tem um preço alto. Em média, os consumos de água ou de energia eléctrica nas escolas que foram alvo de obras duplicaram ou triplicaram, fazendo disparar a factura mensal. Parque informático, climatização ou iluminação exterior instalados nestas escolas são actualmente um monstro guloso, que consome milhares de euros todos os meses — i (7 mar 2011).

    A operação Parque Escolar, de Sócrates, foi mais uma demonstração de novo-riquismo e da corrupção de um regime que nunca soube nem sabe quanto custa o dinheiro. Empreiteiros, arquitectos, engenheiros e burocratas formam uma nomenclatura indecorosa e irresponsável, para quem a palavra sustentabilidade, economia de meios e de usos, e bom-senso, nada dizem. No caso da operação Parque Escolar, o escândalo é mesmo criminoso!

    A legislação sobre obras e edifícios públicos foi desenhada e escrita para alimentar a economia estúpida e corrupta que nos levou à actual bancarrota. A primeira coisa a fazer no próximo governo é alterar semelhante aborto legislativo de alto a baixo.

    A democracia degenerada que sucedeu à ditadura assenta em quatro pilares:

    1. a família endogâmica do poder político (que engordou nos últimos 30 anos pela via partidária), 2. uma imensa e inútil burocracia, 3. uma elite económico-financeira clientelar, monopolista e protegida pelo Estado, 4. as corporações profissionais

    Percebemos agora que o que mudou no 25 de Abril foi tão só uma parte muito pequena, e rapidamente integrada, da família endogâmica do regime — chamada partidos políticos. Tudo o resto se manteve (com outras fatiotas) como antigamente enquanto as ajudas comunitárias permitiram disfarçar a perda definitiva do império colonial.

    Mas a ilusão terminou, e até 2015, seiscentos anos depois da conquista de Ceuta, estaremos como na crise de 1383-85: completamente falidos, à rasca, com o povo na rua... mas sem ingleses, nem galegos, nem biscainhos, para nos ajudar! Como se a tragédia à vista não fosse o que é (uma tragédia), temos ainda em curso uma emigração sem precedentes desde o século 19, na qual se inclui boa parte dos melhores licenciados, mestres e doutores do país.

    Se as nossas desmioladas e preguiçosas elites e a corja partidária julgam que vão manter-se à tona do problema brincando alegremente com os seus jogos de retórica parlamentar e televisiva, desenganem-se!