Bodégon num tasco memorável de Madrid: Cuevas el Secreto, C/ Barcelona. |
Transporte, turismo e Alta Velocidade
Para já, as Low Cost batem o AVE entre Madrid e Barcelona
Há quase ano e meio que não ia a Madrid. Aquela cidade não pára! O Museu do Prado tem uma nova ala, desenhada por Rafael Moneo, onde vi uma exposição notável de retratos renascentistas provenientes de várias pinacotecas europeias. La Caixa (sim, aquela que pesa, e muito, nos destinos do BPI) inaugurou o seu novo Fórum no Passeio do Prado, um edifício de marca, assinado pelos dois famosos arquitectos suiços, Herzog & De Meuron, e onde se mostra uma surpreendente retrospectiva do grande desenhador, ilustrador e pintor Checo, Alphonse Mucha (visita obrigatória para qualquer artista, ou estudante de arte, design, ilustração e moda.) O Reina Sofia exibe, na espectacular e caríssima extensão do velho hospital, concebida pelos Ateliers Jean Nouvel, uma exaustiva e bem montada retrospectiva do grande fotógrafo americano de origem Luxemburguesa, Edward Steichen. Ainda neste museu recomendo, sobretudo às vanguardas artísticas, e em especial aos arquitectos, a provocatória obra do desaparecido artista conceptual norte-americano Robert Smithson, denominada Hotel Palenque (1969-1972) -- uma inteligente desconstrução da retórica geralmente vazia da arquitectura, muito comum nas universidades e em revistas como a Wallpaper. A fraseologia oca da moda com que somos brindados a toda a hora na Fashion TV é o paradigma típico de boa parte do discurso cultural pós-moderno, que Smithson desmonta com extrema ironia no seu slide show sobre as ruínas de um hotel mexicano, que visitou durante uma visita àquele país.
Madrid é provavelmente uma das cidades mais vivas do planeta. Corre para o futuro, mantendo a alegria e o ruído infinito das suas calles de los vinos, a par da salvaguarda do que nela é castiço e atrai milhões de turistas e novos residentes: o encanto dos seus velhos bairros populares, residenciais, plenos de actividade e onde a vida corre com intensidade, sem que os amanheceres lentos e tardios deixem de oferecer inesperados e inesquecíveis silêncios. Malasaña, Sol, Huertas, La Latina, Lavapiés e o tórrido bairro gay da Chueca, são o verdadeiro coração e alma indestrutível dos madrilenos que vibraram a foguetes ao primeiro e decisivo gol que deu a Espanha o Europeu 2008. Depois de picar e beber noite fora, amortecidos os efeitos a tragos de Orchata de Chufa, estendido no Jardim do Retiro, o dia começa nos museus. A oferta está a anos-luz de Lisboa, uma cidade paradita, nas palavras carinhosas de uma Salamantina que em tempos estagiou no meu estúdio de Alvalade.
Regressado à depressão e ao masoquismo, ouvi o ministro da economia insistir, num programa televisivo (Prós & Contras) desenhado à medida das suas limitações e dos recados que tinha para veicular, nos extraordinários feitos de Portugal em matéria de energia solar voltaica, afirmando por duas vezes que o nosso país tem a maior central solar do planeta. Manuel Pinho deveria ter arrefecido o seu entusiasmo, esclarecendo os telespectadores sobre o pormenor de a dita central, situada na Amareleja (Moura), estar ainda em construção (longe de atingir a supremacia prevista no projecto) e, por outro lado, pertencer a 100% à grande empresa espanhola de projectos e sustentabilidade, Acciona. O autor inicial da ideia, um autarca de Moura, não teve acesso aos capitais lusitanos necessários, privados ou institucionais, para dar corpo à sua visão. E vai daí, porque a ideia era boa e a conquista de quotas de mercado uma oportunidade a não desperdiçar, os espanhóis avançaram!
Ora aí está uma receita de futuro, válida tanto para a distribuição de pronto a vestir e calçado (Zara, Mango, Adolfo Domínguez, Pull&Bear, Purificación García, Camper, etc.), a construção de auto-estradas, viadutos, linhas de Alta Velocidade, aeroportos e pontes sobre o Tejo, como para o plantio de olivais, produção de vinhos de qualidade, ou a criação do porco preto, de onde saem os famosos, inigualáveis e cada vez mais caros jamones ibericos Pata Negra! A Espanha continua desejosa de investir no nosso país. E o destemperado Manuel Pinho não pensa noutra coisa, pois sabe que os cofres do Estado estão vazios, os bancos privados portugueses estão nas mãos da banca espanhola e angolana, e os projectos com pés e cabeça, capazes de angariar os generosos fundos comunitários, arrastam-se no concubinato partidário, na indefinição, na indecisão, na falta de estratégia e no mais alarmante amadorismo técnico e organizativo.
Nesta corrida aos bons projectos, num país de oportunidades à vista, estão ainda, não esqueçamos, angolanos, chineses, árabes, brasileiros, russos e venezuelanos. Apesar da crise, pasta é coisa que não falta! Daí que o melhor mesmo seja discutir a validade intrínseca das estratégias e propostas, e escrutinar bem aquelas cabecinhas incompetentes do MOP (REFER, RAVE, NAER, ANA, etc.), de cujo vazio conceptual e incompetência prática saem as asneiras que tanto o Governo como a Oposição despejam pelos seus fracos oráculos fora, fazendo perder rios de dinheiro ao erário público, sem que ninguém seja despedido, nem preso!
Os acordos que Aznar impingiu a Durão Barroso levaram o Governo Português a subscrever de forma leviana a extensão da rede de Alta Velocidade e Velocidade Elevada espanhola, assente na chamada bitola europeia, ou standard (distância entre carris) a Portugal. PSD e PS, com a complacência dos partidos ultra-minoritários, assinaram acordos de Estado sem um plano estratégico próprio, devidamente amadurecido com números e uma visão de futuro apropriada à mudança de paradigma energético em curso. Depois de algum debate lá se chegou ao Pi da questão: ligar Lisboa a Madrid em AV, ligar Vigo ao Porto em VE, e ligar Porto a Salamanca, via Aveiro, em AV.
Revendo os pressupostos desta decisão, nomeadamente à luz da tremenda crise financeira, energética e alimentar em curso (cujos efeitos negativos se prolongarão por décadas!), e ainda do simples e caricato facto de não haver quaisquer estudos de viabilidade financeira, nem muito menos projectos de execução (apenas intenções vagas, riscos num mapa e Power Points em barda), diria que faz todo o sentido adaptar rapidamente as principais vias férreas portuguesas à bitola europeia, isto é a linha que vai de Valença a Vila Real de Santo António, as linhas férreas transversais ao longo dos rios Douro e Tejo, as linhas da Beira Alta e Baixa, e ainda as linhas suburbanas de Lisboa e Porto. Se a prioridade for esta, abriremos o caminho à exploração privada (por concurso público internacional) das linhas, deixando em aberto a questão das velocidades. No Japão as linhas férreas, as estações e a sinalização são públicas, mas o material circulante e a exploração comercial dos transportes de pessoas e mercadorias é privado, como aliás será na Europa assim que sejam implementadas as directivas comunitárias já anunciadas para este sector. Na mesma linha, dependendo da procura, e por conseguinte dos preços dos bilhetes e dos fretes, pessoas e mercadorias viajarão a velocidades diferentes, i.e. a velocidades médias entre os 160Km/h e os 300 Km/h.
Em Espanha, e para já, é mais barato reservar com antecedência um bilhete de avião entre Madrid e Barcelona, do que optar pelo AVE. Uma viagem de ida e volta entre as duas capitais espanholas custa neste momento 180 euros. E como a nova linha seguiu o caminho da antiga, não há alternativa ferroviária à opção AVE... Já alguém fez estas contas para Portugal? Quantos de nós estaríamos dispostos a pagar 180 euros por uma viagem de ida e volta a Madrid? E quantos pagariam 90 ou 100 euros por uma viagem de ida-e-volta entre Lisboa e o Porto, sabendo-se que o Alfa Pendular custa hoje, em classe turística, 55 euros, e o Inter-Cidades (que está a roubar cada vez mais clientes ao Alfa!) apenas 39 euros? É por aqui que temos que começar, antes de avançar com sessões audiovisuais e proclamações histriónicas. Uma amiga minha de Madrid, embora preferisse o AVE, devido à pontualidade e à conveniência da ligação entre pontos centrais da cidade, viaja na Vueling... por uma questão de preço!
Sobre este tema crucial, e para terminar, reproduzo uma oportuna reflexão de Manolo Cachan, inventor da travessa de dupla fixação, que permite ir preparando a ferrovia Espanhola (porque não a Portuguesa?) para a bitola europeia, poupando assim milhares de milhões de euro aos contribuintes. Em Portugal, as araras do MOP (REFER e RAVE) têm vindo a construir novas linhas férreas (por exemplo, a modernização da Linha do Norte e a nova Linha Electrificada para o Algarve) sem terem tido este cuidado. Ou seja, quando um dia tivermos que converter estas linhas para a bitola europeia, será necessário fazer tudo de novo!
EL TREN DE LARGA DISTANCIA ES MUY CARO
Los trenes que ofrecen unos tiempos de viaje atractivos como el Ave, Euromet y Alvia tienen unos precios tan altos que DESMOTIVAN al ciudadano normal de tomarlos, viéndose obligado cuando ha de hacer un viaje a utilizar el coche o el bus. Actualmente el billete en turista del Ave Madrid-Sevilla cuesta 72 euros y en bus 18 euros, es decir, un 400% mas caro.
Lógicamente, como confirman las encuestas estos trenes son utilizados casi exclusivamente por empleados de empresa y ciudadanos de clase media alta para arriba. Es un CONTRASENTIDO, tanto desde el punto de vista social como económico, que habiendo invertido VARIOS BILLONES de las antiguas pesetas de dinero público en modernizar unas infraestructuras obsoletas, ahora las modernas infraestructuras SOLO SEAN UTILIZADAS POR UNA MINORIA En Francia, donde los precios de los billetes están mas acordes con los salarios del ciudadano medio, viajan en los trenes de larga distancia unos DIEZ VECES MAS personas que en España.
A principios de este año, RENFE consciente de lo apuntado anteriormente, con el objeto de captar mas viajeros ha establecido las "Tarifa Web" y "Tarifa Estrella". Con la primera se consigue un reducción del 60% sacando el billete por Internet entre 15 y 60 días antes de la fecha del viaje, con la segunda se consigue un descuento del 40% sacando los billetes en taquilla con una semana o mas de antelación.
Pero a las tarifas Web y Estrella solo se destina un 10% de las plazas de los trenes, además del inconveniente que supone para mucha gente que no tiene Internet en casa. Tampoco pueden hacer uso de ellas aquellos que han de decidir el viaje con uno o dos días de antelación. Si se desea que esta medida tenga amplia acogida, estas plazas se deberían ampliar hasta un 50% como mínimo de las plazas del tren. No se entiende que esto no se haya hecho ya en aquellos trenes que circulan habitualmente con una baja ocupación, es decir, esos trenes de las horas malas de los días malos y los meses malos. Bajo el punto de vista económico y social es un despilfarro que estos trenes circulen casi vacios cuando originan los mismos costes que si fueran llenos.
También, para reducir los costes de explotación se podría crear un nuevo producto mas económico que ofreciendo las principales ventajas del transporte por ferrocarril, que no son otras que rapidez, puntualidad, seguridad, comodidad y respeto al medio ambiente, tuviera un precio asequible para el ciudadano medio.
Este nuevo tren podría ser de dos pisos (duplex se llaman los que circulan en Francia) , con capacidad para unos 800 viajeros, SOLO DE CLASE TURISTA. No llevaría ni cafetería, ni revistas, ni televisión, ni música, ni nada que diera costes añadidos y que no fuera necesario. La cafetería seria suplida por unas maquinas automáticas de bocadillos, agua y refrescos. Solo se abonaría la impuntualidad cuando esta superase 1 h. Este producto atraería al ferrocarril a nuevos y numerosos clientes con un menor poder adquisitivo. Estos trenes de mayor capacidad y mínimo coste tendrían alguna parada mas para dar cobertura a localidades de tipo medio donde hoy no paran los Aves y similares. Los trenes duplex circularían entre las 11 y las 2 de la tarde, que son las horas de menor ocupación y sus tiempos de viaje serian de unos 30 minutos superiores. El coste del billete seria del orden de un tercio de la tarifa general y se reservarían para las útimas cuatro horas un 20% de plazas.
A modo de ejemplo un duplex Madrid-Sevilla, con paradas en Mora, Malagón, Ciudad Real, Puertollano, Villanueva de Córdoba, Córdoba y Lora. Tiempo de viaje 3 horas. Coste billete 24 Euros.
Trenes similares se podrían establecer en las relaciones Madrid-Barcelona, Madrid-Málaga y Barcelona-Valencia. -- Manolo Cachan.
OAM 383 01-07-2008, 13:43