terça-feira, outubro 02, 2012

Portugal pode falhar

Adriana Xavier e Sérgio: imagem efémera de um país em colapso?

Há quem já aposte no regresso ao isolamento

“Estimular artificialmente a procura, como pedem muitos empresários, apenas agrava o problema. Reduz a poupança, aumenta o défice  e retarda a redução do endividamento externo. Sem redução do endividamento externo o crédito não volta.”

João Miranda, Blasfémias.

Vale a pena ler este comentário às declarações desajeitadas de António Borges.

No entanto, não basta mexer nas porcas da macroeconomia, do orçamento e da fiscalidade. Se não acabarmos com a apropriação do orçamento público pelos cleptocratas, rendeiros, corporações, burocracias instaladas e redes de tráfico de influências partidárias, isto é, se não atacarmos os setores protegidos do regime, como desde o Memorando e em todas as avaliações a Troika vem recomendando e insistindo, de nada servirão as engenharias financeira e orçamental.

O regime precisa de uma revolução!

Ou seja, sem uma nova Constituição, escrita por uma nova Assembleia Constituinte, convocada na sequência de um referendo ao regime, iremos mesmo pelo cano de esgoto abaixo.

Espanha está já em estado avançado de instabilidade social e política, que o agravamento da situação financeira apenas ajudará a transformar numa possível fragmentação da monarquia. Entre nós, assim que o desemprego chegar aos 20-25%, o consenso ruirá, deixaremos de beijar os polícias, e o tempo da convulsão civil e das tentações autoritárias regressará. Há mesmo, à esquerda e à direita, quem já só aposte nesta falsa saída para os nossos graves problemas.

República Federal Espanhola?

Fonte: JPMorgan, salvo comentário fora do quadro.

Juan Carlos, cuida de tus pueblos!

A situação económica, social e financeira da Espanha, longe de acalmar, parece cada vez mais fora de controlo. Abrem-se feridas antigas sobre a natureza do reino e das suas nacionalidades. O gráfico recém produzido pela JPMorgan mostra os altos e baixos de um país assombrado pelo fim de um período histórico de fulgor, império e glória.

A Catalunha quer a independência, o País Basco quer a independência, os nacionalistas galegos tornaram-se violentos, e Madrid não sabe responder se não com intransigência. Ao País Basco disse que não, porque são terroristas. Aos galegos envia a polícia. E à Catalunha diz que não, porque são inconstitucionais. Mas assim não pode ser!

A Portugal sempre calhou melhor ter um único soberano vizinho, em vez de uma dúzia. Mas a verdade é que um país chamado Espanha só em 1876, quando o império já se esfumava no horizonte, aparece constitucionalmente definido. Antes desta data, apesar de haver um único suserano, as Espanhas eram, na verdade, reinos e principados independentes, com fronteiras, arquiteturas regionais, idiomas próprios e moeda.

“A Espanha é unificada durante o Iluminismo, até então era um conjunto de reinos juridicamente e politicamente independentes governados pela mesma monarquia. Até à data da unificação a monarquia era formada por um conjunto de reinos associados por herança e união dinástica ou por conquista. A forma de governo era conhecida como aeque principaliter, os reinos eram governados cada um de forma independente, como se tivesse cada reino o seu próprio rei, cada reino mantinha o seu próprio sistema legal, a sua língua, os seus foros e os seus privilégios. As Leyes de extranjeria determinavam que o natural de qualquer um dos reinos era estrangeiro em todos os outros reinos ibéricos.” [Wikipédia]

A ideia de uma Espanha una e centralizada consagrada por uma constituição surge curiosamente por inspiração e durante a ocupação Napoleónica, em 1808 e 1812, sofrendo depois sucessivos avanços e recuos: 1834, 1837, 1845, 1852, 1856, 1869, 1873, 1876, 1931, 1938-1977, 1978 [Wikipedia]

A democracia que sucede à morte de Franco foi, de algum modo, armadilhada pelo ditador receoso das tendências historicamente nacionalistas da Ibéria. Franco garantiu, antes de morrer, a subordinação do novo regime que previa democrático a uma monarquia entretanto ressuscitada em nome da unidade da pátria espanhola. Apesar deste trinco, as nacionalidades históricas regressaram e progressivamente exigiram graus crescentes de autonomia. A Madrid não restou outra alternativa que não fosse sustentar o chamado Estado das Autonomias —um preço demasiado alto assim que as faturas da União Europeia e sobretudo do euro começaram a cair em cima do orçamento do estado central.

Durante o boom espanhol das últimas três décadas o nacionalismo disfarçado de poder autonómico foi alimentado a Pão de Ló. Madrid voltaria aliás a ter sonhos de expansão ultramarina, tendo cometido o erro crasso de voltar ao lugar do crime, isto é, às suas antigas colónias americanas, com ares de conquistador. Foi o tempo em que bancos e grandes empresas de telecomunicações acreditaram poder invadir a América Latina. O triste episódio entre Juan Carlos e Hugo Chávez (¿¡Por que no te callas?!) acabaria por transformar o sonho em pesadelo.

Madrid está cada vez mais só, apesar de ter crescido desmesuradamente, esvaziando tanto quanto pôde as capitais regionais de importantes centros de decisão institucional, financeira e empresarial. Mas o maior problema é que tanto o Palácio da Zarzuela, como a Moncloa, parecem incapazes de abordar a hipótese de uma viagem de regresso ao que foram séculos da sua história, tudo por causa de um figurino absolutista e centralista imposto por um invasor: Napoleão!

A Espanha encontra-se numa trajetória perigosa. Basta meditar um pouco no gráfico da JPMorgan.

Tal como Portugal e o resto da Europa, as nações ibéricas vizinhas terão que ceder uma parte significativa do seu ritmo de crescimento económico assente, ao longo dos últimos trinta anos, no consumo, na educação, no bem estar social e na economia especulativa, ao crescimento do resto do mundo e em particular dos chamados países emergentes. O preço desta adaptação vai ser doloroso, vai exigir uma verdadeira metamorfose cultural e uma renúncia drástica aos maus hábitos acumulados. E o pior é que não há tempo a perder!

Extrapolando um pouco o gráfico da JPMorgan, vejo seguramente o perigo de novos desastres num país que aprendi a amar desde 1986, quando um jovem arquiteto da Corunha me convidou a dar uma conferência num curso de verão promovido pela Universidade Menéndez Pelayo.

Será assim tão difícil imaginar uma República Federal Espanhola, pacífica e próspera, cujo nascimento ficaria a dever-se à lucidez de um rei capaz de abdicar a favor de um povo que são muitos povos?


 POST SCRIPTUM

Se o referendo catalão sobre a independência da Catalunha revelar uma clara maioria a favor da separação da coroa espanhola, e os Estados Unidos reconhecerem o novo estado, que fará Madrid? Envia generais fascistas, tanques e o seu porta-aviões para as imediações de Barcelona? A União Europeia não reconheceu o direito à autodeterminação e independência do Kosovo? Não está preparada para admitir a Escócia como um novo membro da União e do euro? Não façamos do regresso à normalidade secular nas nações espanholas campo para uma nova guerra fratricida!

segunda-feira, outubro 01, 2012

Alta Velocidade by Ferrari

Quem não quererá viajar a 350Km/h num comboio da Ferrari?
Foto ©Bloomberg

Portugal, Berlengas ferroviárias da Europa?

Aos ignorantes da imprensa e da classe partidária portuguesas, e à corja do Bloco Central da Corrupção que capturou o PS, PSD, CDS/PP e alguns autarcas do PCP, aqui vai a demonstração de que o futuro está na mudança de agulha para os novos foguetes ferroviários (TGV, AVE, ICE, NTV-Ferrari, etc.)

Rui Rodrigues (“A Nova Ferrovia Poupa Energia”, Público) compilou e analisou...
Em média, um comboio de Alta Velocidade, cuja operação não depende do petróleo, considerando o consumo de energia por passageiro e por quilómetro percorrido, é 7 vezes ou mais eficiente que o avião, e 4 vezes mais eficiente que o automóvel.

Avião: 0,87 kWh/passageiro.Km, com uma taxa de ocupação de 66%. Valor que baixa para maiores distâncias.

Carro: 0,5 kWh/passageiro.Km, com uma taxa de ocupação de 1,7 passageiros por viatura.

Comboio Regional: 0,45 kWh/passageiro.Km, com uma taxa de ocupação de 20%

TGV: 0,18 kWh/passageiro.Km, com uma taxa de ocupação de 65%

Metro: 0,14 kWh/passageiro.Km, com uma taxa de ocupação de 21%

ICE 350 (Intercity-Express): 0,12 kWh/passageiro.Km, com uma taxa de ocupação de 65%

Em Espanha, as contas estão feitas. Em Portugal as araras do governo e dos partidos andam a pastar, como sempre!

Portugal está a comportar-se com a Espanha como a Madeira com o Continente

Segundo as previsões do Ministério do Fomento espanhol, quando toda a nova rede estiver terminada, o transporte ferroviário será competitivo frente ao automóvel e ao avião e irá captar 30 % do tráfego gerado entre os pontos de origem e destino.

Por ano, a Espanha importa cerca de 51 mil milhões de euros em petróleo. Desta verba, a maioria é utilizada no sector do transporte. A nova rede ferroviária de tração elétrica vai pois permitir uma poupança anual de muitos milhares de milhões de Euros.

El Plan de Infraestructuras, Transporte y Vivienda 2012-2024 (PITVI), presentado la semana pasada por la ministra de Fomento, prioriza la inversión en ferrocarriles en el horizonte temporal que contempla el Plan. Así, de los 136.627 millones de euros de inversión en el sector del transporte, 52.733 millones de euros se destinarán a diferentes actuaciones en el ámbito del ferrocarril, entre las que destacan la culminación de los corredores de alta velocidad ya iniciados y las destinadas a potenciar el transporte ferroviario de mercancías, entre otros proyectos, como los que se desarrollarán en las redes convencional y de cercanías o en estaciones. Via Libre, 1 out 2012.

Mas se a comichão é cultural, então vejamos o tema doutro prisma: Alta Velocidade by Ferrari!

Rome, Italy (CNN) -- As chairman of Ferrari, Luca di Montezemolo is used to making things that move at breakneck speed. But rather than flashy sports cars for wealthy motor enthusiasts, the Italian businessman's latest high-velocity project aims to cater for the traveling masses.

The Italo train from NTV -- a passenger rail company of which di Montezemolo is also chairman -- is a high-speed service that has been dashing between Milan, Rome and other major Italian cities since April. CNN, june 22, 2012.




domingo, setembro 30, 2012

Petróleo no Beato?

O grande impulso dado pelo petróleo ao crescimento económico e demográfico ocorre entre 1950 e 1970

A festa acabou! Precisamos de aprender a crescer devagar.

“How much uranium or thorium would be required to power an industrial civilization comparable to that now powered by the fossil fuels? And does this quantity exist in a form that is readily obtainable?”

M King Hubbert (1956)

 A humanidade só começou a aumentar de número, acima dos meio por cento ao ano, depois do aparecimento das máquinas movidas a vapor gerado sob pressão em caldeiras aquecidas a carvão.

Esta época marca também crescimentos no consumo da energia e do produto interno bruto acima dos 1%. A fase de transição do carvão e do gás (usado sobretudo na iluminação) para o uso intensivo do petróleo (1920-1940) traduziu-se numa quebra acentuada dos ritmos de consumo energético e de crescimento económico, que só cinco anos depois da Segunda Guerra Mundial (1939-45), disparam para valores nunca antes alcançados na história humana. Entre 1950 e 1970 a população mundial começa a crescer a taxas anuais próximos dos 2%, ao mesmo tempo que os consumos energéticos e a produção crescem entre 3,85% e 5,02% ao ano. Mas depois deste período que coincide com a emergência da primeira crise petrolífera, todas as três taxas de crescimento —demografia, energia e produção— entram numa fase de declínio relativo, que só a especulação financeira e o endividamento ocorridos na década passada (2000-2010) permitiram ilusoriamente inverter, com as consequências agora conhecidas.

M. King Hubbert detetou em 1956, com grande exatidão, o pico do petróleo americano: 1970-71

M. King Hubbert detetou em 1956 o pico mundial do petróleo convencional:1995-2000 (na realidade verificou-se em 2008)

A partir de meados da década de 1980, cresce mais depressa o consumo do que a a produção de petróleo (ASPO)



Colin Campbell: o pico global do petróleo e gás em todas as suas formas exploradas ocorreu em 2008

O cruzamento das informações mais recentes (2012) confirmam a data do pico global da produção de combustíveis líquidos: 2008.

O tempo e os gráficos têm vindo a confirmar sensivelmente as previsões do geólogo americano M. King Hubbert (1), sendo pouco mais do que propaganda pueril o que António Costa e Silva escreveu esta semana no Expresso sobre a corrida ao xisto (2). Mas a melhor confirmação do acerto das previsões de Hubbert são as decisões estratégicas que o governo americano então tomou:
  1. criação de uma rede de centrais nucleares espalhada pelo território americano, com início em 1957 (3);
  2. criação de uma rede de bases militares destinadas a garantir o acesso e transporte de petróleo das principais bacias mundiais até aos Estados Unidos da América e reforço da aliança diplomática e militar com Israel;
  3. fim da convertibilidade do dólar em ouro (Nixon Shock, 1971), três anos depois da formação da OPEP, e dois anos antes do Embargo de 1973, responsável pela primeira grande crise associada ao fenómeno conhecido por Pico do Petróleo;
  4. acordo entre Arábia Saudita e os EUA sobre o uso exclusivo do dólar nas transacções e denominação do preço do petróleo, a troco de apoio militar americano — dando origem ao nascimento do chamado petrodólar (1973); OPEP no seu conjunto adere ao petrodólar em troca de armamento e protecção (1975).
     
Estas quatro decisões são inteiramente coerentes com a percepção das consequências do gráfico da Fig. 21 do estudo apresentado por M. K. Hubbert — o qual veio a revelar-se de uma enorme precisão.

Uma vez reconhecidos os limites das reservas petrolíferas americanas, nomeadamente das suas reservas de petróleo barato e de boa qualidade, a decisão só poderia ter sido esta: poupar as reservas, diminuindo a extração interna, e importando cada vez mais do exterior.

Mas para chegar aqui, com a garantia de que obteriam preços razoáveis pelo crude importado, os Estados Unidos teriam que conseguir preencher dois requisitos: ter muito dinheiro disponível e proteger os investimentos que viessem a realizar em países estrangeiros ricos em petróleo. Para além dos custos de prospeção, desenvolvimento e produção, os EUA teriam ainda que garantir a segurança diplomática e militar das novas fontes petrolíferas espalhadas pelo mundo. A que preço?

Bom, ao preço de uma desvalorização progressiva da sua moeda, ainda que retardada pela imposição do dólar como moeda de reserva mundial — nomeadamente através dos acordos que conduziram ao estabelecimento do petrodólar. No entanto, os custos reais desta substituição/proteção das reservas petrolíferas nacionais não deixaram de aumentar exponencialmente desde que a percepção do pico petrolífero americano foi tecnicamente reconhecido, com a consequente e imparável inflação da massa monetária e sobretudo do agregado conhecido por M3 (Williams, 2008).

O crescimento da massa monetária M3 (sobretudo em 1970-71 e 2006-08) dá bem a ideia do grau de monetização da economia americana.

Historical inflation adjusted oil price per barrel, (Brent equivalent in 2011$), based on amounts shown in BP’s 2012 Statistical Review of World Energy. Our Finite World, 26 set 2012.

Trabalho caro e energia cada vez menos barata fazem uma combinação fatal, só parcialmente compensada pela criação de dívida através da escrituração contínua e virtual de dólares, com a qual a América garantiu ao mesmo tempo uma capacidade aparentemente infinita de importação de petróleo, e a criação de um explosivo mercado interno de consumo conspícuo, alimentado por importações crescentes, já não apenas de matérias primas, nomeadamente energéticas, mas também e cada vez mais, de bens manufacturados. A perda crescente e irreparável de empregos foi temporária e parcialmente compensada por uma espécie de burocratização e terciarização mediática da economia, alimentadas pela especulação bolsista. Em 2008, esta bolha rebentava com estrondo, ao mesmo tempo que os sinais inequívocos do Pico do Petróleo adquiriam uma dimensão mundial.

M. King Hubbert desenhou em 1956 um gráfico assustador, através do qual a abundância energética que possibilitou os "tempos modernos" aparece como um brevíssimo episódio da nossa história.

Ao contrário de Donella H. Meadows e dos demais autores de The Limits to Growth (1972), para quem os limites do crescimento podem revelar-se catastróficos se a humanidade for incapaz de corrigir os custos e as distorções da sua própria expansão demográfica, M. King Hubbert viu na indústria nuclear (4) a única saída possível e duradoura para a inexorável crise de crescimento causada pela exaustão de recursos energéticos finitos.

Enquanto a China e outras economias emergentes podem suportar preços do petróleo acima dos $100-110 (5), já nos Estados Unidos e na Europa, quando os preços sobem e se mantêm acima dos $90 as economias entram em recessão ou crescem bem abaixo dos 3%. Em sentido contrário temos os países da OPEP, que precisam de vender o barril do petróleo acima dos $80, e cada vez mais perto dos $100, sob pena de verem degradar a sua estabilidade social e política. A solução, para países como os EUA, Japão e Europa, seria pois diminuir drasticamente a dependência do petróleo. Mas como, se 70-75% do petróleo que importam vai para o sector dos transportes (80-85% nos EUA)? A migração para o transporte eléctrico é uma saída, mas vai levar tempo, pois existem mais de 800 milhões de automóveis no planeta dependentes de combustíveis líquidos!

Sabemos hoje que muitas outras ameaças colocaram a humanidade em risco de desaparecer, ou ver diminuída a sua presença no planeta em algumas centenas de milhões de almas. E se os gráficos dos crescimentos exponenciais nos ensinam algo, é que as fases de colapso são muito mais desagradáveis do que as de expansão.

A dicotomia feliz entre "esquerda" e "direita" não serve para resolver nenhum dos problemas sérios colocados pela presente crise sistémica do capitalismo, a qual é antes de mais uma crise do modelo energético, tecnológico, social e cultural de crescimento e desenvolvimento da humanidade.

Podemos encher as ruas, mas se não percebermos o que realmente está em causa, apenas agravaremos a ansiedade em que as pessoas e as comunidades já se encontram neste momento. Sem procurarmos as causas profundas desta crise, acabaremos por perder as nossas energias na busca e castigo dos bodes expiatórios.

Porque que é que deixou de haver trabalho? Porque é que o trabalho que ainda existe é caro para a economia, e ao mesmo tempo mal remunerado e precário para quem trabalha, ou até manifestamente artificial e inútil? Para que servem os impostos quando os governos aumentam cada vez mais a pressão fiscal, e prestam cada vez menos serviços?

E se for necessário crescer melhor, mas mais devagar? Estaremos preparados para voltar a partilhar a herança comum à humanidade e às outras formas de vida com quem cooperamos neste planeta?


POST SCRIPTUM, 11 out 2012

“What matters is if our hourly wage once bought eight gallons of gasoline and now it buys only four gallons. This is called purchasing power, and rather naturally the Status Quo has worked mightily to cloak the reality that our purchasing power of the bottom 95% of wage earners has been declining for decades.”

in “Energy Higher, Earnings Lower” by Charles Hugh Smith (Of Two Minds, oct 10, 2012)

Mais um gráfico que ajuda a estabelecer a correlação entre o preço da energia e os rendimentos

Três gráficos muito importantes para percebermos o impacto do preço do petróleo na deterioração dos rendimentos americanos (o caso europeu é paralelo) ao longo dos últimos 43 anos, e uma ajuda para perceber a causa das coisas, nomeadamente no que se refere à Grande Depressão em curso nos EUA e na Europa....

“Despite the improvement from 1994, real wages are around the levels reached in 1969, 43 years ago, and 1980, 32 years ago.”

Alternativas para mitigar esta tendência irreversível na deterioração económica e financeira de Portugal, causada pelo Pico do Petróleo:

1) Estabelecimento urgente de um Plano Nacional de Eficiência Energética;

2) Liberalização e estímulo do uso dos veículos a gás e dos veículos elétricos (trolleys, tram-trains, elétricos, metros, comboios);

3) Impedir os monopólios energéticos, que fornecem combustíveis líquidos para veículos automóveis, e eletricidade às empresas e lares, de porem o pé sequer no abastecimento de gás às empresas e populações!

4) Rebaixar as rendas excessivas da EDP e empresas similares, eliminando das faturas todas as alcavalas oportunistas que o estado lá enfiou;

5) Rebaixar o imposto sobre os combustíveis (o estado hipertrofiado tem que encolher!);

6) Aumentar em mais 30% a desmaterialização da administração pública no prazo de uma legislatura;

7) Criar uma Fiscalidade Verde favorável à poupança energética, penalizando ao mesmo tempo os fatores condutores da excessiva intensidade energética da economia portuguesa;

8) Prioridade absoluta ao transporte ferroviário nacional e internacional, de modo a duplicar a quota deste modo de transporte nos próximos 10 anos, e triplicá-la nos próximos 20 anos.

9) Lançamento de um programa de investigação sobre a energia nuclear baseada no tório;

10) Criar um ministério da energia com igual ascendência sobre os demais ministérios e departamentos governamentais à do ministério das finanças.

NOTAS
  1. Nuclear Energy and the Fossil Fuels, M. K. Hubbert, Presented before the Spring Meeting of the Southern District. American Petroleum Institute, Plaza Hotel, San Antonio, texas, March 7-8-9, 1956 (PDF).
  2. O artigo "A revolução energética do gás de xisto", publicado por António Costa e Silva no Expresso de 29/9/2012, parece querer apenas induzir a substituição de uma bolha que rebentou —das eólicas subsidiadas— por um nova bolha de inspiração americana —a ilusória e muito perigosa bolha do xisto! A verdade é que o gás de xisto, tal como o petróleo de xisto, são dois monumentais fracassos comerciais, embalados por bolhas financeiras especulativas que irão rebentar nos próximos dois ou três anos! Travar qualquer operação nesta perigosa e ilusória área tecnológica de negócio, em Portugal, é uma prioridade. Já ouvi falar em buracos horizontais nas imediações do Mosteiro de Alcobaça. Se é verdade, é urgente denunciar e parar este crime! Sobre a bolha de xisto, vale a pena ouvir John Hemming sobre o tema.
  3. Rede nuclear energética americana
    • 1951 — primeiro reactor nuclear experimental destinado a produzir energia eléctrica
    • 1956 — Nuclear Energy And The Fossil Fuels, by M. King Hubbert.
    • 1957 — Shippingport, Pennsylvania, primeira central nuclear comercial para produção de electricidade.
    • 1960-70 — período de expansão da energia nuclear nos EUA.
    • 1979 — Three Mile Island, Dauphin County, Pennsylvania, EUA, accidente nuclear com derretimento parcial do núcleo.
    • 1991 — EUA têm mais de 1/4 de todas as centrais nucleares do planeta em funcionamento.
  4. Apesar da tragédia nuclear japonesa de Fukushima, há quem veja futuro numa energia nuclear limpa, desde que o ciclo produtivo passe reatores de tório, em vez de reatores de urânio. A China está na dianteira desta nova corrida pela energia nuclear verde
  5. An brief economic explanation of Peak Oil, Chris Skrebowski, ODAC, Oil Drum.


Última atualização: 11 out 2012, 0:20

sábado, setembro 29, 2012

Uma nova lava socialista?

Pedro Nuno Santos, uma referência da metamorfose em curso no PS.
Foto: autor desconhecido

Um relato sobre o que vai na caldeira ideológica do PS. Interessante!

Frederico Guilherme/ Aurora:

“Ao lado de Pedro Nuno Santos, emergiu nos quadros dirigentes da Juventude Socialista, uma fornada de novos valores, incluindo os dois secretários-gerais subsequentes, Duarte Cordeiro e Pedro Delgado Alves. O jornalista Luís Claro viria a identificá-los, com João Galamba e Isabel Moreira, exteriores ao aparelho partidário, como a “geração que quer tirar o socialismo da gaveta” (ionline, 30.06.2012). Ou seja, um grupo informal que converge na ruptura política (e etária) com a geração da Terceira Via, em Portugal simbolizada por António Guterres e seus delfins, António José Seguro inclusive.

Através das posições políticas que têm assumido, em particular na oposição aos principais arremessos neo-liberais que atravessam a Assembleia da República, Orçamento de Estado de 2011, Tratado Orçamental da União Europeia, Código de Trabalho, é notório o seu alinhamento à esquerda do Secretariado Nacional do Partido Socialista. E o seu maior sentimento de urgência. A demissão de Pedro Nuno Santos da vice-presidência do grupo parlamentar do PS surgiu como o sinal definitivo do corte epistemológico desta geração.

A abordagem da “geração que quer tirar o socialismo da gaveta” passa por enquadrar, reflectir, e explicar a angústia do País, à luz do ideário socialista matricial, humanista, solidário e inclusivo; e desenvolver eixos, soluções e instrumentos de corte com a situação vigente. Reconhecem abertamente como adversários as estruturas de decisão, políticas e económicas, nacionais e internacionais, que conduzem o País, através de um caminho ideológico absolutista, para uma sociedade corporativista, economicista, desigual e conflituosa. Que se materializa através das actuais políticas austeras e recessivas, agregadas em torno do memorando de entendimento com a troika.

A adesão de Pedro Nuno Santos, Duarte Cordeiro, Pedro Delgado Alves, João Galamba, Isabel Moreira, entre outros deputados do Partido Socialista, ao próximo Congresso Democrático das Alternativas, confirma e, de certo modo, reforça a vocação de ruptura desta nova geração do Partido Socialista.”

Ao pé desta corrente subterrânea, o manifesto a "meio da esquerda", do Rui Tavares, é, no mínimo, pueril.

Estamos a começar a ver efeitos interessantes da crise... no PSD —Jorge Moreira da Silva e a reintrodução da honestidade e coragem política na ação partidária—, no PS —a corrente de lava que já corre, com Pedro Nuno Santos, Isabel Moreira, etc.—, e na CGTP —a surpresa chamada Arménio Carlos.

A metamorfose interna do regime pode já estar em curso. Bem-vinda!

Vale ainda a pena ler, a propósito de metamorfoses e heterodoxia, a curta entrevista de Manuel Maria Carrilho dada hoje ao Expresso, a propósito da sua "obra completa", Pensar o Mundo, acabada de sair do prelo.

Num PS tão desacreditado, que precisa urgentemente de uma metamorfose, Carrilho poderia bem fazer a necessária ponte entre o que de melhor resta da passagem de António Guterres pelo PS e pelo poder, e a nova geração que tem vindo a tirar o socialismo da gaveta!

sexta-feira, setembro 28, 2012

TAP e a matemática governamental

O discurso nacionalista é uma velha patranha das elites rendeiras instaladas, que o PCP de Cunhal importou do provinciano Salazarismo

Privatizar a TAP? Mas como, se a única coisa que há para privatizar são dívidas descomunais e responsabilidades contraídas de forma aventureira, para não dizer criminosa?

'Low-cost' acentuam ganhos nos voos domésticos

As companhias aéreas de baixo custo ('low-cost') registaram um aumento de passageiros desembarcados nos voos domésticos de 14,2 por cento no primeiro semestre de 2012, segundo dados da ANA—Aeroportos de Portugal.

DN Economia, 27 set 2012.

O que é que na estagnada economia portuguesa cresceu acima de dois dígitos? Foram as companhias aéreas Low Cost: 14,2%. E o que é que caiu abaixo da própria recessão da economia portuguesa? Foram as companhias aéreas tradicionais e de bandeira: -9,7% :(

Companhias como a easyJet. Air Berlin, ou Ryanair, apesar de esta última continuar a ser boicotada em Lisboa pelo Bloco Central da Corrupção, que manda na ANA, comeram, só nos primeiros seis meses deste ano, mais 3% do mercado das companhias aéreas convencionais, boa parte delas subsidiadas de forma disfarçada pelos contribuintes europeus.

Solução: obrigar as companhias como a TAP, a Iberia ou a British Airways, todas elas em grandes dificuldades, a evoluírem para companhias de baixo custo, ou então, fechá-las, como em tempos (março, 2002) a Swissair fechou, dando lugar a outra empresa chamada Swiss International Air Lines (abril, 2002), a qual, por sua vez, viria a ser tomada pela Lufthansa em 2005.

No caso da TAP, abortada a presente operação de privatização (um desastre previsto várias vezes neste blogue, e que agora nos parece praticamente inevitável), deverão ser feitas duas coisas:
  1. demitir Fernando Pinto e toda a administração da TAP, abrindo um inquérito rigoroso e consequente à falência da empresa;
  2. aprofundar, de imediato, a reestruturação da TAP, em dois passos sucessivos: venda da empresa de manutenção sediada no Brasil, e criação de uma TAP Low Cost, seguindo e adaptando o modelo recentemente anunciado pela Air Canada.
Uma vez realizada essa operação, o governo retomaria a operação de privatização de 100% da companhia. As ligações entre ilhas nos arquipélagos dos Açores e da Madeira deverão passar a ser asseguradas por empresas privadas locais com a dimensão adequada.


E depois?

Manter a Portela a funcionar vai custar 470 milhões

Será necessário gastar cerca de 470 milhões de euros, a preços actuais, para manter o aeroporto da Portela a funcionar até 2050 em padrões mínimos e com uma capacidade de processamento que não vai passar dos 18,1 milhões de passageiros por ano, noticiou o "Diário Económico".

Negócios Online, 28 set 2012.

As nossas contas em cima do joelho* são bem diferentes daquelas que as agências de propaganda do lóbi da Ota em Alcochete nos querem impingir:
  1. Custo da melhoria e aumento de capacidade operacional da Portela: ~500 milhões de euros;
  2. Número de quilómetros do vai-e-vem entre um indesejável Novo Aeroporto de Lisboa em Alcochete e Lisboa: 18 milhões de passageiros x 100 km (distância ida-e-volta entre Alcochete e Lisboa) = 1 800 000 000 km/ano;
  3. Custo estimado do combustível do vai-e-vem automóvel, admitindo que todos se deslocam em viatura própria ou familiar (combustível de referência: gasóleo; 1,3 passageiros p/ viatura) entre um indesejável NAL em Alcochete e o Terreiro do Paço—Lisboa (a preços de setembro de 2012): ~ 128 686 000 €/ano.
  4. Custo estimado do combustível do vai-e-vem automóvel entre o Aeroporto da Portela e o Terreiro do Paço—Lisboa (20 km), admitindo que todos se deslocam em viatura própria ou familiar (combustível de referência: gasóleo; 1,3 passageiros p/ viatura): ~25 737 200 €/ano;
  5. A poupança na Portela é da ordem dos 102 948 800 €/ano, ou seja, em cinco anos apenas o investimento na Portela estaria recuperado por comparação com a alternativa Alcochete Por Fases. Na realidade, o investimento na Portela seria recuperado em menos tempo, pois há que descontar ainda a poupança introduzida pelo recém inaugurado Metro do Aeroporto neste cálculo e, por outro lado, somar aos custos da opção Alcochete Por Fases, entre outros, o impacto financeiro das novas acessibilidades rodoviárias e ferroviárias.
  6. Mantendo o aeroporto na Portela, uma pessoa que viva perto do Terreiro do Paço, exige 40 km de percurso automóvel por cada viagem aérea (Terreiro do Paço—Portela—Terreiro do Paço + Terreiro do Paço—Portela—Terreiro do Paço). Usando o mesmo carro a gasóleo, aos preços de hoje, o morador nas imediações do Terreiro do Paço gastará menos de 4 euros de combustível se o Aeroporto da Portela se mantiver onde está, mas gastaria mais de 18,5 euros, se tivesse que se deslocar a um qualquer NAL nas imediações de Alcochete/Canha! Se se acrescentar as portagens de uma das pontes, o custo sobre para 23,5€ (pela Ponte Vasco da Gama — percurso menos longo), ou 21,6€ (pela Ponte 25A — percurso mais longo e mais demorado).
Basta imaginar o impacto da subida dos preços dos combustíveis, que continuará imparável até 2050 (se é que neste ano os aviões ainda voarão como hoje — duvidamos seriamente desta hipótese!), para se perceber num ápice que o custo da modernização do Aeroporto da Portela (nomeadamente obras de saneamento, ampliação de pistas e novo desenho do taxiway) é incomparavelmente menor e mais sustentável do que os custos inevitáveis dum putativo vai-e-vem entre Alcochete/Canha e Lisboa.

Mas se tivermos em conta os custos económicos e ambientais totais inerentes ao indesejado NAL em Alcochete, mesmo que por fases, como querem os gatunos e os piratas do Bloco Central da Corrupção (BCC), para salvar os investimentos especulativos que ali fizeram, então a manutenção e modernização do Aeroporto da Portela, onde aliás foram feitos recentemente importantes investimentos, revela-se claramente como a única solução decente e racional do ponto de vista técnico e económico-financeiro.

Por fim, se privatizarem a ANA e a TAP, em vez de manter o Bloco Central da Corrupção aos comandos do naufrágio do país, o problema da melhoria da capacidade operacional da Portela, que não existe, como prova o crescimento das Low Cost no país e também na Portela, ficaria automaticamente resolvido, não é? Os custos do negócio passariam para os privados, e já está!

O mais triste de tudo isto é vermos como a imprensa portuguesa não passa, cada vez mais, de um reles megafone da Corrupção!

Custo deste parecer: ZERO EUROS!


* —  Quando a ANA conta do número de passageiros da Portela soma os que partem e os que chegam, independentemente de serem as mesmas pessoas, ou não. Quer dizer, quando eu viajo de Lisboa a Londres, e regresso, sou contado 2x para efeitos estatísticos, i.e. sou dois passageiros! Ou seja, quando a ANA refere um objetivo de 18 milhões de passageiros em 2050, um tal número poderá não significar na realidade mais do que 9 milhões de pessoas diferentes.

No entanto, do ponto de vista da minha conexão casa-aeroporto, já será necessário contar 4 viagens terrestres por cada viagem aérea!

Se deixar o carro no aeroporto terei que pagar o estacionamento, o que conta, para este efeito, como uma deslocação. Exemplos: a minha filha leva-me ao aeroporto, e depois vai buscar-me quando regresso — 4 viagens; apanho um táxi em Carcavelos até à Portela, tendo combinado com o motorista a viagem de regresso a casa — pago-lhe 4x a distância em km entre Carcavelos e a Portela; o autocarro, o metro, etc., que me transportam de e para o aeroporto também fazem 4 viagens por minha causa. Basta admitir que o serviço não deixa de ser prestado no caso de eu ser o único passageiro!

Resumindo: na hipótese do NAL da Ota em Alcochete, cada viagem (partida ou chegada) implicaria um duplo percurso de 50 km, ou seja de 100km, em média, entre Alcochete e Lisboa. A minha filha levar-me-ia então do Terreiro do Paço ao NAL da Ota em Alcochete (50km), regressaria ao Terreiro do Paço (50km), e voltaria para me buscar no regresso da viagem a Londres (50km), regressando ambos depois a casa, nas imediações do Terreiro do Paço  (50km) — total: 200km!

Assim, mantendo o aeroporto na Portela, vivendo eu perto do Terreiro do Paço, apenas preciso de percorrer 40 km de automóvel por cada viagem aérea. Usando o mesmo carro a gasóleo, aos preços de hoje, gasto menos de 4 euros se o Aeroporto da Portela se mantiver onde está, mas gastaria mais de 18,5 euros —só em combustível— se tivesse que me deslocar a um qualquer NAL nas imediações de Alcochete/Canha! Se acrescentar as portagens de uma das pontes, o custo sobre para 23,5€ (pela Ponte Vasco da Gama — percurso menos longo), ou 21,6€ (pela Ponte 25A — percurso mais longo e mais demorado).


Última atualização: 29 set 2012, 13:28

segunda-feira, setembro 24, 2012

Blow Job airlines

Um tiro na testa? Quem poderá salvar a TAP?
Foto: autor desconhecido

Foi Você que pediu uma TAP Low Cost?
 

Aguarde, por favor, uma década, até que os sábios lusitanos acabem de refletir sobre o tema.

Entretanto, as redes Low Cost dos EUA e do Canadá ligar-se-ão à Europa, nomeadamente através de Lisboa, a partir de 2013-2014.

Chegados aqui, quem fará as ligações de Lisboa e do Porto para o resto da Europa? A nova TAP Low Cost?

Não, esqueceram-se de pensar no assunto!

Esqueceram-se do Pico do Petróleo —uma coisa que vem de 1956—, e acreditaram no milagre brasileiro luliano do pré-sal, e num tal brasileiro_colombiano_polaco_judeu que depois de ter deixado naufragar uma plataforma petrolífera inteirinha da Petrobrás, resolveu dedicar-se à aviação.

A Blogosfera pacientemente explicou, insultou, suplicou... e nada!

Sob o império da tríade de Macau, da máfia do BPN e em geral do Bloco Central da Corrupção incharam artificialmente os movimentos da Portela, deram cabo do serviço de bagagens e da Groundforce, tentaram lixar o aeroporto Sá Carneiro por todas as formas (até entalando a gestão com uma infraestrutura sumptuosa e caríssima), compraram a sucata da PGA ao senhor Ricardo Salgado por 140 milhões de euros, encomendaram 12 aviões à Airbus por mais de 3 MIL MILHÕES DE EUROS, cujas primeiras entregas estão previstas para 2013 (!), certamente a pensar na grande cidade aeroportuária que o adiantado mental Mateus, criador do aeromoscas de Beja, imaginou na Margem Sul.

O resultado está à vista:

—a TAP faliu, e as suas dívidas não podem ser vendidas (pois é disto que se trata!), nem a empresas extra-comunitárias, nem muito menos a um indivíduo de múltiplas nacionalidades, ainda por cima sem credenciais firmadas no ramo!

—a aviação no Brasil vai ter que mudar rapidamente para o regime Low Cost, sob pena de ver o seu mercado nacional e intercontinental comido pelo Chile, pelos EUA e pelo Canadá. A adaptação é inevitável. E depois, para que servirão os A350 900 encomendados pelo gaúcho Fernando Pinto?

A Low Cost Portugal já tinha anunciado esta eventualidade, mas por cá andou-se, como sempre, a dormir na forma.

Mais uma que o senhor Sérgio Monteiro, secretário de estado do ministro Álvaro Santos Pereira, terá que explicar ao país. Porque é que não demitiu a gerência da TAP a tempo e horas e arregaçou as mangas, como lhe competia?

Portugal está a transformar-se não só numas Berlengas ferroviárias, mas também aeronáuticas. E quanto a transporte TIR estamos conversados.


Não precisamos de adoptar o paradigma Blow Job recomendado pelo sátiro da Ryanair, mas lá que o paradigma do transporte aéreo mudou, para sempre, mudou!


POST SCRIPTUM

Algumas vozes da Blogosfera, e nós também, sugerem que o enorme problema da TAP pode ter estado na origem do lançamento precipitado e desastroso da TSU. É que o BES é um dos bancos envolvidos no negócio aparentemente furado da compra de 12 aviões Airbus A350-900. Além do mais os movimentos brownianos de Portas e Relvas no Brasil devem ter tudo a ver com esta castanha preste a rebentar.

A TSU, ao contrário da mudança nos escalões do IRS, permitiria alocar receitas fiscais de forma imediata a operações obscuras futuras como, por exemplo, o refinanciamento imediato de dívidas de curto prazo da TAP (500 milhões, ou mais?) sob a forma de um expedito aumento de capital.

Com receitas imediatamente alocáveis provenientes do assalto à TSU, o Estado poderia oferecer garantias junto dos piratas financeiros do costume para um novo empréstimo, embora disfarçado de subscrição de capital.

Se esta hipótese estiver correcta, o assalto à TSU foi sobretudo uma manobra desesperada para salvar a TAP do encerramento, o que, se acontecer, deitará por terra de vez o embuste do NAL da Ota em Alcochete — prejudicando criticamente os investimentos piratas que a máfia do BPN/SLN e a tríade de Macau fizeram nas imediações do Campo de Tiro de Alcochete. Está pois esclarecida a origem "técnica" da medida que ia deitando o governo abaixo: Moedas—Macedo—Borges—Goldman Sachs (com o apoio de um PM de plástico).


Última atualização: 26 ser 2012 12:39