sábado, novembro 17, 2012

Israel na compra da TAP?

Aeroporto de Santa Maria, Açores: KLM Royal Dutch Airlines Lockheed L-1049C Super Constellation (PH-TFW/4507). Foto license: cc.

Synergy Aerospace: será que o governo português sabe a quem está prestes a vender a TAP?

i: Onde está sedeada a empresa que vai comprar a TAP?

Efromovich: Somos ligeiros e já estamos a criar a Synergy Portugal… Afinal, estão a corrigir-me, é a Synergy Europa, sedeada no Luxemburgo.

[...] O único candidato à compra da TAP, Germán Efromovich, diz que poderá vender em bolsa entre 10% a 20% da transportadora aérea, caso o governo venha a aceitar a proposta da Synergie Aerospace. A entrevista aqui apresentada resulta da síntese das respostas ontem deu aos jornalistas, em conferência de imprensa.

i online, 16 Nov 2012 - 14:57 | Actualizado há 9 horas 1 minuto

Estarão Bruxelas, Berlim, Londres e Madrid a par desta rocambolesca entrada de Israel na placa giratória estratégica do Atlântico? Não há uma interdição explícita à entrada de companhias extra-comunitárias no setor aeronáutico europeu? E os nossos generais, já acordaram?

Efromovich tem vindo a anunciar que a compradora da TAP é uma tal Synergy Aerospace, ora com sede no Panamá, ora em Bogotá, ora, mais recentemente, no Luxemburgo — mas aqui já deixou de se chamar Synergy Aerospace para passar a ser Synergy Portugal, ou melhor (alertou um assistente de Efromovich na conferência de imprensa), Synergy Europa, sediada no Luxemburgo. Todas estas imprecisões fariam qualquer governo digno da função rejeitar semelhante fantasma negocial.

Em primeiro lugar, não há nenhuma empresa registada com o nome Synergy Aerospace do grupo Synergy que esteja visível nos radares da Internet. A que existe com semelhante designação é uma empresa de engenheiros e consultores de aviação militar, mas americana.

O que há, sim, é uma joint venture entre o Synergy Group dos irmãos Efromovich e a principal empresa israelita de tecnologia militar aeronáutica e espacial, a Israel Aerospace Industries. Daqui talvez a confusão: Synergy Group + Israel Aerospace Industries = EAE Aerospace Solutions, ou, mas aqui deve haver uma enorme trapalhada, Synergy Aerospatial, com sede supostamente no Brasil...


ATENÇÃO AOS OBJETIVOS DA ISRAEL AEROSPACE INDUSTRIES

IAI, Synergy Group Embark on Expansion Plan in Brazil

UPI, April 14, 2011 at 16:00

“IAI and its Brazilian partner Synergy Group have established a unique joint venture structured to expand IAI’s offerings in Brazil through acquisitions of local companies and activities, thus rapidly expanding the combined offerings of IAI and the Synergy Group in Brazil.”

“We entered Brazil with determination to be an active, leading player in the Brazilian defense and security market” said Shamir, “While we are pursuing several defense and security programs in the Brazilian market we are not necessarily waiting for these tenders to mature, or wins to establish our presence here.” IAI regards the growing demand for Homeland Security as a springboard to enter the Brazilian market, said Shamir, “we are crafting our technologies to offer the Brazilian government and federal customers with comprehensive solutions to specific needs, that will eventually improve the security, and emergency response of Brazilian authorities, utilizing mature, efficient and ubiquitous intelligence, situational awareness and information management capability.“

Em forma de conclusão diria o seguinte:
  1. A simples ideia de promover um concurso de privatização para um só concorrente é uma situação espúria e que revela algo muito simples: a compra da TAP na situação em que está é um mau negócio, a não ser que haja outros negócios por trás;
  2. O historial do candidato, nomeadamente no que se refere à questão folclórica da sua nacionalidade, não inspira confiança;
  3. As ligações muito fortes que os irmãos Efromovich e o seu grupo Synergy hoje mantêm com a principal empresa de tecnologia aeronáutica e espacial militar do estado sionista de Israel colocam um problema de segurança estratégica muito sério, não só à cultura de alianças nacional, como à própria segurança estratégica europeia — os interesses estratégicos de Portugal e da Europa não se confundem com os interesses estratégicos do Brasil;
  4. Termos chegado até aqui revela duas coisas: que os estrategas militares portugueses deixaram de ser ouvidos pelo poder político, e que o poder político, incluindo todos os partidos políticos com assento parlamentar, é uma desgraça completa, desde logo começando pelo ministro da defesa em funções, que deveria regressar rapidamente aos seu negócios, em vez de andar mascarado de responsável pela segurança estratégica do país. Quanto ao presidente da república, já todos percebemos que a criatura está doente, e portanto deveria resignar.
POST SCRIPTUM: as missões militares estratégicas há muito que são desempenhadas por lebres civis.

ÚLTIMA HORA: Israel pode estar a preparar-se para um ataque ao Irão!

Se Israel atacar o Irão, este poderá bloquear o Estreito de Ormuz. Se tal acontecer, haverá uma quebra diária de fornecimentos na ordem dos 10 milhões de barris de petróleo e 2 milhões de gás natural. Uma rotura de abastecimento desta dimensão, na ordem dos 10-11% da produção mundial de petróleo, fará disparar automaticamente os preços da energia e dos alimentos para níveis difíceis de calcular. Por outro lado, percebe-se o interesse súbito que Gibraltar e em geral a frente de portos atlânticos da Europa, todo o Atlântico, e o corredor ferroviário entre Luanda e Nacala poderão ter para o mundo. Caro ministro Álvaro Santos Pereira: ponha a linha de bitola europeia entre o Poceirão-Setúbal-Sines e o Caia em construção quanto antes! E liberte-se dos Efromovich !!!
"Pétrole : pourquoi la menace iranienne est prise au sérieux"
Le Monde.fr | 14.11.2012 à 14h14 • Mis à jour le 14.11.2012 à 15h33

Si les pays occidentaux semblent exclure une intervention militaire pour stopper le programme nucléaire iranien, le gouvernement israélien a indiqué qu'au-delà de la fameuse "ligne rouge", il devrait recourir à cette option.

Face à ces menaces, l'Iran a répondu qu'une attaque de ses installations nucléaires constituerait un acte de guerre lui autorisant toute forme de réplique. Pourtant, ce n'est pas vraiment l'éventualité d'une riposte armée qui inquiète le marché du pétrole. C'est le risque de voir l'Iran bloquer le détroit d'Ormuz, c'est-à-dire le rail naval le plus stratégique pour le commerce mondial du pétrole.

Última atualização: 18 nov 2012, 0:13

sexta-feira, novembro 16, 2012

Democracia e implosão

Greve geral de 14 de novembro, Lisboa, Assembleia da República, confrontos com a polícia.
Foto©EPA

“Violência inédita”, como clamaram em uníssono governo, politocratas e jornalistas — ou sinais claros de implosão de um sistema falido por todos os lados?

No dia 14 de novembro, dia da greve geral convocada pela CGT-Intersindical, às 17:57, escrevi no Facebook:
Mário Soares deveria procurar interpretar estas palavras escritas no chão em frente à Assembleia da República: "os ladrões estão lá dentro, a polícia está cá fora". Uma nova revolução contra a democracia degenerada já está em marcha. Esperemos que possa ser uma revolução pacífica, mas uma revolução nomeadamente pela transparência democrática, pela justiça fiscal e pela abolição dos rendeiros protegidos do regime e suas rendas excessivas e indecorosas.
E a 13 de março do ano passado, neste mesmo blogue, avisava as hostes da esquerda instalada:
Mário Soares não esperou certamente assistir a uma nova revolução popular no seu país, muito menos contra o PS!

Tal como escrevi noutra ocasião, a ira que se vem acumulando na sociedade portuguesa não resulta apenas da precariedade profissional de uma juventude mal orientada, mas também da desilusão e revolta, por enquanto contida, dos pais e avós dessa mesma juventude. Estes dedicaram atenção, esforço e poupança ao futuro dos seus entes mais queridos. Quantas vezes, ao som cantante do optimismo libertário que ajudaram a fundar.

De há uma década para cá, porém, assistem incrédulos ao desmoronar aparentemente imparável de um imenso sonho e de uma não menos formidável esperança. O que eu hoje vi e senti ao longo da avenida da Liberdade foi a aliança, que irá crescer nas próximas semanas e meses, entre avós, filhos e netos, revoltados contra uma democracia que degenerou num regime partidocrata, clientelar e burocrático, a caminho de uma descarada cleptocracia.
Ao procurar ter uma visão mais geral da greve geral de ontem em Portugal e na Europa, e que foi muito mais do que a montagem mediática que tem encharcado os nossos olhos e neurónios desde o início dos confrontos entre manifestantes e corpos policiais junto à Assembleia da República, precisei de recorrer —o que não deixa de ser sintomático da situação a que chegámos— a um blogue radical como o 5Dias.

A narrativa deste círculo de pensamento revolucionário releva de um imediatismo tipicamente de extrema-esquerda, mas nem por isso deixa de analisar com franqueza nua e crua o que a "violência inédita" de ontem não foi —uma perturbação organizada por profissionais estrangeiros com os quais a CGTP de Arménio Carlos nada teve que ver—, e o que, na realidade, foi: a demonstração de que uma parte crescente da população portuguesa, para já sobretudo urbana, está contra o sistema e irá resistir à cobardia e ao cinismo dos banqueiros e da subserviente partidocracia que temos, do CDS-PP ao Bloco agora bicéfalo dos cadáveres de Trotsky e das múmias de Mao.
Se a Esquerda institucional (partidos e sindicatos) escolher demonizar os sectores populares não tutelados, difusos e mais radicalizados, então está a cavar a sua própria sepultura. É que a repressão dos elementos mais radicais (neste momento) na sociedade Portuguesa será uma vitória para a reacção e essa vitória será seguida de um ataque esmagador às “forças organizadas”… tendo ajudado a reprimir o impulso de revolta popular genuíno e espontâneo quem é que irá em auxílio da CGTP, PCP ou BE quando a reacção se voltar para esmagá-los? As forças da esquerda institucional podem-se demarcar o quanto quiserem destas acções, o facto é de que, quer gostem ou não, quer o desejem ou não, a repressão do movimento insurgente de massas conduzirá em seguida ao seu esmagamento, no mínimo, à sua marginalização para um plano ainda menos relevante do que tem hoje — Francisco Furtado, 5Dias.Net .
Mais do que estarmos perante uma crise sistémica do capitalismo, estamos no final de uma vaga de crescimento inflacionista que esgotou as fontes de energia barata, destruiu ou queimou solos agrícolas a uma escala nunca imaginada e exauriu muitos outros recursos, tais como a água potável e os minérios essenciais ao tipo de civilização a que nos habituámos.

O crescimento económico do século 20 conduziu-nos ao excesso demográfico, e o excesso demográfico conduziu-nos, numa primeira fase, à repartição militar dos recursos disponíveis, e à sobre-exploração de nações inteiras pelos povos mais ricos e tecnologicamente evoluídos. Numa segunda fase, sensivelmente a partir do início da década de 1960, a redistribuição planetária, ainda que desigual e lenta do rendimento mundial, induziu o desemprego, a perda paulatina do poder de compra, a instabilidade social e cultural, a recessão demográfica, e o envelhecimento das populações, tanto na Europa, como nos Estados Unidos, no Japão, ou mesmo na China e, a par de tudo isto, ao endividamento acelerado dos governos, das empresas e das pessoas.

Não vale pois a pena culpar a Troika por algo que a ultrapassa. Nem sequer vale a pena perdermos muito tempo com as responsabilidades óbvias das partidocracias que têm gerido as democracias populistas ao longo das últimas décadas. Acusá-los, julgá-los e prendê-los, pelo menos alguns, será certamente uma boa terapia de grupo, mas não é o essencial. Travar a fundo na despesa pública é porventura inevitável, sobretudo por causa dos níveis explosivos de endividamento público e privado, mas não resolverá os problemas principais, e até poderá agravar o caos social que se avizinha a passos largos, entre outras motivos, pela extrema dependência das sociedades contemporâneas face ao estado, nomeadamente em matéria de emprego, pensões e reformas, saúde e educação, e assistência em tempos de crise agravada.

Gustave Doré, Destruição do Leviatã, gravura (1865)

Que fazer?

Responder a esta pergunta é um longo processo que ainda temos pela frente. Passará certamente pela metamorfose dos sistemas esgotados e corrompidos das democracias populistas europeias. Estas implosões inevitáveis não serão certamente passagens de modelos na passerelle do narcisismo partidocrata.

Outra pergunta: poderão ser o preâmbulo de novas revoluções sociais?

Sim, mas só na medida em que apressarem o colapso económico, social, político e cultural do Leviatã em que nos habituámos a confiar como fonte de todos os direitos sociais e culpado de todas as desgraças. Vencer esta espécie de infantilidade cultural implicará, não só destruir o estado tal como o conhecemos hoje, mas também todas as corporações, sindicatos e organizações sociais que se deixaram perverter por relações de amor e ódio entre si, e pela dependência congénita do Leviatã. O poder omnipresente do monstro burocrático é o verdadeiro obstáculo que imediatamente resiste à mudança.

Será necessariamente violenta a próxima revolução?

Haverá certamente violência, mas tal não significa que tenha que ser violenta, nem sobretudo que deva ser alimentada pela violência organizada. Este tema, que a "violência inédita" de ontem frente ao parlamento português tornou mais premente, exige uma discussão profunda e sobretudo alguma análise histórica. À laia de introdução publico uma entrevista a Gene Sharp (bibliografia) que o Vítor Pomar e o Denis Hickel me deram a conhecer através do Facebook: “Como iniciar uma revolução”...




POST SCRIPTUM

Memo sobre o 14N

A violência que está a tomar de assalto as manifestações pacíficas em Portugal tem seguramente origem planeada e organizada, típica das táticas de insurreição e guerrilha militar.

É preciso denunciá-la e contrapor formas de protesto e ação de massas pacíficas e criativas!

Desde já é preciso exigir aos responsáveis pela segurança das pessoas que apurem as responsabilidades pelos incidentes violentos, os quais, em minha opinião, foram meticulosamente planeados contras as forças policiais que guardavam o parlamento no dia 14 de novembro.

Em vez de desculpar apressadamente a CGTP, o governo deve proteger melhor os cidadãos que se manifestam pacificamente.

Última atualização: 17 nov 201221:19

quinta-feira, novembro 15, 2012

A ANA prefere os alemães

As prioridades estão à vista. Flight Radar 24 (derivativo—OAM)

Frapor é a única alternativa estratégica séria na concessão dos aeroportos portugueses

Angela Merkel não veio até até ao forte de São Julião, que conheço bem, apenas para ver o novo pólo económico pós-industrial que é a linda Praia de Carcavelos e o belíssimo estuário do Tejo, mas fechar negócios importantes que, de algum modo, compensem os euro-marcos que têm impedido Portugal de colapsar. Apesar dos insultos da indigente elite local, a tia Merkel fez o que tinha a fazer e é do interesse comum da Alemanha, da Europa e de Portugal: investir no nosso país, apesar da recessão europeia, e ocupar posições estratégicas que, a não serem ocupadas pela Alemanha, acabariam por ir parar à China já que, por exemplo, no caso dos aeroportos nacionais, entregá-los a Espanha, ou a um qualquer aventureiro sul-americano recém casado com Israel, seria impensável.

Negócios com a Alemanha avançam depois da partida de Merkel

Grupo alemão é o favorito para comprar a ANA. Portugal e Roménia disputam nova fábrica da Bosh e alemães compram Fisipe por 29 milhões de euros

Passados dois dias da visita de Angela Merkel a Portugal começam a vir a público negócios importantes com grupos alemães em diversas áreas. O primeiro tem a ver com a privatização da ANA. Depois de ter sido anunciado o conjunto de candidatos à compra da empresa portuguesa, o Conselho de Ministros deve aprovar amanhã a short list, que, segundo anunciou terça-feira a TVI, incluirá os franceses da Vinci, os alemães da Fraport e os argentinos da Corporación América. O i sabe, no entanto, que a grande favorita é a Fraport, que oferece as melhores contrapartidas ao accionista Estado — in i online (14 nov 2012).

Caderno de encargos da venda da ANA disponível

O vencedor da privatização ficará sujeito à indisponibilidade de venda entre quatro a oito anos. Neste momento existem oito candidatos à privatização da ANA, entre consórcios europeus e empresas da América Latina. As poucas informações que têm vindo a público apontam para uma melhor classificação dos europeus — in Jornal de Negócios online (15 nov 2012).

Portugal há muito que aluga a sua dependência económica por cedências parciais de soberania... nomeadamente militar. Os EUA estão a caminho do colapso e já não têm massa para as rendas das Lajes. Logo, que venham os alemães! Do ponto de vista da União Europeia, enquanto existir, faz sentido que Portugal se alie ao mais forte. Neste caso, o mais forte já não é a Inglaterra, mas a Alemanha. Se a Frapor—Frankfurt Airport Services Worldwide, empresa teutónica que gere o hub aeroportuário de Frankfurt e mais doze aeroportos em várias partes do mundo, ficar com a exploração dos aeroportos portugueses durante umas boas décadas será uma boa notícia.

Basta reparar na imagem de radar do tráfego aéreo mundial para perceber tudo: existe a América do Norte, existe a Europa, e o resto só não é paisagem porque entretanto surgiram duas novas regiões em crescimento rápido: o Sudeste Asiático e o Brasil. A China é hoje o maior parceiro comercial do Brasil tendo recentemente ultrapassado os EUA. O quarto parceiro comercial do Brasil é, adivinharam, a Alemanha (Portugal não consta sequer da lista dos trinta primeiros).

Na realidade, e para ser mais preciso, o maior parceiro comercial do Brasil e o maior parceiro comercial da China é, na realidade, uma coisa chamada União Europeia! Daí que...

Alemã Fraport critica critérios em leilão de aeroportos
Administradora do aeroporto de Frankfurt faz coro com a presidente Dilma e reclama das baixas exigências na licitação de Guarulhos, Viracopos e Brasília — in Veja (7 ago 2012).

E daí que a Alemanha esteja muito naturalmente interessada nos aeroportos encostados à frente ocidental atlântica. Deixá-los nas mãos de chineses, de sul-americanos duvidosos, ou ao Deus dará, seria um crime, e sobretudo um erro de estratégia imperdoável. Logo, desta vez, a senhora Merkel lá terá que puxar os cordões à bolsa ;)

Dirão alguns amigos incondicionais dos Estados Unidos que, embora tratando-se de aeroportos civis, a Alemanha coloca pela primeira vez uma sua base avançada em pleno atlântico. É verdade. Mas será preocupante? Se a União Europeia for para seguir em frente, não é preocupante. Se for para romper, então sim, seria muito preocupante!

Este melindre deverá ser acautelado através de duas condições do caderno de encargos:
  1. o que está em causa é uma concessão de gestão aeroportuária, não a venda de aeroportos e terrenos de e ou para aeroportos, nem muito menos a gestão do espaço aéreo nacional e de boa parte do Atlântico norte, a cargo da empresa pública NAV;
  2. o prazo da concessão não deve ser demasiado longo.

Voos continentais e transcontinentais

Swiss troca voos para Atenas e Madrid por destinos mais lucrativos

A companhia aérea suíça Swiss anunciou hoje que vai acabar com alguns voos destinados a Atenas e Madrid, cidades duramente atingidas pela crise da Zona Euro, e procurar expandir as suas ligações para destinos mais lucrativos.

Para alargar a sua oferta de destinos, a Swiss quer reforçar as ligações para Palma, na ilha espanhola de Maiorca, e Málaga (Espanha) e vai lançar rotas para as ilhas italianas da Sardenha e da Sicília. A Swiss anunciou também a criação de uma base em Genebra focada nos passageiros da região da Romandia — in OJE/Lusa (12/11/12, 14:51).

Esta e sucessivas notícias que têm vindo a lume nos últimos seis meses apontam para algumas realidades que estão a mudar muito rapidamente as estratégias operacionais das companhias aéreas:
  1. a carestia do petróleo veio para ficar;
  2. a recessão americana e europeia são realidades indiscutíveis com impactos apreciáveis na mobilidade aérea;
  3. mais cedo ou mais tarde a Europa aprovará e aplicará taxas penalizadoras sobre a emissão de CO2 equivalente por cada sobrevoo do território comunitário (CO2 cap on air traffic);
  4. as estratégias Low Cost ganham terreno dia a dia, sobretudo nas viagens de médio curso, levando as grandes companhias a criarem as suas próprias companhias Low Cost e modificaram a cultura das companhias de bandeira tradicionais;
  5. As novas redes europeias de transporte ferroviário de Alta Velocidade vão compensar a quebra inevitável no número de voos de médio curso em território europeu;
  6. mesmo no longo curso intercontinental haverá em breve oferta de voos Low Cost entre os vários continentes, desde logo, entre a Europa e os Estados Unidos-Canadá, com contágio mais do que provável à América Latina.
Tudo somado, vender a exploração dos aeroportos portugueses à Frapor é uma opção correcta sob múltiplos pontos de vista: estratégico, económico, industrial e operacional.

Olhando para o radar do tráfego aéreo mundial, com sorte, até Alcochete poderá um dia ser preciso. Deixemos pois estar o Campo de Tiro onde está, mantenhamos sob reserva as zonas de Rio Frio e Canha, e em 2015 voltaremos a partir pedra sobre a necessidade de substituir a Portela-Montijo por algo mais ajustado aos tempos.


POST SCRIPTUM
Preocupación en AENA por el impacto en sus ingresos de la reestructuración de iberia

El director comercial de Aena, José Manuel Fernández Bosch, admitió este jueves que el gestor aeroportuario está preocupado por el impacto en sus ingresos de la reestructuración de IBERIA (IBLA.MC) que contempla un importante recorte en sus rutas — in El Economista.es (15 nov 2012).
 A ANA espanhola (AENA) já está a ganir por causa do colapso da Iberia —25% dos seus trabalhadores para a rua e redução em 50% nos salários dos que ficarem :( As Low Cost, por sua vez, ocuparão os lugares deixados vagos pela Iberia, mas não precisam de cidades aeroportuárias, nem de mangas telescópicas, nem sequer de sistemas sofisticados de porta-bagagens! Bastam-lhes 3Km de pista para aterrar e levantar voo e um barracão da Siemens. Daí o ganir da AENA!

A bolha da fome

Quem ganha afinal com a dita fome?

O alarido sobre a fome portuguesa cheira-me a fartura!

Bispos católicos preocupados com fome em Portugal

por Lusa, publicado por Luís Manuel Cabral, DN 10 novembro 2012.

Manuel Morujão, porta-voz da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP): "Já não se trata de nível de vida com dignidade, mas de questões de subsistência, de matar a fome", salientou o padre, sublinhando que a Igreja Católica "está no terreno para evitar ou reatar ruturas, sobretudo através dos seus múltiplos centros sociais, das Conferências de São Vicente Paulo, das Cáritas, das Misericórdias, que têm uma enorme capacidade de serviço social".

Os Bancos Alimentares em actividade recolhem e distribuem várias dezenas de milhares de toneladas de produtos e apoiam ao longo de todo o ano, a acção de mais de 1.800 instituições em Portugal. Por sua vez, estas distribuem refeições confeccionadas e cabazes de alimentos a pessoas comprovadamente carenciadas, abrangendo já a distribuição total mais de 275.000 pessoas —  in sítio do Banco Alimentar.

Aponta-se o número redondo de 280 mil pessoas que em Portugal passarão fome. Fome não passam, pois são estas mesmas pessoas carenciadas que o Banco Alimentar, as Misericórdias e outras Instituições Particulares de Solidariedade Social (IPSS), já para não falar das câmaras municipais, supostamente cuidam com os víveres e apoios de vária natureza, incluindo pecuniários, que recebem, quer por via de subsídios do estado, quer por doações e dádivas particulares, nomeadamente de empresas, bem como de reconhecidas receitas próprias.

Mas vamos por partes...

Em março deste ano, 2012, a situação relativa ao programa conhecido por Rendimento Social de Inserção (RSI), oficialmente comunicado pelo governo, através do Gabinete de Estratégia e Planeamento (GEP) do Ministério da Solidariedade e Segurança Social (MSSS), era a seguinte:
  • Beneficiários individuais: 329.274
  • Valor médio mensal do rendimento por beneficiário: 91,7 euros
  • Famílias beneficiárias: 123.948
  • Valor médio mensal do rendimento por família: 245,4 euros
  • Estimativa do dispêndio anual de acordo com este dados: 362.333.109 euros
Existem neste momento mais de 5.079 IPSS segundo a listagem da Segurança Social. Estes números conferem com algumas contas que fizemos para um post anterior:
  • As transferências do estado previstas para a administração local em 2013 são de: 2.121.207.562€
  • Os encargos do estado previstos com o RSI em 2013 são de: 303.900.000€
  • Os subsídios e outras transferências do estado previstos para as organizações sem fins lucrativos em 2013 são de: 2.008.768.424€
  • Cada IPSS deverá abarcar em media 55 pessoas (estimativa)
  • As pessoas atendidas pelas IPSS rondarão os 279.345 (estimativa)
  • O apoio médio do estado por IPSS andará pelos 395.504,7€/ano (atenção: esta média é meramente teórica, pois há IPSS que recebem milhões, e outras nicles!)
Resumindo: as transferências correntes, subsídios e transferências de capital para as instituições sem fins lucrativos (IPSS) que o Orçamento de Estado para 2013 prevê é da ordem dos dois mil milhões de euros. Se somarmos a este valor as verbas previstas para o RSI (303.900.000€) teremos um resultado de despesa orçamental de natureza social na ordem dos 2.303.900.000€ — ou seja, mais do que a totalidade das transferências do orçamento de 2013 para o poder local!

Se o valor apurado for distribuído pelas 280 mil pessoas que supostamente passam fome, o seu rendimento mensal instantâneo seria de 685,68€. Alguém me explica como pode esta gente passar fome?!

Se há zonas de penumbra na sociedade portuguesa são as fundações mendicantes, as fundações que ajudam os seus beneméritos a fugir ao fisco, e a Caridade!

46% das receitas das IPSS provêm de transferências do estado: ou seja, este terceiro sector já vale no nosso país mais de 4.000 milhões de euros, e praticamente não paga impostos, nomeadamente em sede de IMI, IMT, IRS e IVA.

A enorme falta de transparência na ação do Banco Alimentar e da generalidade das IPSS, que recebem uma fatia muito apreciável do orçamento de estado, paga pelos nossos impostos e pelo défice público que anualmente cresce em volume e juros, é porventura responsável pela indignação geral face às palavras televisivas de Isabel Jonet.

Procurei, mas não encontrei, em parte nenhuma, algo que deveria ser de lei: relatórios de contas públicos de quem sendo entidade pública recebe dinheiros públicos e de empresas.

Agradeço, pois, ao Banco Alimentar que me indique onde poderei obter respostas às seguintes perguntas:

Que recebeu, desde 1999, o Banco Alimentar,  nomeadamente em:

Dádivas de materiais e equipamentos (valores estimados): ? 
Donativos:  ?
Subsídios:  ?
Quotas de associados:  ?
Toneladas de alimentos (valor económico estimado): ?

O esclarecimento destas cifras, certamente apreciáveis, deixar-nos-ia muito mais tranquilos.

E quanto ao desnorteado governo em funções, uma recomendação: porque não negoceia com a UNICRE a emissão de um cartão eletrónico de solidariedade destinado a facultar aos 280 mil portugueses carenciados um crédito para aquisição de alimentação na ordem dos 200 euros mensais? Em vez de uma sopa dos pobres humilhante teríamos a liberdade de escolha individual e familiar, acomodando-se à crise, mas estimulando também de forma saudável a produção e o comércio alimentares. Teríamos talvez menos caridade interessada, e menos escândalo (um pecado, creio), mas mais dignidade e uma enorme poupança orçamental.

Este cartão custaria ao orçamento entre 672.000.000€  e 772.800.000€ (neste caso, contando já com mais 15% de custos de implementação), sabendo-se exatamente de onde vem e para onde vai o dinheiro, ao invés dos 2.303.900.000€ inscritos no OE2013, que, salvo o RSI, não sabemos como se gasta.

Os intermediários, ou seja as IPSS, encharcam os média indigentes que temos com soundbytes sobre a fome. É caso para lhes exigir, desde já, que dêem explicações públicas detalhadas sobre o que fazem ao muito dinheiro que recebem dos bolsos dos contribuintes.


POST SCRIPTUM

Por 200 euros/mês

Bananas africanas do meu jardim - Carcavelos, Portugal.

Eu gasto pouco mais de 200 euros por mês em alimentação e bebidas, e como diariamente em casa.

A minha dieta é rica em vitaminas, hidratos de carbono e muito variada, sobretudo na construção intuitiva das ementas. Os alimentos são geralmente confeccionados por mim. Raramente ingiro pizzas ou hamburguers, e não toco em comida pré-cozinhada. Os únicos enlatados que consumo são: atum, tomate, coco, grão e feijão. Quanto a alimentos congelados, compro-os raramente e são quase sempre, ou espinafres, ou gelados. Das gorduras disponíveis, uso sobretudo azeite virgem extra, manteiga e banha de porco biológico. Não me lembro da última vez que ingeri refrigerantes. Prefiro sempre água, vinho, café, leite e uma grande variedade de chás e infusões.

Procuro sempre consumir produtos frescos da época, e tanto quanto possível locais. Faço regularmente as minhas compras na feira semanal de Carcavelos, na loja da herdade do Freixo do Meio situada no Mercado da Ribeira, no Celeiro de Rossio, no Centro Comercial da Mouraria, no Pingo Doce de Carcavelos e no Pão de Açúcar de Cascais.

Se pensar no que mais consumo ao longo do ano, a lista seria esta: leite fresco, iogurte feito em casa a partir de leite Vigor e um iogurte Activa da Danone, pão branco e escuro de vários cereais, fruta (com predominância de maçãs, laranjas, bananas e abacaxis), carne biológica, peixe fresco variado (com predominância de pescada, atum, raia, carapau e safio), queijos variados, fiambre de perna de porco e presunto, ovos, arroz branco e integral de qualidade superior (Basmati, etc.), massas variadas, couscous, batata, batata doce, farinha de pau (mandioca), cebola, alho, alho porro, abóbora, courgette, beringela, nabo, nabiça, cenoura, tomate, grelos, couve portuguesa, bróculos, cogumelos variados, algas, alface, gengibre, coco, vagens de piri-piri, curcuma, caril, salsa&coentros, frutos secos (nozes, caju, amendoim, amêndoas, avelãs, pinhões).

Admitindo que as pessoas carenciadas poderiam ter acesso a esta mesma dieta, e admitindo que são 280 mil, o custo anual para os cofres do estado seria aproximadamente de 672 milhões de euros, pouco mais do dobro do que a desnecessária RTP custa aos contribuintes que pagam impostos. Não me venham, pois, falar de fome em Portugal. Alguém mama os nossos impostos, aumenta a dívida e encharca a comunicação social com homilias sobre a pobreza e a fome!

Última atualização: 17 nov 2012, 16:49

terça-feira, novembro 13, 2012

A inevitável bitola europeia

Apesar dos tiros no pé a bitola europeia acabará por chegar a Portugal

O efeito de rede começa a sentir-se na nova rede de bitola europeia espanhola e na Ibéria!

Iberia tiene 1.000 millones en caja para pagar el ERE
La tesorería de la aerolínea cae a la mitad en cuatro años

Iberia dispone de 1.074 millones en caja para financiar el plan de transformación de la compañía, cuyo principal punto es despedir a un mínimo de 4.500 empleados (que podrían ser hasta 7.000) mediante uno de los mayores expedientes de regulación de empleo (ERE) formulados en España — in El Diario de la industria turística (13 nov 2012).

Renfe 'reventará' los precios del AVE para competir con el avión
La compañía lanzará una campaña comercial agresiva con productos más asequibles al bolsillo de los españoles

Viajar en AVE será más barato muy pronto. Renfe ha decidido poner toda la carne en el asador en pleno proceso de liberalización del mercado. La compañía pública va a lanzar una nueva campaña comercial con el objetivo de poder luchar de tú a tú con el avión y la carretera — in El Diario de la industria turística (22 out 2012).

Renfe planea un AVE de Valencia a Málaga tras el éxito de la ruta con Sevilla

No todo marcha mal en la economía valenciana. La única noticia buena de los años de crisis, la llegada del AVE en 2010, comienza a dar resultados. Renfe recuperó antes del verano frecuencias que había suprimido con Madrid y puso en marcha un servicio directo con Sevilla y Córdoba, sin parar en la capital de España. Esta ruta ha sido un éxito gracias a la aceptación que ha tenido en el viajero de ocio, lo que ha llevado a la compañía a estudiar un servicio, también directo, con Málaga. Renfe contempla también la posibilidad de pasar de uno a dos trenes diarios con la capital de Andalucía — in El Diario de la industria turística (27 set 2012).

A estratégia espanhola (e europeia) é clara: substituir o avião e o automóvel, nas viagens até 800Km, pelo comboio de alta velocidade (até 350Km/h) e velocidade elevada (até 250Km/h). Nas cidades e periferias urbanas a tendência é a mesma: metros ligeiros de superfície (Tram-train), e o regresso aos velhos elétricos e trolleys.

Nestas mesmas linhas andarão pessoas (mais depressa) e mercadorias (a horas diferentes e mais devagar). Os países da União terão que voltar a investir, com grandes apoios de Bruxelas e do Banco Europeu de Investimentos, na linha férrea, desta vez preparando-a para altas velocidades, e em novos sistemas elétricos e de sinalização. Em Portugal, Sérgio Monteiro deitou à rua mais de 1.300 milhões de euros (da UE e do BEI), que estavam reservados para a ligação Poceirão-Caia, que é um segmento vital da linha Lisboa-Madrid (resto de Espanha), atrasando a obra em mais de meia década!

Esta cedência imperdoável ao lóbi do embuste aeroportuário da Ota em Alcochete não servirá, porém, de nada. A alternativa, uma ligação surrealista, em bitola ibéria, entre Évora e Badajoz, não levará um cêntimo de Bruxelas.

Por outro lado, tanto a Alemanha, como Espanha, os dois principais parceiros comerciais de Portugal, e por sinal também os nossos dois maiores credores, já decidiram, e bem, que a rede ferroviária europeia de alta velocidade/velocidade elevada em bitola única (UIC) é uma prioridade estratégica irrenunciável e inadiável. Ou seja, andamos, como sempre, a perder tempo e feitio, e a empurrar para a emigração postos de trabalho indispensáveis à recuperação económica, desde os britadores de pedra aos cientistas mais avançados em sistemas de reconhecimento de voz, tradução simultânea, ou sensores de segurança.

Quanto aos comboios, que a Espanha constrói para todo o mundo e nós deixámos de construir por mais um assomo de estupidez governamental (Durão Barroso expulsou a Bombardier de Portugal), será como sempre foi e é nas estradas: cada um corre com o seu, ou seja, não compete aos governos prestar o serviço de transporte —salvo em casos particulares, de interesse estratégico ou utilidade pública irrecusável—, mas sim às empresas privadas que já existem ou se encontram em fase de constituição.

Haverá empresas especializadas em mercadorias, e dentro destas em sub-categorias relacionadas com o tipo de materiais transportados (perigosos, líquidos, gasosos, etc.), e haverá companhias especializas em transporte de passageiros, correlacionadas com a velocidade —um Foguete é muito mais rápido e caro que um Alfa— e com o uso —turismo ou negócios, etc. A Ferrari já está em pleno nesta corrida. Para bom entendedor...

Espanha é o melhor caso de estudo mundial sobre a transição da estrada, e do ar, para a ferrovia. Trata-se de um regresso ao comboio, com mais valias ambientais, económicas, tecnológicas e culturais (retrofitting) de enorme importância estratégica para as sociedades pós-petrolíferas.

E nós, quando é que acordamos?

Para quem se interessa por estas coisas, que podem determinar o nosso atraso ou a nossa próxima contemporaneidade, vale a pena conhecer em pormenor o estado de construção, em novembro de 2012, da rede espanhola de bitola europeia, nomeadamente aqui.

Clicar para ampliar. Para maior ampliação, aqui.


ÚLTIMA HORA

É por isto que os piratas da Lusitânia do oeste querem travar o "TGV"!

Los viajeros prefieren AVE
Dirigentes.digital

El 19 de diciembre se cumplen dos años de la puesta en marcha de la línea de alta velocidad entre Madrid y Valencia. El proyecto ha superado las expectativas más optimistas de pasajeros de Renfe y ha destrozado el negocio de las compañías aéreas. El AVE ha robado desde 2010 ceca de 750.000 pasajeros al aeropuerto valenciano de Manises. En otras palabras, el 75% de las personas que hacían la ruta entre la ciudad del Turia y la capital de España ha abandonado el avión para pasarse al tren.

Última atualização: 21 nov 2012 ; 13:55

segunda-feira, novembro 12, 2012

Depois de Marx, o FMI

Sopa dos Pobres financiada por Al Capone, em Chicago durante a Grande Depressão (1).

The Chicago Plan: que tal retirar aos bancos o poder de criar dinheiro do nada usando os nossos depósitos e as nossas dívidas como pretexto e colateral? Quem o acaba de propor são dois investigadores do FMI.

A experiência social, de que a Irlanda, Grécia e Portugal têm sido os casos de estudo mais recentes, está a chegar ao fim com resultados claramente desastrosos. É inevitável, nesta fase terminal da longa vaga de expansão inflacionista da economia iniciada no século 20 (D.H. Fischer), que uma sucessão de eventos de instabilidade extrema acabe por terminar num colapso geral. As crises de endividamento exponencial irresolúveis resultantes das bolhas imobiliária, soberana e estudantil, colocaram o sistema financeiro mundial e os governos à beira de um conflito fatal com os povos de onde nasceram e de que se alimentam. À medida que as classes profissionais mais avançadas vão percebendo o que realmente está em jogo, cresce de modo exponencial a sua resistência à avareza, luxúria e arrogância dos banqueiros e seus economistas de trela, e a sua revolta contra a estupidez crónica das democracias populistas degeneradas e os seus cada vez mais corruptos, execráveis ou simplesmente caricatos políticos. Por aqui, a esta corja, já só lhes resta um embate fatal com a multidão!

A sangria fiscal sobre o trabalho e as poupanças atingiu o limite. A degradação dos rendimentos do trabalho ainda não. É por aqui que os piratas julgam poder continuar os seus desesperados movimentos brownianos. Mas desenganem-se! Até no interior do FMI, para além dos sucessivos avisos de Christine Lagarde (de que desconfio por serem sistematicamente dirigidos à Europa, esquecendo os EUA, o Reino Unido, ou a própria China), dois dos seus investigadores, Jaromir Benes e Michael Kumhof, escreveram e publicaram recentemente um texto —“The Chicago Plan Revisited”— que está a queimar como um rastilho o futuro da arrogância cabotina de banqueiros como o indígena que por cá temos, de nome Fernando Ulrich, do já meio catalão BPI.

Este estudo é bem o reflexo da amplitude explosiva da crise financeira que deflagrou nos Estados Unidos em 2007 e cujos episódios não cessam de se multiplicar e de aproximar o fim da sistémica instabilidade do capitalismo cujo início remonta, segundo David Hackett Fischer, ao Jubileu da Rainha Vitória, em 1896. Todo o século 20 e ainda os primeiros dez, quinze ou vinte anos deste século, correspondem a um dos longos ciclos de crescimento inflacionista detetado no provocador e de leitura obrigatória livro de Fischer, The Great Wave (1996).

Eleger a Grécia, ou Portugal, como bodes expiatórios de algo que culmina o colapso de um ciclo longo de crescimento mundial é, desde logo, uma armadilha que devemos evitar, sem prejuízo da consciência que teremos que desenvolver sobre a necessidade absoluta de corrigir os excessos de endividamento sistémico e de corrupção que levaram as democracias ocidentais à beira da implosão.

Antes de passarmos ao estudo do FMI, uma referência breve a dois países do norte europeu que são duas verdadeiras bombas-relógio: o Reino Unido e a Holanda.

THE DUTCH TRAGEDY: The country’s current worrying situation, disturbingly resembles that of Ireland and Spain, as it addresses an extremely large private dept, a tremendous real estate bubble, and huge bank mortgage loan defaults – problems for which nothing has been done.

[...] The total mortgage debt of the Dutch is around 640 billion euro’s (when Greece’s public debt is around 290 billion euro’s) – against which the private deposits of the Dutch are just 332 billion euro’s.

This means that the Dutch banks must finance the difference (308 billion euro’s) from abroad – resulting in enormous dependence on the international financial markets. With the country’s GDP at around 650 billion euro’s, the total (mortgage) debt of households is scary; nearly 100% of GDP — Vassilis Viliardos, Cass, 26 out 2012.

Se na Holanda o colapso, nomeadamente de vários bancos, poderá ocorrer a qualquer momento, em resultado da explosiva bolha imobiliária que ali cresceu e é mais grave ainda do que a bolha espanhola, no caso britânico, os territórios autónomos da finança sediados na City de Londres e nos paraísos fiscais alojados nomeadamente em ilhas que são propriedade pessoal da rainha de Inglaterra, as chamadas Crown dependencies (Jersey, Guernsey e Isle of Man), estão no centro de um furacão de corrupção financeira sem precedentes na Europa dos últimos dois séculos. A Dona Branca montada em volta da taxa Libor, a chamada re-hipoteca não autorizada dos colaterais dados por clientes em operações de investimento (shadow rehypothecation), a falência iminente do seu fundo público de pensões e, finalmente, o extraordinário endividamento do Reino Unido, 492% do PIB em novembro de 2011 (BBC/Robert Peston) colocam, afinal, o centro da Europa (as revelações alemãs seguem dentro de momentos...), no centro do colapso financeiro de todo o continente. Os PIIGS, coitados, andavam aos restos do festim quando o mesmo já tinha chegado à sobremesa.

O Plano de Chicago: substituir os bancos privados pelos bancos públicos na criação de dinheiro sem que este se transforme automaticamente, nem em dívida privada usurária, nem em deboche público ao serviço de bacanais de corrupção político-partidária

O ponto de partida do estudo do FMI, para o qual Ambrose Evans-Pritchard chamou a nossa atenção no Telegraph online, é simples: ao contrário do que pensa o Totó inSeguro, e ao contrário do que a desmiolada esquerda que temos exige, não há crescimento no horizonte mais próximo. O que se percebe nos sinais evidentes da economia é a aproximação de uma enorme frente de decrescimento sistémico e de deflação. Logo, ou se descobre uma solução financeira para mitigar os impactos catastróficos do desendividamento e do desenmerdamento das economias públicas e privadas, ou a destruição dos excessos de produção industrial, de emprego economicamente inútil e da procura agregada desembocará em inevitáveis revoluções sociais e desagregações políticas em cadeia.

IMF’s epic plan to conjure away debt and dethrone bankers
By Ambrose Evans-Pritchard 2:31PM BST 21 Oct 2012

So there is a magic wand after all. A revolutionary paper by the International Monetary Fund claims that one could eliminate the net public debt of the US at a stroke, and by implication do the same for Britain, Germany, Italy, or Japan.

One could slash private debt by 100pc of GDP, boost growth, stabilize prices, and dethrone bankers all at the same time. It could be done cleanly and painlessly, by legislative command, far more quickly than anybody imagined.

The conjuring trick is to replace our system of private bank-created money -- roughly 97pc of the money supply -- with state-created money. We return to the historical norm, before Charles II placed control of the money supply in private hands with the English Free Coinage Act of 1666.

Specifically, it means an assault on “fractional reserve banking”. If lenders are forced to put up 100pc reserve backing for deposits, they lose the exorbitant privilege of creating money out of thin air.

Mas vale mesmo a pena ler o original desenvolvido por Jaromir Benes e Michael Kumhof (2), de que aqui deixo citações esclarecedoras do respetivo abstract e conclusões:

Abstract

At the height of the Great Depression a number of leading U.S. economists advanced a proposal for monetary reform that became known as the Chicago Plan. It envisaged the separation of the monetary and credit functions of the banking system, by requiring 100% reserve backing for deposits. Irving Fisher (1936) claimed the following advantages for this plan: (1) Much better control of a major source of business cycle fluctuations, sudden increases and contractions of bank credit and of the supply of bank-created money. (2) Complete elimination of bank runs. (3) Dramatic reduction of the (net) public debt. (4) Dramatic reduction of private debt, as money creation no longer requires simultaneous debt creation. We study these claims by embedding a comprehensive and carefully calibrated model of the banking system in a DSGE model of the U.S. economy. We find support for all four of Fisher’s claims. Furthermore, output gains approach 10 percent, and steady state inflation can drop to zero without posing problems for the conduct of monetary policy.

[...]

VIII. Conclusion

This paper revisits the Chicago Plan, a proposal for fundamental monetary reform that was put forward by many leading U.S. economists at the height of the Great Depression. Fisher (1936), in his brilliant summary of the Chicago Plan, claimed that it had four major advantages, ranging from greater macroeconomic stability to much lower debt levels throughout the economy. In this paper we are able to rigorously evaluate his claims, by applying the recommendations of the Chicago Plan to a state-of-the-art monetary DSGE model that contains a fully microfounded and carefully calibrated model of the current U.S. financial system. The critical feature of this model is that the economy’s money supply is created by banks, through debt, rather than being created debt-free by the government.

Our analytical and simulation results fully validate Fisher’s (1936) claims. The Chicago Plan could significantly reduce business cycle volatility caused by rapid changes in banks’ attitudes towards credit risk, it would eliminate bank runs, and it would lead to an instantaneous and large reduction in the levels of both government and private debt. It would accomplish the latter by making government-issued money, which represents equity in the commonwealth rather than debt, the central liquid asset of the economy, while banks concentrate on their strength, the extension of credit to investment projects that require monitoring and risk management expertise. We find that the advantages of the Chicago Plan go even beyond those claimed by Fisher. One additional advantage is large steady state output gains due to the removal or reduction of multiple distortions, including interest rate risk spreads, distortionary taxes, and costly monitoring of macroeconomically unnecessary credit risks. Another advantage is the ability to drive steady state inflation to zero in an environment where liquidity traps do not exist, and where monetarism becomes feasible and desirable because the government does in fact control broad monetary aggregates. This ability to generate and live with zero steady state inflation is an important result, because it answers the somewhat confused claim of opponents of an exclusive government monopoly on money issuance, namely that such a monetary system would be highly inflationary. There is nothing in our theoretical framework to support this claim. And as discussed in Section II, there is very little in the monetary history of ancient societies and Western nations to support it either.

in IMF
Working Paper
Research Department
The Chicago Plan Revisited
Prepared by Jaromir Benes and Michael Kumhof
Authorized for distribution by Douglas Laxton
August 2012
(PDF)

NOTAS
  1. Sobre a foto que acompanha este post: “A line of people waiting outside a soup kitchen during the Great Depression. “Soup kitchens” provided the only meals some unemployed Americans had. This particular soup kitchen was sponsored by the Chicago gangster Al Capone.” LearnNC.
  2. Para uma leitura crítica deste polémico estudo nada melhor do que o artigo de Steve Keen, “The IMF gets radical?”, in Business Spectator, 7:26 AM, 5 Nov 2012.

Última atualização: 16 nov 2012 20:03

sexta-feira, novembro 09, 2012

TAP, vítima da guerra contra o TGV

Israel Aerospace Industries (IAI): futura co-proprietária da TAP?

TAP acaba vítima do ataque desmiolado ao "TGV"
orquestrado pelo Bloco Central da Corrupção, com o apoio mediático da insolvente imprensa que temos, e o oportunismo complacente de toda a dita Esquerda portuguesa

Iberia anuncia el recorte de 4.500 empleos, casi una cuarta parte de toda la plantilla
  • Así lo ha comunicado IAG a la Comisión Nacional del Mercado de Valores
  • Fija el 31 de enero de 2013 para llegar a un acuerdo con los sindicatos
  • Si no hay pacto, asegura que tendrá que tomar decisiones más radicales
  • El Sepla avisa: "No vamos a admitir este desmantelamiento de Iberia"
  • Disminuye la flota en 25 aviones y reduce la capacidad en un 15% en 2013
El País, 9 nov 2012.

E agora Relvas? E agora Ricciardi? E agora Ricardo? E agora senhor PM de plástico? E agora gaúcho? Ainda querem construir o NAL da Ota em Alcochete?

Vão continuar a boicotar o maldito "TGV"? Ou já perceberam que o "TGV" veio para ficar, que os despedimentos em massa na Ibéria têm muito que ver com a entrada em funcionamento do transporte ferroviário de alta velocidade no país vizinho, e que esta é a aposta clara e reiterada da União Europeia em matéria de adaptação da mobilidade europeia ao pico do petróleo e à necessidade de diminuir as emissões de CO2 equivalente?

Porque não fizeram o óbvio: reestruturar a TAP (spin off) antes de a vender?

A Blogosfera cansou-se de avisar e de propor a segmentação da companhia: um segmento Low Cost (TAP Europa) e um segmento dedicado aos voos intercontinentais (com três segmentos: TAP America, TAP Africa, TAP Asia).

Que fizeram? Nada, a não ser intoxicar a opinião pública sobre os lucros e a excelência da insolvente TAP, escondendo a sua dívida acumulada de TRÊS MIL MILHÕES DE EUROS e as responsabilidades assumidas, por valor de outros tantos, ou quase, TRÊS MIL MILHÕES DE EUROS, na encomenda firma de doze Airbus A350-900 — a pensar na patranha da cidade aeroportuária do iluminado Mateus (o génio do aeromoscas de Beja).

Escondendo que a Europa optou pelo transporte ferroviária rápido nas distâncias até 750 quilómetros.

Esquecendo que a Espanha está a migrar rapidamente a sua bitola ferroviária antiga (a dita bitola ibérica — que nós à época tivemos, obviamente, que adotar) para a bitola euroeia (UIC), além de dispor da segunda maior rede de alta velocidade/velocidade elevada do planeta, e uma importante indústria associada.

Esquecendo que o famoso hub aeroportuário de Lisboa é uma mistificação, pois apenas 9% do tráfego aéreo de Lisboa tem origem ou destina-se a países não europeus — ou seja, 91% do negócio de transporte aéreo da TAP está condenado a migrar para a oferta Low Cost, ou morre!

O colapso da Ibéria (a que de nada valeu o hub de Barajas), de um lado, e o crescimento da Germanwings (Low Cost da Lufthansa), do outro, são só dois exemplos recentes e gritantes do que há muito a Blogosfera portuguesa vem avisando. O Bloco Central da Corrupção, em nome do embuste da Ota em Alcochete, e das suas negociatas criminosas, prepara-se pois para um dois-em-um: destruir a TAP e transformar Portugal numas Berlengas ferroviárias da Europa!


Portugal y España inician su estación de AVE común (ver vídeo)
A Espanha está a mudar toda a sua rede ferroviária para uma bitola e sistemas de alimentação e de sinalização compatíveis com o resto da Europa. Por cada ano que Portugal se atrasar na migração da sua rede para a chamada bitola europeia (UIC) são centenas de milhões de euros anuais que damos a ganhar a Espanha.

Este governo, uma vez mais capturado pelo Bloco Central da Corrupção, com a desculpa esfarrapada da falta de dinheiro, deitou ao lixo este ano centenas de milhões de euros disponibilizados a fundo perdido pela Comunidade Europeia (e milhares de postos de trabalho), adiando sine die a linha Poceirão-Caia, acordada em sucessivas reuniões de estado entre os dois países ibéricos. O preço deste crime será cobrado em impostos a todos nós, mas não aos piratas responsáveis pelo mesmo.

Ao lado da nova estação do AVE em Badajoz vai ser construída uma grande plataforma logística e um porto seco, para onde os TIR portugueses passarão a despejar as mercadorias, pois os comboios da Tugolândia vão ficar isolados da nova rede espanhola em migração acelerada para a bitola europeia (UIC). Curiosamente, os vendedores de votos do PS, PCP e Bloco, sobre este gravíssimo assunto da economia portuguesa, nada dizem. Continuam a crer que o crescimento do país não nasce do trabalho, mas da esmola europeia —que exigem com a fanfarronice dos desgraçados e imbecis!

TAP, vítima da guerra contra o TGV
"Ao longo de sua carreira, Efromovich provou que tem uma habilidade incomum para caçar empresas em dificuldades. Um dos artifícios que usa é renegociar as dívidas sem tirar um tostão do bolso." Exame.
A privatização da insolvente TAP desembocou numa venda de dívidas.

Apesar de toda a propaganda, esta é a lamentável verdade sobre um companhia destruída pela corrupção, pela irresponsabilidade e pela incompetência. Ninguém está interessado na privatização de um buraco financeiro e de uma empresa sem estratégia credível — escancarada na opção de encomendar doze aviões de longo curso no preciso momento em que a Europa entrava num evidente processo de ajustamento, reestruturação e concentração das suas companhias de aviação comercial.

Que pode querer a Avianca dos irmãos Efromovich? Só de for parte das rotas e dos slots da TAP na Europa, para a Avianca! Depois devolve o que sobrar da TAP a Portugal!!! Ou então há coisa mais soturna nas vielas desta privatização.

Dar outra empresa estratégica do país a um governo estrangeiro extra-comunitário (Brasil, ou Israel?) disfarçando a venda através de um intermediário brasileiro-colombiano filho de um polaco judeu associado à maior empresa aeronáutica e aeroespacial (militar) do estado Sionista de Israel cheira mal antes mesmo de começar...

POST SCRIPTUM

Como alguém me escreveu a perguntar, respondo:
"Boa tarde Cerveira Pinto: desculpe a minha ignorância mas pode explicar-me qual é a razão pela qual não fazer a rede de bitola europeia favorece a construção do NAL ? Os Fundos aplicáveis ao Poceirão-Caia ou à linha de bitola ibérica agora anunciada poderiam ser transferidos para a construção do NAL ? Se sim porque que é que os Fundos do Poceirão-Caia que se perderam não foram aplicados no projecto e construção do NAL?"
1) o primeiro objetivo da campanha anti-TGV, e portanto os obstáculos sucessivamente postos à concretização da linha de bitola europeia Poceirão-Caia, foi impedir que houvesse comboio AV entre Madrid e Lisboa, pois esta hipótese rebentaria de imediato com a ponte aérea Lisboa-Madrid, desviando 2/3 dos passageiros que voam entre as duas capitais para a ferrovia — o que tornaria a viabilidade da TAP, ainda por cima pagando tarifas mais elevada no NAL do que as que paga na Portela, muito duvidosa;

2) por outro lado, construindo a linha UIC entre o Poceirão e o Caia, não só muitos milhares de passageiros migrariam para o comboio, nas ligações Lisboa-Madrid (-Valladolid, Toledo, etc.), como as Low Cost entalariam a ANA com a ameaça de usar o aeroporto de Badajoz (que já tem uma pista com 2860x60m) se a Portela fosse fechada para dar lugar ao NAL da Ota em Alcochete;

3) O BES é um dos bancos implicados na compra de 12 Airbus A350-900, uma aeronave pensada para viagens de longo curso, no pressuposto de que o NAL faria de Lisboa um Hub transantlântico (apesar de idiota, foi a ideia que venderam aos especuladores e banqueiros.)

Assim sendo, fazer a propaganda mentirosa sobre a saturação da Portela e travar o TGV, seja por que meios forem, até construir o NAL, é mesmo a única forma de manter alguma credibilidade à hipóotese de fechar a Portela e abrir Alcochete. Por este mesmo motivo o Metro de Lisboa atrasou o mais que conseguiu (até que a Blogosfera começou a fazer barulho) a abertura da estação do Aeroporto.

Construir nesta altura do campeonato um linha de bitola ibérica, ainda que com travessas de dupla fixação, além de um frete aos piratas do BES e da Mota-Engil, é um erro de palmatória cujas responsabilidades deverão ser apuradas até ao fim.


ÚLTIMA HORA



Governo: venda da TAP dá pouco lucro, privatização pode cair
. Sérgio Monteiro desfaz as dúvidas: privatização da TAP dá lucro mas vai ser curto. E deixa um aviso a Efromovich: se a proposta não for boa o negócio é anulado. TSF, 10 nov 2012, 00:00.
Na realidade, este governo preparava-se para pagar (sim, pagar!) a uma empresa privada o favor de reestruturar a TAP, com os inevitáveis despedimentos coletivos associados, e depois, talvez, recomprar a mesma TAP pelo preço de venda, ou seja, zero!

Qual seria o negócio colombiano-israelita, então? Só vejo dois possíveis: os israelitas ficariam com as oficinas de manutenção TAP-Engineering&Maintenance (nomeadamente para as suas atividades industriais-militares na América Latina), e transferir umas dezenas de rotas e algumas centenas de slots que a TAP tem na Europa para a Avianca.

Não seria mais curial, pergunto, o governo português fechar a TAP, renegociar um plano de pagamentos das dívidas com os credores, e abrir uma companhia ao lado,  reestruturada de uma ponta à outra e mais leve — copiando a solução que a Suíça deu a um problema semelhante? A proposta da Blogosfera é a de sempre: uma TAP Europa (low cost), e uma TAP transcontinental, com rotas para a América, África e Ásia.

Oferecer a TAP ao colombiano e a Israel, para estes a desossarem, entregando depois os ossos a Portugal, parece-me um crime de estado!

PS: Na entrevista dada à TSF, que ouvi na íntegra na rádio, Sérgio Monteiro apresenta uma justificação aldrabada sobre a desistência da ligação ferroviária Poceirão-Caia em bitola europeia, afirmando que o país poupou quase dois mil milhões de euros (isto é uma redonda mentira), e que, em contrapartida, se fará uma linha de bitola ibérica (de "altas prestações", disse) por apenas 250 milhões de euros (outra mentira).

Na realidade, a ligação Poceirão-Caia custaria à partida, aos contribuintes portugueses, 162 milhões de euros, num orçamento de 1350 milhões (largamente coberto por comparticipações comunitárias e do Banco Europeu de Investimentos). Como os impostos associados à obra renderiam ao Estado entre 300 e 400 milhões de euros, o custo para a generalidade dos contribuintes seria, em suma, negativo (i online).

Por outro lado, o impacto da criação direta de emprego neste projeto é outra perda não contabilizada pelo yuppie do gabinete de Álvaro Santos Pereira. Idem para as indemnizações devidas ao consórcio Elos (Brisa/Grupo Mello e Soares da Costa). Idem para os empregos indiretos que o desenvolvimento de um novo modelo avançado de transporte ferroviário induzira na indústria e serviços do nosso país. Idem para a enorme vantagem competitiva que os portos de Sines e Setúbal (e até Lisboa, no prazo de uma década), a Autoeuropa e outros exportadores nacionais perdem para Badajoz (porto seco) e para Algeciras (porto marítimo) ao verem cerceada a possibilidade de carregarem vagões em Portugal, com automóveis e acessórios da Autoeuropa, cortiça, azeite, vinho, ou com outras mercadorias chegadas de Angola, Brasil, Venezuela e do Pacífico, via Canal do Panamá alargado, despachando-os diretamente para os principais entrepostos espanhóis e além Pirenéus. Idem para o aumento dos movimentos turísticos, profissionais e de negócios entre duas capitais que são duas cidades-região e que albergam mais de doze milhões de habitantes!

Só por estes dois clamorosos fracassos —TAP e ligação ferroviária entre Lisboa e Madrid— o senhor secretário de estado Sérgio Monteiro merece uma carta de despedimento!

* Só mais uma coisinha: o nosso yuppie que é secretário de estado do ASP, foi a correr à TSF, onde durante largos minutos relatou o muito que tem feito neste governo. Fê-lo por um motivo simples: antecipar-se ao fracasso anunciado da privatização da TAP!

Sempre quero ver, dentro de alguns meses, com 1/3 dos pilotos da Ibéria na rua, e o leasing dos A350-900 a cair (como vai ser Ricciardi?), mais as greves que de um e do outro lado da raia vão chover a cântaros, como é que a malta viajará até Espanha, se nem TGV tem :( Vamos regressar à saudosa época dos autocarros que fazem a ligação entre as duas capitais ibérica à estonteante velocidade de 80Km/hora, ou seja, em 8 horas! Ou no Wagonlit, lendo a Guerra e Paz, de Leon Tolstoi ;)

Última atualização: 10 nov 2012 18:29