terça-feira, fevereiro 11, 2025

Steve Bannon: “We don’t want to be an empire anymore”


Me — Mr. Bannon, if you’re serious about reviving Mahan’s (1) strategic theory about sea dominance, you should consider closing Russia’s access to the open sea through Turkey, the Baltic Sea, and the Arctic. This would make defeating Putin’s invasion of Ukraine (which would cause Russia long-term pain) essential to America’s new world nationalist strategy. I hope you’ll be able to tell us more about this soon.

Desde que Donald Trump se tornou, pela segunda vez, presidente dos Estados Unidos, que a avalanche de informação e contra-informação desassossegou o mundo inteiro. E a razão é simples de entender: boa parte das mensagens e do ruído tem origem no próprio presidente da mais rica e poderosa potência do planeta! Acontece que num ambiente destes a entropia toma rapidamente conta das mensagens, desvalorizando-as paulatinamente. E no entanto, a aparente senilidade de Trump esconde objetivos estratégicos que ele e o movimento MAGA perseguem e estão, em princípio, em condições de atingir. 

Ninguém melhor do que Steve Bannon explica o que está a acontecer nos Estados Unidos neste momento. Trata-se de uma revolução, e não de um golpe de estado constitucional. A constituição americana nem sequer está em causa nas exigências do movimento MAGA. 

O que está em curso é uma revolução nacionalista e populista, anti-globalista, visando, na minha terminologia, o estabelecimento dum Tratado de Tordesilhas 2.0, onde já não há geografia para descobrir e conquistar, mas tão só a urgência da dividir pacificamente os recursos que ainda restam e são vitais ao estado atual da civilização, antes de uma possível transição para outro paradigma energético, demográfico, antropológico (na realidade, pós-humano, ou trans-humano), assegurando ao mesmo tempo uma paz perpétua, necessária pela simples razão de já não existirem recursos suficientemente abundantes para criar um novo ciclo de guerras mundiais num planeta habitado por oito mil milhões de seres humanos e antes de se precipitarem pelas arribas abaixo de um inevitável colapso demográfico, provavelmente antes de 2100, cujos contornos se podem já adivinhar, mas não conhecer em detalhe.

A América de Bannon voltará a ser, no espírito geoestratégico de Alfred T. Mahan, mas também da Doutrina Monroe, uma potência marítima hegemónica no seu hemisfério, formado por dois grandes oceanos e o continente americano ligado nas suas pontas, norte e sul, ao Ártico e à Antártida. Sobre esta base irá disputar, ou no mínimo partilhar, o mundo com a China. Não sem o apoio ou, pelos menos, a neutralidade da Europa, da Índia, das Filipinas, da Coreia do Sul e do Japão. 

Não vejo melhor metáfora para descrever este desenrolar dos acontecimentos do que o Tratado de Tordesilhas assinado entre Reino de Portugal e a Coroa de Castela em 7 de junho de 1494.

Por fim, para evitar que o ruído mediático nos force, pequenos leitores que somos, a tomar partido em algo que de momento nos ultrapassa, recomendo vivamente ir ouvindo a iminência parda de Trump e do movimento MAGA: Steve Bannon.

PS — Uma derrota pesada da Rússia poderia enfraquecer de tal modo aquele país continental que a sua fragmentação seria praticamente inevitável. Uma tal fragmentação, por sua vez, abriria as portas a uma rápida penetração da China em vastas regiões da Federação Russa, reclamando território seu na Manchúria, ocupado abusivamente pela Rússia, mas avançando também até à Sibéria, para se fazer ressarcir de prejuízos e dívidas de Moscovo ao ex-Império do Meio. Este cenário, por fim, num tempo pós-Putin, poderia aproximar Moscovo a Berlim, Paris, Atenas, Roma, Madrid e Lisboa! Parece evidente que Biden e os seus conselheiros estudaram aturadamente este cenário. E que Trump estará também a dar-se conta do mesmo problema. Uma Sibéria independente, rica em gás natural, faria da Rússia um país irrelevante no tabuleiro mundial, ajudando, por outro lado, a Índia a demover Pequim dos seus devaneios no Índico.

Steve Bannon, nesta entrevista: 

— “Arctic’s the new great game”.

— “...you’re seeing Monroe Doctrine to look at our hemispheric defence”

— “...the years of us spending hundreds of billions of dollars around the rim of the Eurasian landmass may be over...”

— “[Trump]’s telling NATO, the countries of the continent and the United Kingdom: the Russian army is your problem. We’re a naval power, and the Russian Navy is our problem (...) Russian army in that part of the Eurasian landmass, in, you know, near Kursk and Stalingrad, it’s not an English problem (...), it’s not an American problem, it’s not in the vital National Security interest of the United States (...) We can’t afford it anymore...”


NOTA (1) — Mahan (who famously said: “Whoever rules the waves rules the world”) argued for a universal principle of concentrating powerful ships in home waters and minimising their strength in distant seas. At the same time, Fisher reversed Mahan’s position by utilising technological change to propose submarines for defending home waters and mobile battle cruisers for protecting distant imperial interests.

segunda-feira, fevereiro 10, 2025

Renováveis e indústria pesada

Insisto: o mundo caminha para uma crise energética sem precedentes. Não há suficiente carvão, petróleo, gás natural, urânio, e rios disponíveis para suportar a procura mundial de energia. 

Ou seja, em algum momento, o declínio já visível do consumo mundial de energia per capita dará lugar a um dominó catastrófico de colapsos económicos, demográficos, sociais, políticos e culturais. 

Racionalizar esta perspetiva será sempre um exercício psicológico demasiado doloroso. Preferimos, portanto, procrastinar as necessárias decisões difíceis e acreditar no mito das energias renováveis. Esta energia, na realidade, sempre existiu, mas então, quando dependíamos apenas do Sol, do vento, dos rios e da queima de árvores, éramos pobres, vivíamos com muito menos...

Significa isto que devemos abandonar as novas tecnologias de produção de energia, eólica, solar, nuclear?

Não. Na realidade, em regiões inteiras do planeta, onde escasseiam já o carvão, o petróleo e o gás natural, e onde não há mais rios para domesticar, não há mesmo alternativa às chamadas energias renováveis! 

Acontece, porém, que este novo paradigma significa o declínio, entre outras, das indústrias pesadas, e portanto uma mudança radical no estilo de vida humana na Terra, sobretudo nas sociedades industriais e pós-industriais desenvolvidas. A dificuldade objetiva, na Europa e nos Estados Unidos, em produzir projéteis de artilharia em quantidade suficiente para derrotar rapidamente Vladimir Putin, veio revelar uma mudança que, na realidade, já ocorrera há algum tempo,  mas que só agora começamos lentamente a perceber: a era da abundância industrial morreu.

A guerra de drones contra tanques, aeronaves e infantaria motorizada que prossegue na Ucrânia veio demonstrar, quer as fragilidades materiais do Ocidente (onde o pico do petróleo ocorreu há mais tempo), quer o colapso a curto prazo da vantagem petrolífera temporária da Rússia. As primeiras semanas da nova presidência americana, e a invasão não provocada e criminosa da Ucrânia pela Rússia, mostram à saciedade até que ponto o fim da abundância das energias fósseis está a mergulhar as sociedades humanas numa espiral de violência assustadora. Como a aniquilamento termonuclear mútuo não traz vantagem a ninguém, outras formas de assédio e guerra tenderão a emergir depois de terminada a barbárie que neste momento continua a sacrificar milhares de pessoas diariamente na Ucrânia. Para este fim macabro as grandes potências têm em mente uma única preocupação: capturar e controlar as principais reservas mundiais de petróleo, gás natural, carvão, urânio e metais raros, pois sabem que sem estes recursos as respetivas sociedades cairão rapidamente no abismo. Dilema mais evidente é difícil de vislumbrar...

Não tardaremos a ver o colpaso, por exemplo, do turismo mundial de massas. Seja porque não será em breve tolerável continuar a subsidiar o combustível do transporte aéreo, seja porque o declínio do poder médio de compra nas sociedades ricas se acentuará inexoravelmente no decurso deste século.

Oxalá me engane!

Recomendo, por fim, a leitura de mais um artigo certeiro de GAIL TVERBERG, de que publico alguns excertos.

Without enough oil, people may need to stay closer to home.

(...)

The Garden of Eden, mentioned in the Bible's Book of Genesis, seemed to have some of the characteristics of Southeast Asian countries today. If "warm and wet" was a solution in the early days, it may still be a solution in the future.

(...)

While Southeast Asia shares most of the world's energy problems, this region seems better positioned to handle the energy shortfalls ahead of many other areas. Southeast Asia's warm, wet climate is helpful, as is its coal supply, particularly in Indonesia. Many people in this part of the world are used to living in cramped quarters — three generations in a large one-room home, for example. Abundant forests provide a renewable source of energy. Religious traditions help provide order. These factors may work together to allow the economies of these countries to continue to some extent, even as much of the rest of the world pushes in the direction of collapse.

(...)

While China's rapid growth has been impressive, it is hard to maintain. Southeast Asia's slower growth curve, which is still rising, is easier to maintain. If it starts to fall, it will hopefully be slower.

(...)

Coal is an inexpensive heat and electricity source and essential for making steel. The Industrial Revolution around the world started with the use of coal, and coal is still heavily used in manufacturing. While the wealthy countries of the world talk a great deal about carbon dioxide and climate change, the poorer countries—including those in Southeast Asia—continue to use coal to the extent it is available.

Worldwide, China is number one in coal production (93.10 exajoules), according to the 2024 Statistical Review of World Energy. India is in second place, with an output of 16.65 exajoules. Indonesia is close behind in third place, with coal production of 15.73 exajoules. The advantage of Indonesia is that its population (281,000) is much lower than that of India (1.4 billion), so its coal benefit relative to population is much greater than that of India.


Figure 1 shows that Southeast Asia produces little oil. This oil production (blue line) peaked in 2000 and has fallen since then. Countries worldwide share this pattern: oil production starts falling once the easily extracted oil is removed.


Figure 2 shows that once natural gas production (blue line) began to decline, Southeast Asian natural gas consumption (orange line) flattened out and even declined slightly. Natural gas exports also started to fall, beginning more than a decade before the peak in production was reached. Some of the natural gas exports are liquefied natural gas exports under long-term contracts. These cannot easily be cut back because of inadequate output.

Ler artigo completo aqui.

domingo, fevereiro 09, 2025

Populismo fiscal

Sem um sistema fiscal estável, justo e atrativo, Portugal continuará na cauda da Europa.


Uma proposta oportuna de Aníbal Cavaco Silva e Carlos Tavares. 
Oxalá os zombies do parlamento e os partidos que os trazem pela trela acordem a tempo. Quer dizer, antes que sejam corridos de cena pela mole de 'deploráveis' que continua a crescer no país. O sistema de impostos não pode continuar a ser uma ferramenta do populismo que tomou conta deste país devedor, com uma boa parte da sua economia indefesa perante os credores, os novos abutres imperiais e os especuladores que nunca perdem uma boa oportunidade.

Está na hora, é urgente
Por Aníbal Cavaco Silva e Carlos Tavares
Observador, 09 jan. 2025

Os deputados propuseram mais de 2000 alterações ao orçamento (de estado de 2025) apresentado pelo Governo, cerca de 230 em matéria de impostos, a maioria sem qualquer fundamentação credível (...).

...

Ao longo dos primeiros nove meses da legislatura ficou claro que é mais fácil formar na Assembleia da República maiorias parlamentares de partidos opostos para aprovar alterações populistas de impostos do que aprovar alterações estruturais indispensáveis para que Portugal se aproxime dos níveis de vida dos países mais ricos da UE.

Neste contexto político, o que o atual Governo pode, entretanto, fazer em matéria de impostos, é procurar minorar os estragos e preparar o terreno para que uma verdadeira reforma fiscal possa ser feita no futuro, quando as condições políticas o permitirem.

Nesse sentido, juntamo-nos àqueles que têm defendido que está na hora de o Governo nomear a Comissão da Reforma Fiscal, tal como foi feito em 1984 pelo IX Governo Constitucional, presidido por Mário Soares, para preparar a reforma fiscal que viria a ser aprovada em 1988. Tal como então, deve ser uma comissão especializada, integrando pessoas da mais elevada competência técnica, presidida por um professor universitário e dispondo dos meios indispensáveis para realizar o seu trabalho. O relatório por ela produzido será um ativo da maior importância para qualquer Governo. É trabalho para um ano.

Emigração, imigração e populismo

A emigração portuguesa para fora da UE é minoritária. Por sua vez, os emigrantes portugueses na Europa são de dois géneros: os que residem nos países UE ou europeus (RU e Suíça), e os que vão e vêm por períodos de três meses ou menos, apenas para realizar trabalhos contratados por empresas locais, muitas delas de portugueses. É raro, quando passo por uma obra privada ou pública, não ouvir português! Esta emigração  pendular é recente, e tem crescido com a expansão das Low Cost. Quantos mais destinos diretos houver do Porto (por exemplo) para cidades europeias, mais intensa será a emigração yo-yo. Esta emigração, tal como a tradicional, é uma exportação temporária de recursos humanos que contribui para a riqueza dos emigrantes e do país.

Conheci há uns meses uma senhora que veio para Bruxelas realizar trabalho doméstico para portugueses, com o objetivo preciso de pagar contas em Portugal, ou seja, uma emigração a termo. Conheci um pequeno empresário português da construção que tem uma rede de colaboradores fixos em Bruxelas, mas uma outra rede de 'artistas' (estucadores, canalizadores, eletricistas, carpinteiros de obra) que vivem em Portugal e vêm a Bruxelas para cumprirem tarefas específicas com duração limitada. Ou seja, precisamos de olhar para a emigração no quadro da UE e da Europa atual como um fenómeno distinto do tempo em que os portugueses saíam das aldeias com uma mão atrás e outra à frente para Paris. Como diz o Rui Rodrigues, o emigrante de telemóvel substituiu o emigrante da mala de cartão.

Por sua vez a emigração de longo prazo continua forte. A novidade neste segmento é a emigração de quadros técnicos sem emprego decentemente pago em Portugal. Engenheiros, médicos, enfermeiros, informáticos, etc, têm engrossado a população portuguesa qualificada residente na Europa. Vêm frequentemente a Portugal para ver e rever família e amigos. As Low Cost dão uma grande ajuda, permitindo duas ou mais viagens por ano sem carregar demasiado os orçamentos familiares destes emigrantes de classe média.

Já na imigração, o problema também tem que ser visto sem xenofobia, nem complexos de superioridade escusados.

Embora mal gerida e corroída pela corrupção, a imigração é necessária, no nosso país, como na Europa, ou nos Estados Unidos. Se há país que não existiria sem imigração são os Estados Unidos. Há duzentos anos, como hoje!
Conheci há ano e meio em Bruxelas, numa loja de conveniência paquistanesa, um jovem bengali alto, dinâmico que, ao ouvir-me falar com a minha mulher, perguntu 'português?'. Sim. Respondemos. Num português asiático o jovem acrescentou: eu também, sou português! Trabalhava em Portugal, numa empresa agrícola no Alentejo, grande produtora de frutas e hortícolas. "Patrão muito bom!", dsse. Cumprimentei o Presidente Marcelo numa visita às estufas, acrescentou, rindo, no seu português macarrónico. Perguntei-lhe de seguida: mas então, porque veio para Bruxelas? Esclareceu que fora para ganhar um pouco mais de dinheiro, para que a esposa pudesse vir do Bangladesh para Portugal. E a estadia em Bruxelas está a correr bem? Perguntei. Não gosto 🙁 A gente só pensa em dinheiro! Menos de um ano depois, disse-me sorridente: vou regressar a Portugal, já consegui pagar a passagem de avião para a minha esposa! E vai conseguir trabalhar na mesma empresa, perguntei? Sim, patrão muito bom, português, a minha esposa já tem trabalho 🙂

Também poderia recordar a história de sucesso da barbearia Harvey de Carcavelos e Parede, de um venezuelano que revolucionou o negócio naquelas duas vilas da Linha de Cascais. Ou do brasileiro Fagner, que trabalha na mesma barbearia, que emigrou para Portugal para poder ter filhos e família! 

Muito do trabalho realizado em Portugal por imigrantes é trabalho que crescentemente os portugueses rejeitam fazer: construção civil, restauração, limpezas, agricultura (intensiva ou outra), etc. Mas atenção, a ida do goês António Costa à Índia não trouxe apenas condutores ilegais de Ubers a Lisboa e Porto, que dormem nas próprias viaturas (pois o rendimento não dá para alugar quartos, quanto mais apartamentos). Vieram também indianos empresários e indianos qualificados, nomeadamente em novas tecnologias e informática.

Portugal tem 90 mil Km2 e 10,5 milhões residentes.
A Holanda e a Bégica juntos tem 68 mil Km2 e 29,6 milhões de residentes.
O Bangladesh tem 148 mil km2 e 173 milhões de residentes!

Em suma, dizer que há imigração a mais no nosso país é pura propaganda populista, que faz o seu caminho num país onde sobram, infelizmente, centenas de milhar de pessoas indigentes, dependentes dos subsídios, apoios e isenções do Estado.

sábado, fevereiro 08, 2025

A conversa de taberna

Neuralink persona (transhumano)

Neuralink is currently seeking people with quadriplegia to participate in a groundbreaking investigational medical device clinical trial for our brain-computer interface.

If you have quadriplegia and want to explore new ways of controlling your computer, please consider joining our Patient Registry. 

Neuralink.com

Imagino que a mensagem que vou comentar seja do VPF. 

Seja como for, o texto que abaixo transcrevo suscita uma discussão necessária, cuja maior dificuldade reside em conseguir deslindar a reviravolta dos protocolos da comunicação política criada pelo populismo americano consubstanciado nessa espécie de albergue espanhol que é hoje a balbúrdia conhecida como MAGA. Steve Bannon, Donald Trump e Elon Musk, os três, com estruturas mentais, culturais e morais distintas, produziram uma hecatombe no que poderíamos chamar a linguagem diplomática da política. Até que este trio unido pelo oportunismo dominasse a paisagem mediática da política, havia basicamente dois protocolos de linguagem na Política: o protocolo da comunicação e do imaginário públicos (Public Relations/Propaganda) e o protocolo das conversações e conversas à porta fechada, posteriormente traduzidas pela oratória pública dos políticos e pelos comunicados e assessores de imprensa. Este último protocolo, em vigor há séculos, e que é, na realidade, uma conversa mole dissimulada, deu lugar à palavra da taberna, nua e crua. Esta convulsão dos protocolos deixa-nos ainda perplexos e confusos. Curiosamente, ainda que em registos bem diferentes, estes são os novos universos comunicacionais impostos ao mundo por Trump, Musk e Bannon.

Para complicar ainda mais as coisas, esta espécie de conversa de taberna global compete diretamente com a velha e caduca diplomacia da palavra política. Vamos precisar, pois, de algum tempo para que os observadores críticos desenvolvam uma nova e apropriada meta-linguagem.


Post de Victor Pinto da Fonseca

* … a ambição expansionista do regime autocrático do psicopata Putin de impor uma nova ordem internacional ampla e de longo alcance que permita interpretar a democracia e os direitos humanos aos seus olhos, introduzindo regras arbitrárias baseadas na lei do + forte, que força todos a viverem segundo o cânone de uma vida submissa como destino humano final acima de todos os outros, projectou Trump para o Olimpo, com a Rússia dia após dia atolada na invasão da Ucrânia! Por outras palavras: a reforma expansionista de Trump fundou-se no projecto de Putin de invadir/colonizar a Ucrânia, no violar do direito internacional. Trump não ficou indiferente ao novo nacionalismo de Putin, e não esperou que a corrente suba + alto do que a sua fonte. Só nas ultimas 48:00 assinou uma ordem que impôs sanções ao Tribunal Penal Internacional criticando as ações do Tribunal contra Israel, propôs [ou será que impôs] deslocar os palestinianos de Gaza para criar a nova Torremolinos, etc, etc. Até o Irão já reclama o alterar de Trump das “regras internacionais”, imagine-se! estão aterrorizados!!, enquanto Putin bloqueado - à velocidade que invade a Ucrânia precisava de 30 anos para se aproximar de Kiev - tudo faz para não criticar Trump: pudera! com a economia russa a colapsar [já não têm como disfarçar], o medo de que Trump imponha novas sanções (sanções, q a sua administração diz se encontrarem ‘somente’ numa escala 3/10) envergonha e deprime o psicopata Putin. De forma que não há como controlar, dirigir e prevenir os abusos de Trump. — Desesperado, Putin já começou a autocolonizar a Rússia, leia-se nacionalizar os próprios activos privados, as pequenas unidades, para serem entregues ao Estado, uma espécie de autocolonização que deseja tentar a tarefa impossível de regressar ás condições económicas de sobrevivência obtidas há 100 anos. — É aqui, no conceito do regresso ao passado, que os comentadores pró-russos deliram: entretanto, fiéis a Putin mas também eles desesperados lá vão tentando disfarçar que a Rússia [ainda] é uma grande potência. Não reconhecem Galileu! e o facto da Terra se movimentar [Eppur si muove ou E pur si muove (mas se movimenta ou no entanto ela se move, em português)]. As mudanças no mundo são o resultado da terra se mover e nós com ele. O esforço para proibir as mudanças falhará sempre [E por si muove]. A saída reside não na tentativa de impedir as mudanças, mas mudarmos com elas, uma vez que o mundo muda e nós mudamos com ele. Na sua opção pelo regresso ao retórico império soviético, Putin acabou a promover a amizade e o favorecimento de Trump e atirou o anti-americanismo para o caixote do lixo! A América de Trump está + próxima da Rússia e da China que da Europa. Agora, tudo o que os fiéis comentadores pró-russos desejam fazer em nome de Putin é ser anti-Europa democrática, hostis à liberdade! É ir ao encontro da extrema-direita fiel da “autocracia eleitoral” de Putin, como Le Pen, Ventura, Órban, etc, - um purificar da ideologia de género e despertar das escolas do país, erosões da liberdade académica, independência judicial e da imprensa livre. Uma aliança com o nacionalismo religioso. Um ataque a instituições democráticas, não há outra verdade.

* da série “despertar“ post de duração limitada


terça-feira, fevereiro 04, 2025

O que quer Trump?

Retrato ofical do Presidente Donald Trump (2025)

Sete coisinha a saber

1) a campanha militar ucraniana que tem vindo a danificar seriamente e a inutilizar mesmo parte importante da infraestrutura petrolífera russa, especialmente ao longo do que vai de 2025, é um verdadeiro tiro no porta-aviões da economia russa, revelando, escandalosamente, a fragilidade gritante das defesas antiaéreas russas face aos enxames de drones desenvolvidos por vários aliados da Ucrânia e pela própria Ucrânia;

2) as duas operações especiais das FFAA armadas ucranianas que eliminaram recentemente em Moscovo dois dos principais assassinos ao serviço de Vladimir Putin (Igor Kirillov e Armen Sarkisyan) demonstram os perigos letais que espreitam a elite russa, e as falhas gritantes dos seus serviços de segurança, ao ponto de se poder concluir que o próprio Vladimir Putin começou a dar entrevistas dentro de automóveis blindados (aqui a ideia principal é a da mobilidade, claro) temendo o pior;

3) China e Índia interromperam as suas compras futuras de petróleo à Rússia respeitantes ao próximo mês de abril;

4) Os desgraçados norte-coreanos que Putin enviou para a morte inglória e o suicídio retiraram da linha da frente em Kursk;

5) Os Estados Unidos, na corrida pela IA, sobretudo depois do aparecimento do Deepseek na mesma semana da posse de Donald Trump (o já chamado Momento Sputnik), entraram naquilo a que poderíamos chamar uma World Cool Soft War. Entretanto, Sam Altman fecha sucessivos acordos estratégicos na Coreia do Sul, Japão, e vai a caminho da Índia!

6) Para o desenvolvimento da IA os Estados Unidos precisam de um acréscimo substancial de energia dedicada aos super-processadores e bases de dados. Precisam de baixar o preço do petróleo para fazer implodir a Federação Russa. Precisam de acesso aos metais raros (conhecidos em inglês como rare earths), uma vez interrompido o fornecimento destes por parte de Pequim (38% das reservas mundiais). Estes metais raros encontram-se em países como a China, o Brasil (as maiores reservas mundiais depois da China), o Vietname (mesma percentagem do que o Brasil: 19%), a Rússia (10%), a Índia (6%) e a Austrália (3%). O Canadá, por sua vez, dispõe de importantes reservas como subproduto do urânio. A Ucrânia é outro grande reservatório de metais raros. A Suécia também. E Portugal dispõe de reservas suficientes para justificar a sua exploração comercial no curto prazo. A Gronelândia e o Ártico poderão esconder reservas minerais gigantescas, absolutamente necessárias aos processos produtivos altamente tecnológicos em curso e em perspetiva.

7) Finalmente, Trump abriu o jogo sobre a Ucrânia: armas, informação, treino militar e sanções contra a Rússia em troca de uma parte das reservas de recursos minerais e energéticos estratégicos existentes na Ucrânia, do carvão aos metais raros. Ou seja, cheque-mate à Rússia.

Casa Manoel de Oliveira muito aquém das expetativas



Mas não há uma Casa de Cinema Manoel de Oliveira? 


Várias capitais por esse mundo fora bem gostariam de homenagear de modo permanente o grande cineasta português. Desde logo, Nova Iorque, Tóquio, ou Lausanne. Por algum motivo Álvaro Siza Vieira deixa apenas parte do seu arquivo em Portugal.

Manuel Casimiro vem aqui defender o legado cinematográfico de Manoel de Oliveira em nome do direito que lhe assiste por vontade expressa do seu Pai, que aceitou cumprir. Conheço-o bem, e tenho ouvido as suas queixas e desilusão relativas à Casa de Cinema Manoel de Oliveira, a  que a Fundação de Serralves não tem dado a atenção e dinamismo que merece e eram esperados. Se a anterior Administração de Serralves ficou aquém das legítimas expectativas de todos, posso deduzir que a situação, com a nova Administração, só poderá piorar.

Não faltam países ricos e cultos prontos a acolher o legado de Manoel Oliveira!

(FR)

Mais n'existe-t-il pas une Maison du Cinéma Manoel de Oliveira ? 

Plusieurs capitales à travers le monde souhaitent rendre un hommage permanent au grand cinéaste portugais. Tout d’abord New York, Tokyo ou Lausanne. Pour une raison quelconque, Álvaro Siza Vieira ne laisse qu'une partie de ses archives au Portugal.

Manuel Casimiro vient ici défendre l'héritage cinématographique de Manoel de Oliveira au nom du droit dont il jouit par la volonté expresse de son Père, qu'il a accepté de respecter. Je le connais bien et j'ai entendu ses plaintes et sa déception concernant la Casa de Cinema Manoel de Oliveira, à laquelle la Fondation Serralves n'a pas accordé l'attention et le dynamisme qu'elle mérite et était attendue. Si l'administration précédente de Serralves n'a pas répondu aux attentes légitimes de tous, je peux en déduire que la situation, avec la nouvelle administration, ne peut qu'empirer.

Les pays riches et instruits ne manquent pas, prêts à accueillir l'héritage de Manoel Oliveira !

(EN)

But isn't there a Manoel de Oliveira House of Cinema? 

Several capitals worldwide wish to pay permanent tribute to the great Portuguese filmmaker: New York, Tokyo or Lausanne. For some reason, Álvaro Siza Vieira only leaves part of his archives in Portugal.

Manuel Casimiro comes here to defend the cinematographic heritage of Manoel de Oliveira in the name of the right he enjoys by the express will of his Father, which he agreed to respect. I know him well and have heard his complaints and disappointment regarding the Casa de Cinema Manoel de Oliveira, which the Serralves Foundation has not given the expected attention and dynamism it deserves. If the previous Serralves administration did not meet everyone's legitimate expectations, the situation with the new administration could only get worse.

There is no shortage of wealthy and educated countries ready to welcome the legacy of Manoel Oliveira!