segunda-feira, fevereiro 23, 2015

Grécia poderá repudiar legitimamente a sua dívida...

O regresso do Dracma?

 

Euro Is One of the Worst Designed Currencies: Kerr - Bloomberg Business


Nas palavras de Gordon Kerr, segundo o Citibank, se a Grécia não puder contar com uma extensão da Assistência de Liquidez de Emergência (ELA), então estará no seu pleno direito de repudiar 300 mil milhões de euros de dívida. E assim, se isto vier a acontecer, a Grécia ficará aliviada em 300 mil milhões de euros.

Um bom ponto de partida para recomeçar, com uma nova moeda, digo eu!

Gordon Kerr:
“Citibank is saying that if the ELA's are not extended Greece would be perfectly in its rights to repudiate up to €300 billion of debt. So the day after this happens, Greece would be €300 billion better off than it is right now.

[...] Bulgaria’s currency collapsed in 1996; within a weekend it was restructured.”
Bloomberg. Feb. 20 -- Cobden Partners Co-Founder Gordon Kerr discusses Greece’s debt negotiations and why he says Greece should leave the euro with Bloomberg’s Mark Barton and Manus Cranny on “Countdown.”

Euro Is One of the Worst Designed Currencies: Kerr - Bloomberg Business


Se gostou do que leu apoie a continuidade deste blogue com uma pequena doação

TAP boa e TAP má

TAP—aviões parados durante uma greve (2014)

 

TAP perde dinheiro com ‘fuel hedging’


Quem vai suportar as apostas erradas da TAP no hedging do combustível?
“Actualmente, a sobretaxa de combustível cobrada pela TAP custa 43 euros nas viagens de médio curso e 165 euros no longo curso.” — Público, 20/02/2015 - 08:53.
Novas quebras de competitividade com as Low Cost?
Mais 150 milhões a esconder debaixo do tapete da dívida pública?
Não somos a Grécia, dizem.
Não parece!

A TAP, cujo CEO foi contratado há mais de uma década para privatizar a companhia continua a filosofar um esperanto cada vez menos compreensível, enquanto as araras parlamentares palram do que não sabem, defendendo sempre as conveniências eleitorais do momento.

E o momento recomenda-lhes despachar, uma vez mais, a batata quente da privatização da TAP para o próximo governo. A fatura do adiamento subirá pois mais uns milhares de milhões de euros, a endossar ao contribuinte, invariavelmente entretido com os magnos assuntos do Futebol.

Não conheço o novo Caderno de Encargos da privatização, mas presumo que foi desenhado para fazer borregar o leilão.

Só há uma hipótese de a TAP permanecer uma empresa pública: separar a TAP má da TAP boa.

Para tal bastaria criar uma nova empresa, com um nome ligeiramente diferente (PA—Portugal Airlines, por exemplo), onde o estado asseguraria a maioria do capital e gestão totalmente independente, dispersando em bolsa 49% da propriedade da empresa, enquanto os ativos tóxicos e a dívidas da TAP má seriam negociadas, renegociadas, renunciadas, recicladas, incineradas, em suma, desfeitas ao longo de uma ou duas décadas. 

Se os chineses o fazem, por exemplo na Three Gorges, porque não podemos nós fazê-lo? A Europa não deixa? Mas a Europa somos nós!
“In Sept 2002, CTG, as the initiator, established its sub company, China Yangtze Power Co., Ltd. (CYPC), which was assigned to manages the two hydropower plants CTG has, i.e., Gezhouba and Three Gorges hydropower plants. It began to be listed in Shanghai Stock Exchange (SSE) as Yangtze Power Stock A on 18 Nov 2003.” — Three Gorges Corporation.


Se gostou do que leu apoie a continuidade deste blogue com uma pequena doação

O fim do crescimento barato

Oman/ Bloomberg

Game over for cheap resources and debt growth


A procura agregada global cai obrigatoriamente quando não pode suportar os preços de que a oferta global necessita para continuar a produzir... É uma lei física da economia que nenhuma diarreia financeira poderá evitar depois de bater com a cabeça orçamental na parede da realidade.

Este ciclo de decrescimento global já começou e não haverá nada a fazer se não mudar os paradigmas culturais do desenvolvimento.

Oman Producing All-Out on Oil as Price Rout Seen OverBloomberg. by Vivian Nereim. February 22, 2015
“Oil and gas accounts for 79 percent of Oman’s revenue, Al Aufi said. With a projected deficit of 2.5 billion rials ($6.49 billion), Oman’s 2015 budget assumes an oil price of $75 a barrel, he said. A balanced budget would need oil to be over $100, he said.”


Se gostou do que leu apoie a continuidade deste blogue com uma pequena doação

domingo, fevereiro 22, 2015

O Grécia-Alemanha ainda não acabou

Gráfico interativo do BIS via BBC (clicar)


O clube não se chama Alemanha, mas Europa


Premiê grego declara vitória com Grécia evitando colapso financeiro
sábado, 21 de fevereiro de 2015 14:12 BRST

ATENAS/BRUXELAS (Reuters) - O primeiro-ministro grego, Alexis Tsipras, declarou vitória neste sábado após aprovação no último minuto de um acordo de resgate financeiro sob condições com a Europa, apesar das grandes concessões que terão que ser feitas para evitar o colapso financeiro nos próximos dias.

Aconteça o que acontecer na próxima Segunda-Feira (ver declaração de Alexis Tsipras/BBC), e nos próximos quatro meses, a relação da Alemanha com o resto da União Europeia sofreu um enorme abalo. E esta foi a vitória, gostemos ou não, da Grécia.

Talvez depois de os calvinistas e protestantes terem chamado porcos e preguiçosos aos católicos e ortodoxos de Portugal, Irlanda, Itália, Espanha e Grécia, e de os gregos terem lembrado o recente passado nazi da Alemanha e as dívidas de guerra que não chegou a pagar até a fim, seja agora o momento de introduzir alguma calma e racionalidade no desembrulhar de uma situação que está longe de ter sido resolvida na sexta-feira, 20 de fevereiro de 2015. Na Grécia, como no resto da Europa.

Salvo alguns preconceitos culturais, o vídeo anexo é uma boa visualização da presente crise financeira europeia.





Se gostou do que leu apoie a continuidade deste blogue com uma pequena doação

sábado, fevereiro 21, 2015

Lisboa tem a eletricidade mais cara da Europa

Energie-Control Austria. The Hungarian Energy and Public Utility Regulatory Authority. VaasaETT Global Energy Think Tank
(pdf)

Herança elétrica de Sócrates prossegue com o governo esverderado de Passos Coelho


“...Lisbon overtakes Copenhagen as the place with the most expensive electricity followed by Prague and Berlin”

União Europeia?

Os preços pagos por kWh de eletricidade residencial em 23 capitais europeias podem variar até 142%. No consumo elétrico as cidades + caras —em preços nominais— são Copenhagen e Berlim, onde o grosso das faturas, porém, se deve a taxas. Lá como cá.

Mas se ajustarmos o poder de compra, então os consumidores de Lisboa têm a energia elétrica mais cara da Europa. Onde está o Jorge Moreira da Silva? Crescimento, como?

Vale a pena ler este breve e esclarecedor relatório, e observar os seus quadros e gráficos.


Household Energy Price Index for Europe
February 5th, 2015
January Prices Just Released
Energie-Control Austria
The Hungarian Energy and Public Utility Regulatory Authority
VaasaETT Global Energy Think Tank
pdf

Se gostou do que leu apoie a continuidade deste blogue com uma pequena doação

EU to 'reframe' Russian energy ties when time is right - draft | Reuters

Time to buy Portuguese and Spanish energy equity!


Portugal poderá beneficiar da crise ucraniana ao ver ampliado o seu
mercado energético, até agora bloqueado pela França e outros players
europeus. É que 1/3 da energia consumida na Europa vem da.... Rússia.

Num mercado mais aberto e concorrencial, mas também com acesso a mais
consumidores, haverá eventualmente lugar para baixar as rendas
excessivas cobradas em Portugal pelo setor energético.

Alô, Jorge Moreira da Silva​?
REUTERS: The European Commission, the EU executive, is seeking to create a single energy market, based on cross-border connections to improve security of supply and reduce dependence on Russia, which supplies roughly one third of EU energy.
EU to 'reframe' Russian energy ties when time is right - draft | Reuters

Bataglia entala Espírito Santo

Helder Bataglia na Assembleia da República
Img. derivada de foto original © Manuel de Almeida @ Lusa

Estou francamente mais preocupado com as responsabilidades do Governador do Banco de Portugal e do Presidente da República no colapso do GES-BES do que com Helder Bataglia


O senhor Bataglia é um middleman que cobra bem pelas suas informaçãoes e pelos seus serviços de intermediação. Contra isto, nada a dizer.

O Grupo BES recorreu a este homem muito bem relacionado para obter bons investimentos em África (contra isto, nada a dizer), na sua tentativa de fugir à tenaz financeira de Frankfurt, que jurou destruir o banqueiro de Salazar, que, relembremos, trouxe para o nosso país (de forma legal, entenda-se) ouro sequestrado aos judeus pelo regime nazi de Hitler, a troco do volfrâmio essencial ao endurecmento do aço das blindagens de tanques e navios de guerra, e que Portugal então vendeu em grandes quantidades ao governo alemão chefiado por Adolf Hitler, mas também aos Aliados.

O que, por outro lado, diz tudo do gansgsterismo financeiro, de que o Grupo BES foi um dos principais braços, e que tem mantido, até hoje, o país no bolso, é o diagrama da obscuridade, da dissimulação, das cumplicidades, da ilegalidade e da corrupção que vamos conhecendo.

Não esquecer nunca que as cumplicidades da banca, de que o BES é caso exemplar, vão até ao PCP (a quem o BES pagava uma espécie de avença publicitária à Festa do Ávante!), e englobam, obviamente, os sindicatos, nomeadamente através do atual SG da UGT—que saiu em defesa do seu posto de trabalho, mas não em defesa dos clientes do banco que foram assediados por gerentes de conta com Papel Comercial que hoje sabemos não ter passado de uma burla.

Bastaria publicar uma listagem de todos os administradores não executivos e presidentes de mesas de assembleias gerais das 500 maiores empresas do país (incluindo a União das Misericórdias e as recentemente privatizadas a 100%%—como os CTT, por exemplo), para termos uma radiografia perfeita da captura do regime e respetivos trastes partidários pela lógica rendeira, devorista e especulativa que atirou e continua a atirar Portugal para o lixo.

Para terminar, este instantâneo do Jornal i:

“Até agora, foram poucos os convocados à Comissão de Inquérito ao BES que admitiram saber da existência deste veículo: um deles foi Bataglia, os outros foram Francisco Machado da Cruz e José Castella, que confirmaram ser administradores desta sociedade, mas que afirmaram nunca ter olhado para as contas da sociedade.”


Se gostou do que leu apoie a continuidade deste blogue com uma pequena doação

sexta-feira, fevereiro 20, 2015

No Grexit


Jornal cooperativo alemão —taz.de—ridiculariza teimosia de Schaueble.

Grécia—1, Alemanha—0


Rebatismos
  • "troika": "the institutions"
  • "current programme": "current arrangement"

A Alemanha acaba de engolir um sapo, cortesia do Syriza, do BCE, da Rússia, do Podemos, dos EUA, e da NATO. Que estranha constelação esta, aparentemente formada para prejudicar a estratégia alemã e a arrogância do neo-Nosferatu Schäuble.

O mínimo que se pode dizer é que a Troika no seu formato conhecido acabou.

A Grécia terá um período de carência de quatro meses, que lhe permitirá uma extensão, sem novo resgate, de famoso Programa, agora designado current agreement, da não menos famosa Troika, agora chamada the institutions.

Até final de abril muita água irá correr debaixo das pontes.

Pergunta cínica: em que posição ficam os indígenas do Governo de Lisboa e o traste de Belém depois disto?

A comparação entre as duas últimas versões do acordo entre a Grécia e o Eurogrupo são elucidativas.

A Grécia deixou uma pegada política provavelmente irreversível na instituição europeia.

O Eurogrupo deixou de ser uma coutada da Alemanha, por vontade da Grécia (seria feio atribuir o mérito a outros), por vontade do BCE (Goldman Sachs, etc.), por vontade dos Estados Unidos/NATO, e com a ajuda just in time da Rússia/Ucrânia.

Entretanto, a diarreira neo-neo-neo-keynesiana do BCE, conhecida por Expanded Asset Pucrchase Program, e muito saudada por alguma imprensa americana (The Wall Street Journal, por exemplo), vai ocupar as cachas dos média, e manter os especuladores, os rendeiros e os devoristas do buraco negro das finanças europeias nada preocupados com os senhores Yanis Varoufakis e Alexis Tsipas, salvo se for para lhes pedirem acesso VIP aos casinos de banhos de Atenas.

O Nosferatu de Friburgo terá em breve que expor ao resto da Europa a parte escondida do icebergue da dívida pública alemã. E ainda o buraco sem fundo que o Deutsche Bank (1) esconde nos seus livros de especulação com derivados. Apesar da sua arrogância, que deu da Alemanha, outra vez, uma péssima imagem, a terceira tentativa teutónica de dominar a Europa entrou hoje em mais uma rampa descendente.

Será bom para a União Europeia? Provavelmente não. Mas há uma coisa de que a Alemanha terá um dia que se convencer de vez: jamais dominará a Europa enquanto não aprender a usar a linguagem de uma forma civilizada.

POST SCRIPTUM — Grécia—1, Alemanha—0

A questão da derrota da Alemanha protagonizada ontem pela Grécia, que o resto dos PIIGS agradece entre protestos hipócritas de fidelidade ao dono alemão, é simples de equacionar:

— a Alemanha sempre disse que a Grécia só tinha um caminho:

1a) continuar a negociar com a Troika e
1b) negociar um novo resgate, ou seja, trocar dívida-lixo, impagável, por outra putativamente pagável, para assim safar a exposição da banca alemã e em particular do Deutsche Bank, que andaram a especular com o sofrimento alheio, dum bail-in.

Mais austeridade seria o corolário do ultimato alemão. Ora bem, o ultimato esvaziou-se, nomeadamente por imposição do BCE e dos Estados Unidos. O resto é ruído mediático para alegrar o povo que paga isto tudo com juros.

Sempre defendi a posição alemã em matéria de controlo da despesa pública. Mas não defendi nunca, não defendo e estarei sempre frontalmente contra os sonhos imperiais da Alemanha. Deram sempre, e darão sempre mau resultado.

NOTAS
  1. Enquanto revíamos este post chegou-nos (via Zero Hedge) mais uma notícia americana sobre o estado preocupante do maior e mais antigo banco alemão [e já agora, também, do Santander!):

    U.S. Units of Deutsche Bank, Santander Likely to Fail Fed Stress TestThe Wall Street Journal, 20-02-2015

    Large European banks including Deutsche Bank AG and Banco Santander SA are likely to fail the U.S. Federal Reserve’s stress test over shortcomings in how they measure and predict potential losses and risks, according to people familiar with the matter. Failing the stress tests would likely subject the U.S. units of Deutsche Bank and Banco Santander to restrictions on paying dividends to their European parent companies or other shareholders.


Se gostou do que leu apoie a continuidade deste blogue com uma pequena doação

Plano Juncker PT



O embuste barragista continua com o atual governo de lémures



ENERGIA (são dezenas de projetos. Todos necessários? Qual quê!)
  • 1.210.000.000€
  • 7 new hydroelectric projects with 815 MW 
  • up to 2018
  • Private Promoter
  • Ministry of Environment and Energy
  • ... apesar do Lack of risk taking willingness from private sector, 
  • ... apesar do lack of investment funding
  • ... apesar do lack of social awareness!

Temos que nos agarrar a este AVISO:

DISCLAIMER: There are no financing commitments by the EC, the EIB or any Member State for any of the projects included in this report (country lists and/or illustrative project examples) and the inclusion of projects in the report does not entitle them to preferred access to national or European resources. They have not been subject to specific assessment by the Commission, EIB or the Task Force Members (i.e. Member States) and hence do not imply the support of the particular investment proposal by these organisations. This document is the result of the work of the Task Force and as such certain views may not necessarily represent t he position of the European Commission, the EIB, or any particular Member State .

SPECIAL TASK FORCE (MEMBER STATES, COMMISSION, EIB) ON INVESTMENT IN THE EU FINAL TASK FORCE REPORT (pdf)

quinta-feira, fevereiro 19, 2015

A pardidocracia é incapaz de reformar o estado

Não se reforma o estado despedindo pessoas, ou atirando-as para a leprosaria do INA!


A elite partidária e nepotista colocada no topo da administração pública e do dito setor empresarial do estado é o principal obstáculo, e o principal cancro, à reforma do regime e do seu aparelho burocrático.

Reforma-se o estado acabando com departamentos inúteis, redundantes, e centenas de sinecuras partidárias (fundações, observatórios e institutos fantasmas). Não se reforma a administração pública atirando para a fossa jardineiros, carpinteiros, cantoneiros, pessoal de limpeza, auxiliares de enfermagem, etc., cujos serviços são depois contratados a empresas privadas capturadas pelos mesmos devoristas e rendeiros de sempre, que arruinaram o país, e que estão invariavelmente ligados com grude ao PS, PSD, CDS-PP e PCP.

Sem uma varridela em profundidade do regime, o futuro é o empobrecimento galopante do país, o seu envelhecimento, mais e mais corrupção, e a perda acelerada de autonomia de um país cada vez mais dependente, e cada vez menos independente.

Com ou sem revolução, é preciso mudar!

Políticos e chefias de topo ganham mais do que em 2011
18/02/2015 | 22:00 |  Dinheiro Vivo

No final do ano passado - quando já estavam de novo a ser aplicados os cortes salariais que vigoraram de 2011 a 2013 - os dirigentes superiores da administração pública recebiam, entre remuneração base e suplementos, 4346,5 euros por mês, ou seja, mais 86,1 euros do que em outubro de 2011. Parte deste acréscimo deve-se ao aumento do salário base destas chefias de topo, que passou de 3539 para 3562 euros mensais. Segundo os dados da Síntese Estatística do Emprego Público (SIEP) também entre os dirigentes intermédios se registou um acréscimo quer na remuneração base quer no ganho médio mensal neste mesmo período. Os representantes do poder legislativo, estão também no grupo dos viram a remuneração subir: o seu vencimento base aumentou em média 150 euros e aquilo que recebem no final do mês subiu cerca de 220 euros (8,7%).


Se gostou do que leu apoie a continuidade deste blogue com uma pequena doação

quarta-feira, fevereiro 18, 2015

Germanexit?

O buraco negro da Alemanha é o verdadeiro problema
(clique para ampliar)

A mentira alemã é o verdadeiro problema do euro


Afinal quem é que está endividado ate às raízes dos cabelos?

O Eurostat revela, em %/PIB, as dívidas escondidas dos governos europeus, de que as famosas PPP são o prato forte. Mostramos três pares de resultados que desmistificam completamente a narrativa dos lémures do Eurogrupo.

Dívida pública não reportada nos orçamentos de estado em % do PIB
  • Alemanha=126,26; Grécia=6,82
  • Holanda=107,15; Portugal: 51,79;
  • Reino Unido=60,88; Espanha=12,46.
—in Eurostat News Release, 26/2015 - 10 February 2015/ A new data collection for government finance statistics/ First time release of data on contingent liabilities and non-performing loans in EU Member States.

A maior dívida pública da Europa em % do PIB é alemã.

Somando as dívidas públicas dos países comparados neste post, ou seja, somando as estimativas da CIA relativas ao ano 2013, a que hoje acedemos no respetivo sítio, mais as divídas escondidas reveladas pelo Eurostat no passado dia 10 de fevereiro, ficamos a saber que, afinal, a dívida pública alemã, em percentagem do PIB (imaginem o montante!), é superior à dívida grega!

  • Alemanha 79,9 + 126,26 = 206,16
  • Grécia  175 + 6,83 = 181,83
  • Holanda 74,3 + 107,15 = 181,45
  • Portugal 127,8 + 51,79 = 179,59
  • UK  91,1 + 60,88 = 151,98
  • Espanha 93,7 + 12,46 = 106,16

Mas comparando as dívidas externas, de vários países, a Alemanha também não sai bem.


Vejamos o panorama em percentagem do PIB (Wikipédia)

  • Luxemburgo (um verdadeiro paraíso fiscal): 3.443%
  • Reino Unido: 406%
  • Portugal 223%
  • Grécia: 174%
  • Espanha: 167%
  • Alemanha: 145%

E agora em valores nominais (CIA)
  • Reino Unido (2ª maior dívida externa do mundo)
    $9.577 trillion (31 December 2013 est.)
  • Alemanha (3ª maior dívida externa do mundo)
    $5.717 trillion (31 December 2012 est.) 
  • Luxemburgo
    $2.935 trillion (31 December 2012 est.)  
  • Espanha
    $2.278 trillion (31 December 2012 est.) 
  • Grécia
    $577.2 billion (2012) 
  • Portugal
    $508.3 billion (31 December 2012 est.) 

Masaccio (1401 – 1428)
Adão e Eva Expulsos do Paraíso

Se a esta vergonha, que andou embrulhada em mentiras sobre os PIIGS (1), somarmos o grande buraco negro do Deutsche Bank (ver gráfico acima), teremos em toda a sua plenitude o embuste da retórica do senhor Schäuble a propósito da Grécia e a verdadeira natureza e gravidade do problema da dívida europeia.
Sideways: Deutsche strategy – Twilight of the bank
by Jon Macaskill

Is Deutsche Bank contemplating a secret Götterdämmerung trade that would hive off sections of its investment bank and offer senior executives an escape route?

The strategy of the bank is looking increasingly perplexing to outsiders, with a potential spin-off of German retail banking unit Postbank widely seen as a measure that might raise some money, but that would leave the group even more exposed to an investment bank that is heavily biased towards struggling areas of the fixed-income markets. The verdict of shareholders on the current Deutsche Bank business model is clear. Its shares fell by 24% last year and its capitalization of around €35 billion is roughly 0.6 of nominal book value, making Deutsche effectively the least-trusted big bank.

Full article
Visit Euromoney for additional distribution rights. For more articles like this, follow us @euromoney on Twitter.

Os alemães têm que baixar a bolinha ou... serão eles a ter que abandonar o euro. Aliás, faria todo o sentido termos uma moeda única competitiva!

O doente não é a Grécia, mas toda a Europa. Controlo de capitais, reintrodução de fronteiras e limitações de uso das caixas multibanco podem já estar prontas a entrar em ação em caso de Grexit.

Europe Will Implement Both Border and Capital Controls in the Coming Months
Zero Hedge. Submitted by Phoenix Capital Research on 02/18/2015 09:30 -0500

The European banking system as a whole is leveraged at over 26 to 1. That’s the ENTIRE European Banking system leveraged at near Lehman levels (Lehman was 30 to 1 when it collapsed).

To put this into perspective, with a leverage level of 26 to 1, you only need a 4% drop in asset prices to wipe out ALL capital. What are the odds that European bank assets have fallen 4% in value in the last two years?

Atualizado em 18/02/2015 22:21 WET

Se gostou do que leu apoie a continuidade deste blogue com uma pequena doação

terça-feira, fevereiro 17, 2015

Amendoins

Maria Luís Albuquerque, ministra das finanças
Foto: LUSA

500 milhões são 'peanuts'!


Assim, com amendoins destes, este governo não vai a parte alguma.


Ninguém explica que dos 78 mil milhões de euros emprestados pela Troika, 34 mil milhões são destinados aos juros. Poupar 500 milhões de euros é um pingo que se esfuma neste grande buraco negro.

Ninguém explica que Portugal pediu agora dinheiro mais barato para pagar empréstimos mais antigos com juros caros—foi só isso!

A Espanha, por exemplo, financiou-se em janeiro a 0,0%.

Se Portugal quer poupar —e precisa de poupar!— mais do que 500 milhões de euros, então terá que cumprir de uma vez por todas o Memorando da Troika (vejam só!), diminuindo as 'rendas excessivas' das 120 Parcerias Público Privadas (PPP), bem como eliminar ou reduzir drasticamente as taxas que encarecem criminosamente o preço da energia elétrica que consumimos.

Estas duas medidas estratégicas permitiriam poupanças todos anos, ao contrário do desconto de 500 milhões, que ocorre uma só vez.

Estes são dois dos custos que tornam a nossa dívida pública insustentável:

  • as 120 PPP custaram em 2014 dois mil milhões de euros ao Orçamento de Estado, e no final da brincadeira vão custar 70 a 80 mil milhões de euros, ou seja, 35% do PIB!
    —Só para termo de comparação: as indemnizações de guerra pagas pela França à Alemanha em 1870-72, as mais elevadas que se conhecem, custaram então 23% do PIB francês.
  • as taxas de energia (CIEG) custaram a todos nós, pessoas e empresas, em 2014, mais dois mil e seiscentos milhões de euros —valor bruto; o valor depois dos 'alisamentos' foi de 1.701.418.000€. Para termos um padrão de referência, a Ponte Vasco da Gama custou mil milhões.... Se este assalto não for parado, em dez anos teremos pago mais de vinte mil milhões de euros — só em taxas, sobretaxas e outros custos indiretos, fora o que pagamos pela energia que realmente consumimos. Ver a este propósiro o docuemnto da ERSE sobre os CIEG (pdf.)

Clique para ampliar

Em 2013, Portugal consumiu a mesma eletricidade que em 2006 (fonte - ERSE). Os CIEG em 2006 ascenderam a 500 milhões de euros. Em 2014, atingiram mais de 2600 milhões de euros. Ou seja, aumentaram mais de cinco vezez, apesar do consumo estagnado.

Contra factos não há argumentos. Aqui há “rendas excessivas”, e de que maneira. A Troika chamou a atenção do governo Passos Coelho para isto. Mas o governo fez orelhas moucas e preferiu aumentar impostos e perseguir os automobilistas (ver o caso escandaloso da Brisa).

Carlos Tavares, CEO da Peugeot/Citroen, disse que a eletricidade é em Portugal 40% mais cara do que em França. Em breve, se não pusermos os rendeiros na ordem, veremos as grandes fábricas voarem, uma a uma, daqui para fora.

Do que é que a Oposição está à espera para substituir o discurso dos "calimeros" por propostas claras e sensatas?

Bruxelas: Pagamento antecipado ao FMI poupa 500 milhões de euros a Portugal
Jornal de Negócios. 17 Fevereiro 2015, 15:20 por Lusa

Nos cálculos da Comissão Europeia, a decisão do Governo poupará centenas de milhões aos cofres públicos e ajudará à sustentabilidade da dívida pública.

Os ministros das Finanças da União Europeia (Ecofin) deram esta terça-feira o seu apoio político ao plano de Portugal de pagar antecipadamente parte do empréstimo do Fundo Monetário Internacional (FMI), após o aval do Eurogrupo na véspera.

"Da parte da Comissão, gostaria de saudar o pedido por parte das autoridades portuguesas de pagar antecipadamente alguns dos empréstimos do FMI. O reembolso antecipado irá resultar em poupanças líquidas de pagamentos de juros na ordem dos 500 milhões de euros e terá um impacto positivo na sustentabilidade da dívida portuguesa", observou o vice-presidente da Comissão Europeia responsável pelo Euro, Valdis Dombrovskis, na conferência de imprensa realizada no final do Conselho Ecofin.

PS: Alguém pergunta: mas a decisão foi má? Não. Foi boa. Trocar dívida velha e cara por dívida nova e menos cara é sempre uma boa decisão. Sabe é a pouco e não pode servir para esconder a floresta.

NOTA AOS POLÍTICOS:
  1. O atual governo conservador inglês impôs a redução das rendas elétricas para 6%.
  2. O governo espanhol acabou com as rendas garantidas das eólicas e outras semelhantes deixando a EDP a ganir.
  3. Quando terminou em Itália a Operação Mãos Limpas todos os concursos de obras públicas foram suspensos; depois de retomados, os preços cairam 40%.
  4. Se não querem um Syriza no nosso país é melhor enviar para Évora umas boas duas dúzias de piratas e rever todos os contratos leoninos. As rendas no setor financeiro cairam a pique. A economia está em depressão. Os sinais de um novo colapso financeiro brotam como furúnculos infetados por todo o lado. Defender rendeiros e rendas garantidas é um erro político grave que vai sair muito caro a quem o cometer.
OAM/RR

Atualizado em 16/02/2015 16:21 WET

Se gostou do que leu apoie a continuidade deste blogue com uma pequena doação

A reforma oportunista do estado


Um ministro (Nuno Crato) não pode ser mais um oportunista.

Redução de funcionários e trabalhadores na FP é fogo de vista.

Que no entanto queimou os afetados!


Despedir não é reformar. Reformar é redesenhar de alto a baixo o sistema de ensino e aprendizagem, estabelecendo uma simbiose amigável e produtiva entre a iniciativa e autonomia dos cidadãos, novas tecnologias, redes sociais, voluntariado, envolvimento empresarial e uma nova classe de mestres (WiFi Tutors).

Mas para realizar, de facto, esta reforma, é necessário começar por implodir o Edifício da 5 de Outubro, e enviar a burocracia toda de férias durante um ano.

O estado tornou-se um empecilho devido à inércia dos seus recursos humanos e dirigentes, das dinastias burocráticas e sobretudo da corja partidária e dos sobrinhos da nomenclatura que infetam o sistema.

A areia que a esquerda ideologicamente falida lança para cima dos seus devotos apenas contribui para tornar a metamorfose mais dolorosa e atrasar o país no jogo das competências e na economia da atenção positiva que caracterizam os tempos pós-contemprâneos em que vivemos (1) .

Estado perdeu quase 10% dos funcionários em 3 anos
Jornal de Negócios. 16 Fevereiro 2015, 18:53 por Catarina Almeida Pereira

As administrações públicas perderam 9,8% do pessoal entre Dezembro de 2011 e o final do ano passado, com uma redução de 71 mil funcionários. Os dados oficiais revelados esta segunda-feira, 16 de Fevereiro, pela Direcção-Geral da Administração e do Emprego Público (DGAEP), mostram que os docentes e os assistentes operacionais foram as carreiras que mais contribuíram, em termos absolutos, para esta diminuição.

Ao longo do último ano, porém, a quebra foi menos acentuada do que em anos anteriores, o que sugere que o ritmo de redução de funcionários poderá estar a abrandar. No final de 2014 havia menos 18,5 mil funcionários do que em período homólogo, numa redução de 2,7%. Em anos anteriores, a quebra anual tinha sido mais alta, aproximando-se dos 4%.

Ler o resto da notícia

NOTA
  1. A expressão pós-contemporâneo foi por mim inventada (creio) para designar uma era em que o tempo analógico dos átomos e moléculas é cavalgado por um tempo digital tornado possível através do domínio e uso dos campos eletromagnéticos, onde além da matéria, existe o espaço imaterial que segura o universo.

segunda-feira, fevereiro 16, 2015

Yanis Varoufakis, a esperança do momento

Gustave Moreau. Europa e o touro (c. 1869).

A Grécia é o centro da Europa!


Vivemos tempos simultaneamente épicos e medonhos. Há uma crise mundial, e certamente europeia, das dívidas—das dívidas soberanas, mas também das dívidas empresariais e familiares.

Estamos todos endividados até aos cabelos, mesmo quando não pecebemos que uma parte deste endividamento é invisível, e não parece, assim, ser coisa que nos diga respeito.

O grande buraco da dívida não seria um grande problema se as perspetivas de crescimento mundial, no modelo que conhecemos de há uns 200 ans para cá —muita energia e barata—, continuassem a ser expectáveis. Mas o problema é que o futuro reserva-nos uma era de menos energia, e de energia mais cara. Ora é este cenário —até hoje rejeitado pelos cegos da macro-economia— que tudo muda e exige uma nova abordagem dos problemas.

A crise grega, que tomou uma nova e radical direção depois da chegada do Syriza ao poder, veio confrontar a Europa inteira com as suas responsabilidades. O problema não é da Grécia, nem de Espanha, ou de Portugal, mas de todo o continente, mais precisamente, é um problema global, cuja negação apenas tornará os desenlaces locais, regionais e globais, muito mais ameaçadores e potencialmente catastróficos.

Nada melhor para começarmos a mudar a nossa percepção dos problemas de fundo, do que esta viragem radical na crise grega. E nada melhor do que ir escutando e lendo o que Yanis Varoufakis pensa sobre o seu país e sobre a Europa.

Yanis Varoufakis: No Time for Games in Europe
THE NEW YORK TIMES

By YANIS VAROUFAKISFEB. 16, 2015

ATHENS — I am writing this piece on the margins of a crucial negotiation with my country’s creditors — a negotiation the result of which may mark a generation, and even prove a turning point for Europe’s unfolding experiment with monetary union.

Game theorists analyze negotiations as if they were split-a-pie games involving selfish players. Because I spent many years during my previous life as an academic researching game theory, some commentators rushed to presume that as Greece’s new finance minister I was busily devising bluffs, stratagems and outside options, struggling to improve upon a weak hand.

Nothing could be further from the truth.

[...]

As finance minister of a small, fiscally stressed nation lacking its own central bank and seen by many of our partners as a problem debtor, I am convinced that we have one option only: to shun any temptation to treat this pivotal moment as an experiment in strategizing and, instead, to present honestly the facts concerning Greece’s social economy, table our proposals for regrowing Greece, explain why these are in Europe’s interest, and reveal the red lines beyond which logic and duty prevent us from going.

[...]

One may think that this retreat from game theory is motivated by some radical-left agenda. Not so. The major influence here is Immanuel Kant, the German philosopher who taught us that the rational and the free escape the empire of expediency by doing what is right.

BES e o segundo bail-in

Clique para ampliar

A experiência de Chipre repete-se, com cobertura da cleptocracia indígena


O assalto aos clientes do famoso Papel Comercial do BES (clique na imagem para ver bem o que se me afigura ser claramente uma burla) é uma repetição do bail-in executado em Chipre—embora incidindo apenas, neste caso, sobre um dos bancos do sistema (até ver...).

O ex-Banco BES vendeu aos seus clientes Premium, BES 360º (1), uma aplicação a um ano, a que chamou "investimento em papel comercial, E.S.International", com retorno assegurado: "no vencimento capital e juros garantidos").

Ou seja, o elaborado esquema Ponzi do BES atraiu clientes incautos para um empréstimo a que chamou investimento, mas cujo único objetivo foi financiar o já insolvente grupo de interesses da família Espírito Santo.

Ou seja, estamos perante um roubo a clientes bancários para salvar o próprio banco que os rouba.

Mas o mais grave é que este crime está a ter cobertura institucional do banco central indígena, na medida em que aparentemente Carlos Costa aprova a tentativa do chamado Novo Banco de isentar-se das suas responsabilidades, que as tem, uma vez que o ex-BES foi alvo de uma operaçao de resgate, denominada resolução, a qual é, pelo  menos em parte, financiada com dinheiro dos contribuintes.

Falta saber qual é o papel do BCE neste assalto.

Os clientes de Papel Comercial do BES, vítimas deste bail-in por baixo da mesa, devem dirigir-se diretamente ao BCE, e à opinião pública europeia, pois o Banco de Portugal não existe, e a corja partidária está toda comprometida com a insolvente banca portuguesa.

Sobre esta vigarice vale a pena ler o post de Mariana Mortágua, deputada do Bloco de Esquerda e membro da comissão de inquérito ao BES —"E quem comprou obrigações do GES?"

RECOMENDAÇÃO: AFASTE-SE DOS BANCOS!
INVISTA EM OURO E PRATA, TERRA FÉRTIL, CERTIFICADOS DE AFORRO, US TREASURIES, E DÍVIDA PÚBLICA EUROPEIA, E COLOQUE QUANTIAS INFERIORES A 50 MIL EUROS DE PARTE EM DEPÓSITOS A PRAZO. PROPOSTAS MAIS COMPLICADAS DO QUE ESTAS, DA PARTE DO SEU GESTOR DE CONTA, ESQUEÇA!

Miguel Reis: Banco de Portugal está a deformar “grosseiramente a realidade”
Jornal de Negócios. 15 Fevereiro 2015, 21:16 por Lusa

O advogado Miguel Reis, que representa alguns clientes do BES, considera que o Banco de Portugal está a deformar “grosseiramente a realidade” e que a informação veiculada pelo banco central na sexta-feira é uma “operação de branqueamento”.

“...o comunicado do Banco de Portugal “não espanta ninguém e apenas serve para confirmar que [se vive] sob um sistema bancário selvagem, sem qualquer controlo de um regulador responsável”.

“...Miguel Reis destacou que o Banco Espírito Santo (BES) “não vendeu a ninguém títulos de dívida de empresas do GES” e que “não havia dívidas a quem quer que fosse, que o BES tivesse comercializado, comprando a um credor para ceder o crédito a outro”.

De acordo com o advogado, o que aconteceu foi que “o BES celebrou contratos, por força dos quais os seus clientes lhe emprestaram dinheiro, para que ele o emprestasse a empresas do GES”, e “não houve um único caso em que algum administrador de qualquer das empresas do GES tenha negociado o que quer que fosse com as pessoas que emprestaram o dinheiro”.

“Por isso, me parece que esse dinheiro deve ser tratado como todo o outro dinheiro que foi entregue por outras pessoas, nomeadamente por todos os depositantes ao BES”, defendeu Miguel Reis, reiterando que não há “nenhuma diferença” entre estas aplicações e os demais depósitos.”

POST SCRIPTUM—o "banco bom", o chamado Novo Banco que ainda anda à procura de comprador (ao que parece será mais uma empresa estratégica que o governo de Pequim vai comprar!) pagou o papel Comercial emitido pelo ex-BES, mas recusa-se a pagar o Papel Comercial emitido pelo ESI. Mas não é tudo a mesma trampa?

NOTAS
  1. "O serviço para clientes ‘premium' do BES dá pelo nome de BES 360º e assenta no conceito "360º à sua volta". O acesso resulta de uma análise do banco a variáveis como o rendimento, a profissão e o envolvimento financeiro de clientes com recursos a partir dos 35.000 euros. Através do serviço Mapa 360º o gestor indica as melhores opções de investimento mas também o apoia nas principais decisões financeiras, como sejam a aquisição de habitação ou a reforma." — in Económico.

Os limites do otimismo

Clique para ampliar

Não haverá milagre na Grécia, mas destruir as classes médias não é solução


O notável artigo de Michael Pettis, que abordámos em post anterior, dedicado ao pensamento efeverscente e maniqueísta sobre as responsabilidades pelas crises grega, cipriota, portuguesa, espanhola, italiana, e em geral da maioria dos países europeus, demonstrando que o capitalismo global é um sistema de vasos comunicantes onde as crises financeiras tendem a assumir natureza sistémica, exigindo, por esta razão, remédios permanentemente concertados, precisa talvez de uma contextualização económica mais ampla.

Recomendo, por isso, a leitura de um outro artigo recente, não menos notável, de Gail Tverberg, analista de risco, editora do extinto e célebre The Oil Drum, e autora do blogue Our Finite World.

Gail Tverberg considera, como eu e um número crescente de observadores, que nos aproximamos ou estamos já no quadro energético previsto por M. King Hubbert [1956, “Nuclear Energy and the Fossil Fuels”—pdf], conhecido como Pico do Petróleo. Este quadro casa, aliás, com um outro mais recente, traçado em 1972 pela equipa do relatório The Limits to Growth, que analisa os limites do paradigma de crescimento em que ainda vivemos, do qual temos que sair, mas ninguém sabe como.

Clique para ampliar

Os quadros estatísitcos têm vindo a confluir na perceção de que estamos no fim de uma longa era de prosperidade e crescimento explosivo, único na história humana, cujos motores principais foram o carvão mineral, o petróleo e o gás natural, a par de descobertas e invenções tão extraordinárias quando a eletricidade, a energia nuclear, a higiene e o saneamento básico, ou as vacinas e os antibióticos.

Sem energia abundante e barata o paradigma civilizacional em que nascemos e nos habituámos a perceber como natural há três coisas que desaparecerão depois de sucessivas e dolorosas crises:
  • taxas de crescimento demográfico e económico acima dos 2%
  • crescimento baseado na utilização de capital intensivo e em endividamento
  • boa parte da atividade discricionária não produtiva, nomeadamente o consumo conspícuo de massas.

Esta versão inesperada de The Tragedy of the Commons [Garrett Hardin, 1968] parece já estar, de facto, em cena num qualquer smartphone, ou televisão perto de si. O aparente triunfo argumentativo de Yanis Varoufakis face à inércia burocrática de Bruxelas e Berlim, e face ao defensismo atávico do BCE e do sistema financeiro em geral, espelha bem que o problema que temos entre mãos é um daqueles problemas a que Hardin chamou “a no technical solution problem”.

Clique para ampliar

Recomendando desde já a leitura integral do artigo em três partes de Gail Tverberg reproduzi a modo de convite alguns extratos e alguns gráficos esclarecedores. Quem quer que seja que pretenda chegar ao poder, nomeadamente para mtigar a contínua má direção que temos seguido, deverá, antes de mais, ler atentamente os três artigos aqui citados—o de Gail Tverberg, o de Michael Pettis, e o célebre artigo de Garrett Hardin, publicado pela Science em 1968.

Clique para ampliar

A new theory of energy and the economy, Part 1
Generating economic growth
By Gail Tverberg
Posted on January 21, 2015

[...]

What if oil prices are artificially low, on a temporary basis? The catch is that not all costs of oil producing companies can be paid at such low prices. Perhaps the cost of operating oil fields still in existence will be fine, and the day-to-day expenses of extracting Middle Eastern oil can be covered. The parts of the chain that get squeezed first seem to be least essential on a day to day basis–taxes to governments, funds for new exploration, funds for debt repayments, and funds for dividends to policyholders.

Unfortunately, we cannot run the oil business on such a partial system. Businesses need to cover both their direct and indirect costs. Low oil prices create a system ready to crash, as oil production drops and the ability to leverage human labor with cheaper sources of energy decreases. Raising oil prices back to the full required level is likely to be a problem in the future, because oil companies require debt to finance new oil production. (This new production is required to offset declines in existing fields.) With low oil prices–or even with highly variable oil prices–the amount that can be borrowed drops and interest costs rise. This combination makes new investment impossible.

If the rising cost of energy products, due to diminishing returns, tends to eliminate economic growth, how do we work around the problem? In order to produce economic growth, it is necessary to produce goods in such a way that goods become cheaper and cheaper over time, relative to wages. Clearly this has not been happening recently.

The temptation businesses face in trying to produce this effect is to eliminate workers completely–just automate the process. This doesn’t work, because it is workers who need to be able to buy the products. Governments need to become huge, to manage transfer payments to all of the unemployed workers. And who will pay all of these taxes?

The popular answer to our diminishing returns problem is more efficiency, but efficiency rarely adds more than 1% to 2% to economic growth. We have been working hard on efficiency in recent years, but overall economic growth results have not been very good in the US, Europe, and Japan.

Artigo completo


A new theory of energy and the economy, Part 2
Charts showing the long-term GDP-energy tie
By Gail Tverberg
Posted on February 5, 2015

The high oil prices–around $100 per barrel–continued until United States QE was tapered down and stopped in 2014. About the same time, China made changes that made debt more difficult to obtain. Both of these factors, as well as the long-term adverse impact of $100 per barrel oil prices on the economy, brought oil price down to its current level, which is around $50 per barrel (Figure 10). The $50 per barrel price is still very high relative to the cost of oil when our infrastructure was built, but low relative to the current cost of oil production.

[...]

Where Does the World Economy Go From Here?

In Part 1, I described the world’s economy as one that is based on energy. The design of the system is such that the economy can only grow; shrinkage tends to cause collapse. If my view of the situation is correct, then we need an ever-rising amount of  inexpensive energy to keep the system going. We have gone from trying to grow the world economy on oil, to trying to grow the world economy on coal. Both of these approaches have “hit walls”. There are other low-income countries that might increase industrial production, such as in Africa, but they are lacking coal or other cheap fuels to fuel their production.

Now we have practically nowhere to go. Natural gas cannot be scaled up quickly enough, or to large enough quantities. If such a large scale up were done, natural gas would be expensive as well. Part of the high cost is the cost of the change-over in infrastructure, including huge amounts of new natural gas pipeline and new natural gas powered vehicles.

New renewables, such as wind and solar photovoltaic panels, aren’t solutions either. They tend to be high cost when indirect costs, such as the cost of long distance transmission and the cost of mitigating intermittency, are considered. It is hard to create large enough quantities of new renewables: China has been rapidly adding wind capacity, but the impact of these additions can barely can be seen at the top of Figure 14. Without supporting systems, such as roads and electricity transmission lines (which depend on oil), we cannot operate the electric systems that these devices are part of for the long term, either.

We truly live in interesting times.

Artigo completo


A new theory of energy and the economy, Part 3
The Problem of Debt as We Reach Oil Limits
By Gail Tverberg
Posted on February 11, 2015

Many readers have asked me to explain debt. They also wonder, “Why can’t we just cancel debt and start over?” if we are reaching oil limits, and these limits threaten to destabilize the system. To answer these questions, I need to talk about the subject of promises in general, not just what we would call debt.

In some sense, debt and other promises are what hold together our networked economy. Debt and other promises allow division of labor, because each person can “pay” the others in the group for their labor with a promise of some sort, rather than with an immediate payment in goods. The existence of debt allows us to have many convenient forms of payment, such as dollar bills, credit cards, and checks. Indirectly, the many convenient forms of payment allow trade and even international trade.

Each debt, and in fact each promise of any sort, involves two parties. From the point of view of one party, the commitment is to pay a certain amount (or certain amount plus interest). From the point of view of the other party, it is a future benefit–an amount available in a bank account, or a paycheck, or a commitment from a government to pay unemployment benefits. The two parties are in a sense bound together by these commitments, in a way similar to the way atoms are bound together into molecules. We can’t get rid of debt without getting rid of the benefits that debt provides–something that is a huge problem.

There has been much written about past debt bubbles and collapses. The situation we are facing today is different. In the past, the world economy was growing, even if a particular area was reaching limits, such as too much population relative to agricultural land. Even if a local area collapsed, the rest of the world could go on without them. Now, the world economy is much more networked, so a collapse in one area affects other areas as well. There is much more danger of a widespread collapse.

Our economy is built on economic growth. If the amount of goods and services produced each year starts falling, then we have a huge problem. Repaying loans becomes much more difficult.

In fact, in an economic contraction, promises that aren’t debt, such as promises to pay pensions and medical costs of the elderly as part of our taxes, become harder to pay as well. The amount we have left over for discretionary expenditures becomes much less. These pressures tend to push an economy further toward contraction, and make new promises even harder to repay.

[...]

Governments of “advanced” countries now have debt levels that are high by historical standards. If there is another major financial crisis, the plan seems to be to use Cyprus-like bail-ins of banks, instead of bailing out banks using government debt. In a bail-in, bank deposits are exchanged for equity in the failing bank. For example, in Cyprus, 37.5% of deposits in excess of 100,000 euros were converted to Class A shares in the bank.

[...)

The economy, as it exists today, has been made possible by countries working together. With sanctions against Iran and Russia, we are already moving away from this situation. Low oil prices are now putting the economies of oil exporters at risk. As countries try different approaches on interest rates, this adds yet another force, pulling economies apart.

[...]

Conclusion

If the current economic system crashes and it becomes necessary to create a new one, the new system will have to deal with having an ever-smaller amount of goods and services available for a fairly long transition time. This is one chart I have shown in the past of how the growth in energy products, and thus growth in goods and services, might look.

Because of this, the new system will have to be very different from the current one. Most promises will need to be of short duration.  Transfers among people living in a particular area might still be facilitated by a financial system, but it would be hard to have long-term or long-distance contracts. As a result, the new economy will likely need to be much simpler than our current economy. It is doubtful it could include fossil fuels.

Many people ask why we can’t just cancel all debt, and start over again. To do so would probably mean canceling all bank accounts as well. Most of our current jobs would probably disappear. We would probably be without grid electricity and without oil for cars. It would be very difficult to start over from such a situation. We would truly have to start over from scratch.

I have not talked about a distinction between “borrowed funds” and “accumulated equity”. Such a distinction is important in terms of the rate of return investors expect, but it is not as important in a crash situation. Similarly, the difference between stocks, bonds, pension plans, and insurance contracts becomes less important as well. If there are real problems, anything that is not physical ends up in the general category of “paper wealth”.

We cannot count on paper wealth (or for that matter, any wealth) for the long term. Each year, the amount of goods and services the economy can produce is limited by how the economy is performing, given limits we are reaching. If the quantity of these goods and services starts falling rapidly, governments may fail in addition to our problems with debts defaulting. Those holding paper wealth can’t count on getting very much. Workers producing whatever goods and services are actually being produced will likely need to be paid first.

Artigo completo

domingo, fevereiro 15, 2015

Paulo Morais ou Marinho Pinto?

Paulo Morais
De uma foto original de Lucília Monteiro@Expresso

Paulo Morais tem a idade certa para avançar

Ao contrário de Marinho Pinto, não arrasta rabos de palha


Paulo Morais testa novo partido
Expresso, 8:00 Sábado, 14 de fevereiro de 2015

“Paulo Morais começa por responder à defesa: “Estou a preparar qualquer coisa. O quê? Não sei.” Mas rapidamente se liberta e conta ao Expresso que de facto quer ter “uma intervenção política ativa”. O ex-número dois de Rui Rio na câmara do Porto tem uma certeza - quer voltar à política ativa - e um calendário definido: a decisão sobre o quê e como fará terá de ser tomada em breve, “até março”. O timing parece escolhido a pensar nas legislativas, mas Paulo Morais não o confirma.”

Seria bom que Paulo Morais conseguisse congregar à sua volta, numa nova e ampla plataforma democrática, numa Convergência de Ideias e Gerações, os vários movimentos dispersos que se têm vindo a formar contra uma nomenclatura partidária que se deixou corromper pelos corredores parlamentares, governamentais e autárquicos, que criou teias de interesses sórdidos com o poder financeiro incompetente, corrupto e insolvente que assalta as poupanças de quem trabalhou uma vida inteira, em suma, contra quem ainda ocupa os edifícios da democracia fechando-se dentro deles a sete chaves, para benefício próprio e da corte que a acompanha.

O regime que esta elite sem vergonha foi deformando à medida das suas conveniências está hoje à beira do colapso, e só se reformará quando esta mesma elite for expulsa das torres de marfim que não são suas.

Nas próximas eleições não podemos votar uma vez mais nos que criaram a crise.

Ou não votamos, ou votamos em quem for capaz de, entretanto, trazer para a mesa da discussão democrática ideias claras sobre como levantar a canga da dívida que tem vindo a esmagar a nossa economia e as nossas vidas.

Os partidos do Bloco Central, coadjuvados pelo PCP, empurraram Portugal para o lixo, e não apresentaram até agora soluções credíveis para sairmos da escravidão da dívida. Enquanto não expurgarem de si mesmos os ativos tóxicos e a corrupção entranhada, não serão capazes, nem de tirar o país da miséria, nem sequer de participar em soluções que outros proponham aos portugueses e em quem o país confie para as aplicar.

Precisamos de imaginação e coragem para desenhar e adotar um mecanismo inovador de resolução do gravíssimo desequilíbrio das nossas contas públicas, que rejeite de vez o serviço da dívida como canga de uma austeridade sem fim à vista e inaceitável grilhão do crescimento e emprego.

Precisamos, como do pão para a boca, de um compromisso social claro que mantenha e refresque o essencial do estado social, trave a corrupção, desburocratize o estado, acabe com o acosso fiscal contra os mais fracos, e garanta o controlo das contas públicas, a transparência democrática e as condições de um crescimento sustentável.

Precisamos de refundar constitucionalmente a nossa democracia, revendo e simplificando profundamente o nosso texto consensual. E precisamos ainda de expurgar das nossas leis todas as manhas que foram sendo introduzidas, ao longo das últimas décadas, para defesa dos rendeiros, devoristas e corruptos sistémicos do regime.

Os que nos trouxeram até ao desastre, ou que consentiram o desastre, não têm nem moral, nem vontade, nem competência para propor soluções. As suas receitas são conhecidas, velhas e não servem!

Michael Pettis e a crise da dívida europeia

Bismarck e Napoleão III depois da Batalha de Sedan

Plano Varoufakis: trocar a dívida existente por obrigações indexadas ao crescimento (é melhor que nada!)


“Because the major parties have refused to acknowledge the nature of this allocation process, and have turned it into a fight between a creditor Germany, on the one hand, and indebted peripheral European countries on the other, I was able to make in 2010-11 one of the easiest predictions I have ever made in my career — whichever extremist parties, whether of the right or of the left, who first went on the offensive against Germany, the bankers and the currency bureaucrats, I predicted, would surge in electoral popularity and would eventually reformulate the debate”— Michael Pettis.

Se nenhum partido do centro enfrentar a crise das dívidas europeias, nomeadamente em países da zona euro como a Irlanda, Grécia, Espanha, Portugal, Itália e França, a extrema-esquerda, ou a extrema-direita, chegará ao poder com mandato popular para o fazer. Se serão ou não capazes de cumprir a missão, e com que consequências, é algo que iremos começar a perceber ao longo das próximas semanas e meses depois da vitória democrática do Syriza na Grécia. Algo parece já ter perturbado, como nada até agora o fizera, o status quo apodrecido da nomenclatura que mal tem dirigido os destinos económicos, financeiros, sociais e diplomáticos da União Europeia.

Para os que se interessam por estas coisas, o post viral de Michael Pettis(1) sobre o pouco científico jogo de passa culpas entre os credores e os devedores europeus merece uma leitura atenta por parte de quem busque uma resposta ao que parece ser a quadratura do círculo: como resolver as gigantescas dívidas públicas e privadas que começaram a paralisar inúmeros países e economias, sem destruir os devedores, nem os credores?

Para efeitos de simplificação narrativa, os credofres são protagonizados pela Alemanha, e os devedores, pela Espanha. Ao longo do seu longo post Pettis explica como Wolfgang Schaeuble não teve nenhuma razão quando afirmou —logo papagueado pelos nossos infelizes PM e PR— que

“The reasons for Greece’s problems can be attributable only to Greece and not to actors outside the country, and certainly not in Germany.”
O artigo de Pettis recua até à Guerra Franco-Prussiana de 1870-1871, que deu a Bismarck uma grande oportunidade, ao vencer os franceses, de avançar decisivamente para a unificação alemã. A derrota da França, por sua vez, não só acabou com o regime decadente de Napoleão III, não só instaurou a III República francesa, como foi palco de uma das maiores indemnizações de guerra integralmente pagas de que há registo: cinco mil milhões de francos de ouro—23% do PIB francês(2).

O pedido inicial de indemnização teria sido de mil milhões, mas os alemães resolveram aumentar astronomicamente este valor nos termos finais do Tratado de Frankfurt, pretendendo assim colocar a França economicamente de rastos, sem fôlego para perturbar o caminho da jovem nação alemã. Para surpresa de todos, dos mercados, e certamente dos alemães, o prazo imposto para a liquidação da dívida —3 anos— foi antecipado em um ano pelo sucesso de duas emissões de dívida soberana francesa cuja procura largamente superou a oferta.

Mas o mais extraordinário é que o afluxo desta pipa de massa —para usar uma expressão recente de Durão Barroso a propósito do Acordo de Parceria 2014-2020— acabaria por lançar a Alemanha na sua primeira Grande Depressão (1873). Foi neste ano que nasceu o Deutsche Bank, o mesmo que hoje tem uma exposição aos derivados financeiros de 54,7 biliões de euros, quase 20x o PIB alemão, quase 6x o PIB da UE. Se apenas 10% desta exposição acabar em default, quem irá ensopar então um buraco de dívidas equivalente a duas vezes o PIB alemão?

De quem foi a culpa?

Dos franceses que pagaram as indemnizações de guerra, ou da Alemanha que usou o dinheiro como os PIIGS, em parte, desperdiçaram fundos comunitários e investimento estrangeiro em autoestradas para lado nenhum, barragens inúteis, rotundas idiotas e um Mercedes à porta de cada Câmara Municipal, ou ainda férias em praias exóticas, como se não tivessemos mais de 1800 Km de costa marítima?

O post de Michael Pettis vem na linha da sua tese de que as grandes crises de gestão dos défices e das dívidas têm frequentemente, pelo menos na sua fase inicial, causas externas. Neste sentido, quando as mesmas ficam fora de controlo, a melhor saída possível para devedores e credores pode exigir a anulação parcial das dívidas e a reestruturação.

Mas não é isto que o BCE tem vindo a fazer na Eurolândia salvando, desde logo, os bancos da famosa crise sistémica? Não tem havido abatimentos parciais, extensões de prazos e reduções sucessivas de juros nalgumas dívidas públicas? Sim, mas Pettis afirma que a fatura tem sido enviada sobretudo aos trabalhadores e à classe média, com prejuízos graves para um eventual regresso ao crescimento.

Defende, assim, que seria melhor uma ação de reestuturação clara das dívidas, em vez de prolongar as meias medidas, a indecisão, e sobretudo a agonia social que trava o regresso ao crescimento e, desde logo, a confiança dos mercados! 

Aviso final aos portugueses

Nas próximas eleições não podemos votar uma vez mais nos que criaram a crise. Ou não votamos, ou votamos em quem for capaz de, entretanto, trazer para a mesa da discussão democrática ideias claras sobre como levantar a canga da dívida que tem vindo a esmagar a nossa economia e as nossas vidas.

Os partidos do Bloco Central empurraram Portugal para o lixo, e não apresentaram até agora soluções credíveis para sairmos da escravidão da dívida. Enquanto não expurgarem de si mesmos os ativos tóxicos e a corrupção entranhada não serão capazes, nem de tirar o país da miséria para que caminha, nem sequer de participar em soluções que outros proponham aos portugueses e em quem o país confie para as aplicar.

Precisamos de imaginação e coragem para desenhar e adotar um mecanismo novo de resolução da dívida pública portuguesa, que não seja um grilhão inibidor do crescimento e do emprego, mas um compromisso social claro que trave a corrupção e garanta o controlo das contas públicas, a transparência e as condições de um crescimento sustentável.


Toulouse-Lautrec. O Fotógrafo, Place pigeon, 9 (1894)

Syriza and the French indemnity of 1871-73
By Michael Pettis · February 4, 2015
CHINA FINANCIAL MARKETS

“...the current European crisis is boringly similar to nearly every currency and sovereign debt crisis in modern history.
— extratos

[...]

“Except for Greece, in Europe the main political parties on both sides of the political spectrum have until now chosen to maintain the value of the currency and protect the interests of the creditors. It has been the extremist parties, either on the right or the left, who have attacked the currency union and the interests of the creditors. In many cases these parties are extreme nationalists and oppose the existence of the European Union. If they succeed in taking control of the debate, the European experiment will almost certainly collapse, and it will take decades, if ever, for a European union to revive.

But while distortions in the savings rate are at the root of the European crisis, many if not most analysts have failed to understand why. Until now, an awful lot of Europeans have understood the crisis primarily in terms of differences in national character, economic virtue, and as a moral struggle between prudence and irresponsibility. This interpretation is intuitively appealing but it is almost wholly incorrect, and because the cost of saving Europe is debt forgiveness, and Europe must decide if this is a cost worth paying (I think it is), to the extent that the European crisis is seen as a struggle between the prudent countries and the irresponsible countries, it is extremely unlikely that Europeans will be willing to pay the cost. As my regular readers know, I generally refer to the two different groups of creditor and debtor countries as “Germany” and “Spain”, the former for obvious reasons and the latter because I was born and grew up there, and it is the country I know best. I will continue to do so in this blog entry.”

[...]

“It is useful to remember this history when we confront the consequences of Greece’s recent elections. Syriza’s victory in Greece has reignited the name-calling and moralizing that has characterized much of the discussion on peripheral Europe’s unsustainable debt burden. I think it is pretty clear, and obvious to almost everyone, that Greece simply cannot repay its external obligations, and one way or another it is going to receive substantial debt forgiveness. There isn’t even much pretence at this point. This morning financial advisor Mish Shedlock, sent me (as a joke? as a sign of despair?) German newspaper Zeit‘s interview with Yanis Varoufakis entitled “I’m the Finance Minister of a Bankrupt Country”.

Even if the question of who is to “blame”, Greece or Germany, were an important one, the answer would not change the debt dynamics. It would take the equivalent of Ceausescu’s brutal austerity policies in Romania, which were imposed during the 1980s in order for the country fully to repay its external debt, to resolve the Greek debt burden without a write-down. Given that Ceausescu’s policies led directly to the 1989 revolution, which culminated in both Ceausescu and his wife being executed by firing squad, the reluctance in Athens to imitate Romania in the 1980s is probably not surprising.”

[...]

“If the restructuring is well designed, within a year of the restructuring I think we could easily see Greek growth surprise us with its vigor. I was delighted to see that Greece’s new Finance minister agrees. An article in Monday’s Financial Times starts with the claim that “Greece’s radical new government revealed proposals on Monday for ending the confrontation with its creditors by swapping outstanding debt for new growth-linked bonds, running a permanent budget surplus and targeting wealthy tax-evaders.” Today’s Financial Times has an article by Martin Wolf that mentions the benefits of “a growth linked bond”. In The Volatility Machine I spend chapters explaining how to create liability structures that minimize external shocks, align the interests of creditors and citizens, and improve the quality of payments for creditors, and I show why these make a restructuring much more successful for all parties concerned. This is just basic finance theory. Yanis Varoufakis should really take the lead in designing an entirely new form of sovereign debt restructuring, not just for Greece but for the many countries, in Europe and elsewhere, that will soon follow it into default.

Enough people seem to hate or fear Syriza that there will be little attempt to approach Greece’s problems with enough imagination to give either party what it needs, but in fact with the right cooperation, imagination, and intuitive understanding of how balance sheet structures change overall value creation, a Greek debt restructuring could leave both sides far better off than either side might imagine. Of course if done right this matters far more than for just its impact on the Greek economy. While everyone probably agrees that Greece simply cannot proceed without debt forgiveness, less widely agreed, but no less obvious in my opinion, is that there are a number of other European countries that also need debt forgiveness if they are to grow. Because I was born and grew up in Spain, and my French mother founded and ran a successful business there which my family and I still own, I am confident that I know the country well enough to say that even with some impressive reforms having been implemented under Mariano Rajoy, Spain is nonetheless one of these countries. I suspect that many other countries including Portugal, Italy, and maybe even France are too.

I also know, however, that Spanish debt prospects are an extremely sensitive and emotional topic, and I will be roundly condemned for saying this. Today’s Financial Times has a very worrying article explaining why Madrid wants to be seen among the hardliners in opposing a rational treatment for Greece: “when it comes to helping Greece, there will be no such thing as southern solidarity or peripheral patronage.” This is the reverse of what it should be doing. In an article for Politica Exterior in January 2012, I actually proposed, albeit without much hope, that Spain take the lead and organize the debtor countries to negotiate a sustainable agreement, but in its fear of Podemos, the Spanish equivalent of Syriza, and its determination to be one of the “virtuous” countries, it strikes me that Madrid is probably moving in the wrong direction economically. Ultimately, by tying itself even more tightly to the interests of the creditors, Rajoy and his associates are only making the electoral prospects for Podemos all the brighter.”

[...]

“1.  There is no question that a renegotiation of Spanish debt or of its status within the currency union would be accompanied by economic hardship and perhaps even a crisis. But compared to what? The Spanish economy is already in disastrous shape and there is compelling historical evidence that countries suffering under excessive debt burdens can never grow their way out of their debt no matter how radical and forceful the reforms.”

[...]

“Some economists argue the facts on the ground already contradict my pessimism. Last week Madrid announced excitedly that GDP grew by 1.7% last year, its fastest pace in seven years. The Financial Times pointed out that Spain was well-positioned in 2015 to continue to take advantage of lower energy costs, a weaker euro, and a cut in personal and corporate taxes, to which I would add lower metal prices, massive QE, and stronger than expected consumption. But even if these tailwinds are permanent, and they clearly are not, nominal GDP growth is still much lower than the growth in the debt burden. This is as good as it gets, in other words, and it is not good enough. As the debt burden continues to climb, and as social and political frustrations mount, Spain will slide inexorably backwards into the backward-country status it wants so badly to avoid.”

[...]

“Above all this is not a story about nations. Before the crisis German workers were forced to pay to inflate the Spanish bubble by accepting very low wage growth, even as the European economy boomed. After the crisis Spanish workers were forced to absorb the cost of deflating the bubble in the form of soaring unemployment. But the story doesn’t end there. Before the crisis, German and Spanish lenders eagerly sought out Spanish borrowers and offered them unlimited amounts of extremely cheap loans — somewhere in the fine print I suppose the lenders suggested that it would be better if these loans were used to fund only highly productive investments.

But many of them didn’t, and because they didn’t, German and Spanish banks — mainly the German banks who originally exported excess German savings — must take very large losses as these foolish investments, funded by foolish loans, fail to generate the necessary returns. It is no great secret that banking systems resolve losses with the cooperation of their governments by passing them on to middle class savers, either directly, in the form of failed deposits or higher taxes, or indirectly, in the form of financial repression. Both German and Spanish banks must be recapitalized in order that they can eventually recognize the inevitable losses, and this means either many years of artificially boosted profits on the back of middle class savers, or the direct transfer of losses onto the government balance sheets, with German and Spanish household taxpayers covering the debt repayments.”

“I am not rejecting the claim that “Spain” acted irresponsibly, in other words, only to place the blame on “German” irresponsibility. But it is absolutely wrong for Volker Kauder, the parliamentary caucus leader of German Chancellor Angela Merkel’s Christian Democrats, to say, according to an article in last week’s Bloomberg, that “Germany bears no responsibility for what happened in Greece. The new prime minister must recognize that.” There was indeed plenty of irresponsible behavior on both sides, during which time wealth was transferred from workers of both countries to create the boom and to absorb the subsequent bust, and wealth will be transferred again from middle class households of both countries to clean up the resulting debt debacle.”

Put differently, there is no national virtue or national vice here, and there is no reason for the European crisis to devolve into right-wing, nationalist extremism. The financial crisis in Europe, like all financial crises, is ultimately a struggle about how the costs of the adjustment will be allocated, either to workers and middle class savers or to bankers, owners of real and financial assets, and the business elite. Because the major parties have refused to acknowledge the nature of this allocation process, and have turned it into a fight between a creditor Germany, on the one hand, and indebted peripheral European countries on the other, I was able to make in 2010-11 one of the easiest predictions I have ever made in my career — whichever extremist parties, whether of the right or of the left, who first went on the offensive against Germany, the bankers and the currency bureaucrats, I predicted, would surge in electoral popularity and would eventually reformulate the debate.”

[...]

“I think there are several points that those of us who want “Europe” to survive should be making.

1.  The euro crisis is a crisis of Europe, not of European countries. It is not a conflict between Germany and Spain (and I use these two countries to represent every European country on one side or the other of the boom) about who should be deemed irresponsible, and so should absorb the enormous costs of nearly a decade of mismanagement. There was plenty of irresponsible behavior in every country, and it is absurd to think that if German and Spanish banks were pouring nearly unlimited amounts of money into countries at extremely low or even negative real interest rates, especially once these initial inflows had set off stock market and real estate booms, that there was any chance that these countries would not respond in the way every country in history, including Germany in the 1870s and in the 1920s, had responded under similar conditions.

2.  The “losers” in this system have been German and Spanish workers, until now, and German and Spanish middle class savers and taxpayers in the future as European banks are directly or indirectly bailed out. The winners have been banks, owners of assets, and business owners, mainly in Germany, whose profits were much higher during the last decade than they could possibly have been otherwise

3.  In fact, the current European crisis is boringly similar to nearly every currency and sovereign debt crisis in modern history, in that it pits the interests of workers and small producers against the interests of bankers. The former want higher wages and rapid economic growth. The latter want to protect the value of the currency and the sanctity of debt.

4.  I am not smart enough to say with any confidence that one side or the other is right. There have been cases in history in which the bankers were probably right, and cases in which the workers were probably right. I can say, however, that the historical precedents suggest two very obvious things. First, as long as Spain suffers from its current debt burden, it does not matter how intelligently and forcefully it implements economic reforms. It will not be able to grow out of its debt burden and must choose between two paths. One path involves many, many more years of economic hell, as ordinary households are slowly forced to absorb the costs of debt — sometimes explicitly but usually implicitly in the form of financial repression, unemployment, and debt monetization.  The other path is a swift resolution of the debt as it is restructured and partially forgiven in a disruptive but short process, after which growth will return and almost certainly with vigor

5.  Second, it is the responsibility of the leading centrist parties to recognize the options explicitly. If they do not, extremist parties either of the right or the left will take control of the debate, and convert what is a conflict between different economic sectors into a nationalist conflict or a class conflict. If the former win, it will spell the end of the grand European experiment.”

NOTAS
  1. Michael Pettis é o autor dum famoso livro publicado em 2001 —The Volatility Machine: Emerging Economics and the Threat of Financial Collapse— onde pela primeira vez se procura demonstrar, a propósito das crises de endividamento ocorridas na Argentina, países asiáticos emergentes, Rússia, e em geral desde 1820, que a perda de controlo sobre a gestão das dívidas soberanas tem tido uma origem sobretudo externa.
  2. Para termos um termo de comparação que dá bem a ideia das enormidades cometidas pelo nosso, muito indígena, Bloco Central da Corrupção, as responsabilidades contraídas pelo estado português nos 120 contratos de Parcerias Público Privadas representam 35% do PIB. Parte dos 23% do PIB francês que voram para a jovem Alemanha regressariam sob a forma de investimento alemão, e muito dinheiro gasto no futuro Quartier Pigalle! Ou seja, o Capitalismo estava numa fase explosiva de crescimento, e as dívidas eram uma forma expedita de crescer rapidamente. Pelo contrário, quando Portugal se lançou na corrida do endividamento comunitário, os tempos já eram de fim de festa. Cada euro acrescentado à dívida pública e privada portuguesa seria um grilhão mais na cadeia que nos puxa cada vez o mais para o fundo do buraco.
Atualização: 15-02-2015 21:05 WET


Se gostou do que leu apoie a continuidade deste blogue com uma pequena doação