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quarta-feira, setembro 19, 2012

Em nome de Keynes?

Fausto de Goethe, no filme dirigido por F.W. Murnau: "Faust - Eine deutsche Volkssage", Alemanha, 1926.

Dos Quatro Cavaleiros do Apocalipse Financeiro a uma Europa reforçada, e a tentação de Fausto

Beijing hints at bond attack on Japan
A senior advisor to the Chinese government has called for an attack on the Japanese bond market to precipitate a funding crisis and bring the country to its knees, unless Tokyo reverses its decision to nationalise the disputed Senkaku/Diaoyu islands in the East China Sea.

By Ambrose Evans-Pritchard. The Telegraph, 8:31PM BST 18 Sep 2012
Debt crisis: central bank action is work of the devil, says Germany's Jens Weidmann
Jens Weidmann said that efforts by central banks to pump money into the economy reminded him of the scene in Faust, when the devil Mephistopheles, “disguised as a fool”, convinces an emperor to issue large amounts of paper money. In Goethe’s classic, the money printing solves the kingdom’s financial problems but the tale ends badly with rampant inflation.

By Louise Armitstead, Chief Business Correspondent. Telegraph, 5:56PM BST 18 Sep 2012

O QUE MUDOU NAS ÚLTIMAS SEMANAS NA EUROPA... E EM PORTUGAL

BCE mais forte, mutualização parcial dos riscos soberanos sistémicos, maior coerência comunitária nas políticas fiscais e orçamentais e correspondente reforço dos mecanismos de supervisão e aprovação sucessiva, atuações de tipo keynesiano à escala europeia (ex: rede de mobilidade sustentável para pessoas e mercadorias, com prioridade já assumida pela ferrovia europeia interoperável e pelo transporte marítimo e fluvial) e ainda, criação dos primeiros corpos e comando estratégico de uma defesa militar europeia comum, agora que a América se afasta inexoravelmente do Reino Unido —nomeadamente pelo escândalo sem precedentes associado às falcatruas da City Londrina nas chamadas operações de "re-hypothecation"— e do resto da Europa, deixando a NATO num limbo de ineficácia crescente.

Consequência: não há mais lugar para a dupla Passos Coelho-Vítor Gaspar, nem para Paulo Portas. Ou seja, é necessário formar e dar posse a outro governo PSD-CDS.

Mário Soares tem a intuição certa sobre a presente crise governamental ao sugerir uma mudança de governo. O Presidente da República pode e deve promover a metamorfose da coligação.

 A AUSTERIDADE EUROPEIA E A TENTAÇÃO DE KEYNES

Custo da austeridade nos vários países europeus onde programas explícitos de austeridade constam das propostas para os orçamentos públicos para 2012 — segundo a AFP, baseada em cifras do Eurostat, Insee e OCDE. Clicar na quadro para ampliar. Ver mapa.

A expansão da massa monetária, do aparelho de estado, do emprego não produtivo, e sobretudo do paternalismo governamental, com base em investimentos públicos suportados por cargas fiscais crescentes e saldos orçamentais e das balanças de capital e de pagamentos negativos, não é uma agenda que John Maynard Keynes (1883-1946) pudesse subscrever inteiramente, na medida em que Keynes encarou o cenário da intervenção do Estado em países onde o potencial produtivo e de exportações e a dimensão interna das economias são suficientes para gerar a riqueza e a poupança necessárias à superação das depressões e recessões que ciclicamente ocorrem, nomeadamente por efeito da inovação tecnológica e das assimetrias de preços dos bens e serviços que circulam através do comércio mundial.

Acresce que a estes dois factores de desequilíbrio verificados ao longo das últimas duas décadas, fruto de uma fuga em frente face aos efeitos do abandono progressivo da produção industrial e consequente destruição de empregos produtivos, a par da perda de competitividade e desvalorização do emprego associado a uma massa crescente de desempregados de longa duração e empregos burocráticos, tanto nos EUA como na Europa, levou-se a cabo um processo selvagem de globalização comercial e financeira destinado sobretudo a obter, pela via da especulação financeira e da sobre-exploração do trabalho global, uma compensação pelos rendimentos decrescentes nas sociedades ricas e desenvolvidas, mas onde o instalado círculo vicioso do bem estar social, do consumismo desmiolado e da suposta educação permanente acabaria por empurrar-nos para uma situação de debilidade estrutural silenciosa, mas a longo prazo fatal.

A liquidez dos Estados Unidos e da Europa é uma liquidez cada vez mais rarefeita que os emergentes “criadores de riqueza” tendem a descontar nas suas transacções comerciais, usando a enorme acumulação de dólares, de euros, mas também de outras divisas (rublos, pesos argentinos, ienes…), a par do ouro, para adquirir ativos mais sólidos e recursos futuros, nomeadamente, direitos de exploração no campo da energia, dos transportes e dos recursos naturais, com especial destaque para os alimentares. Basta olhar para as compras externas da China, sobretudo na América do Sul e África, mas também já na Europa e nos Estados Unidos, para avaliarmos o alcance potencialmente destrutivo dos desequilíbrios mundiais, que não param de crescer.

Uma agenda keynesiana não é possível no quadro da globalização em curso, na medida em que esta é uma globalização assimétrica: os países ricos e desenvolvidos empobrecem pela via da destruição das suas classes médias, da destruição de milhões de empregos e pela redução abrupta do consumo, alimentado durante décadas por vantagens financeiras e monetárias especulativas, enquanto os ditos países emergentes, ao mesmo tempo que superam atrasos económicos, sociais e tecnológicos de décadas, sugam, por assim dizer, uma a uma, décadas, se não séculos, de acumulação de riqueza ocidental, comprometendo a viabilidade dos mercados de trabalho na Europa, nos Estados Unidos e até já nos próprios países emergentes —pela  mesma via tecnológica que eliminou milhões de postos de trabalho nos EUA e na Europa ao longo dos últimos quarenta anos, substituindo-os por uma nova massa assalariada com direitos sociais decrescentes, a que já se convencionou chamar precariado!

Está em curso, pois, uma tentativa inédita de levar as ideias de Keynes à economia global — mas com resultados que são opostos aos esperados!

Os exercícios em curso nos EUA e na União Europeia vão neste sentido, mas a sua originalidade é suicida. A liquidez gerada perde-se no buraco negro dos derivados financeiros especulativos (OTC), não chegando à economia, ao mesmo tempo que deixa os bancos em quarentena, coloca as empresas em situação cada vez mais complicada, e lança no desemprego vagas sucessivas de milhões de pessoas.

Assim, os países que foram caindo na armadilha do endividamento estão a ser tratados, por exemplo, no interior da União Europeia, não como partes efectivas de economias regionais com uma só moeda, mas como países estrangeiros! Desta forma, o nó que aperta hoje as economias grega, espanhola, irlandesa e portuguesa de forma intolerável é o oposto de uma receita keynesiana.

Os Estados Unidos acabam de anunciar o seu terceiro programa de expansão monetária (Quantitative Easing 3). A União Europeia, se quiser manter o euro, parece também não ter outra alternativa diversa desta espécie de redução do peso do endividamento pela via da inflação geral dos preços subsequente a uma tal forma de desvalorização da moeda. Vai pois pelo mesmo caminho dilemático.

O prolongamento das metas dos Memoranda da Troika, na Grécia, como em Portugal, assim como as facilidades mitigadas dadas até agora à Espanha, vão neste mesmo sentido.

O FMI e os Quatro Cavaleiros do Apocalipse Financeiro (JP Morgan, Bank of America, Citi, Goldman Sachs) apostam nesta forma de keynesianismo puramente financeiro, pretendendo assim reduzir administrativamente o valor das dívidas americana e europeia (haircut at large) aos credores e fornecedores internacionais, ao mesmo tempo que acreditam ser capazes de tapar com sucessivos maremotos de massa monetária o buraco negro dos Derivados. Veremos se o capitalismo de estado americano é mesmo keynesiano, ou apenas um estratagema destinado a salvar os Quatro Cavaleiros do Apocalipse residentes em Wall Street.

Quanto à União Europeia, terá que conseguir a quadratura do círculo, ou morrer na praia.

Ou seja, à medida que for forçada pelas circunstâncias a embarcar num programa keynesiano de expansão da massa monetária destinada a diminuir o peso das dívidas soberanas no interior da União, ou é ao mesmo capaz de implementar mecanismos de convergência orçamental, fiscal e de supervisão favoráveis a uma maior coerência económica, institucional e financeira em todo o espaço comunitário — ou o baralho do Euro ruirá com enorme estrondo.

PORTUGAL

Basta olhar atentamente para o quadro de austeridade europeia acima publicado [clicar na imagem para ampliar] para intuir a dor e o caos político e social que temos pela frente. Se não erguermos desde já barreiras de contenção ao terrorismo fiscal em curso, e que promete aumentar de intensidade, se não trabalharmos com coragem na emenda do regime degenerado que deixámos crescer à nossa volta como um campo de ervas daninhas, espera-nos o desastre — pela certa!

Mas também, sem um empurrão de fora, dificilmente conseguiremos derrotar os cleptocratas, os monopólios, as corporações e as burocracias privilegiadas pela captura que há muito realizaram do degenerado regime democrático que temos.

A reforma do nosso regime constitucional, absolutamente necessária e inadiável, exige sinais claros vindos de Bruxelas e de Frankfurt — para que o povo, as classes médias e uma parte das elites que não pertence à cleptocracia, possam reunir esforços suficientes para mudar de hábitos e de vida.

Precisamos de UMA NOVA CONSTITUINTE,  de OUTRA CONSTITUIÇÃO e de uma QUARTA REPÚBLICA !

domingo, setembro 16, 2012

Outro regime, por favor!


Não será ele, mas não os trava. Porquê?


Que se lixe a Troika, ou que se lixe esta Democracia?

Que se lixe a Troika. Queremos as nossas vidas. Manif 15 de setembro
(2012)

Portugal veio à rua: centenas de milhar de pessoas de todos os partidos, sem partido, crianças, jovens, adultos empobrecidos e ameaçados pelo desemprego, desempregados, doentes e reformados.

A manifestação, que partiu da iniciativa de uma jovem socióloga de 31 anos, Magda Alves, decorreu pacificamente, apesar de dois incidentes poderem ter degenerado numa radicalização súbita e incontrolável dos acontecimentos. Refiro-me à tentativa frustrada de imolação pelo fogo de um jovem de vinte e poucos anos, e aos empurrões junto à escadaria da Assembleia da República.

A manif não foi controlada por nenhum partido político, apesar dos oportunistas do costume terem aproveitado os microfones e as câmaras de televisão, sempre à sua disposição, para tentarem retirar alguns trunfos. Os pobres diabos do Bloco e do PCP não percebem que os portugueses sabem demasiado bem que os votos nos partidos parlamentares têm sido papeis deitados ao lixo. E não percebem que um regime que chegou ao grau de corrupção, oportunismo, populismo e incompetência em que o nosso está, não lhe resta outra alternativa que não seja uma mudança estrutural.

Precisamos de convocar UMA NOVA CONSTITUINTE, precisamos de OUTRA CONSTITUIÇÃO, e queremos UMA DEMOCRACIA INCLUSIVA, TRANSPARENTE e PARTICIPATIVA.

Isto já lá não vai com as eleições do costume, pois estas estão totalmente viciadas por dentro.

Só o ritual e a contagem de votos (com a abstenção sempre a subir) é que ainda exibe a aparência de democracia. Depois de cada festa eleitoral tudo regressa ao mesmo, ou seja, a uma democracia formal capturada pelo Bloco Central da Corrupção (PS-PSD-CDS_PP), de que nem o PCP, nem o Bloco, escapam, com a agravante de se contentarem com as migalhas do poder, que recebem em troca da legitimação diária do regime que promovem apesar da retórica e dos protestos invariavelmente vagos, oportunistas e populistas.

Também não serão manifestações anónimas que levarão Portugal para uma saída do buraco para onde foi empurrado. Estas arruadas são importantes para avaliar o estado da irritação do país, mas se não desaguarem numa mudança democrática do regime, acabarão por redundar em desânimo agravado, ou pior ainda, no seu aproveitamento oportunista e desvio para fins inconfessáveis, não só pelos partidos do costume, mas mesmo por forças que trabalham na sombra, embora com a ajuda das agências de comunicação.

Não tenho dúvidas de que esta manifestação, para lá da sua grande importância enquanto barómetro da irritação popular, está neste preciso momento a ser aproveitada pelas mesmas forças que destruíram o país. As sombras deste regime corrupto quererão neste momento aproveitar o protesto para forçar o desajeitado PM a remodelar o governo, com o único fito de afastar os responsáveis pelas pastas da saúde, da educação, e da economia, energia e transportes.

A despesa do Estado continua incontrolável. O resultado do descontrolo imparável da dívida pública será o inevitável empobrecimento da população e a destruição da classe média. Para inverter esta rampa para o suicídio social, é urgente reformar o Estado, ou seja, é preciso neutralizar imediatamente os milhares de carraças de origem partidária e financeira que sugam o suor e sangue do país, usando para tal o discurso piedoso sobre os direitos constitucionais.

Sem começar por aqui, a balbúrdia e o ruído aumentarão de volume, os oportunistas ganharão mais do que nunca, pois terão mais e mais vítimas moribundas a quem extrair o emprego, a casa, as alianças, o pão, o sono e, finalmente, a vida. Tudo é fonte de rendimento especulativo para quem já capturou a democracia e o país.

Como me recordava um amigo brasileiro este fim-de-semana, “cachorro que come ovelha, só morto se endireita.”


Esta é uma das patas do Polvo que destruiu Portugal


Manif de 15 de setembro na imprensa nacional e internacional

José Gomes Ferreira: Contra a TSU, pela austeridade
SIC-N

Portugal Hit by Protests Against Austerity Measures
The Wall Street Journal

Thousands Protest Austerity Measures in Spain and Portugal
The New York Times

Spain and Portugal see big anti-austerity rallies
BBC News Europe

Thousands Of Protesters Across Europe Demonstrate What Europe's Next Crisis Will Be
Business Insider

terça-feira, setembro 11, 2012

Pagar dívidas :(

Júlio Pomar — Almoço do Trolha (1946-50)

Não há almoços grátis, ou o almoço do trolha

“O comunicado da troika deixa ainda claro que a flexibilização da meta do défice agora acordada – e que concede mais um ano a Portugal para repor o défice abaixo do limite de 3% do PIB – terá de ser internamente compensada, por mais medidas de austeridade e/ou maior capacidade de captação de recursos nos mercados financeiros.”

in Jornal de Negócios, 11 set 2012, 17:30

Troika dá mais tempo para pagarmos as dívidas — ou melhor, aceita uma mudança de calendário nos pontos intermédios que deverão assinalar a redução do défice. Mas exige, naturalmente, mais dinheiro fora do bolso dos contribuintes, pois o serviço da dívida, com mais tempo, fica obviamente mais caro!

Só os imbecis populistas do PS, PCP e Bloco não entendem, ou fingem não entender, esta verdade elementar.

O preço do desemprego, do atavismo e excesso de burocracia, dos bancos que especulam, das corporações que pressionam e do populismo é demasiado alto e acabará por destruir o país se não soubermos ver a tempo as reais causas de mais esta insolvência coletiva, e sobretudo se não tivermos coragem para fazer a inevitável reforma do regime constitucional que há muito deixou de servir.

Poupar nas despesas do Estado não é diminuir a contratação dos prestadores de serviços e dos trabalhadores independentes, que até podem ser essenciais nalguns projetos, mas sim reformar o Estado, redesenhando com urgência as orgânicas dos ministérios —extinguindo direções-gerais, serviços e divisões—, mas também ajustando o mapa autárquico às necessidades reais das populações, e não aos interesses partidários instalados —extinguir municípios, sim senhor; extinguir freguesia urbanas, sim senhor; extinguir freguesias rurais, não senhor!

Nós estamos em guerra contra o endividamento excessivo, e em tempo de guerra, não se limpam armas, faz-se!


ÚLTIMA HORA

Medidas conhecidas até ao momento (Jornal de Negócios)


Última atualização: 11 nov 2012, 22:18

segunda-feira, setembro 10, 2012

Revolta na JSD!

Poster do XXXI Congresso do PSD publicado pela secção de V-F- Xira

JSD não tem que aturar a parelha Coelho-Relvas
Mas deve seguir ideias do Álvaro! O Gaspar é cobarde :(

JSD exige medidas de corte na despesa e sugere imposto para empresas com rendas excessivas

Lusa/ Jornal de Negócios, 10 set 2012, 08:00

    "Num comunicado enviado à agência Lusa, a organização de juventude presidida por Duarte Marques reagiu às medidas de austeridade anunciadas na sexta-feira pelo primeiro-ministro, Pedro Passos Coelho, apresentando "um conjunto de propostas complementares que imprimam maior equidade na distribuição dos sacrifícios".

    "Exigimos ao Governo e ao nosso primeiro-ministro a tomada de medidas de corte na despesa pública que permitam conferir equidade entre os sacrifícios pedidos aos portugueses e os efectuados no emagrecimento do Estado", afirmam os jovens sociais-democratas, acrescentando que "o primeiro-ministro tem aqui a oportunidade, e a obrigação, de neste momento de especial dificuldade fazer opções claras no papel e funções do Estado".

    A JSD contesta "mais cortes na saúde e na educação" 
[Sim, mas para salvar estes bens públicos é mesmo preciso levar a cabo uma "destruição criativa" no SNS e no sistema educativo, acabando com a inércia corporativa, com a gestão danosa, com o desperdício escandaloso e com a corrupção — OAM]

, mas defende que "é tempo de optar por cortes em sectores como, por exemplo, as Forças Armadas", que totalizem uma poupança equivalente à receita resultante do aumento das contribuições dos trabalhadores para a Segurança Social

[Que tal o modelo suíço, e menos missões NATO? — OAM]

    Em primeiro lugar, a JSD propõe a "renegociação das parcerias público-privadas rodoviárias de forma determinada e irreversível com a possibilidade, no limite, de criação de um imposto extraordinário para as empresas beneficiadas por rendas excessivas nos sectores da energia, imobiliário com arrendamentos de instalações e concessões rodoviárias"

[APOIADO! Há uma regra a adoptar de imediato: nenhuma rendibilidade, nomeadamente extraída por oportunismo especulativo à conta da queda do chamado rating da República pode estar acima dos 6% (atualmente têm rentabilidades gatunas de até 17% !!!) PONTO FINAL a tais lucros excessivos, denunciados em primeira mão pela própria Troika Se refilarem, quem refilar, bancos, empresas e empresários —estilo Florentino Perez —, passam imediatamente para o limbo das empresas mal vistas pelo estado português — OAM]

    A concessão de alguns serviços administrativos, a fusão de todas as empresas públicas de transportes, a extinção e retirada de benefícios fiscais a uma parte das fundações e a eliminação de empresas públicas são outras medidas sugeridas pela JSD, que propõe ainda a construção de um Orçamento do Estado de base zero para 2015.

[APOIADO ! E como coisa que vos convenha, ponham os barões, os licenciados de Abranhos e as baronetas do vosso partido na ordem, e leiam/discutam WHY NATIONS FAIL, de Daron Acemoglu e James A. Robinson — OAM]

REVOLTA ALASTRA À MASSA CINZENTA DO PSD
“Alexandre Relvas arrasa o Governo e pede a Passos Coelho que repense as medidas anunciadas na passada sexta-feira.

Em entrevista à Rádio Renascença, o ex-dirigente do PSD condena o que chama de experimentalismo a mando da “troika”. “É inaceitável sujeitar o país ao experimentalismo social - isto é fazer experiências com a economia nacional - a mando da ‘troika’ o que se traduz num profundo desrespeito pelos portugueses. É também preocupante o impacto destas decisões em termos sociais”, alerta.”

in Negócios, 10 set 2012 09:16


Última atualização: 10 set 2012, 13:50

sexta-feira, setembro 07, 2012

Outro passo, por favor

TOYZE — "Républica" (2012). Para O António Maria
©TOYZE & OAM

Dividir para governar

O senhor dos Passos falou, falou, falou, falou, falou, e falou, para dizer isto:

  • O aumento das contribuições para a Previdência Social a pagar pelos trabalhadores dos setores público e privado passará de 11% para 18%. Ou seja, daqui em diante passaremos a receber 13 e não 14 salários por ano. Um dia virá (digo eu) em que não dará se não para 12 cheques, e com mais descontos :(
  • A diminuição das contribuições patronais para a mesma Previdência Social, passará de 23,75% para 18%, em nome da competitividade, e até da sobrevivência de muitas empresas.
  • E foi tudo!

A primeira coisa a fazer é acabar com o inútil, como se vê, Tribunal Constitucional.

Depois, talvez seja o momento de os portugueses começarem a perguntar para que servem a RTP, centenas de fundações, observatórios e serviços públicos onde ninguém chega antes das 10 da manhã, aliás para fazer coisa nenhuma, e, por fim, de onde vem o dinheiro. De onde vem a porra do dinheiro?

Quando fizerem estas perguntas, e obtiverem algumas respostas, então sim, vão começar a perceber que este regime, além de corrupto, está falido e ameaça conduzir à miséria e ao desânimo 99,9% dos que vivem nesta praia à beira-mar plantada :(

Caso alguém ainda desconheça —seguramente que o inSeguro da tríade cor-de-rosa do PS desconhece— aqui fica um esclarecimento: o Império e a Europa dos subsídios acabaram :(

Mas para caminharmos com passos certos —e não com o testa de ferro que os bancos colocaram à frente do governo (com o nosso voto ingénuo)— para uma saída realista do buraco onde caímos, vai ser preciso arrumar este regime constitucional, criando outro, com outra Constituição, simples, sensata e p'ra valer, onde fique claro que democracia, liberdade, justiça e desenvolvimento só são compagináveis se acabarmos de vez com os monopólios e com os grupos de interesses encostados ao Estado, que vivem de rendas, mal trabalham, e apostam tudo no atraso do país.

Sem instituições transparentes, responsáveis, respeitadas e inclusivas não nos resta outro caminho que a perda total da nossa soberania, precedida de uma ou duas décadas de empobrecimento crescente, balbúrdia política e um crescente atropelo das regras institucionais de uma democracia assente no Direito.

POR UMA NOVA CONSTITUINTE!
POR UMA NOVA CONSTITUIÇÃO!
POR UMA NOVA REPÚBLICA!


Post scriptum

Más notícias :(

É um artigo técnico, mas legível. E a conclusão é esta: a partir dum certo nível de endividamento (que Portugal já atingiu, graças ao Pinóquio, ao demo populismo partidário instalado e aos cleptocratas), mais dívida, ainda que de curto prazo (2-3 anos) é incapaz de fazer crescer a economia. Pior: é incapaz de travar a espiral do serviço da dívida, a menos que alguém, que não o devedor, pague o calote :(

É por estas e outras que o senhor Cavaco é um keynesiano de aldeia!

E é por esta espécie de esgotamento estrutural do nosso modelo de falso crescimento, que apenas temos uma saída, dolorosa:

— austeridade + reforma radical do regime e do Estado; o que só com uma NOVA CONSTITUIÇÃO DEMOCRATA será possível fazer.

Analyze this: The Fed is not printing enough money!

Lighthouse Investment Management, 7 set 2012

“...you can add as much debt as you want, and it still won’t give you any additional GDP.

To repeat: no amount of additional debt seems to be able to get economic growth going again.

That is a dramatic revelation. We might have reached the maximum debt-bearing capability of the economy. If true, no growth is possible unless debt-to-GDP levels fell back to sustainable levels (in order to restart the debt cycle). This could take years.

At this point, the only way to reset the debt cycle is to get rid of debt.

Ray Dalio correctly describes the three options available:

1. Austerity: this would be painful and take quite some time (the Europeans are going down this path)

2. Restructuring: requires write-downs and losses for bond investors (which are not being allowed to happen for fear of systemic risk)

3. Printing money: Inflation. Better yet: hyper-inflation. You have to destroy the value of debt fast enough before debt service costs, due to rising interest rates, drive the government into insolvency.

In the US, (1) and (2) are not happening. That leaves (3).

As shown above, the amounts needed for the Fed to be able to create inflation are much, much higher than what we have seen so far. And it is not guaranteed to work. Destroying the trust in the value of a fiat currency is a dangerous experiment with mostly adverse consequences.”

Última hora!

Privados podem afinal perder até dois salários líquidos, Função Pública perde até três (act3)

Negócios fez as contas e apurou: afinal os trabalhadores vão enfrentar um corte no salário que levam para casa que pode chegar aos 14%, ou seja, o equivalente em termos líquidos ao subsídio de férias e de Natal. Os funcionários públicos ainda ficam pior, podem perder até três. Efeitos que o primeiro-ministro omitiu na sua intervenção. Veja as simulações. A chave é o aumento da contribuição incidir sobre o salário bruto e ser retirado ao líquido

[...]

Salário mensal de 1000 euros brutos
A perda de rendimento líquido ultrapassa o equivalente a um salário líquido logo a partir dos mil euros de salário bruto, o que atinge pessoas que levam para casa, neste momento, cerca de 800 euros. Neste caso passa a receber 730 euros, mantendo-se as actuais taxas de IRS, o que corresponde a um corte de 8,8%.

Salário mensal de 2000 euros brutos já perde mais de um salário e meio
Com este salário já se perde mais do que um subsídio e meio, em termos líquidos. Quem está a receber cerca de 1400 euros (ou seja, ganha cerca de dois mil euros brutos), vai deixar de receber 10% do seu rendimento mensal o que corresponde a perder mais de um salário e meio em termos anuais.

Salário mensal de 3000 euros brutos perde 10,9%
Um salário bruto de três mil euros para um casal com dois titulares e dois dependentes verá o seu rendimento líquido mensal cortado em 10,9% - perda mensal de 210 euros por aumento da taxa social única -, o que corresponde, em termos anuais, a cortar 1,7 subsídios. A perda anual é de 2.940 euros.

A partir dos 7 mil euros brutos, desaparecem dois salários
A redução no rendimento que se leva para casa atinge os 14%, ou seja, o equivalente aos dois subsídios, de férias e de Natal, a partir de salários brutos de sete mil euros ou líquidos da ordem dos 3.900 euros.

in Jornal de negócios, 8 set 2012 | 19:13


Atualização: 9 set 2012 17:13

quarta-feira, junho 13, 2012

Proibir as greves egoístas

Santa Apolónia, Lisboa. ©Foto: Lusa

Numa democracia em estado de austeridade, e enquanto durar este estado de emergência social, o direito à greve deve ser suspenso em todos os serviços públicos

Luís Bravo, dirigente do Sindicato Ferroviário da Revisão Comercial e Itinerante, uma das estruturas que convocaram a paralisação, disse à agência Lusa que a circulação de comboios nas linhas de Cascais, Sintra e Azambuja começou paulatinamente a parar a partir das 21 horas, deixando-se de fazer totalmente pouco depois das 23 — in Diário de Notícias.

A greve da CP que ontem e hoje deixou milhares de pessoas que festejaram o Santo António a dormir na calçada, bem como o plano de greves em curso nesta sobre endividada empresa do Estado, e em geral as interrupções de serviços públicos que têm vindo a ter lugar, são agendadas com o objetivo claro de ferir os mais débeis e os mais fracos da nossa sociedade.

A CP só não foi ainda declarada empresa falida e insolvente porque é uma empresa do Estado. Na realidade, os seus funcionários gozam de regalias e remunerações que lhe permitem um estilo de vida bem acima de quem trabalha em empresas privadas, tendo a democracia populista que temos levado ao extremo o paternalismo e as vantagens económicas tipicamente fascistas que o Estado Novo concedia, em troca de apoio político, claro, a quem dele dependia.

Hoje, face ao colapso evidente e irreversível do estado português, só há uma saída para a CP: privatizar imediatamente os serviços que mal presta e a preços caríssimos — pois além do preço que se paga pelos bilhetes e passes, há ainda que somar a ineficiência gritante do serviço, os dias de greve e, mais grave ainda, o seu gigantesco e criminoso passivo. Tudo isto deve ser contabilizado no preço final que pagamos pelo dito transporte público.

Está pois na altura de declarar o ESTADO DE EMERGÊNCIA SOCIAL nesta democracia populista insolvente. Faz-se em tempo de guerra, mas pode e deve fazer-se também em tempo de paz, proibindo todas as greves dos serviços públicos enquanto durar a brutal austeridade em curso. 

Se os deputados passassem a andar de transporte público, incluindo os do PCP e os do Bloco, perceberiam do que estou a falar!


POST SCRIPTUM

I. Em vez de uma proibição o ideal seria que houvesse uma negociação entre o estado-patrão e os sindicatos da função e das empresas públicas sobre um status quo temporário, onde fossem contempladas garantias profissionais e sociais mínimas aos funcionários, agentes e trabalhadores, e por outro lado estes últimos se comprometessem a uma auto-limitação no uso do direito à greve durante o período de grave austeridade e dificuldades financeiras do país. Este período de auto-limitação de direitos poderia ter uma duração modular de seis meses, ao fim dos quais, as partes se sentariam de novo à mesa de negociações para regressar ao status quo ante, ou prolongar o período de auto-limitação por mais seis meses. Na impossibilidade de chegar a bom porto, ou de sequer iniciar conversações para este fim, mantendo-se as ações de greve com a intensidade atual, o governo deveria promover um Referendo nacional sobre esta limitação temporária de direitos. A pergunta seria muito simples: 
  • ESTÁ DE ACORDO COM A SUSPENSÃO TEMPORÁRIA DO DIREITO À GREVE DOS FUNCIONÁRIOS PÚBLICOS, AGENTES DO ESTADO E TRABALHADORES DE EMPRESAS PÚBLICAS ENQUANTO DURAR O PERÍODO EXCECIONAL DE AUSTERIDADE E DIFICULDADES FINANCEIRAS QUE PORTUGAL ATRAVESSA NESTE MOMENTO?
    • SIM
    • NÃO 
II. E já agora: por que motivo o Governo não tem exigido o cumprimento dos serviços mínimos durante as recentes greves das empresas públicas?  Será porque não lhe interessa ?  Ou porque desconhece ?  Ou porque há responsáveis governamentais coniventes com este tipo de sindicalismo neo-corporativo ? 

No caso do Metro, foram invocadas "razões de segurança" para não serem exigidos os serviços mínimos.  Mas quem é que terá permitido que a definição de "serviços mínimos" resultasse de um conluio entre os sindicatos e as administrações das empresas públicas, tendo por únicos prejudicados o utente (que em geral não anda de carro o dia todo) e a dívida pública ? 

Última atualização: 13 jun 2012 15:50

terça-feira, junho 12, 2012

Criminosos até quando?

George Grosz — “Eclipse do Sol”, 1926

 Perdoar os devedores, e não os especuladores!

A crise é bancária. Metastizou-se em crise soberana. E ambas são suportadas pelos “europeus”. Por nós. Só numa democracia doente é que mentir a instituições europeias, como na Grécia, é mais grave que mentir ao povo, como em Espanha. A banca será ajudada. E nós, que lhes dizemos? Nada. Já dissemos tudo um outro. Já escrevemos tudo o que havia a escrever. Falta sofrer. Como é que se regressa do abismo?

Pedro Santos Guerreiro, “Toda a gente mente”, Negócios online (10 jun 2012)

Um editorial lúcido mas derrotista, imperdoavelmente derrotista.

Não basta verificar como todos nós fomos de algum modo embalados pelo fácil dinheiro virtual. É necessário revelar a origem das coisas, e perceber que há três grandes responsáveis pelo colapso financeiro em curso: o gang dos derivados, liderado por nove bancos de investimentos que a ninguém obedecem (1), os bancos imprudentes e/ou especuladores que obedecem ao gang anterior, e os governos de criminosos e populistas que conduziram o mundo a esta situação (2).

Sem chamar os bois pelos nomes, parecemos todos igualmente culpados, quando não somos!

Agora a Europa...

A Alemanha tinha e tem um plano, e estou de acordo com ele: fazer crescer a Europa, mas dotando-a de uma verdadeira estrutura financeira e fiscal coerente, e de um comando estratégico unificado. Claro que para aqui chegar foi preciso mostrar a cenoura a quem não a conhecia, ou não tinha ainda provado. Feita a prova, agora é preciso merecê-la!

Esta é certamente apenas uma parte da verdade. A outra é a guerra fria financeira que entre o dólar e o euro teria inevitavelmente que estalar, e continua neste preciso momento ao rubro! A falência do MF Global, por ter especulado com as dívidas soberanas europeias, ou o sombrio jogo inglês da alavancagem infinita conhecido por shadow rehypothecation, ou ainda as viagens recentes dos ministros das finanças português e espanhol a Washington para ouvirem o que Timothy Geithner tem a dizer sobre a exposição americana às dívidas soberanas ibéricas, são alguns dos exemplos mais evidentes sobre quem está verdadeiramente na origem da presente crise e ao mesmo tempo exposto às suas imprevistas consequências.

Perdeu-se o controlo da situação? É bem possível :(

Talvez por isso a solução convencional, isto é, salvar todos os bancos e todos os políticos, a todo o custo, acabe por ter que ser revista, e umas dezenas largas de bancos e algumas centenas ou até milhares de políticos devam ser irradiados da cena pública, por indecência e má figura, com uma mão atrás e outra à frente — sob pena de uma qualquer Comuna de Paris ressuscitar em versão hard-tecno, mas nem por isso menos cortante!

Recomendo, pois, aos teóricos, e sobretudo aos gasparinhos deste mundo em crise que meditem na sugestão de Steve Keen:

[The banks] have to suffer and suffer badly. They will have to suffer in such a way that in a decade they will be scared in order to never behave in this way again. You have to reduce the financial sector to about one third of its current size and we have to also ultimately set up financial institutions and financial instruments in such a way that it is no longer desirable from a public point of view to borrow and gamble in rising assets processes.

... 
I think the mistake [central banks] are going to make is to continue honoring debts that should never have been created in the first place. We really know that that the subprime lending was totally irresponsible lending. When it comes to saying "who is responsible for bad debt?" you have to really blame the lender rather than the borrower, because lenders have far greater resources to work out whether or not the borrower can actually afford the debt they are putting out there.

They were creating debt just because it was a way of getting fees, short-term profit, and they then sold the debt onto unsuspecting members of the public as well and securitized their way out of trouble. They ended up giving the hot potato to the public. So, you should not be honoring that debt, you should be abolishing it. But of course they have actually packaged a lot of that debt and sold it to the public as well, you cannot just abolish it, because you then would penalize people who actually thought they were being responsible in saving and buying assets.

Therefore, I am talking in favor of what I call a modern debt jubilee or quantitative easing for the public, where the central banks would create 'central bank money' (we cannot destroy or abolish the debt, which would also destroy the incomes of the people who own the bonds the banks have sold). We have to create the state money and give it to the public, but on condition that if you have any debt you have to pay your debt down -- no choice. Therefore, if you have debt, you can reduce the debt level, but if you do not have debt, you get a cash injection.

in ZeroHedge

NOTAS
  1. A exposição dos quatro principais bancos de investimento ao mercado de derivados financeiros OTC (“The Banks And Derivatives: Too Big To Fail Or Too Exposed To Be Saved?” Seeking Alpha, May 18, 2012) é superior ao triplo do PIB mundial. Só a exposição do JPMorgan supera em risco tudo o que o mundo produz num ano! Dos nove grandes especuladores financeiros do planeta, oito são americanos, e um inglês. Mais explicações para quê?

    JPMorgan Chase: 70.151.000.000.000
    Citibank: 52.102.000.000.000
    Bank of America: $50.135.000.000
    Goldman Sachs: $44.192.000.000.000
    HSBC: $4.321.000.000.000
    Wells Fargo: $3.332.000.000.000
    Morgan Stanley: $1.722.000.000.000
    State Street Financial: $1.390.000.000.000
    Bank of New York Mellon: $1.375.000.000.000
  2. “Nunca esperei viver num tempo em que Wall Street e a City tivessem poder suficiente para orientar a opinião pública do mundo ocidental, desenvolvido, a seu favor, depois de terem inquinado o mundo com uma desregulação quase completa da finança. Mas é o que está acontecer” — in José Gomes Ferreira, Estranho tempo, este, em que vivemos, SIC

    Esmiuçando um pouco mais teríamos ainda que acrescentar, nomeadamente a propósito deste notável artigo de José Gomes Ferreira sobre os verdadeiros culpados do colapso financeiro em curso, que o brinquedo chamado Derivados OTC (cujo valor nocional é = 12x o PIB mundial), os covis fiscais de sua majestade a rainha de Inglaterra e similares, e o HFT (High-frequency trading) são os três vértices da grande armadilha financeira desta crise, a qual terá que ser desativada por verdadeiros especialistas (seguir as reflexões deste homem: Steve Keen) e pela vontade férrea da tia Merkel !

    No entanto, as causas profundas são outras:

        1.    o fim do Colonialismo e a ascensão dos BRICS;
        2.    o declínio inexorável do petróleo barato;
        3.    a des-industrialização ocidental e consequente falsificação dos medidores do PIB (mede-se o consumo em vez de medir a produção!);
        4.    a destruição do trabalho produtivo (substituindo os trabalhadores por consumidores).

    A Dona Branca que a malta da City e de Wall Street mal-copiou do génio lusitano (Alves dos Reis e seus legítimos herdeiros) veio tão só atamancar esta sucessão de causas da verdadeira catástrofe que nos espera a todos :(
  3.  
Última atualização: 12 jun 2012 13:46

quinta-feira, abril 12, 2012

Em 2015...

De 1999 para cá foi sempre a descer!

Portugal GDP, 1989-2012 (source: Eurostat)
Portugal GDP, 1989-2012 (source: Eurostat)

por ANTÓNIO CERVEIRA PINTO
Originalmente publicado no blogue do Novo Partido Democrata.

As causas da crise financeira mundial em curso desde 2006-2008 vão desde a ganância especulativa, ao declinar do modelo energético baseado no petróleo, passando pelo estabelecimento da nova divisão internacional do trabalho resultante dos processos de descolonização e pelo impacto crescente das tecnologias de substituição do capital humano, ou ainda pela escassez relativa de recursos naturais. Mas Portugal sofre, para além dos efeitos desta profunda crise global, uma crise própria que se agravou com o colapso de uma ditadura de quase quatro décadas e a correspondente perda do que ainda lhe restava de um vasto e centenário império colonial.

Dos três mais recentes programas de resgate financeiro da nossa economia (1977, 1983 e 2011), o primeiro (1997) deu lugar a uma recuperação efémera da taxa de crescimento do PIB (1977-79), seguindo-se um declínio até ao resgate de 1983, do qual sairia novo período de recuperação, desta vez mais mais longo e mais acentuado (1985-90). Este período de convergência com a União Europeia voltaria a decair até 1993. Entre 1994 e 1998 dá-se nova melhoria das taxas de crescimento, mas a partir de 1999 e até hoje nem com a entrada de Portugal na zona euro (2002) se evitou a trajectória descendente do nosso PIB (PORDATA).

Portugal cresceu em média 6,9% entre 1960 e 1973. No entanto, depois de 1974, se não fossem os sucessivos resgates patrocinados por entidades externas o nosso país já teria sido forçado a declarar bancarrota. A última vez que tal aconteceu foi em 1891, sessenta e seis anos depois da independência do Brasil, e sessenta anos depois de uma guerra civil. Muito claramente, a sustentabilidade económica, social e financeira do Portugal pós-colonial não foi ainda, nem discutida, nem conseguida. E enquanto não discutirmos as causas, sem romantismo rural, nem pedantismo literário pequeno-burguês, enquanto, por outro lado, não mudarmos as bases inertes da nossa sociedade conservadora, invejosa, sempre à rasca, aldrabando o dia-à-dia, e irresponsável, continuaremos ciclicamente à beira do precipício — jogando obsessivamente em todas as lotarias, pessimistas, deprimidos, ou mesmo atraídos pelo suicídio.

Entre 1415 e 2015, ou seja, durante seiscentos anos, Portugal esteve, por assim dizer, encerrado numa bolha de sustentabilidade económica, social e financeira que entretanto se foi esvaziando. Assim como na última guerra civil (1828-1834) se importaram modelos doutrinários largamente estranhos à matéria histórica da cisão interna do país, deles resultando catadupas de equívocos e destruições em pura perda, também desde a queda da ditadura de Salazar, em 1974, que não fazemos outra coisa que não seja decalcar em formato caricatural as antinomias ideológicas das revoluções industriais que por cá não passaram se não no plano das literaturas libertárias —socialistas utópicas e marxistas. Uma análise atenta dos debates parlamentares e das formas de comunicação mediática dos políticos e governantes revela de modo quase deprimente a distância que permanece entre os problemas intrínsecos da nossa adiada metamorfose e a eloquência do vazio e das falsas metáforas; uma distância que tem vindo a aumentar como nunca, entre o povo contribuinte, incluindo as classes médias ameaçadas, e a nomenclatura deste regime insolvente, com os seus proverbiais e desvairados cortesãos e cortesãs.

O declínio está bem à vista, quer no gráfico do Eurostat sobre a evolução do PIB português entre 1989 e 2012, quer nos gráficos mais detalhados da PORDATA. Inverter o sentido desta decadência a caminho do nada vai seguramente exigir uma revolução. Não basta a indignação, precisamos mesmo de refundar a nossa identidade numa nova ordem cultural e política. Com ou sem partidos, mas aprofundando o legado democrático, por mais desfeito que agora esteja.

Falta saber quando e como se poderá realizar a inadiável metamorfose do regime demo-populista que nos conduziu a uma ruína sem fim à vista, e sobretudo sem qualquer quadro de esperança sábia e realisticamente desenhado. Seria um milagre se a solução nascesse nos antros que trouxeram Portugal até à bancarrota iminente. Nos casos igualmente gravíssimos que antecederam a presente crise de endividamento estrutural, Portugal viu cair de forma sangrenta uma monarquia com centenas de anos, e depois viu substituir um regime republicano caceteiro e corrupto até à medula por uma ditadura militar seguida de uma ditadura de burocratas e corporações. Que nos espera desta vez?


Portugal - impact of Different Growth Assumptions on Debt-to-GDP (source: Citi Investment Research and Analysis)
Portugal - impact of Different Growth Assumptions on Debt-to-GDP
(source: Citi Investment Research and Analysis)

Portugal: Oro on the Douro
By Walter Molano (EconoMonitor)

“One of the main reasons for the country’s capacity to adjust quickly is its degree of openness. Portugal’s trade (exports + imports) represent 50% of the country’s total output. This is in contrast to Spain, where trade represents only 35%. Ireland’s trade is 78% of GDP, and Germany’s is 64%. Greece is a dismal 25% of GDP. The problem is that the state plays a larger role in closed economies, which aggravates the vicious cycle produced by fiscal adjustments. At the same time, the state plays a reduced roll in smaller open economies, which allows the private sector to adjust more quickly to changes in macroeconomic conditions. This has certainly been the case in Ireland, and it is proving to be true in Portugal.”

Sem crescimento sustentado, isto é, vertebrado por um estado, uma sociedade, uma economia, um sistema financeiro e uma cultura renovados de uma ponta à outra, dando precedência ao conhecimento, à responsabilidade, à juventude e à transparência, não conseguiremos sair da órbita de empobrecimento fatal em que nos encontramos.

O gráfico recentemente publicado por Jürgen Michels num estudo que realizou para o Citi Research and Analyis, citado por Edward Hugh no seu já famoso artigo Portugal Gradually Shuffles Its Way Towards the Front of the Debt Queue, revela um dado crítico da maior importância: sem um crescimento real e constante durante os próximos oito anos, o nosso já impagável endividamento público e privado continuará a inchar! Na realidade, só crescendo de modo sustentado a taxas variáveis acima dos 2%, e de preferência acima dos 3%, poderemos esperar sair do buraco em que estamos.

Repare-se que desde 1974 todos os períodos de crescimento e da chamada convergência com a média dos rendimentos per capita da União Europeia se ficou a dever, de uma maneira ou doutra, a gigantescas entradas de investimento subsidiado, ou especulativo, no nosso país, ou no pior dos casos, como durante o desgraçado consulado do socialista caviar José Sócrates, a um endividamento criminoso.

Sem crescimento, isto é, só com austeridade, não é possível atacar consistentemente o problema do sobre endividamento. Mas por outro lado, crescer com base apenas no endividamento público e privado deixou de ser opção. Um dilema difícil de atacar!

A aposta nas exportações tem as suas próprias limitações, mas é uma das saídas para este dilema, que não dispensa uma racional e rápida redefinição das responsabilidades e atribuições do Estado. Será até uma boa escapatória se conseguirmos por esta via diversificar rapidamente os destinatários dos nossos bens e serviços (cuja qualidade precisa de aumentar de modo intensivo e programado), dando preferência aos países que, para além da Europa, melhor conhecemos e com quem temos mais afinidades linguísticas, culturais e históricas: Brasil, Angola, Moçambique, Guiné e Cabo Verde, São Tomé e Príncipe, Moçambique, Timor, China, Índia, Japão, Estados Unidos, Marrocos, Líbia, Iraque, Emiratos, etc.

Mas para potenciar de modo estratégico as nossas exportações será necessário preparar o país para semelhante esforço, desde logo transformando-o, de norte a sul, numa verdadeira plataforma logística e de mobilidade facilitada e rápida para pessoas e mercadorias. As bases deste desiderato já existem e são boas. Mas falta dar-lhes maior liberdade operacional, interligações inteligentes, flexibilidade empresarial e capacidade de internacionalização. Tudo isto deve começar pela desburocratização e despartidarização das suas cadeias de valor!

Em breve saberemos se os independentes da coligação governamental no poder conseguiram ou não conter dentro de limites razoáveis o abuso de confiança típico dos rendeiros do regime. Em breve saberemos até que ponto o PS e o PSD estão ou não preparados para sofrerem as necessárias metamorfoses, sem as quais permanecerão como entraves ao necessário renascimento da nossa democracia.

A crise vai agravar-se durante o que resta deste ano...

Se em vez de respostas positivas apenas continuarmos a ser confrontados com mais fugas em frente e improvisos, então estarão criadas as condições para lançarmos um grande debate nacional sobre o futuro da democracia portuguesa — com uma certeza: sem classes médias não há democracia. Só os ricos e os pobres conseguem viver sob ditadura — os primeiros, com mais conforto ainda do que aquele que a democracia lhes permite generosamente, os segundos, vendo piorar o que apesar de tudo foram conseguindo conquistar a partir das plataformas reivindicativas inerentes às democracias, por piores que sejam.

A democracia portuguesa está muito doente, mas só tem uma cura possível pela frente: mais democracia e mais liberdade!

quarta-feira, fevereiro 22, 2012

Seguro aposta na desgraça

Afinal o que quer o PS? Portugal ou a Grécia?

PS retoma aliança com os interesses de quem vive de rendas,
nomeadamente os bancos!

Foto Nuno Pinto Fernandes/Global Imagens/Arquivo

O Partido Socialista voltou a defender junto da troika um alargamento dos prazos para atingir o equilíbrio orçamental, defendendo também perante os chefes da missão que Portugal deve beneficiar das mesmas benesses dadas à Grécia no recente acordo. Público, 21 Fev 2012.

O BE e o PCP disseram hoje aos líderes da missão da troika que o programa não está a resultar, mas os chefes da missão consideraram que o programa "está no bom caminho" e que não será renegociado. Jornal de Negócios on-line, 21 Fev 2012.

O grosso da austeridade contra as pessoas e as micro empresas está feito. Não é possível esticar muito mais este violento programa de ajustamento fiscal. O seu cumprimento cabal vai, aliás, continuar a doer a muitos de nós, durante uma década ou mais, mas não à deputada do PCP que se escandalizou com o take away para os aflitos, pois essa jovem intocável come numa cantina de luxo, a da Assembleia da República, subsidiada pelo mesmo terrorismo fiscal que só aparentemente condena.

Mas falta, agora, passar à segunda fase do Memorando!

Falta a reforma estrutural do Estado, tornando-o mais seco, mas também mais responsável, competente, tecnicamente independente e respeitável. Falta descontinuar as rendas da elite de ricos incompetentes que muito contribuiu para arruinar este país. Falta estabelecer regras de concorrência na economia, e regras de concurso público universais nas relações entre o Estado e a sociedade das pessoas e das empresas. Falta estabelecer de vez a transparência, a justiça e a supervisão independente das leis e das regras e acordos. E falta, por fim, quebrar a espinha aos banqueiros e aos especuladores corruptos, assim como aos oligopólios da energia, das rodovias e da saúde.

Curiosamente, é precisamente agora, que falta tudo isto que o Memorando prevê, que o seminarista (in)Seguro vem exigir mais tempo! Mais tempo para quê? Ou para quem? Para perpetuar o anestesiado, indolente, paquidérmico e partidário Estado que temos? Para manter os monopólios? Para manter aconchegados os bancos e os rendeiros que fazem chegar o financiamento partidário, e sobretudo garantem os tachos de onde vêm e para onde vão os filhos partidários mais privilegiados da democracia degenerada que temos?

Ainda não vi o seminarista (in)Seguro do PS dizer ao país o que quer.

Só mais crescimento, é isso que o demagogo António José Seguro quer? Mas como, homem? Explique-se! Quer adiar tudo o que do Memorando da Troika ainda falta fazer: das reformas do Estado e da economia, ao fim dos privilégios desproporcionados e indecentes da burguesia parasitária e corrupta que domina o país? É isso que quer?

Que significado pode ter este lip sync do burocrata que sucedeu a Sócrates? Eu só vejo um: o medo de enfrentar a mão que alimenta boa parte dos incompetentes bonzos do PS!

O pedido deste transitório secretário-geral do PS não é mais, em suma, do que uma receita para colocar Portugal no estado miserável em que a Grécia está!

quinta-feira, fevereiro 09, 2012

Balança comercial avariada!

Exportações encalham na recessão mundial

O porta contentores Rena após encalhar no recife Astrolabe Reef (Nova Zelãndia) em Outubro de 2011. Foto © New Zealand Defence Force via Reuters. MSN, PhotoBlog.
Crescimento das exportações trava a fundo no final de 2011

O único sector que tem impedido uma recessão mais profunda entrou em franca desaceleração no final de 2011. As vendas para os países da União Europeia tiveram mesmo a primeira queda homóloga em Dezembro, depois de, ao longo do ano, terem sempre registado crescimentos de dois dígitos. Jornal de Negócios online, 9 Fev 2012.

O abrandamento das exportações portuguesas confirma o que já se sabia à escala global da análise dos últimos dados do Baltic Dry Index :( A confirmação dada pelo INE é péssima para o barómetro da austeridade, sobretudo se tivermos em conta que o endividamento de Portugal é o pior da União, logo depois da Grécia, ao contrário do que a propaganda governamental quis fazer-nos crer há dias. Nas contas portuguesas continua fora do perímetro orçamental o buraco negro das PPPs.
E ainda isto:
Dívidas Portuguesa e Irlandesa: o Dr. Passos Coelho Engana-Se Ou Engana-Nos - O Economista português, 7 Fev 2012.
 


terça-feira, fevereiro 07, 2012

O FMI mudou

Austeridade ou Zimbabué, eis a questão!

Aconteceu na Alemanha nos anos 30, mas repetiu-se no Zimbabué em 2008-09.

Agora é oficial. Já era esperado e notado por muitos. Mas os sinais agora são fortes demais para não serem reconhecidos por todos. O FMI mudou a sua perspectiva quanto à forma de combater a crise. Não foi uma mudança idelógica, descansem. Está tudo na mesma. Foi uma mudança política, decorrente da observação da economia internacional e das economias nacionais mais preocupantes. Tal com deve ser feito na política económica e financeira. Para 2011, Blanchard achava que a agenda mais importante era olhar aos défices públicos e às dívidas nacionais, soberanas ou particulares. Agora, já não acha. Agora, o que se diz, do lado do FMI, é que é preciso rescalonar as políticas de austeridade. Simples. São muitos os documentos sobre isso, e um sumário pode ser visto num dos blogues do Fundo. 
Pedro Lains.

The IMF has argued for some time that the very high public debt ratios in many advanced economies should be brought down to safer levels through a gradual and steady process. Doing either too little or too much both involve risks: not enough fiscal adjustment could lead to a loss of market confidence and a fiscal crisis, potentially killing growth; but too much adjustment will hurt growth directly.

Carlo Cottarelli, FMI.

O comentário de Pedro Lains, seguindo um bloguista do FMI, é oportuno. Nem o excesso de ajustamento fiscal (diminuição da despesa pública, aumento de impostos e austeridade), nem um neo-neo-neo-keynesiano voluntarismo monetarista (de que o recente Quantitative Easing I e II, made in USA, são desesperados e fracassados exemplos), servem como saídas para a gravíssima crise económico-financeira que o mundo atravessa, muito por causa de termos passados os últimos quarenta anos a esconder o Sol com a peneira.

Crescimento demográfico mundial sem petróleo barato é impossível. E numa era pós-petrolífera haverá uma degradação inexorável do Estado Social iniciado por Bismarck com o objetivo de proteger a revolução industrial alemã dos salários mais elevados pagos então e durante muitas década depois pela América. Se vai ser assim, o melhor mesmo é começarmos desde já a estudar seriamente este enorme problema!

Em Portugal o serviço da dívida cresce a ritmo catastrófico (8,8 mM€ em 2012, 9,5 mM€ em 2013...) e os mercados financeiros fecharam-nos praticamente as portas. A menos que a Alemanha sucumba finalmente ao neo-neo-neo keynesianismo e se ponha a escriturar moeda como os doidos americanos, não temos outro caminho que não seja uma via sacra pela disciplina orçamental. O que nem sequer está a ocorrer como devia! A renegociação das PPPs mais ruinosas para o país (autoestradas e barragens), e o fim da escandalosa e imoral hemorragia de impostos e dinheiro emprestado a juros altíssimos para alimentar serviços autónomos, fundações e empresas regionais, municipais, já para não falar dos vencimentos injustificáveis dos gestores públicos, sem outra justificação que não seja o de alimentar a máfia partidária que tomou de assalto a nossa democracia, continuam no tinteiro do Jota Passos de Coelho.

Só austeridade, não!


POST SCRIPTUM

Se há um investimento público, aliás apoiado e desejado pela União Europeia e pela Espanha (nosso principal parceiro comercial... e credor!) que merece ser levado por diante em detrimento de todos os elefantes brancos adorados pela nossa burguesia rendeira (autoestradas e barragens), é a ligação de Portugal à nova rede europeia de transporte ferroviário — por Badajoz, por Salamanca, por Vigo e por Vila Real de Santo António.

Sob pena de Portugal se transformar rapidamente numa ilha ferroviária isolada da Espanha e do resto da Europa, não vejo melhor maneira de compensar a austeridade inevitável e prolongada que temos pela ferente, do que com a criação de empregos duráveis e diversificados que resultariam de uma aposta clara deste governo na nova geração de transportes ferroviários — incluindo ligações interurbanas, nacionais e internacionais, urbanas (Metro de superfície) e suburbanas.

Não conheço nenhum investimento com efeitos tão multiplicadores quanto este, agora que o imobiliário morreu e não ressuscitará tão cedo, sobretudo num país onde a ONU prevê uma recessão demográfica até 2100 que poderá ir até aos 50%!

quinta-feira, novembro 03, 2011

Super-Mario

No Quantitative Easing, thank you!

Vista da futura sede do BCE, Frankfurt © ISOCHROM

A imprensa e a televisão portuguesas passaram toda a conferência do novo senhor BCE à mesa de uma caldeirada! Não viram, não ouviram, não sabem! Que desgraça :(

Mas o super Mário, afinal, frustrou (ainda bem) as expectativas monetaristas de Londres, de Nova Iorque, dos especuladores e piratas que não desistem de deitar a mão à poupança mundial, e ainda das burocracias e nomenclaturas rendeiras da Europa — nomeadamente a portuguesa, do senhor Mexia ao senhor Sampaio!

Confirmam-se, assim, as minhas expectativas, expressas em Junho passado: “Vem aí um novo BCE! — Draghi, o italiano mais germânico que a Alemanha poderia esperar

Mário Draghi é um admirador do Bundesbank — está tudo dito ;)

Toca, pois, a trabalhar, afastando do poleiro imediatamente os principais responsáveis pelo nosso próprio buraco financeiro!

Introductory statement to the press conference
Mario Draghi, President of the ECB,
Vítor Constâncio, Vice-President of the ECB,
Frankfurt am Main, 3 November 2011

[extracto]

“Turning to fiscal policies, all euro area governments need to show their inflexible determination to fully honour their own individual sovereign signature as a key element in ensuring financial stability in the euro area as a whole. The Governing Council takes note of the fiscal commitments expressed in the Euro Summit statement of 26 October 2011 and urges all governments to implement fully and as quickly as possible the measures necessary to achieve fiscal consolidation and sustainable pension systems, as well as to improve governance. The governments of countries under joint EU-IMF adjustment programmes and those of countries that are particularly vulnerable should stand ready to take any additional measures that become necessary.

It is crucial that fiscal consolidation and structural reforms go hand in hand to strengthen confidence, growth prospects and job creation. The Governing Council therefore calls upon all euro area governments to accelerate, urgently, the implementation of substantial and comprehensive structural reforms. This will help the euro area countries to strengthen competitiveness, increase the flexibility of their economies and enhance their longer-term growth potential. In this respect, labour market reforms are essential and should focus on measures to remove rigidities and to enhance wage flexibility, so that wages and working conditions can be tailored to the specific needs of firms. More generally, in these demanding times, moderation is of the essence in terms of both profit margins and wages. These measures should be accompanied by structural reforms that increase competition in product markets, particularly in services – including the liberalisation of closed professions – and, where appropriate, the privatisation of services currently provided by the public sector.”

O BCE não será, para já, o lender of last resort dos filhos pródigos da Europa e dos piratas que a rodeiam. Ou seja, o BCE não irá por enquanto carregar na tecla electrónica mágica que cria dinheiro do nada, para remunerar especuladores à custa da destruição maciça das poupanças de quem poupou: empresas e pessoas. Quem andou distraído, a vadiar ou a estourar heranças, que acorde e comece a trabalhar e poupar!

Isto significa, no caso dos Estados sobre endividados, como o português, uma coisa muito simples: avaliar o preço justo do nosso bem estar social, e adequar este bem estar às nossas possibilidades.

Mas para aqui chegarmos será irremediavelmente necessário separarmos democraticamente aquilo que só o Estado pode e deve fazer (bem e administrando os recursos com transparência e racionalidade) de tudo o resto, nomeadamente do que podemos fazer melhor e mais barato recorrendo a empreendedores, a empresas privadas, a cooperativas, fundações e associações não lucrativas, e ainda às redes sociais tecnológicas.

Esta separação vai ser dolorosa, em particular por causa das enormes resistências que todo o tipo de corporações e burocracias instaladas há décadas no conforto da coisa pública garantida irão opor à mudança.

Mas esta mudança necessária e inevitável terá que ser transparente, negociada e vigiada por todos, para que ninguém saia injustamente prejudicado, ou alegremente beneficiado. Precisamos, pois, de mais democracia para não falhar! As redes sociais e aquilo que há anos chamo democracia electrónica pode desempenhar aqui e agora um papel crucial nesta batalha por uma sociedade mais produtiva, justa e solidária.