quinta-feira, junho 28, 2012

Estado on-demand

Casa de pedra na Aldeia da Gralheira, em abril, 2012 Foto © ACP

Criem a figura do Juiz Peregrino!

“Mais valia fecharem o interior”. Público, 28.06.2012 - 14:56 Por Natália Faria

As urgências já fecharam, as escolas idem aspas, agora são 54 os tribunais a desaparecer do mapa. No dia em que os autarcas protestam em Lisboa, reportagem no distrito de Viseu, onde, sem autocarros nem dinheiro para táxis, já há gente a fazer dez quilómetros a pé para conseguir chegar ao juiz.

‎Criem a figura do juiz peregrino e adaptem/ simplifiquem o Código de Processo Penal às circunstâncias — LOCALIZEM-NO.

Por outro lado, diminuam drasticamente a carga fiscal e as custas judiciais nas ZONAS ULTRA-PERIFÉRICAS DO CONTINENTE. Porque há-se ser só nos Açores e na Madeira?

O que não faz sentido nenhum é manter infraestruturas e burocracias caras para comunidades com 100 almas ao abandono. Porque não criar serviços ambulatórios no campo educativo, da justiça e da saúde, tal como noutros tempos existiram? Hoje, com todo o apoio tecnológico disponível?

O governo deveria, além do mais, perante este estado de emergência, que vai agravar-se ao longo de toda a década, patrocinar um levantamento sociológico, cultural e audiovisual do empobrecimento em curso, não para especularmos com o resultado, mas para encontrarmos soluções que mitiguem efetivamente o desastre que se adivinhava há muito e hoje está à vista de todos, e para que nós, ex-rurais e urbanícolas em boa medida suburbanos e a empobrecer possamos compreender melhor o que realmente se passa, sem o filtro corrompido da corja partidária.

Este levantamento deve ser adjudicado através de bolsas de investigação e criação abertas a técnicos e artistas (antropólogos, sociólogos, psicólogos, geógrafos humanistas, fotógrafos, cineastas, dramaturgos, artistas plásticos, filósofos...), com o máximo de transparência, sem burocracias escusadas, deixando completamente de lado os predadora dos grandes gabinetes, escritórios e consultoras que há décadas se servem do regime, nomeadamente através do sangue partidário que lhes corre nas veias.

Há um exemplo histórico, vindo da América da Grande Depressão. Chamou-se Farm Security Administration. Copiem-se os bons exemplos!

Walker Evans, for the Farm Security Administration / Office of War Information / Office of Emergency Management / Resettlement Administration (Wikipedia)

POST SCRIPTUM — Escreve-me um amigo:

“... o problema está no parlamento que tem competência legislativa e de fiscalização do Governo.

Se não exercem com competência as suas funções, teremos de responsabilizar um a um os deputados que foram eleitos. São apenas 230 neste mandato, poderemos ir um pouco atrás mas não deve haver mais do que mil pessoas com responsabilidade máxima nas decisões .

Os estudos estão feitos, o resto é retórica.”


Última atualização: 28 jun 2012 21:51

quarta-feira, junho 27, 2012

A Fraude Escolar

O ex-PM em visita a uma escola. Foto @ Estela Silva

Parque Escolar, um assunto mal resolvido por este governo

Parque escolar deve 98 milhões de euros e não tem dinheiro para pagar obras
Jornal de Negócios online, 27 Junho 2012 08:42

A nova administração faz ainda previsões de poder relançar 20 projectos por ano, que agora estão congelados. No mesmo documento enviado ao Governo, a Parque Escolar lembra que também tem créditos em atraso, nomeadamente rendas devidas pelas 103 escolas requalificadas e pelos edifícios centrais que o Ministério da Educação transferiu para a sua propriedade.

A Parque Escolar é mais um dos muitos embustes inventados pela democracia populista, partidária e burocrática que temos, para gastar, gastar, gastar, escondendo os criminosos rombos infligidos ao perímetro orçamental do Estado, ao mesmo tempo que alimenta fartamente a clientela que suporta este regime politicamente desacreditado e insolvente. Bem pode barafustar o (in)Seguro secretário-geral do PS, que a tia Merkel não aparará mais golpes à cleptocracia que arruinou o país, nomeadamente em tempos de sua senhoria José Sócrates Pinto de Sousa. Chegou o momento de pedir contas a esta democracia incompetente, corrupta e populista, e aos que de luva branca financiaram os golpes e dela se serviram à tripa forra.

Voltando ao tema do desvio das verbas do QREN, isto é, das novas alocações anunciadas para além das já previstas inicialmente, destinadas a suportar ilegalidades, nomeadamente em matéria de infração gritante das regras de contratação pública, porque não enviar uma denúncia para Bruxelas? É de lá que vem o dinheiro, não é?

Vox bloguli:

Publicam os jornais:
“Em relação à tesouraria, é “premente que se concretize o pagamento das verbas do Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional já validadas”, lê-se no documento da administração enviado ao Governo. Entre o final do ano passado e meados de Maio, “esse montante em dívida “permaneceu com valor superior a 100 milhões de euros”.

Os administradores confiam na reprogramação das verbas do QREN, actualmente em discussão, para ultrapassar o problema orçamental.”
Será que vão transferir mais verbas do QREN para este buraco criado por práticas ilegais na contratação pública, e por obras ineficientes do ponto de vista energético?

As escolas não vão poder pagar as rendas que a Parque Escolar agora lhes exige!!!

Atenção ao desfecho fatal que isto pode ter.

O QREN é um instrumento que tem ajudado ao desenvolvimento em todas as escalas da economia nacional. O seu desvio para sustentar esquemas legais tortuosos e maus projetos é uma nota de péssima gestão por parte do novel ministro Nuno Crato :(

Mas o ponto fundamental sobre a qualidade ou falta dela no que se refere ao programa da Parque Escolar é saber se sim, ou não, as escolas terão recursos para pagar as rendas e os custos de manutenção das novas ou renovadas instalações. Quem cuidou, se é que alguém cuidou, da sustentabilidade dos programas de arquitectura e dos projetos construtivos e instalações? Arquitetos, engenheiros e construtores não costumam ligar peva a estes pormenores!

segunda-feira, junho 25, 2012

Adeus TAP :(

Acabaram-se os balões do gaúcho. Agora é só pedir-lhe contas!

Por muito que me custe anunciar, a TAP morreu

A TAP foi gerida por piratas (nomeadamente do outro lado do Atlântico) ao longo de muitos anos. Serviu para tudo menos para se adaptar aos turbulentos tempos da globalização aérea, do fim do petróleo barato, e da União Europeia. Os principais responsáveis deste desastre anunciado, porém, são os cagarros indígenas da Assembleia da República, ou seja, todos os partidos políticos a quem tão bem soube as centenas de milhar de horas de voo à borla do buraco financeiro que a empresa pública agora tem, na ordem dos três mil milhões de euros, mas que só conheceremos inteiramente quando fizerem as continhas todas.

Resumindo:
  • A maioria do capital da TAP não pode ser vendido a nenhuma empresa não europeia, aliás, não comunitária, donde a inutilidade do Carnaval montado pelo gaúcho y sus muchachos em torno dos famigerados candidatos brasileiros, chilenos, colombianos, árabes e singapurenses.
  • Na Europa atribulada de hoje só vejo uma empresa eventualmente disposta a colher o despojos, isto é, as rotas, os slots, os pilotos, os engenheiros e técnicos de manutenção e os doze novos A350 XWB e os oito novos A320 (1) encomendados à Airbus em 2007 e com entrega prevista à insolvente TAP a partir de 2013: a empresa alemã Lufhtansa.
  • A barragem de propaganda montada pelas agências de comunicação que tem inundado de quimeras a nossa indigente imprensa já não serve para nada, e espero bem que sofra a mais do que merecida máquina zero em sede de cobrança de honorários (certamente escandalosos).
  • Em minha opinião, o CA da empresa agiu de forma dolosa e contra os interesses da TAP e do país, e como tal deve ser objeto de um inquérito rigoroso, e os eventuais responsáveis exemplarmente punidos.
  • Os sindicatos afetos ao mais do que excedentário pessoal da companhia perderam, por sua vez, uma boa oportunidade para contribuir de forma inteligente e construtiva para o spin off (tantas vezes aqui proposto) que teria eventualmente salvo a TAP de uma falência desordenada, como a que está em curso.
  • Como é possível que no grupo de consultores financeiros para a privatização da TAP estejam lá os representantes do problema (2), e não das soluções possíveis?
  • Finalmente, uma grande dor de cabeça para este governo: se quiser privatizar a TAP terá que desembolsar os tais 3.000.000.000€ antes de vender o grupo, pois nenhum idiota, nesta altura do campeonato mundial da Grande Depressão, irá comprar uma dívida destas a troco das virgens que estão no Céu; por outro lado, se o governo tapa o buraco, ou não vende a companhia, que vem a dar contabilisticamente no mesmo, lá se vai, também por este lado, o controlo do défice de 2012 e de 2013.

Sophie Howard gostava muito de ser hospedeira de Primeira Classe. Será que, com imaginação, ainda se poderá salvar a TAP?
 
Fénix TAP?

O tempo da reestruturação, ou da preparação inteligente da TAP para uma privatização virtuosa, já passou, e não volta atrás, por culpa de todos, mas mais de alguns do que de outros. É notória a tentativa persistente de empurrar o desastre para o colo do Álvaro e do Gasparinho. Eu se fosse PM entalava sem remorsos os piratas que destruiram a empresa e combinava com a tia Merkel uma saída airosa para este furúnculo cheio de pus. Deixa-se a empresa morrer de morte súbita (por um qualquer incumprimento financeiro), e depois permite-se que a ave renasça no dia seguinte, pura e leve como uma passarinha!

Uma saída suíça para a TAP? Claro! 

O governo pode e deve dar corda ao gaúcho, até que o incumprimento ocorra. Nesse momento crucial, intervém, obriga o CA da TAP a declarar falência e move-lhe de imediato um grande inquérito. Uma comissão administrativa de emergência toma então conta da ocorrência e das operações até que uma nova TAP nasça notarialmente, limpa de boa parte dos compromissos, com um preço para o Estado, naturalmente, mas salvando-se, pelo menos em parte, a honra da companhia.

Vendendo a maioria da empresa à Lufhtansa, mantendo embora uma pequena percentagem de capital público lusitano em mãos, por exemplo, da Caixa Geral de Depósitos (para isso serve a tia Merkel), o processo de concentração industrial e financeira da União Europeia daria um passo certo, na direção certa e sem grandes traumas. O governo pagaria um preço, repito, mas sairia vencedor daquele que é certamente o seu maior desafio até ao fim deste ano e início do próximo.

Deixem a ANA em paz

Quanto à ANA, por favor, Pedro Passos Coelho, Álvaro Santos Pereira e Vítor Gaspar, não misturem alhos com bugalhos! Deixem o processo de privatização da gestora aeroportuária seguir o seu caminho autonomamente. Se houver comprador, excelente. Se não houver, melhor ainda, pois são receitas certas para o Estado, pagas a tempo e horas pela Ryanair, easyJet, Emirates Airlines... e TAP-Lufhtansa :)

Metro do Aeroporto

E por fim, no próximo mês de julho (deste ano!) não se esqueçam de inaugurar a estação de Metro do Aeroporto e de puxar as orelhas até sangrar aos gestores daquela coisa — o Metro de Lisboa.


POST SCRIPTUM

Conversa fiada: “Sérgio Monteiro: Reuniões para privatizações da TAP e da ANA decorrem a ‘grande ritmo’” (Negócios online).


ÚLTIMA HORA

Controladores de tráfego áereo provocam o caos com ou sem greve. Jornal de Negócios on-line, 28 Junho 2012 | 00:01

Os controladores de tráfego, desde o pré-aviso de greve, já causaram o caos em vários sectores de actividade, como confirmou o Negócios junto de vários intervenientes. À hora de fecho ainda não se sabia se os trabalhadores da NAV – Empresa Pública de Navegação Aérea de Portugal iriam ou não desconvocar a greve que está prevista arrancar amanhã. Mas haja ou não paralisação, certo é que há perdas irrecuperáveis: viagens canceladas, concertos alterados, voos parados. "Esta greve está a ser arrasadora para o sector do turismo, está a ser um caos", defendeu ao Negócios Pedro Costa Ferreira, presidente da Associação Portuguesa das Agências de Viagens e Turismo. 

Alguém anda à procura de justificações para a insolvência pirata da TAP!

O governo só tem que fazer uma coisa: anunciar previamente a requisição civil (e militar se for preciso) de todos os funcionários públicos e/ou trabalhadores de empresas públicas que decidam avançar para greves que prejudiquem gravemente as populações e o país. É tempo deste governo preparar um back-up de segurança do sistema....

Ou será que os cagarros da Assembleia da República pretendem que os seus generosos vencimentos passem a ser pagos exclusivamente com as remessas dos cidadãos portugueses que alienaram para a emigração? É que a torneira dos impostos alemães fechou!

Álvaro Santos Pereira disse hoje ter recebido sinais de “interesse verdadeiro, real e importante” nas privatizações da TAP e ANA. Económico, 27/06/12 16:24

“Nestas coisas, o segredo é sempre a alma do negócio. Existe um interesse verdadeiro, real e importante nas duas [TAP e ANA]. Faz todo o sentido ter um ‘hub’ em Portugal porque a TAP tem mais de 70 voos para o Brasil, mais de 70 voos para África e é importante estimular este ‘hub’ da Lusofonia porque a TAP, como empresa bandeira do país, tem uma valência muito grande ao nível das companhias de aviação internacionais”, disse hoje o ministro da Economia numa entrevista à agência Reuters.
Eu creio que o ASP está a fazer bluff — e se estiver, será a morte política deste artista!

Além do mais não percebo como se pode vender a uma mesma empresa (pelos vistos, chamada Alma do Negócio ;) uma companhia aérea e um monopólio público aeroportuário. Que faria às companhias concorrentes o monopólio ANA, se passasse a ser um monopólio privado associado a uma futura TAP privada? No mínimo, abusariam da sua posição dominante. Ora não vejo como é que Bruxelas poderia alguma vez autorizar semelhante pessegada :(

Por fim, não percebo o que quer ASP dizer quando fala em manter a TAP como uma “empresa de bandeira”. Pode explicar-se, por favor, ou também é segredo?

Santos Pereira: Governo está a "desenhar" o caderno de encargos para privatização da ANA. Jornal de Negócios online /LUSA 26 Junho 2012 | 19:27 
Álvaro Santos Pereira fez saber ao fim da tarde de hoje que está a "desenhar" o caderno de encargos da privatização da ANA. Leu certamente esta humilde crónica. Ainda bem! Concluo duas coisas: a rentável ANA deixou de ser o pau de cabeleira da insolvente TAP, e enquanto o governo desenha e não desenha o caderno de encargos, o assunto TAP terá que ser despachado, seja como for. E eu insisto: não percam mais tempo, conversem com a Lufthansa sem intermediários, dispostos a negociar a sério, afastando liminarmente das negociações quem até agora andou a sabotar o processo. O gaúcho tem uma fisgada: levar um ou dois ministros deste governo ao charco. E olhem, meus caros Álvaro e Gaspar, o homem que foi desde o início contratado expressamente para privatizar a TAP tem uma procissão de ajudantes atrás de si, a salivar e de cu pró ar!

Ministro da Economia equaciona combater greves na aviação com requisição civil. Jornal de Negócios on-line, 27 jun 2012 09:47

O ministro da Economia, Álvaro Santos Pereira, está a pensar em recorrer à requisição civil para combater os previsíveis prejuízos das novas paralisações anunciadas pela NAV e o Sindicato de Pilotos de Aviação Civil (SPAC).

A nenhum setor estratégico e/ou público deve ser tolerado o direito à greve enquanto durar a aplicação do Programa assinado pela maioria esmagadora da representação política portuguesa com a Troika. Tão simples quanto isto!

É uma suspensão da democracia? É. Temporária, mas é.

Há, porém, outras formas de diálogo e de luta democráticos que os trabalhadores e sindicatos podem desenvolver sem prejudicar ostensivamente a economia, a diplomacia e quem trabalha. O caso das greves no setor dos transportes, seja de pessoas, seja de mercadorias, dos barcos aos aviões, passando pelo comboios e autocarros, é um escândalo e a prova de que o Partido Comunista continua preso na caverna do Estalinismo e da Guerra Fria.

Além do mais, quer-me parecer que a greve anunciada dos pilotos da TAP é mais um conluio espúrio entre os mais bem pagos da empresa —mais bem pagos, aliás, do que a maioria dos seus colegas administradores e pilotos por esse mundo fora... Também me quer parecer que o CEO da TAP não pára de conspirar contra a tutela e contra este governo. O PM que não acorde a tempo, e ainda voltará a ler este post muitas vezes :(


NOTAS
  1. Ao que parece, esta parte da encomenda caiu. 
  2. Vox globuli:  "O caso do consultor BES é gritante. Foi o BES (certamente com a assessoria do seu empregado de topo e então ministro Pinho) que impingiu a PGA à TAP por 144 milhões de euros, quando a TAP já só acumulava prejuízos! Imagina-se, pois, o condicionamento que o tal Caderno de Encargos da privatização da TAP deverá sofrer sempre que o consultor BES abrir a boca, ora para reclamar algum pagamento em atraso da ex-PGA, ora para assegurar a próxima renda que o leasing dos 12 A350 irão custar a quem ficar com a empresa. Imagine-se, por um momento, que aparece finalmente um candidato para a compra de 50,1% da TAP, mas que tem uma preferência especial pelos Boeing 787 Dreamliner. Que sucederia? Duvido, em suma, por mais esta obscuridade e trapalhada, que algum europeu no seu juízo perfeito compre a maioria da TAP tendo para tal que assumir três pontes Vasco da Gama de prejuízos acumulados e uma encomenda no valor de outras tantas 3 pontes Vasco da Gama para pagar os 12 neo Airbus A350 XWA.

Última atualização: 27 jun 2012 23:58

Ora viva Herr Schäuble!

Wolfgang Schäuble © Photo: Armin Kübelbeck

As coisas começam a ficar claras

Já não é só o nosso transmontano a devolver aos piratas de Wall Street e Washington os elogios sobre quem melhor rouba o próximo!

Quem empacotou lixo com nomes bonitos e perfumados e atraiu os fundos de... pensões!!! nomeadamente alemães :( à armadilha de melhores rendimentos para compensar a corrida de lémures contra os juros induzidos pelos bancos centrais, foram as Nove Donas Brancas de Wall Street e da City. Será que alguém duvida ainda que estamos no meio da primeira Guerra Mundial Financeira do século 21?

Do que esta corja de Wall Street e da City está mesmo a precisar é de uma verdadeira tosquia com Máquina Zero! Esqueçam os bancos, e resgatem os investidores de boa-fé, assim como a generalidade dos contribuintes, do Buraco Negro dos Derivados, das burocracias parasitárias e das clientelas partidárias — quanto antes!

Eu espero sinceramente que a União Europeia encoste os novos Drakes de sua majestade pirata ao molhe, avançando sem medo com o PSI na gestão da parte odiosa das dívidas soberanas europeias, e de caminho dê um salto em frente na união financeira, política e militar da Europa.

As pátrias europeias não passam hoje de embustes para enganar tolos. 

Precisamos de uma verdadeira democracia europeia, onde predomine o direito, a transparência, a defesa da propriedade privada legítima e a defesa das poupanças individuais e familiares. Onde ganhe preponderância um novo estilo de eficiência governativa, sem a escandalosa captura partidária e burocrática dos estados e das democracias que quase destruiu um continente. Onde, em suma, a liberdade criativa das pessoas e das comunidades seja a verdadeira e eficiente soberana.

A Tragédia dos Comuns não pode ser o trampolim fácil dos oportunistas de sempre, nem o pretexto para a emergência de novas ditaduras burocráticas assentes na corrupção infinita protagonizada pelo capitalismo de estado que uma vez mais pretende insinuar-se e destruir as democracias ao som das suas hipócritas cantorias populistas.

A China será em breve exemplo do que quero dizer, com a sua mistura altamente tóxica e explosiva de uma ditadura burocrática com a selvajaria do capitalismo pirata. A grande bolha das afinal falsas emergências económicas do Oriente, mas também do Brasil, ou de Angola, todas elas penduradas no consumismo financeiro euro-americano e na corrupção sem limites, irá rebentar antes mesmo da implosão das economias ocidentais fatalmente atraídas pelo buraco negro dos derivados.

Algum equilíbrio global será porventura possível, mas antes de lá chegarmos, isto é, antes de percebermos que será necessária uma nova divisão do mundo em duas metades, teremos infelizmente que passar por grandes apertos, tensões, guerras financeiras não declaradas e possivelmente até por uma proliferação de guerras convencionais associadas a conflitos virais, nomeadamente eletrónicos, cujas configurações só agora começamos a perceber. O efeito destruidor destes conflitos irá crescendo de dimensão até transformarem-se numa nova guerra mundial, altamente mortífera e devastadora no plano económico e financeiro.

Tempo para comprar proteção, sobretudo local. 

As minhas recomendações permanecem, pois, no plano puramente defensivo: apostar no ouro, na prata, no imobiliário próximo dos centros urbanos, bem servido de transportes públicos e com custos de condomínio mínimos, e nas nossas melhores terras e árvores: oliveiras, amendoeiras, sobreiros, castanheiros, figueiras, alfarrobeiras, laranjeiras, limoeiros e vinha. De preferência, dispensando pesticidas e adubos químicos de toda a espécie.

Do ponto de vista político: prioridade absoluta às autarquias locais. Todo o poder às paróquias e freguesias, mesmo ou até sobretudo depois do processo de concentração em curso!

domingo, junho 24, 2012

O anti Bernanke

Ben Bernanke (Foto: Manuel Balce Ceneta/AP)

Alguém que traduza isto, do inglês para português, e do calão económico para linguagem simples que qualquer autarca ou governante da Tugolândia entenda. No essencial, o que Michael J. Burry diz sobre a América vale para todos nós.


Nem pedófilos, nem piratas económicos foram até agora presos no meu país. É um péssimo sinal. Um sinal de que o Salazarismo afinal não morreu — adormeceu, mas manteve-se no essencial. Continuamos a ter um regime burocrático, paternalista e autoritário, onde o poder se reproduz biologicamente como uma confederação indolente de famílias e clientelas, apesar do partido único ter dado lugar, no mesmíssimo Palácio de São Bento, à reiteração de um estado parasitário secular, embora com mais algumas cores partidárias. O respeito pelo regime é o mesmo, mas o número de beneficiários aumentou tão desmesuradamente que abriu falência. Enquanto não desfizermos este monstro a golpes de transparência, não iremos a parte alguma.

O "crescimento" de que falam Passos de Coelho e inSeguro é um embuste servido em bandeja de prata pela imprensa indigente e mendicante que temos (ver o Expresso deste fim-de-semana).

Do que ambos estão na realidade a falar, sob o pretexto de irrigar a economia e promover o crescimento, é de algo bem diferente: continuar a confiscar o país, destruindo a sua economia antiga e sobrevivente, em nome da perpetuação da partidocracia vigente e da imensa mole de funcionários públicos e equiparados que a sustenta eleitoralmente.

A nossa sorte, no meio do azar, é que a Alemanha já não pode, mesmo que quisesse (e não quer!) continuar a alimentar burros a Pão de Ló.


POST SCRIPTUM

ALAN GREENSPAN, the former chairman of the Federal Reserve, proclaimed last month that no one could have predicted the housing bubble. “Everybody missed it,” he said, “academia, the Federal Reserve, all regulators.”

But that is not how I remember it. Back in 2005 and 2006, I argued as forcefully as I could, in letters to clients of my investment firm, Scion Capital, that the mortgage market would melt down in the second half of 2007, causing substantial damage to the economy. My prediction was based on my research into the residential mortgage market and mortgage-backed securities. After studying the regulatory filings related to those securities, I waited for the lenders to offer the most risky mortgages conceivable to the least qualified buyers. I knew that would mark the beginning of the end of the housing bubble; it would mean that prices had risen — with the expansion of easy mortgage lending — as high as they could go.

Michael J. Burry in "I Saw the Crisis Coming. Why Didn’t the Fed?", April 3, 2010, The New York Times.

Ao contrário do que se possa pensar, Michael J. Burry não é mais um especulador qualquer, que faz das suas "teorias" artilharia para convencer os clientes. Em primeiro lugar, MJB fechou o seu hedge fundScion Capital—, o qual lhe rendeu em menos de oito anos (nov. 2000 a jun. 2008) mais de 400%, enquanto a Standard&Poor's, no mesmo período, apenas arrecadou 2%. Em segundo lugar, MJB aposta na especulação a longo prazo, e não nas bolhas destrutivas de curto prazo. Não é um industrial, mas um financeiro, i.e. colocar dinheiro onde lhe parece que poderá obter rendimentos razoavelmente seguros no médio e longo prazo. Finalmente, a denúncia que fez no The New York Times, em abril de 2010 —“I Saw the Crisis Coming. Why Didn’t the Fed?”—, sobre a incúria das autoridades políticas e financeiras americanas relativamente à tempestade cuja poeira era já claramente visível em 2005-2006, valeu-lhe uma perseguição policial típica das ditaduras burocráticas do Oriente.

Última atualização: 25 jun 2012 11:45

terça-feira, junho 19, 2012

Depois do crescimento



O crescimento exponencial condenado, explicado de modo magistral por Albert Bartlett

Arithmetic, Population, and Energy, by Dr. Albert A. Bartlett

 Four million views for an old codger giving a lecture about arithmetic? What's going on? You'll just have to watch to see what's so damn amazing about what he (Albert Bartlett) has to say.

I introduce this video to my students as “Perhaps the most boring video you’ll ever see, and definitely the most important.” But then again, after watching it most said that if you followed along with what the presenter (a professor emeritus of Physics at University of Colorado-Boulder) is saying, it’s quite easy to pay attention, because it is so damn compelling — in YouTube.

A mundo moderno cresceu ao longo dos últimos duzentos anos à custa de incomensuráveis esforços, indescritível sofrimento e injustiças cuja escala de horror é pura e simplesmente indesculpável. Mas o mais trágico de tudo é que o formidável desenvolvimento tecnológico e social que acompanhou a revolução moderna acaba de bater numa parede matemática implacável.

Os sinais foram evidenciados, entre outros, por M. King Hubbert, em 1956, tendo então demonstrado com fundamento bastante a aproximação do pico petrolífero. A solução que anteviu como única alternativa ao fim do petróleo e do carvão economicamente útil, para dar continuidade a uma civilização humana tecnologicamente avançada, foi a do uso generalizado da energia nuclear, como novo paradigma energético da civilização. Mais tarde, em 1972, um outro relatório, igualmente fundamentado, veio chamar a nossa atenção para a inviabilidade do nosso modelo de crescimento: The Limits to Growth, de Donella H. Meadows, Dennis L. Meadows, Jørgen Randers, and William W. Behrens III.

É possível que tecnologias muito mais seguras e avançadas de energia nuclear venham a dar resposta, pelo menos parcial, ao declínio inexorável dos combustíveis fósseis. Os principais problemas relacionados com a substituição do carvão/petróleo/gás natural por outras energias diz sobretudo respeito aos problemas de armazenagem, estabilização, portabilidade, transporte e preço das unidades de energia essenciais à vida das máquinas que nos assistem, a todo o momento e em quase tudo o que fazemos, e ainda à sua neutralidade relativamente aos demais recursos que extraímos da natureza e transformamos para nosso proveito, nomeadamente a terra arável. Nenhuma das chamadas energias alternativas, baseadas no vento, no Sol, nas ondas do mar, ou em biocombustíveis —do milho, cana de açúcar e pinhão manso, ao cultivo de algas— tem a mínima hipótese de substituir o colossal consumo de energia fóssil que tem alimentado o estilo de vida humano desde o tempo das primeiras máquinas a vapor à era do iPhone.

M. King Hubbert, gráfico sobre a era do carvão e do petróleo (1956)

A recente catástrofe nuclear de Fukushima veio atrasar em pelo menos uma década os esforços de convencer a opinião pública mundial de que existem tecnologias nucleares infinitamente mais seguras do que a dos reatores que derreteram em Chernobyl e no Japão. À medida que sincronizamos as leituras de Nuclear Energy  And The Fossil Fuels, de M. King Hubbert (1956), The Limits to Growth (1972), e Peaking of World Oil Production: Impacts, Mitigation, and Risk Management, escrito por Robert Hirsch para do US Department of Energy (2005), entre outras, o ano de 2030 aparece como o da grande implosão do modelo de crescimento que nos habituámos a ver como algo natural e eterno.

Na realidade, os avisos e os sintomas começaram a ser cada vez mais frequentes e graves desde a primeira crise petrolífera (1973), para cá. O colapso financeiro global em curso desde 2008, e do qual ninguém sabe como sair, ou mesmo se é possível sair, não é mais do que uma gigantesca crise de endividamento global com origem na insustentabilidade demográfica e energética do nosso modelo de crescimento. O buraco desta implosão equivale a mais de 12x o PIB mundial! Quem, como, quando, é que semelhante fossa abissal poderá ser tapada? Até quando este verdadeiro Fukushima financeiro fará sentir os seus efeitos letais? Até 2030? Até 2130? Até 3030? Ou até daqui a cinco mil anos — para usar a escala de Hubbert? Num lapso hilariante da presente crise, o BCE aceitou obrigações do tesouro de Portugal com maturidade prevista para 9999!


POST SCRIPTUM

Motivado por algumas perguntas sobre a veracidade do Peak Oil fiz umas contas rápidas para estimular a reflexão, tendo por horizonte a demografia humana prevista pela ONU e pelo USCB para 2100 e a compilação sobre produção petrolífera de John H. Walsh.

Produção mundial de petróleo (máx.) = 80 milhões de barris/dia = 29.200.000.000 bbl/ano

População mundial (março, 2012) = 7.000.000.000

Produção mundial de petróleo per capita = 4,171 bbl/ano

Crescimento demográfico mundial, líquido, médio e anual, até 2100 : +78 milhões de pessoas/ano

Necessidade suplementar de petróleo (mantendo-se o mix energético atual): +325.338.000 bbl/ano = +1.001.040 bbl/dia

Tendo em conta a queda da taxa de crescimento demográfico mundial, para pouco mais de 1% ao ano (1,1% em 2011), pode dizer-se que para manter os atuais níveis de consumo de petróleo per capita seria necessário aumentar a produção em aproximadamente 1 milhão de barris por dia, em cada novo ano, até 2100. Nesta hipótese teórica, supõe-se que todos os poços de petróleo continuarão a produzir sem esgotar nos próximos 89 anos, ou que novos reservatórios substituirão os que entretanto secarem. Assim, se a partir de amanhã não se produzir 81 milhões de barris por dia, e no ano que vem, 82 milhões bbl/d, e em 2014, 83 milhões de bbl/d, 89 milhões bbl/d em 2020, e assim sucessivamente, o resultado é óbvio: a produção per capita começará a decrescer, as tensões pela partilha do petróleo tenderá a aumentar, e a tudo isto não há como não chamar Peak Oil!

 Última atualização: 19 junho 2011 12:48

segunda-feira, junho 18, 2012

Sexy economics

Lauren Lyster: ninguém faz da economia um tema irresistível, como ela.

Can economics be a sexy entertainment? Yes it can! With Lauren Lyster. Absolutely smart and irresistible ;)

Uma excelente entrevista a Steve Keen sobre "blood banks", governos zombies e a sua proposta para um "modern debt Jubilee"— através do qual se deixaria de resgatar os bancos à custa da miséria dos demais (nomeadamente através da austeridade indiscriminada e do terrorismo fiscal), e se passaria a resgatar os devedores honestos, protegendo os seus ativos e suportando os custos da reestruturação das suas dívidas. Keens não é contra os bancos, considera-os, aliás, essenciais a qualquer economia capitalista. Mas é contra os piratas que tomaram conta do sistema, e a sua artilharia erudita e sibilina encontra-se publicada no seu magnífico blogue: Debtwatch.

A visão de um economista australiano, pós Keynesiano, como a si mesmo se vê, feroz opositor da teoria neoclássica e dos marxistas mas que, como a maioria dos economistas, tem talvez o defeito de pensar que a economia é um sistema acima da realidade, seja esta a que se manifesta nos limites reais dos recursos disponíveis, a demografia ou a que decorre das deslocações tectónicas do poder e riqueza das nações. A minha divergência com Steve Keen é, no entanto, pontual e simples de entender: sem corrigir a interpretação letal de Keynes que permitiu aos bancos, governos, empresas e pessoas endividarem-se alegremente ao longo dos últimos vinte ou trinta anos, como se o mundo fosse um poço de ouro sem fundo, não haverá nenhum automatismo que faça regressar o sistema financeiro a um novo patamar de estabilidade razoavelmente duradouro.




Certamente estimulado pela presente crise mundial, Steve Keen tem vindo a modelizar uma teoria sobre a instabilidade financeira desenvolvida pelo Keynesiano crítico que foi Hyman Minsky. O devoto keynesiano Paul Krugman não terá outra alternativa que não seja estudá-lo, para melhor defender a sua cada vez mais ameaçada Nobel dama!
Most of Steve Keen's recent work focuses on modeling Hyman Minsky's financial instability hypothesis and Irving Fisher's debt deflation. The hypothesis predicts that an overly large debt to GDP ratio can cause deflation and depression. Here, the falling of the price level results in a continually rising real quantity of outstanding debt. Moreover, the continued deleveraging of outstanding debts increases the rate of deflation. Thus, debt and deflation act on and react to one another, resulting in a debt-deflation spiral. The outcome is a depression. Steve Keen argues that the current global economic crisis is the result of too much debt — in Wikipedia.
E já que estamos a escrever sobre piratas e banksters aqui fica a desconstrução realizada por Lauren Lyster da audição de Jamie Dimon no Senado americano a propósito do grande JPMorgan, que perdeu de repente DOIS MIL MILHÕES DE USD e cuja exposição aos contratos de derivados equivale ao PIB mundial!

As our guest Heidi N. Moore puts it, “the mafia has better disclosure than the banking industry.” Sadly, this type of scrutiny was not applied to Jamie Dimon today. Instead, we saw lawmakers who have JP Morgan to thank as a major contributor asking Dimon how they should better regulate JP Morgan! Plus we wonder if Banker Bonus Arbitrage is upon us, when “toxic” assets unloaded on bankers turn out to be the gift that keeps on giving. We discuss a Reuters report that raised a few eyebrows around the CA studio. Demetri and Lauren give you their take in Loose Change.