Mostrar mensagens com a etiqueta Rússia. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta Rússia. Mostrar todas as mensagens

segunda-feira, janeiro 30, 2017

A dúvida de Trump


Quem é o inimigo principal? A China, ou a Rússia?


Irá Donald Trump abandonar a teoria estratégica que dominou a diplomacia mundial desde 1904, ou, pelo contrário, o que está em causa, como sugere Immanuel Wallerstein, é saber se os Estados Unidos estarão finalmente preparados para ceder à China a missão estratégica de conter o expansionismo potencial da Rússia, esse famoso Coração da Terra descrito por Halford John Mackinder?

Most politicians, journalists, and academic analysts describe the relations of China and the United States as one of hostile competition, especially in East Asia. I disagree. I believe that the top of both countries' geopolitical agenda is reaching a long-term accord with the other. The major bone of contention is which of the two prospective partners will be the top dog.
—in “China and the United States: Partners?”
Immanuel Wallerstein. Commentary No. 441, Jan. 15, 2017

A verdade é que a Grande Rússia, czarista, soviética, ou putiniana é mesmo o coração da Eurásia, e é muito grande! Trata-se de um país continental com autonomia energética e alimentar, onde é possível ensaiar mísseis balísticos, bem como tentar aplicar a teoria do socialismo num só país. Ou seja, a sua inércia geopolítica é incomensurável, sendo que qualquer exercício de contenção sobre a elasticidade das suas fronteiras internas e próximas (Rimland) obriga a esforços económicos e humanos de incalculáveis custos, que sucessivas derrotas militares (Napoleão e Hitler, mas também Clinton, Bush e Obama) comprovaram tragicamente. A Alemanha tentou conquistar este Heartland e só não foi absorviva pela União Soviética porque os seus inimigos ocidentais da véspera lhe deitaram a mão imeditamente após a chegada das tropas russas a Berlim. O preço da ambição alemã foi, no entanto, a expansão da fronteira elástica da Mãe Rússia ao longo da chamada Cortina de Ferro e mesmo até ao interior da Alemanha, dividindo a sua capital em duas metades.

“From Stettin in the Baltic to Trieste in the Adriatic an iron curtain has descended across the Continent. Behind that line lie all the capitals of the ancient states of Central and Eastern Europe. Warsaw, Berlin, Prague, Vienna, Budapest, Belgrade, Bucharest and Sofia; all these famous cities and the populations around them lie in what I must call the Soviet sphere, and all are subject, in one form or another, not only to Soviet influence but to a very high and in some cases increasing measure of control from Moscow.”  
—Winston Churchill

A América e a Europa ocidental, apesar de serem as mais ricas regiões económicas do planeta não têm disponibilidades financeiras e anímicas suficientes para continuarem a suportar os custos de um cerco geopolítico cada vez mais caro e com perdas colaterais cada vez maiores, de que a crise migratória, a par da radicalização social e política de um e outro lado do Atlântico são as maiores ameaças recentes à sua estabilidade. Mas se assim é, porque pretende Donald Trump uma trégua com Moscovo, provocar a Alemanha, e atacar Pequim? Não seria mais lógico aproximar-se da China e encomendar-lhe parte dos custos de contenção da ameaça russa?

Segundo Immanuel Wallerstein, este é o caminho, mas tem um senão: implica que os Estados Unidos cedam o seu papel de potência dominante à China, como outrora os ingleses acabariam por fazer relativamente à sua antiga colónia. Uma tal cedência, porém, é o contrário do que diz a consigna Make America Great Again.

Nada disto faz sentido. Aparentemente. Salvo se estivermos em presença de uma manobra perversa por parte dos Estados Unidos, nomeadamente depois de constatarem que o seu declínio prossegue de forma imparável e a sua sociedade está cada vez mais dividida e violenta, ao contrário de uma União Europeia e de uma moeda, o euro, que parecem resistir a todas as tentativas (americana, inglesa e russa) de as destruirem. A manobra seria esta: criar atrito com a China, provocar a União Europeia, dar espaço de manobra à Rússia, e esperar que os temores da China comecem a aflorar nas conversas privadas entre Washngton e Pequim. É que a autonomia energética chinesa chegou virtualmente ao fim. Sem energia abundante e barata mais limpa que o carvão, até hoje usado, e sem o petróleo/ gás natural do Médio Oriente e da Ásia Central, o colapso ecológico, mas também económico de Pequim, poderá estar a menos de duas décadas de distância. O crescimento real do PIB chinês não ultrapassa hoje os 5%. Ou seja, mais do que a América, cuja suficiência energética e alimentar continua a ser evidente, é a China—a qual faz parte do famoso Rimland do Coração da Terra— que precisa de conter a Rússia! Chegados aqui, os americanos bem poderiam recolher a penates e lamber as feridas de um século de imperialismo violento.

Conclusão: os Estados Unidos desejam secretamente ceder a supremacia à China, mas sem perder a face.



REFERÊNCIAS À TEORIA GEOESTRATÉGICA DE MACKINDER

A modernidade pós-medieval começa em 1415 (tomada de Ceuta pelos portugueses), ou em 1453 (queda de Constantinopla), ou em 1492 e 1500 (descoberta do continente americano), ou em 1522 (conclusão da primeira viagem de circum-navegação), e termina, segundo H. J. Mackinder, pouco depois de 1900. Este foi o tempo que levou a conhecer e desenhar o mapa da Terra até às suas mais ínfimas paragens. Depois desta aventura, o mundo tornou-se uma realidade geopolítica fechada, não havendo mais nenhuma 'última fronteira' a descobrir ou conquistar, mas tão só territórios delimitados por nações e estados, compondo placas tectónicas e geopolíticas cujos movimentos e atritos marcam o pulsar, por vezes violento, entre as comunidades humanas que nelas habitam.

Como escreveu Harold John Mackinder na sua famosa conferência de 1904 (traduzo livremente),
Quando os historiadores num remoto futuro olharem para o grupo de séculos por que estamos a passar, com uma perspetiva comprimida como aquela que nos dá a ver as dinastias do Egito, poderá muito bem acontecer que descrevam os últimos 400 anos como a época colombiana, e digam que a mesma acabou pouco depois de 1900. 

CITAÇÕES

##
“Who rules East Europe commands the Heartland; Who rules the Heartland commands the World Island; Who rules the World Island commands the World.”(Mackinder, Democratic Ideals and Reality, p. 150) 
Competition for gaining control over natural resources between Russia and the United States together with geopolitical and strategic factors characterized the geopolitics of Central Asia. Control over natural resources as well as market access is indeed the main motto of the foreign policy direction of both states. In fact, it may be said that outlined in 1904 through his speech, the “Heartland theory” was a founding moment for geopolitics. His argument regarding the control of the Eurasian landmass (Europe, Asia, and the Middle East), is still considered as the major geopolitical prize.  
—in “Heartland Theory” of Mackinder & its Relevancy in Central Asia Geopolitics
By Suban Kumar Chowdhury and Abdullah Hel Kafi
IndraStra. Saturday, June 25, 2016

##
In Europe, North America, South America, Africa, and Australasia there is scarcely a region left for the pegging out of a claim of ownership, unless as the result of a war between civilized or half-civilized powers. Even in Asia, we are probably witnessing the last moves of the game first played by the horsemen of Yermak the Cossack and the shipment of Vasco da Gama. Broadly speaking, we may contrast the Columbian epoch with the age which preceded it, describing its essential characteristic as the expansion of Europe against almost negligible resistances, whereas medieval Christendom was bent into a narrow region and threatened by external barbarism. From the present time forth, in the pos-Columbian age, we shall again have to deal with a closed political system, and none the less that it will be one of worldwide scope. [...] 
European civilization is, in a very real sense, the outcome of the secular struggle against Asiatic invasion. [...] 
...the settled peoples of Europe lay gripped between two pressures—that of the Asiatic nomads from the east, and on the other three sides that of the pirates from the sea. From its very nature, neither pressure was overwhelming, and both, therefore, were stimulative. [...] 
It is probably one of the most striking coincidences of history that the seaward and the landward expansion of Europe should, in a sense, continue the ancient opposition between Roman and Greek. Few great failures have had more far-reaching consequences tan the failure of Rome to Latinize the Greek. The Teuton was civilized and Christianized by the Roman, the Slav in the main by the Greek. It is the Romano-Teuton who in later times embarked upon the ocean; it was the Graeco-Slav who rode over the steppes, conquering the Turanian. Thus the modern land-power differs from the sea-power no less in the source of its ideals than in the material conditions of its mobility. [...] 
For a thousand years a series of horse-riding peoples emerged from Asia through the broad interval between the Ural mountains and the Caspian sea, [...] 
The all-important result of the discovery of the Cape road to the Indies was to connect the western and the eastern coastal navigations of Euro-Asia, even though by a circuitous route, and thus in some measure to neutralize the strategical advantage of the central position of the steppe nomads by pressing upon them in the rear. 
—in The Geographical Pivot of History
H. J. Mackinder
The Geographical Journal
Vol. 23, No. 4 (Apr. 1904), pp. 421-437

##
Mackinder’s article argued that the coming of steam power, electricity, and the railways were, at last, permitting continental nations to overcome the physical obstacles that had hampered their development in the past. 
In particular, the railway was enabling tsarist Russia to exploit its vast internal resources and to make strategic inroads in the far east and towards India that its imperial rival Great Britain could not counter. Land power was thus eroding the geopolitical advantages that had been enjoyed by the western sea powers. 
The rest of the 20th century bore witness to Mackinder’s thesis. The two world wars were struggles for control of what the author called the “rimlands”, that swathe of territories running from eastern Europe to the Himalayas and beyond, just outside the Asian “heartland” itself. Soviet domination of that region during the cold war caused many a US geopolitician (Nicholas Spykman, for example) to recall Mackinder’s theories. And the recent projection of US military power into Afghanistan and various central Asian republics has rekindled interest in the hypothesis. 
—in The pivot of history
Paul Kennedy
The Guardian, Saturday 19 June 2004 12.02 BST

quarta-feira, novembro 25, 2015

Qual Islão? É o gás, estúpido!


Quem vai fornecer gás à Europa, e por onde passarão os gasodutos, eis a questão.


Rússia suspende fornecimento de gás à Ucrânia 
A petrolífera estatal russa Gazprom anunciou esta quarta-feira que suspendeu o fornecimento de gás à Ucrânia depois de Kiev ter falhado um novo pré-pagamento para obter mais entregas. i online 

Russia Says Turkey's Attack On Jet Was "Planned Provocation" As Ankara Moves Tanks Near Syrian Border. Zero Hedge 
On Tuesday evening, we took a close look at the circumstances surrounding Turkey’s decision to shoot down a Russian Su-24 near the Syrian border. The incident was the most meaningful escalation in the conflict to date and marks the first time a Russian or Soviet plane has been downed by NATO since 1953.

A temperatura da escalada bélica entre Turquia e a Rússia, quer dizer, entre a Turquia + NATO + EUA (+ Arábia Saudita + Qatar + ISIS) e a Rússia + Síria (+ Irão + China) continua a subir.

Em causa não está nenhuma divergência religiosa no seio do Islão, ou entre o Islão, o Judaísmo e o Cristianismo, mas antes saber por onde passará ou passarão o(s) futuro(s) gasoduto(s) proveniente(s) da Rússia (em alternativa à passagem cada vez mais problemática pela Ucrânia), e/ou do Mar Cáspio e/ou do Golfo Pérsico em direção à Europa, sendo que o acesso europeu às reservas do Cáspio e/ou do Golfo Pérsico  implicam passagens obrigatórias pela Turquia e/ou pela Síria e Líbano.

Clique p/ ampliar

O gás russo, cuja passagem pela Ucrânia está cada vez mais ameaçada, tem procurado chegar à Europa através de uma passagem pela Turquia e Grécia, mas os incidentes em curso poderão ter fechado esta hipótese por tempo indeterminado.

A Turquia é também um país indispensável ao projetado gasoduto proveniente do Mar Cáspio.

Por sua vez, o maior depósito de gás natural conhecido situa-se no Golfo Pérsico e é partilhado pelo Irão, xiita, e pelo Qatar, sunita. Neste caso, luta-se pelo trajeto do gasoduto até ao Mediterrâneo, ou via Arábia Saudita, Jordânia, Líbano (que o Irão jamais aceitará); ou através da projetada rede de gasodutos que atravessarão o Irão, o Iraque, a Síria e o Líbano, até chegar ao Mediterrâneo.

Percebe-se, pois, porque é que a Síria é hoje um Inferno.

quinta-feira, setembro 17, 2015

Síria, uma crise fabricada

Aylan Kurdi. Ilustração @ Antimedia

Quem engendrou e quem quer lucrar com a crise dos refugiados?


O mais deprimente mesmo foi ver como o presidente da União das Misericórdias Portuguesas, e o veterano Rui Marques, e mais não sei quantos espertos da solidariedade saltaram imediatamente para a frente televisiva, cheios de ideias e compaixão pelos refugiados. Na realidade, o que estas criaturas piedosas não deixaram de ver em primeiro lugar foram os milhões de euros que a UE (9.000 euros por refugiado acolhido) e o governo português (aqui o montante não foi ainda anunciado) terão que desembolsar por causa desta crise, criada, em primeiro lugar, pelos belicistas americanos e israelitas, mas com o apoio sonâmbulo, desde o início da guerra civil na Síria, dos indigentes políticos que pusemos à frente dos destinos desta desmiolada Europa.

Não temos 308 governos municipais? Não temos 3.092 freguesias? Não temos centenas de edifícios escolares vazios, abandonados ou à venda? Não contam as nossas Forças Armadas com mais de 3.000 efetivos, boa parte dos quais em estado de prontidão operacional? Não existem várias unidades hospitalares no recém concentrado Hospital das Forças Armadas? Não sai tudo isto dos impostos que pagamos, e da sobre dívida que suportamos? Não é precisamente nestas ocasiões que o estado deve cumprir a sua missão com eficácia e brilho? Então porque é que se levantou o indecoroso circo da desgraça alheia e se escancararam os microfones aos profissionais da piedade remunerada?

A União Europeia está cercada de fogos postos pelos Estados Unidos e por Israel

A colonização americana da Europa ocidental está em pleno curso, por via da tentativa sistemática de destruição do euro, através das guerras artificiais implantadas no Iraque, Afeganistão, Líbia, Ucrânia, Síria, etc., das sanções e tensões artificiais envolvendo o Irão, África mediterrânica, África subsariana, e ainda por meio do grande abraço de urso que é a famosa Parceria Transatlântica (TTIP), de que a frota de empresas globais já desembarcadas na Europa é uma antecipação clara do que nos espera: Standard & Poor's (S&P), Moody's, Fitch, Google, Facebook, Twitter, Microsoft, Apple, Fox, Disney, Remax, Era, Century 21, ou a mais recente e escandalosa Uber!

Na realidade, o que está em curso é a preparação de uma nova divisão do mundo em duas metades: uma metade ocidental liderada pelos Estados Unidos, que inclui todo o continente americano, a Europa ocidental, incluindo a Finlândia, Estónia, Letónia, Lituânia, Polónia, Moldávia, Roménia e Turquia, a península da Arábia e todo o continente africano; e uma metade oriental, com vértice na China e na Rússia, e abrangendo um número indeterminado de países, de que se excluem, para já, o Japão e a Austrália...

A morte de Aylan Kurdi, que na realidade fugia do auto-proclamado Estado Islâmico (ISIS), e não de Bashar al-Assad, tal como a morte de tantos outros meninos e meninas parece, pois, um dos altos preços a pagar por um novo Tratado de Tordesilhas.

Presidente sírio acusa Ocidente de usar dois pesos e duas medidas sobre migrantes
AFP - Agence France-Presse/ Diário Pernambuco, Publicação: 17/09/2015 09:09 
Bashar Al-Assad afirmou que os países ocidentais choram pelos refugiados sírios ao mesmo tempo em que alimentam a guerra que os expulsa para o exílio

"É como se o Ocidente chorasse com um olho pelos refugiados e com o segundo mirasse neles com uma arma", declarou o chefe de Estado sírio, durante uma entrevista à imprensa russa, divulgada nesta quarta-feira.

"O Ocidente (...) apoia os terroristas desde o início da crise e (aponta a responsabilidade do que acontece) para o regime ou o presidente sírio", ressaltou em sua primeira reação à tragédia dos migrantes.

O regime de Damasco chama de "terroristas" todo os seus opositores: dissidentes políticos que escolheram a luta pacífica, rebeldes que pegaram em armas e os jihadistas, incluindo os do grupo Estado Islâmico (EI).

"Se a Europa está tão concentrada no futuro dos refugiados, deveria parar de apoiar o terrorismo", insistiu Assad. Muitos países europeus apoiam a oposição "moderada" a Assad, mas que lutam contra os jihadistas do EI.

Mais de 500 mil migrantes atravessaram as fronteiras da União Europeia entre janeiro e agosto deste ano, contra 280 mil em 2014, segundo a agência europeia Frontex.

Read This Before the Media Uses a Drowned Refugee Boy to Start Another War
Antimedia, Dan Sanchez. September 8, 2015

Warmongers in government and the media are perversely but predictably trying to conscript Aylan’s corpse into their march to escalation. They are contending that Aylan died because the West has not intervened against Syria’s dictator Bashar al-Assad, and that it must do so now to spare other children the same fate.

Um, no, Aylan’s family were Kurdish refugees from Kobani who had to flee that city when it was besieged, not by Assad, but by Assad’s enemy: ISIS.

And ISIS is running rampant in that part of Syria only because the US-led West and its regional allies have given them cover by supporting and arming the jihadist-dominated uprising against Assad.

The West has been intervening in Syria heavily since at least 2012. Indeed, it is Western intervention that has exacerbated and prolonged the conflict, which has now claimed a quarter of a million lives.

quinta-feira, setembro 10, 2015

O Ocidente ainda não percebeu que deixou de ditar as regras

Chinese missiles are seen on trucks as they drive next to Tiananmen Square and the Great Hall of the People during a military parade on September 3, 2015 in Beijing, China.
(Original Photo: Kevin Frayer/Getty Images/ edited)

A guerra do gás continua a aumentar a parada belicista no Médio Oriente e no Mediterrâneo. A projeção da crise de refugiados em direção à Europa, e o colapso das exportações alimentares comunitárias para a Rússia, são o preço inicial que esta Europa desmiolada começa a pagar por causa dos idiotas que a dirigem, de cócoras para Washington.

Portugal deve tomar uma posição diplomática de distanciamento da deriva belicista euro-americana, e enveredar pela adoção imediata de uma posição de neutralidade no que começa a parecer-se cada vez mais com uma escalada bélica que pode revelar-se incontrolável.

Somos pequeninos? Somos. E por isso mesmo podemos e devemos assumir uma postura útil e pedagógica, nos antípodas das afirmações aventureiras do senhor do PS que hoje administra um banco falido chamado Banif!

Russia sends ships, aircraft and forces to Syria: U.S. officials
Reuters, Business | Wed Sep 9, 2015 11:49am EDT

Russia has sent two tank landing ships and additional aircraft to Syria in the past day or so and has deployed a small number of forces there, U.S. officials said on Wednesday, in the latest signs of a military buildup that has put Washington on edge.

The two U.S. officials, who spoke to Reuters on condition of anonymity, said the intent of Russia's military moves in Syria remained unclear.

Will China Invade Alaska, Canada? Will Russia?
The theory of 65-year cycles points to a critical moment in China's evolution
Observer, By Bernie Quigley | 09/03/15 1:02pm

Because the Chinese have been studying the cycles. From generational theorists William Strauss and Neil Howe, they have learned that political/cultural cycles last only 65 years, and then they collapse, cycles first observed by Taoist monks and Roman philosophers. And China is exactly 66 years advanced since the Chinese Communist Revolution of 1949. In terms of generational cycles, China is on the eve of destruction. (In terms of the Strauss/Howe theory, so are we.)

The Chinese have been studying Western theories and economic cycles like the Elliott Wave, which suggests that the life cycle of a dominant currency has its limitations, and the American dollar cycle has ended. They have been studying economist Harry Dent, investment gurus Jim Rogers, Marc Faber and libertarian Ron Paul, seen often here only in the shadows, and understand that America is at a full economic transition, potentially a catastrophic cultural turning.

They have been reading Nicholson Baker’s day-by-day account, Human Smoke: The beginnings of WWII, the End of Civilization. They understand fully without Western sentimentality or illusion what comes next at the end of the economic cycle: Total war.

One remark to Bernie's post: you should metric the 65 years cycle, not from 1949 on, but 1960 on, which would lead China strategic calculus to 2025. That is within a decade... The explanation for this suggestion is simples: before 1960 China had to import all the oil it needed, namely from Russia, after 1960 China became a self-sufficient oil producer... until 2015, when its Daqing oil peaked, like it peaked in USA in 1973...

So before 2030, as Donella Meadows and the team that worked with her on the The Limits to Growth predicted, the entire worl will be in big trouble.

quinta-feira, julho 09, 2015

Grexit a caminho dos BRICS?

Halford Mackinder: “The geographical pivot of history”.
The Geographical Journal, 1904


Poderá Tsipras deitar borda fora o mandato reforçado que detém?


 “Few great failures have had more far-reaching consequences than the failure of Rome to Latinize the Greek.” Halford Mackinder, 1904.

O que está em causa em mais esta tragédia grega é a capacidade do eixo franco-alemão que acelerou a criação da zona euro —no caso da Grécia, promovendo mesmo o seu acesso fraudulento ao clube (1)—, impedir a sua derrapagem, ou mesmo uma implosão de consequências imprevisíveis.

Vale a pena ler o texto da célebre conferência dada por Halford Mackinder na Real Sociedade de Geografia inglesa, em 25 de janeiro de 1904: “The geographical pivot of history”, pois aqui podemos encontrar o paradigma estratégico que ainda hoje determina o essencial das decisões estratégicas dos principais países do mundo: Estados Unidos, Rússia, China, Reino Unido, França, etc.

A ideia central de Mackinder é que o mundo aberto e em expansão da modernidade desbravado pela expansão marítima da Europa ocidental a partir do século 15 voltaria a fechar-se no dealbar do século 20 sob o estatuto de uma cartografia de mundos finalmente conhecidos, onde, sob o ponto de vista demográfico, económico e político, as principais dinâmicas de poder continuavam (e continuam) a residir nas tensões potenciais entre a Grande Rússia e os crescentes que a rodeiam e ao mesmo tempo a separam dos mares: a Europa ocidental (de que as Américas são uma extensão), o Próximo Oriente, a Índia, a China, a Coreia e o Japão.

Curiosamente, a Grécia continua mais próxima da Rússia e dos interesses estratégicos desta, do que da União Europeia e do projeto franco-alemão do euro:
“It is probably one of the most striking coincidences of history that the seaward and the landward expansion of Europe should, in a sense, continue the ancient opposition between Roman and Greek. Few great failures have had more far-reaching consequences tan the failure of Rome to Latinize the Greek. The Teuton was civilized and Christianized by the Roman, the Slav in the main by the Greek. It is the Romano-Teuton who in later times embarked upon the ocean; it was the Graeco-Slav who rode over the steppes, conquering the Turanian. Thus the modern land-power differs from the sea-power no less in the source of its ideals than in the material conditions of its mobility.” Idem

A modernidade pós-medieval e transatlântica começa em 1415 e termina, segundo Mackinder, pouco depois do ano 1900, mas só o perceberemos provavelmente de um modo irrefutável em 2015, no rescaldo do colapso financeiro da Grécia, no meio da maior crise financeira desde 1929, seiscentos anos depois da conquista de Ceuta por Portugal — onde então reinava uma inglesa chamada Filipa de Lencastre, cuja visão estratégica viria a mudar a história do mundo sobre o qual Halford Mackinder elaborou uma notável visão geopolítica, que ainda hoje determina as ações de Putin e de Obama.

Obama Calls Merkel, Reinforces IMF Case Of Debt Haircut Zero Hedge, 07/07/2015 15:26 -0400

Readout of the President’s Call with Chancellor Angela Merkel of Germany

White House:

The President and German Chancellor Angela Merkel spoke by phone this morning about Greece. The leaders agreed it is in everyone’s interest to reach a durable agreement that will allow Greece to resume reforms, return to growth, and achieve debt sustainability within the Eurozone. The leaders noted that their economic teams are monitoring the situation in Greece and remain in close contact.


Russia Asks Greece To Join BRICS Bank
Zero Hedge, Submitted by Tyler Durden on 05/11/2015 12:27 -0400

As Bloomberg reports:

Russian Deputy Finance Minister Sergei Storchak spoke with Greek PM Alexis Tsipras today, proposed that Greece become 6th member of New Development Bank set up by Brazil, Russia, India, China, South Africa, a Greek govt official says in e-mail to reporters.

A Europa e os Estados Unidos vivem há décadas acima das suas possibilidades.

Nada fizeram para corrigir esta mudança estrutural das suas economias, ou por outra, fizeram, aldrabando desde meados dos anos 80 do século passado (invenção dos CDO) os livros de contabilidade e os orçamentos, expandindo para dimensões lunáticas as suas massas monetárias e responsabilidades (dívidas), incentivando o consumo conspícuo e o mais ruinoso dos keynesianismos: ligar os tesouros soberanos (i.e. os governos) à especulação financeira global, esperando que o crescimento produtivo (e não meramente contabilístico, aldrabado) regressasse. Não regressou, e o resultado são borbulhas de mentiras e corrupção que rebentam e continuarão a rebentar por toda a parte, até que uma grande explosão, seguida de implosão geral dos mercados, obrigue a um GRANDE JUBILEU DAS DÍVIDAS, onde os prejuízos não recaiam todos sobre as populações indefesas.

É nestes momentos que os equilíbrios geográficos da política vêm de novo à superfície. A crise grega deixou, já há algum tempo, de ser uma crise económica (2) e financeira, para se transformar numa crise diplomática e estratégica de primeiro plano.

Estes dois notáveis discursos no Parlamento Europeu são uma excelente metáfora do momento crítico que vivemos.


I got angry this morning at Mr Tsipras, because we need to see concrete proposals coming from him. We can only avoid a #Grexit if he takes his responsibility. Watch my speech again here
Posted by Guy Verhofstadt on Quarta-feira, 8 de Julho de 2015




NOTAS
  1. ECB Tells Court Releasing Greek Swap Files Would Inflame Markets
    Bloomberg, June 14, 2012 — 1:32 PM BST

    June 14 (Bloomberg) -- The European Central Bank said it can’t release files showing how Greece may have used derivatives to hide its borrowings because disclosure could still inflame the crisis threatening the future of the single currency.

    Bloomberg News is suing the ECB to provide the documents under European Union freedom-of-information rules. The papers may help show the role EU authorities played in allowing Greece to mask its deficit for almost a decade before the nation’s troubled finances necessitated a 240 billion-euro ($301 billion) bailout and the biggest debt restructuring in history. 
  2. O que não quer dizer que a crise institucional, económica e financeira, não seja gravíssima, porque é. Um dos dos dados económicos invisíveis da incapacidade de a Grécia crescer significativamente é, tal como Portugal, a sua dependência do petróleo, que o gráfico abaixo ilustra dramaticamente. Também por aqui a sua aproximação aos BRICS trará provavelmente mudanças significativas no seu modelo de desenvolvimento.
"What Greece, Cyprus, and Puerto Rico Have in Common"—Gail Tverberg

terça-feira, maio 12, 2015

Rússia e China unem-se contra o belicismo americano

O presidente da França, François Hollande, se encontra com Fidel Castro em Havana.
(Foto: Alex Castro / AP Photo) Globo

A desgraça anunciada dos vassalos europeus de Washington


“...unless the dollar and with it US power collapses or Europe finds the courage to break with Washington and to pursue an independent foreign policy, saying good-bye to NATO, nuclear war is our likely future.” — Paul Craig Roberts

Se há personagem caricata na política europeia, Hollande é certamente a mais deprimente. Só depois de Obama ter anunciado o desmantelamento progressivo do cerco que há mais de meio século os Estados Unidos mantém contra Cuba é que o presidente francês, representante do estado terminal do 'socialismo' europeu, teve a brilhante iniciativa de visitar Cuba. Ou seja, a Europa continua a ser uma mão cheia de estados vassalos do falido e declinante império americano.

Entretanto, a ocorrência mais importante da semana passada foi a resposta dada pela Rússia e pela China ao expansionismo provocatório e belicista dos Estados Unidos e da sua cauda militarista, a NATO, de que faz parte uma mão cheia de estados sem espinha dorsal, a começar pela França.

Washington tem feito tudo para montar um cenário de guerra global. Russos e chineses concluíram que esta inércia belicista está a rolar a toda a velocidade, e preparam-se para o pior: uma guerra nuclear.

Quem mais sofreu e quem realmente venceu a Alemanha nazi e o Japão? 

Ao contrário do que reza a mentira americana e inglesa, foram a ex-União Soviética e a China. Hoje estes dois grandes países estão unidos numa nova aliança estratégica contra a ameaça americana, cada vez mais provocatória e belicista, e que tem arrastado na sua cauda os vassalos imbecis e sem vergonha da Europa.





Vale a pena ler a este propósito:

War Threat Rises As Economy Declines
Paul Craig Roberts, Keynote Address to the Annual Conference of the Financial West Group, New Orleans, May 7, 2015

Ex-URSS e China pagaram a mais pesada fatura da II Guerra Mundial


EXCERTOS:
Wolfowitz Doctrine:

“Our first objective is to prevent the re-emergence of a new rival, either on the territory of the former Soviet Union or elsewhere, that poses a threat on the order of that posed formerly by the Soviet Union. This is a dominant consideration underlying the new regional defense strategy and requires that we endeavor to prevent any hostile power from dominating a region whose resources would, under consolidated control, be sufficient to generate global power.”

...

When Russia blocked the Obama regime’s planned invasion of Syria and intended bombing of Iran, the neoconservatives realized that while they had been preoccupied with their wars in the Middle East and Africa for a decade, Putin had restored the Russian economy and military.

The first objective of the Wolfowitz doctrine–to prevent the re-emergence of a new rival–had been breached. Here was Russia telling the US “No.” The British Parliament joined in by vetoing UK participation in a US invasion of Syria. The Uni-Power status was shaken.

This redirected the attention of the neoconservatives from the Middle East to Russia. Over the previous decade Washington had invested $5 billion in financing up-and-coming politicians in Ukraine and non-governmental organizations that could be sent into the streets in protests.

When the president of Ukraine did a cost-benefit analysis of the proposed association of Ukraine with the EU, he saw that it didn’t pay and rejected it. At that point Washington called the NGOs into the streets. The neo-nazis added the violence and the government unprepared for violence collapsed.

Victoria Nuland and Geoffrey Pyatt chose the new Ukrainian government and established a vassal regime in Ukraine.

...

The real reason for Quantitative Easing is to support the banks’ balance sheets. However, the official reason is to stimulate the economy and sustain economic recovery. The only sign of recovery is real GDP which shows up as positive only because the deflator is understated.

...
[o novo protecionismo, interessante...]

To restore the economy requires that offshoring be reversed and the jobs brought back to the US. This could be done by changing the way corporations are taxed. The tax rate on corporate profit could be determined by the geographic location at which corporations add value to the products that they market in the US. If the goods and services are produced offshore, the tax rate would be high. If the goods and services are produced domestically, the tax rate could be low. The tax rates could be set to offset the lower costs of producing abroad.

e...

...unless the dollar and with it US power collapses or Europe finds the courage to break with Washington and to pursue an independent foreign policy, saying good-bye to NATO, nuclear war is our likely future.

Washington’s aggression and blatant propaganda have convinced Russia and China that Washington intends war, and this realization has drawn the two countries into a strategic alliance. Russia’s May 9 Victory Day celebration of the defeat of Hitler is a historical turning point. Western governments boycotted the celebration, and the Chinese were there in their place. For the first time Chinese soldiers marched in the parade with Russian soldiers, and the president of China sat next to the president of Russia.

...

As the years have passed without Washington hearing, Russia and China have finally realized that their choice is vassalage or war. Had there been any intelligent, qualified people in the National Security Council, the State Department, or the Pentagon, Washington would have been warned away from the neocon policy of sowing distrust. But with only neocon hubris present in the government, Washington made the mistake that could be fateful for humanity.


Se gostou do que leu apoie a continuidade deste blogue com uma pequena doação

sábado, fevereiro 28, 2015

Pax Americana? Niet! 不


China apoia Rússia no conflito ucraniano. Tordesilhas 2.0 dá mais um passo


Chinese diplomat tells West to consider Russia's security concerns over Ukraine
Reuters. BEIJING Fri Feb 27, 2015 3:48am EST

(Reuters) - Western powers should take into consideration Russia's legitimate security concerns over Ukraine, a top Chinese diplomat has said in an unusually frank and open display of support for Moscow's position in the crisis.

Qu Xing, China's ambassador to Belgium, was quoted by state news agency Xinhua late on Thursday as blaming competition between Russia and the West for the Ukraine crisis, urging Western powers to "abandon the zero-sum mentality" with Russia.

Há anos que vimos defendendo que o futuro do planeta oscila entre uma terceira guerra mundial em cenário MAD e uma espécie de um compromisso win-win semelhante ao famoso Tratado de Tordesilhas que, 1494, permitiu aos

“...mui poderosos príncipes os senhores D. Fernando e D. Isabel, pela graça de Deus rei e rainha de Castela, de Leão, de Aragão, de Sicília, de Granada, de Toledo, de Valência, de Galiza, de Mailhorca de Sevilha, de Cerdenha, de Córdova, de Córsega, de Murcia, de Jahem, do Algarve, de Algezira, de Gibraltar, das ilhas de Canárea, conde e condessa de Barcelona e senhores de Biscaia e de Molina, duques de Atenas e de Neopátria, Condes de Roselhão e de Cerdónia, marqueses de Oristão e de Goçiano.”
e ao
“...mui alto e mui excelente senhor o senhor D. João, pela graça de Deus rei de Portugal e dos Algarves daquém e dalém-mar em África e senhor de Guiné...”

dividir o mundo desconhecido entre si.

Enfim, depois vieram os holandeses, os ingleses e os franceses, mas no início foi assim: um meridiano elástico serviu de buffer à concorrência e conflitualidade sempre iminente entre Portugal e a ambição de hegemonia ibérica estabelecida pelos reis católicos Fernando de Castela e Isabel de Aragão—soberanos da região central da península para quem o acesso ao mar atlântico e mediterrânico e as passagens para França sempre foram críticas e vitais.

Os Descobrimentos Portugueses inseriram-se no primeiro verdadeiro movimento de globalização que se conhece, e foi, em grande medida, fruto de problemas semelhantes aos que voltamos a ter de forma aguda no Médio Oriente e na antiga Rota da Seda, ou seja na crucial Eurásia sobre a qual tanto tem escrito um dos principais estrategas norte-americanos, Zbigniew Brzezinski, ou ainda, com grande profundidade, o historiador britânico residente nos Estados Unidos, Paul Kennedy.

A Guerra dos 100 Anos foi igualmente um detonador importante da expansão ultramarina, sobretudo pelo lado inglês, depenado pela guerra, já sem ouro para pagar a colaboração holandesa na estratégia de tensão e guerra contra a França e os seus aliados: Escócia, Boêmia, Castela e Papado de Avinhão.

Os nossos historiadores, quase sempre mui atentos e obrigados, raramente objetivos, nunca estudaram convenientemente o casamento entre a inglesa de gema Phillipa of Lancaster e o nosso João I, nem o papel crucial que Filipa viria a ter na educação política e humanista dos seus filhos (Filipa fora educada por Geoffrey Chaucerthe Father of English literature, e autor dos famosos The Canterbury Tales), e sobretudo naquela que viria a ser a maior aventura do povo português desde que Afonso Henriques afirmou de espada na mão o nosso território vital.

A rainha portuguesa, com fortes ligações diplomáticas a Inglaterra e uma notória influência no seu país de origem, terá estado na origem da estratégia da conquista de Ceuta, a qual abriria as portas aos impérios ultramarinos europeus. Apanhada por uma epidemia de peste bubónica, morreira menos de um mês antes da Batalha de Ceuta, que teve lugar em 14 de agosto de 1415.

Esta breve excursão histórica é importante, pois completam-se este ano seis séculos de uma rotação da história mundial, hoje prestes a sofrer uma oscilação em sentido oposto, com o desembarque financeiro da China em Portugal. Quando a Europa do século XV saía da Idade Média, a China mergulhava no isolacionismo imperial que lhe daria cinco séculos de regressão tecnológica, económica, social e cultural.

Nasci em Macau e sei o suficnete da sensibilidade chinesa para poder afirmar que este é um ano de grande simbolismo para a China. Que grande oportunidade perdida por António Costa! Podia ter lido um discurso à altura deste momento simbólico, redigido por algum intelectual digno do nome, com grandeza e sabedoria. O que ocorreu foi uma farsa deprimente que em breve acabará com a imprestável carreira política de um alcaide que nem o cargo respeita.

Defendi e defendo que Lisboa seja para a China o que as Portas do Cerco sempre foram para Pequim ao longo de quatrocentos e quarenta e seis anos: um caminho de acesso à Europa, e um entreposto comercial privilegiado com a China.

Quando passeava pelo Bund de Xangai, numa noite de 1999, polvilhada de humidade e mistério, olhei para Pudong, então com menos de uma década de transformação naquilo que hoje é: uma impressionante metrópole. Não resisti anos mais tarde (2005) a imaginar a extensão do centro de Lisboa para a Margem Sul—uma cidade com duas margens como hoje Xangai é. Mais pequenina, sem perdermos a graça barroca da nossa história, mas ainda assim virada corajosamente e com imaginação para o futuro. Poderia a China ajudar-nos a tornar realidade esta visão? A guia que me acompanhava naquele passeio após um jantar memorável perguntou: em que pensas? Respondi: que o mundo é pequeno e que somos todos muito parecidos.

A China sabe que o inferno que hoje se vive no Médio Oriente e nas fronteiras naturais da Rússia resultam da estratégia de antecipação imperial americana, que pretende deste modo travar a expansão chinesa no mundo. Para que tal estratégia resulte será necessário aos americanos fazerem o contrário do que os europeus fizeram depois da queda de Constantinopla e da Batalha de Ceuta: fechar o ex-império ocidental ao exterior, ao Outro, numa espécie de Nova Idade Média, burocrática, autoritária, ressuscitando a caça às bruxas e o medo—matando a liberdade, claro.

Se é esta a ideia americana, tal implicará duas grandes guerras, uma contra a Rússia, na qual boa parte da Europa poderá ser destruída, e uma guerra contra a China, que começará, pelo norte, com uma confrontação liderada pelo Japão, e a sul, com a destruição da nova Rota da China em acelerada construção, através do bloqueio do Estreito de Malaca. O Pacífico será de novo um Inferno.


Talvez por compreender que os relógios desta aparente inevitabilidade aceleraram subitamente, a China tenha decidido esta semana tomar a decisão histórica de se colocar oficialmente ao lado da Rússia no conflito que a esta foi imposto pelo Ocidente, através de sucessivas provocações, de que a tentativa de integrar a Ucrânia na União Europeia e na NATO foi a gota de água que transbordou de um copo já demasiado cheio.

Se esta análise aderir à realidade, como penso que adere, Portugal está metido num grande sarilho.

A menos que acorde e resolva lançar-se na missão histórica de propor e intermediar a negociação dum novo Tratado de Tordesilhas, em nome da paz, mas sobretudo em nome de uma estratégia win-win, como aquela que no longínquo dia 7 de junho de 1494 os reis na Ibéria souberam pactar, seremos sujeitos a enormes pressões vindas do Oriente e do Ocidente. A minha cabeça está em Portugal, mas uma parte do meu coração vive em Pequim, Xangai e os olfactos primordiais nasceram em Macau.

China Just Sided With Russia Over The Ukraine Conflict
Zero Hedge. Submitted by Tyler Durden on 02/27/2015 22:25 -0500

When it comes to the Ukraine proxy war, which started in earnest just about one year ago with the violent coup that overthrew then president Yanukovich and replaced him with a local pro-US oligarch, there has been no ambiguity who the key actors were: on the left, we had the west, personified by the US, the European Union, and NATO in general; while on the right we had Russia. In fact, if there was any confusion, it was about the role of that other "elephant in the room" - China.


Se gostou do que leu apoie a continuidade deste blogue com uma pequena doação

terça-feira, fevereiro 10, 2015

Grexit? (6)

Chipre, a Chave do Mediterrâneo Oriental

Alemanha, uma vez mais encurralada


Enquanto Merkel e Hollande correm como baratas tontas entre Washington e Moscovo, Putin e Tsipras marcam pontos a cada dia que passa. A Europa precisa mais do gás e do petróleo russos, e já agora do petróleo e do gás do Médio Oriente, e da aproximação à Turquia, do que da Alemanha. Será que as cabeças quadradas de Berlim ainda irão a tempo de perceber o óbvio?

Entretanto Chipre acaba de anunciar publicamente a assinatura de um acordo com Putin para a instalação de uma base militar russa na ilha (1). Capiche?

China Org
Xinhua, February 7, 2015

Cyprus will offer Russia military facilities on its soil, President Nicos Anastasiades said on Friday.

In an interview with a local newspaper, Anastasiades said that a pact strengthening defense relations between the two countries will be signed when he visits Moscow on Feb. 25.

“We want to avoid further deterioration in relations between Russia and Europe,” explained Cyprus’ President Nicos Anastasiades upon reportedly signing an agreement to offer Russia military facilities on its soil (that we noted previously). The air force base at which Russian planes will use is about 40 kilometers from Britain’s sovereign Air Force base at Akrotiri, on the south shores of Cyprus, which provides support to NATO operations in the Middle and Near East regions. As fault lines within the EU widen, Anastasiades said in his interview that Cyprus opposes additional sanctions against Russia by the European Union over Ukraine, “Cyprus and Russia enjoy traditionally good relations and that is not going to change.”

Apesar da imprensa publicar cachas diárias sobre os prós e os contras da austeridade, a verdadeira guerra tem lugar noutro teatro de operações bem mais crucial. O que está em jogo não é a Grécia, mas a reorganização das redes de abastecimento de gás natural à Europa, e o controlo estratégico das principais reservas da principal fonte de energia do século 21.

Estas situam-se, como todos sabemos, na Rússia, na região do Mar Cáspio, na Península Arábica, no Golfo Pérsico, no Irão e no Iraque. E também na Argélia, na Líbia, e na Nigéria. Ou no Canadá, Estados Unidos e Venezuela. A Alemanha deixou-se atolar na intriga ucraniana, hostilizou estupidamente a Turquia e, como se isto não bastasse, engordou a sua balança de trocas com o exterior à conta do emagrecimento do resto dos europeus, da Rússia e da China.

Começando a ser uma vez mais olhada de soslaio por muitos europeus (é o mínimo que se pode dizer), sem força militar organizada, e com dívidas de guerra que não foram inteiramente saldadas, aos alemães resta-lhes engolir as despesas da Grécia, se não quiserem deitar tudo a perder.

Com a Rússia, a Alemanha percebeu nestes dias que não deve brincar aos polícias e ladrões. Putin não vai aceitar outra Perestroika.

O Blue Stream, em projeto (ver mapa seguinte) poderá tornar-se dentro de poucos anos uma alternativa, pelo menos parcial, ao complexo existente na Ucrânia, no fornecimento de gás russo à Europa central e de leste, nomeadamente à Polónia, Hungria, Roménia, Áustria e Alemanha.

O Reino Unido e a Rússia já começaram a construir uma alternativa à cada vez mais problemática passagem ucraniana.


Trans Anatolian Natural Gas Pipeline (TANAP)-TAP-Nabucco

New Russia – Turkey gas pipeline route approved at meeting in Ankara

Gazprom
January 27, 2015, 15:40

Ankara hosted today a working meeting between Alexey Miller, Chairman of the Gazprom Management Committee and Taner Yildiz, Turkish Minister of Energy and Natural Resources. The parties discussed the main issues of constructing a new gas pipeline across the Black Sea towards Turkey.

The meeting considered the preliminary feasibility study on the new gas pipeline and approved its new route. The four strings will have an aggregate capacity of 63 billion cubic meters a year. 660 kilometers of the pipeline’s route will be laid within the old corridor of South Stream and 250 kilometers – within a new corridor towards the European part of Turkey.

Bluestream, o gasoduto russo com entrada europeia pela Grécia

A rede de fornecimento da petróleo e gás natutal russos à Europa revela bem o que está em causa na Ucrãnia, na Grécia e no Médio Oriente

A tomada de posição da Áustria, depois da que foi assumida por Obama, não tardará a atrair mais adeptos entre os afetados pela diplomacia quadrada alemã e pela confusão mental permanente dos franceses.

Entre nós, as recentes tomadas de posição dos intelectuais do cavaquistão, Manuela Ferreira Leite e Vítor Bento, obviamente consonantes com os sinais vindos da Casa Branca, apontam sintomaticamente para um distancimaneto claro da intransigência da Alemanha. Ao contrário do que disse e diz Pedro Passos Coelho, que sofre tipicamente de uma espécie de Síndroma de Estocolmo,

Somos atlânticos, né?

Áustria coloca-se ao lado da Grécia e critica “plano de ‘esperar para ver’” de Merkel
Expresso, Cátia Bruno | 15:00 Segunda feira, 9 de fevereiro de 2015

Primeiro-ministro grego encontrou-se esta segunda-feira com o chanceler austríaco, Werner Faymann, que pediu uma solução que tenha em conta “os esforços do novo Governo [grego]”. Tsipras declarou ter feito “um novo amigo” que pode ajudá-lo nas negociações com os parceiros europeus.

NOTAS
  1. Esta notícia foi entretanto desmentida oficialmente (TASS). Os termos do desmentido deixam, porém, janelas abertas ao uso de portos e aeroportos cipriotas por navios e aviões militares russos—para operações de resgate e apoio a missões russas em África, diz a TASS.

ARTIGOS RELACIONADOS NESTE MESMO BLOG

Atualização: 11/02/2015 01:02 WET

quinta-feira, fevereiro 05, 2015

Grexit? (3)

Topol M ICBM — uma arma nuclear infernal

BCE—0, Grécia—1 


“About 700 units of military equipment, including launchers are deployed in the positioning areas in the Tver, Ivanovo, Kirov, Irkutsk regions, as well as in Altai Territory and the Mari El republic.” 
TASS

Ontem o BCE tentou humilhar a Grécia. Hoje a Rússia forçou o BCE a adiantar 60 mil milhões de euros aos gregos, e de caminho colocou armas nucleares em regime de prontidão em vários pontos do seu território. O casal Merkel-Hollande sai amanhã disparado em direção a Moscovo!

Mais do que uma simples expulsão da Grécia da Eurolândia, o que está em causa é muito maior e muito mais perigoso: trata-se de saber como irá decorrer o braço de ferro entre Moscovo e Washington em volta da magna questão dos corredores do gás natural em direção à Europa.

É hoje evidente que os americanos pretendem isolar a Rússia para tolher a China. E uma das formas de o fazer é atacar as exportações de petróleo e gás natural. Primeiro prepararam um Inferno na Ucrânia, e outro na Síria. Objetivo: cortar ao meio os gasodutos que ligam a Rússia à Europa através do território ucraniano; e depois apoiar o Qatar, a Arába Saudita e Israel a lançarem novos gasodutos em direção à Europa, dificultando ao mesmo tempo a construção do pretendido gasoduto entre a Rússia e a Grécia, com passagem única pela Turquia.

Este garrote, se funcionasse até ao fim, acabaria com Putin e lançaria a Rússia numa nova bancarrota e na agitação social. É este o objetivo da diplomacia levada a cabo pelos emissários de Obama na Arábia Saudita e na Ucrânia—com o apoio óbvio de Israel, que lançou uma ofensiva militar terrorista contra a Palestina. É percebendo esta manobra que se entenderá o aparecimento e ação psicológica global do famoso Estado Islâmico, uma criação, tal como a Al Qaida, dos serviços secretos militares norte-americanos (com a ajuda mais do que provável dos ingleses e dos israelitas).

É possível que Obama tenha um rebuçado para Putin: se deixares cair Bashar al-Assad, essencial à construção dos gasodutos Árabe e Islâmico, deixaremos a Ucrânia em paz e ao teu cuidado.

É neste teatro bélico potencial, a que os dirigentes eurolandeses assistem com ar bovino, que os ortodoxos gregos e os ortodoxos russos se encontram neste momento.

Vladimir Putin, que ameaçou já fechar o fornecimento de gás natural à Europa através da Ucrânia, oferece, porém, uma alternativa: um gasoduto através da Turquia com entrada na União Europeia pela Grécia. Mas se for assim, como poderá a Alemanha deixar cair os ortodoxos gregos?

A Turquia não se oporá, obviamente, à proposta russa.


FILME DO DIA

Rússia avisa EUA que fornecer armas à Ucrânia causará “dano colossal” às relações
Jornal de Notícias
“Nos nossos contactos com representantes da administração norte-americana sempre sublinhámos que as informações sobre a intenção de Washington de entregar a Kiev armas modernas letais nos causam grande preocupação”, disse o porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros russo, Alexander Lukashevich.

Merkel, Hollande, Putin to discuss end to Ukraine’s civil war at Moscow talks
RT. Edited time: February 05, 2015 16:26

The French president and the German chancellor are set to visit Moscow on Friday after a trip to Kiev, in order to find a peaceful solution to the escalating violence in Ukraine, the Kremlin has confirmed.

“I can confirm that indeed tomorrow [Friday] Putin, Merkel and Hollande will have talks. The leaders of the three states will discuss what specifically the countries can do to contribute to speedy end of the civil war in the southeast of Ukraine, which has escalated in recent days and resulted in many casualties,” Russian presidential spokesman Dmitry Peskov said.

Putin Invites Tsipras To Visit Russia
Zero Hedge. Submitted by Tyler Durden on 02/05/2015 10:45 -0500

While Greek finance minister Yanis Varoufakis’ comments that “we will never ask for financial assistance in Moscow,” which notably does not deny acceptance of aid if offered, and Greek Minister of Energy Panagiotis Lafazanis adding that Athens opposes the embargo imposed on Moscow, “we have no disagreement with Russia and the Russian people,” it is perhaps not surprising that, as Vedemosti reports, Russian President Vladimir Putin spoke by phone with the new Prime Minister of Greece Alexis Tsipras, congratulated him on taking office, and invited him to Russia.

[ANA]

The situation in Ukraine and other international issues, among them, “the South Stream and Turkish Stream pipeline projects, dominated a telephone call between Russian President Vladimir Putin and Greek Prime Minister Alexis Tsipras earlier on Thursday, the Kremlin announced.

Putin invited Tsipras to visit Moscow on May 9 when celebrations will take place, commemorating the peoples’ victory over fascism. On his part, the Greek prime minister underlined the importance he attributes to the fight against Nazism, expressing his intention to accept the invitation.

The Russian leader’s top foreign policy adviser Yuri Ushakov said that Putin congratulated Tsipras on his victory in last month’s general elections and on the assumption of his duties as the new prime minister of Greece.

The discussion was very warm and constructive, he said, noting that President Putin invited Tsipras to Russia. He also said that the will for a more active development of bilateral relations was reaffirmed.

The Russian ministers of foreign affairs and defence have already invited their Greek counterparts to visit Moscow.

Tsipras talks to Putin while US urges Greece to cooperate with its partners, IMF
ekathimerini, Thursday February 5, 2015 (14:55)

The United States has urged Greece to work closely with its European partners and the International Monetary Fund, a senior American official said late on Wednesday.

“We do believe that in the case of Greece it is very important for the Greek government to work cooperatively with its European colleagues, as well as with the IMF. And we have advised it to do so, and we are hopeful that these conversations are now moving to a place with some cooperation and mutual understanding.” noted the official during a conference call regarding US Vice President Joe Biden’s visit to Belgium and Germany which begins on Thursday.

The comments followed President Obama’s recent remarks with regard to austerity in Greece, in which he argued that countries could not go on being “squeezed.”

Russia Deploys Nuclear ICBM Launchers On Combat Patrol
Submitted by Tyler Durden on 02/05/2015 12:56 -0500

Perhaps it is a coincidence that a day before John Kerry’s arrival in Kiev (a visit which “coincided” with a 35% devaluation of the local currency) where among other things the US statesman discussed the possibility of official (as opposed to unofficial) deliveries of US “lethal support” to the civil war torn and now hyperinflation country, that Russia decided to put its nuclear ICBMs on combat patrol missions in various Russian regions. Specifically, according to Tass, “About 700 units of military equipment, including launchers are deployed in the positioning areas in the Tver, Ivanovo, Kirov, Irkutsk regions, as well as in Altai Territory and the Mari El republic.”

ARTIGOS RELACIONADOS NESTE MESMO BLOG

Grexit? (2)

Quem deve o quê e a quem?

Todos ralham... mas nem gregos, nem troianos têm razão


Clique para ampliar
Does Anyone Remember 2007? The Global Debt Bubble In 3 Ominous Charts
Zero Hedge. Submitted by Tyler Durden on 02/05/2015 12:08 -0500

Seven years after the bursting of a global credit bubble resulted in the worst financial crisis since the Great Depression, debt continues to grow. In fact, as McKinsey explains in their latest report, rather than reducing indebtedness, or deleveraging, all major economies today have higher levels of borrowing relative to GDP than they did in 2007. They pinpoint three areas of emerging risk: the rise of government debt, which in some countries has reached such high levels that new ways will be needed to reduce it; the continued rise in household debt; and the quadrupling of China’s debt, fueled by real estate and shadow banking, in just seven years... that pose new risks to financial stability and may undermine global economic growth.
Keiser Report — Episode 714

In this episode of the Keiser Report back in London, Max Keiser and Stacy Herbert discuss the Greek situation and that a nation is not what it thinks it is but what others attempt to hide about that nation - like the fact that it is bankrupt. They discuss the role Goldman Sachs played in helping Greece hide its debts and, thus, strapping it to the euro and the mispricing of real risk by well-compensated bond investors lending to Greece at ultra low interest rates. They also discuss that, while deflated footballs was the main headline on the nightly news in America, a memo was delivered to Obama outlining the various ways that brokers defraud American investors of years worth of retirement income.

Keiser Report en español: La verdad sobre Grecia (E714)
Publicado: 3 feb 2015 15:17 GMT | Última actualización: 3 feb 2015 15:17 GMT

Os bancos, os fundos de pensões, o investimento financeiro de poupanças privadas, e os fundos de investimento especulativo ganharam até hoje rios de dinheiro com os governos e as suas dívidas soberanas. Foi assim até que um belo dia estes investimentos, parte dos quais pertencem a fundos de pensões, públicos e privados, de inúmeros países, começaram a dar cada vez menos retorno, nomeadamente por efeito das políticas monetárias expansionistas dos governos dos países mais ricos do mundo, por sua vez, cada vez mais ávidos de recursos financeiros.

Os estados cresceram desmesuramente depois da Segunda Guerra Mundial, em número de funcionários, em responsabilidades sociais, em despesas de capital e consumos intermédios, muito para além das receitas fiscais que é razoável extrair dos rendimentos da riqueza efetivamente produzida. Daí o endividamento sistémico que atinge hoje, como uma espécie de peste negra, cerca de cinquenta países, e algumas das maiores economias mundiais: Japão, Itália, Reino Unido, Espanha, França, Estados Unidos, Alemanha, etc. O mundo inteito tem hoje uma dívida pública na ordem dos 64%, acima, portanto, do limite estabelecido pela União Europeia para a dívida pública de cada um dos seus membros.

Como resultado desta degradação orçamental dos estados subiu o apetite soberano pelo endividamento, mas as aplicações em dívidas soberanas foram sendo, apesar desta procura maciça, remuneradas com taxas de juro cada vez menores, partindo-se do princípio que os governos não iam à falência. Este contrasenso foi o resultado de uma montagem cuidadosa das chamadas agências de notação financeira. Na realidade, à degradação orçamental dos países correspondia, de facto, um risco cada vez maior, escondido, porém, debaixo das famosas notações triplo A.

O facto de este risco, após os colapsos do Subprime, e do banco Lehman Brothers, ter passado rapidamente a ser compensado pela exigência de dividendos (yields) mais elevados, com repercussões diretas nos juros a pagar pelos devedores, não resolveu todos os problemas.

Quando os juros implícitos das dívidas soberanas disparam para valores de 7% ou mais, é o próprio sistema financeiro que entra em terra incognita.

Os principais dirigentes mundiais sabem disto, mas alimentaram o conúbio entre poder político e poder financeiro durante mais de 30 anos. Basicamente, desde 2000, ou 2006, estamos no fim dum ciclo longo de crescimento inflacionista, o qual durou mais ou menos 120 anos—desde 1886, ano do jubileu da Rainha Victoria, até 200, início da crise do Subprime.


Clicar para ampliar
The Death Cross Of American Society
Zero Hedge. Submitted by Tyler Durden on 02/05/2015 15:26 -0500

As BofAML warns, if Main St. doesn’t recover this year on the back of the powerful cyclical combo of lower oil/rates/currencies then the specter of “policy failure” will haunt investors, and currency wars, debt default and deficit financing will become macro realities.

Os sintomas desta crise anunciada começaram a revelar-se claramete durante a primeira grande crise petrolífera, em 1973.

Desde o tempo de Ronald Reagan que os governos americano e europeus começaram a endividar-se, em conúbio com os bancos e as elites financeiras, garantindo desta forma que as economias cresceriam, ainda que artificialmente, nomeadamente através de várias estratégias conjugadas:

  • expansão do mercado de capitais;
  • endividamento público e privado através de crédito barato e aumento da massa monetária em circulação;
  • privatização progressiva dos setores públicos das economias;
  • controlo artifical da inflação—abaixo dos 2%, como repete até à exaustão o BCE;
  • criação de emprego não produtivo, nomeadamente nas áreas da educação e serviços;
  • assalto aos principais países produtores de matérias primas e alimentos;
  • globalização financeira e comercial;
  • informação estatística obscura, também conhecida por massagem criativa dos números!

No entanto, esta tentativa de parar a tendência inevitável para o fim de mais uma era prolongada de crescimento rápido, ou inflacionista (D H Fischer), cuja tendência subterrrânea é a incapadidade da oferta agregada global satisfazer a procura agregada global, não resultou. Ainda que tenha conseguido prolongar artificialmente a ilusão da prosperidade para todos, a verdade começa a vir ao de cima com um conhecido cortejo de desgraças: queda progressiva e consistente dos rendimentos do trabalho, mas também dos rendimentos da propriedade, da poupança e do investimento, destruição maciça de empregos, falências imparáveis de empresas, deflação, colapso social, e alterações políticas e culturais tendencialmente radicais.

As estratégias neo-keynesianas, conjugadas com o crescimento dos chamados países emergentes, boa parte dos quais havia estado sob um domínio colonial centenário, tiveram como efeito principal a criação de uma bolha especulativa global incontrolável. Só o mercado dos chamados derivados financeiros especulativos (Over The Counter—OTC), representa um potencial destrutivo na ordem de 10xPIB mundial. Se apenas 10% destes contatos especulativos derem para o torto, o buraco negro será da ordem do 1xPIB mundial.

É por isto que uma crise extrema como a da Grécia poderá ser tão explosiva e desencadear um inesperado efeito dominó.

Todos ralham, mas ninguém razão.

Mas para deixar um gosto menos amargo na boca do leitor aqui vai um remake divertido de Tom Jones ;)





ARTIGOS RELACIONADOS NESTE MESMO BLOG

quarta-feira, fevereiro 04, 2015

Guerra e Gás (IV)

Clicar para ampliar

A corrida dos gasodutos—afinal o petróleo desce por causa do gás!


As guerras, as sanções, as tensões, as degolações espetaculares, em suma, o Inferno que temos visto no Médio Oriente desde as guerras no Afeganistão e no Iraque marcam o início do grande conflito estratégico do século 21: a luta pelo gás natural.

Estão em causa os acessos e o fornecimento de gás natural à Europa, mas também à China, à Índia e ao Paquistão. As maiores reservas encontram-se na Rússia, Irão, Qatar, Turquemenistão, EUA, Arábia Saudita, Iraque, Venezuela, Nigéria, Argélia, em suma, nos sítios do costume.

Neste momento a Rússia compete com os projetados gasodutos Árabe e Islâmico na primazia do fornecimento à Europa — pretendendo chegar à Europa através da Turquia e da Grécia. A guerra de secessão em curso na Ucrânia é imprevisível e poderá acabar na redução drástica da passagem de gás russo por aquele país.

Por outro lado, parece que a Arábia Saudita resolveu dar uma ajudinha à estratégia de Obama e dos caniches europeus, promovendo os interesses estratégicos do Qatar/Irão, mas também de Israel do Egito e os seus próprios na corrida dos gasodutos. O jogo é perigoso, pois Putin pode recordar aos alemães o que lhes sucedeu em Estalinegrado quando intentaram conquistar a Rússia.

Saudi Oil Is Seen as Lever to Pry Russian Support From Syria’s Assad
By MARK MAZZETTI, ERIC SCHMITT and DAVID D. KIRKPATRICKFEB. The New York Times, 3, 2015

WASHINGTON — Saudi Arabia has been trying to pressure President Vladimir V. Putin of Russia to abandon his support for President Bashar al-Assad of Syria, using its dominance of the global oil markets at a time when the Russian government is reeling from the effects of plummeting oil prices.

Saudi Arabia and Russia have had numerous discussions over the past several months that have yet to produce a significant breakthrough, according to American and Saudi officials. It is unclear how explicitly Saudi officials have linked oil to the issue of Syria during the talks, but Saudi officials say — and they have told the United States — that they think they have some leverage over Mr. Putin because of their ability to reduce the supply of oil and possibly drive up prices.

“If oil can serve to bring peace in Syria, I don’t see how Saudi Arabia would back away from trying to reach a deal,” a Saudi diplomat said. An array of diplomatic, intelligence and political officials from the United States and the Middle East spoke on the condition of anonymity to adhere to protocols of diplomacy.

Continue reading the main story

Clicar para ampliar
Clicar para ampliar

Sobre este mesmo tema n'O António Maria

terça-feira, fevereiro 03, 2015

Mil Dias de Inferno

Fonte das Crianças, Volgogrado (ex-Estalinegrado)


Ontem comemorou-se a Batalha de Estalinegrado


A Alemanha tem um problema de acesso à energia e às principais rotas marítimas. Sempre que sonha com expandir o seu espaço vital, mete-se em grandes alhadas, e causa aos seus vizinhos enormes problemas. Foi assim nas duas últimas Guerras Mundiais. Esperemos que que não volte a cair no mesmo erro, agora que o futuro energético mundial passará, cada vez mais, pelo acesso ao gás natural. O seguidismo europeu e de Angela Merkel face à estratégia de provocação americana contra a Rússia (manobra destinada a isolar a China do seu principal potencial aliado), e a gritante falta de 'savoir faire' nas suas relações com os PIGS, são fenómenos recentes que não podem deixar de nos recordar os demónios que alimentam o negro subconsciente teutónico.

Estalinegrado foi a batalha mais importante do Séc. XX,  pois determinou a configuração política na Europa.

Em 1941, A Alemanha atacou a Rússia em 3 frentes:

São Petersburgo
Moscovo
Kiev

Inicialmente, os generais alemães estavam convencidos de que em 3 meses chegariam a Moscovo e que a Rússia passaria a fornecer todos os recursos energéticos ao regime alemão.

No entanto, só Kiev ficou sob domínio alemão. Estes chegaram a estar a 10 Km de Moscovo e cercaram São Petersburgo durante mil dias — os Mil Dias de Inferno.

Em 1942 os alemães mudaram de estratégia e decidiram atacar a região que mais petróleo fornecia o exército soviético: o Cáucaso.

Se a Alemanha tivesse ganho esta batalha a Rússia teria perdido a guerra. Os alemães perderam 300 mil homens neste confronto. Eram as tropas de elite, as mesmas que tinham invadido a França.

Os Russos perderam quase 1 milhão de homens

Passados todos estes anos, a região do Cáucaso continua a ser muito cobiçada, por causa da energia.

Vale a pena ver o vídeo The Battle of Stalingrad YouTube

OAM/ RR