quinta-feira, março 22, 2012

Novo Partido Democrata — 2


Sandro Botticelli — O Nascimento de Vénus (pormenor)

Sem classe média não há democracia!
 
Se isto é verdade, não pode deixar de ser uma grande preocupação assistirmos ao processo recentemente acelerado de destruição da classe média portuguesa, que a bancarrota do país e os grupos parasitários ameaçam transformar num processo dificilmente reversível no curto e médio prazo, sobretudo se a própria classe média não reparar na gravidade da situação e se deixar lentamente engolir pelo cano de esgoto da fiscalidade brutal e insaciável que tomou conta do nosso presente e ameaça destruir o nosso futuro.

Os ricos sempre souberem viver e os pobres sempre conseguiram sobreviver em regimes absolutistas e ditatoriais, mas os democratas e liberais, não. Se deixarmos o bloco central que há mais de trinta anos atrai as maiorias eleitorais render-se de vez aos processos de captura e manipulação da sociedade por parte dos ricos rendeiros do regime, com a consequente desintegração ideológica da democracia, haverá um momento, mais próximo do que poderemos imaginar, em que a diversidade democrática portuguesa será brutal e repentinamente reduzida à lógica maniqueísta e populista típica dos regimes pré-democráticos, dando assim lugar a uma espécie de pós-democracia miserável, tecnológica, burocrática, autoritária e policial.

O perigo de caminharmos rapidamente para uma ditadura cibernética de aparência democrática, com simulações eleitorais cada vez menos concorridas e mais manipuladas, não é uma fantasia, nem uma hipótese teórica de uma qualquer teoria da conspiração. A expropriação fiscal da classe média, que arrasta atrás de um indecente cortejo burocrático e policial o roubo ilegítimo mas aparentemente legal das poupanças e outros ativos desta classe criativa —como a família, o amor e as amizades—, está em curso e ameaça aniquilá-la em menos de uma geração. Para impedi-lo será preciso mudar o curso suicida das democracias europeias e americanas num novo tempo histórico, em que a abundância de recursos acabou e o predomínio colonial do Ocidente deixou felizmente de prevalecer na ordem mundial.

As democracias ocidentais estão no início de uma metamorfose cultural desordenada, largamente manipulada por minorias que já capturaram estados e governos por esse mundo fora, e se preparam agora para anestesiar e depois liquidar a base social das democracias modernas. Queremos que assim seja?

Suponho que não!

No primeiro texto que escrevi, em Janeiro deste ano, sobre a urgência de criar um Novo Partido Democrata, o NPD, pode ler-se:
Quando será que este governo cairá na lama? No fim da legislatura? Antes mesmo? Tudo irá depender do tempo que Álvaro Santos Pereira aguentar. A sua saída ditará simbolicamente o fim da própria presunção de inocência do senhor Passos de Coelho e do cada vez mais irritante Gasparinho. Depois deste cabo dobrado, a corrida eleitoral recomeçará! Porque pensam que anda Sócrates e a corja que deixou plantada no parlamento tão agitados?

O cada vez mais débil António José Seguro precisará em breve de recorrer a uma Unidade de Cuidados Intensivos (estratégica e táctica). Esperemos que saiba encontrar o conselheiro certo. Mas, como venho insistindo, já não chega. Aquela roseira velha não recupera sem uma grande poda!

E nós, ou seja, os que hesitam entre deixar de votar de vez, e a ténue esperança de uma renovação do jogo democrático, precisamos doutro partido para mudar este estafado rotativismo em que estamos metidos há mais de três décadas e cujo triste balanço é a bancarrota. Já não acontecia há 120 anos!
(Ler texto completo aqui)

Portugal caminha rapidamente para um segundo resgate. As palavras desencontradas do governo escondem o óbvio: o país está profundamente falido e insolvente, depende dos credores internacionais para comer e para pagar os seus funcionários públicos, as reformas e assistência médica e social ainda prestada, e para manter a aparência institucional dos cadáveres adiados da banca, que mais não fazem do que executar o pouco sangue que ainda respira na economia.

Desde a assinatura do memorando com a Troika de credores, Portugal é um protectorado, alías um protectorado formalmente independente, isto é, onde o poder político resultante de processos eleitorais cada vez mais inexpressivos pode, apesar de tudo, continuar a destruir o país, em nome do salve-se quem puder, em nome dos grandes rendeiros, em nome da continuidade patética da retórica partidária e parlamentar, em nome dos privilégios das corporações profissionais, sindicais e partidárias. Quanto maior for o buraco cavado pelas elites assassinas do país, mais doloroso e prolongado será o nosso cativeiro e mais arrasadora será a destruição da classe média.

O maior problema que temos pela frente é pois o de saber se quando acordarmos ainda iremos a tempo de nos levantarmos!

Aos que dizem que Portugal não precisa de mais partidos, repito: com os que temos não iremos a parte nenhuma. Do CDS ao dito Bloco de Esquerda, as soluções estão esgotadas, e sobretudo as dependências de cada um destes partidos do orçamento público é de tal ordem que já nada mais farão mais do que reproduzir até à exaustão as suas cada vez mais impotentes e caricatas ladainhas.

Precisamos, sim, de novos partidos e sobretudo de uma democracia menos partidária!

Parece um paradoxo, mas não é. Portugal precisa de um Estado eficiente, isto é, mais leve, mais transparente, mais profissional, mais responsável, menos partidário, mais digno, em suma. E precisa de uma ligação mais verificável e orgânica entre eleitores e eleitos. Precisa também de estender o tecido democrático para lá das paredes do parlamento e da governação central e municipal, ou seja, precisa de uma sociedade mais democrática, transparente, responsável e pragmática em todos os seus níveis de organização, cuja reflexão e apostas cheguem facilmente e influenciem os níveis superiores de decisão e governo. Precisamos, ao mesmo tempo, de libertar a sociedade, a economia, a política e a cultura das carraças, dos piolhos, das pulgas e da sarna que a atormenta e vem consumindo de forma deplorável.

Eu estou disposto a colaborar no renascimento da democracia portuguesa. E você, está?

quarta-feira, março 21, 2012

A sombra de Lutero

Alemanha preparada para abandonar o euro

Lucas Cranach, o Velho — retrato de Martinho Lutero e esposa (1529)

Uma pilha de papel em branco aguarda eventual regresso da Alemanha ao marco se entretanto a insolvência dos PIIGS se revelar irreversível e insuportável para os cofres do Bundesbank.

Quanto à viagem de António Mexia a Pequim imagino que o cabotino foi chamado a despacho pelo governo chinês, com o objectivo expresso de o mandarem calar e ser portador de um presente qualquer para Passos de Coelho. Já no que se refere à misteriosa viagem do nosso contabilista-mor a Washington, estranho sobretudo a falta de especulação da nossa imprensa. Então não acham extraordinário que o ministro das finanças de uma província minúscula do império se desloque assim de repente à América para falar com Geithner e Bernanke? Eu só vejo uma ou duas explicações para tão inusitado episódio da crise financeira em curso:

  • Os americanos querem, e têm argumentos suficientes para, moderar a aproximação sino-lusitana;
  • Portugal está em pânico com a possibilidade de Berlim exigir a devolução do que resta do ouro nazi que Portugal obteve em troca do volfrâmio exportado para o III Reich durante a Segunda Guerra Mundial, e que foram em larga medida alienadas durante os mais de trinta e sete anos de democracia populista que se sucederam à ditadura. Estas reservas de ouro, depositadas em Fort Knox (suponho), serviriam agora para cobrir parcialmente os colossais empréstimos em curso, contra os quais Portugal já não pode oferecer garantias sólidas, pois os Bilhetes do Tesouro vendidos pelo Estado português aos bancos, que por sua vez os depositam no BCE (como colateral) em troca de empréstimos a 1%, são demasiado fungíveis. Quando estes papeis tiverem que ser trocados por novos títulos de dívida, por ocasião do inevitável incumprimento e subsequente reestruturação da gigantesca dívida portuguesa, a economia portuguesa estará então provavelmente em pior estado do que está hoje — seja porque os políticos não fizeram as reformas prometidas à Troika e ao eleitorado que correu com Sócrates, seja porque a austeridade excessiva, continuada e mal distribuída acabará por destruir ao mesmo tempo a receita fiscal e a capacidade produtiva do país!

O bom humor de Vítor Gaspar contrasta escandalosamente com as últimas informações sobre a execução orçamental de 2012. Ou será que a saída da Alemanha do euro já está nos planos da Comissão Europeia, da América, do Reino Unido, da China e... de Portugal?!

Vivemos tempos de grande volatilidade, como bem demonstram os últimos despachos de John Ward/The Slog sobre o nervosismo, mas também sobre as precauções da Alemanha. Chamo, a propósito deste post montado pelas toupeiras do Slog, uma especial atenção para a crucial entrevista dada por Markus Kerber a James Turk em Setembro de 2011, e que Ward expressamente menciona.


Markus Kerber talks to James Turk

REVEALED: HOW BERLIN HAS BEEN PLANNING A EURO-EXIT SINCE 2009, The Slog.

… Berlin is sitting on a huge stock of unprinted banknote quality paper….and has reduced the amount of its existing euros in circulation. That second fact is particularly surprising given that, since the euro’s launch, Germany has led the circulation growth every year: it has one of the lowest credit/bank card usage rates in the EU, and easily the highest consumption of cash for transactions.

[…] One thing the euronote production market as a whole reveals is how little real control the ECB has on a day-to-day basis. It prints just under 8% of all the banknotes  in circulation: over four notes in five are produced by the EU member State’s own suppliers – and in most cases, they are nationalised. What ties all the ‘peripherals’ together is that none of them produce euros for anyone else – and each country’s output has a different serial prefix to identify it. So it is relatively easy for the ECB to spot when unauthorised printing is taking place. Ergo, Mario Draghi must know that the Bank of Greece has been printing without permission. But he has chosen to do nothing about it.

[…] As an EU citizen (thankfully uninvolved in the eurozone) I find all the things emerging from this very brief initial delve into euro production most disturbing. Last November the Max Keiser site focused on ECB reform as the thing most likely to evoke a German departure from the ezone. Since then, ECB boss Mario Draghi has manoeuvred Board membership at the bank skilfully to reduce German influence still further.

[…] In the same month, Chancellor  Merkel’s Christian Democratic Union party voted to allow euro states to quit the currency area, endorsing the prospect of a move not permitted under euro rules. That was a statement of intent, not the passing of a law – but it does show pretty clearly that the option is there should Berlin feel the need.

Now we learn that Berlin has a banknote paper stockpile, full control over a printer based in Berlin, is running down its euro supplies, and is ken to make euro-exit easier. As The Slog’s Bankfurt Maulwurf has always maintained, Germany has every angle covered. Yet again, digging into the facts behind the spin proves him right.
[…] Earlier in the week, The Slog led with the revelation that Germany’s banking community had told Angela Merkel, “Either Greece must be amputated, or we must leave the eurozone”. I am rapidly coming to the conclusion that both possibilities are still in play….and as always, the Fuhrerine in Berlin is waiting for events to present a clearer picture. As I noted in the earlier post this week, opinion is moving away from the German exit solution: but a post-election repudiation of the Brussels Accord in Greece, and a collapse in Spain and Portugal, would make it the hot favourite.

terça-feira, março 20, 2012

Depois do banquete

O tempo trágico por vir, chegou...

Marco Ferreri — La Grande Bouffe (1973) Na imagem: Michel Piccoli e ?

Em 1972 Donella H. Meadows, Dennis L. Meadows, Jørgen Randers publicaram The Limits to Growth. Um ano antes, a produção petrolífera americana atingira o seu pico e Nixon anunciara unilateralmente o fim do Acordo de Bretton Woods. Um ano depois dar-se-ia a primeira grande crise petrolífera e a Guerra de Yom Kippur. Neste mesmo ano a alegoria escatológica de Marco Ferreri, La Grande Bouffe, ganhou o prémio da crítica do Festival de Cinema de Cannes. Quase quarenta anos depois, a sociedade do consumo começa francamente a desfazer-se, sem descortinarmos que outra lhe poderá suceder.

A humanidade, tal com previra Donella Meadows, pode já ter passado para lá do limite de segurança da sua própria sustentabilidade, restando-lhe agora esperar pelas consequências de um desastre inevitável. Os limites de crescimento potencial do modelo económico e demográfico baseado no uso intensivo de formas de energia barata foi atingido. E nem mesmo a China parece em condições de resistir ao que aí vem, pois já deixou de poder exportar para as economias falidas do Ocidente o suficiente para continuar a recuperar a ritmo galopante o seu atraso económico, tecnológico, social e cultural face à Europa, Japão, Estados Unidos e Canadá. Uma coisa é vermos o PIB da China aproximar-se rapidamente do PIB americano, ou do da União Europeia, outra bem diferente é compararmos o PIB per capita chinês com os correspondentes níveis de produção per capita no Ocidente industrializado. A China não consegue, nem creio que conseguirá alguma vez, gerar internamente a escala e a qualidade de consumos que permitam seguir o conselho algo cínico dado por Christine Lagarde aos políticos e homens de negócios chineses: deixem de depender tão criticamente das exportações e do investimento!

O sonho americano e o sonho europeu, assentes na ilusão de uma sociedade de consumo, prazer e bem-estar social sem limites, alimentada por energias baratas, pela exploração colonial e finalmente pelo endividamento compulsivo, acabou em pesadelo. O pesadelo da destruição sistémica do emprego, o pesadelo da insolvência e da austeridade sem fim, e o pesadelo do colapso irreversível do estado social, inicialmente criado por Bismarck, no século 19, para travar a emigração germânica para a América, onde se pagavam, e pagaram até ao fim do século 20, melhores salários do que no resto do planeta. O reajustamento acabará por se dar, só não sabemos quanto vai custar e quantas vítimas irá causar.




Em Portugal os analistas despertaram tardiamente para a gravidade destes problemas. A busca desesperada de bodes expiatórios arrancou em força depois de se perceber duas coisas simples: que uma parte da sociedade tem sido sangrada e sugada paulatinamente desde os tempos de Manuela Ferreira Leite, e de forma brutal desde que assinámos o Memorando com a Troika, mas que uma outra, composta por uma difusa e algo tenebrosa elite e excepções indecorosas, tenta descaradamente escapar às suas responsabilidades. Os casos da TAP, da RTP, da Caixa Geral de Depósitos, ou do Banco de Portugal, já para não falar das mordomias parlamentares e partidárias, são um insulto intolerável à inteligência e ao que resta da democracia!

O governo já aumentou impostos e vai continuar a aumentá-los, já reduziu benefícios fiscais e despesa pública e vai ter que continuar a reduzi-los, continua, em suma, a leiloar Bilhetes do Tesouro. Só não imprimiu moeda, porque não pode!

Parte da liquidez que nos chega da Troika regressa à origem sob a forma de juros. Pelo caminho vão-se saldando parte das dívidas e impede-se o incumprimento (bancarrota), permitindo ao mesmo preparar devedores e credores para uma reestruturação mais ou menos próxima da dívida.

Os bancos não emprestam, e então o dinheiro foge dos bancos!

São as duas faces de uma mesma moeda: a moeda da deflação monetária. Mais cedo ou mais tarde terá que haver alguma reflação, sob pena de as economias europeias entrarem num ciclo depressivo semelhante ao do Japão: juros negativos, estagnação económica, regresso ao endividamento público para acudir à emergência social e para manter o sistema financeiro numa qualquer unidade de cuidados intensivos, desemprego endémico, crise política permanente...

A tosquia grega, ao contrário do que boa parte das Cassandras inglesas e de Wall Street previram aos quatro ventos, não fez ruir o dominó do euro. Temos, pois, um caso de estudo pela frente!

…as anticipated by LEAP/E2020, the handling of the “Greek crisis” (9) has quickly caused the disappearance of the so-called “Euro crisis” from the media headlines and market participants’ concerns. The mass hysteria maintained by the Anglo-Saxon media and the Eurosceptics during the second half of 2011 on this subject hasn’t lasted long: Euroland is increasingly asserting itself as a sustainable structure (10); once again the Euro is in vogue in the markets and for emerging countries’ central banks (11), the Eurogroup/ECB functioned effectively and private investors will have to accept a haircut of up to 70% on their Greek assets, thus confirming LEAP/E2020’s 2010 anticipation which then spoke of a 50% haircut when almost no-one imagined such a possibility without a “catastrophe” signalling the end of the Euro (12). Ultimately, markets always yield to the law of the strongest… and the fear of losing more, whatever the students of ultra-liberalism may say. GEAB Nº63.

Na realidade, nem todos os analistas anglo-saxónicos estão a soldo da propaganda de Wall Street e Washington. Continua a haver cabeças pensantes e que pensam bem e com honestidade sobre os problemas. Dois exemplos: a análise recente da Bridgewater sobre alguns casos históricos de reestruturação de economias excessivamente endividadas, e sobretudo o muito estudado relatório publicado em 2011 pelo The Boston Consulting Group:

Collateral Damage
Back to Mesopotamia?
The Looming Threat of Debt Restructuring

David Rhodes and Daniel Stelter
September 2011 (PDF)

Primeiro, vamos ao resumo do ZeroHedge sobre a investigação da Bridgewater, da autoria de Ray Dalio —An In-Depth Look At Deleveragings (PDF):

Last month, the world's biggest hedge fund, Bridgewater, issued a fascinating analysis of deleveraging case studies through the history of the world, grouped by final outcome (good, bad and ugly). As Dalio's analysts note: "the differences between deleveragings depend on the amounts and paces of 1) debt reduction, 2) austerity, 3) transferring wealth from the haves to the have-nots, and 4) debt  monetization. Each one of these four paths reduces debt/income ratios, but they have different effects on inflation and growth. Debt reduction (i.e., defaults and restructurings) and austerity are both deflationary and depressing while debt monetization is inflationary and stimulative. Ugly deleveragings get these out of balance while beautiful ones properly balance them. In other words, the key is in getting the mix right." Of these the most interesting one always has been that of the Weimar republic, as it certainly got the mix wrong.

[…]  as BCG showed last year [2011], the global debt overhang (on a net blended basis) to reduce global Debt to GDP to a "sustainable" 180%, would require the elimination of $21 trillion in debt, one way or another, with the excess debt concentrated primarily in the US ($8.2 trillion) and the Eurozone ($6.1 trillion).

in ZeroHedge, Presenting Bridgewater's Weimar Hyperinflationary Case Study (LINK)
E agora vamos ao resumo do ZeroHedge sobre o já famoso Back to Mesopotamia:
Boston Consulting Group confirms, the "muddle through" is dead. And now it is time to face the facts. What facts? The facts which state that between household, corporate and government debt, the developed world has $20 trillion in debt over and above the  sustainable threshold by the definition of "stable" debt to GDP of 180%. The facts according to which all attempts to eliminate the excess debt have failed, and for now even the Fed's relentless pursuit of inflating our way out this insurmountable debt load have been for nothing. The facts which state that the only way to resolve the massive debt load is through a global coordinated debt restructuring (which would, among other things, push all global banks into bankruptcy) which, when all is said and done, will have to be funded by the world's financial asset holders: the middle-and upper-class, which, if BCS is right, have a ~30% one-time tax on all their assets to look forward to as the great mean reversion finally arrives and the world is set back on a viable path.

in ZeroHedge, The "Muddle Through" Has Failed: BCG Says "There May Be Only Painful Ways Out Of The Crisis" (LINK)

Clicar para ampliar o gráfico

Se repararmos no caso portugês, ficamos a conhecer algumas cifras aterradoras:
  • Em 2009 a nossa dívida total (pública, empresarial e doméstica) já rondava os 312% do PIB
  • Ou seja, para regressar aos limites de sustentabilidade teórica (180% do PIB) seria preciso, considerando os números de 2009, uma redução do nosso endividamento na ordem dos 221 mil milhões de dólares!
Em 2009 o endividamento das empresas não financeiras (139%) estava bem acima das dívidas pública (76%) e doméstica (97%). A avaliação confere, aliás, com o que vamos sabendo das escandalosas dívidas acumuladas pelas empresas do setor empresarial do Estado que se colocaram artificialmente fora do perímetro orçamental público, das PPPs e do setor imobiliário.

Sabe-se, entretanto, que medidas de austeridade que impliquem cortes orçamentais anuais acima dos 3% do PIB redundam rapidamente em agitação social. Ou seja, e no caso português, o limite da austeridade poderá andar pelos cinco mil milhões de euros anuais, ou seja, para regressar aos 180% de endividamento global teríamos que aguentar mais de quatro décadas de empobrecimento contínuo!

Como está bem de ver, é impossível, e portanto o discurso otimista de Vitor Gaspar aposta numa má notícia externa (a da própria insustentabilidade do sobre endividamento europeu e americano) para desdizer o que vem afirmando à boca cheia neste últimos dias. Portugal não poderá evitar a reestruturação, isto é o repúdio de uma parte da sua colossal dívida. Tal como na Grécia, quem tiver Bilhetes do Tesouro de Portugal será forçado, mais cedo ou mais tarde, a trocá-los por outros, valendo substancialmente menos.

Hu Jieming, Raft of the Medusa, 2002, Photo

Em 2002 o artista chinês Hu Jieming, de Xangai, que eu convidara a expor em Portugal, no já longínquo ano de 1999, realizou uma foto-montagem digital quase tão profética quanto o filme de Marco Ferreri. Parodiando a famosa pintura histórica de Théodore Géricault, Le Radeau de la Méduse, Jieming anuncia o impossível sonho da sociedade de consumo chinesa. Xangai crescia então exponencialmente. Desde 2008, porém, que a China tem alimentado uma bolha imobiliária gigantesca, na expectativa de conter o alastramento dramático do seu contingente de mais de quarenta milhões de desempregados. Quando rebentar, e já começou a rebentar, o sonho americano da China esfumar-se-à, deixando atrás de si cidades abandonadas e muitos náufragos :(

quinta-feira, março 15, 2012

Lóbi do novo aeroporto não desiste!

O Gaspar no bolso do BPN (perdão SLN), é isso? Se é, corram com o homem. Contabilistas é o que há mais por aí!

Um comboio bala na China viaja 664 milhas, de uma cidade costeira do sul até ao interior do país. O plano americano é ligar Tampa a Orlando. E em Portugal deveria ser ligar Lisboa a Paris, Lyon, Barcelona e Milão, passando por Madrid, e ainda Aveiro-Porto a Salamanca-Irún-França e à Galiza, até 2020.
(Foto: Shpherd Zhou/European Pressphoto Agency, in
"China Sees Growth Engine in a Web of Fast Trains"

Além do mais não se esqueçam deste pormenor importante: a Espanha é o nosso maior credor. Ou seja: poderá retaliar de duas maneiras: 
  1. exigindo mais ativos pela insolvência próxima do país; e 
  2. fechando a passagem ferroviária de Portugal para a Europa transpirenaica durante os próximos 50 anos, argumentando calmamente que a decisão de transformar Portugal num prolongamento das Berlengas, foi exclusivamente lusitana. 
Nessa altura, se o desastre vier a ocorrer, talvez, sob influência chinesa e de alguma ditadura militar entretanto instalada no terreno, já tenhamos adotado o mesmo código de tratamento punitivo que a China hoje aplica aos corruptos comprovados. É que a defesa dos interesses estratégicos de um país extravasam em muito o pormenor do perfil cultural dos regimes!

Para quem não entende todo este imbróglio, basta fixar o seguinte: se a prevista ligação ferroviária Poceirão-Caia for concretizada (como espero!) o embuste do Novo Aeroporto da Ota em Alcochete (eNAO-A) cairá por terra sem apelo nem agravo. O que é, sublinhe-se, o mais desejável, se nomeadamente pensarmos a gestão do sistema integrado de transportes, nesta fase de declínio das reservas petrolíferas, de uma forma racional e estratégica. O petróleo atingiu ontem um máximo histórico em euros!

Levar as companhias de baixo custo (Low Cost) para o Terminal 2 da Portela, situação que ocorrerá já no próximo dia 20 de Março, deixar as magníficas e novíssimas mangas do Terminal 1 para o famoso hub da TAP e outras companhias de bandeira, manter em stand-by o aérodromo militar do Montijo para expandir a Portela, nomeadamente nos segmentos Low Cost e Carga, e inaugurar enfim a mais do que pronta nova estação de Metro do Aeroporto, é o que se espera de um governo de crise e que afirma aos quatro ventos (falta demonstrar!) que não está no bolso dos execráveis rendeiros deste país (SLN, BES, Mellos, Mota-Engil, etc.) 

Quanto aos terrenos do aeroporto, prometidos ao senhor Stanley Ho, proponho uma alternativa: façam de Beja um grande centro internacional de lazer — Las Bejas! Seria, aliás, a única forma de recuperar os 38 milhões de euros lá enterrados pelos adiantados mentais do anterior governo.
Gaspar trava pressão de Bruxelas para avançar com TGV ‘low cost’ — Económico

A Comissão Europeia está a pressionar o Governo, mas receia que Vítor Gaspar enterre o projecto, mesmo na sua forma reduzida


 A Comissão Europeia está a pressionar o Governo português para apresentar rapidamente um plano de construção da linha de alta prestação de mercadorias e passageiros, que ligue os portos de Portugal a Espanha, aproveitando as verbas que o Fundo de Coesão tem disponíveis para este projecto, uma versão reduzida do antigo TGV.

A pressão está a ser exercida pela Direcção Geral de Política Regional e Transporte, onde um responsável ouvido pelo Diário Económico sublinha o facto de o País ter ainda "733 milhões de euros por atribuir a este corredor Sul-Oeste". Lisboa também tem sido pressionada por Madrid que, de acordo com a mesma fonte, "vai perder 133 milhões de euros" das redes transeuropeias (RTE) se Portugal não avançar com o projecto. As reuniões entre os responsáveis ibéricos têm sido inconclusivas, mas em Bruxelas espera-se um sinal na reunião europeia dos ministros dos Transportes, a 22 deste mês.

Em Bruxelas, este responsável justifica as reticências do Governo com o "problema político" do TGV ter sido uma "ideia forte do anterior Executivo" e com o facto de, neste momento, ser "politicamente difícil explicar aos cidadãos a aposta numa obra desta envergadura".  Económico, 15 mar 2012.

Se as manobras do lóbi criminoso do eNAO-A triunfassem isso significaria automaticamente o seguinte:
  1. A perda de mais de 800 milhões de euros de fundos comunitários não transferíveis e indemnizações, nomeadamente ao consórcio ELOS, de quase duzentos milhões euros, ou seja, e tudo somado, mais de mil milhões de euros perdidos, por um governo que se revelaria então, escandalosamente, como mais um boy dos rendeiros corruptos que levaram este país à bancarrota;
  2. A criação de zero novos postos de trabalho;
  3. A criação de zero novas empresas que poderiam, em Portugal, complementar e reforçar o já importantíssimo cluster ibérico associado ao transporte ferroviário;
  4. O encarecimento estrutural do nosso sistema de mobilidade e transportes, de pessoas e mercadorias, nomeadamente nos decisivos setores das exportações e da mobilidade de recursos humanos tecnologicamente avançada;
  5. A destruição do enorme potencial dos portos atlânticos portugueses, cuja dedicação ao transhipment seria virtualmente anulada pela barreira ferroviária que em breve a Espanha será para Portugal se não tornarmos a nossa rede ferroviária compatível com a rede ferroviária europeia em desenvolvimento (e que obviamente não usa a bitola ibérica);
  6. E finalmente, a perda completa de credibilidade de um país que rejeita utilizar recursos financeiros escassos —postos à sua disposição em nome de um projeto europeu integrado—, ainda por cima com graves prejuízos para o país vizinho, o qual, por via da irresponsabilidade extrema de uma corja de governantes corruptos portugueses, perderia também vultuosos fundos comunitários não transferíveis.
A lunática e mendicante imprensa portuguesa vai acordando lentamente para os problemas. Mas, enfim, mais vale tarde do que nunca.
Madrid e Bruxelas pressionam Lisboa a avançar com versão “Light” do TGVRTP
 
Outro responsável na Comissão Europeia pela área dos transportes reconhece que a escolha de avançar ou não com a versão reduzida do antigo TGV “ é uma decisão soberana do país” , mas adverte que “seria uma oportunidade falhada determinar o fim abrupto da linha de alta-velocidade”.

Segundo explicou ao Económico este responsável, “há uma boa razão económica “ para avançar com este projeto agora. Se os 733 milhões que estão ainda por atribuir ao corredor Sul-Oeste forem gastos até 2013 terão co-financiamento de 95 por cento e se o forem entre 2013 e 2015, a taxa de financiamento cai para 85 por cento.

A mesma fonte explica que a parcela nacional “pode ser facilmente compensada pela receita adicional que resultará de impostos e descontos para a segurança social dos trabalhadores das empresas de construção”.
O tempo está a esgotar-se
O tempo urge porque é preciso pelo menos um ano para o projeto passar por concursos públicos até avançar no terreno.

De acordo com este responsável, outro argumento a favor do projeto está no facto de, se Portugal não avançar com o projeto neste quadro financeiro (2007/2014) “terá mais dificuldade em obter fundos no próximo quadro de 2014/2020”. RTP, 15 Mar 2015.
 Última atualização: 15 mar 2012 11:57

quarta-feira, março 14, 2012

300 Pontes Vasco da Gama

Em 2009 Portugal já tinha acumulado uma dívida superior a 300 mil milhões de dólares. Quem paga?

O custo exagerado da Ponte Vasco da Gama (cerca de mil milhões de euros) tornou-se na medida-base do nosso escandaloso endividamento

Custos da Ponte Vasco da Gama (1998/ valores em euros)

Fundo de Coesão da U.E.: 319.000.000,00 (35,6%)
BEI: 299.000.000,00 (33,3%)
Portagens da Ponte 25 Abril: 50.000.000,00 (5,6%)
Acionistas, etc.: 229.000.000,00 (25,5%)

Custo Total da Ponte Vasco da Gama: 897.000.000, 00   

O memorando assinado pelos representantes de Portugal e pelo BCE, União Europeia e FMI, apontou um caminho: consolidação fiscal, abertura dos mercados protegidos à concorrência, e melhor redistribuição da riqueza, nomeadamente através dos mecanismos de transparência, supervisão e aplicação da equidade próprias dos regimes democráticos.

O governo foi rápido a esfolar a maioria dos contribuintes, conseguindo até a proeza de aumentar rapidamente a taxa de mortalidade do país! Já no que se refere à segunda metade do acordo que os portugueses sufragaram em mais umas eleições, realizadas em circunstâncias de crise agravada das contas públicas e privadas do país, o governo do Jota Passos de Coelho nada fez. Promete, vagueia, ausenta-se, mas a verdade é que os acontecimentos têm vindo a mostrar que o mesmo poder (isto é, o Bloco Central da Corrupção) que nos conduziu até à desgraça, escancarada desde 2008, persiste na mesma via, só que agora agravada pela falta que em breve será evidente de qualquer colete de salvação — seja o do crédito internacional privado, seja o dos resgates financeiros promovidos pela União Europeia em claro desespero de causa. Portugal não conseguirá atingir a meta do défice, nem mesmo roubando todo o QREN para martelar uma vez mais os balanços.

Os ingleses, que anunciaram um empréstimo público obrigacionista a 100 anos de vista (coisa igual só ocorreu naquele país para pagar a Primeira Guerra Mundial), decidiram também e ao mesmo tempo rever as suas PPPs. Não consta que algum político de pacotilha tenha ido ao parlamento assustar os deputados de sua majestade com o poder dos escritórios de advogados!

Os piratas da EDP, da Mota-Engil, do BES e do Grupo Mello, entre outros, cujas rendas escandalosas deveriam já ter sido drasticamente revistas e reduzidas, são a pedra de toque da sobrevivência do atual governo (ver quadro completo das PPP: Q1, Q2, e ler o Relatório). Se o que já transparece for o que parece, não dou mais de um ano de vida a esta coligação de fracos.

O contrato da Ponte Vasco da Gama, assinado em 1995 (governo de Aníbal Cavaco Silva, com Joaquim Ferreira do Amaral no cargo de ministro das obras públicas), tendo o seu custo atingido um total de 897 milhões de Euro — é disto mesmo um verdadeiro paradigma.

Os fundos comunitários representaram cerca de 35% do seu custo, e os comentários do Tribunal de Contas sobre o financiamento desta ponte foram deste quilate:

“Só pelo facto do Estado ter prolongado a concessão 7 anos as perdas foram superiores a 1047 milhões de euros”.

Fazendo contas chegar-se-à à conclusão de que esta infra-estrutura irá custar, no total, quase o triplo do preço original. Teria sido assim muito mais proveitoso para o Estado pagar a totalidade da obra, recorrendo a um empréstimo a 30 anos, deixando a amortização por conta das receitas de portagem portagem.

O TC é lapidar:
"Na verdade, afinal, o Estado concedente tornou-se no mais importante e decisivo financiador da concessão, sem a explorar" (Relatório completo/ PDF)
Mas o mais importante, que não está a ser discutido agora, a propósito da escandalosa tentativa governamental de entregar à Lusoponte receitas indevidas, por conta das portagens do passado mês de Agosto, que foram cobradas, ao contrário da "borla" habitual (paga por quem passa e por quem não passa na ponte), é outro assunto muito mais sério!

O Estado Português concedeu à Lusoponte, até às 24 horas do dia 24 de Março de 2030, o direito de opção na construção das novas travessias rodoviárias entre Vila Franca de Xira e Algés-Trafaria. Ou seja, o Estado não só financiou uma empresa privada, como lhe atribuiu o privilégio de rendeira monopolista de todas as pontes rodoviárias desde Vila Franca até ao mar!

Joaquim Ferreira do Amaral é desde 2008 um dos administradores não-executivos da Lusoponte, a qual foi entretanto adquirida pela Mota-Engil, presidida pelo "socialista" Jorge Coelho. Palavras para quê? São artistas portugueses e usam e abusam da ingenuidade dos indígenas que exploram e gozam alegremente.

segunda-feira, março 12, 2012

Pastel de Nata

Os pasteis do Álvaro? Um déjà vu!

Um verdadeiro pastel de nata, fabrico do bb Gourmet, Porto


‎Eu comprei um pastel de nata (juro!) em plena Xangai, numa rua pedonal, onde os chineses viam futebol numa pantalha gigante, tudo isto há mais de uma década — no ano 2000!

Há muito tempo, aliás, que sugiro aos portugueses que criem um McDonalds do bacalhau, isto é, um McCod! Basta substituir a carne picada pelo bacalhau picado, obviamente criado no mar alto como o salmão — hélas, la technologie ça se voie, non

E aos meus amigos espanhóis, que são muitos, venho recomendando, desde bem antes desta malfadada crise (1), a criação de uma cadeia mundial de pequenos hotéis dedicados à sesta, essa instituição de cultura, certamente inventada pelos árabes, mas ainda hoje religiosamente praticada por galegos, bascos, castelhanos, andaluzes e valencianos, e ainda pelos alentejanos que se prezam. Até lhes ofereci o nome para esta minha ideia luminosa: Siesta House!

Finalmente, uma outra ideia minha, não menos genial, passa por aproveitar o aeromoscas de Beja, um investimento de 38 milhões de euros, deserto de clientes, no vai-e-vem da futura Las Bejas — The Great Stanley Ho Adventure in Euroland. Não é preciso explicar mais nada, creio!

O tempo da chuva de euros terminou. Agora, ou temos ideias, ou empobrecemos. É esta a história dos pasteis de nata contada pelo nosso super ministro da economia, da indústria e do emprego. Só os burocratas, a corja partidária e os rendeiros do meu país não perceberam, ou não gostaram da moral que ela obviamente contém.


ACTUALIZAÇÃO (5 jun 2012) 


O Álvaro bem tentou avisar a malta, mas a malta anda a passo de caracol e olhar bovino... atrás da bola... e então, já está: 1300 milhões de comedores de pasteis de nata potenciais já têm fornecedor: a Julia e a cadeia Lillian Cakes de Xangai, que foi quem confecionou e serviu 1700 pasteis de nata num só dia no Pavilhão de Portugal da Expo de Xangai. Continuem à espera de São Bento e depois não se queixem!


NOTAS
  1. "Economists say euro crisis may not be over" (EurActiv)

sexta-feira, março 09, 2012

Chapéus há muitos!

A Gasparinho o que é de Gasparinho, e a Álvaro o que é de Álvaro!

É mais fácil ver o Gasparinho a claudicar do que o Álvaro
(Imagem de WHKITG)

O emigrante Álvaro resistiu como desde o início anunciei em contra-mão de toda imprensa de ouvido, da méRdia indigente e ainda da que está a soldo das ratazanas da energia, dos aeroportos que cantam, e das altas de Lisboa!
"O ministro Álvaro Santos Pereira está a fazer um bom trabalho à frente do ministério da Economia e não tenciono prescindir dele" — disse hoje o primeiro-ministro — Jornal de Negócios, 9 março 2012.
Imagine-se, por um momento, que Álvaro Santos Pereira saía. Como ficaria o governo de Passos Coelho depois de perder um ministro com tantas pastas (apesar de não ter dinheiro)? Quem iria para o seu lugar, sabendo que iria ocupar um ministério aparentemente indomável, sem dinheiro, com novos secretários impostos pelo primeiro-ministro, e subordinado aos humores gagos do agora recandidato a António de Oliveira Gaspar? Como seria a coisa vista de Bruxelas? Ou de Frankfurt? Ou de Berlim?! Em que situação ficariam Passos Coelho e Vítor Gaspar depois de atirarem ao chão, por medo, ou por fraqueza diante dos lóbis que se agitam como crocodilos num charco sem água, o membro mais importante do governo, depois deles próprios? Quem seria mais tarde responsabilizado pela recessão e pela falta de novas estratégias de desenvolvimento? Quem lidaria com as empresas? Quem aturaria os sindicatos? Eu sei que o PSD está cheio de trogloditas a salivar por um tacho onde só tenham que obedecer ao chefe, que é a situação mais confortável para ir roubando ou ajudando a roubar umas coisas! Mas não saberá já Passos Coelho aonde uma tal estupidez de condução política o conduziria em menos de seis meses? Esta tarde revelou, que sim!

Eu percebo, e já escrevi, que o ministro das finanças queira, e o país precise, de maior controlo no gasto dos dinheiros públicos, sobretudo quando há eleições autárquicas pela frente e a maioria dos municípios está tão ou mais insolvente que o resto do país. E que seja bom implementar uma vigilância financeira preventiva à aplicação dos fundos comunitários do QREN, e até uma reordenação das prioridades do esforço orçamental. Mas não é para estas coisas que servem os conselhos de ministros, o tribunal de contas, a unidade técnica de apoio orçamental, o conselho de finanças públicas recentemente criado e os tribunais convencionais? Aliás, se estes últimos funcionassem nestas coisas, como deveriam imperativamente funcionar, alguém crê que teríamos casos judiciais encalhados como o Freeport, ou outros que nem chegaram ainda a ser casos de polícia, mas que têm todo o aspecto de serem, como, por exemplo, o escândalo da requalificação dos edifícios escolares?

Para se salvar do desaire total Pedro Passos Coelho lá teve que inventar um "chapéu" para supervisionar a revisão e a aplicação do QREN. É caso para dizer: chapéus há muitos!

O pior da situação económica, social e financeira não passou. Encontra-se ainda à nossa frente, como evidencia a evolução do caso grego. Para todos os efeitos, a Grécia entrou em bancarrota parcial, e muitos investidores e sobretudo especuladores ficarão a arder, incluindo os bancos portugueses que andaram a jogar com a dívida grega soberana! Quem perdeu, e cria que iria ganhar o braço de ferro com a senhora Merkel, já começou a olhar para Portugal, Espanha e Itália, e a coçar a cabeça, a pensar nos descontos!

O nosso país dificilmente escapará de uma reestruturação da dívida pública, isto é, de uma bancarrota parcial, com incumprimento de obrigações nacionais e internacionais, e a troca de uma parte da sua dívida velha, insolvente, por novas promessas de pagamento.

Até que este pesadíssimo episódio ocorra, em 2013..., 2014..., 2016? (1) a nossa situação colectiva irá piorar e muito. Talvez por saber isto mesmo, o traste presidencial que elegemos tenha já começado a revelar o que até há pouco era matéria reservada das reuniões entre ele e o primeiro-ministro. Um verdadeiro sinal de desorientação e cobardia política inimagináveis. Está na altura de começarmos a pensar colectivamente na hipótese de impugnar este presidente, se o mesmo, entretanto, não tomar a boa iniciativa de renunciar ao cargo.

Vai ser necessário derrubar alguns Távoras, sob pena de cairmos no caos. Mas para isto o governo de Passos Coelho terá que evidenciar uma liderança independente e forte, mostrando claramente o que pode dar a cada um de nós, mas também o que ainda terá que cortar, para salvar o país de uma completa perda de independência. Tem que ser claro, e deixar-se de jogos políticos que só irritam mais uma população já muito irritada!

A força de que naturalmente precisa, naturalmente virá, se não brincar com os portugueses.

NOTAS
  1. Para o diário alemão Die Welt, segundo reportou a Lusa às 17:38 (ver notícia SIC-N das 21:01), a nova seringa do resgate português pode vir a ser necessária já no próximo Outono :(

Última atualização: 10 Mar 2012 21:53