A apresentar mensagens correspondentes à consulta Tordesilhas ordenadas por relevância. Ordenar por data Mostrar todas as mensagens
A apresentar mensagens correspondentes à consulta Tordesilhas ordenadas por relevância. Ordenar por data Mostrar todas as mensagens

terça-feira, abril 01, 2014

Rota da Seda 2

Xi propõe a Angela Merkel reconstruir a Rota da Seda

Rota da Seda 2

Marc Faber: "...exports from China to emerging countries are higher than exports to the US or Europe." (The Money Morning, 31 March 2014)

A China e a Rússia querem restabelecer a Rota da Seda. Mas à cautela é também necessário reestabelecer a Rota das Índias, com um atalho terrestre chamado caminho de ferro Lobito-Nacala, que falta concluir, mas para o qual a China tem dado o seu contributo interessado.

Tal como prevíramos, estamos a caminho de um Tratado de Tordesilhas 2. 

Vai ser doloroso para os Estados Unidos reconheceram que a sua hegemonia já era, e que de ora em diante terão que deixar de tratar o planeta como uma quinta sua onde entram e saem quando querem, sem pedir licença a ninguém e deixando atrás de si, invariavelmente, países destruídos e milhões de mortos. 

A Europa, ou melhor, a Europa liderada pela Alemanha, escolheu, e por sua vez foi escolhida, quer pela Rússia, quer pela China, como aliado privilegiado de um novo equilíbrio geopolítico. Daí ser Frankfurt, e não Londres, a praça financeira escolhida para liderar na Europa a elevação do Renminbi à categoria de nova moeda de reserva mundial. Percebe-se agora o motivo de tanta espionagem sobre a Alemanha e sobre Angela Merkel por parte dos serviços secretos americanos e ingleses.

Talvez seja agora mais fácil perceber o que se tem passado na Síria, na Turquia e na Ucrânia.
 
President Xi calls on China, Germany to build Silk Road economic belt
Xinhuanet, 2014-03-30

Chinese President Xi Jinping (C) visits Duisburg in Germany, March 29, 2014. (Xinhua/Rao Aimin)

DUSSELDORF, Germany, March 29 (Xinhua) -- Chinese President Xi Jinping Saturday called on China and Germany to work together to build the Silk Road economic belt.

Xi made the remarks during a visit to Port of Duisburg, the world's biggest inland harbor and a transport and logistics hub of Europe.

He said China's proposal of building the Silk Road economic belt, based on the idea of common development and prosperity, aims to better connect the Asian and European markets, will enrich the idea of the Silk Road with a new meaning, and benefit all the people along the belt.

China and Germany, at the opposite ends of the belt, are two major economies that serve as the driving engines for economic growth respectively in Asia and Europe, Xi noted.

Rota das Índias 2


Linha ferroviária Lobito-Nacala em construção

A luta pelo controlo da Eurásia prossegue. O tesouro é, como sempre foi, imenso. O perigo de uma guerra em grande escala no Médio Oriente está na agenda dos falcões de Washington. As provocações sucedem-se. Os Estados Unidos querem fazer três coisas bem difíceis: voltar a espezinhar a Alemanha e controlar a Europa com a ajuda dos poodles ingleses, provocar uma guerra no centro-leste da Europa e/ou no Médio Oriente, para cortar o acesso de uma parte da Europa ao petróleo e gás russos, condicionando assim o acesso da China ao petróleo árabe e do Mar Cáspio e, por fim, bloquear o Estreito de Malaca à passagem dos navios chineses em direção à Península Arábica e a África. Eu diria que é uma missão impossível nesta altura do campeonato. Mas mais vale denunciar desde já o intento e travar os neocons que telepontam Obama, do que remediar.

Lisboa, Portugal e a Península Ibérica voltam assim a ser uma das placas da estratégia mundial.

Se houver dificuldades de abastecimento de petróleo e gás natural oriundos da Rússia, do Médio Oriente e de África (gasoduto Nigéria-Argélia) à Europa, se houver bloqueios marítimos a la cubana, então os portos atlânticos portugueses e espanhóis, assim como as redes ferroviárias de bitola UIC interoperáveis com as redes europeias, e a rede de autoestradas ibéricas serão cruciais para impedir uma qualquer manobra de isolamento económico da Alemanha, França, Holanda e Áustria, entre outros países do centro e norte da Europa Ocidental.

Pelo sim, pelo não, o melhor é andar depressa na rede ferroviária de bitola europeia prevista nos acordos bilaterais com Espanha (sob pena de serem os portos espanhóis a fazerem o serviço todo), aumentar rapidamente a capacidade e operacionalidade dos portos de águas profundas, e investir na reindustrialização tecnológica do país. Os fundos de investimento atolados de liquidez sem destino terão aqui uma boa oportunidade de ganhar algum dinheiro.

Nesta conjuntura perigosa, Portugal deverá assumir uma posição de neutralidade e de cooperação diplomática intensa, usando a sua vastíssima rede de proximidade cultural e política, de que fazem parte, além da Alemanha, França e Reino Unido, muitos outros países, como a China, o Brasil, Angola, Moçambique, Cabo Verde ou Timor.

Também por tudo isto, o manifesto pela reestruturação da dívida pública portuguesa, proposto por Francisco Louçã e demais feiticeiros despesistas da macro-economia da treta, é um erro colossal.

Atualizado em: 1/4/14 11:27

sábado, dezembro 13, 2008

Portugal 61

Os pequenos também contam

US hails Lisbon Guantanamo offer

13-12-2008 (BBC) A senior US official has described as a "significant step" Portugal's offer of asylum for some inmates from the US detention centre at Guantanamo Bay.

“Passo decisivo”, diz a administração Bush
Oferta de Portugal sobre Guantánamo destacada na imprensa estrangeira

12-12-2008 (Público) A disponibilidade de Portugal para acolher detidos de Guantánamo é hoje notícia em todo o mundo, com “The New York Times” e “The Washington Post” a destacarem o passo decisivo que representa para o encerramento do campo.

“Numa iniciativa diplomática decisiva que provavelmente vai ajudar a administração Obama a encerrar o campo de detenção de Guantánamo, Portugal disse esta semana que está disposto a receber alguns detidos e instou outros países europeus a aceitar os detidos que permanecem no campo”, escreve o “New York Times” na sua edição de hoje.

A Irlanda provou que um pequeno país pode bloquear a União Europeia e conduzir os burocratas de Bruxelas às mais caricatas acrobacias. Portugal acaba de provar que um pequeno país, sobretudo se tiver inteligência táctica e a visão estratégica no sítio, pode desbloquear um impasse e provocar uma discussão importante no seio da União Europeia. Luís Amado, um dos ministros mais capazes e sérios de um governo decepcionante, acaba de dar um contributo notável, e sobretudo seguro, para o novo relacionamento estratégico entre a Europa e os Estados Unidos.

Ao contrário dos traidores inconscientes, que depois de caírem nos bolsos de Madrid, têm vindo a dar criminosamente espaço e oportunidade à estratégia mini-imperial dos leões sem dentes da Zarzuela e da Moncloa, o actual ministro dos negócios estrangeiros português foi capaz, até agora, não só de reparar os estragos causados por Durão Barroso (pela forma quase canina como colaborou com George W. Bush, Blair e Aznar), mas também aproveitar todas as oportunidades para reafirmar o posicionamento estratégico de Portugal no reforço dos comandos atlânticos da aliança euro-americana.

O mundo caminha para um reajustamento tectónico sem precedentes —provavelmente o mais importante dos últimos 600 anos (1415-2015).

Não vejo como se poderá evitar um novo Tratado de Tordesilhas, entre o Ocidente e o Oriente, protagonizado desta vez, de um lado, pela Euro-América, e do outro pela Ásia.

A África será uma vez mais repartida entre duas esferas de influência global, e a Rússia e o Médio Oriente continuarão a ser presas em disputa. A primeira, poderá pender um dia, finalmente, para o Ocidente (pois não vejo os Ortodoxos converterem-se ao sincretismo Mao-Confucionista.) Quando ao conflito artificial entre judeus e árabes, deixará de ser relevante no dia em que o petróleo secar, ou seja, lá para meados deste século.

A aproximação acelerada entre a China, a Coreia do Sul e o Japão (1), a que temos assistido nos últimos anos, meses e dias, é o melhor indicador dos movimentos subterrâneos da geopolítica mundial. Outro indicador, que acaba de se manifestar em toda a sua gravidade, é a proliferação da primeira grande crise global do endividamento (Ann Pettifor, Debtonation). Estas duas forças tectónicos provocarão inevitavelmente o regresso a uma lógica de trade and power e de vantagens comparativas (David Ricardo) na economia mundial, com a respectiva separação de águas e territórios. Ora bem, é precisamente neste contexto que Portugal, sobretudo na perspectiva da sua imensidão marítima territorial (ZEE alargada) e simultânea integração soberana na União Europeia, voltará a ter um papel decisivo a desempenhar na sua já longa e acidentada história. Num certo sentido, pode dizer-se que é a nossa grande janela de oportunidade após a integração plena na União Europeia e o fim do ciclo das ajudas comunitárias.

É por isso que tenho vindo a seguir com fundada expectativa a acção diplomática de Luís Amado e exorto os meus leitores a prestar-lhe a devida atenção.

A reacção de Manuela Ferreira Leite à iniciativa portuguesa de receber entre nós os seis inocentados terroristas que ilegais voos da CIA, tacitamente autorizados por vários governos europeus (Suécia, Espanha, Portugal, Itália, etc.), conduziram para a prisão militar de Guantánamo, foi mais um tiro no pé, dos muitos que esta inexperiente política tem dado desde que, em desespero de causa, a guindaram à posição de líder da cada vez mais improvável alternativa ao actual poder "socialista".

E é também por isso que desde o primeiro momento chamei a atenção de todos para a completa irresponsabilidade da turma de patetas parlamentares que alimentou, com o seu sonambulismo partidário e as suas generalizadas ausências, o incidente açoriano em volta dos poderes presidenciais de dissolução dos órgãos regionais eleitos. As regiões autónomas precisam porventura de mais autonomia e de mais responsabilidade, e nisso apoio-as sem reservas, como apoio sem reservas mais poder e mais responsabilidade para os restantes poderes locais. Mas nas questões que possam suscitar dúvidas de soberania, ou de intromissão dos poderes subsidiários em questões de soberania, a minha intransigência é absoluta e radical! Não podemos tolerar que uma manada de deputados, só porque os elegemos sem saber como, atentem pela idiotia contra o futuro de Portugal. Caro Mário Soares, a sua intempestiva defesa dos deputados sonâmbulos, em nome da democracia, foi certamente um acto falhado, mas nem por isso menos revelador e lamentável. A democracia não é um fim em si, e muito menos um disfarce para a estupidez, o cabotinismos e a corrupção de uns poucos, mas a melhor ferramenta que conhecemos para atingir a liberdade, a igualdade e a fraternidade.


NOTAS
  1. 13/12/2008 - 12h32 (Folha Online)
    Japão, China e Coréia do Sul criam frente asiática contra crise econômica

OAM 492 13-12-2008 15:45

terça-feira, fevereiro 10, 2015

Alemanha e o cliente europeu

Porsche Cayenne—são bons, mas não invencíveis

Sem euro, como seria?


Exportações alemãs em alta: €217 mil milhões de saldo líquido positivo. O último máximo, verificado em 2007, de €195,3 mM, foi ultrapassado em 2014. Já que o tema do dia é a Grexit, convém lembrar a este propósito que este crescimento provém sobretudo das expotações alemãs para o resto União Europeia, e que se está produzindo, desde a criação do euro, à custa do decréscimo contínuo das balanças comerciais do resto da Europa!

German exports hit record highs in 2014, despite international crises
EurActiv. Published: 10/02/2015 - 07:48 | Updated: 10/02/2015 - 08:59

“The main driver of growth was our core market, the European Union. However, more attention must still be paid to the eurozone, which only marginally contributed to growth. Apparently the results of exports to third countries were only able to be shown in a positive light due to the solid outcome from US exports.”

Com o euro forte como está, apesar da queda face ao dólar, e conhecidas as medidas chinesas de ataque ao despesismo público e à corrupção, incluindo um corte de 50% na aquisição de viaturas ao serviço dos dirigentes do estado, é de prever que a dependência económica alemã dos seus parceiros comunitários permaneça, pelo que fustigá-los diariamente com lições hipócritas de ética protestante não será o melhor caminho.

A Alemanha beneficiou claramente com o euro

Alemanha: o desvio do comércio externo para fora da Zona Euro, após o início da crise de 2007-, é evidente, mas não compensa em volume o que poderia perder se perdesse o mercado europeu

Percebe-se, à luz destes números e gráficos, e da ameaça de colapso do euro, que Berlim e Washington andem numa lufa-lufa para fechar o muito polémico e obscuro Transatlantic Trade Investment Partnership (TTIP) (1) (2).

No fundo, estamos a caminho de uma espécie de Tratado de Tordesilhas 2.0. Ou seja, de uma nova divisão da globalização em duas metades. Uma metade euroatlântica, que inclui o máximo do continente europeu, o máximo dos recursos energéticos fundamentais do Médio Oriente, metade de África e as Américas. E outra metade, euroasiática, pivotada pela China, cujos contornos são ainda confusos e elásticos.

Para aumentar as tensões deste processo está, como tem estado desde a era Napoleónica, a Rússia—um país transcontinental que, pela sua extensão, tem o coração e a cabeça divididos entre o Ocidente e o Oriente.

Ora é precisamente na gestão deste dossiê que tanto a França, como a Alemanha, se têm saído bastante mal ao longo da História, remetando invariavelmente as pesadas faturas das suas asneiras ao resto dos europeus.

Veremos o que sucede desta vez.

POST SCRIPTUM

Eu tb cheguei a pensar que a culpa principal era dos PIIGS, e muita culpa têm certamente pela situação de bancarrota a que chegaram. Mas é preciso ver tb o que quer a Alemanha, e o que querem os americanos —coisas opostas, claro.

A situação é mais complexa do que parece. Os PIIGS terão que redesenhar os seus sistemas políticas e adaptar as suas democracias ao que produzem e exportam. Mas o que produzem e exportam não pode ser objeto de uma clara manipulação financeira e cambial (na realidade continuam a existir euros fortes e euros fracos) por parte da Alemanha. Sobretudo da Alemanha! Basta ver como evoluiram as balanças comerciais na Europa antes e depois da criação do euro.


NOTAS
  1. L'impact du TTIP dans les pays en développement oppose gouvernement et ONG en Allemagne
    EurActiv. Published: 10/02/2015 - 10:18 | Updated: 10/02/2015 - 10:36

    Une étude menée sur le TTIP par le ministère allemand du Développement affirme que l'accord commercial profitera aux pays pauvres. Une hypothèse jugée « irréaliste » par l'ONG Foodwatch. Un article d'EurActiv Allemagne. 

    Le partenariat transatlantique pour le commerce et l'investissement (TTIP) présente des opportunités de croissance inattendues pour les pays en développement, affirme une étude menée par l'Institut IFO pour le ministère allemand du Développement. 

    Des conclusions avec lesquelles l'ONG de défense des droits des consommateurs Foodwatch est en désaccord. « L'étude est basée sur des hypothèses utopiques et irréalistes. Sous sa forme actuelle, le TTIP est et reste un programme de paupérisation pour les pays en développement. Quiconque affirme le contraire fait circuler des informations biaisées », assure Martin Rücker, porte-parole de Foodwatch à EurActiv Allemagne.
  2. Stop TTIP! 
Atualização: 10/2/2015 22:02 WET

quarta-feira, junho 12, 2019

Portugal e a China

“Between 2007 and 2017, world oil consumption grew at an average annual rate of 1.0 percent.”
—in World Oil 2018-2050: World Energy Annual Report (Part 2)
by DENNIS COYNE posted on 07/26/2018. Peak Oil Barrel

O novo drama chinês


Ao contrário da economia americana—em particular a que se seguiu à guerra civil de 1861-65 e que viria a desenvolver-se de forma endógena graças ao seu imenso território despovoado e à sua decisão de atrair pessoas e capitais de todo o mundo, com larguíssima predominância de europeus—o crescimento da China depois de séculos de hibernação imperial, estimulado em parte pela inesperada visita do presidente americano Richard Nixon a Pequim em 1972 (1), baseou-se num modelo de competição comercial externa alavancada na oferta de biliões de horas de trabalho barato e desprovido de direitos sociais. Este modelo permitiu à China importar em pouco tempo todas as virtudes e vícios do capitalismo industrial e financeiro ao mesmo tempo que acumulava superavits comerciais e reservas financeiras como nenhum outro país no mundo. Este modelo foi um sucesso. Para as desenvolvidas economias americana, europeia e japonesa, na medida em que aliviaram a pressão inflacionária sistémica do petróleo (pico petrolífero americano e formação do cartel da OPEP) e do trabalho, bem como dos efeitos perversos do consumismo. Para a China, porque lhe permitiu atrair investimento, conhecimentos técnicos e encomendas como nunca vira em toda a sua história de mais de dois mil anos. Tudo correu sobre rodas enquanto o mundo crescia a bom ritmo. No entanto, à medida que as assimetrias do crescimento aumentaram, e mais países entraram numa espiral de endividamento para manter os seus níveis históricos de bem estar, o caldo azedou. O protecionismo defendido e praticado por Donald Trump é, afinal, uma resposta racional à perda de competitividade da economia americana, nomeadamente face aos países asiáticos (2).

O crescimento industrial e pós-industrial depende, em primeiro lugar, do trabalho, seja este realizado por humanos, por outros animais, por máquinas, ou por nuvens de computação. O trabalho, por sua vez, depende do consumo de energia. Quanto mais energia houver, ou seja, quanto mais esta for economicamente acessível, maior disponibilidade haverá para a criação e o crescimento. Pelo contrário, à medida que a produção de energia encarece, haverá menos condições para o crescimento. É isto que tem vindo a suceder de forma cada vez mais indisfarçável às fontes de energia que alimentaram o crescimento exponencial da humanidade desde meados do século 19: carvão, petróleo, gás natural. As chamadas energias alternativas não são alternativa, e consumir menos também não é—o que desafia o regresso do populismo verde como saída limpa para os prognósticos cataclísmicos da comunidade científica do IPCC (3) (4).



O pico da produção petrolífera na China (iniciada na década de 1960) chegaria em 2015, dependendo agora a expansão da sua economia—cujo trabalho barato compete há já alguns anos com os custos laborais do Bangladesh, do Vietname, da Índia, da Indonésia ou do México (5)—não só do uso imparável de carvão poluente (a sua principal fonte energética), como de importações maciças de petróleo do Médio Oriente, Líbia, Angola, Canadá, Venezuela, etc. Esta irremediável dependência energética forçou a China relançar sob outro nome (Belt & Road/ Faixa e Rota) a velha Rota da Seda. O objetivo desta iniciativa é claro: garantir o acesso da China aos principais mercados de energia, ao mesmo tempo que mantem bem abertas as principais rotas comerciais da Eurásia, e ainda as que se dirigem a África e ao continente americano. É um binómio compreensível, mas não são favas contadas. O crescimento acelerado da Índia, mas sobretudo a explosão demográfca africana, irão disputar à China e ao resto do mundo a partilha dos recursos energéticos, minerais e alimentares disponíveis, cujos preços, pela sua escassez progressiva (a água potável é um dos casos mais dramáticos), tendem a manter-se elevados. À medida que forem rebentando sucessivas bolhas de crédito, com especial incidência nas dívidas soberanas, a moeda de troca pela energia necessária ao crescimento económico, ou até à simples manutenção das economias de crescimento zero, será cada vez mais o resultado palpável do trabalho produtivo, ou seja, bens consumíveis, como a água, bens alimentares, e produtos tecnológicos e culturais transacionáveis. O protecionismo que cresce em todo o mundo reflete, aliás, a tomada de consciência desta nova realidade. Travar a entrada dos imigrantes da fome e da guerra na Europa e na América, ao mesmo tempo que se pilham os recursos energéticos, minerais e naturais de países e continentes inteiros não é solução. Os dilemas e a tragédia começam precisamente aqui: a população mundial estava a aumentar em 2018 pouco mais de 1% ao ano, enquanto a economia crescia ligeiramente acima dos 3% em 2017, mas o aumento do PIB per capita estimado não ia além dos 1,9%. A demografia e o envelhecimento comem, assim, boa parte da expetativa de uma melhoria agregada da prosperidade e do bem-estar sociais. Os países mais ricos já perceberam que o crescimento tem limites e que estes se sentem na carne, enquanto os países mais pobres entendem, por outro lado, que a convergência com os ricos pode não passar de um sonho de verão. Por isso arriscam viagens perigosas em direção aos Estados Unidos da América e à Europa ocidental.

The United States is the world’s largest oil consumer (20%); the European Union is the world’s second largest oil consumer 14%); China is the world’s third largest oil consumer (13%)
—in World Oil 2018-2050: World Energy Annual Report (Part 2)
by DENNIS COYNE posted on 07/26/2018. Peak Oil Barrel

Onde está a energia que propulsiona o crescimento económico?


São estas as grandes regiões da produção petrolífera mundial: Médio Oriente, Rússia e China, Mar do Norte (Noruega e Reino Unido), África, Estados Unidos, Canadá, Golfo do México, Venezuela e Brasil. Metade dos maiores produtores africanos de petróleo encontra-se na costa ocidental de um continente em expansão demográfica, nomeadamente no historicamente rico Golfo da Guiné: Angola, Nigéria, Guiné Equatorial, Congo, Gabão, Gana. Percebe-se nesta geografia a crescente importância do pequeno retângulo português e da sua vasta Zona Económica Exclusiva, não só por ser parte da União Europeia, mas também por estar situado entre as três principais placas tectónicas do planeta (euroasiática, africana, norte-americana e sul-americana), e ainda pelas suas relações históricas com países como a China, Angola, Moçambique, Brasil, Venezuela, Reino Unido, Estados Unidos e Canadá. Portugal poderá tornar-se um dos principais interlocutores pacíficos do ranger das placas geoestratégicas globais. Não por acaso Estados Unidos e China parecem disputar, lado a lado, os mais recentes investimentos nos setores estratégicos portugueses famintos de capital: energia, infraestruturas de transportes, imobiliário, setores da saúde, seguros e banca.

A China, ao contrário dos Estados Unidos, que é um país muito rico em petróleo, gás natural e recursos alimentares, e da Europa, porque o maior agregado de reservas petrolíferas se encontram na sua imediata periferia, precisa de recorrer a recursos financeiros gigantescos, nomeadamente sob a forma de investimento externo e softpower, para a garantia do seu abastecimento energético externo. As alternativas endógenas de médio-longo prazo, ou são insuficientes (energia hídrica, solar e eólica), ou são letais (carvão). Ou seja, apesar de crescer mais depressa do que a América e do que o velho continente europeu, a vantagem que a China ainda leva sobre os países tecnologicamente avançados e economicamente maduros poderá não chegar para garantir por muito mais tempo o crescimento exponencial do seu consumo energético. Outros, sobretudo a África, vão precisar de petróleo, gás natural, ouro e outros metais raros... A recente formação do embrião de uma União Económica Africana mostra que o ciclo da livre espoliação dos recursos africanos está a chegar ao fim. O perigo de um regresso da China ao isolamento imperial poderá, por todas estas razões, ser menos inverosímil do que parece. A nova China não deseja um tal retrocesso. A recente concentração de poderes em Xin Jinping, e a ofensiva contra a democracia que prevalece em Hong Kong, suscitam uma reflexão profunda sobre o que estará a empurrar uma vez mais a burocracia chinesa para posições defensivas, potencialmente isolacionistas.

Nem a Rússia, nem a China, poderão controlar a Eurásia e portanto o mundo segundo a célebre teoria do Pivot Geográfico da História de Halford John Mackinder. Resta caminharmos para um Novo Tratado de Tordesilhas onde se garanta uma redistribuição justa da energia necessária ao crescimento e desenvolvimento da humanidade, sabendo que uma nova era de crescimento lento e de equilíbrio está a nascer, e que poderá ser excecionalmente criativa—ou destrutiva (6). Em vez de crescimento material, é a vez de entrarmos numa era de crescimento imaterial exponencial, científico, tecnológico e cultural.

Aprendemos pacificamente a conhecer a China ao longo de 500 anos. É a altura de a China aprender a conhecer o Ocidente com a mesma humildade.



POST SCRIPTUM — A China está a tornar-se uma enorme dor de cabeça para o mundo. Não porque os chineses sejam gente má ou aldrabona por natureza, mas porque as suas necessidades de energia, já hoje, e a prazo, são insustentáveis e em grande medida causadoras das tensões visíveis na Venezuela, em África e no Médio Oriente. Em breve, o que começou por ser o protecionismo americano será também o protecionismo europeu, africano, etc. A China precisa de energia, de matérias primas e de comida (soja, etc.) em quantidades astronómicas. Por isso onde estes recursos existem, salvo raras exceções, há milhares de chineses. O caso da Líbia foi a este título paradigmático, quer em 2011, quer em 2014.

GAIL TVERBERG
Seven Reasons Why We Should Not Depend on Imported Goods from China
Posted on June 12, 2019, by Gail Tverberg

If a person doesn’t understand how badly the energy situation is working out for China, or how important energy consumption is, it is easy to think that the problems China is facing are primarily tariff-related. In fact, China’s situation is a very worrisome one, with or without tariffs being added.

To fix the situation, China would need a very cheap, non-intermittent, locally produced, non-polluting additional energy source. This energy source would also need to be rapidly scalable. Such an energy resource doesn’t appear to be available.

NOTAS

1. Uma semana que mudou o mundo: “Assignment: China - The Week That Changed The World”, e “How Much Credit for China’s Rise Goes to Richard Nixon?” January 27th, 2012. Asia Society.


Posted on May 22, 2019, by Gail Tverberg

Nearly everyone wonders, “Why is Donald Trump crazy enough to impose tariffs on imports from other countries? How could this possibly make sense?”

As long as the world economy is growing rapidly, it makes sense for countries to cooperate with each other. With the use of cooperation, scarce resources can become part of supply lines that allow the production of complex goods, such as computers, requiring materials from around the world. The downsides of cooperation include:

(a) The use of more oil to transport goods around the world;

(b) The more rapid exhaustion of resources of all kinds around the world; and

(c) Growing wage disparity, as workers from high-wage countries compete more directly with workers from low-wage countries.

These issues can be tolerated as long as the world economy is growing fast enough. As the saying goes, “A rising tide lifts all boats.”

In this post, I will explain what is going wrong and how Donald Trump’s actions fit in with the situation we are facing. Strangely enough, there is a physics aspect to what is happening, even though it is likely that Donald Trump and the voters who elected him would probably not recognize this. In fact, the world economy seems to be on the cusp of a shrinking-back event, with or without the tariffs. Adding tariffs is an indirect way of allowing the US to obtain a better position in the new, shrunken economy if this is really possible.

3. “The true feasibility of moving away from fossil fuels”

Posted on April 9, 2019, by Gail Tverberg

One of the great misconceptions of our time is the belief that we can move away from fossil fuels if we make suitable choices on fuels. In one view, we can make the transition to a low-energy economy powered by wind, water, and solar. In other versions, we might include some other energy sources, such as biofuels or nuclear, but the story is not very different.

The problem is the same regardless of what lower bound a person chooses: our economy is way too dependent on consuming an amount of energy that grows with each added human participant in the economy. This added energy is necessary because each person needs food, transportation, housing, and clothing, all of which are dependent upon energy consumption. The economy operates under the laws of physics, and history shows disturbing outcomes if energy consumption per capita declines.

4. “Have We Already Passed World Peak Oil and World Peak Coal?”

Posted on February 22, 2019, by Gail Tverberg

Most people expect that our signal of an impending reduction in world oil or coal production will be high prices. Looking at historical data [...], this is precisely the opposite of the correct price signal. Oil and coal supplies decline because prices fall too low for producers. These producers make voluntary cutbacks because the prices they receive fall below their cost of production. There often are supply gluts at the same time.

This strange situation arises because prices must be high enough for the producers at the same time that goods and services made by oil (and other energy products) are inexpensive enough for consumers to afford. There is a two-way battle taking place:

(1) Prices producers require tend to rise over time, because of depletion. The easiest to extract a portion of any resource (such as oil, coal, copper, or lithium) tends to be removed first. What is left tends to be deeper, lower quality, or otherwise more difficult to extract cheaply.

(2) Prices consumers can afford for discretionary goods (such as cell phones and automobiles) tend to fall for a combination of reasons:

Wages of many workers fall because of competition from lower cost labor in other countries.

Some jobs are eliminated through the use of computers or robots.

Young people are increasingly being required to pay for higher education (beyond that which is provided free), leaving many with loans to repay, reducing their discretionary income.

Changes to US healthcare law (mostly starting January 1, 2014) lead to required health insurance premiums. While some citizens find cost savings in this approach, healthy young people often experience cutbacks in discretionary income as a result.

Rents and home prices keep rising faster than incomes.

When the discretionary income of the many non-elite workers of the world falls, they buy fewer finished goods and services. Finished goods and services are manufactured using commodities of many kinds, including oil, coal, copper, iron ore, and fresh water. When discretionary demand falls, commodity prices tend to fall. This is the problem we are encountering now. It tends to cause the prices of many commodities to fall below the cost of production. Eventually, producers decide to quit because production is no longer profitable. This is the issue that leads to peak oil, coal or copper.

5. Where in the world is cheap labor?
By David Whitford, editor-at-largeMarch 22, 2011: 10:29 AM ET
Fortune

The FLA brings together multinational companies like Nike (NKE, Fortune 500), Adidas and Hanes (HBI); universities like Princeton and Notre Dame; and NGOs like the National Consumers League and Human Rights First to end sweat-shop working conditions in factories around the world. I spoke to van Heerden last week, shortly after he returned from a trip to China, where the inflation rate has reached nearly 5%, food inflation is more than 10%, and double-digit increases in the minimum wage are suddenly the norm.

Is China still an option for global manufacturers seeking lower costs of production?

It's an incredibly fast-moving situation. Labor markets which we previously thought were inexhaustible, like China and India, have actually tightened up quite dramatically. Employers can't get workers. Wages have gone up. Add to that the energy cost increases, and the factories, the contract manufacturers, are now suddenly squeezed. So they're turning around to their buyers -- to the retailers or the brands -- and they're saying, "Hey, my prices need to go up." And the brands are saying, "Whoa! We don't think we can pass those prices on to the consumer." There's something of a train smash looming.

6. How energy shortages really affect the economy
Posted on August 27, 2018, by Gail Tverberg

The more a person looks at the story of how rising oil prices might allow oil extraction indefinitely, the less reasonable it seems. If the story about oil prices rising endlessly were true, we would have seen coal prices rise endlessly in Europe a century ago, when it was the dominant form of supplemental energy available. It didn’t happen.


Última atualização: 20/6/2019, 21:29 WET

segunda-feira, outubro 27, 2014

China’s Navy Is Already Challenging the US in Asia | The Diplomat

China: um osso cada vez mais duro de roer

À medida que os Estados Unidos caminham para a falência financeira, e sobretudo moral, a sua capacidade de exercer as prerrogativas imperiais diminui dia a dia. O seu poder de tiro é avassalador, mas numa guerra balística nuclear, já sabemos, não há vencedores. Pode destruir países indefesos com sucessivos bombardeamentos aéreos e guerras vicariantes (proxy wars), e gerar com estas chachinas assimétricas por si engendradas (o célebre 'terrorismo'), mas não tem conseguido ocupar nenhum novo metro quadrado de terra ou mar em parte alguma do planeta. Estranho, não é?

Quando é que os americanos estudam o Tratado de Tordesilhas, e percebem de uma vez por todas que, às vezes, é melhor dividir para partilhar, do que dividir para reinar?

China’s Navy Is Already Challenging the US in Asia | The Diplomat

segunda-feira, abril 16, 2012

Lisbon Airport: two flavors

LIS Portela & LIS Pink Flamingo ;) Yes!

Rita Andrade: a ex-aeromoça que fez um boleiro terminar o casamento de dez anos (UOL Esporte)

O primeiro-ministro disse hoje querer evitar pelo menos "na próxima década" a construção de um novo aeroporto, admitindo que a Base Aérea do Montijo é uma das hipóteses para funcionar como "pista de apoio" à Portela.

(…) "Para não alimentar qualquer especulação direi apenas que sim, que estamos a equacionar todos os cenários que nos permitam utilizar o aeroporto da Portela durante um maior número de anos, de modo a evitar que o país tenha de despender uma soma demasiado avultada para um novo aeroporto, que esperemos não venha a ser necessário sobretudo na próxima década" — Jornal de Negócios online.

Não há nada como ir aos sítios para ver a realidade. Passos Coelho foi a Sines e decidiu certo sobre o estuporado "TGV": não haverá nenhum "TGV" (nunca houve!), mas sim a ligação de Portugal às novas redes ferroviárias de bitola europeia, para uma mobilidade de pessoas e mercadorias capaz de enfrentar os tremendos desafios da escassez e consequente carestia do petróleo que faz mover os automóveis e as intermináveis frotas de TIR que entopem as autoestradas e estradas de boa parte da Europa industrializada. Foi ao aeródromo militar do Montijo, cujo perímetro (~14Km) é maior do que o do aeroporto da Portela (~11Km), e cuja área quase duplica a da Portela (877ha a somar aos 520ha da Portela) viu, ouviu e percebeu: por uma módica quantia em obras o Lisbon Airport poderá em menos de um ano contar com mais uma pista sensivelmente paralela à pista principal da Portela, e mais do que duplicar a área atual do Lisbon Airport (L.A.) Os passageiros que aí desembarcarem tem duas opções impecáveis para chegar ao centro da capital: a Ponte Vasco da Gama, ou um desembarque esplendoroso no Terreiro do Paço depois de uma memorável travessia do Mar da Palha a bordo de um catamarã. Qualquer das alternativas tomará menos de 30 minutos.

Tal como a estratégica base militar das Lajes sempre serviu a aeronáutica civil, estranho seria que a base militar do Montijo não pudesse prestar o mesmo serviço, sobretudo em tempos de vacas tão magras que é inevitável o adiamento para as calendas gregas do estafado e sempre imaginário esgotamento da Portela —ver esta reportagem TVI s/ a disponibilidade de slots na Portela. Entre Fevereiro de 2011 e o mesmo mês deste ano o número de voos em Lisboa, segundo a ANA aeroportos, aumentou a extraordinária percentagem de 0,4%!

Do ponto de vista técnico também estamos conversados há muito tempo, mais precisamente desde 1994, quando a própria ANA aeroportos concluiu positivamente pela compatibilidade do uso simultâneo das pistas da Portela e do Montijo:
Montijo A (Orientação de pistas Norte/Sul) - Apesar da maior proximidade à Portela a orientação de pista paralela à actual pista principal, permite operar como um único aeroporto, não se prevendo que existam restrições ao tráfego com significado, embora exija um maior esforço de articulação e coordenação.

NAL — Novo Aeroporto de Lisboa — Estudo de Localização, p. 298.

O único inconveniente da opção Montijo é não ser suficientemente interessante, nem para os especuladores, nem para o Bloco Central da Construção. Daí terem-se entretido, à força de muita lagosta suada, coitados, a fazer estudos milionários sobre as novas árvores das patacas urbanas a que chamaram cidades aeroportuárias. Estas iriam transformar a grande Lisboa, incluindo o novo braço Beja-Alcochete, na nova Xangai da Europa. A realidade é, porém, outra: o aeromoscas de Beja, sobre o qual nunca mais ouvimos falar o seu brilhante teórico (Augusto Mateus), vai servir para estacionar sucata da TAP, da PGA e da SATA, e para testes de automóveis. O senhor Cravinho anda muito nervoso a dar explicações sobre tudo isto e mais alguma coisa (as PPP e as SCUT, obviamente). É mesmo uma pesada herança, meus senhores!





Privatização da ANA, porquê e para quê ?

Vender ativos ao desbarato, como foi o caso do BPN, não se pode repetir. Por outro lado, a moda das privatizações vai passar rapidamente, agora que americanos e alemães perceberam que o Ocidente entrou numa prolongada temporada de saldos! A expropriação hoje realizada pelo governo argentino da petrolífera YPF, da espanhola Repsol, é um verdadeiro sinal de mudança a este respeito: o capitalismo começou a nacionalizar e renacionalizar os recursos nacionais estratégicos, quanto mais não seja, em nome da sobrevivência das cabeças dos políticos!

Os aeroportos de Portugal não poderão assim ser entregues a potenciais inimigos da Aliança Atlântica. Creio que os americanos, depois daquele suspiro do senhor Wolfgang Schauble, já terão explicado isto mesmo ao nosso aluado governo,  que manifestamente confundiu a defensiva diversificação das dependências e dos graus de liberdade com abrir as pernas à ameaça chinesa no Atlântico!

Nota de reflexão
  1. Portugal tem potencial estratégico, mas deixou de ter autonomia. Logo, não pode entregar ativos estratégicos aos angolanos e aos chineses sem a devida e acautelada ponderação, como se os nossos credores, ou seja aqueles que em última instância têm direito aos nossos anéis —os espanhóis, os alemães e os próprios americanos—, não existissem! É uma questão de medida que não foi manifestamente acautelada.
  2. Estou convencido de que Vítor Gaspar foi chamado a Washington por Geithner e Bernanke, para receber instruções. Já antes Paulo Portas terá ouvido das boas, sobre a Velha Aliança, no almoço ou encontro que teve com Kissinger. O nosso António de Oliveira Gaspar sem colónias terá, em suma, que ouvir com mais atenção o que pensa Carlos Moedas (um boy da Goldman Sachs) sobre as prioridades estratégicas do Capitalismo ainda dominante. Não vejo outra explicação para as contradições recentes entre as declarações do PM e as do seu MF.
  3. Uma Europa e um euro fracos deixaram de ser uma aposta de Washington, como até há meses acreditei ser o caso. Há demasiado dinheiro americano enfiado na City londrina e nos bancos alemães. Por outro lado, enfraquecer a Europa agora seria o mesmo que enfraquecer o flanco oriental da América, ou seja o Atlântico, num cenário em que o Pacífico pode transformar-se a qualquer momento num mar de fogo :(
  4. A penetração da China em Moçambique, Angola, Brasil-Argentina e Portugal (já para não falar no Canadá!) deve estar a preocupar gravemente Washington, Londres e Berlim. É todo o Atlântico que está em causa, porra!
  5. Volto sempre ao mesmo: sem um novo Tratado de Tordesilhas, desta vez entre a China-Japão de um lado, e os EUA-Europa Ocidental do outro (o prémio a repartir chama-se petróleo, gás natural, minérios vitais e recursos alimentares estratégicos) resta-nos um cenário mais do que bad, MAD!

Vender a TAP a quem e como?

Depende, mas o melhor mesmo é submetê-la a um spin-off — já lá vamos.

Vender a TAP em bundle, com a ANA, terrenos (chineses) da Portela e o embuste do futuro aeroporto da Ota em Alcochete, como querem os piratas falidos deste país, para tal comprando às agências de comunicação, aos bastonários do betão e aos fala-barato da televisão a necessária e intensiva propaganda, seria elevar até à náusea o desvio cleptocrata em que há muito caiu a democracia populista, rendeira e burocrática que temos. Por dois motivos principais esta solução é inviável: o Estado, as empresas de construção e os bancos estão todos igualmente falidos; e a autonomia estratégica do país passou literalmente para as mãos dos nossos credores europeus.

Mais uma vez a ideia de que a China, compradora recente da dívida soberana portuguesa, ou os angolanos, cuja nomenclatura tem promovido uma expatriação, de legalidade duvidosa (ver o escândalo Kopeliga) e nenhuma legitimidade, dos lucros petrolíferos do país, poderão salvar as principais famílias de rendeiros de um país, Portugal, cuja insolvência está à vista, é inaceitável por parte dos credores de longa data. A concentração de capital e de comando da economia europeia resultante do colapso em curso não poderá ser alienada em forma de presente aos chamados países emergentes. Era o que faltava, pensam os espanhois; era o que faltava, pensam os alemães; era o que faltava, pensam os franceses, etc.

Spin-off significa reestruturar antes de privatizar.

A TAP dá dinheiro naquilo que sabe fazer: voar! Tudo o resto dá prejuízo: o serviço de handling (que felizmente irá parar à Urbanos), o serviço de manutenção aeronáutica sediado no Brasil (ex-VEM), as compras políticas de sucata tecnológica (exemplo: a PGA que o grupo BES, através do ministro com chifres, impingiu a Sócrates), o peso da burocracia que opera em terra e, por fim, o ruinoso conselho de administração que conduziu a TAP à insolvência.

O spin-off do grupo TAP poderia ser feito, por exemplo, assim:
  1. venda da Groundforce (em curso);
  2. venda da TAP Maintenance&Engineering (ex-VEM) aos brasileiros ou a quem quiser comprá-la, com a obrigatoriedade de a venda incluir o próprio presidente da TAP;
  3. criação de uma empresa de serviços comerciais TAP, com possível redução dos eventuais excedentes de pessoal;
  4. conservar as oficinas e o serviço de manutenção de aeronaves;
  5. proceder à venda da SATA e subsidiar individualmente os passageiros das ilhas, de acordo com plafonds individuais razoáveis;
  6. criar duas companhias autónomas dentro do grupo TAP, uma dedicada a voos de baixo custo na Europa (TAP Europa) e outra dedicada ao longo curso (TAP Intercontinental).
A TAP Europa deveria passar a operar apenas no Terminal 2 (para já, na Portela, e daqui a um ou dois anos, no Montijo), com todas as Low Cost, Low Fare e Charters. O Terminal 1, por sua vez, deveria ser reservado exclusivamente às companhias de bandeira e aos voos regulares não incluídos no segmento de baixo custo.

Eliminada a poeira sistematicamente levantada pelos interesses ilegítimos, instalados e insaciáveis, aeroportos e companhia aérea nacionais poderiam enfim dar lugar a uma nova paisagem empresarial e de serviços, arejada, competitiva e até sexy ;)





POST SCRIPTUM

O Expresso leu seguramente este post, e fez o seu trabalho, apresentando de novo uma infografia bem realizada sobre as alternativas teóricas do Portela+1. Teóricas, pois como se pode perceber dos relatórios realizados pela ANA, a base aérea do Montijo não só está a 15-30mn do Terreiro do Paço (consoante se tome o barco ou o automóvel), como tem uma área (877ha) muito superior à da Portela (520ha) e à de qualquer dos concorrentes que moram mais longe: Beja (781ha), Monte-Real (482ha), Alverca (172,2ha) e Sintra (191,5ha). Acresce que Alverca é incompatível com a Portela por questões de segurança aeronáutica; Beja está a mais de 200 Km de Lisboa, sem estrada decente ou caminho de ferro recomendável; Monte Real está a milhas e é uma base militar estratégica que assim deve continuar; e finalmente Sintra não tem nem área de serviços, nem pista que chegue para as encomendas.

As agências de comunicação pagas pelas tríades falidas da Alta de Lisboa e de Alcochete ainda encomendaram hoje, depois das afirmações de Passos Coelho, a notícia de que os militares estariam a colocar reservas à utilização do Montijo. Aldrabice pegada, pois a única coisa com que os nossos militares se preocupam é com os seus vencimentos. Só se forem, portanto, os comandos do Montijo e da placa de cimento pomposamente conhecida por aeroporto de Figo Maduro, que estão a queixar-se!

Finalmente, o gaúcho apareceu subitamente a defender o Montijo, como se o que foi debitando paulatinamente durante estes anos todos de propaganda a favor do embuste da Ota em Alcochete não estivesse ao alcance de um clique de rato. Coloquem este gaúcho no pacote da privatização da ex-VEM, por favor!

última atualização: 17 abr 2012 19:30 23:18

terça-feira, março 10, 2009

Portugal 90

Este governo vai ser réu
Medina Carreira propõe presidencialismo para superar as "casas de meninas" da democracia, i.e. os partidos políticos. PS e PSD não são mais do que bancos alimentares — sugeriu.



O gráfico de Medina Carreira, feito a partir de números do respeitado economista José Silva Lopes, sobre a evolução do PIB português desde 1900 até hoje, é o elemento mais surpreendente e preocupante desta entrevista.




Medina Carreira, para além de reiterar as suas críticas de fundo ao actual regime político —persistência de um sistema educativo caricato, de tribunais e polícias que não funcionam, e de corrupção sistémica— volta a sublinhar que, na sua opinião e se bem o entendi, o país não tem saída no actual quadro constitucional, defendendo por isso a emergência de uma forma de presidencialismo adaptada às circunstâncias históricas e ideológicas que norteiam as democracias europeias.

Afastando embora o espectro de um golpe de Estado, teme que convulsões sociais graves possam forçar o colapso efectivo do actual sistema partidário. O que na sua opinião seria um bem, e até mesmo a única hipótese de o país tomar consciência da sua grave enfermidade sistémica e da medicação forte que terá que tomar se quiser sobreviver como país independente.

A reunião do G20 do próximo dia 2 de Abril irá ser decisiva para a evolução do nosso quadro clínico. Ou os chineses, russos, japoneses e brasileiros aceitam uma nova ordem financeira mundial, com reforço extraordinário dos poderes do FMI e Banco Mundial (o que poderia ser visto como um último fôlego da supremacia ocidental e judaico-cristã no mundo); ou, pelo contrário, o Oriente bate o pé, faz exigências, recusa subordinações, e então estaremos a caminho de um Novo Tratado de Tordesilhas, com o novo meridiano da divisão mundial do trabalho a rachar ao meio o continente africano.

Seja como for, uma coisa é certa, vêm aí medidas draconianas para os PIGS (Portugal, Itália, Grécia e Espanha), mas também para as economias falidas da Islândia, da Irlanda e do Reino Unido, já para não falar da Europa de Leste.

Está na altura de preparar soluções de contingência, nomeadamente no que toca ao bloqueado e imprestável sistema partidário português. O radicalismo imbecil do Bloco de Esquerda, seja no que se refere à sua proposta de retirada de Portugal da NATO, seja na cangocha parlamentar face à visita presidencial angolana, mostra à evidência que o tecto de crescimento eleitoral deste saco de ex-estalinistas e trotsquistas pavlovianos é meramente conjuntural e muito limitado. Limitado aos níveis patentes de iliteracia política dos seus principais dirigentes — que como quaisquer Pater familias da Intersindical ou da UGT, ganham rugas e morrem sentados nos pequenos bancos de poder que em tempo oportuno agarraram.

OAM 552 10-03-2009 11:01

segunda-feira, novembro 03, 2008

Portugal 48

A cenoura e o pau do Bloco Central



Ou muito me engano, ou a falência do BPN é apenas o começo do fim da banca privada portuguesa tal como existiu e se aventurou até agora pelo submundo da economia virtual e da especulação. Os governantes já provaram que mentem sempre, e objectivamente protegem os corruptos! Que prevê a Constituição nestes casos?

Sabiam, por exemplo, que o BCP, no final do primeiro semestre de 2007, no balanço consolidado das suas contas registava 526,8 milhões de euros na rubrica “depósitos de bancos centrais”, e que este valor subiu para 1.564 milhões de euros no primeiro semestre deste ano? Ou seja, alguém nos disse - nomeadamente o imbecil do BdP - que o BCP não consegue financiar-se no mercado interbancário vai para dois anos pelo menos?! E sabiam que o Banco de Portugal (BdP), gerido pelo dito imbecil, sem dizer nada à Assembleia da República, tem vindo a ceder liquidez à banca privada, passando de 234 milhões de euros em 2007, para 2.516 milhões de euros até Junho deste ano? O antigo ministro Bagão Félix -- que muito aprecio, apesar das suas opções partidárias, que obviamente não partilho -- sugeriu ontem na SIC que o senhor Vítor Constâncio devia demitir-se. Eu sugiro que o metam na cadeia -- por destruição subreptícia do erário público! Sempre quero saber o que é feito do ouro português a estas alturas do campeonato. Ainda existe alguma onça efectivamente nossa em Fort Knox, ou já foi todo comprometido em gold swaps, por conta do financiamento da balança de transacções correntes, e sobretudo por conta da nossa imparável dívida externa? Claro que o demagogo Doutor Louçã não tinha ainda reparado neste detalhe. Para ele tudo se resolve com a redução a zero da poupança nacional e a venda internacionalista do país a terceiros. Coitado do Trotsky!

A hidra dos Derivados gerou um incontrolável buraco negro financeiro na economia mundial. Por mais liquidez que se lhe deite por cima, esta esfuma-se num ápice, pela simples razão de que há um intransponível fosso entre as dívidas da economia real e o monstro da dívida virtual. Esta gera sem parar responsabilidades inadiáveis à economia real, que a economia real jamais conseguirá satisfazer até ao fim, ainda que se suicide. Só há uma saída: fazer o reset do sistema!

Resta saber quem dará o primeiro passo e as consequências do mesmo. Barak Obama, se for eleito, talvez seja forçado a fazer duas coisas: substituir o dólar actual por uma nova moeda (o novo dólar, ou o famigerado Amero), e reformar radicalmente as regras da Organização Mundial de Comércio por forma a introduzir um sistema ponderado de pautas aduaneiras à escala global, dividindo o planeta em duas grandes metades: a Ocidental, euro-americana, e a Oriental, indo-asiática. No fundo, como a actual crise é uma crise sistémica, a única saída para a mesma, se exceptuarmos uma III Guerra Mundial, é a recriação do Tratado de Tordesilhas, acompanhada da reinstauração de uma medida de valor de troca universal fortemente ancorado na materialidade monetária e no valor do trabalho. A economia do crescimento contínuo acabou, por razões energéticas, demográficas, de recursos e ambientais. E a prova disto mesmo é que a dita economia se deixou transformar, ao longo das últimas décadas, numa economia assente na expansão suicida do endividamento, de cuja irracionalidade viria a resultar o presente colapso financeiro e económico mundial. Os sinais irrompem diariamente como evidências cada vez mais aflitivas.

Camilo Lourenço: "Que sirva de lição"

Era um desastre à espera de ocorrer... a falência do BPN. Mas antes de analisar as consequências, nomeadamente quanto ao que o contribuinte português vai pagar pelo "bail-out", vale a pena falar da "ausência" de várias instituições (para ver se se aprende alguma coisa com o que aconteceu).

Desde logo o Banco de Portugal, cuja supervisão anda a apanhar bonés, como já se tinha visto no caso BCP: o BPN confirma que o banco central tem na supervisão bancária o elo mais fraco (o que é preocupante, porque é a única área onde o banco mantém totais poderes). Desde logo, também, o jornalismo. Há sete anos que se sabia das irregularidades (algumas dão direito a cadeia) no BPN. No entanto, poucos meios de comunicação tocaram na ferida. Apesar das reservas dos auditores às contas do banco.

Em Março de 2001, a "Exame", que na altura dirigia, arriscou. Oliveira e Costa, sobre quem impende a maior parte das dúvidas de comportamento ilícito, não perdoou: levei um processo de alguns milhares de euros (que se resolveu com a minha saída da revista e um pedido de desculpas à instituição). O que menos me interessa é regozijar-me por saber que, sete anos depois, a revista (cujos profissionais de então quero elogiar) está vingada... mas fazer votos para que quem dirige grupos de comunicação confie mais nos jornalistas. Porque a verdade é como o azeite: vem sempre ao de cima. Pode demorar, mas vem.

Commerzbank, segundo maior banco privado alemão, pede 8 mil milhões emprestados e um aval estatal de 15 mil milhões

03-11-2008 (TSF). O segundo maior banco privado alemão vai solicitar ao governo do país um empréstimo de 8,2 mil milhões de euros. Os maus resultados do banco Commerzbank no terceiro trimestre de 2008 estiveram na base da decisão.

O banco alemão Commerzbank vai pedir um empréstimo de mais de 8 mil milhões de euros ao governo do país, devido aos maus resultados que a instituição obteve no terceiro trimestre de 2008, com perdas de 285 milhões de euros.

Além do empréstimo a incluir directamente no capital do banco, que subirá assim para 11,2 por cento, será ainda solicitado um aval de 15 mil milhões de euros para negócios interbancários, adiantou esta segunda-feira a administração do Commerzbanz, em comunicado.


BMW suspende produção e manda 40 mil trabalhadores para casa


03-11-2008 (Efe/ Folha Online) O fabricante alemão de automóveis BMW suspendeu sua produção para toda esta semana e enviou 40 mil funcionários para casa diante da fraca demanda de veículos em todos os mercados.

Um porta-voz da BMW anunciou que desde hoje e até sexta-feira não funcionarão as linhas de produção nas fábricas alemãs de Munique, Regensburg e Dingolfing.

Após suspender na semana passada a produção em sua fábrica de Leipzig durante quatro dias e um dia a de Berlim, a BMW calcula que sua produção será cortada este ano em cerca de 25.000 automóveis.

Em setembro o fabricante já registrou um retrocesso em suas vendas de 14,6%, para 121 mil.


Como a crise financeira precipitou o colapso da indústria automóvel dos Estados Unidos, por Luis Rego (em Detroit)

03-11-2008 (Diário Económico). “Quando vim para aqui trabalhar disseram-me que o futuro desta indústria era tão radioso que precisávamos de andar de óculos escuros. Os todo-o-terreno eram o novo sonho americano. Agora, como isto está, não sei se tenho emprego no Natal”. Gary, 42 anos, é um engenheiro da Chrysler em Warren (nordeste de Detroit), uma das unidades de produção a abater no quadro das actuais negociações de fusão com a General Motors. Duas empresas que simbolizavam a vanguarda industrial americana lutam agora para evitar a falência. Mas o desemprego é apenas um dos ingredientes de um cocktail explosivo de tragédias económicas que se está a abater em Michigan, o Estado que conduz os piores indicadores de recessão nos EUA.


Eurozone is on verge of recession


3-11-2008, 11:48 (BBC). The eurozone is on the brink of recession with economic growth falling 0.2% in the second quarter, the European Commission has announced. A Commission statement warned: "In 2009, the EU economy is expected to grind to a standstill." The slowdown will mark the eurozone's first recession since the currency's inception in 1999.


Fundos soberanos árabes compram 1/3 do Barclays

02-11-2008 (RGE monitor). Talks of Sidelined sovereign wealth aside ….the amassed savings of the Gulf have re-emerged as a major capital source for some European banks – if not U.S. ones (For more details check out RGE accounting of SWF capital investment in financial institutions over the last year). Barclays turned to Qatar - Qatar holding, a subsidiary of the Qatar Investment Authority and an investment vehicle of Qatar’s Sheikh Hamad, will collectively almost double the stake the two investors accrued early this summer to almost 15.5%. And Sheikh Mansour of Abu Dhabi will take a 16% stake – in a personal capacity.

Em duzentas e três economias consideradas no World Factbook da CIA, Portugal tinha, em 2007, a 20ª maior dívida externa do mundo (200% do nosso PIB!), acima, em valor absoluto, de países como a China, a Rússia, o Brasil, a Argentina ou os Emiratos Árabes Unidos. Acresce ainda que a dívida pública, i.e. a dívida do Estado (juros incluídos) já chegou aos 64% do PIB, enquanto a balança de transacções correntes é também deficitária em cerca de 10% do Produto Interno Bruto. Ou seja, no momento em que ocorre o maior eclipse de liquidez monetária de que há memória, anunciando em todo o seu dramatismo o início de um colapso financeiro e uma depressão prolongada nas principais economias ocidentais, a banca portuguesa está virtualmente falida e sem credibilidade suficiente para contrair os vultuosos empréstimos de que necessita para sobreviver e ajudar a financiar o pântano deficitário em que todos nos estamos afundando -- públicos e privados. Pior não podia ser!

O Conselho de Ministros extraordinário, realizado este Domingo (para não assustar a Bolsa, e para evitar uma corrida aos bancos), teve um e um único objectivo: anunciar que o Estado irá contrair uma dívida extraordinária, ainda por inscrever no Orçamento de Estado de 2009, de 6.450 milhões de euros. 2.450 milhões para pagar dívidas a fornecedores (a cenoura); mais 4000 milhões, cujo objectivo é adquirir acções preferenciais (1) em troca de empréstimos que as entidades bancárias venham hipoteticamente a contrair junto dos cofres do Estado (o pau). Tal como no caso do Fundo de Garantia que avalizará empréstimos bancários até ao montante global de 20 mil milhões de euros, a actual decisão governamental, por configurar apenas intenções e actos hipotéticos, não será inscrita na coluna das despesas do Orçamento de Estado 2009. E no entanto, o que parece cada vez mais provável, é os contribuintes virem a ser sobrecarregados com uma despesa não orçamentada de 26.450 milhões de euros -- qualquer coisa como 15% do PIB, ou seja, cinco vezes mais do que o limite de 3% acordado no Pacto de Estabilidade e Crescimento! Alguém duvida da necessidade de um orçamento rectificativo a meio de 2009, ou então de um descalabro certo em 2010? Alguém duvida, pensando no resto da Euro zona, da provável morte do referido pacto? E se assim for, poderá ou quererá algum Estado evitar a emergência de um efectivo governo económico europeu e o reforço dos poderes executivos da Comissão e do Parlamento de Estrasburgo? Ou isto ou o fim trágico da Europa!

O Governo, o Banco de Portugal, os bancos e a imprensa não têm feito outra coisa que não seja mentir aos portugueses ao longo de toda esta crise. Não havia crise na América, tão só uma constipação; depois de o Subprime mostrar os dentes, disse-se que não chegaria à Europa; com o escândalo do BCP em pleno, proclamou-se aos quatro ventos que Portugal estava livre do lixo financeiro e que tinha um sistema bancário muito sólido; o BPN, não senhor, não estava à beira da falência (matem-se os rumoristas clamou o ministro que veio da Bolsa); e agora, depois da anunciada nacionalização do BPN, tudo ficará bem e recomenda-se. Se é assim, para que são então os 24 mil milhões de euros que a maioria resolveu destinar em exclusivo à banca instalada em Portugal, depois dos depósitos (que são, para todos os efeitos, empréstimos) já realizados pelo BdP, e que ascendiam em Junho deste ano a 2.516 milhões de euros?! Quando será que os manipuladores profissionais acordam para a realidade e sobretudo para o facto de não sermos todos atrasados mentais?

Há quinze dias atrás, quando já se sabia que o BPN afundava à velocidade dum prego atirado ao mar, o ministro das finanças do meu país veio mentir descaradamente sobre a situação do banco. Foi para evitar o pânico? Foi?! Pois eu acho que prestou um péssimo serviço aos 200 e tal mil clientes do sombrio banco que agora acaba de morrer. Quem sabia o que ia suceder safou-se do naufrágio. Mas que sucederá aos demais clientes atraídos por este banco de piratas cujos donos, soubemos já ao final desta tarde, é uma tal Sociedade Lusa de Negócios, presidida por Rui Machete e contando entre os seus administradores com o famoso Dias Loureiro? O irresponsável bem pago que preside ao Banco de Portugal, por um lado, e a CMVM, por outro, autorizaram a existência e livre operação de um banco (ainda esta manhã filho de pai incógnito), mesmo depois de a revista Exame ter revelado em 2001 (!) que algo iria muito mal no BPN. E agora? Ninguém vai preso?! O cúmulo do desvario foi ler no DN de hoje que a avestruz das Finanças tenciona indemnizar os piratas do BPN, em vez de os meter na cadeia, como devia! Ainda se espantam com o ambiente conspirativo que começa a brotar das casernas.

A crise bancária portuguesa é muito mais séria do que pretendem os seus protagonistas e protectores. Na realidade, estas entidades financeiras e os grupos económicos de que fazem parte, quase todos eles metidos até às orelhas nos mercados de Derivados e na especulação cambial, estão secos que nem carapaus e precisam desesperadamente de liquidez. Para acederem ao crédito, têm que exibir garantias sólidas de que podem honrar os contratos. A qualidade dos chamados Colaterais que acompanham os contratos de Derivados, os Hedge Funds, os CDS e os PRDC, etc. tornou-se condição sine qua non. Daí o interesse dos bancos nos avales do Estado, nas linhas de crédito que este generosamente anuncia e no ajustamento dos rácios de solvabilidade. As empresas de construção precisam, por outro lado, de substituir rapidamente os seus activos puramente financeiros, que já nada ou pouco valem, por coisas mais credíveis: barragens (sacrificando criminosamente vidas humanas e o capital natural do país), auto-estradas, aeroportos, linhas férreas de Alta Velocidade ou a antecipação caceteira da renovação do contrato de concessão do Cais de Alcântara à Liscont!

Resumindo e concluindo, está em curso a maior e mais escandalosa operação de hipoteca da riqueza nacional em nome da sobrevivência de negócios, tríades e máfias cujo produto mais conhecido é a presente ruína do país e o enriquecimento indevido de umas dezenas ou talvez mesmo centenas de piratas e figurões do Bloco Central.


NOTAS
  1. Acção preferencial - acções preferenciais são uma classe de acções que paga uma taxa pré-definida de dividendos acima do dividendo atribuído às acções ordinárias, e com preferência sobre estas relativamente ao pagamento de dividendos e à liquidação de activos.

    O dividendo preferencial é normalmente cumulativo, o que significa que se por qualquer razão não for pago, deverá ser adicionado ao dividendo do exercício seguinte. As acções preferenciais não conferem, habitualmente, o direito a voto.

    O não pagamento de dividendos durante um número de exercícios pré-estabelecido pode levar ao accionar de cláusulas que convertem as acções preferenciais em acções ordinárias, com todos os direitos destas (nomeadamente, o de voto).

    As acções preferenciais (preference share ou non voting share em inglês), são também conhecidas como papel de víúvas (widow stocks), constituindo uma categoria de acções que conferem direitos especiais ao seu titular, normalmente de carácter patrimonial, tais como o direito de satisfação prioritária a quinhoar nos lucros de exercício da empresa e o direito à quota de liquidação, em detrimento do direito de voto (controlo da sociedade).

    Normalmente não podem ser pagos dividendos às acções ordinárias sem antes terem sido satisfeitos os direitos do accionistas titulares de acções preferenciais.


OAM 469 04-11-2008 01:48 (última actualização: 05-11-2008 00:08)

sexta-feira, maio 15, 2015

Rota da Seda 2.0 passa por Lisboa



China vai investir 50 mil milhões de dólares no Brasil

Fonte diplomática brasileira disse que o investimento chinês vai ser feito nos setores das infraestruturas, redes de caminho-de-ferro, estradas, portos e aeroportos.

Ler mais em Correio da Manhã

A quem gostar de geoestratégia aconselho o mapa Tordesilhas 2.0 que desenhei há uns anos e que tenho vindo a atualizar. Tive o cuidado de descer a vários pormenores... nomeadamente no que toca a portos e redes ferroviárias estratégicas, existentes ou em construção...

Vale a pena fazer zoom às principais linhas de comunicaçção em que a China está a investir:

  • Pequim-Veneza-Londres (Rota da Seda 2-terrestre)
  • China-Malaca-Golfo Pérsico-Mar Vermelho-Nacala-Lobito-Golfo da Guiné-Cabo Verde-Brasil-Argentina-Portugal...(Rota da Seda 2-marítimo-terrestre).

A China, com o seu excesso de dólares e mais de mil milhões de almas, precisa de petróleo/gás natural (Rússia, Médio Oriente, Moçambique, Angola, Golfo da Guiné), de soja e outros cereais, ferro, cobre e outros minerais, além de ouro, platina e prata, para voltarmos a ancorar o valor do dinheiro em algo sólido, fungicida e imune à especulação digital (Brasil, Argentina, Chile, Golfo da Guiné, Angola-Moçambique) --- >

Portugal deve pois olhar com muita atenção para este movimento rápido das placas tectónicas da política mundial.

A estratégia que nos convém trilhar é clara: manter a velha aliança com a Inglaterra, maior protagonismo ibérico, deixar de seguir caninamente as depenadas águias de Washington, e cuidar da língua portuguesa sem atavismos ortográficos!


Se gostou do que leu apoie a continuidade deste blogue com uma pequena doação

domingo, janeiro 27, 2019

Um novo Tratado de Tordesilhas, ou?

Federica Mogherini, chefe diplomática da União Europeia

Maduro terá que abandonar o poder em breve


A Rússia não tem força para transformar a Venezuela numa espécie de Ucrânia. E a China também não tem interesse em precipitar os acontecimentos nesta direção. O resultado de mais um braço de ferro entre o despotismo asiático e as democracias ocidentais só pode ser um: salvar ambas as faces, do Ocidente e do Oriente, levando o senhor Maduro a passar umas férias nas Caraíbas.

O modo como a crise na Venezuela evoluir (Guterres tem que abrir os olhos!) depois do reconhecimento de Juan Guaido pela maioria dos estados americanos (12 contra 3) e pela União Europeia, deixará ver de forma bem nítida a fratura em curso na famosa globalização. O recuo dos Estados Unidos e dos seus aliados na Síria depois de uma clara vitória da Rússia e do Irão da guerra civil que destruiu boa parte daquele país, será, por assim dizer, compensado com o despedimento de Maduro e a subsequente pressão contra a excessiva presença económica, militar e diplomática da Rússia e da China naquelas paragens. As negociações, que já estarão a decorrer, suponho, sobre a revisão drástica da permeabilidade do continente americano à influência chinesa, russa e indiana, ditarão a duração e os contornos mais ou menos violentos da guerra entre Maduro e Guaido.

O equilíbrio MAD nunca esteve na realidade em causa, mesmo durante a implosão da URSS. O que sim tem estado a mudar é a posição geográfica do centro de gravidade da prosperidade mundial. No século 15, por volta de 1430, a China fechar-se-ia paulatinamente ao mundo, assustada com o eterno perigo do Norte, ou por outro motivo ainda por esclarecer. O seu hoje incensado Almirante Zheng He (1371—1433 ou 1435), depois de sete viagens memoráveis (1403, 1407, 1409, 1413, 1416, 1421, 1429) pelos mares da China, Oceano Índico, até à costa ocidental de África, que poderiam ter aberto o caminho marítimo da China até à Europa, não chegou a conhecer o Infante Dom Henrique (1394—1460), vinte e três anos mais novo, o qual, em 1415, daria início a um ciclo de expedições marítimas que acabariam por nos levar à China, em 1513-1517, e ao Japão, em 1543.

Seiscentos anos depois, a China quer refazer a Rota da Seda, por mar e terra, cruzando toda a Eurásia, mas também os mares da China, o Oceano Índico, África e o Atlântico. A sua ambição é, pois, incomensurável com as pretensões algo tacanhas do que resta do império dos czares russos. Num certo sentido, podemos dizer que Putin é, de momento, o braço armado da China nesta sua acelerada fase expansionista, mas que a imensa terra russa é também uma espécie de espaço vital futuro da China.

Daqui a dificuldade de saber onde estão os meridianos do futuro Tratado de Tordesilhas que irá regular uma nova divisão ao meio do planeta humano. Há que procurá-los, pois a alternativa a uma divisão pacífica das influências pode ser mesmo a extinção da humanidade.

Existe uma teoria diferente sobre a carnificina venezuelana (1), a qual interpreta o 'golpe' contra Nicolás Maduro como uma placagem ao acesso oriental (sobretudo da China) ao petróleo venezuelano. De um ponto de vista geoestratégico, esta interpretação decorre de uma visão que, no essencial, diz isto: os impérios marítimos e coloniais que dominaram o mundo nos últimos seiscentos anos irão ceder ao poder da grande massa continental e humana que é a Eurásia. O objetivo tático para apressar esta mudança tectónica passa, segundo os teóricos desta visão, por separar a Europa ocidental da América, forçando-a a ser apenas a península ocidental cooperante de uma Eurásia centrada nos seus grandes poderes estratégicos: Alemanha, Rússia, Irão, Índia, e China.

Vale a pena, para uma melhor compreensão deste ponto de vista, ler dois artigos recentes (de que incluímos dois extratos) escritos por Pepe Escobar e por Federico Pieraccini.

“The supreme nightmare for the U.S. is in fact a truly Eurasian Beijing-Berlin- Moscow partnership.” 
“The Belt and Road Initiative (BRI) has not even begun; according to the official Beijing timetable, we’re still in the planning phase. Implementation starts next year. The horizon is 2039.” 
[...] 
“The New Silk Roads were launched by Xi Jinping five years ago, in Astana (the Silk Road Economic Belt) and Jakarta (the Maritime Silk Road). It took Washington almost half a decade to come up with a response. And that amounts to an avalanche of sanctions and tariffs. Not good enough. 
Russia for its part was forced to publicly announce a show of mesmerizing weaponry to dissuade the proverbial War Party adventurers probably for good – while heralding Moscow’s role as co-driver of a brand new game. 
Were the European peninsula of Asia to fully integrate before mid-century – via high-speed rail, fiber optics, pipelines – into the heart of massive, sprawling Eurasia, it’s game over. No wonder Exceptionalistan elites are starting to get the feeling of a silk rope drawn ever so softly, squeezing their gentle throats.” 
— in Pepe Escobar, “Back in the (Great) Game: The Revenge of Eurasian Land Powers”, Consortium News, August 2018.



“Even if the US dollar were to remain central for several years, the process of de-dollarization is irreversible.  
Right now Iran plays a vital role in how countries like India, Russia, and China are able to respond asymmetrically to the US. Russia uses military power in Syria, China seeks economic integration in the Silk Road 2.0, and India bypasses the dollar by selling oil in exchange for goods or other currency.  
India, China, and Russia use the Middle East as a stepping stone to advance energy, economic and military integration, pushing out the plans of the neocons in the region, thereby indirectly sending a signal to Israel and Saudi Arabia. On the other hand, conflicts in Syria, Iraq and Afghanistan are occasions for peacemaking, advancing the integration of dozens of countries by incorporating them into a major project that includes Eurasia, the Middle East and North Africa instead of the US and her proxy states.  
Soon there will be a breaking point, not so much militarily (as the nuclear MAD doctrine is still valid) but rather economically. Of course, the spark will come from changing the denomination in which oil is sold, namely the US dollar. This process will still take time, but it is an indispensable condition for Iran becoming a regional hegemon. China is increasingly clashing with Washington; Russia is increasingly influential in OPEC; and India may finally decide to embrace the Eurasian revolution by forming an impenetrable strategic square against Washington, which will shift the balance of global power to the East after more than 500 years of domination by the West.”
—in “Russia, China, India, and Iran: The Magic Quadrant That is Changing the World”
by Federico Pieraccini @ Strategic Culture Foundation, 25.01.2019


Post scriptum

Acabo de ler a comunicação de Georges Soros ao Forum de Davos deste ano. Pela sua clareza relativamente à China, recomendo a sua leitura e deixo aqui um extrato elucidativo.

Remarks delivered at the World Economic Forum 
Davos, Switzerland, January 24, 2019 
“China is not the only authoritarian regime in the world but it is the wealthiest, strongest and technologically most advance. This makes Xi Jinping the most dangerous opponent of open societies. That’s why it’s so important to distinguish Xi Jinping’s policies from the aspirations of the Chinese people. The social credit system, if it became operational, would give Xi total control over the people. Since Xi is the most dangerous enemy of the open society, we must pin our hopes on the Chinese people, and especially on the business community and a political elite willing to uphold the Confucian tradition.” 
—in Georges Soros
NOTAS



  1. Este relatório anual do Observatorio Venezolano de Violencia dá bem a dimensão da crise política, social e humanitária desencadeada pela ditadura de Nicolás Maduro.

Atualizado em 28/1/2018, 13:05 WET

sábado, fevereiro 07, 2009

Portugal 87

O fim do emprego
e o desafio de Louçã...

«É um princípio de um sistema bancário público em que possa predominar uma política socialista, uma política pública com orientações para escolhas sociais para a economia. É exactamente assim que faria um ministro das Finanças que fosse do Bloco de Esquerda» — Francisco Louçã in “New Crisis, Old System”; VI Convenção do Bloco de Esquerda (06-02-2009).

Francisco Louçã propôs hoje a proibição dos despedimentos em empresas que tenham resultados, elegendo o combate ao desemprego e a nacionalização de sectores estratégicos como resposta ideológica e prática à "crise do regime" (Lusa/SIC).


"Perhaps as little as 5 percent of the adult population will be needed to manage and operate the traditional industrial sphere by the year 2050. Near-workless farms, factories, and offices will be the norm in every country".

— in Jeremy Rifkin, The End of Work (1995, 2004).


There is cause to think the problems in the financial sector remain grim despite the huge amount they have received from taxpayers and that there are few sources of growth in the private economy. Consumers are strapped and business won't invest until recovery has begun. The model is broken. Default rates are rising for auto loans, credit cards, and other forms of borrowing. Commercial real estate which expanded 40 percent in the three years after 2005 (when housing loan expansion peaked). We have reached the end of the regime of accumulation that started in the late 1970s which featured financialization - growth through massive debt creation and speculation as a defining characteristic - deindustrialization and globalization.

— in The Present Crisis of Capitalism, Its Short and Long Term Implications. By William Tabb.

Entre o nariz de Sócrates que não pára de crescer e o descontrolo retórico do pigmeu Augusto Santos Silva, o Bloco de Esquerda chega aos dois dígitos nas sondagens — já aqui tínhamos previsto, a 28 de Janeiro, 11% de intenções. Importa pois começar a discutir o que quer o Bloco de Esquerda quando for governo, provavelmente associado ao Partido Socialista que sobreviver a José Sócrates e à tríade que colocou este pinóquio no sítio onde está para vergonha de qualquer lusitano com a espinal medula no sítio.

Ideias frescas vindas do Bloco? Pois que venham!

Louçã, enviou-nos, para já, três recados:
  • se for ministro das finanças, irá proibir que as empresas com 'resultados' despeçam;
  • se for ministro das finanças, nacionalizará sectores estratégicos da nossa economia como resposta à 'crise de regime';
  • se for ministro das finanças, iniciará a formação de um sistema bancário público dotado de uma política predominantemente socialista.
Nada que o Reino Unido e a América de Obama não estejam dispostos a subscrever de cruz. Mas não chega. Nem sequer para alterar o sistema fiduciário de valor que conduziu à actual crise sistémica mundial, para o que faltaria acabar, por exemplo, com os gnomos e testas de ferro da especulação mundial, mais o chamado shadow banking (Banco Privado e quejandos), a economia de casino, e as sofisticadas arquitecturas computacionais responsáveis pelo buraco negro dos derivados. É preciso ir ainda mais fundo: até à divisão internacional do trabalho, até à repartição dos recursos energéticos e naturais disponíveis —que chineses e russos querem mais equitativa—, e de caminho, até às actuais regras do comércio mundial.

EU threatens legal action over American car industry bail-out

(03-02-2009) The EU today threatened legal action and retaliatory measures against the US if the Obama administration enshrines a "Buy American" clause in its multibillion-dollar economic stimulus package.

...The most contentious clause in EU eyes would require US firms to use local steel and other components in state-funded projects. Similar national measures have been adopted or considered in Argentina, China, Indonesia, Ecuador, India, Russia and Vietnam, putting them on a WTO ­surveillance list. — (Guardian.co.uk)

Quando Obama decide indexar os apoios estatais à indústria americana ao consumo de aço Made in USA, pondo em causa cláusulas anti-proteccionistas fundamentais assinadas pelos membros da OMC, o caminho, aqui há vários meses anunciado, do regresso ao proteccionismo está aberto. Há já algum tempo que defendo a necessidade de um novo Tratado de Tordesilhas, desta vez entre a Ásia e a Euro-América. O grande Médio Oriente e a África serão as áreas de disputa entre os novos blocos planetários. A Rússia, que começou a reconstituir paulatinamente o seu espaço vital, permanecerá o pêndulo angustiante entre o Oriente e o Ocidente, cumprindo assim uma velha tradição!

Para já, a Europa está cada vez mais nervosa com a evolução tectónica vertiginosa em curso. Barafusta contra os Estados Unidos, enquanto o garnisé de Paris recomenda às empresas francesas subsidiadas que consumam materiais e serviços franceses, o sonâmbulo de Downing Street faz discursos xenófobos, e uma parlamentar europeia da reaccionária Polónia repudia prisioneiros de Guantánamo, não apenas no seu país, mas em toda a União Europeia!

A moeda europeia (1), apesar das suas ambições, poderá em breve sofrer um enorme trambolhão. Basta para tal que alguns dos seus países membros entrem em processos de falência semelhantes ao da Islândia. O Reino Unido (2), a Grécia e Portugal, já para não mencionar a Ucrânia e a Hungria, estão a um passo de suspender pagamentos internacionais. Se e quando tal acontecer, o Euro começará a resvalar, haverá inflação ou mesmo hiperinflação na Europa, e surgirão finalmente novas moedas de reserva regionais — na América, na Ásia e nas petro-monarquias do Médio Oriente.

Parar as privatizações em curso num país à beira da falência, de que é exemplo a criminosa operação de venda ao desbarato da ANA, única e exclusivamente para ajudar a financiar a construção do desnecessário NAL de Alcochete; travar a intrusão inopinada e abusiva da Iberdrola na rede de barragens e sistema hídrico nacionais (3), sob os auspícios diligentes do vende-pátrias Pina Moura; desfazer a escandalosa apropriação indevida desse bem público inalienável que é a água por parte dos piratas do Bloco Central da Corrupção (investigue-se o Instituto da Água quanto antes!); e preparar o país para um verdadeiro raid de nacionalizações e renacionalizações dos seus principais recursos estratégicos, ditado por razões de Estado, e não para recompensar especuladores e ladrões de toda espécie, como tem vindo a fazer o actual governo de direita, do PS, a propósito do BCP, BPN e BPP, eis alguns detalhes da coisa pública que o Bloco de Esquerda tem que começar a explicar aos seus eleitores se quiser saltar dos actuais 10% de expectativas para o ambicioso desiderato de rachar ao meio o actual PS, com ou sem Alegre.

Terá, por outro lado, que ser mais claro nas suas intenções e propor desde já medidas precisas sobre, por exemplo, as execuções das hipotecas imobiliárias que parecem estar a disparar e em breve ameaçarão aqueles milhares de portugueses que, como bem descreveu Elisabeth Warren, em Two Income Trap, caírem numa ou mais de três situações críticas: perda de emprego, divórcio (4), ou doença prolongada. A Caixa Geral de Depósitos, governada por piratas do Bloco Central da Corrupção, que vem aliviando escandalosamente as perdas colossais de Joe Berardo e chafurda no lodo do BPN e do BCC, é a mesma instituição que avança sem vergonha —e com a polícia de choque à frente, se for preciso— para a expulsão de famílias inteiras de apartamentos cujas hipotecas foram executadas, recolocando depois os apartamentos recuperados como garantias executadas no mercado da especulação. É uma vergonha vê-los a fazer leilões obscenos por esse país fora!

Para os chineses a palavra crise tem dois significados: por um lado, proclama a existência de um drama, por outro, alerta para a emergência de uma oportunidade!

O fracasso do neoliberalismo que os piratas que tomaram conta do PS abraçaram fatalmente (5), mas de que o colapso económico-financeiro em curso é a moral mais cristalina, deve ser aproveitado para corrigir o actual regime político, ao mesmo tempo que é crucial aproveitar quanto antes a oportunidade de proceder a uma profunda e urgente limpeza do lixo acumulado nos cantos da democracia.

O escândalo Freeport (6) é um escândalo político, pois os muitos casos de polícia que encerra têm origens e desenvolvimentos partidários. Deixar morrer mais um exemplo da corrupção que tolhe e faz apodrecer a democracia portuguesa seria um sinal não só de cobardia cívica, mas acima de tudo de uma enorme estupidez estratégica.

Franciso Louçã lançou um desafio. Não sei ainda se estará à altura da jogada. O tempo está, no entanto, a seu favor. Que pena terem deixado cair a Joana Amaral Dias! Com um pouco de MT ia lá. Seguramente muito melhor que o hirto Fazenda, para as lides que se avizinham.


NOTAS
  1. The Euro at ten: Is its future secure?
    By Simon Tilford, in Centre For European Reform - essays. (PDF)

    The euro is riding high on the foreign exchange markets, and the financial crisis has graphically illustrated that euro membership provides a safe haven. On the face of it, this would seem to be a strange time to question the stability of the currency union. But this essay argues that the euro is about to face its first serious test, and that the stability of the eurozone cannot be taken for granted.

  2. Today's Trope: Britain May Need IMF Bailout

    Asking for an IMF bailout is among the worst things countries can do in terms of damaging national prestige. It's the global political economy equivalent of cadging distant relatives (i.e., "the international community") for money to help tide you over. I've covered several of the most recent approaches to the IMF including Iceland, Ukraine, and Hungary. Now, the leader of the British Conservatives, David Cameron, is leading a charge that the United Kingdom may soon go hat in hand to un grand seducteur Dominique Strauss-Kahn. — in IPEZONE.

  3. Se daqui a dois ou três anos a Iberdrola for nacionalizada pelo Estado espanhol, em que situação fica o controlo português sobre a energia, as albufeiras e os sistemas de irrigação associados às barragens que o actual governo —por cupidez pura e dificuldades de tesouraria— quer entregar a uma empresa tipicamente protegida, e bem, pelos governos espanhóis?

  4. É por isto que Cavaco Silva e a Igreja têm razão na questão da lei do divórcio. O problema não é já ideológico, mas de pura gestão de uma das principais crises estruturais do sistema capitalista. Quando é que a bronca Esquerda ideológica começa a pensar pela sua própria cabeça, e abandona os manuais desactualizados do maniqueísmo pseudo-marxista?

  5. A cantilena pró-socialista de esquerda assumida recentemente por José Sócrates não passa disso mesmo, de mais uma ladaínha do vendedor de cobertores de Vilar de Maçada. Na realidade, o que o actual primeiro ministro e a tríade de Macau estão a montar pela calada é uma verdadeira rede de interesses económicos privados destinada a expropriar o país dos seus principais recursos e infraestruturas! Trata-se de um roubo em larga escala, articulado com vastas manobras internacionais, onde pontuam, vejam só, grandes almirantados da pirataria mundial, como por exemplo, a célebre Carlyle. A mesma que, pelos vistos, há algum tempo atrás espevitou o fogo escandaloso do Freeport! Porque seria?

    Vale a pena ler com atenção, a este propósito, esta esclarecedora passagem de "The Present Crisis of Capitalism, Its Short and Long Term Implications", por William Tabb:
    The Carlyle Group has a team raising a billion dollar fund to focus on U.S. infrastructure, such as rail, airports, water assets, as well as schools and hospitals.

    There are many other such entrepreneurial endeavor. GE and Credit Suisse have a new global fund to invest in power plants, pipelines, airports, railroads and toll roads. GE can contract many parts of the deal to its other divisions which can provide inputs and systems for the infrastructure projects.

    Governments contracting with such providers will know less about the details and costs than the providing consortia.

    Such arrangements have long been pushed on developing countries by the World Bank and other funders. As in the instances of other aspects of neoliberalism first demanded of weaker developing nations which have become part of the policy givens in the United States and some other advanced economies such a new paradigm is coming unless there is a reassertion of the capacities of the public sector here.

    As Jenny Anderson reported in the New York Times not long ago, "Reeling from more exotic investments that imploded during the credit crisis, Kohlberg Kravis Roberts, the Carlyle Group, Goldman Sachs, Morgan Stanley and Credit Suisse are among the investors who have amassed an estimated $250 billion war chest much of it raised in the last two years to finance a tidal wave of infrastructure projects in the United States and overseas."

    Norman Y. Mineta, a former secretary of transportation was hired by Credit Suisse as a senior adviser to such deals. Other former public servants are lining up for such positions as intermediaries between private and public at handsome remuneration.

    Given growing public deficits, like third world countries Let us hope and work to see that America will not give away its roads, bridges and airports in exchange for the promise of better maintenance by the private sector. The taxpayer will get immediate relief and long term dependence on for profit owners.
  6. Rui Gonçalves, secretário de Estado do Ambiente de Sócrates que aprovou o licenciamento do Freeport, é desde Abril de 2008 vogal da Empresa Geral de Fomento e, por inerência, assumiu os cargos de presidente dos conselhos de administração da Valnor, da Rebat, da Resat, da Residouro e ainda de vogal da Valorsul, passando a presidir a partir de Setembro de 2008 à Resistrela (criada para gerir resíduos sólidos urbanos em parte da Beira Interior). Todas estas empresas da área do saneamento básico foram criadas por José Sócrates quando era ministro do Ambiente. De 2002 a 2005 foi professor convidado da Universidade Independente.

REFERÊNCIAS
  • ¿Vuelve Keynes?
    Por Ignacio Sotelo

    7-02-2009 (El País) La actual socialdemocracia está impulsando un falso keynesianismo: el Estado, con el dinero de todos, salva bancos y empresas, pero la propiedad, y con ella la capacidad de decidir, queda en manos privadas.

    ... Al mostrar que la inversión no está ligada al ahorro, sino a las perspectivas de ganancia, Keynes critica el supuesto equilibrio entre producción y consumo que había constatado la economía clásica, en función de la cual el desempleo desciende si bajan los salarios y en general los costos de producción. Keynes recalca que si se bajan los salarios, al encogerse la demanda global, se obtiene el efecto contrario: más paro. Además, una política de achicamiento de los salarios no sólo es poco razonable, es que ni siquiera resulta factible. Bajar los salarios, con los conflictos sociales que comporta, sólo se lograría en un régimen autoritario que hubiera suprimido, entre otras, la libertad sindical.

    ... Keynes no sólo plantea, si fuese preciso, volver al proteccionismo, sino que pone en tela de juicio la prerrogativa exclusiva del empresario de decidir en qué y cuándo invierte su dinero, algo que atañe a la esencia misma del capitalismo. La aporía intrínseca del sistema radica en que no puede mantener el pleno empleo sin garantizar previamente las inversiones de la manera más conveniente para la economía nacional, y no simplemente para el interés del inversor. Y no hay "mano invisible" que haga converger el interés general con el egoísmo individual. Keynes fue claro: "Creo que una socialización bastante completa de las inversiones será el único medio de aproximarse a la ocupación plena".

    ... Nadie invierte para crear puestos de trabajo, por mucho que una monserga constante insista en que la inversión privada es el factor principal para reducir el paro. En vísperas de elecciones, los partidos prometen bajar los impuestos para aumentar los beneficios de las empresas, lo que, dicen, redundará en inversiones que creen puestos de trabajo, como si hubiese una relación directa entre cuantía del capital disponible y monto de las inversiones.

    ... Las dos recetas que ofrece Keynes para garantizar el pleno empleo -proteccionismo y socialización de las inversiones- no encajan en el capitalismo en su forma liberal primigenia, pero mucho menos la primera en la época de la globalización y la segunda cuando se ha hundido el movimiento obrero.

    ... ¿Vuelve Keynes? En la crisis que ha desencadenado la total desregularización, los dueños de los bienes financieros y de producción necesitan dinero público en cantidades ingentes. Amenazan con que, de no recibirlos, podría ocurrir que se derrumbase el sistema. Pero aun en situación tan extrema, de ningún modo están dispuestos a asumir el más elemental de sus principios, a saber, que el que pone el dinero adquiere la propiedad y decide. El Estado, con el dinero de todos, estaría obligado a salvar bancos y empresas, pero la propiedad, y con ella la capacidad de decidir, debe quedar en manos privadas.

    ... La relectura que se hace de Keynes para justificar el enorme endeudamiento público que conlleva las ayudas a bancos y grandes empresas contradice por completo las intenciones de Keynes. Lo más grave es que la socialdemocracia de nuestros días haga suya esta interpretación.

  • The Un-stimulating Stimulus
    By Martin Hutchinson (Prudent Bear)

    February 02, 2009 — Until the House Republican revolt this week, there has been a worldwide consensus that the way to get out of a deep recession is through fiscal "stimulus" – gigantic gobs of public spending that explode the budget deficit but provide jobs to those without them. It’s a theory first publicized by John Maynard Keynes, but it rests on a central fallacy: the "job-providing" expenditures have to be financed somehow, and their financing may crowd out other private-sector projects that would have created more jobs.

    ... Of the roughly $850 billion in expenditures and tax rebates outlined above, only roughly $81 billion in expenditures and $13 billion in tax reductions would have any economic spin-off effect or supply-side effect respectively. That's 11% of the total, much of it being spent in 2011 or later. All the remainder would have a Keynesian multiplier of 1.0 or less, in other words run the risk of being on a net basis damaging to the economy by sucking resources out of other more productive uses.

    Add to the above the financing and inflationary problems produced by a federal budget deficit that was already out of control before this "stimulus" and the waste and corruption inevitable in government programs of this size (such as the infamous "Davis-Bacon" provisions adding 20% to federal construction costs by requiring unionized labor). Add also damaging requirements such as the "Buy America" provisions in relation to steel and manufactured goods, which significantly raise the danger of a trade war that would hugely damage the U.S. and world economy.

    It becomes pretty clear that, far from repeating the successes of the Interstate Highway System, the proposed economic stimulus is likely to have a net depressant effect on the U.S. economy. Misguided large-scale government activities of this kind produced the disaster of the Great Depression in the United States at a time when Britain among other countries was able to achieve economic recovery by pursuing the opposite policy of state retrenchment.

  • From Financial Crisis to Sustainable Global Economy
    By Jonathan Lash on January 29, 2009

    Much of the world’s attention is fixed on the brutal effects of the global financial crisis. But sooner or later—sooner we hope—the global economy will rebound. Markets will recover, and stocks will rise. Nature, on the other hand, does not do bailouts. The effects of today’s greenhouse gas emissions—like those of yesterday and tomorrow—will be permanent, at least in the timescales that we care about.

    ... Economic recovery around the world will be driven by thousands of firms in each country making decisions about what products to make, what technologies to use, and who to hire. It is essential that these decisions incorporate the risks and opportunities presented by a carbon-and-resource constrained world. It is critical that they create jobs in building the products that will help improve lives with reduced impact on the Earth’s resources.

    ... Right now is the best opportunity I have seen in 30 years as an environmentalist to align economic, social and environmental goals. The United States Climate Action Partnership, of which WRI is a founding member, and whose 26 corporate members include General Electric, Duke Energy, DuPont and General Motors, last week renewed and strengthened its call for the U.S. Congress to adopt a mandatory national cap and trade system to reduce current U.S. greenhouse gas emissions by 80 percent by 2050. (Texto integral)

  • The Present Crisis of Capitalism, Its Short and Long Term Implications
    By William Tabb

    A talk given to actists @ the Left Labor Project, January 6, 2009.

    The title for my talk I was given is too ambitious by far but I think the intent is to have a discussion of where we are in economic-political history and that is what I shall offer starting with two ways of looking at the coming year(s) for the economy. The predictions for 2009 come in two persuasions. The economists views generally speaking are summed up by the Financial Times as "Whatever happens, 2009 will not be pleasant" and it will be "a year to forget." The Economist greeted the New Year in its January 3rd issue with an Economic Focus "Diagnosing Depression." enlightening us that since the word seemed to be "popping up more often" it would explain criteria for distinguishing a depression from a recession the latter being a decline in real GDP that exceeds 10% or one that lasts more than three years. Since this one began in December 2007 we are off to a good or perhaps bad start. Previous bad recessions in 1973-75 and 1981-2 each lasted 16 months. No one believes this one will be shorter. Yesterday the Federal Reserve announced their shock at how bad things have gotten in the last month. If history has lessons for us it is that financial crises, even ones as bad as the one we have on for years not months, unemployment rises and output falls by large amounts.


    On the other side are forecasts from people selling stock. They predict recovery to occur at the end of 2009. Some economists agree. However such reassurance comes from many of the same folks who said a nationwide fall in American house prices was impossible and that financial innovation had made the financial system more resilient, so The Economist was not altogether impressed by the optimists. Nor am I for reasons to which I now turn.


    There is cause to think the problems in the financial sector remain grim despite the huge amount they have received from taxpayers and that there are few sources of growth in the private economy. Consumers are strapped and business won't invest until recovery has begun. The model is broken. Default rates are rising for auto loans, credit cards, and other forms of borrowing. Commercial real estate which expanded 40 percent in the three years after 2005 (when housing loan expansion peaked). We have reached the end of the regime of accumulation that started in the late 1970s which featured financialization - growth through massive debt creation and speculation as a defining characteristic - deindustrialization and globalization.


    US-based transnational capital sought both markets and production venues elsewhere and squeezed labor harder. Money was made not only from intensifying exploitation in ways business union leaders were unprepared for since they were still looking for class cooperation when, as the head of the UAW at the time, Douglas Fraser, explained capital was waging a one-sided class war. Foreign competition from Japan and later other Asian exporters was a major factor along with U.S. producers increasingly moving off-shore and introducing more capital saving technology. For the last forty years or so the American workers's income has stagnated, benefits and job security eroded and in the privatization, anti-tax-anti government climate public services deteriorated. Companies have increasingly maximized short term returns, corporate raiders and private buyout firms have restructured much of American industry, working people have borrowed more and personal debt grew dramatically. As Linda Bilmes and Joe Stiglitz have written "In the eight years since George W. Bush took office, nearly every component of the U.S. economy has deteriorated." We know the broad strokes if not the numbers - 5 million increase in the number without health insurance, 4 million manufacturing jobs gone, consumer debt has dubbed and nearly a fifth of homeowners owe more than their home is worth and between 2002 and 2006 the wealthiest 10% of households received 95% of all income gains. The Iraq war built on a lie will end up costing at least three trillion and we don't count the Iraqi people killed, wounded and displaced. This was paid for with borrowed money, mostly from foreigners. One in eight Americans the USDA tells us is "food insecure," that is they don't get enough to eat. Food banks are overwhelmed. In December 608,000 Americans, 74% more than last year are not seeking work because they think no jobs are available. They are not counted as unemployed only "discouraged. I don't have to go on. American consumers cannot borrow any more and are actually paying down debt levels they cannot sustain as best they can. Spending is falling, unemployment will keep rising into the foreseeable future. More bubbles will burst as Americans pay down unaffordable debt and demand for energy and other raw materials and the output of manufactured goods they create continue to decline.


    In the United States in 2008 two million manufacturing jobs were lost. Everywhere now manufacturing activity is falling, even in China and India, in Germany, France, Italy and Spain, in Japan and Hong Kong. While the stock market in the United States last year fell by more than it has since 1931, by 38 percent, with devastating impacts on the retirement prospects of millions of American workers this was considerably less than the losses in the rest of the world where comparable stock indices fell by 46 percent. In Iceland by 90 percent due to the financial excesses caused by deregulation and outrageous expansion of their bank's borrowing in foreign currencies. But losses were also worse than in the U.S. in Japan, France, Italy, Sweden, South Korea, Brazil, China and India among others. It is not only in the United States that the share of gross national product that goes to wages has declined while the share going to capital has increased, this has happened in three quarters of the countries in the world according to the International Labor Organization between 1995 and 2007.


    The systemic challenge may be greater than the current discussion and certainly policy measures reflect. Dependence on unsustainable levels of debt and global capital flows reflect the stagnationist tendencies of the advanced economies and the shift in where production takes place globally, processes of combined and uneven development inherent in capitalism but which now reach crisis proportions. International negotiation and coordination is imperative but difficult. As in the Great Depression each nation's capitalists (and their workers) will be inclined to become more intensely nationalistic. A crucial dimension of the seriousness of the situation is the foreign debt of the United States which has been running huge current account deficit and borrowing from the rest of the world at an unsustainable rate. The global imbalance is difficult to address. The U.S. must consume less. China will have to let its people consume more. The great increase in the US deficit necessary in the current crisis will increase foreign borrowing worsening the imbalance. Other big issues such as resource limits and global warming will have to be faced and will impact, or should impact how and what is produced. These too represent major crises for capitalism and need to be faced.


    The damage caused by the financialization of the last three decades or so is enormous. It is likely without it stagnation would have come sooner. It was the borrowing that kept the economies growing and trade flowing. But the high leverage which allowed investment banks to borrow 97 cents for every three pennies they had in their own capital is over. The NINJA loans (no income no job or assets) for home buyers are no more. Housing will take years to recover and again not only in the United States. The hedge funds and buyout firms face redemptions and many are going belly up along with the banks which lent to them - or these banks would collapse if your tax dollars weren't being showered on them. The subprime loans we have heard so much about some $1.5 trillion worth were packaged and leveraged to roughly $140 trillion in fictitious capital, "a global pyramid of junk" as Nomi Prins writes. The stronger banks are buying up the weaker ones, usually with federal assistance for most of the risk. And still the banks aren't lending, companies can't borrow, and consumer credit is being limited. Where is economic growth going to come from?


    The answer of course is the government. We also wait for a new long term growth paradigm. Financialization was tried, produced speculative bubbles, and collapsed despite efforts by Paulson and Bernanke to put Humpty- Dumpty back together again. It is over as the source of economy-wide growth. The only hope on the horizon are the huge spending projects Obama has proposed. There is no choice for two reasons. If he doesn't there will be another Great Depression and second as Christia Freeland, Financial Times chief correspondent in the U.S. wrote in a remarkable column headed "Friction over greedy bosses lets loose genie of class politics," begins "This week America discovered class warfare;" Americans have woken up to a nightmare. Their way of life, or the life they aspired to, is a dream in a very different sense than the phrase usually has conjured. There has been a lot written, especially before the election of the breakdown of trust in corporate and political leadership. David Gergen who heads the Center for Public Leadership at Harvard University wrote that "Over the last few years the trust between the public and the elites has completely collapsed." Larry Sabato, director of the Center for Politics at the University of Virginia similarly offered the opinion that "The greed and corruption of the corporate class in America is behind this public revolt." This latent but increasingly visible class hatred was a factor in electing America's first Black president.


    The election of Barack Obama and a Democratic congress changes some of this. In the incoming president's stimulus package which gets bigger by the week as the economy sank and the departing Bush hands in pockets looked on there is hope that the crisis will be less disastrous. But while much is to be supported in his proposals they may still be too little and parts of it are misdirected. This is partly because the Republicans cling to pre-Keynesian ideas that government should not spent too much and balance budgets as quickly as possible. They are supported by Blue Dog Democrats keeping federal spending measures too low to end the crisis. If the Republicans follow their House Leader John Boehner's lead and agree with his November 2008 statement that "We're in tough economic times....More Washington spending isn't the answer" they will undercut the recovery agenda. They are aware that if a real new New Deal saves us they will be out of power for decades. They must as a survival tactic for their party subvert economic recovery while seeming to stand up for principled responsible behavior.


    In any case what appears (and is in fact) as a huge increase in federal spending of $760 billion (5.3% of GDP) as proposed by Obama economists is not enough. Unemployment will continue to rise over the next two years even with this stimulus and federal debt will row substantially requiring huge increases in foreign borrowing. Because American manufacturing has been decimated over recent decades much of the tax cut will be spent on imports increasing the current account balance of payment deficit. Global imbalances as I shall say more about will become central to solving what is a worldwide crisis.


    Polls show two-thirds of Americans support new spending to stimulate the economy but 56% worry government will spend too much. Republicans use this as a bargaining chip with Obama to push his program toward tax cuts which benefit the affluent and especially business tax cuts which it is claimed will stimulate investment. But new orders for manufacturing are at their lowest level since the end of WW II. With no growth and expectations of continued falling sales there will be little new investment this way. The money spent on public needs does produce jobs and increases spending. Mitch McConnell the Republican leader in the Senate wants aid to cities and states to be loans not grants, a way to keep the amount down when the need to maintain their spending should be obvious. Retailers are practically giving stuff away to cut their inventories after the worst holiday season in memory and the conservatives cling to their "government is the problem" mantra of low spending and lower taxes. While liberals worked to use government to save capitalism yet again the left perhaps grateful that Bush is gone and reformers are back in. But unless there is working class pressure the center will cave to the right on important matters pertaining to the priorities of ordinary citizens.


    If there is concern with too large deficits they could pay for the spending with serious tax reform, returning the share the rich pay to what it was before Ronald Reagan for example. Such taxes collected from the upper one percent could go a long way to simulating growth since the rich do not spend it but the money recycled to cutting payroll taxes for example would be spent by workers and give an incentive for employers since it would lower their labor costs (Kuttner, 2009:14). Republicans would see this as class warfare of course but the argument could be made it is a pragmatic policy for increasing spending without increasing the deficit. Of course it could be argued that some serious class struggle is exactly what is needed in the face of the catastrophe the greed of capital has produced.


    The Obama strategy proposals do suggest a new, if still conceived of a as temporary regime of accumulation in government-led industrial policy and public investment. It is too early to tell how radical the intervention will be but as I say there are political constraints that would have to be overcome and Obama's preference for bipartisan cooperation are not encouraging. He has already agreed to tax cuts which make no sense as a priority use of $300 billion to get conservative support. Compared to Paulson who moved to save the banks without "punishing" them, that is the stockholders and top executives or forcing them to start lending again and offered little else (the dud banks should have been shut down or nationalized for real) the Obama activism is admirable. It also reflects a new way, or rather a return to an older way of thinking about government functions. It is New Deal employment creation with the rationale of investing for the future rather than income redistribution. Certainly there is need for school building repair, infrastructure spending and broadband expansion. Energy efficiency in federal buildings (the government is the largest real estate owner in the country) would save money for tax payers and energy of course and could be a model for similar efforts by others. The letting public facilities decay is scandalous of course and rehabilitating the public purpose is an important change in direction. They are necessary. So are assistance to local and state governments and help to people without health care, those losing their income and their homes. The logic is smart government to meet obvious need as well as stimulate growth. It will not be enough but it is a start.


    There is much to be undone and repaired. Consider health care. Peter Orszag, Obama's head of the White House Office of Management and Budget is calling for comprehensive health reform as the "key to our fiscal future." That is, he is not saying it is an expensive program but people need it. He is saying health care reform is necessary to save money, not by spending less but by spending more and changing health care delivery so that it does not consume the future federal budget. He wants to prevent higher spending unrelated to better outcomes, digitizing health records to save tens millions of dollars in the future, and bringing real efficiencies rather than cutting needed health care services. We shall have to see what happens but it is a better approach than slashing Welfare State services. But again this is a time when more could be done to push the balance of class forces between capital and labor and to expose what the logic of capital costs us.


    It is unlikely there will be more radical steps to challenge the causes of ill health. The government will still subsidize high fructose corn syrup and hydrogenated oil so that bigger bottles of Coke can continue to be sold cheaply along with potato chips, creating obesity and the diabetes epidemic. The Department of Agriculture will sponsor unhealthy lunch programs. Industrial hog farms will be subsidized to pollute the surrounding area without proper regulation of waste disposal, the energy and toxic chemical intensive industrial farming will go unchallenged, and the rest. The ecological crisis cannot be put on hold waiting for recovery. The cancer causing pollutants industry creates will not be controlled unless there are popular movements which offer a broad critique of the degradations of capitalism and specific analyses sector by sector of the harm it does. There must be a socio-environmental alternative to the current growth paradigm and yes to militarism hurts in so many ways one of which is it misdirects attention from human needs here and abroad.


    If we are not vigilant the infrastructure will be built in public-private partnerships giving control to private investors as has been happening and contracts given out Halliburton-style. How infrastructure projects are done matters. There is no reason the federal government following the privatization of so many functions once done by government employees but now outsourced to the likes of Halliburton to rebuild our infrastructure on such a model. Indeed it has a name, "the Infrastructure Privatization paradigm." It is seen as a win-win for cash strapped governments, the banks and other private investors looking for a new long term inflation linked (raise tolls and user fees when costs go up to keep income high) asset class. Infrastructure offers a combination of hard assets and visible long-term earning streams. The Carlyle Group has a team raising a billion dollar fund to focus on U.S. infrastructure, such as rail, airports, water assets, as well as schools and hospitals. There are many other such entrepreneurial endeavor. GE and Credit Suisse have a new global fund to invest in power plants, pipelines, airports, railroads and toll roads. GE can contract many parts of the deal to its other divisions which can provide inputs and systems for the infrastructure projects. Governments contracting with such providers will know less about the details and costs than the providing consortia. Such arrangements have long been pushed on developing countries by the World Bank and other funders. As in the instances of other aspects of neoliberalism first demanded of weaker developing nations which have become part of the policy givens in the United States and some other advanced economies such a new paradigm is coming unless there is a reassertion of the capacities of the public sector here. As Jenny Anderson reported in the New York Times not long ago, "Reeling from more exotic investments that imploded during the credit crisis, Kohlberg Kravis Roberts, the Carlyle Group, Goldman Sachs, Morgan Stanley and Credit Suisse are among the investors who have amassed an estimated $250 billion war chest much of it raised in the last two years to finance a tidal wave of infrastructure projects in the United States and overseas." Norman Y. Mineta, a former secretary of transportation was hired by Credit Suisse as a senior adviser to such deals. Other former public servants are lining up for such positions as intermediaries between private and public at handsome remuneration. Given growing public deficits, like third world countries Let us hope and work to see that America will not give away its roads, bridges and airports in exchange for the promise of better maintenance by the private sector. The taxpayer will get immediate relief and long term dependence on for profit owners. There will be pressure on the Obama administration to not "undermine the free market with too much government control."


    Financialization as an accumulation strategy has failed and brought on what began as the subprime crisis and then a financial crisis and is now a general global economic crisis of massive proportions. Neoliberalism has failed as a way to control the developing world and the US and the other countries of the core now face increasingly powerful countries of the global south who will not accept the IMF and WTO rules applied to their disadvantage. But these people are not simply going away. The money changers will ave to be driven from the temple. It is not clear at all that this is Obama's intention. His economic team is composed of the people who led the deregulation which created the financial crisis. Obama may be the vanguard of a new global Keynesianism and global social democracy in an effort to relegitimate a now widely discredited capitalism. Certainly multilateralism is better than Bush unilateralism and talking to enemies better than threats and violence as the responses of choice, environmental sustainability surely a better goal than refusing to sign up for even modest efforts like the Kyoto Treaty.


    Up to now Blairism and other Third Way social democratic accommodations to corporate globalization have been as discredited as the harsher versions of neoliberalism. The Europeans social democrats while criticizing US-style capitalism have moved to incorporate its logic so that their capitalists will not be left behind. The current crisis has to some degree ironically raised their stock as they reverse course and strengthen the state as an economic actor, picking up the rhetoric of progressive government involvement and it is surely the case that government will have to get capitalism out of the crisis it has created for itself and us. The question is what pressure will there be from labor and the left for more basic change if the recovery does not come in the next year or eighteen months and I do not think it will. Can Obama be pushed like FDR was? What are the demands? What are the organized vehicles for pressure? The left has been down so long it is not clear we know the answers to these questions but if the crisis is deep and long as in the 1930s movements will develop and demands will be articulated. We need to speed up the process. Obama will have a honeymoon period but if things do not get better soon more forceful socialization needs to be demanded. People before profits will confront capital's demand that growth can only come by giving them more first. It is this logic which will have to be challenged by the sort of progressive political movement of the kind that pushed Roosevelt in the 1930s.

    William K. Tabb is Professor Emeritus, Queens College, City University of New York. He is the author of The Amoral Elephant: Globalization and the Struggle for Social Justice in the Twenty-First Century (Monthly Review Press, 2001) among other publications.

    in lists.portside.org

OAM 533 08-02-2009 00:48 (última actualização: 09-02-2009 00:58)