quinta-feira, julho 09, 2015

Grexit a caminho dos BRICS?

Halford Mackinder: “The geographical pivot of history”.
The Geographical Journal, 1904


Poderá Tsipras deitar borda fora o mandato reforçado que detém?


 “Few great failures have had more far-reaching consequences than the failure of Rome to Latinize the Greek.” Halford Mackinder, 1904.

O que está em causa em mais esta tragédia grega é a capacidade do eixo franco-alemão que acelerou a criação da zona euro —no caso da Grécia, promovendo mesmo o seu acesso fraudulento ao clube (1)—, impedir a sua derrapagem, ou mesmo uma implosão de consequências imprevisíveis.

Vale a pena ler o texto da célebre conferência dada por Halford Mackinder na Real Sociedade de Geografia inglesa, em 25 de janeiro de 1904: “The geographical pivot of history”, pois aqui podemos encontrar o paradigma estratégico que ainda hoje determina o essencial das decisões estratégicas dos principais países do mundo: Estados Unidos, Rússia, China, Reino Unido, França, etc.

A ideia central de Mackinder é que o mundo aberto e em expansão da modernidade desbravado pela expansão marítima da Europa ocidental a partir do século 15 voltaria a fechar-se no dealbar do século 20 sob o estatuto de uma cartografia de mundos finalmente conhecidos, onde, sob o ponto de vista demográfico, económico e político, as principais dinâmicas de poder continuavam (e continuam) a residir nas tensões potenciais entre a Grande Rússia e os crescentes que a rodeiam e ao mesmo tempo a separam dos mares: a Europa ocidental (de que as Américas são uma extensão), o Próximo Oriente, a Índia, a China, a Coreia e o Japão.

Curiosamente, a Grécia continua mais próxima da Rússia e dos interesses estratégicos desta, do que da União Europeia e do projeto franco-alemão do euro:
“It is probably one of the most striking coincidences of history that the seaward and the landward expansion of Europe should, in a sense, continue the ancient opposition between Roman and Greek. Few great failures have had more far-reaching consequences tan the failure of Rome to Latinize the Greek. The Teuton was civilized and Christianized by the Roman, the Slav in the main by the Greek. It is the Romano-Teuton who in later times embarked upon the ocean; it was the Graeco-Slav who rode over the steppes, conquering the Turanian. Thus the modern land-power differs from the sea-power no less in the source of its ideals than in the material conditions of its mobility.” Idem

A modernidade pós-medieval e transatlântica começa em 1415 e termina, segundo Mackinder, pouco depois do ano 1900, mas só o perceberemos provavelmente de um modo irrefutável em 2015, no rescaldo do colapso financeiro da Grécia, no meio da maior crise financeira desde 1929, seiscentos anos depois da conquista de Ceuta por Portugal — onde então reinava uma inglesa chamada Filipa de Lencastre, cuja visão estratégica viria a mudar a história do mundo sobre o qual Halford Mackinder elaborou uma notável visão geopolítica, que ainda hoje determina as ações de Putin e de Obama.

Obama Calls Merkel, Reinforces IMF Case Of Debt Haircut Zero Hedge, 07/07/2015 15:26 -0400

Readout of the President’s Call with Chancellor Angela Merkel of Germany

White House:

The President and German Chancellor Angela Merkel spoke by phone this morning about Greece. The leaders agreed it is in everyone’s interest to reach a durable agreement that will allow Greece to resume reforms, return to growth, and achieve debt sustainability within the Eurozone. The leaders noted that their economic teams are monitoring the situation in Greece and remain in close contact.


Russia Asks Greece To Join BRICS Bank
Zero Hedge, Submitted by Tyler Durden on 05/11/2015 12:27 -0400

As Bloomberg reports:

Russian Deputy Finance Minister Sergei Storchak spoke with Greek PM Alexis Tsipras today, proposed that Greece become 6th member of New Development Bank set up by Brazil, Russia, India, China, South Africa, a Greek govt official says in e-mail to reporters.

A Europa e os Estados Unidos vivem há décadas acima das suas possibilidades.

Nada fizeram para corrigir esta mudança estrutural das suas economias, ou por outra, fizeram, aldrabando desde meados dos anos 80 do século passado (invenção dos CDO) os livros de contabilidade e os orçamentos, expandindo para dimensões lunáticas as suas massas monetárias e responsabilidades (dívidas), incentivando o consumo conspícuo e o mais ruinoso dos keynesianismos: ligar os tesouros soberanos (i.e. os governos) à especulação financeira global, esperando que o crescimento produtivo (e não meramente contabilístico, aldrabado) regressasse. Não regressou, e o resultado são borbulhas de mentiras e corrupção que rebentam e continuarão a rebentar por toda a parte, até que uma grande explosão, seguida de implosão geral dos mercados, obrigue a um GRANDE JUBILEU DAS DÍVIDAS, onde os prejuízos não recaiam todos sobre as populações indefesas.

É nestes momentos que os equilíbrios geográficos da política vêm de novo à superfície. A crise grega deixou, já há algum tempo, de ser uma crise económica (2) e financeira, para se transformar numa crise diplomática e estratégica de primeiro plano.

Estes dois notáveis discursos no Parlamento Europeu são uma excelente metáfora do momento crítico que vivemos.


I got angry this morning at Mr Tsipras, because we need to see concrete proposals coming from him. We can only avoid a #Grexit if he takes his responsibility. Watch my speech again here
Posted by Guy Verhofstadt on Quarta-feira, 8 de Julho de 2015




NOTAS
  1. ECB Tells Court Releasing Greek Swap Files Would Inflame Markets
    Bloomberg, June 14, 2012 — 1:32 PM BST

    June 14 (Bloomberg) -- The European Central Bank said it can’t release files showing how Greece may have used derivatives to hide its borrowings because disclosure could still inflame the crisis threatening the future of the single currency.

    Bloomberg News is suing the ECB to provide the documents under European Union freedom-of-information rules. The papers may help show the role EU authorities played in allowing Greece to mask its deficit for almost a decade before the nation’s troubled finances necessitated a 240 billion-euro ($301 billion) bailout and the biggest debt restructuring in history. 
  2. O que não quer dizer que a crise institucional, económica e financeira, não seja gravíssima, porque é. Um dos dos dados económicos invisíveis da incapacidade de a Grécia crescer significativamente é, tal como Portugal, a sua dependência do petróleo, que o gráfico abaixo ilustra dramaticamente. Também por aqui a sua aproximação aos BRICS trará provavelmente mudanças significativas no seu modelo de desenvolvimento.
"What Greece, Cyprus, and Puerto Rico Have in Common"—Gail Tverberg

terça-feira, julho 07, 2015

O mito do perigo comunista




Afinal, o problema da Guerra Fria não teve nada que ver com o Comunismo!


“Putin’s Fourth of July Bear greeting to Obama.”

FOX News: While the United States celebrated Independence Day, two pairs of Russian bombers flew off the coast of California and Alaska -- forcing the Air Force to scramble fighter jets to intercept both flights, two senior defense officials tell Fox News.

The first incident occurred at 10:30 a.m. ET on July 4 off the coast of Alaska, Fox News is told. Two U.S. Air Force F-22 jets were scrambled from their base in Alaska to intercept two Tupolev Tu-95 long-range strategic bombers, capable of carrying nuclear weapons.

The second incident occurred at 11:00 a.m. ET also on July 4, off the central coast of California. Two F-15s from an undisclosed location were scrambled to intercept another pair of Tu-95 Bear bombers.

O comentário dum funcionário da defesa dos Estados Unidos, acima transcrito, dá bem a ideia do grau de atrito existente entre o grande, mas decadente, imperialismo americano, e o império continental russo, para quem o colapso da ex-União Soviética parece ter sido inteiramente ultrapassado pela recuperação estratégica da velha Rússia.

Lembro-me de uma conversa filosófica de agosto, no Algarve, provavelmente em 1972, da qual participaram, entre outros, Egídio Namorado, físico e filósofo brilhante, Sottomomayor Cardia, intelectual que então despontava no firmamento da esquerda, João José Cochofel, poeta e publicista, António Paulouro, célebre editor do Jornal do Fundão, e alguns ouvintes, entre os quais estava. Eram então todos eles, marxistas, mais ou menos próximos do Partido Comunista. Mas a condição intelectual que os unia obrigava o exercício regular do racionalismo crítico, nomeadamente ao fim da tarde, sobre as areias quentes de Armação de Pêra. Nunca me esquecerei daqueles diálogos.

Numa daquelas conversas discutiu-se o que teria levado o socialismo a implantar-se num país atrasado como a Rússia, ainda por cima trocando a ideia da revolução comunista mundial, idealizada por Trotsky sob o paradigma da Revolução Permanente, pela peregrina doutrina do socialismo num só país. A explicação, dada por Egídio Namorado, assentava basicamente num ponto: a extensão continental da Rússia. Esta extensão permitira não apenas saltar da Idade Média para a Revolução Industrial, como testar misseis intercontinentais sem sair do país. A chamada ditadura do proletariado, por outro lado, foi uma espécie de metamorfose pragmática do czarismo, sem a qual não teria sido possível tamanha aceleração da História: Comunismo = a Eletricidade + Sovietes!

Esta compreensão do mistério do socialismo num só país, permite-nos hoje perceber melhor as tensões leste-oeste.

Sob a divergência ideológica entre capitalismo e comunismo, sob este manto diáfano de fantasia, hipocrisia e propaganda, escondeu-se a nudez forte de uma verdade definida por Halford Mackinder em 1904 como a teoria do coração do mundo: “Even in Asia we are probably witnessing the last moves of the game first played by the horsemen of Yermak the Cossack and the shipmen of Vasco da Gama” (“The geographical pivot of history”. The Geographical Journal, 1904).

A célebre frase de Mackinder,  “Who rules East Europe commands the Heartland; Who rules the Heartland commands the World Island; Who rules the World Island commands the World”, extraída do seu livro publicado em 1919, Democratic Ideals and Reality: A Study in the Politics of Reconstruction, é ainda hoje responsável por boa parte da consciência estratégica mundial.

É por isto que alguns anos depois do colapso da União Soviética, a Rússia aparece de novo como o inimigo público número um da América. Mas a verdade é que o centro do mundo continua e continuará por muitos séculos na Eurásia.


Atualizado: 8/7/2015 01:25 WET

segunda-feira, julho 06, 2015

A rebelião do Norte

Rui Moreira, presidente independente da Câmara Municipal do Porto


Norte inicia guerra pela defesa da propriedade pública da água. E eu apoio!


Quando o Norte se levanta, São Bento, o Terreiro do Paço e Belém devem mesmo coçar a cabeça, porque alguma coisa acabará por mudar em Portugal num horizonte relativamente próximo


Desconheço os pormenores de mais este processo de concentração capitalista, rentismo financeiro, expropriação fiscal e centralização político-partidária. Mas que cheira mal à partida, cheira!

Rui Moreira, presidente independente da câmara do Porto

Tal como já se provou (...), ao contrário do anunciado pelo Governo, não haverá economias de escala na fusão dos subsistemas.

Pode o Estado, por decreto, violar o código das sociedades comerciais? Talvez o possa fazer, e só os tribunais o poderão impedir. Mas, em qualquer caso, fica o aviso para qualquer investidor. O Estado Português é um mau sócio, e pouco fiável, porque altera, por decreto e a seu bel-prazer, as regras do jogo, a meio do campeonato. Num Estado de Direito, o Governo deve zelar pelo cumprimento da lei e deve ser, eticamente, exemplar. Quando dá este mau exemplo, quando abusa do poder legislativo para comprometer os seus compromissos, é caso para dizer que, infelizmente, não é confiável, e isso exigiria, é claro, que também a presidência da República se interessasse por este caso, se para isso tivesse tempo entre os muitos e variados comentários sobre o caso grego.

Ler mais em Correio da manhã


O Porto é cada vez mais a capital do noroeste peninsular. Pode e deve atrair a Galiza para uma cooperação estratégica cada vez maior com Portugal, reforçando desde logo todas as pontes com o norte do país. O contrário, portanto, da política imbecil dos últimos governos das galdérias e galdérios acomodados em Lisboa, que tudo têm feito para boicotar as ligações naturais entre os dois países ibéricos, apesar de todas as evidências económicas.

Uma das consequências da crise sistémica do capitalismo em curso, que no essencial significará o fim do capitalismo da abundância, o fim inevitável do bem estar improdutivo e discricionário, e o fim da hipertrofia burocrática dos estados, das economias e das corporações profissionais, é também o fim de certos patamares de confiança e delegação de poderes em entidades que revelaram incompetência extrema na administração do bem comum e doses ruinosas de corrupção.

As criaturas de São Bento, do Terreiro do Paço e de Belém vão, pois, ter que provar mais e melhor, na sequência da pré-bancarrrota para que conduziram o país, cada investimento e cada decisão que tomem. O instituto dos referendos nacionais, regionais e locais deve, pois, ser rapidamente consagrado como praxis constitucional comum no país.

Por fim, deveremos tratar de rapidamente desenhar e levar a referendo a criação de duas novas regiões autónomas no país: a região de Lisboa e a região do Porto. Esta será a forma mais racional e desejável de melhorar a democracia e a gestão destes dois pilares fundamentais do país, mas também um caminho desejável para a diminuição da macrocefalia desmiolada dos senhorios partidários acampados em Lisboa.

Esperança à esquerda?

"O BE passou por um processo de renovação geracional que era necessário e durou algum tempo."
Miguel Manso/Público

Mariana Mortágua: a minha personalidade do ano de 2015


Um lapsus linguae revelador da honestidade intelectual latente de Mariana Mortágua: “Não há uma política de direitos sociais sem condições económicas.”

“Se há um pânico nos mercados Portugal não tem como se defender”
Paulo Pena, 06/07/2015 - 07:56 Público

Esta é uma excelente entrevista, esteja-se ou não de acordo com as ideias expostas. Eu, no essencial, não estou, embora reconheça legitimidade a muitas das suas sagazes observações sobre as incongruências e a criminalidade organizada do capitalismo decadente que domina o planeta. Este é provavelmente o único discurso coerente do que resta, e é muito pouco, da esquerda histórica. Não seria mau para Portugal que esta economista-política fizesse o seu caminho, começando, desde já, por ascender à direção do Bloco. O PS morreu, e um vazio na esquerda do arco-íris político (o PCP não conta para efeitos práticos) seria trágico para a democracia portuguesa...

Seja como for, esta entrevista merece resposta à altura dos argumentos que apresenta.

O regresso ao dracma

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Grécia, ilusões de uma noite de verão


Os gregos votaram OXI num referendo populista à austeridade. Na realidade, votaram NÃO à sua continuidade na Eurolândia. Não interessa que gostem muito da Europa, ou do euro. A verdade é que, cercados pela austeridade e pelo desemprego, se precipitaram para um beco sem saída.

O estado grego moderno é uma  economia atrasada, corrupta e sempre endividada, que desde 1821-1829 (libertação do multissecular domínio turco) acumula bancarrotas: 1826, 1843, 1860, 1893, 1932, 2015.

A Grécia tem sido liderada por famílias de piratas sem escrúpulos, incluindo a família 'socialista' lá do sítio. Uma estranha coligação de esquerda e direita radicais liderada por Alexis Tsipras pretende, uma vez mais, não pagar, insultando os credores ao mesmo tempo que lhes pede mais dinheiro!


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Pelo que percebi das entrelinhas deste dia, o Plano B de Tsipras/Varoufakis é mesmo regressar ao dracma, proclamando eventualmente as dívidas astronómicas acumuladas como dívidas odiosas, de acordo, aliás, com um documento produzido no parlamento grego e divulgado a semana passada.

Por outro lado, da declaração do presidente do parlamento europeu, Martin Schulz, a Grécia, além de se ter colocado numa posição negocial insustentável, não terá liquidez do BCE na semana que hoje começa e nos tempos mais próximos, pelo que a Grécia entrará numa fase de emergência humanitária aguda.

Statement by Martin SCHULZ, EP President on the situation in Greece following the Referendum

“The ‘no’ side has won the referendum with an overwhelming majority and we have to respect the vote of the Greek people. In full sovereignty they expressed a clear ‘no’ to the proposals on the table in the eurozone. This is a difficult day: there’s a broad majority in Greece and the promise of Prime Minister Tsipras to the Greek people that with the ‘no’ the position of Greece for negotiating a better deal would become better is, in my eyes, not true...

“...We are in a difficult situation, the Greek people said no, but eighty other states of the eurozone agreed about the proposals to which the Greek people said ‘no’. But this is democracy in Greece and democratic governments and parliaments in other countries had another view a different view. It is now up to the Greek government to make proposals which could convince the eighteen other member states of the eurozone and the institutions in Brussels that it is necessary, possible and even effective to renegotiate, but this depends now on the proposals coming from Greece...”

“... But, nevertheless we have to respect the sovereignty and the will that the greek people expressed today in the referendum. The promise of the minister of finance that the banks will open tomorrow and that money will be available for tomorrow and tuesday seems to me very difficult and dangerous. And, therefore, because I believe that the Greek people will be, during the week and even every day in a more difficult situation, I think we should tomorrow, at the latest on Tuesday for the eurozone summit discuss about a humanitarian aid programme for Greece...”

“...Ordinary citizens, pensioners, sick people or children in the kindergarten should not pay a price for the dramatic situation in which the country and the government brought the country now. Therefore a humanitarian programme is needed immediately and I hope that the Greek government will make in the next coming hours meaningful and constructive proposals allowing that it is meaningful and possible te renegotiate. If not, we are entering a very difficult and even dramatic time.”

Link

A Grécia tornou-se um abcesso que é preciso lancetar, sob pena de contaminar toda a União Europeia. Não há alternativa ao Grexit. No entanto (ouvir esta crónica de Max Keiser), a saída da Grécia do euro e a renúncia ao pagamento das suas dívidas ao FMI e à UE poderá desencadear o colapso da própria zona euro, e mesmo da União Europeia. A menos que a tia Merkel esteja disposta a fazer ao Deutsche Bank o mesmo que Bush deixou fazer ao Lehman Brothers...

Atualizado em 6/7/2015 11:23

quarta-feira, julho 01, 2015

Et in Arcadia ego

Nicolas Poussin. Et in Arcadia est (1637-38)

Estou no Paraíso, ou morto?


Islândia, Chipre, Grécia, e em dramas mais sofríveis, Irlanda, Espanha e Portugal, a que se foram juntando as aflições de italianos, franceses e britânicos, são peças de um dominó em metamorfose.

Este dominó chama-se ocaso da abundância capitalista.

Abundância, porque houve durante meio século, sobretudo na Europa ocidental, nos Estados Unidos da América e no Canadá, sociedades humanas muito produtivas, com elevados padrões de consumo e onde se desenvolveram e instalaram sistemas de segurança social extremamente baratos, representando uma fração exígua na poupança individual e coletiva gerada por uma produtividade económica que teve a sua origem na emergência de várias indutores historicamente excecionais (ao longo dos séculos 19 e 20), tais como a energia barata proveniente do carvão, e depois do petróleo e do gás natural, ou ainda da fissão nuclear, usada na forma de vapor motriz, eletricidade e explosão de gases sob pressão.

Esta enorme capacidade de produzir barato e em grandes quantidades (quantidades industriais) teve na energia abundante, barata e transportável, a sua condição necessária, mas não suficiente. Para que os excedentes que deram lugar à poupança e ao bem estar social pudessem ter existido foram necessários ainda duas condições essenciais: a tecnologia oriunda das primeiras sociedades de conhecimento organizado e capitalizado, e a disponibilidade colonial de matérias primas e contingentes de quase escravos obtidos pela via de um desenvolvimento económico, social, cultural e político desigual. Não podemos, pois, imaginar a extraordinária dimensão e complexidade das infraestruturas materiais e imateriais, e o bem estar do Ocidente e das suas classes médias, nem a ociosidade cultural de franjas significativas e crescentes das suas populações, e muito menos o aumento espetacular da longevidade das gentes destes paraísos que ainda hoje atraem migrações gigantescas, sem pressupormos a conjugação provavelmente irrepetível das circunstâncias descritas.

À medida que esta conjugação de recursos e interações dinâmicas se expandiu por todos os continentes, ao mesmo tempo que se produzia uma equalização tímida entre o primeiro mundo (Estados Unidos e seus aliados desenvolvidos) e os segundo (União Soviética e seus aliados) e terceiro (os países neutros e não-alinhados—em geral, subdesenvolvidos) cresceu, por um lado, a população mundial e diminuiu, por outro, o ritmo de crescimento da riqueza média individual, ao mesmo tempo que os recursos naturais foram sendo submetidos a uma pressão ecológica cada vez mais destrutiva, e aumentaram os custos totais de cada unidade de PIB produzido no planeta.

Capitalista, porque o modo como toda esta explosão produtiva ocorreu e se desenvolveu é um fruto genuíno das sociedades capitalistas nascidas e desenvolvidas na Europa ao longo dos séculos 15, 16, 17, 18, 19 e 20.

As sociedades capitalistas comerciais e a luta pela criação de instituições laicas e democráticas foram determinantes nos séculos 15, 16, 17 e 18, as sociedades comerciais e industriais empurraram os séculos 19 e 20 para a era do crescimento rápido e da modernidade urbana e internacional, finalmente as sociedades comerciais, industriais e financeiras do século 20 expandiram exponencialmente o novo modelo de sociedade afluente e cosmopolita, através de guerras e revoluções brutais. Por fim, o início do século 21 marca o pico e provável ocaso de uma era de crescimento rápido inflacionista, e o início de uma nova era de crescimento moderado: deflação, queda dos rendimentos médios per capita, e absoluta necessidade de um renascimento científico e cultural suficientemente forte para nos convencer de que a felicidade não está no consumo conspícuo, nem no desperdício, nem muito menos na destruição dos ecossistemas, mas numa nova aventura por vir.

O fim do socialismo como o conhecemos

Os movimentos socialistas, nomeadamente sob influência do marxismo, serviram sobretudo o desejo do proletariado industrial e dos povos mais atrasados e submetidos a formas de exploração e despotismo pré-modernos, de se aproximarem da abundância e da liberdade inerentes ao capitalismo criativo. O maniqueísmo e messianismo judaicos de que vinham impregnados, nomeadamente sob a forma da teleologia hegeliano-marxista, foi e continua a ser para muitos um modo de fé travestido de pseudo cientismo dialético. Daí, aliás, a sua extrema fraqueza pragmática e incapacidade crescente de olhar para a realidade sem o véu da fantasia, da hipocrisia e do oportunismo.

A falência das esquerdas tem pois uma origem que não é apenas conjuntural à crise das democracias do bem-estar, nem sequer apenas um fruto podre do desaparecimento do proletariado industrial entretanto substituído por máquinas inteligentes, ou da emigração do trabalho produtivo para as antigas colónias dos antigos impérios europeus e americano. A falência das burocracias sociais-democratas e socialistas, a falência dos cadáveres adiados do estalinismo e das novas eflorescências geneticamente modificadas da esquerda radical, são uma espécie de resto da História em movimento. Daí o estilo populista e de farsa que as suas encenações cada vez mais exibem.

Os novos revolucionários são, como sempre foram, terroristas. A sua emergência explosiva e suicida no início deste século denota uma realidade, só por distração, inesperada, que precisa de ser estudada e entendida. O desespero que indivíduos, tribos do deserto e urbanas, sociedades inteiras, amanhã países, transportam sob o manto de uma ressurreição religiosa é real e é profundo. Não percamos tempo com os motards do Syriza!

Propagar, pela via da demagogia que reduz e vitupera, anamorfoses ilusionistas da complexidade do momento que vivemos é um erro que poderemos pagar caro. O abrandamento do crescimento mundial é um fenómeno complexo, mas inexorável. Acontece numa fase da humanidade em que as desigualdades económicas entre pessoas, cidades, países e regiões estratégicas continuam muito acentuadas, acontece num momento em que a aproximação dos rendimentos entre os continentes, e sobretudo entre os países mais populosos do planeta e o Ocidente rico, propiciado pelo desenvolvimento rápido dos chamados países emergentes, começa a abrandar. Se não forem a Europa, os Estados Unidos, a Rússia, a China, o Canadá e a Austrália a promoverem novas estratégias partilhadas de equidade económica, social e cultural, quem será?

Houve uma fuga em frente quando nos deparámos nos idos anos 70 do século passado com os limites do crescimento. Essa fuga acabaria por traduzir-se num endividamento astronómico dos governos, das empresas e das pessoas, sobretudo no Ocidente desenvolvido. À queda permanente dos rendimentos do trabalho, mas também do capital, respondeu-se com derivados especulativos sobre o futuro, transformando o imobiliário, as obras públicas injustificadas e insustentáveis, a hipertrofia dos governos e das burocracias, o automóvel, a educação, e a especulação com taxas de juro e moedas, em fichas viciadas dum casino global. As bolhas incharam, são muitas e gigantescas, e estão a rebentar desde 2007.

É por isso que as imagens do sofrimento e da aflição das pessoas, pungentes nos casos das crianças e dos idosos, seja em Nova Iorque, Atenas, no Cairo, Damasco, Lampedusa, ou amanhã em Lisboa, devem servir-nos para pensar e não atiçar os demónios do maniqueísmo partidário e religioso.

Os governos gregos fizeram pouco até hoje para emendar o seu estilo de vida insustentável, uma vez percebido que o mundo mudou. Aos eurocratas e aos burocratas do FMI, por sua vez, faltou melhor comunicação com as populações e com as elites gregas. A senhora Merkel, por fim, talvez tenha razão, mas enquanto não cuidar dos piratas do Deutsche Bank ninguém lhe dará ouvidos!

A bancarrota grega não chega para abalar os mercados de capitais de forma decisiva. Este foi o erro de cálculo de Varoufakis, Tsipras e Putin, e que custou aos pobres pensionistas e desempregados gregos um agravamento brutal do seu dia a dia.

A bancarrota grega vai marcar uma viragem na Europa, e provavelmente no mundo ocidental. Vamos todos perceber até ao fim deste ano que o mundo está mesmo a mudar, e que precisamos de o reinventar.

domingo, junho 28, 2015

Grécia, acabou-se o caviar :(

Esquerda caviar atira Grécia para o precipício

Grécia fora do euro, em quarentena, até ver...


A bancarrota da Grécia custará aos bolsos dos contribuintes portugueses 5% do PIB. A soberania dos gregos é respeitável, mas não à nossa custa e à custa dos demais dezoito países da zona euro. Isto entra na cabeça de qualquer pessoa medianamente inteligente, menos nos crânios soldados da nossa irresponsável e burocrática esquerda parlamentar, do PS ao Bloco, passando pelo PCP e pelos falsos verdes.

Mas mais:
  1. a Grécia já teve um perdão da dívida explícito, em 2012, no valor nominal de 50% do seu PIB, mas que na realidade custou aos credores entre 73% e 74% do mesmo;
  2. o serviço da dívida grega custa aos contribuintes gregos 2,6% do seu PIB, mas a dívida portuguesa custa-nos 5% do PIB;
  3. a dívida pública efetiva da Grécia não vai além dos 90% do PIB (1), mas a portuguesa já vai em 265% (230% dentro do perímetro orçamental, e 35% em rendas devidas às PPP criadas pelos nossos famosos 'socialistas');
  4. até ontem os gregos podiam levantar 1500 euros por dia nas caixas multibanco, enquanto em Portugal há muito que o limite é de 400€;
  5. os salários e rendimentos familiares médios dos gregos continuam bem superiores aos dos portugueses (sobretudo se tivermos em conta que a economia informal é bem maior por lá do que por cá);
O atual governo grego, oriundo de uma elite pequeno-burguesa endinheirada e desde sempre encostada ao erário público, como cá, e que nunca deixou de dormir uma noite por falta de liquidez para pagar salários aos seus empregados, resolveu avançar levianamente para um confronto retórico e académico com dezoito países da União de que a Grécia faz parte. Os seus ministros e ideólogos sacaram do fundo da sacola as sebentas dos vários revisionismos marxistas ainda à venda nos alfarrabistas e, com arrogância adolescente, não só apontaram uma pistola carregada à cabeça do povo que representam, como ameaçam desestabilizar toda a zona euro. Basta ver o gráfico que acima republicamos, cortesia do Zero Hedge (2).

Não queremos com isto sugerir que a culpa é toda dos gregos. É deles, mas é também dum sistema financeiro em crise sistémica, que tentou evitar a todo o custo, endividando-se para além de todos os limites, a transição para um paradigma de crescimento não inflacionista, para não dizer estacionário.

A alternativa não está entre dívida e crescimento, mas sim, entre transição sustentada para novos paradigmas de trabalho, produção, trocas e consumo, e o calvário de bolhas especulativas que explodem de sete em sete anos arrastando atrás de si destruições sociais cada vez maiores.

A alternativa não está entre o capitalismo burocrático de estado que toda a esquerda adora, e o gangsterismo financeiro que é preciso travar, ou o neoliberalismo que não passa de uma ficção inventada pela esquerda burocrática, pois, como todos devíamos saber, o keynesianismo, duro, ou mitigado, é a única ideologia que impera na economia mundial há mais de meio século.

A alternativa está, sim, na nossa capacidade de ultrapassar as velhas e gastas dicotomias, e fazer a transição para uma nova era económica e cultural, sem deitar fora o melhor que a democracia ocidental tem: a liberdade e as suas classes médias ilustradas.


NOTAS
  1. Paul De Grauwe. "Greece is solvent but illiquid. What should the ECB do?" — 17 June 2015
    One feature of the Greek sovereign debt crisis, which is widely misunderstood, is the following. Since the start of the crisis the Greek sovereign debt has been subjected to several restructuring efforts. First, there was an explicit restructuring in 2012 forcing private holders of the debt to accept deep haircuts. This explicit restructuring had the effect of lowering the headline Greek sovereign debt by approximately 30% of GDP. Second, there were a series of implicit restructurings involving both a lengthening of the maturities and a lowering of the effective interest rate burden on the Greek sovereign debt. As a result of these implicit restructurings, the average maturity of the Greek sovereign debt is now approximately 16 years, which is considerably longer than the maturities of the government bonds of the other Eurozone countries. These implicit restructurings have also reduced the interest burden on the Greek debt. The effective interest burden of the Greek government has been estimated by Darvas of Bruegel to be a mere 2.6% of GDP. This is significantly lower than the interest burden of countries such as Belgium, Ireland, Italy, Spain and Portugal.
    LINK

  2. The ECB Suddenly Has A Huge Headache On Its Hands

    Incidentally the chart above is why earlier today Varoufakis said that "if ECB were to stop support for the Greek banking system would mean that Europe has failed." Because if indeed the ECB were to pull the carpet from under Greece as it hinted it would do on Tuesday when the Greek program runs out, when it froze the Greek ELA despite the ongoing Greek bank run, it would promptly set off a chain of events that would not only crush the Greek banking system but destroy any credibility Greek sovereign collateral had as a state, impairing all Greek national and corporate collateral, including bonds and loans currently held by the ECB, to zero.

    It would also mean that as that €126 billion or so of total ECB/Eurosystem claims on Greek banks were "charged off" in case of a terminal Greek "event" then the entire ECB capital buffer would also be wiped out, leaving the ECB with negative equity. Translated: dear Eurosystem members: we need more cash.

    Zero Hedge. Submitted by Tyler Durden on 06/28/2015 13:25 -0400

Grécia fora do euro no dia 1 de julho

Greece’s Prime Minister Alexis Tsipras delivers a speech to the lawmakers during an emergency Parliament session tonight. Photograph: Petros Karadjias/AP

O referendo anunciado por Tsipras e aprovado pelo parlamento grego morreu antes de nascer, por efeito deste simples mas irremediável comunicado emitido pelo Eurogrupo na tarde de 27 de junho de 2015:


Since the 20 February 2015 agreement of the Eurogroup on the extension of the current financial assistance arrangement, intensive negotiations have taken place between the institutions and the Greek authorities to achieve a successful conclusion of the review. Given the prolonged deadlock in negotiations and the urgency of the situation, institutions have put forward a comprehensive proposal on policy conditionality, making use of the given flexibility within the current arrangement.
Regrettably, despite efforts at all levels and full support of the Eurogroup, this proposal has been rejected by the Greek authorities who broke off the programme negotiations late on the 26 June unilaterally. The Eurogroup recalls the significant financial transfers and support provided to Greece over the last years. The Eurogroup has been open until the very last moment to further support the Greek people through a continued growth-oriented programme.

The Eurogroup takes note of the decision of the Greek government to put forward a proposal to call for a referendum, which is expected to take place on Sunday July 5, which is after the expiration of the programme period. The current financial assistance arrangement with Greece will expire on 30 June 2015, as well as all agreements related to the current Greek programme including  the transfer by euro area Member States of SMP and ANFA equivalent profits.

The euro area authorities stand ready to do whatever is necessary to ensure financial stability of the euro area.

[1] Supported by all members of the Eurogroup except the Greek member.

Já na manhã de sábado Tyler Durden escrevia:

"... moments ago Varoufakis was quoted as saying he would ask the Eurogroup for a bailout extension of a few weeks to accommodate the referendum. 

And the punchline: if the Eurogroup says "Oxi", then the entire Greek gambit, which has been a bet that to Europe the opportunity cost of a Grexit is higher than folding to Greek demands, collapses.

If the Eurogroup declines Varoufakis' request, there simply can not be a referendum, as the "institutions proposal" will no longer be on the table. As such, the only question is whether the ECB will also end the ELA at midnight on June 30, adding insult to injury, and causing the collapse of the Greek banking system days ahead of a referendum whose purpose would now be moot."

in Zero Hedge, 27/6/2015

Poderá haver ainda um volte-face?

Espera-se que o BCE aguente os bancos gregos até dia 5 de julho, mas não depois desta data se o resultado do referendo grego for não às condições exigidas pelos credores. Se for sim, então poderá haver uma regresso in extremis à mesa das negociações que, entretanto, deixará oficialmente de existir no dia 30 deste mês.

Mas neste caso em que posição ficará o governo de Tsipras? E o Syriza?

Que peso terão a Rússia e a China nesta fase do campeonato? A situação caminha rapidamente para uma zona perigosa, onde não perder a face, de ambos os lados do conflito, é cada vez mais difícil.

Assim começam todas as guerras :(


POST SCRIPTUM

Dois artigos de leitura obrigatória: "Como resolver a crise grega?", de Paul De Grauwe, e "Dias de Big Bang europeu", de Maria João Rodrigues, ambos no Expresso desta semana. Recomendação: a tradução do artigo de Paul De Grauwe publicada no Expresso, além de truncada, é má. Logo recomendo a leitura do original.

Sabia que a dívida pública efetiva da Grécia poderá estar abaixo dos 90% do PIB, e que os juros pagos pela mesma representam um esforço orçamental inferior ao da Espanha, ao de Portugal e mesmo aos da Bélgica e França? Sabia que a dívida portuguesa efetiva deve andar pelos 165% do PIB (130% reconhecidos no perímetro orçamental + 35% de PPP)? Cuidado, pois, com a situação grega, nomeadamente pelo ricochete que poderá fazer em breve sobre Portugal. Não se endivide!

Por outro lado, quer Merkel e o Eurogrupo consigam conservar a Grécia na Zona Euro, quer a façam regressar ao dracma, a União Europeia será uma nova realidade depois deste verão, e não será nada favorável aos populistas profissionais da esquerda, os quais sempre souberam gastar dinheiro, mas não sabem nem o que é o dinheiro, nem como de cria.

Atualizado em 28/6/2015 13:13

quinta-feira, junho 25, 2015

Revolução sem condutor?

Salazar, colocado no poder pelos militares de um país na bancarrota

Do diagnóstico da crise ao futuro vai ainda uma grande incerteza


Acabei de ler este mês dois livros que recomendo vivamente: Pensar o que lá vem—Para acabar com o Portugal pasmado, de Manuel Maria Carrilho, e Carta a um Bom Português—Manual para Fazer a Revolução de Cidadania que Falta para Resgatar o País, do corajoso e ativo jornalista, José Gomes Ferreira.

O primeiro é uma reflexão rara no panorama português da Filosofia Política, e deveria ser lido por todos aqueles que têm votado no Partido Socialista e no resto dos derivados adulterados do marxismo que ainda subsistem no país e no parlamento. Trata-se de uma viagem autocrítica, em sentido lato, ao fim do conforto das boas ideias. É certo que Manuel Maria Carrilho não se coloca nunca fora da órbita do Partido Socialista, que defende como uma identidade para lá das más conjunturas e dos desastrosos protagonistas. O PS é ainda, para o antigo ministro da cultura de António Guterres, a bóia de salvação num naufrágio que nunca mais acaba. À direita do PS, Carrilho apenas vislumbra a fuga em frente da burguesia financeira mundial, que vê como protagonista de primeira linha do individualismo comportamental e do neoliberalismo económico, e cujo enriquecimento pornográfico só poderá promover maiores desgraças no futuro. À esquerda do PS, não descortina mais do que uma mole de arteriosclerose ideológica, oportunismo sindical e aventureirismo hedonista no que resta da extrema-esquerda. A total e irremediável incapacidade da esquerda à esquerda do PS de voar eleitoralmente aconselha, na visão pragmática deste filósofo, promover o aggiornamento do PS, em vez da sua destruição na fogueira do populismo iconoclasta. Não acompanho este desejo reformista orgânico, mas percebo e respeito as suas motivações e ainda quem o acompanha no desiderato: Henrique Neto, Ventura Leite, Armando Ramalho, etc.

O segundo livro, que parece pertencer a uma trilogia iniciada com O Meu Programa de Governo, não é nem populista, nem neoliberal. Pertence, isso sim, a uma nova categoria de observação e posicionamento perante um regime basicamente rentista, devorista, neocorporativo, clientelar e rotativista, podre de oportunismo e corrupção, e que cavou a sua própria e irremediável sepultura. José Gomes Ferreira não conhece, ou melhor, não sente nem vibra com os velhos paradigmas morais da esquerda, e o que desta conhece são sobretudo mentiras, oportunismos e hipocrisia de circunstância. Ao mesmo tempo viu como o capitalismo indígena, historicamente frágil, prisioneiro de banqueiros, de rendeiros e de bandos de piratas socialistas (PS), sociais democratas (PSD) e populistas (CDS-PP), se transformou numa jangada a caminho do naufrágio, onde o salve-se quem puder acabaria por levar o país à falência e à perda de soberania financeira, económica e institucional. O que José Gomes Ferreira tem feito é identificar objetivamente, sem preconceitos, nem medos, os pontos de rotura do regime. Mas não só! Também exige uma mudança profunda no regime democrático, para o que reclama, como muitos de nós, uma nova Constituição, sem fantasias nem cintos de castidade hipócritas, aceitando ainda como boa a nossa integração na União Europeia, apesar das inúmeras e graves vicissitudes por que tem passado. No fim do livro ficamos a saber o que pretende quando convida o Bom Português a fazer uma revolução. José Gomes Ferreira quer uma nova Constituição e a Democracia de Qualidade reclamada, nomeadamente, por Henrique Gomes, Henrique Neto, Luís Campos e Cunha, ou Mira Amaral. Mas não diz como lá chegar, ou por outra, recomenda manifestações do bom povo português à porta da Casa da Democracia (a Assembleia da República), um comportamento individual consequente no dia a dia, e diz ainda que “temos de aproveitar a revolução electrónica para a pôr ao serviço da nossa Revolução de Cidadania.” Mas falta claramente um condutor, ou um navegador, para esta revolução. Quer dizer, falta uma síntese operacional estratégica dos pontos fundamentais a mudar, e meios para lá chegarmos. Falta, creio, uma ideia de plataforma abrangente, pós-partidária —no sentido de uma democracia sem hegemonia partidária—, capaz de congregar a maioria do país num processo credível de transformação.

Mais do que uma democracia de qualidade, precisamos de uma democracia qualitativa, isto é, de uma democracia não apenas decente, mas que seja também um edifício ideológico e cultural novo. Onde, por exemplo, a felicidade, o amor, ou a qualidade da água, do ar e os equilíbrios ecológicos sejam mais importantes do que o sucesso, o PIB, a produtividade, ou do que a taxa de crescimento. A realidade do planeta está a deteriorar-se rapidamente. Os humanos, ou se adaptam, ou extinguir-se-ão mais cedo do que o esperado, a par de muitas outras espécies em extinção.

Seja como for, os dados estão lançados. Basta compilar o muito que se tem escrito sobre a crise do nosso regime e sobre a crise mundial, e ainda a sobre a necessidade imperiosa de mudarmos de vida, para ficarmos com um diagnóstico suficientemente fundamentado, a partir do qual poderemos então modelar da melhor maneira a inadiável metamorfose do país.

Nem exportações, nem crescimento!



Lamento desiludi-los, mas só há uma alternativa: austeridade


Numa espécie que atingiu os limites do crescimento, e onde as suas criaturas causaram tantos e tão catastróficos danos à maioria dos ecossistemas de Gaia, o grande endividamento, privado e público, criado para esconder os problemas e adiar a realidade, não pode ser revertido pela via das exportações —pois todos querem, agora mais do que nunca, exportar—, nem pela via do crescimento —que caminha rapidamente para uma estagnação à escala global.


Os limites do crescimento não só foram bem previstos em 1972, como acabam de chegar (2005-2006) e são em grande medida responsáveis pela tempestade perfeita das finanças públicas e privadas à escala planetária.

O PS quer trocar austeridade por crescimento. Mas é impossível. Logo, votar nas alminhas da esquerda desmiolada é como jogar à roleta russa.

Tempo de abrir os olhos e de lançar planos de contingência!

It seems to me that the lower commodity prices we have been seeing over the past four years (with a recent sharper drop for oil), likely reflect an affordability problem. This affordability problem arises because for most people, wages did not rise when energy prices rose, and the prices of commodities in general rose in the early 2000s.

For a while, the lack of affordability could be masked with a variety of programs: economic stimulus, increasing debt and Quantitative Easing. Eventually these programs reach their limits, and prices begin falling in inflation-adjusted terms. Now we are at a point where prices of oil, coal, natural gas, and uranium are all low in inflation-adjusted terms, discouraging further investment.

[...]

It seems to me that we are reaching the limits of globalization now. This is why prices of commodities have fallen. With falling prices comes lower total consumption. Many economies are gradually moving into recession–this is what the low prices and falling rates of energy growth really mean.

It is quite possible that at some point in the not too distant future, demand (and prices) will fall further. We then will be dealing with severe worldwide recession.

In my view, low prices and low demand for commodities are what we should expect, as we reach limits of a finite world. There is widespread belief that as we reach limits, prices will rise, and energy products will become scarce. I don’t think that this combination can happen for very long in a networked economy. High energy prices tend to lead to recession, bringing down prices. Low wages and slow growth in debt also tend to bring down prices. A networked economy can work in ways that does not match our intuition; this is why many researchers fail to see understand the nature of the problem we are facing.

—in BP Data Suggests We Are Reaching Peak Energy DemandPosted on June 23, 2015    by Gail Tverberg | Our Finite World

sábado, junho 20, 2015

Costa não convence

Foto: José Sena Goulão/ LUSA

O radicalismo suspeito do PS golpista assusta qualquer um


A cada dia que passa, o Partido Socialista assemelha-se cada vez mais a um filme negro barato protagonizado por moribundos e criaturas estranhas, como o zombie Ferro Rodrigues, ou a gelatina tatuada Isabel Moreira. Como se isto não bastasse, o imprestável Costa dá tiros no pé dia sim, dia não.

A ideia peregrina de atacar simultaneamente em duas frentes —São Bento e Belém, isto é, Passos e Cavaco—, ao mesmo tempo que se saúda o Siryza e se abusa do tipo de retórica populista proprietária do PCP, não poderia deixar de acelerar a inversão da opinião dos portugueses sobre o PS depois da clique liderada por Sócrates e Mário Soares ter apeado rudemente António José Seguro.

Pelo caminho que o PS de Mário Soares e José Sócrates, entregue a António Costa, leva, a probabilidade de se extinguir até às eleições é real.

Por outro lado, a emergência fulgurante de Mariana Mortágua, no decurso da comissão de inquérito ao colapso do GES-BES, não só está a desfazer as anunciadas alternativas endogâmicas do Bloco, como ameaça as expectativas eleitorais de Marinho Pinto e de António Costa.

A duplicação da percentagem das intenções de voto no Bloco de Esquerda (de 4 para 8%), a par da queda de 8% do PS, e da subida de 6% na coligação no poder, são indicadores claros de algumas verdades que convém reter:
  1. o eleitorado não é estúpido, e por isso não trocará a austeridade conhecida (e que não poderá ser muito mais esticada) pelas aventuras que o PS de Mário Soares, Almeida Santos e José Sócrates, recauchutado por António Costa, promete;
  2. o radicalismo populista de António Costa é desastroso;
  3. o fenómeno Mariana Mortágua (os vídeos das suas intervenções, publicados no YouTube, têm chegado a centenas de milhar de portugueses) poderá fazer renascer o Bloco de Esquerda como uma alternativa ao cadáver adiado que é o Partido Socialista, sobretudo se Catarina Martins sair de cena e der lugar a uma Mariana Mortágua pragmática e decidida a transformar o antigo bordel marxista-leninista, revisionista e trotskysta numa verdadeira força eleitoral.
Aguardemos a próxima sondagem da Católica.

Post scriptum — António Costa: “Os portugueses olham para o PS com ansiedade”.

Enquanto lia a Carta a Um Bom Povo Português, de José Gomes Ferreira, ao deparar-me com a citação da frase de um ex-deputado do PS, Ricardo Gonçalves —“O problema do PS é que foi concebido para distribuir riqueza, mas agora não há riqueza para distribuir. É preciso criá-la primeiro”— anotei:

— as esquerdas já só cuidam das suas clientelas, na sua esmagadora maioria dependentes do estado pelo lado da redistribuição burocrática, partidária e clientelar da receita fiscal, mas também do endividamento público! As esquerdas em crise que todos conhecemos defendem, assim, o prejuízo público em nome da sua própria vitalidade, e mais recentemente, em nome da sua ameaçada sobrevivência nas acrópoles do poder. O comportamento uniforme do PCP, PS e Bloco 'em defesa' dos elites proletárias do BES, como da TAP, Portugal Telecom, Carris, etc., e em última análise do status quo, defendendo implicitamente a própria manutenção dos grupos capitalistas até 2014 hegemónicos, mostra-nos até que ponto estamos na presença de grupos de interesses politicamente desfasados da realidade e da cidadania, decorados com uma cobertura de ideologia pasteleira indigesta e protegidos pela falsa credibilidade institucional que a representação parlamentar confere a estes lóbis partidários. O caciquismo eleitoral ainda lhes permite distorcer a representação da democracia. Mas já não será por muito mais tempo.

Última atualização: 20/6/2015 10:44

quinta-feira, junho 18, 2015

Quantitative Pleasing


Quantitative Pleasing, ou a grande submissão dos bancos centrais à especulação desenfreada e ao populismo que tomou conta das democracias ocidentais.


Consequências: guerras monetárias, expropriação fiscal dos rendimentos e das poupanças, implosão em cadeia das bolhas especulativas, exacerbação da concentração capitalista, destruição das classes médias, caos sistémico, revoluções sociais a caminho, alterações nas placas tectónicas do poder mundial.

Aviso: o colapso dos sistemas de pensões é um problema em todos os países ocidentais... incluindo os Estados Unidos da América.

Solução: começar por aumentar o prazo de maturidade das obrigações soberanas até aos 100 anos, taxar de forma progressiva os lucros das transações financeiras, taxar os lucros empresariais na origem (i.e. onde o valor se forma), reduzir drasticamente o peso político e o custo das burocracias parasitárias, desembaraçar os sistemas legais da complexidade armadilhada e proprietária que os caracterizam, introduzir mecanismos de justiça e equilíbrio no comércio internacional.


A sugestiva expressão Quantitative Pleasing, é de Danielle DiMartino Booth, antiga conselheira do presidente do Fed de Dallas. Vale a pena ouvir o que diz, e ler o que escreve.

Danielle DiMartino Booth — All retirees’ security is thus at risk when the massive overvaluation in fixed income and equity markets eventually rights itself. Pension math, however, will forestall the day of reckoning in the financial markets given the demographic surge in retiring beneficiaries that require states and municipalities to top off pensions’ coffers. Pensions will thus dig themselves into a deeper grave than they would otherwise by buying the credit craze more time — in Zero Hedge

Grexit

Pirro, rei do Épiro e da Macedónia (318-272 a.C)

“Mais uma vitória como esta, e estou perdido.”  (Pirro)


End Game: comissão parlamentar grega acaba de publicar relatório preliminar que considera a dívida grega emergente dos acordos com a Troika, uma dívida ilegal, ilegítima e odiosa.

All the evidence we present in this report shows that Greece not only does not have the ability to pay this debt, but also should not pay this debt first and foremost because the debt emerging from the Troika’s arrangements is a direct infringement on the fundamental human rights of the residents of Greece. Hence, we came to the conclusion that Greece should not pay this debt because it is illegal, illegitimate, and odious.

Documento acabado de publicar

Αθήνα, 17 Ιουνίου 2015

Hellenic Parliament’s Debt Truth Committee Preliminary Findings - Executive Summary of the report

*Θα ακολουθήσει ανάρτηση της ελληνικής έκδοσης της περίληψης των προκαταρκτικών αποτελεσμάτων της Επιτροπής Αλήθειας Δημοσίου Χρέους


POST SCRIPTUM — A Grécia encavou, ou seja, apostou todas as cartas. A parada é muito elevada, pois Tsipras vai de novo a Moscovo, que por sua vez anunciou esta semana o reforço do seu arsenal nuclear com 40 novos mísseis balísticos intercontinentais, em resposta às novas sanções europeias e ao avanço militar norte-americano nos países que fazem fronteira com a Rússia. Ou muito me engano ou a Alemanha, perdão, a União Europeia, vai desistir desta partida de Poker.

Sobra um problema: Portugal e Espanha vão exigir contrapartidas relativamente aos seus próprios programas de austeridade. Aliás, Portugal e Espanha já beneficiaram das duas anteriores reestruturações gregas. Subtilezas que escapam ao barulho mediático.

ÚLTIMA HORA

Grécia—1, Alemanha—0. Lembram-se do nosso prognóstico?
Os Estados Unidos explicaram à Tia Merkel que deixar os gregos ao colo de Putin, nem pensar. O FMI e o BCE que engulam o sapo Tsipras!
El BCE se reúne de urgencia para decidir si amplía la liquidez a la banca griega

El consejo de gobierno del Banco Central Europeo (BCE) se reúne hoy para decidir si amplia la provisión urgente de liquidez para Grecia tras la intensificación de la fuga de capitales.

Leer más:  El BCE se reúne de urgencia para decidir si amplía la liquidez a la banca griega - elEconomista.es


Última atualização: 19/6/2015, 11:00 WET

quarta-feira, junho 17, 2015

Carcavelos merece!

Av. Maria da Conceição. Obras nos passeios melhoram mobilidade.

O António Maria faz hoje 2000 posts. E foi em Carcavelos que quase todos foram escritos


Esta foto de obras em curso mostra o passeio da principal avenida da vila de Carcavelos, a Avenida Maria da Conceição, que se prolonga a sul pela magnífica Avenida Jorge V até à praia, onde para lá das cada vez mais preciosas ondas se estende o horizonte da nossa imaginação.

Carcavelos pode e deve especializar-se na qualidade da sua magnífica praia e do seu monumental céu, na ampla oferta educativa privada, nacional e internacional, de que dispõe, e ainda nos equipamentos de saúde e de apoio à deficiência e à terceira idade. A sua famosa feira poderia evoluir para um corredor de comércio local permanente —de flores, frutos e hortas— da estação de caminho de ferro até à praia, negociando com esperteza as contrapartidas que a futura Quinta dos Ingleses urbanizada deve retribuir à comunidade e ao futuro económico e cultural desta pérola marítima por abrir.

Mas para tudo isto ser um êxito, teremos que começar por melhorar radicalmente a mobilidade de veículos e pessoas, e acabar com as caca canina que os donos egoístas e sem educação deixam os seus animais depositar pelos caminhos por onde a gente passa. Retretes para cães e multas para os donos inconscientes são duas medidas complementares para limpar os passeios de uma vila que bem merece a nossa atenção, inteligência e o cumprimento escrupuloso das regras urbanas da tranquilidade, nomeadamente noturna.

Esperemos que não voltem a estacionar carros em cima dos passeios, fazendo das estreitas ruas desta vila verdadeiras armadilhas para os peões.

terça-feira, junho 16, 2015

O papel da Europa


A minha previsão


O novo Tratado de Tordesilhas (2.0) será desenhado à custa de guerras vicariantes (proxy wars) entre os Estados Unidos e o Japão, de um lado, e a China e a Rússia, do outro. A Europa, se a União Europeia não sair da letargia estratégica em que se encontra, poderá ver ressurgir profundas divisões entre os seus países. No entanto, se Merkel, Hollande e Juncker conseguirem atrair Cameron para um plano de reforço estratégico da Europa (uma ideia avançada pelo GEAB deste mês), as coisas poderão evoluir doutra maneira, possibilitando um declínio lento, mas pacífico, da hegemonia americana, e a emergência de um status quo equilibrado e duradouro entre o Ocidente e o Oriente.

União Europeia / Reino Unido / Estados Unidos – União, desintegração, reinvenção: A grande transformação sistémica do OcidenteGEAB, Junho 2015.
Nesta edição do GEAB a nossa equipa decidiu concentrar-se sobre as características [da] reorganização em curso em três actores do mundo Ocidental : a União Europeia, o Reino Unido e os Estados Unidos, três «uniões» políticas que terão impreterivelmente de se reinventar para se tornarem compatíveis com a ordem multipolar. Estimamos que esse processo de reinvenção está já em curso, colocando finalmente o Ocidente sobre a via da sua indispensável transformação sistémica.
Russia will take part in multinational navy drills in disputed South China Sea
Published time: May 30, 2015 20:27, Edited time: June 01, 2015 08:58/ RT

Speaking on Saturday in Singapore, Antonov announced Russia's planned participation in the May 2016 drills which have a focus on counter-terrorism and naval security.

Antonov also said he was concerned about stability in the region, naming the US as the main destabilizing factor. He said that Washington's policies have been aimed against Russia and China: "We are concerned by US policies in the region, especially since every day it becomes increasingly focused on a systemic containment of Russia and China."

Russia and Turkey agree on Turkish Stream onshore route

Published time: February 09, 2015 09:59/ Edited time: February 10, 2015 08:47, RT
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Gazprom and Turkey have agreed the general route for the onshore section of the Turkish Stream pipeline. The first line of the 180 kilometer pipeline is expected to be completed by December 2016, according to company CEO Aleksey Miller.


Putin: Russia to boost nuclear arsenal with 40 missiles

BBC, 16/6/2015

It is part of a wide-reaching programme to modernise the country's military.

The move comes after the US proposed increasing its military presence in Nato states in Eastern Europe.

Nato has condemned the Russian announcement, saying the move amounted to "nuclear sabre-rattling" and was "unjustified" and "dangerous".

Tensions are high over Russia's role in the conflict in eastern Ukraine.


Um novo excecionalismo... chinês

China Completes Island Construction, Will Now Build Military Facilities
Zero Hedge, Submitted by Tyler Durden on 06/16/2015 18:10 -0400.

China said it is shifting work on disputed South China Sea islets from the dredging of land to the construction of military and other facilities as it pushes forward with a program that has aggravated tensions with the U.S. and neighbors.

Analysts say the imminent end to China’s island-building work could signal a willingness to seek compromise with Washington and rival claimants in the South China Sea, even as it demonstrates Beijing’s ability to unilaterally dictate terms in the long-standing dispute.

“This is a step toward halting land reclamation, which the U.S. has demanded, and at the same time, China can tell its people that it has accomplished what it wanted to do,” said Huang Jing, an expert on Chinese foreign policy at the Lee Kuan Yew School of Public Policy in Singapore.

“China unilaterally started the land reclamation and now China is unilaterally stopping it,” Mr. Huang said. “China is showing that—as a major power—it can control escalation, that it has the initiative, and that it can do what it sees fit for its interests.”



Última atualização: 17/6/2015, 01:22 WET

Quem vai decidir a próxima maioria?

Rio Minho na região de Monção-Melgaço

Precisamos de uma democracia de qualidade apoiada em plataformas de cidadania


A maioria eleitoral estaria fora de si se arriscasse entregar de novo o poder a quem nos meteu no buraco e promete afundar ainda mais o país se regressar ao governo.

Nem os pensionistas querem aventuras nesta altura do campeonato, nem a maioria dos portugueses tolera mais ataques fiscais à propriedade que cada um adquiriu ou está a adquirir com esforço, ou herdou dos pais.

Um terço do eleitorado vive hoje de pensões, e uma percentagem ainda maior do mesmo eleitorado quer ver um ponto final na expropriação fiscal e financeira do que é seu. Ou seja, quer o contrário do que a lógica e a burocracia da nossa indigente esquerda pretendem.

Todos sabemos que crescimento e emprego são duas realidades difíceis de alcançar e que regressarão lentamente.

Um avião cheio de novos emigrantes sai diariamente de Portugal. Mas estes não esquecem as suas responsabilidades, pois enviam mais de três mil milhões de euros por ano para as suas contas bancárias sediadas em Portugal. Os que continuamos por cá é que temos que lhes garantir que o seu esforço não será pasto da rapina dos piratas que nos enfiaram no buraco em que ainda estamos.

Há, apesar da desgraça, sinais de esperança.

Alto Minho: EDP restitui terras expropriadas há 40 anos
Green Savers, 15/06/2015
Quarenta anos depois de terem sido expropriados vários terrenos nas margens do Rio Minho (na foto), entre Monção e Melgaço, para a construção da barragem de Sela, um projecto luso-espanhol, os cerca de mil expropriados – os seus herdeiros, na maioria – poderão voltar a cultivar as antiga propriedades.

O sentido de propriedade é fortíssimo entre nós. Isto, e nada mais, explica porque as cigarras da esquerda oportunista e os seus realejos enferrujados jamais seduziram consistentemente os portugueses. Por outro lado, o acosso e as expropriações fiscais em curso, por parte de uma nomenclatura citadina corrupta e oportunista, está a separar a maioria dos portugueses do regime constitucional que temos. Fenómenos como o de Rui Moreira, eleito para dirigir a segunda cidade do país e a capital do noroeste peninsular, irão repetir-se, nomeadamente em Oeiras, Lisboa, Sintra, Vila Nova de Gaia, Coimbra, Figueira da Foz, Cascais e... em Belém. Vai ser desta maneira que a terceira república acabará por colapsar, dando passo a uma democracia qualitativa assente no poder das plataformas de cidadania democrática, onde o estado e os partidos políticos deixarão de infernizar a vida dos cidadãos.

Henrique Neto na Feira Nacional da Agricultura de Santarém.
Foto @ Marcos Borga/ Expresso

Henrique Neto: “Não foram as minhas críticas a prejudicar o PS”
Expresso, 13/6/2015
Depois de aderir ao PS fui um entusiasta das políticas decididas durante os Estados Gerais para uma Nova Democracia e depois apoiei o Governo do PS tanto quanto as oportunidades me permitiram, até ao momento em que o partido deixou de cumprir as suas promessas eleitorais, se afastou de uma governação consequente com o interesse nacional e passou a navegar à vista sem coerência estratégica, comprometendo com isso o futuro do País.

Henrique Neto daria um bom presidente. Não precisamos de continuar a suportar o peso hegemónico dos partidos na nossa sociedade, sobretudo dos que já conhecemos de ginjeira, mas sim de gente confiável e competente, e de plataformas de cidadania democrática. Precisamos de uma democracia qualitativa, em vez da sopa azeda que continuamos a tragar pagando por ela os olhos da cara!

2 milhões e meio de eleitores
Manuel Villaverde Cabral | Observador, 31/5/2015, 10:47

Há mais de 2,5 milhões de reformados em Portugal (eu sou um deles). Não estão longe de um terço do eleitorado real. Há mais eleitores inscritos com a complacência dos governos, mas não são reais. Esses 2 milhões e meio de pessoas recebem mais de 3,5 milhões de pensões contributivas e não-contributivas no valor de 27 mil milhões de euros, portanto, uma média individual acima de 10.000 € brutos por ano. As pensões representam cerca de 30% da despesa pública e aproximadamente 15% do PIB.

A armadilha demográfica e um sistema de segurança social desajustado poderão mergulhar Portugal na insolvência estrutural. Quando? Daqui a uma década ou menos, se persistirmos em fechar os olhos à realidade.

Duas notas sobre a miopia da esquerda que temos

A esquerda ainda não percebeu duas coisas muito simples:
  1. Portugal é um país pobre (Plutocracia demo-populista e Rendimento Básico), onde 90% das famílias apresentam rendimentos coletáveis inferiores a 30 mil euros/ano; mais de 60% das famílias tem rendimentos coletáveis inferiores a 10 mil euros (833 euros/mês), e só 7,1% dos agregados apresenta rendimentos coletáveis entre 20 e 30 mil euros (1.666 a 2.500 euros/mês). Escusado será dizer que os nossos deputados, por exemplo, fazem parte de uma casta que representa menos de 1% da população — alguns pertencem mesmo à exclusiva elite dos 0,1%!
  2. Mas apesar de pobre, Portugal é um país de proprietários. Se não vejamos:
  • há 10,6 milhões de portugueses (Census 2011)
  • mas existem 11,7 milhões de prédios rústicos (haverá algum português que não seja dono de uma leira?)
  • em 40% da superfície agrícola útil —36.681,45 Km2— existem 305 mil explorações agrícolas
  • há registo de 7,9 milhões de prédios urbanos, a que correspondem mais de 5,8 milhões de alojamentos, e destes 4,4 milhões são ocupados pelos seus proprietários.

sábado, junho 13, 2015

Partidos para quem?

Manuela Carmena Carmona, nova presidente da capital espanhola

Depois do Porto, Barcelona e Madrid apontam o caminho de uma democracia cidadã, sem a canga insuportável da corrupção partidária


Não precisamos dos partidos para nada. Precisamos, sim, de gente de confiança e de plataformas de ação e representação políticas democráticas!

Bom, foi preciso uma aliança de última hora com o PSOE. Mas o que importa neste momento realçar são os novos sinais da democracia que aí vem. Sabemos o que deixámos de querer, e é natural que levemos algum tempo mais a descobrir ou inventar a democracia qualitativa de que precisamos neste tempo de exigência e complexidade globais. Mas lá chegaremos.

Os sinais multiplicam-se. Em Portugal, depois da surpresa chamada Rui Moreira, talvez Henrique Neto seja a surpresa presidencial que merecemos.

Parabéns Manuela, alcaidina de Madrid!
Carmena: "Queremos gobernar escuchando, siempre en la línea que los ciudadanos digan"
Carmena, que ha rechazado hacer un discurso de investidura al uso porque cree que en el salón de plenos hay "demasiados discursos y pocas palabras", ha querido arrancar su mandato dando las gracias a la ciudadanía. "Me llena de ilusión y esperanza. Somos servidores de ciudadanos de Madrid, no podemos olvidar que estamos a su servicio", ha lanzado.

Ver más en: .20minutos

O FMI continua por aí...

Christine Lagarde insiste em avisar os indígenas irresponsáveis

Mais fascismo fiscal, ou reforma deste estado obeso e partidário?


O Paulinho gosta muito de se babar com o fim do protetorado. Mas a verdade é que a Trindade dos Credores continua por cá! E mais, sem atacarmos as pensões altas (acima dos 2000 euros) e milionárias (acima dos 5000 euros), e ainda as pensões abusivas (pensões completas por carreiras contributivas simbólicas, etc...), sem acabar com as redundâncias burocráticas e as mordomias do aparelho de estado partidário e neocorporativo que temos, caminharemos todos para uma situação cada vez mais grega. Que diz António Costa sobre isto? E os seus lunáticos economistas? Nada, suponho.

FMI avisa que sem mais cortes meta de défice não será atingida

A missão técnica mantém a previsão oficial do Fundo: "sem medidas para reduzir a despesa primária [que exclui os encargos com a dívida pública], o défice orçamental para este ano será de 3,2% do PIB".

por DN.pt com Lusa

Vem aí um novo estouro financeiro de proporções trágicas, desta vez na Alemanha.

Merkel e Hollande, Obama e Draghi, nos seus intensos movimentos brownianos revelam a aflição silenciosa que paira em volta do incumprimento grego. Basta passar os olhos pelo rol do serviço da dívida pública helénica (Tragédia grega em números) para se perceber que a bancarrota está por semanas, ou que então haverá um volte-face nas regras internacionais vigentes, o que desencadearia um abalo sistémico ainda maior.

É neste contexto que o discurso da irresponsável e populista esquerda portuguesa, capitaneada hoje por um sargento-ajudante 'socialista' de muito má qualidade, merece ser denunciado pelos perigos que comporta para a sociedade portuguesa, a qual, de um aperto severo de austeridade, a que uma parte do país respondeu como sempre respondeu em casos semelhantes —emigrando—, poderá cair numa espiral de fascismo fiscal, autoritarismo populista e miséria.

O ataque à poupança e à propriedade privada, na ausência do ajustamento que continua por fazer na dimensão da burocracia de estado e partidária, será seguramente a forma que o PS elegerá para mitigar o crescimento da despesa pública em centenas de domínios inúteis ou redundantes. O PS de Costa propõe-se voltar a taxar as heranças, e se um dia chegasse ao poder, não tardaria em penalizar ainda mais a iniciativa privada e os rendimentos. É esta a matriz mental da nossa imprestável esquerda, mas não é esta a matriz sociológica do país. Daí a minha convicção de que o PS não ganhará as próximas eleições.

sexta-feira, junho 12, 2015

Deutsche Bank a três passos do lixo (BBB+) !



Vem aí um Lehman Brothers Made in Germany?


E se o 12º maior banco do mundo, o Deutsche Bank  (DB), estivesse já numa espiral implosiva? A sua exposição ao mercado de derivados financeiros é superior ao PIB mundial!!!

Os sinais abundam e o pânico que parece ter tomado subitamente conta de Angela Merkel e François Hollande perante o incumprimento grego de 5 de junho é porventura o mais avermelhado aviso do buraco negro que poderá, de um momento para o outro, abrir-se diante do euro, mas também do dólar.

Tem muito dinheiro no DB? Mais de 50 mil euros? Mude-os para o BPI, para o Crédito Agrícola, ou mesmo para a Caixa Geral de Depósitos!

Nós avisámos: No Grexit / Grécia—1, Alemanha—0

Here’s a re-cap of what’s happened at Deutsche Bank over the past 15 months:
  • In April of 2014,  Deutsche Bank was forced to raise an additional 1.5 Billion of Tier 1 capital to support it’s capital structure.  Why?
  • 1 month later in May of 2014, the scramble for liquidity continued as DB announced the selling of 8 billion euros worth of stock at up to a 30% discount.   Why again?  It was a move which raised eyebrows across the financial media.  The calm outward image of Deutsche Bank did not seem to reflect their rushed efforts to raise liquidity.  Something was decidedly rotten behind the curtain.
  • Fast forwarding to March of this year:   Deutsche Bank fails the banking industry’s “stress tests” and is given a stern warning to shore up it’s capital structure.
  • In April,  Deutsche Bank confirms it’s agreement to a joint settlement with the US and UK regarding the manipulation of LIBOR.   The bank is saddled with a massive $2.1 billion payment to the DOJ.  (Still, a small fraction of their winnings from the crime). 
  • In May,  one of Deutsche Bank’s CEOs, Anshu Jain is given an enormous amount of new authority by the board of directors.  We guess that this is a “crisis move”.  In times of crisis the power of the executive is often increased.
  • June 5:  Greece misses it’s payment to the IMF.   The risk of default across all of it’s debt is now considered acute.   This has massive implications for Deutsche Bank.
  • June 6/7:  (A Saturday/Sunday, and immediately following Greece’s missed payment to the IMF) Deutsche Bank’s two CEO’s announce their surprise departure from the company.  (Just one month after Jain is given his new expanded powers).   Anshu Jain will step down first at the end of June.  Jürgen Fitschen will step down next May.
  • June 9: S&P lowers the rating of Deutsche Bank to BBB+  Just three notches above “junk”.  (Incidentally,  BBB+ is even lower than Lehman’s downgrade – which preceded it’s collapse by just 3 months)
And that’s where we are now.  How bad is it?  We don’t know because we won’t be permitted to know.  But these are not the moves of a healthy company.

Deutsche Bank The Next Lehman?
Zero Hedge, Submitted by Tyler Durden on 06/12/2015 12:15 -0400 

quinta-feira, junho 11, 2015

TAP tem novas asas

David Neeleman (Reuters)

Sérgio Monteiro está de parabéns. Ministro do próximo governo?


A Gateway, consórcio de David Neeleman e de Humberto Pedrosa, vai comprar 61% da TAP por uma proposta que lhe custa cerca de 350 milhões de euros. Uma tranche adicional de 5% está reservada a trabalhadores. Expresso (11.06.2015 13h24).

O PS perdeu hoje as eleições. Basta ouvir a criatura que reagiu à notícia da escolha do vencedor do processo de venda de 61% da TAP para intuir o radicalismo neo esquerdista (e neo estalinista) de António Costa e da corja de piratas que o acompanha. No que é, aliás, ladeado pelos realejos do PCP e do Bloco de Esquerda, numa espécie de mata-esfola populista e eleitoral.

Os idiotas, e sobretudo os piratas incorrigíveis deste PS querem privatizar a TAP, mas querem também continuar a mandar na companhia, metendo lá os seus boys&girls, mantendo as mordomias da nomenclatura partidária que arruinou o país, e retomando a negociata do novo aeroporto que in illo tempore impingiram ao já debilitado Stanley Ho, com a muleta financeira do Espírito Santo e a bênção de Almeida Santos. Na realidade, os piratas do PS prometeram a Stanley Ho os terrenos da Portela para aí se construir uma nova cidade radiante. Mas para isso era preciso esgotar a Portela, e para esgotar a Portela era preciso fazer crescer a TAP de qualquer maneira. O gaúcho Fernando Pinto foi o testa de ferro desta criminosa manobra destinada a viabilizar um negócio de muito betão e muitos milhões. Felizmente este embuste morreu.

A maioria do capital (61%), e portanto a gestão da empresa, será entregue ao consórcio privado que envolve David Neeleman e Humberto Pedrosa, 5% da empresa será vendida aos trabalhadores da companhia, e finalmente 34% da mesma será possivelmente dispersa em bolsa—não faltarão portugueses interessados em comprar títulos da nova fénix.

A TAP está falida, tem gente a mais, não se adaptou aos novos tempos da aviação e da economia mundiais, e esteve desde o governo de António Guterres ao serviço dos piratas do PS e dos banksters do BES e do BCP, mais o embuste do Novo Aeroporto de Lisboa, que começou por ter que ser na Ota, e depois passou a ter que ser em Alcochete. Esta longa conspiração cor-de-rosa, a que os lunáticos do PCP e do Bloco não prestaram qualquer atenção (ou será que prestaram?) conduziu a TAP à insolvência depois de ter contribuído pesadamente para o fardo da dívida pública que todos (menos os deputados, claro) transportamos aos ombros.

Não foi a direita que colocou o país em saldo. Foi a esquerda desmiolada e corrupta que temos. E percebe-se porquê: enquanto a direita representa os interesses patrimoniais e o valor tangível do país, incluindo o interesse em criar empresas e postos de trabalho, a esquerda que temos apenas extrai da pouca matéria prima existente todos os direitos e regalias que consegue arrebanhar, estando-se nas tintas para o que vem depois. A esquerda não sabe criar riqueza, mas sabe destrui-la.

Dos três candidatos desta terceira tentativa de encontrar uma solução de viabilidade efetiva para a TAP, venceu o melhor. Defendeu-se neste blogue a opção que viria a ser escolhida pelo governo. Ainda bem!


Artigos recém publicados sobre este assunto

Pais do Amaral: saída de pista na reprivatização da TAP (21/5/2015)

Blue TAP (14/5/2015)

TAP azul (3/6/2013)