sábado, janeiro 24, 2009

Portugal 78

Está na altura de colocar o pinóquio no armário

  • O tio de Sócrates, Júlio Monteiro, diz que enviou o representante da Freeport, Charles Smith, ao então ministro do ambiente de António Guterres, José Sócrates, para esclarecerem dúvidas sobre um suposto e muito exagerado pedido de luvas por conta da aprovação rápida do licenciamento do outlet Freeport.
  • O primo de Sócrates, Nuno Carvalho Monteiro (filho de Júlio Monteiro), diz que a "empresa de publicidade da família" enviou um e-mail à Freeport, “a cobrar o favor” (i.e. a mediação da reunião entre Charles Smith e Sócrates), sugerindo que o mesmo poderia ser pago na forma de uma contratação da dita empresa de publicidade para a promoção do Freeport.
  • Sócrates confirma, no seu comunicado, ter havido uma reunião alargada no Ministério do Ambiente com os promotores do empreendimento, vários dirigentes do ministério e o secretário de Estado do Ambiente, Rui Gonçalves, assim como o ex-presidente da Câmara de Alcochete, José Inocêncio (PS), ao qual atribui o pedido da reunião.
  • O semanário Sol, citado hoje pela TVI, publica na edição de sábado que numa reunião realizada em 2002, Charles Smith, alegado intermediário do outlet Freeport, em Alcochete, terá acordado uma série de "pagamentos corruptos" com vista ao licenciamento do projecto num encontro em que teria estado também "Sócrates" e seu "staff".
  • Por fim, o presidente da Câmara de Alcochete afirmou em comunicado que na dita reunião, por si solicitada, não esteve presente nenhum representante da Freeport.
Em que ficamos? Se apenas houve uma reunião, alguém está a mentir. Se houve mais de uma reunião, tudo é possível!

Num país à beira da falência, era só o que nos faltava ter que arrastar esta história sórdida até às próximas eleições! Alguém, no PS, que ponha imediatamente cobro a esta situação política e moralmente insustentável.


REFERÊNCIAS

Licenciamento do outlet de Alcochete põe primeiro-ministro em xeque
24.01.2009 - 00h18 PÚBLICO

Tio e primo do chefe do Executivo terão tentado cobrar favor por promover encontro com intermediário do empreendimento

José Sócrates viu-se ontem à noite no centro da polémica do licenciamento do Freeport de Alcochete, depois de a TVI ter posto no ar partes de uma entrevista dada ao semanário "Sol" pelo seu tio, Júlio Eduardo Coelho Monteiro, onde este afirma ter proporcionado uma reunião entre o promotor do empreendimento, o britânico Charles Smith, e o último ministro do Ambiente do Governo Guterres. Já perto das 22h00, o primeiro-ministro emitiu um comunicado em nome pessoal garantindo que “a aprovação ambiental do empreendimento Freeport cumpriu todas as regras legais aplicáveis à época”, rejeitando “todas as insinuações e afirmações caluniosas que envolvem o meu nome a propósito deste caso”.

Júlio Monteiro, tio de José Sócrates, reconheceu numa entrevista ao "Sol" que viabilizou uma reunião entre o responsável da consultora encarregue de conseguir o licenciamento do Freeport, Charles Smith, e o seu sobrinho, então ministro do Ambiente. Júlio Monteiro, que conhecia Smith porque a mulher era administradora na Quinta do Lago, diz que este se queixou que um gabinete de advogados lhe estava a pedir quatro milhões de contos pelo licenciamento do outlet. Incrédulo com a situação, Júlio Monteiro aconselhou o inglês a falar com o sobrinho e colocou Sócrates a par do assunto. “Foi através de mim que ele [Charles Smith] conseguiu esta audiência”, sustenta Júlio Monteiro, que garante nunca mais ter sabido do assunto. “Eu até fiquei chateado. Usam o meu nome e depois nem um obrigado.”

Na edição de hoje, o "Sol" revela pela primeira vez que o ministro de Guterres referido numa conversa entre Charles Smith e um administrador do Freeport é José Sócrates. Nessa conversa, gravada pelo administrador com recurso a uma câmara oculta, Smith diz que gastou avultadas quantias em “pagamentos corruptos”, de acordo com o que ficou combinado numa reunião com Sócrates. Este vídeo fará parte do processo de investigação que corre no Reino Unido, onde estará igualmente um e-mail enviado para o Freeport a pedir uma recompensa pelo desbloqueamento do licenciamento.

Essa mensagem electrónica é também notícia do semanário "Expresso" de hoje. Na edição online de ontem, o filho de Júlio Monteiro, Nuno Carvalho Monteiro, confirma a existência de um encontro entre um intermediário do negócio do Freeport e o então ministro do Ambiente. Ao Expresso, Nuno confirmou que, na sequência dessa reunião, a empresa de publicidade da família enviou um e-mail aos responsáveis do outlet “a cobrar o favor”. A intenção era, segundo contou ao "Expresso", que a empresa britânica usasse a agência de publicidade para promover o empreendimento.

O Freeport nunca terá respondido ao correio electrónico, mas terá sido este documento — acrescenta o "Expresso" — que levou as autoridades judiciais britânicas e portuguesas a relacionarem o tio de José Sócrates ao alegado pagamento de luvas para a aprovação do empreendimento de Alcochete. Contactadas pelo PÚBLICO, as autoridades inglesas continuam, contudo, a não fazer qualquer comentário sobre este caso.

José Sócrates confirma, no seu comunicado, ter havido uma reunião alargada no Ministério do Ambiente com os promotores do empreendimento, vários dirigentes do ministério e o secretário de Estado do Ambiente, Rui Gonçalves, assim como a Câmara de Alcochete, à qual atribui o pedido da reunião. “Admito, embora não recorde esse facto, que também o meu tio, Júlio Monteiro, me tenha pedido para receber os promotores de modo a esclarecer a posição do Ministério do Ambiente sobre o projecto”, acrescenta.

O governante esclarece que essa reunião — única em que diz ter participado — serviu apenas para os promotores afirmarem a sua intenção de reformular o projecto e para o ministério esclarecer as condições ambientais exigidas pela última declaração de impacte ambiental. De resto, acrescenta Sócrates, esta declaração “foi emitida pelo secretário de Estado do Ambiente [...] sem qualquer interferência da minha parte”.

A 14 de Março de 2002, três dias antes das eleições legislativas que retiraram o PS do poder, o Conselho de Ministros aprovou o decreto-lei que procedia à redefinição dos limites da Zona de Protecção Especial do estuário do Tejo. Aprovou-se igualmente o terceiro Estudo de Impacto Ambiental, essencial para licenciar a construção naquela área.

Em 2004, o Ministério Público do Montijo começa a investigar suspeitas de corrupção no licenciamento do Freeport de Alcochete, com base numa denúncia anónima. No ano passado o processo passa para a tutela do Departamento Central de Investigação e Acção Penal, onde está actualmente. Esta quinta-feira, depois de no início da semana ter recebido das autoridades britânicas uma carta rogatória a pedir novas diligências, o DCIAP e a Polícia Judiciária realizaram buscas ao domicílio e escritório de Júlio Monteiro (onde apreenderam documentos), à sede da sociedade de advogados Vieira de Almeida e ao gabinete de arquitectura Capinha Lopes, que concebeu o Freeport de Alcochete.

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Comentário de Miguel Pais a este artigo do Público

Desmente a familia? É que é a própria familia que diz que promoveu o encontro, ele diz que não teve o encontro, mas depois existe o video. Esquecem-se que aquando da "licenciatura" veio a lume as negociatas a próposito dos aterros sanitários que ele promoveu enquanto secretário de estado do ambiente!!!! Foi criada uma empresa de amigos que ganhou a construção da maior parte dos aterros. Depois das eleições de 2002, acabou-se a mama e a empresa foi à falência, mas já tinham ganho o dinheiro. Ninguém percebeu que ele e o Mário Lino entregaram por ajuste directo a compra de milhares de computadores Magalhães e que a empresa já recebeu o dinheiro de 250.000 pais e só entregou 50.000. Se ele perder as eleições fogem com o dinheiro e não entregam os computadores. Com a nossa ingenuidade colocamos um criminoso como PM e toda a pandilha que é ministro com ele, são um bando de criminosos. Até os famliares já estão fartos dele.


Freeport: Ex-presidente Câmara de Alcochete confirma reunião com Sócrates mas nega presença de intermediário inglês

Lisboa, 23 Jan (Lusa) - José Inocêncio, presidente da Câmara Municipal de Alcochete em 2002, confirmou à Lusa que solicitou a reunião que se realizou nesse ano na presença de José Sócrates, na altura ministro do Ambiente, negando que nela tenha estado presente qualquer intermediário do licenciamento do Freeport.

O semanário Sol, citado hoje pela TVI, publica na edição de sábado que numa reunião realizada em 2002, Charles Smith, alegado intermediário do outlet Freeport, em Alcochete, terá acordado uma série de "pagamentos corruptos" com vista ao licenciamento do projecto num encontro em que teria estado também "Sócrates" e seu "staff".

José Inocêncio nega, contudo, a existência destes "pagamentos corruptos", desmentindo também a presença de Charles Smith na referida reunião em 2002.

O ex-presidente da Câmara Municipal de Alcochete nega mesmo a ligação de Charles Smith ao projecto, garantindo que durante os anos que antecederam a sua construção nunca o inglês assumiu quaisquer funções na empresa.

"Nas dezenas de reuniões que tive com a administração da Freeport, nunca [Charles Smith] esteve presente", disse.

O autarca, filiado no Partido Socialista (PS), disse que a reunião teve como objectivo saber as razões do Ministério do Ambiente para o "chumbo" do projecto Freeport e discutir as necessárias alterações para a sua aprovação.

OAM 522 24-01-2009 01:50

sexta-feira, janeiro 23, 2009

Portugal 77

Passa pra cá a massa!

Contas do tio de Sócrates em paraísos fiscais suspeitas de canalizar "luvas" — 23.01.2009 - 10h41 Paulo Miguel Madeira (Público)

Há suspeitas de que empresas controladas por um tio de José Sócrates em paraísos fiscais, controladas através de outras empresas suas, tenham sido utilizadas para a passagem de quatro milhões de euros em “comissões destinadas a um ex-ministro do Governo de António Guterres”, noticia hoje a imprensa diária.

Essas comissões visariam conseguir o licenciamento do Freeport, um centos comercial de preços mais baixos junto a Alcochete, numa área que era Zona de Protecção Especial do Estuário do Tejo desde 1994, decorrente da aplicação da directiva aves da UE.

O Freeport é um investimento de uma empresa inglesa, a Freeport Plc. A área onde está implantado, à entrada de Alcochete, foi desanexada nos últimos dias do Governo de António Guterres, quando José Sócrates era ministro do Ambiente.

Voto no PS há uns vinte e tal anos. Não milito em nenhum partido político e desconfio em geral da nomenclatura partidária instalada. Voto por uma questão cultural e partilho boa parte das preocupações da chamada esquerda democrática, embora não siga muitos dos seus conselhos e lamente profundamente a sua desgraçada falta de criatividade. Tenho votado, como disse, no PS. Mas os sucessivos escândalos em que altos dirigentes deste partido têm sido envolvidos, da pedofilia à corrupção mais despudorada, passando pelo exibicionismo e falta de carácter compulsivos do actual secretário-geral do Partido Socialista e primeiro ministro em funções, levaram-me a tomar uma decisão: ajudar o PS a expurgar tão depressa quanto possível do seu interior o cancro que ameaça lançá-lo num longo inverno de insignificância.

O caso Freeport pode ser a gota de água que faltava para apear um primeiro ministro inqualificável, que o país não merece como castigo, e de que o PS se tem que ver livre o mais depressa possível, antes que o império da mentira e da corrupção se instalem de vez no país, conduzindo-o inevitavelmente à ruína e a uma mais do que previsível perda de independência.

Eu suspeito, por tudo o que foi até agora publicado, que o senhor José Sócrates, além de ter contribuído decisivamente para um atropelo inqualificável do espírito legislativo que presidiu à delimitação geográfica da Zona de Protecção Especial do Estuário do Tejo, em nome da especulação imobiliária mais grosseira (como era patente então e hoje está demonstrado), participou directa ou indirectamente num negócio sujo de contrapartidas e luvas pela aprovação do dito Freeport. Eu suspeito, não acuso. Mas uma suspeita destas é insuportável, para mim, para um Estado de direito e para a democracia! Só não é, pelos vistos, para o compulsivo socratintas que nos governa!

O processo Freeport esteve parado desde que o senhor Sócrates foi ungido como futuro primeiro ministro de Portugal. A Justiça portuguesa, como é seu hábito antigo (sempre subserviente e disposta a colaborar com a mentira dos fortes), fechou o incidente a sete chaves. Esqueceram-se todos dum pormenor: os lesados — a família real inglesa e a Carlyle— pertencem à nata da pirataria mundial, e como tal nunca tolerariam ser comidos por parvos por uns piratinhas ignorantes de Miragaia, Setúbal ou Cascais! Foi isto, e apenas isto, que levou à vergonha de a Justiça portuguesa ter sido coagida a retomar um processo enterrado durante toda a actual legislatura.

É evidente que os ingleses não querem criar um incidente diplomático, expondo à opinião pública mundial o conteúdo do já célebre DVD, onde se ouvem declarações atestando que o dinheiro transferido pela Freeport Plc para paraísos fiscais se destinava a pagar vultuosas luvas a políticos e autarcas lusitanos. Na realidade, o que eles querem é que lhes devolvam 5 milhões de euros investidos num negócio furado e aldrabado. Mas será possível?

Acordei esta manhã com um pensamento sombrio: o decreto-lei aprovado no conselho de ministros de 21 de Janeiro deste ano, muito à pressa — diga-se de passagem—, sobre "medidas excepcionais de contratação pública" (1), tem um tecto máximo, por muitos considerado exagerado e inexplicável, mas que curiosamente daria para devolver as luvas a quem ficou sem elas! E se à pala das novas medidas excepcionais, houvesse maneira de devolver a massa aos ingleses — em fatias suaves saídas de adjudicações municipais fantasma sem quaisquer controlos públicos? Já vi pior! É seguramente uma mera coincidência. Mas lá que o fantasma conspirativo conseguiu agitar o meu sono, conseguiu!

Claro que este pesadelo não passa disso mesmo, de uma alucinação matinal. Se fosse mais do que isso, porém, teríamos todo o governo envolvido numa monstruosidade.


REFERÊNCIAS

NOTAS
  1. Decreto-Lei que estabelece medidas excepcionais de contratação pública, a vigorar em 2009 e 2010, destinadas à rápida execução dos projectos de investimento público considerados prioritários

    Este Decreto-Lei vem estabelecer medidas excepcionais de contratação pública que permitem tornar mais ágeis e céleres os procedimentos de formação de contratos de empreitada de obras públicas, de concessão de obras públicas, de locação ou aquisição de bens móveis e de aquisição de serviços, necessários para a concretização de medidas de investimento público nos domínios (i) da modernização do parque escolar; (ii) da promoção das energias renováveis, eficiência energética e redes de transporte de energia; (iii) da modernização da infra-estrutura tecnológica – Redes Banda Larga de Nova Geração; e (iv) da reabilitação urbana.

    Este regime excepcional irá vigorar transitoriamente, em 2009 e 2010, e abrange os procedimentos de formação dos contratos adoptados pelo Estado, pelas Regiões Autónomas ou pelos municípios.

    Prevê-se a redução global dos prazos dos procedimentos relativos a concursos limitados por prévia qualificação e a procedimentos de negociação, no estrito âmbito dos domínios atrás referidos, de 97 dias para 41 dias, ou de 90 dias para 36 dias quando o anúncio seja preparado e enviado por meios electrónicos.

    O procedimento de ajuste directo é aplicável apenas em 2009 e impõe-se, por forma a salvaguardar a concorrência, o convite a, pelo menos, três entidades distintas, sendo o mesmo circunscrito a contratos destinados:

    a) À modernização do parque escolar, para contratos de empreitada de obras públicas com valor até 5 150 000 euros e para contratos de aquisição ou locação de bens móveis ou de aquisição de serviços com valor até 206 000 euros;

    b) À melhoria da eficiência energética de edifícios públicos, para contratos de empreitada de obras públicas com valor até 2 000 000 euros e para contratos de aquisição ou locação de bens móveis ou de aquisição de serviços com valor até 206 000 euros.

    A urgência das medidas excepcionais previstas neste Decreto-Lei não dispensa o cumprimento das obrigações de transparência necessárias para conferir o adequado grau de publicidade aos contratos públicos a celebrar. Assim, prevê-se a publicitação obrigatória no portal de Internet dedicado aos contratos públicos, como condição da respectiva eficácia, de um conjunto de elementos referentes ao procedimento de ajuste directo, nomeadamente, a identificação do adjudicatário, das demais entidades convidadas a apresentar proposta, bem como do preço contratual.

OAM 521 23-01-2009 13:15

quinta-feira, janeiro 22, 2009

Portugal 76

Os coveiros da pátria
Estamos perante a ameaça de uma insolvência global, que atingirá fatalmente as economias mais endividadas, como a portuguesa.

S&P corta "rating" de Portugal
21-01-2009 (Jornal de Negócios) A Standard & Poor’s cortou hoje o "rating" da dívida pública da República Portuguesa, de AA- para A+, afirmando que as reformas estruturais delineadas pelo Governo são insuficientes para o país continuar a merecer a notação anterior.

E se Portugal, por incapacidade de mais e mais endividamento, um dia destes suspender os pagamentos devidos às instituições de crédito internacionais? Que sucederia? Voltaríamos ao escudo, ou simplesmente passaríamos a figurar num sub-agrupamento do Euro caracterizado por maiores dificuldades de acesso ao crédito internacional e juros bem mais elevados?
UK cannot take Iceland's soft option
21-01-2009 (Telegraph.co.uk) — Britain has foreign reserves of under $61bn dollars (£43.7bn), less than Malaysia or Thailand. The foreign liabilities of the UK banks are $4.4 trillion – or twice annual GDP – according to the Bank of England. The mismatch is perilous.

It is why sterling has crashed 10 cents from $1.49 to $1.39 against the dollar in two days. The markets have given their verdict on Gordon Brown's latest effort to "save the world".

Credit default swaps (CDS) measuring risk on British debt have reached an all-time high of 125 basis points, just below Portugal.

...

Standard & Poor's has quashed rumours that it will soon strip Britain of its AAA credit rating – an indignity averted even after the International Monetary Fund bail-out in 1976. But there was a sting yesterday as it responded to the Treasury plan for the banks. "Market confidence in the sector has eroded to such a degree that it is not clear whether these measures by themselves will bring about a material improvement," the IMF said. "As a result, full nationalisation of some banks remains a possibility in our view." — Ambrose Evans-Pritchard.

O actual governo, em particular José Sócrates e o seu ministro das finanças (o pior da Europa), não se cansam de mentir compulsivamente aos portugueses.

Quando em 2005 se explicava pacientemente neste blogue (1) que o aeroporto da Ota não passava de uma quimera arquitectada pela associação entre a indolente e corrupta burguesia burocrática que domina este país, e a família do Bloco Central; ou lançávamos avisos, em Março de 2006 (2), sobre a iminência de um colapso financeiro, fruto do pico petrolífero e de uma bolha especulativa global, as alegres araras da tríade neoliberal que sequestrou o PS martelavam em cada dia da sua incansável agenda de propaganda, a caminhada de Portugal para o pelotão da frente dos países desenvolvidos deste planeta (3).

Nem com os disparates recorrentes proferidos pela figurinha despachada pelo BES para o actual governo, o indescritível Manuel Pinho, a nossa desgraçada, falida e subserviente comunicação social, percebeu que era chegada a hora de desmontar as ilusões criadas e alimentadas incessantemente por um governo dirigido por uma personagem de opereta manifestamente mal formada e conhecida apenas por dois dos seus nomes próprios: José Sócrates.

Nem depois de aqui termos anunciado pela primeira vez que a nossa dívida externa ultrapassava os 200% do PIB, facto muito mais grave do que o défice orçamental de 3%, ou que em 2005 crescíamos apenas a 0,3% ao ano (4), estando por isso a nossa economia, de facto, estagnada, os economistas (exceptuando Medina Carreira) e os jornalistas especializados em temas económicos se decidiam a falar verdade.

Foi preciso ver cair o BCP, o BPN e o Banco Privado para que as campainhas começassem a tinir. Foi preciso ver a Caixa Geral de Depósitos passar pela vergonha de não conseguir a totalidade do empréstimo que pretendeu contrair no estrangeiro, para acordarmos para a dura realidade. Foi preciso ouvir Miguel Cadilhe denunciar num inquérito parlamentar a cumplicidade do Banco de Portugal no silenciamento do affair BPN/Sociedade Lusa de Negócios, para que todas as aves de rapina do Bloco Central tocassem a reunir, como se, agora mais do que nunca, a salvação da sua pele dependesse de uma solidariedade tipicamente mafiosa. Foi preciso regressar ao caso Freeport (5), desta vez sob a pressão impiedosa da pirata-mor inglesa e dona de alguns dos mais importantes off-shores do planeta, a rainha de Inglaterra, para que o céu da tríade de Macau começasse a cair em cima da maioria socialista, porventura de forma irremediavelmente fatal.

Manuela Ferreira Leite, ao apelidar José Sócrates de "coveiro da pátria", apesar da agressividade retórica, acabou por colocar o dedo na ferida. Numa ferida, porém, de que o seu querido PPD-PSD é cúmplice activo. O coveiro da pátria é todo o Bloco Central, e não apenas o PS, nem apenas o PPD/PSD.

Assim, quando Manuela Ferreira Leite anuncia o fim do TGV, rasgando alegremente acordos internacionais reiteradamente subscritos, mas não do novo aeroporto de Alcochete, nem das desnecessárias e criminosas barragens, nem do excesso de autoestradas anunciadas, temo bem que a sua filiação ao clube dos "coveiros da pátria" seja um caso mais sério do que parece.

A situação geral do país aproxima-se rapidamente dum ponto de ruptura. As causas do problema não são apenas endógenas, mas o endividamento galopante para que fomos levados por uma série de decisões estratégicas erradas, da responsabilidade do Bloco Central, contribuiu de modo decisivo para o colapso que ameaça lançar Portugal numa das piores crises económicas, socais e políticas da sua história.

O factor de aceleração, é certo, vem agora de fora. Tanto pior para nós!

O mundo caminha para uma crise de insolvência sem precedentes (6). Por outro lado, a travagem brutal da circulação monetária mundial tem um efeito semelhante ao de uma onda de proteccionismo (7). A verdade é que não há dinheiro para manter a economia mundial a funcionar com as assimetrias que são conhecidas, sobretudo porque não foi o dinheiro que a fez mover nas últimas três décadas, mas antes a dívida mundial! Uma descomunal dívida sistémica, em cima da qual foram sendo construídos casinos de bem estar ilusório, que agora começam a tombar sob o impacto de um imparável efeito de dominó.



NOTAS
  1. 02-07-2005 (O António Maria) — Mas poderá realmente a Portela manter-se por muito mais tempo onde está? Poderiam as pistas do Montijo e de Tires, e novas obras na Portela, configurar uma solução sustentável até 2020-2030? As opiniões dividem-se... e os estudos técnicos também. Segundo Rui Rodrigues, a queda da taxa de crescimento do número de voos e de passageiros, em consequência de novas e mais rápidas ligações ferroviárias entre Lisboa e Madrid (AV e VE), afastaria, pelo menos para já, a necessidade imperiosa de equacionar a construção de uma nova infraestrutura de raiz. O argumento parece razoável, e ainda mais se lhe acrescentarmos os efeitos expectáveis de uma alta contínua do preço do petróleo (praticamente inevitável no actual quadro mundial de aproximação do chamado Peak of Oil Production). Em todo o caso, se um dia tivermos que avançar para um novo aeroporto internacional que altere radicalmente o actual estado de coisas, então a solução mais conforme com a inadiável actualização das nossas prioridades estratégicas no novo contexto europeu estará seguramente ao Sul do Tejo (Rio Frio...) e não no beco da Ota. — in O Lobby da Ota e o velho eixo Norte-Sul.

  2. 02-03-2006 (O António Maria) Num cenário de catástrofe financeira mundial, é de prever a falência de centenas de bancos e sociedades de investimento, já para não falar da falência de algumas dezenas de Estados (congelamentos de salários e pensões de reforma, despedimentos nas Administrações Públicas, subidas vertiginosas de impostos, derivas nacionalistas, etc.) Se a crise vier a ocorrer, como se teme, não será fácil evitar o pânico. Mas se estivermos alerta, poderemos evitar o pior, e preparar-nos com coragem para uma longa e dolorosa metamorfose. — in Maomé e a próxima guerra nuclear.

  3. 05-08-2006 (O António Maria) — Segundo os valores estimados para 2005, dos 214 países considerados, mais de metade (110) crescia a valores do PIB entre 4% e 26,4%. Cresciam a 8% ao ano, ou mais, 24 destes países. A generalidade dos chamados países desenvolvidos crescia abaixo dos 4%. A União Europeia, por sua vez, crescia a uma média de 1,7% ao ano. Portugal, ocupando a posição 202 entre 214 países, crescia tão só a 0,30% ao ano...
    Dizer que este país cresce abaixo da média da União Europeia é, como se vê, uma verdade piedosa sobre a crise que efectivamente atravessa. Piores que os lusitanos apenas há 12 países: Itália, Tanzânia, Niue, Dominica, Monserrate, Saint Kitts and Nevis, Guiana, Iraque, Malawi, Seychelles, Maldivas, Zimbabwe. — in Os sete pecados mortais de um país.

  4. 27-08-2007 (O António Maria) — O que não deixa de ser assustador é o facto de os americanos terem conseguido exportar largas porções do seu crédito mal-parado para o resto do planeta e em particular para a Europa (razão pela qual a crise do subprime atingiu tão duramente a banca alemã e francesa). O que não deixa de ser caricato é que a tão propalada "mão invisível" do mercado se chame afinal BCE e Fed, e que venha aflita socorrer os especuladores, criando para eles taxas de juro especialmente favoráveis, enquanto mantem em alta as taxas dos juros hipotecários das famílias cada vez mais endividadas da América, da Europa e do resto do Mundo! — in O fim da confiança no dólar.

  5. Caso Freeport: polícia faz buscas a tio de Sócrates e ao advogado Vasco Vieira de Almeida 22.01.2009 - 14h28 Romana Borja-Santos (Público)

    O Departamento Central de Investigação e Acção Penal e a Polícia Judiciária realizaram hoje, no âmbito do caso Freeport, buscas na casa e empresas de Júlio Carvalho Monteiro, empresário e tio materno de José Sócrates, e no escritório de advogados de Vasco Vieira de Almeida, noticia a edição online do semanário “Sol”. De acordo com o jornal, em causa estão suspeitas de corrupção no processo que permitiu a construção do “outlet”, em Alcochete, e cujo inquérito criminal começou em Fevereiro de 2005.

  6. Phase IV of the systemic crisis: The sequence of global insolvency begins
    GEAB N°31 (January 16, 2009)

    In 2007, LEAP/E2020 announced that US banks and consumers were both insolvent. More than a year ago, our team estimated that USD 10,000-billion worth in « ghost-assets » would vanish in the crisis. Both announcements came in complete opposition with the common opinion of that time; however they proved perfectly justified in the months after. In the same line, LEAP/E2020 today estimates that a new sequence of the fourth phase (so-called « decanting phase ») of the unfolding global systemic crisis has began: the sequence of global insolvency.

    (...)

    Contrary to what political leaders and their central bankers seem to believe worldwide, the problem of liquidity that they are striving to solve by means of historic interest rate drops and unlimited money creation, is not a cause but a consequence of the current crisis. It is in fact a problem of solvency which is digging « black holes » where liquidities disappear, whether we call these holes bank balance sheets, household debt, corporate bankruptcies or public deficits. In consideration of the fact that a conservative estimation of these “ghost-assets” reaches already USD 30,000-billion, our team considers that the world is now facing a situation of general insolvency affecting in the first place the most indebted countries and organizations (public or private) and/or those depending most on financial services.

    (...)

    How to make the difference between a crisis of solvency and a crisis of liquidity? The difference between a crisis of liquidity and a crisis of solvency can appear rather technical and in the end not very decisive concerning the evolution of the current crisis. However it is not a simple academic dispute; indeed, according to the answer to that question, the actions taken by governments and central banks will either be useful or utterly useless, if not dangerous. A simple example can help to understand what is at stake. If you meet a temporary problem of cash, and if your bank or your family agrees to lend you the money you need to cross over that difficult path, their effort is mutually beneficial. Indeed, you can resume your activity, you can pay your employees and yourself, your bank or your family get their money back (with an interest in the case of the bank), and the economy in general benefited from a positive contribution. But if your problem is not due to a question of cash-flow but to the fact that your activity has ceased to be profitable and will never be again because of new economic conditions, then the effort made by your bank or family becomes all the more dangerous that it was substantial. Indeed, in all likelihood, your first call for funds will soon be followed by more calls, always matched with promises (honest ones we suppose) that difficult times are about to be over. The more your bank or your family has lent you (and therefore the more it would lose if your activity is stopped) the more willing they will be to continue helping you. However if the situation worsens, and it will if it comes from a problem of profitability, there is a moment when the limits are reached: on the one hand, your bank will decide that there is more to lose in keeping supporting you than in letting you down; on the other hand, your family ends up with no money left because you have siphoned its entire savings. Then it appears clearly to everyone not only that you are insolvent or bankrupt, but that you dragged down with you your family or your bank4. You have thus dealt a severe blow on the economy around you, including on your close relatives5. It is important to highlight the fact that all this could take place in all sincerity because you were not aware of the impact on your activity of a sudden change in the economic context disrupting the conditions of your profitability.

    According to LEAP/E2020, this simple example illustrates perfectly the situation prevailing today throughout the entire global financial system, a large part of the world economy and all the economic players (including States) who based their growth on debt in the past years. The crisis translates and magnifies a problem of global insolvency. The world is becoming aware of the fact that it is a lot poorer than it used to believe in the last decade. And 2009 is the year when all the economic players must try to assess their real level of solvency, knowing that many assets are still losing value. Moreover a growing number of investors no longer trust the traditional instruments and indicators of measurement. Quoting agencies have lost all credibility. The US Dollar is just a fiction of international monetary unit and many countries are striving to get away from it as quickly as possible. Thus, quite rightly, the entire financial sphere is suspected of being a giant black hole. Concerning companies, no one can tell if their order books are reliable, because in every sector customers cancel their orders, or just stop buying, even when prices are discounted, as indicated by dropping retail sales in the past few weeks. Concerning States (and municipalities), slumping fiscal revenues are likely to result in even higher deficits and then bankruptcies. As a matter of fact, Russian billionaires, Gulf oilmonarchies, Chinese commercial Eldorados, all the « golden-egg geese » of companies and financial institutions of the planet (namely European, Japanese and North-American ones) turn out to be insolvent or hardly solvent. The question of the solvency of the US federal State and federated states (as well as of Russia or the United-Kingdom) is beginning to be asked by some big international media; as well as the question of the solvency of large capital-based pension funds, major players in this past twenty years’ globalised economy.

    According to LEAP/E2020, the trend is clear: the sequence that has begun this year is a sequence of global insolvency.

  7. Where did all the money disappear? Liquid fantasies
    by Satyajit Das, December 15, 2008 (Prudent Bear)

    In recent years, money was cheap and other assets were expensive. But as each of the global economy’s credit creation engines breaks down and systemic leverage declines, money becomes scarce and expensive, triggering adjustments that are reversing the run-up in asset prices.

    In this current financial crisis, the quantum of available capital, the munificent resources of central banks and sovereign wealth funds, and the globalization of capital flows may be some of the accepted "facts" that are revealed to be grand illusions. As Mark Twain once advised: "Don’t part with you illusions. When they are gone, you may still exist, but you have ceased to live."

    ...

    It is not easy to fix the problem. Redirection of capital held in central banks and sovereign wealth funds to domestic economies affects the global capital flows needed to finance the debtor countries, such as the United States, and recapitalize the banking system. Maintenance of the cross border capital flows to finance the debtor countries budget and trade deficits slows down growth in emerging countries and also perpetuates the imbalances.

    Trade has become subordinate to and the handmaiden of capital flows. As capital flows slow down, global trade follows. Indirectly, the contraction of cross border capital flows and credit acts as a barrier to trade. In each case, deleveraging is the end result.

    This opens the way to "capital protectionism." Foreign investors may change their focus and reduce their willingness to finance the United States. Wen Jiabao, the Chinese prime minister, indicated that China’s "greatest contribution to the world" would be to keep its own economy running smoothly. This may signal a shift whereby China uses its savings to invest in the domestic economy rather than to finance U.S. needs.

    China and other emerging countries with large reserves were motivated to build surpluses in response to the Asian crisis of 1997-98. Reserves were seen as protection against the destabilizing volatility of short-term capital flows. The strategy has proved to be flawed.

    It promoted a global economy based on "vendor financing" by the exporting nations. The strategy also exposed the emerging countries to the currency and credit risk of the investments made with the reserves. Significant shifts in economic strategy are likely. Zhou Xiaochuan, governor of the Chinese central bank, commented: "Over-consumption and a high reliance on credit is the cause of the U.S. financial crisis. As the largest and most important economy in the world, the U.S. should take the initiative to adjust its policies, raise its savings ratio appropriately and reduce its trade and fiscal deficits."

    More ominously, Chinese President Hu Jintao recently noted: "From a long-term perspective, it is necessary to change those models of economic growth that are not sustainable and to address the underlying problems in member economies."

    ...

    The slowdown in the credit and liquidity processes outlined may have long-term effects on global trade flows. The volume of world traded, according to the World Bank, may contract by 2.1% in 2009. This contrasts with growth of 9.8 % 2006 and an estimated 6.2 % in 2008. The expected drop for 2009 is more severe than the last major contraction in trade volume of 1.9 % in 1975.

    ...

    The global liquidity process was multifaceted. There was traditional domestic credit creation system built on the fractional reserve system that underpins banking. The leverage in the system was pushed to extreme levels. Losses and renewed regulation are forcing this system of credit creation to shut down.

    The foreign exchange reserve system was another part of the global credit process. Dollar liquidity recirculation has also slowed as a result of reduced trade flows (driven by declines in U.S. consumption and imports), losses on dollar investments, domestic claims on reserves and the inability to readily mobilize large amount of reserves.

    Another credit process − the export of yen savings via the yen carry trade and acquisition of foreign assets by Japanese investors − has also slowed.

    ...

    Markets placed great faith in the volume of money available to support asset prices and assist in alleviating shortages of liquidity. The perceived abundance of liquidity was, in reality, merely an illusion created by high levels of debt and leverage as well as the structure of global capital flows. As the financial system deleverages, it is becoming clear, unsurprisingly, that available capital is more limited than previously estimated.

OAM 520 22-01-2009 18:05 (última actualização: 23-01-2009 12:00)

terça-feira, janeiro 20, 2009

Crise Global 57

Uma crise sistémica sem paralelo
Redefinir os critérios de riqueza, crescimento e bem-estar


Joseph Stiglitz : "Nous n'avons pas de système économique de rechange"

LEMONDE.FR | 19.01.09 | 09h29 • Mis à jour le 19.01.09 | 14h30

"Ce que nous vivons n'est pas seulement une crise du système financier, mais une crise de détérioration des richesses en général." Interrogé dans "Le Monde des livres" sur LCI, vendredi 16 janvier, à l'occasion de la réédition de son livre Un autre monde : contre le fanatisme de marché (Livre de poche, 2008), l'économiste américain Joseph E. Stiglitz, Prix Nobel d'économie (2001), professeur à l'université Columbia, a dénoncé l'hypocrisie du système financier américain qui, appuyé sur une dérégulation maximale des flux financiers, déresponsabilise les acteurs économiques, déséquilibre les rapports entre l'Etat et le secteur privé, et contribue à appauvrir plus qu'à enrichir les pays où règne le fanatisme du marché. D'où, selon lui, la nécessité d'inventer un système fondé sur de nouvelles valeurs.


OAM 519 20-01-2009 00:36

segunda-feira, janeiro 19, 2009

Portugal 75

Estado português
capturado pelos piratas do Bloco Central


O estudo do economista Eugénio Rosa que acabo de ler, e que vivamente recomendo, revela bem a dimensão do processo de destruição do actual regime democrático por efeito da sucção vampiresca da riqueza pública levada a cabo pela indolente burguesia burocrática dominante. O incrível é que esta sangria e destruição tem sido diligentemente assistida pelos piratas do Bloco Central — essa prole de sanguessugas engravatados e analfabetos funcionais de que as nossas desmioladas televisões tanto gosta.

Um dia teremos que enviar toda esta canalha para a prisão!

Estudo de Eugénio Rosa
Governo utiliza empresas públicas para reduzir o défice orçamental, endividando-as e arrastando-as para a situação de falência técnica

RESUMO DESTE ESTUDO

Os principais jornais diários portugueses divulgaram recentemente em grandes títulos, alguns deles na 1ª página, que as dividas das empresas públicas atingiam 17.500 milhões de euros. E, como é habitual em muitos media portugueses, não explicaram por que razão isso acontecia, podendo criar nos leitores a falsa ideia que isso resultava de serem empresas públicas. Está-se assim perante aquilo a que Phippe Breton designa por "enquadramento manipulatório", pois uma analise objectiva das causas de tais dividas levam a conclusões bem diferentes.

Existem impostos cuja cobrança se justifica porque são necessários precisamente para financiar as infra-estruturas dos transportes. São nomeadamente o Imposto Automóvel (IA), agora designado Imposto sobre os Veículos (ISV), e o Imposto sobre Produtos Petrolíferos (ISP). No período 2005-2009, as receitas obtidas pelo Estado, através do IA/ISV e do ISP, deverão atingir 20.051,6 milhões de euros de acordo com os dados dos Relatórios dos OE 2005-2009.

Apesar de arrecadar mais de 20.000 milhões de euros de receitas com estes dois impostos, as dotações orçamentais atribuídas por este governo às empresas públicas de transportes para o financiamento de infra-estruturas e aquisição de material circulante têm sido manifestamente insuficientes. Entre 2005 e 2009. as transferências do Orçamento do Estado para as empresas públicas de transportes (REFER, CP, Carris, Metro, etc), para financiamento de infra-estruturas e aquisição de material circulante, atingirão apenas 2.289,5 milhões de euros. Como consequência, as empresas públicas de transportes serão obrigadas a se endividarem em mais 3.773 milhões de euros (mais 63% do que o transferido do Orçamento do Estado), no período 2005-2009, só para poderem cumprir o programa de investimentos constante do PIDDAC, ou seja, o programa mais importante de investimentos do Estado.

Como consequência da insuficiência das transferências do Orçamento do Estado, as dividas aos bancos apenas de quatro empresas públicas de transportes (REFER, CP, Carris e Metro de Lisboa) atingiam, já no fim de 2007, 7.983,2 milhões de euros, e os juros pagos por estas empresas totalizaram, só em 2007, 444,7 milhões de euros. Estes elevados montantes de juros contribuíram para que estas quatro empresas tivessem tido, em 2007, 532 milhões de euros de prejuízos. Esta situação provocou que estas quatro empresas públicas apresentassem em 2007 "Situações Liquidas" e "Capitais Próprios" negativos, isto é, o seu "Activo" (aquilo que possuíam mais o que tinham a receber) já não era suficiente para pagar o seu "Passivo" (tudo o que deviam), pois o seu "Passivo"já era superior ao seu "Activo" em 3.272,5 milhões de euros, , o que significava que, já em 2007, aquelas quatro empresas estivessem tecnicamente falidas. É arrastando as empresas públicas de transportes para a situação de falência técnica, que este governo tem conseguido também reduzir o défice orçamental.


OAM 518 19-01-2009 19:18

Portugal 74

Investimento público: razão, desperdício e corrupção

O artigo que a seguir transcrevo na íntegra é um excelente contributo para a discussão sobre as prioridades que deverão nortear o urgente plano de combate à catastrófica crise que aí vem. Dada a interdependência cada vez mais forte entre a economia portuguesa e as economias espanhola, alemã, e em geral da União Europeia, todos os investimentos que ajudem ao aumento das sinergias entre o nosso país e o resto da Europa serão bons investimentos, ainda que tragam um agravamento temporário da dívida pública. A rede ferroviária ibérica e europeia de Alta Velocidade/Velocidade Elevada, a aposta corajosa no transporte público nas duas grandes áreas metropolitanas do país, a recuperação dos centros urbanos de Lisboa e Porto e a eficiência energética dos edifícios públicos, são seguramente as prioridades certas. Concedo que as autoestradas de Bragança e de Beja sejam investimentos aceitáveis, apesar da conjuntura. Já no que respeita ao resto das autoestradas previstas, barragens e novo aeroporto de Lisboa, o mínimo que se pode dizer, é que devem esperar por melhores dias.

OS BONS INVESTIMENTOS PÚBLICOS E SUAS CONSEQUÊNCIAS

12-01-2009, Rui Rodrigues (Público - Carga & Transportes) — Na imprensa, sempre que se fala de investimentos em obras públicas, geralmente só são discutidos todos aqueles que vão ser realizados no futuro. Seria muito interessante analisar os que foram executados no passado e observar os verdadeiros resultados, tendo em conta o seu custo-benefício. A introdução do comboio na Ponte 25 de Abril e o Metro do Porto foram, sem dúvida, dois dos melhores projectos de mobilidade que foram levados a efeito nos últimos anos, em Portugal. Estes dois exemplos demonstram que as populações aderem ao transporte público, sempre que estes correspondem aos seus interesses.

O tráfego rodoviário, na Ponte 25 de Abril, praticamente estagnou, nos últimos cinco anos. Os valores médios anuais, considerando a soma dos dois sentidos, foram os seguintes: 155 mil veículos no ano de 2004, 156 mil em 2005, 155 mil em 2006, 155 mil em 2007 e por fim 153 mil em 2008.

Ao contrário, o tráfego ferroviário na mesma ponte quase duplicou. Em 1999, entrou em funcionamento o comboio na Ponte 25 de Abril que permitiu criar uma nova ligação ferroviária entre as duas margens do rio Tejo, efectuando, actualmente, a conexão desde Setúbal (margem Sul da região de Lisboa) até Areeiro (margem Norte), tendo o tráfego quase duplicado de 11,6 milhões de passageiros, no ano 2000, para 21,4 milhões em 2006 (mais 84,4%). Significa isto que, se não existisse esta nova ligação, o congestionamento rodoviário, na Ponte 25 de Abril, teria sido bem pior. Este é um exemplo de como o investimento no transporte publico melhorou a situação.

Convém recordar que, quando foi inaugurada a nova Ponte Vasco da Gama, passado um ano, o tráfego na Ponte 25 de Abril teve um aumento apreciável. Ou seja, a nova travessia rodoviária não melhorou o congestionamento na antiga ponte.

Na região do Porto, antes do Metro existir, cerca de 61% das pessoas circulavam de automóvel, 30% de autocarro e 9 % de comboio. A cidade tem graves problemas de mobilidade e, com o funcionamento da nova rede do Metro, certamente se verificará uma alteração substancial no valor das percentagens referidas.

Quando estiver terminada a 1ª fase do Metro, são esperados 82,5 milhões de passageiros, cerca de 226 mil por dia. O número de clientes subiu de 9,8 milhões em 2004 para 38,6 milhões em 2006 (mais 293,8%), tendo uma média de 180 mil clientes em cada dia útil.

Tendo em conta o número de passageiros esperados diariamente, bem como a poupança nos respectivos tempos de viagem, fácil será concluir sobre o enorme impacte na qualidade de vida dos seus cidadãos e economia da Grande Área Metropolitana do Porto, que se tornará mais competitiva e atraente, a médio e longo prazo, permitindo que outras actividades económicas se realizem de forma mais eficaz e rentável.


VANTAGENS DO TRANSPORTE PÚBLICO

A cidade americana de Houston é uma referência, como um exemplo a não seguir, por ter graves problemas de mobilidade, e está a pagar muito caro por ter baseado a sua circulação apenas no automóvel.

Para se ter uma ideia da gravidade da situação, a União Internacional de Transporte Público (UITP) dá como exemplo a comparação entre as cidades de Singapura e Houston, que possuem aproximadamente a mesma população e rendimento per capita. Por ano, Singapura gasta menos 10 mil milhões de dólares para transportar os seus habitantes que a cidade de Houston, o que representa cerca de menos de 3000 dólares por habitante.

Esta diferença, em parte, também se explica devido à diferença da densidade populacional mas, mais importante, deve-se ao facto de que em Singapura 52,75% dos seus habitantes utilizam o transporte público, enquanto que, em Houston, 95,5 %, utilizam o veículo privado.

Na Europa, o transporte público consome quatro vezes menos energia que o transporte individual e, no Japão, esse valor é 10 vezes inferior. Por outro lado, segundo estudos realizados pela APTA (American Public Transport Association) o transporte público cria duas a três vezes mais postos de trabalho que o privado e é muito mais eficaz porque uma linha de Metro ou comboio suburbano pode transportar mais de 50 mil passageiros / hora.

No ano de 2006, foi divulgado um relatório do Eurostat sobre o número de automóveis, por habitante, na União Europeia (UE). Ficou a saber-se que, entre 1990 e 2004, houve um aumento de 38 por cento no número de automóveis no conjunto dos 25 países, atingindo a proporção de um carro para cada duas pessoas. Quanto a Portugal, as tabelas mostram que, em 1990, existiam 258 carros por cada mil habitantes e, passados 14 anos, esse número era de 572. Na UE, Portugal está agora na 3ª posição, tendo à sua frente a Itália e o Luxemburgo. Se considerarmos os países que faziam parte da UE desde 1990, Portugal teve o maior crescimento no número de viaturas pois o aumento foi de 135%.

Além deste forte aumento, serão investidos, nos próximos anos, mais de 15 mil milhões de Euros nas SCUTS, o que representa um enorme esforço financeiro. O modo rodoviário foi, sem dúvida, a grande aposta dos sucessivos Governos nos últimos vinte anos. Por outro lado, verificou-se que, nas mais importantes cidades do nosso País, a maioria dos cidadãos se desloca em viatura particular, sendo Lisboa um dos casos mais graves porque, em média, cada automóvel transporta só 1,2 passageiros.

Nas famílias portuguesas, os gastos em combustíveis atingem entre 76 a 125 Euros por mês, ou seja, entre 916 a 1500 Euros, por ano, o que representa uma percentagem importante do orçamento familiar, tendo em conta o rendimento médio.

Concluiu-se que, num país como o nosso, com poucos recursos económicos, dirigiu-se o maior esforço para o modo de transporte mais caro, mais poluente e que maior número de mortes, feridos e prejuízos provoca na sociedade.


OAM 517 19-01-2009 12:54

Crise Global 56

Espanha: a caminho da depressão?
La industria ingresa más de 400 millones por la venta masiva de CO2

Las empresas comercializan los derechos de emisión que recibieron gratis del Gobierno - El sistema incentiva los paros en las fábricas para obtener liquidez

RAFAEL MÉNDEZ - Madrid - 19/01/2009 (El País) — Qué ironía. Durante años la industria ha presionado contra la limitación de emisiones de dióxido de carbono que imponía el Protocolo de Kioto. Sin embargo, al cumplirse el primer año de entrada en vigor del protocolo, la industria pesada, especialmente la ligada al sector de la construcción (azulejeras, ladrilleras, cementeras...), ha vendido los derechos de emisión de entre 20 y 25 millones de toneladas, con lo que han ingresado entre 400 y 500 millones de euros, según la estimación de Ismael Romeo, director general de Sendeco2, la bolsa española de CO2.

Outros dados reveladores (El País, 17-01-2008 p.15):
  • pior recessão dos últimos 50 anos
  • desemprego: 2008 = 11,1%; 2009 = 15,9%; 2010 = 15,7%; 2011 = 14,9%
  • PIB: 2008 = 1,2%; 2009 = -1,6%; 2010 = 1,2%; 2011 = 2,6%
  • Défice público: 2009 = -5,8%; 2010 = -4,8%; 2010 = -4,8%; 2011 = -3,9%
  • redução do tráfego TIR = 30%
  • redução da produção industrial em Novembro 2008 (face a período homólogo de 2007) = 15%
  • preço da tonelada de CO2 baixou de 29 para 12 euros
  • empresas industriais vendem mais de 20 milhões de toneladas de CO2
  • plano de estímulo (plurianual): 90 mil milhões de euros
É caso para perguntar o que pensam os portugueses fazer? A discussão patética entre o governo Sócrates e a desmiolada Oposição parlamentar augura o pior! Onde está o plano de emergência até 2011? Onde ?!

A declaração da Manuela Ferreira Leite (e de mais alguns economistas ignorantes e preguiçosos) sobre a rede de Alta Velocidade é todo um tratado de estupidez política e submissão à vertente mais bronca e corrupta do Bloco Central do Betão. No fundo, a dona de casa do PSD está simplesmente à mercê do homem da mala e dos fundos negros das construtoras. Foi chão que deu uvas!


OAM 516 19-01-2009 12:19

sexta-feira, janeiro 16, 2009

Alta Velocidade 3

Ó Manuela, que desgraça!
O Bloco Central do Betão esperneia pelos terrenos da Portela e por cidades aeroportuárias

Projecto do TGV é campo de batalha entre PSD de Ferreira Leite e Governo

16-01-2009 (RTP) — Os ecos da entrevista de Manuela Ferreira Leite à RTP assumiram esta sexta-feira a forma de um duelo político entre a direcção social-democrata e o ministro das Obras Públicas, a propósito da oportunidade do projecto da rede ferroviária de alta velocidade. O PSD de Ferreira Leite promete “riscar” o TGV do mapa se vencer as legislativas, ao que Mário Lino responde com acusações de “falta de credibilidade” e “embuste”.

O governo já percebeu que a conversa dos aeroportos, TGVs e novas pontes sobre o Tejo foi chão que deu uvas e vai precisar de uma pausa para reflexão. Este cesto de fruta só voltará a estar acessível depois do ciclo eleitoral de 2009 — avaliados os estragos da crise em curso, e a nova configuração político-partidária emergente do naufrágio à vista do Bloco Central — assim faça Cavaco Silva o que tem que fazer, sob pela de, não o fazendo, acompanhar o dito bloco no afundamento geral do actual regime político.

A prova de que o PS já percebeu a situação é que nada de substancial incluiu sobre estes três dossiers no Orçamento de Estado de 2009 — com a possível excepção da anunciada privatização da ANA e venda a patacos dos terrenos da Portela a um sindicato de empresários inúteis, incapazes de vencer um único concurso internacional (nem que seja na Bulgária), ou de produzir qualquer coisa de boa para o país.

Este exército de lapas, unido pela sua congénita dependência do Estado e pela corrupção, apesar de ter estuporado meio Portugal, insiste em continuar a esburacar o país com as suas retro-escavadoras e orçamentos fraudulentos até que Portugal desapareça literalmente do mapa! A explicação é simples: estão endividados até ao tutano, tiveram mais olhos do que barriga, fartaram-se de comprar tudo e todos com dinheiro emprestado que agora não podem pagar, estão apavorados com a perspectiva mais do que certa das falência que aí vêm — em suma, imagino-os aos gritos, entupindo os telemóveis de José Sócrates, Manuela Ferreira Leite e Aníbal Cavaco Silva com gemidos do estilo:

— Mais obras!
— Mais concursos martelados!
— Mais trabalhos a mais!
— Mais avales!
— Mais dívida!
— Mais dívida infinita, por favor! — imploram perante um poder político cada vez mais borrado de medo.

Ora como toda a gente sabe, a extensão da rede de Alta Velocidade e Velocidade Elevada da Europa/Espanha até Portugal —apesar da sua óbvia importância estratégica e sustentabilidade a médio-longo prazo— não alimenta os Ferraris, os Jaguares, os Bentleys, os Porche Cayaenne e os Aston Martin dos cérebros altamente evoluídos da Mota-Engil, da Pedro Duarte, da Brisa e da vasta rede de concessionários da nossa mentalmente atrasada burguesia palaciana. Estas mioleiras não produzem aço. Não fabricam comboios. Nem sequer sistemas de sinalização e gestão avançada de tráfego ferroviário sabem fazer. Querem pois lá saber do TGV! Mesmo que este possa aproximar portugueses e produtos portugueses do resto da Europa, a velocidades e fretes muito mais competitivos, com ganhos de contexto evidentes, diminuindo substancialmente a nossa pegada ecológica, a intensidade energética da nossa economia, a dívida externa (pela óbvia diminuição de importações petrolíferas) e a propalada, embora completamente falsa, saturação dos nossos principais aeroportos. Não, o que esta gajada quer é mesmo especular com os terrenos da Portela e de Rio Frio, fazer buracos, aldrabar o betão, e construir aeroportos desnecessários, para logo erguer a Babilónia do Alto da Portela, com um jardinzinho no meio, cheio de cocó de cão, que António Costa inaugurará alegremente acompanhado pelas luminárias da Ordem dos Arquitectos. A Nova Moscavide (vulgo Zona Expo) está no fim. Que bom seria mover o parque de máquinas o mais depressa possível para a Portela!

Aeroportos e cidades aeroportuárias, especialmente se forem projectadas pelo genial criador do aeromoscas de Beja — o famoso Augusto Mateus, especialista em exportações de peixe congelado alentejano — é a quinta essência do pensamento político de Manuela Ferreira Leite (certamente inspirado pelo homem da mala Arnaut) e de José Sócrates. Ambos querem afinal o mesmo. A diferença de opiniões resulta apenas de um pormenor: José Sócrates comprometeu a palavra de Portugal relativamente à rede de bitola europeia e velocidade elevada/alta em sucessivas cimeiras ibéricas!

A ave rara da economia portuguesa chamada Augusto Mateus tem a extraordinária peculiaridade criativa de inventar nado-mortos como ninguém. Ora de nado-mortos (conhecem a estação ferroviária de Castanheira do Ribatejo?) é que a produtiva indústria betoneira nacional precisa, para poder continuar a esburacar as montanhas, planícies e rios do país. Em vez de uma solução simples de aproveitamento do fenómeno Low Cost —que teria sido a adaptação do aeroporto do Montijo às companhias aéreas de baixo custo, atraindo-as em força—, acompanhada de uma modernização com pés e cabeça da Portela (prolongamento das pistas, extensão do taxiway, colocação de mangas, ocupação da placa de Figo Maduro, substituição dos incompetentes que há anos malbaratam a principal porta de entrada no país com um serviço indigno de qualquer país europeu), o dromedário das Obras Públicas, mais a amazona que exponencialmente o acompanha na asneira, tudo têm feito para servir os superiores interesses no Bloco Central do Betão e rebentar com a possibilidade de termos uma política de transportes racional e adaptada às necessidades do país.

Manuela Ferreira Leite está pelos vistos disposta a rebentar com a Portela, assinando de cruz a futura privatização da ANA. O pacto do Bloco Central está pois assinado por baixo da mesa. O folclore da polémica não passa disso mesmo; de um folclore mediático para esconder a corrupção que prossegue ao mais alto nível!

Nota final: João Cravinho continua impávido na sua senda obtusa pela única ligação de Alta Velocidade económica e politicamente insustentável no médio prazo, e que os portugueses manifestamente não querem porque não poderão pagá-la: a linha AV Porto-Lisboa. Basta meditar no seguinte facto: o que mais cresce na ligação ferroviária Lisboa-Braga, não é o Alfa, mas sim o Intercidades. Pelo contrário, as ligações transversais do país à Europa, a começar pela Espanha, mesmo se servem os desígnios estratégicos de Madrid, não deixam de servir ainda melhor os portugueses! As únicas obras públicas de grande envergadura de que Portugal precisa urgentemente são precisamente as ligações ferroviárias em bitola europeia às Espanhas e às Europas, e a criação dum fortíssimo cluster de indústrias associadas ao mar, começando por definir uma política portuária racional, ambiciosa e desapaixonada. Tudo o resto —barragens fraudulentas, aeroportos intercontinentais, mais auto-estradas— não passa de um mau serviço ao país e da prova provada de que a burguesia burocrática que domina Portugal ainda não encontrou um político à altura, capaz de a pôr a trabalhar e nos eixos.

OAM 515 16-01-2009 18:38

Crise Global 55

Israel: um estado-hidra

O presidente da Assembleia-Geral da ONU acusa Israel de genocídio, enquanto o quase imbecil secretário-geral da mesma organização permanece nas suas inúteis e hipócritas ladainhas protocolares.

Sejam quais forem os nossos preconceitos sobre este conflito, o mais provável é estarmos mal informados sobre as suas origens e significado, e sofrermos de fortes inclinações para tolerar os crimes de guerra de Israel, submetidos que somos diariamente à propaganda pró-sionista que domina boa parte da desgraçada imprensa escrita e audiovisual portuguesa. Outra circunstância do condicionamento psicológico das nossas mentes distraídas é a chantagem emocional de que continuamos a ser objecto em torno do holocausto. O sionismo alimenta-se das vítimas do holocausto nazi como se de um maná se tratasse para a sua causa política. Ora isto sim, é um desrespeito intolerável pelas vitimas do anti-semitismo genocida do III Reich!

Não houve um holocausto, houve vários, durante a Segunda Guerra Mundial. E o ponto é este: nenhum holocausto passado autoriza os judeus de hoje a infligirem outro holocausto, seja a quem for!

O que Israel pretende e tem feito tudo para conseguir, é expulsar todos os árabes e filisteus da Palestina, transformando esta terra historicamente multi-étnica e multi-religiosa num bunker judeu governado por uma casta de fundamentalistas do judaísmo (os sionistas), cuja força advém não apenas do poderosamente armado e termonuclear Estado de Israel, mas sobretudo do verdadeiro estado-hidra em que se transformou o sionismo mundial, com particulares ramificações nos Estados Unidos e na Europa — mas já não na Rússia, nem na Ásia.

Todas as ofensivas terroristas do Estado de Israel (ditas militares) visam, em primeiro lugar, as populações civis, e só depois a desarticulação física (aliás impossível) dos povos em armas que pretende expulsar da Palestina. Gaza encontra-se submetida a um cerco medieval e a uma invasão pelo terror das bombas (nomeadamente de fragmentação!) em larga escala, completamente ilegal à luz das convenções modernas sobre a guerra. Esta barbarização da violência de Estado é um retrocesso civilizacional muito grave, e augura o pior. Em particular porque Israel não está a ganhar esta guerra, mas a perdê-la a uma velocidade só aparentemente invisível.

A Europa, na sua submissão canina aos falcões de Washington (para que muito tem contribuido o burro lusitano, José Manuel Durão Barroso), acabará por pagar um preço bem alto pela sua falta de estratégia, oportunismo e cobardia.

Na semana em que uma qualquer tenaz do petróleo ou do gás natural apertar a sério a Babélia europeia, saberemos então o preço do nosso desconhecimento sobre as causas das coisas e distracção face ao comportamento dos políticos que elegemos sem nada lhes perguntar, nem exigir. Os Estados Unidos estão a caminho de uma nova era de isolamento defensivo, pelo que deixarão em breve de servir de ama-seca dos europeus. Será o fim da omni-NATO sonhada pelos estrategas do New American Century, e até do apoio sem limites ao terrorismo de Estado israelita. O continente americano e os mares adjacentes serão, a partir de agora, a prioridade absoluta de Washington. E a Eurásia, um sonho... russo, sobre o qual Putin y Hu Jintao já celebraram discretamente os necessários acordos!

A completa imbecilidade política da Europa de Blair e Durão Barroso face ao seu mais importante vizinho estratégico, a Rússia, em matérias tão cruciais quanto a independência forçada do estado falhado do Cosovo, o apoio às operações da CIA na Georgia, que conduziram à guerra com a Rússia, a autorização de colocação de radares e mísseis americanos nas fronteiras russas, etc., vai começar a ser paga com juros. O garrote do gás, que prossegue, é uma amostra do que virá. Imagine-se o humor negro da situação quando um Irão provocado e uma OPEP mais radicalizada pelo desespero mundial em volta da escassez petrolífera, optarem por mexer também nas torneiras do gás argelino, ou impuserem uma cartelização feroz dos preços do crude no limiar, por exemplo, dos 100 euros. Que fará a Europa, lá para 2012, sujeita então aos perigos inimagináveis de uma hiperinflação, sobretudo depois de desmamada por uma América demasiado aflita com a sua própria insolvência económico-financeira? Vamos exibir o comprimento dos nossos pirilaus atómicos? Perante quem? A Rússia? Parece-me que o problema está bem exposto, não?


Referências
Immanuel Wallerstein, "Chronicle of a Suicide Foretold: The Case of Israel"


Última hora
: O Qatar, detentor das terceiras maiores reservas mundiais de gás natural, depois da Rússia e do Irão, anunciou o corte de relações com Israel, na sequência da agressão criminosa deste país à Faixa de Gaza. Sarkozy e Brown dizem que querem ampliar o Conselho de Segurança da ONU. Faltam-lhes, porém, os dentes para fazerem de anfitriões!

Qatar, Mauritania cut Israel ties

16-01-2009 (Aljazeera) — Qatar and Mauritania have suspended economic and political ties with Israel in protest against the war in Gaza, Al Jazeera has learned.

The move announced on Friday followed calls by Bashar al-Assad, the Syrian president, and Khaled Meshaal, the exiled leader of Hamas, for all Arab nations to cut ties with Israel.

Addressing leaders at an emergency Arab summit in Doha, the Qatari capital, al-Assad declared that the Arab initiative for peace with Israel was now "dead".

He said Arab countries should cut "all direct and indirect" ties with Israel in protest against its offensive in Gaza.

OAM 514 16-01-2009 00:20 (última actualização: 16-01-2009 20:21)

quinta-feira, janeiro 15, 2009

Portugal 73

O sucessor de Sócrates

O PS precisa, como de pão para a boca, dum novo partido à sua esquerda. Por que espera para dar todo o gás a Manuel Alegre?

Lisboa, 04 Jan (Expresso/ Lusa) - O presidente da Câmara de Lisboa, António Costa, vai coordenar a moção de José Sócrates ao próximo congresso do PS, liderando uma equipa que se define como "força de unidade" na "esquerda democrática" e "preparada para governar".

Creio que a escolha de António Costa para coordenar a moção de José Sócrates ao próximo congresso do PS significa o seguinte: se José Sócrates, por qualquer motivo, for forçado a abandonar as suas actuais funções de primeiro ministro, ou se não tiver condições para liderar um governo de maioria relativa aliado à esquerda, o PS já encontrou um sucessor consensual e apto para o efeito.

A perda da maioria absoluta PS é altamente previsível, e se esta ocorrer, o PS terá que aliar-se ao CDS-PP ou a uma força à sua esquerda. Aliar-se ao que hoje não passa dum micróbio partidário que a nomenclatura do regime transporta ao colo como uma criatura enfezada e débil, nas actuais circunstâncias de iminente insolvência do país e início da maior recessão mundial desde 1929 —que percorrerá toda a próxima legislatura—, seria um suicídio político imediato. Uma tal ocorrência, sempre possível, abriria as portas a uma recuperação fulgurante do PSD depois de aliviada a sua carga populista e tardo-liberal. A menos que a situação do país fosse realmente catastrófica, e aí teríamos, como cenário mais provável, um governo de Bloco Central sob patrocínio presidencial, não vejo como poderá o próximo governo deixar de ser uma coligação de esquerda. Falta, no entanto, o parceiro certo para uma tal parceria. Os que há não servem!

A maior preocupação da tríade que possui o Partido Socialista é evitar uma cisão antes das próximas eleições legislativas. Mas um mau resultado, previsível, nas europeias, poderá precipitar irremediavelmente a tão esconjurada cisão Alegre. O ex-candidato presidencial está em reflexão táctica. Entretanto, até onde chegarão as cedências de José Sócrates à dita "esquerda do PS" (Vera Jardim, Paulo Pedroso, Maria de Belém Roseira, etc.), nomeadamente na gestão da actual crise? Serão suficientes para impedir a emergência duma nova força eleitoral de esquerda com efectiva capacidade de alterar o rotativismo falido dos partidos do Bloco Central?

Se se reparar com atenção, tem havido uma série de cedências: na guerra da avaliação dos professores; no pacote de medidas fiscais de alívio que serão provavelmente incluídas no orçamento rectificativo/complementar anunciado; no programa de obras rápidas contra a crise; na criação de novas vagas para médicos e enfermeiros; no deslizamento subtil mas real da discussão dos grandes investimentos estratégicos —Alta Velocidade e NAL— para 2010; no ponto final colocado à conversa sobre a privatização da TAP, e por aí adiante. Eu se fosse o Mexia começava até a ter mais cuidado com os telefonemas sobre providências cautelares justas contra a sua pirataria de trazer por casa em volta do plano assassino de barragens com que pretende aumentar a qualidade dos seus activos, matando à conta e literalmente recursos patrimoniais insubstituíveis.

Falta esclarecer a predisposição socratina sobre a privatização da ANA. Aparentemente, a decisão de António Costa de reactivar o processo em volta da disputa dos terrenos da Portela, pelo qual a autarquia reclama à ANA cerca de 1500 milhões de euros de mais-valias (suficiente para limpar todas as dívidas da capital), colocará os futuros candidatos à privatização ANA e construção do NAL de Alcochete, perante um cenário menos interessante e espinhoso. Quando estará a disputa judicial resolvida? Haverá recursos? Que papel jogarão na altura os outros proprietários de terrenos privados incluídos no perímetro aeroportuário da Portela?

Persistirá o actual governo na decisão de "abancar" o futuro aeroporto de Alcochete com a privatização da ANA, subsequente desactivação do aeroporto da Portela e venda a patacos dos respectivos terrenos?

Se persistir, vai ser mais um dossier destinado ao fracasso. Primeiro, porque Cavaco Silva não vai aceitar transformar um monopólio público num monopólio privado, sabendo-se que um tal monopólio poderia rapidamente cair sob o domínio da gestora pública de aeroportos espanhola, AENA. Segundo, porque a privatização da ANA, ao implicar uma mudança de propriedade e sobretudo de controlos estratégicos primordiais, do sector público para o sector privado, levará Cavaco Silva a vetar a lei por motivos políticos óbvios, e em todo o caso, a exigir uma maioria de 2/3 para que tal sangria absurda do Estado e diminuição intolerável da nossa soberania possa ter lugar. Quando as luminárias de São Bento acordarem para as dificuldades deste imbróglio, lá terão que explicar ao Jorge Coelho que, infelizmente, também este passará a ser um dossier morto e enterrado pela actual legislatura.

Curiosamente, a tentativa de isentar de concurso público certas obras públicas, até 5 milhões de euros, e certos bens móveis, equipamentos e aquisição de serviços, até 260 mil euros, sob o pretexto da urgência, mostra bem como a cúpula do PS quer esconjurar a todo o custo uma cisão partidária. Que melhor ferramenta para convencer os milhares de autarcas do PS de que a melhor aposta é a permanência do status quo?

E no entanto, nada poderá garantir mais eficazmente a permanência do PS no poder durante a próxima legislatura —que será terrível para decisores e patriotas—, do que a formação duma nova força partidária de esquerda, geneticamente marcada por uma boa percentagem de genes solidários saídos, precisamente, do Partido Socialista!

Estou farto de explicar que um PS sem maioria não poderá aliar-se de forma estável, nem ao PCP, nem ao Bloco de Esquerda. O Partido Socialista, que irá com toda a probabilidade perder a maioria absoluta, com ou sem Alegre nas suas listas, precisará, como do pão para a boca, de um aliado à sua esquerda para formar uma maioria de legislatura estável, pragmática e criativa. Manuel Alegre surgiu como o possível vórtice dessa nova cornucópia de esquerda. Porque esperam para lhe dar todo o apoio?


OAM 513 15-01-2009 02:32 (última actualização: 15:55)

terça-feira, janeiro 13, 2009

Portugal 72

Contagem de corruptos

Antes de se iniciar uma guerra é usual haver uma contagem de espingardas próprias, aliadas e inimigas. No entanto, quando o confronto se avizinha num Estado exangue (que é muito pior do que o Estado exíguo de que fala Adriano Moreira), aquilo que infelizmente vemos parece ser apenas uma contagem de corruptos.
Ingleses suspeitam de corrupção de ex-ministro de Guterres no caso Freeport

10.01.2009 - 15h09 PÚBLICO, com Lusa — As autoridades judiciais inglesas, que têm em curso uma investigação criminal sobre o licenciamento da construção do Freeport de Alcochete, têm uma lista de 15 suspeitos de corrupção e fraude fiscal, encabeçada por um ex-ministro de António Guterres, noticia o semanário “Sol” na sua edição de hoje. Os outros suspeitos que terão estado na origem do desfalque à empresa de “outlets” são administradores do Freeport, autarcas portugueses, construtores e advogados.

Futuro do presidente da Lusoponte nas mãos do Ministério Público
Ferreira do Amaral é suspeito de corrupção

13 Janeiro 2009 - 02h00 (Correio da Manhã) — Não pediam um tostão que fosse a mais pela inscrição no curso e, em dia de exame, os directores das duas escolas náuticas ainda brindavam os alunos com mensagens por telemóvel a dar as respostas certas. Objectivo: garantir taxas de aprovação a roçar os cem por cento e atrair centenas de clientes de Norte a Sul do País. Arrasando a concorrência. Só que o crime foi denunciado à Polícia Judiciária e, apurou o CM, entre os 40 alunos suspeitos de corrupção está Joaquim Ferreira do Amaral – o actual presidente da Lusoponte que foi ministro de Cavaco Silva e candidato à Presidência da República.

No caso português, à medida que tomamos consciência da responsabilidade plena do Bloco Central, formado pelos dois principais partidos políticos do país: o Partido Socialista e o Partido Social Democrata, no beco sem saída em que Portugal se encontra depois de duas décadas de afluxo ininterrupto de milhares de milhões de euros comunitários, percebemos até que ponto o actual regime constitucional falhou os seus objectivos.

Temos uma dívida externa bruta superior a 200% do PIB (e não 100%, como os economistas beija-mão propagam por aí!) O défice orçamental propalado pelo actual governo não passa duma estatística martelada com engenharias orçamentais de trazer por casa, indignas de qualquer merceeiro fino que se preze. O destino deste défice mascarado é continuar a aumentar até estourar como uma bolha de corrupção e escândalo, antes de 2015.

O governo paga tardiamente às farmácias e demais fornecedores, adia o pagamento das SCUDs e exige pagamentos por conta como qualquer chulo do Cais Sodré, ao mesmo tempo que a generalidade das empresas públicas (algumas delas corroídas pela corrupção até ao tutano) camufla as suas criminosas dívidas acumuladas adiando sem qualquer penalização o pagamento de parte significativa dos impostos devidos (IVA e IRS) e a realização dos descontos para a segurança social. Como se isto fosse pouco, a intensidade energética do PIB português é três vezes (300%) mais elevada do que a média da União Europeia a 15! A propaganda governamental em volta das energias renováveis serve pois e apenas para promover a construção de dez barragens inúteis do ponto de vista energético, mas devastadoras do ponto de vista ambiental e da necessária reformulação dos nossos paradigmas de vida.
Empresas públicas devem milhões em IRS, IVA e segurança social

13-01-2009 (Diário de Notícias) — O Tribunal de Contas acusa cinco empresas públicas de reterem impostos, referentes ao exercício fiscal de 2007, que deveriam ter sido entregues aos cofres do Estado. Numa auditoria a 20 sociedades do sector empresarial do Estado, a entidade fiscalizadora refere que ANA, NAV, TAP, RTP e Metro do Mondego tinham inscritas nas suas contas dívidas referentes a impostos sobre lucros, IRS retido aos seus trabalhadores, contribuições à segurança social e IVA.

As acusações não são iguais para todas as entidades referidas e os montantes em débito são de valor diverso. No total, perfaziam 47,40 milhões de euros. O maior devedor era a TAP, com 22,62 milhões em falta, seguido da RTP (11,61 milhões) NAV (10,87 milhões) e ANA (2,3 milhões). A dívida do Metro do Mondego aos cofres públicos não está especificada, mas é negligenciável.

As dívidas não foram contestadas em sede de contraditório, ao contrário do que ocorreu com outras empresas - caso da Administração do Porto de Lisboa, por exemplo -, as quais acabaram por não constar do relatório do Tribunal. No total, os auditores apuraram que a dívida das empresas consideradas ascendia, no final de 2007, aos 17,47 mil milhões de euros, ou seja, um valor semelhante a 17% da receita do Orçamento de Estado.

O maior devedor é a Refer. A empresa que gere as infra-estruturas ferroviárias devia, no período auditado, 4,74 mil milhões de euros, dos quais 3,82 mil milhões eram respeitantes a médio e longo prazo. As empresas do sector dos transportes, aliás, seguem na linha da frente dos devedores, com o Metro de Lisboa, CP, Metro do Porto e TAP a ocuparem os lugares seguintes. Das empresas consideradas pelo Tribunal, a que apresenta melhor perfil é a Quimiparque, com uma dívida de 7,6 milhões de euros. Para além desta, só os CTT e a SIMAB-Sociedade Instaladora de Mercados Abastecedores não tinham dívidas à banca.

Baixar estes escandalosos níveis de desperdício e atraso económico, tecnológico, organizativo e cultural, causado pela utilização irresponsável da energia que não temos e importamos, para a média europeia dos 15, seria um programa suficiente para responder aos efeitos tremendos da actual crise social, que, para quem não saiba, ainda vai no adro. A banda larga e as estuporadas barragens, mais as novas auto-estradas e aeroportos, bem poderão esperar por melhores dias e sobretudo melhores argumentos! De que serve estarmos todos ligados por fibra óptica se não tivermos nada para dizer? É tolerável destruir paraísos naturais e recursos turísticos insubstituíveis sem outro propósito efectivo que não seja aumentar fraudulentamente os activos da EDP?

Há uma bomba-relógio que pode rebentar mais cedo do que anunciou Medina Carreira, por efeito da detonação da primeira crise de endividamento mundial (Ann Pettiffor). A espoleta dessa bomba-relógio chama-se juros acumulados da dívida externa e da dívida pública portuguesas. Quando aos juros compostos da dívida, somarmos tudo o resto e chegarmos aos 300% (Islândia, 2006), ou mesmo 400% (USA, 2006) do PIB, estaremos irremediavelmente fritos! Este mecanismo do juro composto é um demónio incontrolável se o deixamos à solta demasiado tempo. Vale a pena ver este excelente crash course de Chris Martenson sobre o fenómeno do crescimento exponencial, e agarrar depois os políticos pelos colarinhos para que façam alguma coisa!
The United States is Insolvent
by Dr. Chris Mortenson

December 17, 2006 (Finantial Sense University) — Despite improvement in both the fiscal year 2006 reported net operating cost and the cash-based budget deficit, the U.S. government’s total reported liabilities, net social insurance commitments, and other fiscal exposures continue to grow and now total approximately $50 trillion, representing approximately four times the Nation’s total output (GDP) in fiscal year 2006, up from about $20 trillion, or two times GDP in fiscal year 2000. As this long-term fiscal imbalance continues to grow, the retirement of the “baby boom” generation is closer to becoming a reality with the first wave of boomers eligible for early retirement under Social Security in 2008. Given these and other factors, it seems clear that the nation’s current fiscal path is unsustainable and that tough choices by the President and the Congress are necessary in order to address the nation’s large and growing long-term fiscal imbalance.

Não se pense que os nossos políticos estão avisados. Não estão, ou estão-se nas tintas, cheios de pressa em antecipar e garantir as suas reformas milionárias antes que o inverno da miséria chegue ao povo e comprometa a democracia! A actual generosidade pró-cíclica da nomenclatura partidária, e a vontade incontida do neoliberal governo Sócrates de premiar o aventureirismo, ganância e corrupção da banca portuguesa, à custa de mais responsabilidades imputáveis à dívida pública, prossegue a bom ritmo e vai porventura acelerar depois de conhecermos em toda a extensão as acrobacias programáticas de Barak de Obama. O caminho da insolvência do Estado português estará então irremediavelmente traçado e antes de o Senhor Cavaco Silva decidir se tem ou não coragem para engolir um segundo mandato presidencial, veremos o que é viver num Portugal insolvente!
Dívida pública: avisos em 2006 (onde estavam os economistas?)

"a dívida pública estabilizará dentro de dois ou três anos ligeiramente abaixo de 70% do PIB, o que representa ainda mais do dobro do nível médio dos países com rating AA", a classificação actual de Portugal. — uma previsão de 2006, da Ficht Ratings, já fora de prazo...

Standard & Poor’s coloca dívida portuguesa em vigilância negativa

13-01-2009 (Jornal de Negócios) — A agência de notação de risco colocou hoje em vigilância negativa o rating da divida República portuguesa e avisou que uma decisão de baixar o notação nos próximos dois, três meses dependerá agora da evolução da políticas orçamentais e financeiras do Governo. A mesma decisão foi tomada em relação à Espanha e à Grécia.

2009 is payback year

"...next year, 2009, there will be a massive bulge in the value of bonds issued by European companies that have to be repaid.

Or, to put it another way, about $1000bn of "old world" companies' borrowings in the form of tradable debt has to be paid back during the next 12 months - with something like $800bn of this owed by financial companies and $200bn by non-financial companies.

That would be a colossal sum to pay off at the best of times, and is equal to about five times what's been repaid in 2008." — Robert Peston, 15 Dec 08, 12:00 AM (Peston's Picks)/ BBC News.

Em face da gravidade da actual crise, resulta evidente que a burguesia portuguesa, sobretudo a grande burguesia burocrática portuguesa —que vive basicamente da proximidade do poder—, precisa mais do que nunca de sentir o norte da política!

Há treze anos que esse norte é cor-de-rosa, pois as passagens de Durão Barroso e Pedro Santana Lopes por São Bento são vistas hoje, por todos nós, e em particular por essa poderosa burguesia burocrática, como uma não ocorrência. A profunda crise e o desespero crescente do PPD-PSD —patentes no semblante patético de Filipe Menezes, na mímica zombie de Pedro Santana Lopes, no patuá imberbe de Pedro Passos Coelho e nas gargalhadas histriónicas do arguto Alberto João— são a prova de uma realidade até agora mantida em total surdina:

— a tríade de Macau (Coelho, Vitorino, Canas, Nabo, Santos Ferreira, Vara, Manuel Frasquilho, etc.) tomou de assalto o Partido Socialista, rasgou a sua cartilha social-democrata em nome de todos os panfletos sobre globalização e enriquecimento rápido que conseguiu tragar, montou uma rede de cumplicidades entre todos os sectores pesados da economia e da finança portuguesa: empresas públicas, empresas privadas de obras públicas, transportes e comunicações, e energia, e finalmente... bancos!

Se montarmos o organigrama de toda esta teia de ligações fortes entre o poder político democrático (protagonizado aqui por uma força partidária aparentemente consolidada) e a burguesia burocrática, unindo cumplicidades a deveres, deveres a patrocínios, patrocínios a cartelização, cartelização a manipulação das super-estruturas do Estado, manipulação a corrupção do regime em múltiplas e decisivas instâncias, teremos imediatamente o retrato de uma subversão em larga escala do actual regime constitucional.

A tríade de Macau não só meteu o PS no bolso —rindo-se como Judas Santos Silva se ri das suas velhas convicções de esquerda—, como ameaça neste preciso momento, e no decorrer de toda a presente crise, meter o regime político português no bolso.

A gula macaísta é tanta, e a nossa distracção tão lamentável, que ninguém reparou ainda até que ponto a Mota-Engil e a Brisa (para não falar de ANA, da Refer, da REN, na EDP, RTP, PT, etc.) ameaçam tornar-se, com bons argumentos, num Estado dentro do Estado. A primeira tomou conta da Lusoponte com dinheiro emprestado pelo semi-falido BCP (salvo com dinheiro público da Caixa Geral de Depósitos), que entretanto voltou a endividar-se, correndo os riscos por conta do contribuinte, sob a benção ignara do papagaio Sócrates. O lavar de roupa suja em volta do actual presidente da Lusoponte, Ferreira do Amaral (descendente da velha burguesia burocrática que serviu Salazar e Caetano), não poderia aliás ser mais oportuna do ponto de vista dos interesses da Mota-Engil. O objectivo da Mota-Engil parece-me claro:
  • controlo das futuras três travessias do estuário do Tejo;
  • construção-exploração do aeroporto de Alcochete;
  • gestão dos principais aeroportos nacionais;
  • construção da Terceira Travessia do estuário do Tejo;
  • controlo dos principais portos do país, começando pelo ampliado terminal de contentores de Lisboa;
  • exploração comercial dos combóios de Alta Velocidade.
Se verificarmos em que consórcios a Mota-Engil e Brisa se associam, ficaremos com o mapa completo da grande ofensiva da tríade Macau e das suas reais intenções.

Aquilo que Salazar precisou de fazer em ditadura —i.e. dar uma certa protecção às forças fáticas do regime, mantendo a independência nacional em banho-maria— talvez seja possível em democracia... desde que a democracia engula, claro está, esta transfiguração do Partido Socialista. Se o PPD-PSD continuar como está, é isto que irá suceder. Hesitar na criação dum novo partido de esquerda, conhecidos que são os dados do problema, parece-me um erro, que não irá impedir soluções mais drásticas no futuro.


Post scriptum — acabo de ouvir na SIC Notícias o diálogo entre António Bagão Félix e Luís Campos e Cunha, moderado por Ana Lourenço, sobre a actual crise e o aumento do risco de crédito que o país corre segundo um aviso publicado esta Terça-Feira pela agência de rating Srandard&Poor, divulgado pelo Finantial Times. Ambos os economistas coincidiram nas análises das causas e do estado real do país (endividamento sem apostas estratégicas de médio e longo prazo visando a sustentabilidade e produtividade do país; disfarce sistemático das contas públicas; eleitoralismo) . E não divergiram nas prescrições: apoiar o sistema financeiro, mas alterando várias das regras e prerrogativas actuais; ajudar temporariamente os que mais precisam; adiar os grandes investimentos para melhores dias; evitar o discricionarismo nas acções governamentais de apoio à crise, aplicando medidas tão universais quanto possíveis; mexidas pontuais e temporárias nas regras fiscais; descentralização das medidas de emergência em colaboração estreita com as autarquias. Nenhum deles acredita, porém, que o governo da tríade escolha o melhor caminho. Mais uma razão para se criarem novos partidos, caramba!


OAM 512 13-01-2009 20:29 (última actualização: 14-01-2009 00:10)

segunda-feira, janeiro 12, 2009

Crise Global 54

Frio na Europa



A Rússia prometeu nesta segunda-feira retomar o fornecimento de gás à Europa por meio de gasodutos que passam pela Ucrânia a partir da manhã de terça-feira. — BBC.

La vague de froid souligne la fragilité énergétique européenne

07 Jan 2009. Record de consommation électrique en France, baisse des livraisons de gaz naturel du géant gazier russe Gazprom, la vague de froid qui touche l’Europe atteste de la menace énergétique qui plane sur l’Union Européenne. En novembre 2008, l‘étude de l’Observatoire Européen des marchés de l’Energie(OEME) de Capgemini alertait sur le risque d’un ralentissement des investissements dans les infrastructures énergétique susceptible de menacer la sécurité d’approvisionnement énergétique lors du retour de la croissance.

La consommation d’électricité en France a atteint un nouveau record historique mardi à 19H00, à 91.500 mégawatts (MW). Le même jour, les livraisons de gaz naturel de Gazprom ont baissé de plus de 70% en France. -- in La Moette/ Le Monde.

Milhões de europeus foram atingidos por uma vaga de frio polar. O simples facto de ter chegado com a intensidade que chegou a Portugal, permite-nos imaginar os impactos na economia e na saúde das pessoas de países como a Alemanha, Polónia, a República Checa, Áustria, Hungria, Roménia, Bulgária e Turquia. Eu, por exemplo, não me livrei duma gripe e de dois dias de completa improdutividade!

Imaginemos, por um momento, o que seria da Europa se a ameaça russa de nos cortar os fornecimento de gás natural se cumprisse de forma duradoura, e não apenas, como parece ter sido agora o caso, por uma escassa semana. Estariam as cidades actuais preparadas para enfrentar o desafio? Basta ler os regulamentos sobre edificações urbanas, para percebermos que todos eles descansam no poder maravilhoso do ar condicionado e do aquecimento central alimentado a gás. Ou seja, não, não estaríamos! A climatização passiva dos edifícios e das cidades há muito que foi abandonada ou desleixada em nome do uso maciço e indiscriminado de hidrocarbonetos sólidos, líquidos e gasosos, utilizados directamente como combustíveis, ou indirectamente, como fonte de alimentação de centrais termoeléctricas. Ou seja, se o gás natural de que a Europa actualmente depende, e dependerá ainda mais no futuro, pois a produção própria estagnou e começará brevemente a declinar, importado da Rússia (Sibéria), do Cáspio, de África, do Médio Oriente e ainda da América Latina, nos fosse negado, pode dizer-se que o velho continente colapsaria. Este esclarecedor relatório da UE —Outlook for European Gas Demand, Supply and Investment to 2030 (PDF)— revela até que ponto o assunto é grave e os jogos de poder promovidos pelo Kremlin devem ser levados a sério.

The battle of the oligarchs behind the gas dispute
By Jérôme Guillet and John Evans

06 Jan 2009. The Soviet gas industry was born in Ukraine in the 1930s and the infrastructure was built from there. Ukraine remained a central part of the gas pipeline network even as the focus of activity moved to western Siberia. Carving up the Soviet Union along along the borders of its former republics made for an often unworkable allocation of physical assets. Vital assets for Gazprom, the Russian gas monopoly, are located in Ukraine and thus no longer under its direct control: the pipelines are an obvious item, but, just as significantly, Ukraine controls most of the storage capacity of the Russian export system. On the other hand, Ukraine, a heavy industry country, has mostly depleted its gas reserves, making it dependent on gas from Siberia.

So this is a situation of mutual dependence. Russia needs Ukrainian infrastructure to honour its export contracts to Europe, and Ukraine needs Russian gas. In case of conflict, withholding gas (from Russia’s side) or shutting down export infrastructure (from Ukraine’s) are tempting options, which have been taken up repeatedly since the demise of the Soviet Union.

Ukraine used to get its gas allocation from Soviet planners and continued to expect the same after independence. When Russia first tried to get payment for its deliveries in the early 1990s, it failed. When it first cut off gas to Ukraine to enforce payments, Ukraine simply tapped the gas sent for export purposes; when European buyers howled, Russia relented and restored gas supplies without having managed to get paid by Ukraine. This has gone on. Yet somehow the gas continues to flow every year. — in Daily Kos.
A ameaça feita por Putin, de reorientar para a Ásia, isto é, para a China, as exportações do gás natural da Síbéria, que actualmente vende à Europa (Ucrânia e Turquia incluídas), não deve ser lida como um bluff de alguém que quer simplesmente fazer sentir à Europa a falta de independência estratégica desta face aos Estados Unidos, sempre que estes persistem em cercar a Rússia de governos fantoches, estados falhados e bases militares, ou toleram (de facto apoiando com todas as forças!) o criminoso expansionismo de Israel.

Se Obama resolver desencadear, ainda que por interposto estado de Israel, um ataque em larga escala ao Irão, provocando uma guerra regional de proporções imprevisíveis, um cenário de corte simultâneo dos fornecimentos de gás natural por parte da Rússia e da Argélia seria assim tão inverosímil?

A Rússia, o Irão e o Qatar detêm aquelas que são de longe as maiores reservas mundiais de gás natural. Seguem-se-lhes as reservas dos Emiratos Árabes Unidos e da Arábia Saudita. Se o interesse por esta vasta região sempre foi grande, estando na origem de todas as grandes carnificinas do século 20, parece que a importância crescente do gás natural, que sob várias modalidade e usos tem vindo a substituir alguns dos usos dados preferencialmente ao petróleo, vai no mesmo sentido! Há, porém, uma diferença: os Estados Unidos e a Europa deixaram de ser potências credoras, estando hoje atoladas num tsunami de dívidas.

O uso da moeda americana no comércio internacional deixou de ser um meio de troca para passar a ser uma forma cada vez mais escandalosa e intolerável de financiamento de um país a caminho da bancarrota. Esta percepção da realidade poderá conduzir uma potência emergente como a China a abandonar progressivamente o dólar como moeda de referência, criando ela própria uma moeda regional forte. O cenário é tanto mais plausível quanto o euro poderá entrar numa prova de esforço sem precedentes quando vier à tona a dimensão dos estragos provocados na Europa pela banca sombria dos derivativos.

As políticas de endividamento imparável que parecem estar nos planos anti-crise de Obama e dum número crescente de dirigentes europeus, se não assentarem numa refundação profunda e radical das bases produtivas da América e da Europa, e se não conseguirem ao mesmo tempo controlar firmemente o sector financeiro, apenas poderão conduzir o Ocidente para uma longa agonia, ou, em desespero de causa, para uma III Guerra Mundial.

Quase tudo o que compramos vem da China, é lá que se encontram as maiores reservas de dólares fora dos Estados Unidos, quem poderá batê-los, a não ser pela via militar, numa disputa comercial justa pelas fontes energéticas e matérias primas disponíveis?



OAM 511 13-01-2009 00:44