segunda-feira, janeiro 23, 2012

Novo Partido Democrata

Pekka Haavisto, candidato presidencial finlandês, uma grande e agradável surpresa eleitoral

E foram mesmo os dois candidatos europeístas que passaram à segunda volta ;)

Helsínquia, Finlândia, 22 jan (Lusa) - Os candidatos pró-europeus Sauli Niinisto (conservador) e Pekka Haavisto (ecologista) vão defrontar-se na segunda volta das eleições presidenciais na Finlândia, anunciou o ministro da Justiça, após a contagem da totalidade dos votos da eleição de hoje.

Niinisto, o grande favorito do escrutínio, obteve 37 por cento dos votos, enquanto Haavisto alcançou 18,8 por cento. Os candidatos eurocéticos Paavo Vayrynen (centro) e Timo Soimi (nacionalista) foram afastados, com 17,5 por cento e 9,4 por cento dos votos, respetivamente, indicou o ministério. SIC Notícias.

Finlândia/ eleições: para quem a moeda única europeia já era, deve fazer alguma confusão o facto de os partidos que lideraram as intenções de voto na primeira volta das eleições presidenciais finlandesas serem claros defensores do euro!

Não foram só os mercados que leram bem o teatro de operações da guerra financeira movida pelo dólar/libra contra o euro, ao passarem ao lado das mais recentes notações das agências de rating (Standard & Poor's, etc.) Os eleitores também já começaram a perceber o embuste. Em breve começarão a pedir as cabeças... dos banqueiros que trocaram a sua função de credores de boa fé pela de croupiers corruptos e gananciosos do Grande Casino dos Derivados!

“O candidato do Partido Verde e amigável à União Europeia, Pekka Haavist, subiu para o segundo lugar nas últimas semanas, saindo da obscuridade para 13% dos votos na última pesquisa.” Diário do Grande ABC.

Na realidade Pekka Haavisto, o candidato presidencial da Liga Verde, chegou aos 18,8% — o que é um facto notável, sobretudo se for o sinal de uma grande viragem eleitoral na Europa. Também em Portugal precisamos dum Novo Partido Democrata (com um coração verde, claro!), defensor do que resta dos nossos genuínos recursos naturais e humanos — e da decência. O PS não voltará ao poder sem coligar-se com um partido credível, que nem o PCP, nem o Bloco, são ou poderão ser.

Um cenário governativo estável e alternativo à coligação PSD-CDS —que acabará por naufragar sob a evidência das suas fraquezas congénitas— parece-me impossível sem o surgimento dum novo partido, mais próximo de todos aqueles que hoje abominam a demagogia e o populismo oriundos das cansadas dicotomias do século passado.

A corrupção partidária e a submissão canina do PSD e do CDS à burguesia rendeira que tem vindo a chupar o sangue e a seiva de um país que merece melhor sorte acabará por destruir o espírito e a ação do atual governo, abrindo as portas a um novo ciclo eleitoral.

A EDP e as suas barragens criminosas, tal como as PPPs rodoviárias, escolares e hospitalares, já para não mencionar o regresso pé ante pé dos embusteiros da Ota em Alcochete, têm vindo a tomar paulatinamente conta da cabecinha fraca de Passos de Coelho, e da agenda governamental.

Quando será que este governo cairá na lama? No fim da legislatura? Antes mesmo? Tudo irá depender do tempo que Álvaro Santos Pereira aguentar. A sua saída ditará simbolicamente o fim da própria presunção de inocência do senhor Passos de Coelho e do cada vez mais irritante Gasparinho. Depois deste cabo dobrado, a corrida eleitoral recomeçará! Porque pensam que anda Sócrates e a corja que deixou plantada no parlamento tão agitados?

O cada vez mais débil António José Seguro precisará em breve de recorrer a uma Unidade de Cuidados Intensivos (estratégica e táctica). Esperemos que saiba encontrar o conselheiro certo. Mas, como venho insistindo, já não chega. Aquela roseira velha não recupera sem uma grande poda!

E nós, ou seja, os que hesitam entre deixar de votar de vez, e a ténue esperança de uma renovação do jogo democrático, precisamos doutro partido para mudar este estafado rotativismo em que estamos metidos há mais de três décadas e cujo triste balanço é a bancarrota. Já não acontecia há 120 anos!

sexta-feira, janeiro 06, 2012

A morte prematura do euro?

Imagem retirada do sítio The Ignorant Fishermen
2012 poderá ser o ano do Armagedão, e até o ano do fim do mundo, mas não o ano da morte do euro!

O euro permanece “muito forte” e uma queda maior ajudaria as exportações, defendeu o governador do Banco de França, Christian Noyer — in Jornal de Negócios online, 6 jan 2012.

Através da desvalorização deslizante do dólar, Washington procura diminuir o preço da sua descomunal dívida externa, refreando ao mesmo tempo o consumismo interno, uma vez que a parte das importações na economia dos EUA é cada vez mais pesada, a começar no petróleo importado, até quase tudo o que é mercadoria manufaturada: carros, computadores, telemóveis, mobiliário, roupa e calçado, brinquedos, etc.

Esta desvalorização da moeda americana (que é uma moeda de reserva mundial), a par de um política de destruição sem precedentes das taxas de juro interbancárias e do crédito a retalho, principais agentes da própria desvalorização do dólar, visa sobretudo equilibrar a balança comercial americana com a China, Japão e com os seus principais fornecedores de petróleo: Canadá, Arábia Saudita e México.

A desvalorização da moeda americana induziu, por sua vez, uma valorização excessiva do euro, segunda moeda de reserva mundial. E a consequência desta apreciação foi a perda acentuada de competitividade das economias europeias, sobretudo daquelas com menor produtividade tecnológica e menor sofisticação de produtos. Esta apreciação tornou as importações muito competitivas e atraentes, pelo seu baixo preço. O Forex especulativo com as subavaliadas moedas japonesa e americana (yen carry-trade e dollar carry-trade), por sua vez, forçou uma queda progressiva do preço do dinheiro na própria Europa, tornando o acesso ao crédito cada vez mais irresistível, e o trabalho produtivo local cada vez mais caro e desinteressante por comparação com as novas economias financeiras assentes no endividamento barato, na especulação bolsista e sobretudo cambial, e na importação de bens e serviços faturados em moedas sub-avaliadas: iene, yuan e sobretudo a moeda em que são cotadas as principais matérias primas energéticas, minerais e alimentares: o US Dollar.

O endividamento europeu não é apenas, nem sobretudo, público.

O endividamento privado é muito superior, e ambos confluíram para a presente e gravíssima crise de liquidez e de insolvência que aflige pessoas, empresas e governos. Os excessos terão que ser forçosamente corrigidos, assim como, e principalmente, o modelo de crescimento económico baseado na especulação financeira que tudo incha e depois liquida.

Neste contexto, uma desvalorização competitiva do euro, até aos 1,20 dólares, será provavelmente aconselhável, a par de uma revisão sábia do modelo social europeu, e de uma revolução no modo de produção tecnológico em curso, que terá que sofrer uma viragem de 180 graus — do consumismo desmiolado e da produção fictícia, para a sustentabilidade económica efectiva e uma nova cultura de criatividade e partilha social.

O ponto de partida para esta revolução não poderá deixar de corresponder a uma profunda alteração das atuais democracias representativas e seus sistemas de poder. A América caminha perigosamente para uma nova espécie de estado concentracionário, de exceção permanente e de ditadura, cada vez pior disfarçado pelo sofisticado sistema de propaganda desenvolvido desde 1914 (nomeadamente a partir das ideias do duplo sobrinho de Sigmund Freud, Edward Bernays). Não é este o caminho de que precisamos! A Europa tem, também por causa desta degradação cultural americana, uma grande responsabilidade na refundação democrática das sociedades globais e tecnológicas do futuro.

Uma solução militar para a actual crise global seria um desastre completo. No entanto, e infelizmente, é mais provável o fecho do Estreito de Ormuz do que a implosão do euro em 2012.

Por fim, esta previsão não significa que alguns países da zona euro, mais debilitados e prisioneiros de lógicas demo-populistas, consigam evitar um afastamento temporário da Eurolândia. Tal quarentena, porém, onde poderão cair a Grécia e Portugal, não implicará uma expulsão do Sistema Monetário Europeu, e muito menos da União Europeia. Faço figas, no entanto, para que a atual coligação que governa Portugal, e a Oposição, incluindo os sindicatos, percebam a tempo e horas os custos de uma aventura contra a inexorável correção dos nossos próprios desvarios. Isto é: a saída de Portugal do euro!


act.: 7-12-2012 19:09

sábado, dezembro 24, 2011

Um bom ano novo... chinês!

Aos meus pacientes e tolerantes leitores,

perdido neste país bipolar, quase no fundo de uma depressão histórica, de que somos todos responsáveis, uns mais do que outros (claro!), crítico por natureza, sem por isso deixar de ser um optimista avisado, agora na companhia mais próxima dos donos da terra que me viu nascer, Macau, desejo a todos os meus pacientes e tolerantes leitores, como nunca, dentes cerrados para o Ano Novo que aí vem, e uma consoada alegre junto de quem mais amam.

Um Feliz Natal e Um Grande 2012!

quarta-feira, dezembro 14, 2011

Garganta Funda para a EDP?

O estado português não pode ajudar a TAP, a EDP, ou a REN, mas pode vender estas empresas públicas estratégicas a estados comunistas. Que lindo enterro vamos ter!

Três Gargantas, maior barragem do planeta, é o novo ícone, por excelência transmontano, de Durão Barroso, Sócrates, Passos de Coelho, Assunção Esteves, Armando Vara, Edite Estrela e Francisco José Viegas. Coitado do Torga!
Como o Negócios revelou em primeira mão, os chineses da Three Gorges oferecem o preço mais alto (€3,45 por acção, ou quase 2,7 mil milhões de euros pelos 21,4%), seguidos dos brasileiros da Eletrobras e dos alemães da E.ON. (…) As três melhores propostas estão separadas, no entanto, por pouco: cerca de 200 milhões de euros — in Pedro Santos Guerreiro, “O negócio da China”, Negócios online, 12 Dezembro 2011 | 23:30.
A ameaça da UNESCO de retirar ao Douro a classificação de Património Mundial não incomoda Marcelo. Porque será? O professor da TVI boicotou descaradamente, no passado Domingo, a notícia da semana. Porque teria sido? Não é notícia? Claro que é! Terá então MRS algum conflito de interesses, directo ou por interposta pessoa, com a coisa? Se sim, e ao ponto de ter omitido um assunto tão obviamente relevante na sua crónica semanal, esclareça-o, ou deixe de opinar e de dar notas ridículas!

Em plena fase crucial da privatização da EDP, Marcelo, o governo e ainda o patético (in)Seguro do PS, não querem ouvir nada que possa perturbar a venda ao desbarato, e sem cautela estratégica aparente (a qual deveria ser clara e pública), do sobre endividado, mas nem por isso menos estratégico activo do país chamado EDP.

Medina Carreira disse ontem e bem ao Público que:
“O Governo quer ganhar competitividade vendendo a investidores estrangeiros posições que o Estado detém nas grandes empresas monopolistas e onde antecipa arrecadar seis mil milhões de euros“. “O Estado vai perder os rendimentos que essas empresas geram anualmente“ e “daqui a seis meses” Portugal “não terá activos, não terá rendimentos e estará na mesma situação”. Os seis mil milhões, assegura, “não resolvem nenhum problema”. Público, 13-12-2011.

A imagem do que pode suceder em Portugal se o gigante alemão da energia ganhar a corrida ao controlo da EDP foi dada pelo anúncio do despedimento de onze mil dos seus oitenta mil funcionários. Ou seja, para aumentar a escala e a concentração num tempo de escassa liquidez a solução passa, já imaginávamos, por aliviar a carga humana num lado, e aumentar os activos no outro.

Vai a E.ON limpar o passivo da EDP, de mais de 16 mil milhões de euros, retomando o acesso aos mercados para financiamento do mesmo? Quantos empregos tenciona a E.ON efectivamente criar em Portugal? Que prometeu Passos Coelho à E.ON? Prometeu as mensalidades chorudas dos CIEG e as rendas do Baixo Sabor e do Tua? Prometeu uma entrada no Brasil e nos campos eólicos americanos? Que mais prometeu?

Apesar de as perspectivas serem péssimas, tendo a crer que a alienação da EDP é infelizmente inevitável. A dívida é demasiado grande e as perspectivas a curto-médio prazo das renováveis, em matéria de custo e competitividade face às energias convencionais —sobretudo a hidroeléctrica e a de ciclo combinado a gás natural (dadas as recentes descobertas em África)— são menos que sofríveis.

Salvar a EDP do colapso financeiro tornou-se, em suma, assunto para outros campeonatos.

É aqui que entra a China!

A Alemanha, o Brasil e os Estados Unidos não querem a China a entrar nos seus territórios energéticos pela porta do cavalo lusitano. Espero bem que tenham explicado bem este melindre ao Gasparinho e aos nossos ansiosos sábios.

Por outro lado, dar a EDP à China seria o mesmo que entregar o domínio de uma empresa portuguesa privada com capitais públicos a uma empresa 100% pública do Estado Chinês — China Three Gorges Corporation (“a wholly state-owned enterprise”). Que é feito da legislação europeia sobre a liberalização das "utilities"? O Estado Português não pode ajudar a TAP, etc., mas o Estado Chinês pode comprar a EDP, a REN, a ANA e a TAP. Se for assim, é caso para repetir: pobre Europa!

Eu até defendo a entrada da China em Portugal, de preferência no negócio portuário e na indústria naval, mas sempre com conta, peso e medida. Nunca permitindo que um estado, ainda por cima extra-comunitário, tome conta dum sector estratégico mal liberalizado, só porque temos um ministro com uma grande carreira de tecnocrata pela frente. A insanidade da perspectiva é por demais escandalosa e configura problemas de soberania evidentes. Imaginem que o Alberto João deixa de pagar as facturas da iluminação pública do Funchal (se é que alguma vez pagou) —que aconteceria?

Nasci em Macau, e as boas peças de arte chinesa que possuo foram ganhas pelo meu pai numa noite de sorte em casas de jogo macaenses. À época, estamos a falar do princípio dos anos 1950, em frente à rua onde se situavam as casas de jogo, cresciam como cogumelos casas de penhores. Os que perdiam tudo na vertigem da especulação, acabavam vendendo o que tinham e o que não tinham, às vezes só pelo preço do bilhete do barco de regresso a Hong Kong. O valor das coisas passa, quando menos se espera, de zero a infinito e vice-versa. Quem perder esta realidade antiga de vista não se poderá depois queixar!

POST SCRIPTUM
24-12-2011 — Tenho andado a monte por este país bipolar, desligado da rede e dos média em geral, numa espécie de sauna das ideias! Soube ontem que a EDP sempre foi parar à China, como de algum modo intuí neste artigo. Preferia que a China se ficasse pelos portos e por duas plataformas logísticas, uma a norte, que já está em formação, perto de Vila do Conde e outra em Sines. Mas o dinheiro está onde está, e é tempo de a China se abrir ao Mundo. Bem-vinda!

PS: Caros administradores das três Gargantas, não se esqueçam de despedir o senhor António Mexia tão depressa quanto possível, pois este cabotino foi o irresponsável pela maior dívida privada do país, tendo entregado uma empresa outrora pública (como a vossa é) valendo hoje em bolsa substancialmente menos do que valia quando para lá entrou!


segunda-feira, dezembro 12, 2011

Parar a barragem!

O crime do anterior governo prossegue com a subserviência do actual perante os piratas de sempre

Protestaram pelo homem não ser ministro. Este transmontano do Pocinho nem para director-geral serve!

O Bloco de Esquerda acordou bem, mas acordou tarde!

Não teria sido mais produtivo para este partido sem estratégia, nem realismo, nem alma — e ainda por cima a desfazer-se..., ter trabalhado a sério neste assunto com os Verdes (abraçados pelo PCP) assim que o sobressalto cívico começou a ganhar expressão, e as opiniões técnicas fundamentadas desmascararam o embuste? Quando será que estes esqueletos caricatos do marxismo acordam para a realidade, já que perderam há muito a capacidade de sonhar?

Seja como for, é o que temos no nosso desgraçado espectro partidário. E assim sendo, suspender o embuste escondido no Plano Nacional de Barragens e parar as obras em curso no Baixo Sabor e no Tua são prioridades absolutas que não devemos largar, e para as quais todos os santos ajudam — a começar, claro está, pelo santo UNESCO, sobre quem recairão agora todas as pressões negativas dos transmontanos poderosos apostados inacreditavelmente em queimar de vez a terra que os viu nascer: Durão Barroso, José Sócrates, Passos Coelho, Francisco José Viegas, Assunção Esteves, e ainda essas figuras sombrias que dão pelos nomes de Edite Estrela e Armando Vara. Gente estranha esta!

O Gasparinho que acorde! Não basta atacar (ainda que sob o pretexto razoável da correcção do défice) os direitos adquiridos das pessoas, até que estas se revoltem e corram com este governo, como correram com o anterior. Antes destes gestos de coragem fátua, é preciso atacar o cancro do betão e do endividamento especulativo — é preciso suspender imediatamente o Plano Nacional de Barragens, e é  preciso renegociar de alto abaixo todas as PPPs, com particular relevo para as PPPs hospitalares e rodoviárias. Ou será que, senhor Gasparinho, tenciona entregar o ouro que Salazar e os desgraçados lusitanos à época pouparam a penas muito duras, durante mais de quarenta anos, ao BCE — para sustentar os piratas de sempre a Pão-de-Ló?

O argumento idiota da estagiária elevada a ministra, Assunção (sa)Cristas, sobre os supostos direitos adquiridos pelos piratas da Mota-Engil, Grupo Mello, BES, BCP-Teixeira Duarte, Berardo e Cª, não tem qualquer precedência nas actuais circunstâncias excepcionais. O interesse nacional invocado para retirar remunerações constitucionalmente protegidas (13º e 14º meses), sem o pronunciamento de uma maioria qualificada no parlamento, nem um referendo nacional sobre o assunto, é exactamente o mesmo que terá que ser invocado para corrigir o verdadeiro assalto à poupança nacional e ao próprio potencial de crescimento do país pelos contratos ruinosos realizados por uma nomenclatura de piratas que já deveria estar a responder em tribunal pelos seus assaltos continuados ao erário público. Eles e os seus queridos advogados! Que pensa o Tó Zé (in)Seguro disto? Que tal parar de orar orações pueris, e começar a trabalhar?!

Por fim, sobre as tergiversações do consultor literário que colocaram ao comando dos assuntos culturais do país, melhor seria, desde já, despromovê-lo à categoria de mero contínuo de Passos de Coelho. Um qualquer Alexandre Melro não faria pior!

sábado, dezembro 10, 2011

Os piratas de sempre

A bomba lançada por David Cameron na cimeira europeia foi encomendada pela City e pelos paraísos fiscais de sua majestade

David Cameron conduz um Mini Cooper fabricado pela BMW em Oxford.
Foto© Sang Tan/AP (The Guardian)

Nick Clegg deu provavelmente o tiro de partida para o fim da coligação presidida pelo conservador e primeiro-ministro inglês David Cameron, na sequência do veto inglês imposto por Cameron à revisão do Tratado Europeu. Já todos sabíamos que esta seria a posição britânica, mas talvez fosse razoável esperar um pouco mais de tacto e mediação.
Deputy prime minister Nick Clegg is no longer prepared to take the hits for the coalition on policies he does not agree with.

Just 24 hours after appearing to back Cameron, sources close to Clegg made clear that the deputy prime minister believed the PM had been guilty of serious negotiating failures that risked damaging the national interest, British jobs and economic growth. The Guardian, 10-12-2011.

 O Reino Unido tem tido desde sempre uma posição oportunista relativamente à União Europeia: quer todas as suas vantagens, mas nenhum dos seus preços. No entanto, apesar da tolerância demonstrada pelo "continente" (onde é que já ouvimos este tipo de idiossincrasia?) o resultado tem sido a desindustrialização acelerada do país (primeiro, a favor do Japão, e depois da Alemanha) e o seu empobrecimento deslizante, só disfarçado pela sua ainda formidável indústria de serviços, nomeadamente financeiros.

A City londrina e os seus paraísos fiscais são responsáveis por uma verdadeira rede de especulação à escala global (1), curiosamente protegida pelo direito europeu, ao mesmo tempo que disfarçam na sua actividade frenética boa parte do descomunal endividamento da economia e da sociedade britânicas. O Reino Unido tornou-se, embora esconda a realidade o mais que pode, um gigantesco banco negro (shadow bank) cujos contornos começam agora a ser revelados.

Ora foi precisamente a pressão exercida pelo eixo franco-alemão para limitar os graus de liberdade desta actividade financeira não regulada e obscura (2), maioritariamente sediada em Londres e nos off-shores do reino e da rainha, que acabaria por quebrar a tradicional fleuma britânica. O primeiro ministro inglês levava um veto no bolso acompanhado de uma única instrução: usar em qualquer caso!

O endividamento descontrolado da Europa e dos Estados Unidos da América é um fenómeno complexo (3) cuja análise deixaremos para outra oportunidade. Mas importa reter o facto de que o mesmo decorre de fenómenos aparentemente tão diversos quanto o crescimento demográfico global, o envelhecimentos das populações, a maior redistribuição dos recursos naturais, energéticos e tecnológicos disponíveis que se seguiu à descolonização mundial, a urbanização em massa, a automação tecnológica e a desmaterialização de uma gama imparável de processos de produção, organização, informação, comunicação e gestão, ou ainda da especulação financeira generalizada que acabaria por tomar conta das economias empresariais, públicas e pessoais.

A Europa e os Estados Unidos são os olhos de um furacão financeiro sem precedentes na história económica. A ameaça de colapso do sistema é real (4)! O olho esquerdo deste furacão foi o Lehman Brothrers (e em geral, a chamada crise das hipotecas subprime), o olho direito chama-se Grécia (e em geral, a chamada crise das dívidas soberanas na zona euro). Os impactos do subprime na Europa e no resto do mundo foram tremendos, em grande medida por causa da concentração existente no sistema financeiro e da globalização da sua actividade. No entanto, se as dívidas soberanas europeias degenerarem num verdadeiro colapso do crédito e da circulação monetária, as suas repercussões na economia americana seriam provavelmente fatais. Daí a inevitabilidade de a Eurolândia ter que passar por alguma forma de Quantitative Easing (5), isto é, de criação de liquidez assente em nada mais do que quimeras! No entanto, a Alemanha só aceitou ir por este caminho de forma mitigada (envolvendo os bancos e os especuladores) e ancorada (no FMI), depois de garantir que a esmagadora maioria dos países da União Europeia aceitaria implementar previamente mecanismos de convergência tributária, prudência orçamental e supervisão financeira mais transparentes e confiáveis.


POST SCRIPTUM

Acabo de ler o discurso de Helmut Schmidt ao congresso ordinário do SPD — uma reflexão de grande sabedoria cuja leitura a todos recomendo (versão portuguesa aqui; transcrição original neste pdf; registo vídeo integral aqui). Recomendo ainda, muito a este propósito, a audição do histórico discurso de Wiston Churchill na Universidade de Zurique um ano depois da capitulação alemã (1946), no qual o primeiro ministro inglês apelou à constituição dos Estados Unidos da Europa sob iniciativa do eixo franco-alemão (registo áudio aqui.)

É muito curiosa a ausência, no discurso de Schmidt, de qualquer referência ao Reino Unido, a não ser indirectamente, no ataque claro dirigido à banca pirata mundial que hoje desafia de forma descarada os estados soberanos, os governos democráticos e centenas de milhões de pessoas em todo o mundo. 11-12-2011 18:40


NOTAS E REFERÊNCIAS
  1. “MF Global and the great Wall St re-hypothecation scandal”, by Christopher Elias (UK). Reuters, 12/7/2011.
    “Rumours, disasters and ‘re-hypothecation”, by Golem XIV, December 8, 2011.
    “Shadow Rehypothecation, Infinte Leverage, And Why Breaking The Tyrany Of Ignorance Is The Only Solution”. Tyler Durden, ZeroHedge, 12/10/2011.
  2. Entre os múltiplos esquemas destinados, por um lado, a criar liquidez do nada (ou melhor dito, da expropriação potencial intempestiva do valor intrínseco a várias categorias de activos financeiros e não financeiros), e por outro, a especular com a sorte dos investimentos, numa lógica autofágica do sistema financeira enquanto tal, o buraco negro dos derivados financeiros OTC —com um potencial de destruição na ordem dos 10x o PIB mundial— e o agora evidenciado esquema das rehipotecas financeiras (que gozam de especiais privilégios na City e nos ilhéus propriedades pessoais da rainha de Inglaterra) são as principais armas de destruição maciça do sistema financeiro global. A tentativa de colocar a zona euro a suportar as fugas de radioactividade financeira resultantes da implosão em curso deste sistema deu origem à verdadeira guerra movida pelo par dólar-libra ao euro. Menos mal que os alemães ainda sabem pensar e têm os ditos no sítio!
  3. “Chris Martenson and James Turk talk about Europe and the global economy” (video). E ainda este quadro sobre o descontrolo do défice na União Europeia. 
  4. “Eurozone banking system on the edge of collapse.” By Harry Wilson
    “The eurozone banking system is on the edge of collapse as major lenders begin to run out of the assets they need to keep vital funding lines open.” Telegraph, 10:01PM GMT 09 Dec 2011.
  5. “The ECB Decision – A Detailed Analysis”, by Pater Tenebrarum. Acting Man, December 9th, 2011.
    “ECB as Pawnbroker of Last Resort (POLR)”, by Izabella Kaminska. ft.com/Alphaville, Nov 29 2011.
    “True ‘Austrian’ Money Supply update”, by Michael Pollaro. Forbes, Jul. 17 2011.

act. 11-12-2011 11:30; 18:44; 22:58

E a EDP vai para...

Países solventes interessaram-se pela EDP

Desastre anunciado: a barragem da foz do rio Tua (antevisão da EDP).
1 - a parede com 100 metros de altura que Francisco José Viegas quer mandar pintar (de verde, supõe-se!); 2 - o edifício que o Mexia quer transformar numa obra de arquitectura irresistível, com o traço já encomendado a Souto Moura; 3 - a linha ferroviária, por sinal uma "obra de arte", que o empreendimento irá destruir.
Hoje era o dia limite para serem entregues as propostas à privatização dos últimos 24,35% do capital da eléctrica que ainda está nas mãos do Estados. Foram entregues na Parpública propostas de quatro empresas estrangeiras: a alemã E.On, a chinesa Three Gorges e as brasileiras Eletrobras e Cemig. In Jornal de Negócios, 9-12-2011.

O interesse pela eléctrica portuguesa é seguramente grande e poderá superar três grandes escolhos que afectarão o futuro imediato desta empresa:
  1. a sua enorme dívida: mais de 16 mil milhões de euros;
  2. os privilégios, cada vez mais contestados, de que a EDP goza em Portugal pelo seu estatuto de quase monopólio e empresa rendeira que mensalmente expropria, através dos preços exagerados que cobra e dos chamados Custos de Interesse Económico Geral (CIEG), recursos económicos desproporcionados ao potencial produtivo do país;
  3. o Plano Nacional de Barragens, através do qual a EDP avançou para a construção de duas barragens inúteis, salvo para incrementar artificialmente o valor potencial dos seus activos: barragens do Baixo Sabor e do Tua.
A ameaça da UNESCO, conhecida esta semana, de retirar a classificação de Património Mundial ao Alto Douro, previsível e há muito anunciada como provável por quem, com razoabilidade e abundante argumentação técnica, vem criticando o embuste do Plano Nacional de Barragens (PNBEPH), caiu como uma pedra no toutiço do actual governo. A reacção patética do secretário de estado da cultura ao aviso, ainda informal, da UNESCO, serviu a todos para melhor reconhecer as limitações óbvias deste governante. Tal como os demais transmontanos ilustres —Durão Barroso, Sócrates e Passos Coelho— que têm sido chamados a decidir sobre estas desfigurações inúteis da paisagem duriense, também Francisco José Viegas, natural do Pocinho, localidade a escassa distância do novo Museu do Côa (que recebeu neste seu primeiro ano de funcionamento mais de 50 mil visitantes), vem primando por um completo despudor e falta de senso na defesa destes verdadeiros atentados de cimento.

Parece que Manuel Maria Carrilho, anterior ministro da cultura e comissário português na UNESCO, teria avisado o governo Sócrates sobre o conflito óbvio entre as barragens previstas para o Alto Douro e a classificação da UNESCO. E parece que a correspondente em Lisboa da UNESCO não fez ou fez mal o seu trabalho em matéria de tamanha importância e melindre, ocultando informação à sede da organização para quem trabalha.

Em suma, ou teremos a barragem do Tua um dia concluída, e perderemos a classificação patrimonial do Douro conferida pela UNESCO há uma década —agora que o turismo induzido pelas Low Cost cresce exponencialmente da Ribeira do Porto até ao Museu do Côa. Ou então, as barragens do Baixo Sabor e do Tua serão interrompidas, e o Plano Nacional de Barragens de Elevado Potencial Hidroeléctrico suspenso, em nome de um valor económico bem maior: o inestimável potencial vinícola, turístico e cultural da bacia do rio Douro.

Em nome da inadiável redução do sobre endividamento da EDP, que já não poderá contar garantidamente com as prometidas rendas do insolvente Estado português, mas também em nome de soluções técnicas de mitigação das quebras de produção dos geradores eólicos, que podem passar perfeitamente por aumentos de potência em barragens existentes (Barragem da Bemposta, etc.), parar as barragens poderá afinal revelar-se como um mal menor que serve aos ecologistas, ao governo e ao futuro imediato da EDP. Só as construtoras sairão a perder neste volte-face. Mas já não ganharam de mais? Não estragaram já o suficiente a paisagem que é de todos? Não foram já suficientemente responsáveis pela bancarrota do país? E quem disse que não poderão ser parcialmente compensadas com alguma obra na China, Brasil ou Alemanha? Tudo se negoceia quando há juízo!

Sobre quem será o país a tomar conta de 25% da EDP, sabe-se que:
  1. O Brasil não quer a China a entrar no Brasil através da EDP, e quer, por seu lado, entrar na península ibérica e na Europa através da EDP;
  2. Os Estados Unidos não querem a China a entrar no seu sector energético através da EDP, e já fizeram saber isso mesmo às autoridades portuguesas;
  3. A Alemanha não quer a China a entrar no sector energético europeu através da EDP, no preciso momento em que a crise das dívidas soberanas e empresariais vai obrigar a múltiplos movimentos de concentração económico-financeira na Europa;
  4. A China, portanto, para entrar, terá que colocar muita massa em cima da mesa e oferecer extras irresistíveis.
O Brasil abre um mercado de futuro à EDP. Mas, por outro lado, a Alemanha reforçará o potencial científico e tecnológico da companhia, e ainda todo o vasto mercado europeu, mais os mercados de exportação que a Alemanha alcança e que são imensos. Por mim, a opção é clara e chama-se Alemanha!

Seja como for esta privatização vai ser um excelente barómetro da inteligência estratégica e negocial deste governo. Estamos todos em pulgas para saber!



NOTA
Sobre o assassínio progressivo do Douro, vale a pena ler este artigo do engenheiro Francisco Gouveia.
“A região do Douro, que já era emblemática muito antes de ser considerada Património Mundial, pois foi a primeira região demarcada vinhateira do mundo, foi recentemente galardoada com o tal título da UNESCO que a consagrou definitivamente perante o mundo. Todos lucramos com isso, especialmente a região, que passou a ter publicidade gratuita, que passou a ser falada em todos os sítios onde se aconselhavam paisagens, que passou a andar em todos os roteiros da net, que começou a ser apetecida por turistas que a desconheciam.

O turismo no Douro deve a este facto o seu crescimento. E a mais nenhum. Tudo o que se fez depois, foi um enorme zero, dinheiro mal gasto por quem percebia pouco do assunto e tirou um curso acelerado nos corredores dos partidos. Foi o DOURO PATRIMÓNIO MUNDIAL, que arrastou para cá a curiosidade dos estrangeiros. Mas como tudo o que é belo e grandioso, é cobiçado.

E logo as empresas que necessitam deste tipo de relevo e hidrografia, para instalarem as suas centrais de produção, começaram a olhar o Douro com os olhos do Tio Patinhas. E não tinham dúvidas de que era neste Douro, nesta região, que tinham as condições naturais de excelência, que não encontravam em mais nenhuma parte do território.

Foi assim que o Plano Nacional de Barragens Com Elevado Potencial estipulou para o Douro a maior fatia e, consequentemente, a sua maior destruição. A Bacia Hidrográfica do Douro, para que se saiba, já possuía mais de 50 barragens antes deste Plano! Sendo que muitas são de terra e de enrocamento. As de gravidade (aquelas que habitualmente designamos como sendo de betão) são as maiores.

Mas não só. Este Plano Nacional de Barragens, prevê a devastação do Tâmega com inúmeras barragens, algumas dentro de um circulo de 10 Km, bem como a do Baixo Sabor (em construção) e polémica barragem do Tua, esta última que será, talvez, a razão próxima para a perde do título que o Douro ostenta de património mundial.

A barragem do Tua, para além de ser um monstro de betão à saída do Tua com vistas para o Douro, e a que nem a arte do arquitecto Souto Moura (inexplicável, ou explicavelmente envolvido neste processo) conseguirá amenizar, será também o caixão onde repousará parte de uma região de beleza sublime. Ainda por cima, com uma Barragem que será a desgraça das nossas Finanças Públicas, pois o que o Governo anterior contratualizou com a EDP e a IBERDROLA (relativamente às barragens do Tua e Sabor), equivale ao pagamento a estas empresas, de uma quantia que é três vezes superior ao nosso défice, pelo prazo de 70 anos!!!!!!!!!!

E o que é mais grave, é que estas barragens apenas vão contribuir com 0,5% da energia que consumimos!!!!!!!!!!”
“Que estranha forma de vida”, Francisco Gouveia.
Artigo integral em Notícias do Douro.




ÚLTIMA HORA!

11-12-2011 22:06
Negócios online (com base em notícia divulgada pelo Der Spiegel): “O governo PSD/CDS reduziu recentemente a quatro os candidatos à compra da referida quota, dando também preferência aos alemães.”
Comentário: Se o Der Spiegel acertar, então é porque o governo português terá feito a melhor escolha. A entrada da E.ON aos comandos da EDP é a que melhor servirá os interesses do país. À China, Portugal deverá reservar uma penetração consolidada em Sines e em geral no negócio marítimo e portuário, pois será aqui que ambos os países poderão obter vantagens mútuas mais produtivas — OAM.

terça-feira, novembro 29, 2011

#AntiSecPT

Ataque Cibernético Benigno ou o início de uma Democracia Electrónica
 
Operação #AntiSecPT – dia 1 de Dezembro Hackers Portugueses unem-se Online para apoiar os ativistas Legais e Pacificos ANONYMOUS Portugal e todos os movimentos contra a corrupção.


O grupo LulzSec Portugal, responsável pela divulgação de dados de agentes da PSP, está a convidar hackers portugueses a juntarem-se em acções de ataques informáticos e de divulgação de dados, numa operação para arrancar a 1 de Dezembro — Público.

 Depois do ataque cibernético benigno aos polícias (fardados e à paisana — infiltrados) que terão abusado da força na contenção da manifestação realizada no passado dia da dita Greve Geral, diante da escadaria da Assembleia da República —e que o inenarrável dirigente vitalício da CGTP denunciaria, entre dentes, diante das câmaras de televisão, como sendo uma provocação que as autoridades deveriam averiguar— foi esta noite a vez do sítio da Assembleia da República ter ficado às escuras durante algumas horas depois de um suave DDoS (Distributed Denial of Service).

Na convocatória publicada no sítio do Tugaleaks lê-se a propósito do digital sit-in do próximo Primeiro de Dezembro, o seguinte:
“Olá, mundo.

LulzSecPortugal dá início dia 1 de Dezembro à Operação #AntiSec em Portugal.

Viemos das AnonOps e acreditamos no movimento #AntiSec de corpo e alma. estamos aqui para combater a corrupção, expondo online a
transparência que este sistema não permite existir.. e este sistema está a falhar.”

 É caso para dizer, Aleluia! O protesto digital desembarca finalmente em Portugal depois de mais de uma década de eventos que ficarão para a mitologia das primeiras décadas da era social electrónica.

Os ataques indignados à deterioração da nossa democracia populista e partidocrata são as primeiras provas das reacções naturais de uma classe média de base cognitiva uma vez encurralada por uma crise financeira e social sem precedentes, gerida com os pés por uma nomenclatura de políticos e burocratas corruptos e desmiolados. Tal como as manifestações de rua, estas manifestações electrónicas são por enquanto de natureza completamente pacífica e derivam na ordem jurídica, pura e simplesmente, da liberdade de expressão e do direito democrático à indignação — o mesmo que Mário Soares convoca para manifestar o seu recente furor revolucionário.

É cedo para analisar o conteúdo programático destes DDoS e raptos de informação. Tal como é cedo para perceber o que poderá ainda vir a nascer da geração à rasca. O carácter inorgânico das explosões genuínas de protesto social, precisamente por estarem à solta e rejeitarem o respeito submisso às burocracias corrompidas da libertação, são por definição imprevisíveis. Podem ser manipuladas pelas agências secretas dos poderes vários em que estamos imersos, mas também podem escapar-lhes quando menos se espera — provocando os colapsos cíclicos dos regimes, ou mesmo das civilizações.

As burocracias instaladas —dos governos aos sindicatos, passando por uma boa parte dos média— sabem que algo deverá mudar para se evitar o pior, mas não têm em geral coragem para levar por diante as necessárias cirurgias de emergência. As contradições, as indecisões e as fugas para o lado tendem a multiplicar-se, aumentando a entropia. O medo cresce, primeiro, e depois, quando menos se espera, o povo começa a crescer como uma onda imparável que tudo leva pela frente. Se os pobres egípcios e tunisinos conseguiram o que conseguiram com meia de dúzia de telemóveis recém-adquiridos, imagine-se o que a imensa classe média profissional esclarecida da Europa, dos Estados Unidos e Canadá poderá um dia fazer quando perder a paciência e sobretudo a esperança.

Chegou o momento para olhar com olhos aberto e sem preconceitos para o que se está a passar!

terça-feira, novembro 22, 2011

TAP: abençoada lingerie!

QaTArP Airways
Estivemos 150 anos no Abu Dhabi. Porque não deixar agora regressar as moiras a Portugal?

Freddrick's of Hollywood abriu a sua nova "flagship" no Abu Dhabi
TAP pede licenças para operar rotas entre aeroportos portugueses e Abu-Dhabi
“Torna-se público que a TAP - Transportes Aéreos Portugueses requereu uma licença para a exploração de serviços de transporte aéreo regular na rota Lisboa/Abu-Dhabi/Lisboa”, o mesmo acontecendo para as ligações Funchal/Abu-Dhabi/Funchal, Porto/Abu-Dhabi/Porto e Faro/Abu-Dhabi/Faro, refere o INAC. — in Jornal de Negócios online.

UAE: Lingerie Revealing Symbol Of Abu Dhabi's Retail Pull

ABU DHABI, United Arab Emirates (AP) -- It could have picked London or Hong Kong. Instead, the lingerie retailer that styles itself "the original sex symbol" chose the buttoned-down sheikdom of Abu Dhabi for the launch of its first international store.

Frederick's of Hollywood, famed for its curve-cinching corsets and provocative push-up bras, opened up to little fanfare in the Emirati capital last weekend. Another outpost offering the chain's racy lingerie is set to open soon up the road in more freewheeling Dubai. — in Huffingtonpost.

Enquanto os comandantes e pilotos da TAP são assediados pelas companhias aéreas chinesas, sul-coreanas, turcas e árabes, com contratos que, face à degradação galopante do estado financeiro da nossa companhia aérea de bandeira, se tornarão em breve muito apetecíveis, Fernando Pinto prepara-se para aumentar o radar do hub aeroportuário nacional, tornando-o, por assim dizer, bifocal: um olho no Brasil, outro no Abu Dhabi. É caso para dizer que a necessidade aguça o engenho!

A situação da TAP continua a sofrer de indefinições, hesitações e imprevisibilidades que convém analisar:
  1. Desconhecemos o caderno de encargos da privatização apresentado aos interessados — o que em matéria da transparência deixa muito a desejar;
  2. Continuamos sem saber se a privatização da TAP será total ou parcial; e se faz parte, ou não, de um bundle, com a ANA — o que em matéria da transparência deixa muito a desejar;
  3. Continuamos sem saber quais são as empresas efectivamente interessadas na privatização total ou parcial da TAP, ou seja, quais foram as que realmente levantaram a documentação respectiva — o que em matéria da transparência deixa muito a desejar;
  4. Não sabemos se, sim ou não, o governo português tenciona proceder a um spin-off prévio da companhia, com vista a uma reestruturação preventiva do grupo, liquidação parcial das dívidas, etc.
  5. Sabemos apenas que a data limite para o fecho das negociações foi adiada até Dezembro de 2012 — o que não deixa de revelar à evidência as dificuldades de encontrar um parceiro, ou comprador credível que não seja a Ibéria-British Airways (IAG), a única opção à partida inaceitável, por motivos óbvios: a Ibéria liquidaria o hub de Lisboa em três tempos (replicando a arrogância demonstrada, aliás, noutras paragens — o caso da Argentina foi escandaloso!)
Sabe-se, entretanto, que os pilotos e os comandantes da TAP, já para não mencionar o pessoal de manutenção das aeronaves e o pessoal de bordo e de Terra, estão cada vez mais nervosos com a situação.

Companhias chinesas, sul-coreanas e árabes têm vindo a oferecer aos pilotos mais experientes contratos aliciantes para duas zonas do globo onde a compra de aviões novos e o crescimento do tráfego aéreo, de negócios e turístico, dispararam na proporção inversa da falta de pessoal qualificado para manobrar e manter aeronaves e sistemas tecnológicos altamente sofisticados. Não se improvisam pilotos, e muito menos comandantes de aeronaves, nem engenheiros-chefe de manutenção, como quem escolhe cagarros para um parlamento. São precisas muitas horas de voo documentadas, históricos profissionais e de carácter sem nódoas, classificações de desempenho credíveis e de alto nível, em suma, competência e fiabilidade.

À medida que o amadorismo negocial e a falta de estratégia política prevalecem entre as conspirações que há muito caracterizam a corja político-partidária e os lóbis corruptos que temos, maior será a pressão para aceitar os ventos que sopram de Oriente. Seis comandantes já voaram. Trinta ou quarenta mais entregaram CVs e avaliam dia-a-dia os prós e os contras de uma emigração forçada pelas elites desmioladas que conduzem o país.

Há por enquanto consenso, entre os pilotos da TAP, sobre três temas:
  1. o aeroporto de Lisboa deverá passar a contar com o Montijo — solução que supera em todos os termos de comparação, Alverca, Sintra, Beja e Monte Real (1);
  2. a entrada da Ibéria na TAP significaria a prazo muito curto o fim do hub de Lisboa e transformação dos aeroportos portugueses em aeródromos de província;
  3. os pilotos da TAP, nomeadamente através do seu sindicato, querem fazer parte do futuro da empresa, exigindo para tal que lhe seja dada a participação no respectivo capital, a que têm direito em virtude dos resultados das negociações que em 1999 encetaram com a tutela, então dirigida por João Cravinho.
Insisto: o governo deve falar com quem melhor conhece a companhia, e deve recorrer a uma entidade internacional independente para realizar um spin-off do grupo tendo em vista a sua privatização, mas também a salvaguarda de um bem estratégico.

Este é um Mercedes Benz de um bilionário do petróleo em Abu Dhabi.
Motor V10 com 4 turbos 1600 HP, Torque de 2800Nm, vai de 0 a 100 km/h em menos de 2 seg. Utiliza bio combustível. Não é de aço inoxidável, é de OURO BRANCO!
Certamente poderemos dormir melhor sabendo que o que pagamos pela gasolina é por um motivo nobre.


NOTAS
  1. As objecções à falta de ILS na pista que melhor servirá a operacionalização do Montijo não têm base técnica, pois a solução já existe e chama-se GNSS (Global Navigation Satelite System) — bastando para tal que o Instituto Nacional de Aviação Civil (INAC) faça rapidamente o seu trabalho em matéria de certificações. Por outro lado, as dificuldades criadas ao uso da pista de recurso 17/35, da Portela, resultantes do número de aeronaves que pastam como bovinos em cima das estendidas e aumentadas placas de estacionamento, resolver-se-à precisamente com o desvio de parte do tráfego para o Montijo, e sobretudo, com a desactivação da quimera burocrático-militar a que chamam "Aeroporto de Figo Maduro"! Esperemos que o ministro da defesa e os militares desorçamentados percebam rapidamente as vantagens financeiras que poderão obter com a entrega da placa de cimento de Figo Maduro à Portela, e da cedência do Aeroporto do Montijo ao Novo Aeroporto de Lisboa, composto por três terminais: Terminal 1 (Portela), Terminal 2 (Portela) e Terminal 3 (Montijo)

sábado, novembro 05, 2011

Bete comme un peintre, greedy as an architect?

De um lado temos a corrupção... e do outro alguma arquitectura... entre uma coisa e outra há um desvio colossal de inteligência e ética!

Estádio AXA, Sporting Clube de Braga, desenhado por Eduardo Souto de Moura. Foto©Wetete (mod.OAM)
O galardoado arquitecto português Eduardo Souto Moura vai conceber a central hidroeléctrica da barragem de Foz Tua, no Nordeste Transmontano, com o desafio de harmonizar a edificação com a paisagem do Douro Património da Humanidade. Diário de Notícias, 5/11/2011.

Os desgraçados dos bracarenses irão pagar durante décadas o estádio que alegremente encomendaram. Para já, desembolsam em impostos e taxas seis milhões de euros por ano pela "obra de arte", o suficiente para cuidar estrategicamente de uma cidade que degenera aos pedaços sob o peso de um cacique em quem uma minoria da população vota há décadas (apenas 21% das almas do município e 29% dos inscritos nos cadernos eleitorais votaram na criatura "socialista" em 2009).

Tal como a Parque Escolar escolheu a dedo projectistas e empresas de construção, sem cumprir nem a lei nem as regras da decência democrática, o mesmo acaba de ocorrer com a escolha, pela pública e tecnicamente falida EDP, do arquitecto Eduardo Souto de Moura, para desenhar os edifícios de um dos monumentais embustes herdados da era "socialista" que nos atirou para o buraco da bancarrota: a Barragem do Tua! 

Ninguém contesta os méritos artísticos do arquitecto, mas o mesmo não direi da sua desastrosa e manifesta falta de sentido de oportunidade e cidadania. Já para não suscitar a questão da inexistência de um concurso internacional para o efeito, que pelos vistos não impressionou o arquitecto que recomendou aos seus jovens colegas portugueses que emigrassem. Pudera!

A classificação patrimonial do Douro Vinhateiro irá à vida, com ou sem Prémio Pritzker, e em boa parte pela aliança recente e interessada da actual ministra da agricultura com os interesses da EDP e dos construtores de barragens inúteis e criminosas.

As barragens ruinosas projectadas não servem para coisa alguma, salvo mascarar a insolvência da EDP, tornada mais do que evidente pela decisão ontem divulgada de emitir obrigações a três anos no valor de 200 milhões de euros, cujo objectivo aparente é o de conseguir in extremis pagar o serviço da dívida da empresa este ano!

Em suma, responsabilidade social é coisa que alguns arquitectos não têm. Mas lá barriga não lhes falta!

act. 5/11/2011 18:24 

POST SCRIPTUM

Alguém me chamou a atenção para um facto extraordinário relativamente ao comportamento do nosso Nobel 2 da arquitectura. Pelos vistos, a criatura não se importa de criar mais uma extraordinária e caríssima "obra de de arte" destruindo previamente uma outra obra de arte (de engenharia e desenho) que serviu durante dezenas de anos populações inteiras e que, em bom rigor, deveria há muito ter sido classificada como património cultural do país — não fora estas atribuições dependerem sempre duns infelizes intelectuais burocratas, de CV sempre alçado em direcção a São Bento. À espera de promoção, claro!

act. 6/11/2011 16:53

quinta-feira, novembro 03, 2011

Super-Mario

No Quantitative Easing, thank you!

Vista da futura sede do BCE, Frankfurt © ISOCHROM

A imprensa e a televisão portuguesas passaram toda a conferência do novo senhor BCE à mesa de uma caldeirada! Não viram, não ouviram, não sabem! Que desgraça :(

Mas o super Mário, afinal, frustrou (ainda bem) as expectativas monetaristas de Londres, de Nova Iorque, dos especuladores e piratas que não desistem de deitar a mão à poupança mundial, e ainda das burocracias e nomenclaturas rendeiras da Europa — nomeadamente a portuguesa, do senhor Mexia ao senhor Sampaio!

Confirmam-se, assim, as minhas expectativas, expressas em Junho passado: “Vem aí um novo BCE! — Draghi, o italiano mais germânico que a Alemanha poderia esperar

Mário Draghi é um admirador do Bundesbank — está tudo dito ;)

Toca, pois, a trabalhar, afastando do poleiro imediatamente os principais responsáveis pelo nosso próprio buraco financeiro!

Introductory statement to the press conference
Mario Draghi, President of the ECB,
Vítor Constâncio, Vice-President of the ECB,
Frankfurt am Main, 3 November 2011

[extracto]

“Turning to fiscal policies, all euro area governments need to show their inflexible determination to fully honour their own individual sovereign signature as a key element in ensuring financial stability in the euro area as a whole. The Governing Council takes note of the fiscal commitments expressed in the Euro Summit statement of 26 October 2011 and urges all governments to implement fully and as quickly as possible the measures necessary to achieve fiscal consolidation and sustainable pension systems, as well as to improve governance. The governments of countries under joint EU-IMF adjustment programmes and those of countries that are particularly vulnerable should stand ready to take any additional measures that become necessary.

It is crucial that fiscal consolidation and structural reforms go hand in hand to strengthen confidence, growth prospects and job creation. The Governing Council therefore calls upon all euro area governments to accelerate, urgently, the implementation of substantial and comprehensive structural reforms. This will help the euro area countries to strengthen competitiveness, increase the flexibility of their economies and enhance their longer-term growth potential. In this respect, labour market reforms are essential and should focus on measures to remove rigidities and to enhance wage flexibility, so that wages and working conditions can be tailored to the specific needs of firms. More generally, in these demanding times, moderation is of the essence in terms of both profit margins and wages. These measures should be accompanied by structural reforms that increase competition in product markets, particularly in services – including the liberalisation of closed professions – and, where appropriate, the privatisation of services currently provided by the public sector.”

O BCE não será, para já, o lender of last resort dos filhos pródigos da Europa e dos piratas que a rodeiam. Ou seja, o BCE não irá por enquanto carregar na tecla electrónica mágica que cria dinheiro do nada, para remunerar especuladores à custa da destruição maciça das poupanças de quem poupou: empresas e pessoas. Quem andou distraído, a vadiar ou a estourar heranças, que acorde e comece a trabalhar e poupar!

Isto significa, no caso dos Estados sobre endividados, como o português, uma coisa muito simples: avaliar o preço justo do nosso bem estar social, e adequar este bem estar às nossas possibilidades.

Mas para aqui chegarmos será irremediavelmente necessário separarmos democraticamente aquilo que só o Estado pode e deve fazer (bem e administrando os recursos com transparência e racionalidade) de tudo o resto, nomeadamente do que podemos fazer melhor e mais barato recorrendo a empreendedores, a empresas privadas, a cooperativas, fundações e associações não lucrativas, e ainda às redes sociais tecnológicas.

Esta separação vai ser dolorosa, em particular por causa das enormes resistências que todo o tipo de corporações e burocracias instaladas há décadas no conforto da coisa pública garantida irão opor à mudança.

Mas esta mudança necessária e inevitável terá que ser transparente, negociada e vigiada por todos, para que ninguém saia injustamente prejudicado, ou alegremente beneficiado. Precisamos, pois, de mais democracia para não falhar! As redes sociais e aquilo que há anos chamo democracia electrónica pode desempenhar aqui e agora um papel crucial nesta batalha por uma sociedade mais produtiva, justa e solidária.

quarta-feira, novembro 02, 2011

Dia de los muertos (uma farsa grega)

Os Estados Unidos não desistem de tentar tudo para acabar com o euro. Mas o dólar cairá primeiro!

A caveira coberta de diamantes do artista britânico Damien Hirst é bem a metáfora do dia de hoje!
Foto©Daily Mail

Greece has stunned Europe by calling a referendum on the bailout plan agreed to by EU leaders last week. The move throws efforts to rescue the euro into doubt and heralds weeks of market turbulence ahead of the vote. A Finnish minister said Greece will in effect be voting on whether to remain in the euro.
— Spiegel Online, 1-11-2011

Das duas uma: ou estamos perante a sabotagem de um agente infiltrado de Washington —cujo objectivo é destruir o euro—, ou de um demagogo populista vagamente idiota, o que não é verosímil.

A verdade é que foi este mesmo grego-americano, George Papandreu, quem, com apoio da Goldman Sachs, ajudou a esconder o endividamento grego até... à bancarrota!

Basta ler a sua biografia para perceber quase tudo. Do desastre olímpico, ao novo e ruinoso aeroporto de Atenas, passando pelas contas públicas marteladas com o auxílio, pago a peso de ouro, da Goldman Sachs, tudo este monarca republicano e o seu antecessor "socialista" (Costas Simitis) fizeram para enterrar a Grécia!

Crer que esta criatura teve uma inspiração divina na véspera do Dia dos Mortos, e que tão só o vento levou as palavras solenes proferidas na sequência da cimeira que cortou pela metade os dividendos esperados por quem apostou na dívida grega e perdeu, ou é ingenuidade ou confusão entre democracia e populismo referendário.

Five banks -- JPMorgan, Morgan Stanley, Goldman Sachs, Bank of America Corp. (BAC) and Citigroup Inc. (C) -- write 97 percent of all credit-default swaps in the U.S., according to the Office of the Comptroller of the Currency. The five firms had total net exposure of $45 billion to the debt of Greece, Portugal, Ireland, Spain and Italy, according to disclosures the companies made at the end of the third quarter. Spokesmen for the five banks declined to comment for this story.
Bloomberg, 1-11-2011

Há 46 milhões de americanos a recorrerem à sopa dos pobres. No sonho americano chama-se Food Stamps e dá direito a cartão de plástico emitido pela insuspeita JP Morgan.

As the European news flow overflow continues, it is useful to occasionally look at how America's own economy is doing. After all remember that the latest paradigm is that the US will decouple from everyone (as is always foolishly and erroneously assumed whenever the ROW turns lower) and carry the weight of the global economy on its own shoulders. So here is this month's refresh from the Supplemental Nutrition Assistance Program, which informs us that in August, a new all time record number of Americans, or 45.8 million, relied on food stamps for sustenance.
 — ZeroHedge, 1-11-2011

Talvez seja bom recordar, a propósito desta farsa grega, e da aflição americana, uma pequena sociedade secreta chamada Skull and Bones. Só por acaso as coisas acontecem por acaso.


POST SCRIPTUM

A China indicou hoje esperar que a zona euro permaneça fiel ao plano de resgate aprovado há uma semana e reafirmou a disposição de "continuar a investir" na Europa, depois do referendo anunciado na segunda-feira pela Grécia.
Negócios online, 2-11-2011.

A única forma de avaliar as notícias financeiras desta crise global é imaginar um teatro de guerra financeira entre os EUA e a Eurolândia, de que as moedas japonesa e chinesa são uma espécie de actores oscilantes. Algumas das guerras militares convencionais e assimétricas em curso, actos de terrorismo, invasões ilegais de países e mudanças de regimes são obviamente parte desta mudança dos termos de troca mundiais. O império anglo-americano está em declínio acelerado. A sua última grande batalha é a batalha pelo par dólar-libra. E o seu inimigo estratégico, ao contrário do que se quer fazer querer, não é a China, mas o euro!

O volte-face grego de ontem não foi mais do que uma manobra imposta à Grécia pelos amigos americanos do americano-grego Papandreou. Como todas as provocações bem montadas, é uma operação populista quase perfeita, e conta, como não podia deixar de ser, com o olhar complacente dos ingénuos e dos distraídos, e sobretudo conta com o apoio militante dos burocratas oportunistas da Esquerda Empalhada Europeia!

A grande armadilha montada à União Europeia passa obviamente por lançar o euro na corrida descendente da desvalorização —forçando o BCE a baixar os juros, a parir euros do nada e, por conseguinte, a esvaziar a própria dívida europeia. Isto significará por em marcha a expropriação acelerada da poupança europeia, por via fiscal e através de uma inflação acelerada. Isto significará, em suma, se vier a ocorrer (a Alemanha poderá sempre mandar o euro às urtigas!), que os súbditos britânicos, incluindo os patetas americanos, conseguirão encurralar uma vez mais a Alemanha. Vale-nos, por enquanto, o namoro apaixonado entre Angelita e Sarko. E vale-nos, sobretudo, a inteligência estratégica da China e em geral dos países emergentes (com particular destaque para o Brasil)

act. 2-11-201122:51

domingo, outubro 30, 2011

Estamos fodidos!

Portugal vai a caminho da Grécia, ou pior :(
E a desgraça é que não temos nenhuma ferramenta à mão para o evitar...

Portugal wants U.S. help in euro crisis: source
ASUNCION | Sat Oct 29, 2011 1:16pm EDT

(Reuters) - Portugal asked Mexico on Saturday to tell fellow G20 members next week that the United States should offer "financial help" to resolve the euro zone sovereign debt crisis, describing it as a "systemic and global" problem, a Portuguese government source said.

Portuguese Prime Minister Pedro Passos Coelho asked Mexican President Felipe Calderon to convey the message during the G20 meeting in Cannes next week, the source told reporters after the two leaders met at the Ibero-American summit in Paraguay.

Neste gráfico as coisas (depósitos) não parecem mal — in Street Light, Set 2011

Europe's rescue euphoria threatened as Portugal enters 'Grecian vortex'
By Ambrose Evans-Pritchard
The Telegraph, 9:37PM BST 27 Oct 2011

Monetary contraction in Portugal has intensified at an alarming pace and is mimicking the pattern seen in Greece before its economy spiralled out of control, raising concerns that the EU summit deal may soon washed over by fast-moving events.

Data released by the European Central Bank show that real M1 deposits in Portugal have fallen at an annualised rate of 21pc over the past six months, buckling violently in September.

"Portugal appears to have entered a Grecian vortex and monetary trends have deteriorated sharply in Spain, with a decline of 8.4pc," said Simon Ward, from Henderson Global Investors. Mr Ward said the ECB must cut interest rates "immediately" and launch a full-scale blitz of quantitative easing of up to 10pc of eurozone GDP.

Mas neste outro, os depósitos convertíveis em empréstimos bancários (M1) parecem esvair-se claramente a partir de Outubro deste ano — in The Telegraph, Out 2011

Quando ouvi as palavras de Pedro Passos Coelho ditas em Assunção fiquei com um zumbido nos neurónios que não me deixaram descansar até encontrar a causa daquela performance desesperada.

A austeridade vai durar anos, na Função Pública o fim dos 13º e 14º meses será tão definitivo quanto a perda de rendimentos na ordem dos 30-40%, e os 15 mil despedimentos até 2014 admitidos pelo Secretário de Estado da Administração Pública, segundo notícia do Expresso. Culminando todas estas admissões penosas vem o apelo patético do primeiro ministro ao presidente mexicano, depois de uma viagem relâmpago e suplicante ao Palácio do Planalto. O sorriso cínico do traste de Belém não me passou despercebido. Os olhos esbugalhados e a manifesta inquietação de Paulo Portas fez-me temer pelo pior. Escassas horas depois a Reuters lançava a bomba: afinal, tal como tinha insinuado Ambrose Evans-Pritchard no Telegraph da passada Quinta Feira, Roubini ao longo das últimas semanas, e Tyler Durden, no Zero Hedge, Portugal será mesmo a próxima réplica do tsunami grego! Vamos ter que conviver com duas Europas, a do euro-PIIGS, e a do euro-marco!

A EDP deve mais de 16 mil milhões de euros, as Águas de Portugal devem 6 mil milhões, a TAP deve 2,4 mil milhões, o sector público de transportes deve 16,8 mil milhões, o buraco das PPPs ascende a mais de 60 mil milhões, e este governo ainda hesita sobre se deve ou não parar o Plano Nacional de Barragens, se deve ou não mandar parar imediatamente as barragens assassinas do Tua e do Sabor (entre outros motivos porque tem na chefia da pasta responsável uma advogada ferida por óbvios conflitos de interesse e um secretário de estado do ambiente cujo CV não poderia ser mais anti-ambiental.)

Ao contrário das hienas que clamam cinicamente por crescimento, a verdade é que não podemos crescer sem investimento. Mas onde vai buscar investimento um país cujas dívidas pública e privada somadas atingirão no próximo ano 360% do PIB? Estamos tramados!

As nossas orelhas vão sangrar e muito. Teremos necessariamente que pendurar alguns dos responsáveis directos desta inqualificável desgraça. Não passaremos sem um pornográfico apertar de cinto e o empobrecimento dramático da classe média. Será completamente impossível deixar à iniciativa privada a resolução desta macro-desgraça. Terá que ser o Governo, reforçado com um Gabinete de Crise em funcionamento permanente e com poderes excepcionais, como já propus, a conduzir este navio ferido por um enorme rombo no casco da solvabilidade. O mar está pejado de traiçoeiros blocos de gelo e de buracos negros. Foi nisto que decaíram a economia e o sistema financeiro mundiais.

Portugueses: façam de conta que estão em guerra, tomem conta das vossas reservas e não as confiem aos piratas que nos conduziram à bancarrota! Exijamos responsabilidades a quem as tem em primeira mão!! E forcemos este governo a trabalhar pelo país!!!


in Gold Money, 2011-OCT-30

POST SCRIPTUM
  • De acordo com o primeiro quadro estatístico acima publicado, os depósitos (à ordem e a prazo, creio) existentes na banca portuguesa apresentam uma evolução positiva entre 2008 e Abril de 2011, começando depois a declinar ligeiramente. Já no quadro seguinte, que se refere a uma realidade distinta, ou seja à massa monetária em circulação (M1), isto é ao dinheiro que temos nos nossos bolsos e à ordem nas nossas contas bancárias, verifica-se uma oscilação descendente seguida de queda muito acentuada a partir do início deste mês de Outubro. Não sei avaliar exactamente o significado destas curvas, mas parece que, por um lado, têm vindo a crescer os depósitos a prazo e, por outro, tem vindo a desaparecer o dinheiro à vista, e portanto a capacidade de financiamento da economia por parte dos bancos. A moeda escritural resultante de uma fracção dos depósitos à vista caíu a pique, ao que parece, desde Julho, ameaçando assim a solvabilidade dos bancos portugueses. Daqui os alarmes que começaram a repicar depois da cimeira europeia de 26 de Outubro, que não satisfez as expectativas tardo-keynesianas de todos os devedores e filhos pródigos da Eurolândia!
  • Dez horas depois da publicação deste post (2011-10-30 00:39) a Agência Financeira divulgou informação estatística, com origem no Banco de Portugal e no INE, coerente com os quadros acima expostos.

    Poupança dos portugueses caiu para metade em 30 anos
    Agência Financeira, 2011/10/30 10:00

    “A poupança dos portugueses caiu para menos de metade desde as décadas de 1970 e 1980. A taxa de poupança bruta (percentagem do rendimento disponível das famílias que é aforrado) foi 9,8% em 2010, segundo dados do Instituto Nacional de Estatística (INE) e do Banco de Portugal (BdP) citados pela Lusa. Mas em 1971, era 21,2%.

    [...] No ano passado, a taxa ficou nos 9,8%, mas a tendência era de quebra e segundo as contas trimestrais do INE, caiu para 9,3% no segundo trimestre deste ano.

    [...] O povo mais poupado da Europa é o alemão, cuja taxa de poupança atingiu os 17% em 2010. Na lista dos mais poupados seguiam-se a Bélgica (16,2%), Eslovénia (15,7%) e a França (15,6%).

    No extremo oposto vinham a Hungria (8,2%), Estónia (9,6%), Lituânia (7,9%) e Letónia (4,2%).”
  •  Em sentido contrário, ou talvez não (um aumento de depósitos a prazo não dá aos bancos —a menos que cometam, fraude— melhores perspectivas de crédito à economia), o Económico veio também, ao fim da manhã de hoje, tocar a campainha dos rácios de solvabilidade da nossa banca, aparentemente fustigada pelos limites ao potlach em curso para atrair os chamados super-depósitos (os mesmos que atraíram tantos incautos ao BPN!)

    Poupanças dos clientes ajudam na crise de liquidez
    Económico, 30/10/11 13:55

    “Em Agosto deste ano, o saldo de depósitos no sector bancário, de acordo com os dados do Boletim Estatístico do Banco de Portugal, atingiu o valor mais elevado de sempre, ou seja, 127 mil milhões de euros. Mais 7,3% que o saldo de Agosto de 2010. No entanto, a média "esconde" algumas taxas de crescimento superiores que alguns bancos têm apresentado, que em certos casos são de dois dígitos.”
act. 30/10/2011 23:20

  • Paul De Grauwe, "Infelizmente, creio que Portugal está mais próximo da reestruturação"
    Negócios online, 31/10/2011.

    Paul De Grauwe é um dos maiores especialistas sobre o funcionamento da Zona Euro. O professor e conselheiro da Comissão Europeia não tem dúvidas de que as decisões da semana passada serão insuficientes.
  • "O BCE tem de dizer que estará disposto a avançar com poder financeiro total e enquanto for preciso"
    Negócios online, 2/11/2011.

    Mário Draghi não terá tempo para respirar. A crise da dívida pública continua por resolver e só o BCE pode dar a resposta credível aos mercados financeiros. Paul De Grauwe, especialista em economia monetária e uma autoridade na análise da Zona Euro, avalia em entrevista ao Negócios os desafios que se colocam ao novo presidente do BCE, e faz um balanço do mandato de Trichet.

    [...]

    Os problemas surgem só com a crise da dívida?
    Sim. Em 2008, o BCE agiu bem e rapidamente na saída para salvar o sistema bancário. Foi quando chegou a crise da dívida soberana que as coisas começaram a andar mal. Eles foram guiados por dogmas, sendo o principal a ideia de que o BCE poderia comprar tudo menos obrigações de soberanos.

    Mas em certa medida, a compra de obrigações em larga escala pode violar os Tratados?
    Não concordo. Muitas pessoas dizem isso, e assim até parece que isso é um facto. Mas não é assim. O Tratado diz que o BCE pode comprar e vender papel transaccionável no mercado. E o que são obrigações soberanas? São activos, como quaisquer outros. Não há nada nos Tratados que limite as compras apenas a activos emitidos pelo sector privado.

    [...]

    O que é prioritário para o BCE nos próximos três a seis meses?
    O BCE tem de oferecer uma garantia de travão à crise de dívida soberana, de forma a travar que esta alastre e acabe por se tornar numa crise bancária de grande escala. A forma como o Fundo Europeu de Estabilidade Financeira (FEEF) foi construído e agora reforçado é insuficiente. O BCE tem de prestar esse apoio e tornar claro que está completamente comprometido a usar todo o poder financeiro necessário. Só isso pode convencer o mercado. E nesse caso, como disse, nem terá de usar muito poder financeiro. Usará menos do que se tem visto forçado a usar.
act. 6/11/2011 10:13

sábado, outubro 29, 2011

A água não é da AdP, nem da EDP!

A tragédia dos comuns é dupla se libertarmos o uso insustentável do que é de todos, da inércia e do egoísmo colectivos, para o entregarmos à ganância dos especuladores financeiros

Tâmega - Eutrofização - Tujidos - Amarante
©Foto: Anabela Matias de Magalhães

 Alargar a luta pelo direito à água

Mais de cem representantes de diversas organizações representativas da sociedade portuguesa deram corpo ao primeiro Encontro Nacional da Água e aprovaram um manifesto que reafirma o firme empenhamento em prosseguir os princípios e objectivos da campanha «Água é de todos, não o negócio de alguns», nomeadamente «o desenvolvimento de acções em defesa da água pública e a sua disponibilidade para trabalhar com outros movimentos que lutam contra a privatização da água e serviços públicos essenciais, convictos de que este é o caminho para a construção de uma sociedade mais justa, progressista e solidária» — in A Água é de todos.

Não podemos permitir que a voragem especulativa dos piratas que levaram Portugal à bancarrota prossiga agora sob o patrocínio do liberalismo retardatário, da distracção, ou da hipocrisia dissimulada dos novos governantes. Álvaro Santos Pereira e Assunção Cristas (o que começou bem pode acabar depressa e mal!) têm que se entender sobre o que é vital para o país, e não deixarem-se influenciar pelo poder da corrupção, que não desiste.

A água potável é um bem comum, cuja gestão deve ser publicamente controlada, límpida e cristalina, equilibrada, acautelando assim a gestão sustentável de um bem que é cada vez mais escasso e pertence à vida, não a uma turma de imbecis ávida de automóveis de alta cilindrada!

As albufeiras geridas pela EDP, por exemplo, estão em processo acelerado de eutrofização, por manifesta incúria e incumprimento contratual. A única coisa que preocupa o senhor Mexia são os lucros e as cotações do PSI20. Pois bem, por aí também já não chegará a parte alguma!

Sócrates, o capturado INAG e as Águas de Portugal levaram aliás a cabo um processo de privatização irresponsável da exploração do domínio público hídrico nacional, juntando à lógica do capitalismo burocrático, endogâmico e rendeiro, que nos conduziu à bancarrota, a adesão indígena e provinciana à lógica especuladora das bolhas financeiras que fazem do bem comum mais um casino para as suas orgias.

Uma das causas da eutrofização das albufeiras, nomeadamente no rio Douro, é o excesso de nutrientes azotados que escorrem das explorações vinícolas e olivícolas intensivas. Se queremos manter viva a bacia hídrica do rio Douro teremos que dar prioridade ao vinho e ao azeite biológicos!

Aliás, Portugal deveria seguir o exemplo da Áustria: avançar rapidamente para uma agricultura e uma silvicultura biodinâmicas, sem químicos prejudiciais, nem OGMs. A vantagem competitiva seria óbvia e poder-se-ia finalmente aumentar a segurança alimentar do país — com uma sustentada diminuição da nossa dependência das importações.

Este governo tem muito por onde começar, se quiser preparar as bases para um novo paradigma de sustentabilidade económica do país. Mas para isso, deve agir já, começando por colher e deitar no balde da compostagem todos os frutos podres da árvore da administração pública, incluindo todo o seu perímetro empresarial. E em paralelo, tem que puxar pela imaginação e pela criatividade, tem que chamar os melhores, e tem que desafiar o país a libertar-se do torpor que o mantém em estado praticamente vegetativo.

POST SCRIPTUM

Depois de publicado este artigo li a opinião de Luís Todo Bom sobre a polémica em volta da anunciada privatização da Águas de Portugal, explicitando a sua oposição à privatização da AdP, uma empresa de direito comercial privado, mas com capitais 100% públicos e um passivo de mais de 6 mil milhões de euros! Cabe perguntar qual foi afinal a vantagem de se ter constituído um tal modelo de empresa. Só se foi para permitir endividar o país sem dar cavaco ao Orçamento de Estado, permitindo, claro está, remunerar escandalosamente os boys&girls lá colocados e comprar frotas automóveis de luxo.

act. 29-10-2011 15:20