sábado, dezembro 08, 2012

TAP, privatização ou embuste?

German Efromovich quer TAP de borla, para colocar a Avianca na Europa

Como aqui se antecipou, governo tentado a vender a TAP pelos prejuízos!

Proposta de Efromovich pela TAP ficou aquém das expectativas do Governo

Público, Raquel Almeida Correia, 07/12/2012 - 19:02

Milionário entregou esta sexta-feira oferta definitiva para comprar a transportadora aérea, com um encaixe residual para o Estado.

A proposta que Germán Efromovich fez chegar às mãos da Parpública, a gestora de participações empresariais do Estado, ficou aquém das expectativas do Governo. O milionário colombiano-brasileiro terá oferecido 1,5 mil milhões de euros, dos quais apenas 20 milhões vão entrar como receita para o Estado, já que a grande fatia servirá para recapitalizar a empresa e pagar o passivo. 

A fama de Efromovich vem de longe. É conhecido por comprar empresas em dificuldades sem gastar um cêntimo. Confirma-se! E como escrevemos há tempo suficiente, a má gestão do dossier TAP/ANA pode ser o precipício que encurtará drasticamente o período de vida deste governo. Uma má decisão sobre a TAP/ANA pode fazer com que o coelho deste governo se metamorfoseie em peru.... de Natal.

O boliviano brasileiro-colombiano, e polaco de última hora, German Efromovich, oferece 20 milhões de euros pela TAP. Ou seja, não oferece nada. Limita-se, portanto, a receber sem custos uma empresa falida e insolvente em troca da promessa de preservação da respetiva marca, e de manutenção do hub da Portela durante 10 anos, cobrando seguramente ao governo português, i.e. a nós todos, o prestimável serviço aéreo para os arquipélagos da Madeira e dos Açores.

Nesta circunstância seria bem melhor o governo reestruturar a TAP, doesse a quem doesse, e depois de saneada a empresa, relançar o processo de privatização sem incorrer no perigo de estar a dar de mão beijada uma empresa a um empresário de méritos duvidosos, ainda por cima com negócios envolvendo a Israel Aerospace Industries (ler este post d'OAM).

O estado de Israel foi isolado a semana passada de forma vergonhosa na ONU, sem poder contar sequer com o apoio de Portugal, nem da... Alemanha. Deixar entrar a maior e mais importante empresa militar israelita, ainda que pela porta do cavalo, neste negócio, coloca questões de segurança da maior importância que não podem ser descuradas de ânimo leve. É tempo de avançarmos de uma vez por todas para sistemas coerentes em matéria de estrutura e supervisão financeira, orçamentos nacionais, fiscalidade e segurança na União Europeia!

A privatização anunciada, além de não ter termo de comparação vai render zero euros ao erário público, e até custar dinheiro ainda não declarado. Nada adianta, portanto, para os objetivos do Memorando assinado com a Troika. Na realidade, a dádiva da TAP é tão só uma lebre coxa para aumentar o valor da ANA e uma maneira cobarde de o governo fugir ás suas responsabilidades sociais.

O valor da ANA tem vindo, no entanto, a cair à medida que a situação das duas privatizações começou a degradar-se, ainda por cima num cenário europeu que antevê uma recessão para 2013.

Como me escrevia há pouco um leitor atento:
Não é possível garantir dez anos de fidelidade à TAP, como prometeu António Borges numa entrevista televisiva.

Basta desnatar a empresa:
  • Transferir o sistema de reservas para a plataforma da Avianca.
  • Passar as rotas entre a América do Sul e a Europa para a Avianca.
  • Renegociar o pacote de leasings.
  • Cobrar um valente management fee pela gestão da TAP (equivalente ao pagamento de dividendos à Avianca).
  • Carregar a TAP com dívida (a da compra da TAP e ainda de outros negócios de aviação do acionista).
  • Cobrar à TAP preços de transferência pelos passageiros da América do Sul.
  • Vender os direitos de transporte entre Europa e Africa a uma offshore.
  • E por aqui aí adiante….
Os nossos privatizadores apenas têm em mente um objectivo: encaixe imediato para tapar o buraco orçamental. Se o preço e as condições são ou não são boas, pouco importa… a melhor prova disto mesmo é que se vai em diante apenas com um comprador que sabe que o governo está desesperado por dinheiro. Há em tudo isto um conflito de interesses entre o interesse público e os que estão no poder e que deveriam defender o interesse público…

NOTA IMPORTANTE

Reparem nas contas que fizemos no post que leva o título Bestap, de 25 de outubro passado:
Quem comprar a TAP terá ou não que comprar os ativos, mas também as dívidas e as responsabilidades? Terá! E quais são?
Estimativa
  1. +950 milhões de euros: ativos tangíveis (aviões, etc.)
  2. +2.250 milhões de euros: cerca de 4.500 pares de Slots (2250 voos semanais = ~ 9000 Slots)
  3. -500 milhões de euros: capitais próprios negativos
  4. -140 milhões de euros: prejuízos em 31 de agosto de 2012 (Sol)
  5. -2.325 milhões de euros: passivo acumulado (consultar o relatório e contas do grupo TAP)
  6. -2.573 milhões de euros (12x215M-6,802M): encomendas firmes de 12 Airbus A350-900
  7. -127 milhões de euros: indemnizações para despedimentos.

    Total estimado: +3.200-5.792 = -2.592 milhões de euros
Nesta perspetiva otimista, a TAP vale -2.592 milhões de euros! Ou seja, é daquelas situações em que vendendo o grupo por 1€, significaria entregar ao comprador uma companhia a funcionar, mas com um buraco efetivo de mais de 2.500 milhões de euros :( 
Estes valores, salvo as estimativas (preço dos novos Airbus, valor dos slots, indemnizações por despedimentos) foram retirados de relatórios e comunicados da TAP. Reparem agora neste passe de magia:

— em vez de considerar a encomenda dos 12 Airbus A350-900 como um prejuízo, ou como uma responsabilidade irreversível (as encomendas são firmes e constam da folha de entregas da Airbus publicada em 31 de agosto passado), vamos considerá-la como um ativo. Que acontece? O valor negativo potencial do grupo TAP passa de menos 2.592 milhões de euros para menos 19 milhões de euros. Ou seja, o boliviano brasileiro-colombiano, e polaco de última hora, German Efromovich oferece 1 milhão de euros pela empresa! Até parece que andaram a ler O António Maria ;)

Última atualização: 8 dez 2012 - 11:32 WET

 

quarta-feira, dezembro 05, 2012

O Padrinho IV ?

Estalou o verniz ao senhor doutor Mário Soares. Que pena :(

Há avisos que não se fazem, porque podem ser interpretados como ameaças

Mário Soares parece ter apelado de forma sibilina ao linchamento do Primeiro Ministro. Será verdade? Pode esclarecer as suas palavras, doutor Mário Soares?

“Os portugueses estão desesperadamente contra este Governo . Não há qualquer dúvida. Contudo, Passos Coelho diz que não se aflige com isso. Talvez até goste. Mas é preciso que se lhe diga, antes que seja tarde, que corre grandes riscos. Inúteis. Tem Portugal inteiro contra ele: sacerdotes, militares, de alta e baixa patente, cientistas, académicos, universitários, rurais, sindicalistas, empresários, banqueiros, pescadores, portuários, médicos e enfermeiros e, sobretudo, a maioria dos seus próprios correligionários do PSD. Mas fica na mesma, entre avanços e recuos, sugerindo ideias e abdicando delas, sem se aperceber das contradições em que cai, mas sempre a piorar. Já não se lembra que, quando era líder dos jotas do PSD, gritava com os outros: “O povo é quem mais ordena”? Agora, obviamente, não é. O povo não existe para o primeiro-ministro e para o seu Governo. Tenha, pois, cuidado com o que lhe possa acontecer. Com o povo desesperado e, em grande parte, na miséria corre imensos riscos. É preciso e indispensável mudar de política. Com esta política - e a intervenção permanente do ministro das Finanças - tudo vai de mal a pior. São os militantes do PSD que o reconhecem. Será que seremos a Grécia? Ou pior do que ela?” — Mário Soares in A Palestina na ONU, DN, 4 dez 2012.

A afirmação de base onde assenta toda a argumentação de Mário Soares no seu inacreditável artigo de ídolo apeado da história, está errada. Na realidade, uma sondagem recente (Jornal Digital, 26/11/2012) mostra que a maioria dos eleitores nem quer ouvir falar de eleições, ou de mudança de governo, muito menos de um regresso do PS, ou pior ainda, do regresso do PREC, agora sob a forma de uma frente popular de imbecis!


POST SCRIPTUM

Mais achas na fogueia da vaidade jacobina
Polémica: Soares ‘entala’ Seguro
O secretário-geral do Partido Socialista (PS), António José Seguro não colocou objecções à carta subscrita por 78 personalidades, com Mário Soares a encabeçar essa lista, confirma o próprio ex-Presidente da República e histórico socialista — in Notícias ao Minuto.
A confraria cor-de-rosa, depois de arruinar o país, anda naturalmente confusa, desesperada, e não consegue acertar o passo, nem dentro de portas, nem fora delas.

Última atualização: 5 dez 2012 - 13:54 WET


terça-feira, dezembro 04, 2012

A queda de um touro

O grande ícone da Ibéria visto por um artista espanhol, SAM3

A TAP deve olhar para a Ibéria!

Iberia, la antigua aerolínea de bandera española, está en crisis y solo una profunda transformación puede salvarla. Este es el argumento dado por la dirección de la compañía para elaborar el ajuste más duro al que ha tenido que enfrentarse y que supone una significativa reducción de su tamaño: menos rutas, menos negocio y, sobre todo, un cuarto menos de la plantilla. El plan ha hecho saltar todas las alarmas entre los representantes de los trabajadores, que han convocado seis jornadas de huelga en diciembre que amenazan con paralizar los aeropuertos. La inquietud ha llegado hasta el Gobierno, que teme que el adelgazamiento de Iberia reduzca la actividad en Barajas, donde se han invertido 6.000 millones de euros para una nueva terminal. El País, 2 dic 2012 - 00:18 CET.

Escrevi este comentário na página Facebook do António Maria:

Tal como no caso da TAP, há tão só duas hipóteses: 1) reestruturar a companhia de alto a baixo, começando pela redefinição estratégica da mesma; ou 2) deixá-la falir, como sucede no resto da sociedade, sem mais uma dose de proteção pública injustificável e injusta, sobretudo para as dezenas de milhar de espanhóis que são expulsos das suas casas hipotecadas por falta de pagamento :(

A Ibéria, tal como a TAP, já há muito que deveriam ter-se transformado em companhias Low Cost, com um segmento de Longo Curso competitivo. Infelizmente nenhuma percebeu que o negócio aeronáutico mudou e que o prolongado período de crescimento (quando o turismo mundial crescia a 8% ao ano) acabou — seja porque a procura agregada mundial tocou o pico, seja porque, mais grave ainda, essa procura está num processo acelerado e dramático de redistribuição, nomeadamente em direção à Ásia e à América Latina, mas também para os extremos do poder de compra: os ricos passarão a voar em Corporate Jets e os novos pobres, ou seja, a classe média alargada/empobrecida, os reformados e boa parte das empresas, passarão a voar Low Cost. Dentro de uma década haverá provavelmente menos uns bons milhões de passageiros profissionais no ar, por efeito da generalização das redes sociais de trabalho, de banda muito larga e segurança acrescida.

Em Espanha, como em Portugal, os principais responsáveis dos colapso de ambas as companhias aéreas são, em primeiro lugar, os governos e  partidos, em segundo lugar, os sindicatos e trabalhadores até agora protegidos da concorrência, e em terceiro lugar, a indigente imprensa que temos, por não ter feito a pedagogia da mudança e, pelo contrário, ter servido apenas de câmara de eco das agências de comunicação a soldo dos governos e dos lóbis de devoristas que lucraram e lucrarão ainda muitos milhões de euros com a queda desta duas históricas empresas públicas.

A isto, que escrevi no FB, o meu amigo Hugo Elias contestou:
“Em primeiro lugar existe a relação directa entre a TAP e a Iberia que, actuando e competindo a partir da mesma zona geográfica, beneficia uma com o prejuízo da outra. Tal e qual como se, num exemplo grosseiro, numa auto-estrada com duas bombas de gasolina, uma delas avariar a outra fica com a totalidade da oferta.

Em segundo, há a relembrar que o negócio das duas companhias depende da deslocalização de passageiros entre zonas externas ao território nacional e não depende do turismo nacional. O negócio da TAP é o transporte entre o Brasil, os países ricos de África e a Europa. O da Iberia é o transporte entre a América do Sul e a Europa.

Com a aquisição da TAP por parte do grupo Sinergy, há uma mudança estratégica de negócios, em que a TAP alarga o seu quinhão de mercado para a América do Sul (através da Avianca e da TAM), adquirindo as vantagens competitivas da Iberia (língua e história) neste local. Passa a ter um papel importante no transporte aéreo entre 3 continentes. Assim também se compreende melhor as dificuldades que a espanhola está a passar neste momento, na perspectiva eminente de perder um importante sector de mercado onde durante muitos anos não teve concorrência.

Mais ainda a manutenção do Hub estratégico é uma garantia de funcionamento empresarial que se traduz nas boas ligações entre a Europa do grupo Star Aliance e o mercado em desenvolvimento da América do Sul.

Então, a haver a privatização da TAP, esta passa a ter dois caminhos prováveis: ou cresce, adquirindo novos aviões, aumentando os slots na Europa e nos países orientais, ou mingua nos serviços terrestres reestruturando a companhia através de uma diminuição de peso. Portanto, ou crescem os lucros através de investimento (ver AirBus) ou através da diminuição de despesa.

O caminho irremediável da TAP não é o Low-cost, porque simplesmente o negócio da TAP não é regional mas intercontinental. As ligações de Portugal para a Europa, ou vice-versa, onde há concorrência Low-cost, são o prolongamento do core business entre a Europa, África e a América do Sul. Posto de uma forma prática, o passageiro sueco que se dirige ao Brasil vai adquirir um bilhete Star-Aliance porque é mais barato e fácil que adquirir um bilhete na Easy-Jet para Portugal e depois outro na TAP para o Brasil (porque não tem que fazer novo check-in de bagagem, porque os bilhetes ficam menos caros para cada novo trajecto na mesma companhia, porque a oferta é conjunta, etc.)”
Hugo, a teoria é coerente, mas não adere à realidade, salvo erro meu...

V. escreve: “O caminho irremediável da TAP não é o Low-cost, porque simplesmente o negocio da TAP não é regional mas inter-continental.”

Tem números para fundamentar a tese?

Os dados que tenho são públicos:
  1. Os voos de longo curso na Portela representam apenas 9% dos movimentos...
  2. a easyJet e a Ryanair, mais a Vueling, a Germanwings e a Transavia, entre outras companhias Low Cost têm vindo a roubar de forma galopante o mercado interno da TAP assim como o mercado interno da Iberia. Se a ANA estatal não tivesse até agora bloqueado a entrada da Ryanair em Lisboa, o rombo seria ainda maior! Em Faro a TAP foi pura e simplesmente pulverizada pelas ofertas de baixo custo, e no Funchal teve que baixar drasticamente os preços, sob pena de perder ainda mais tráfego para as companhias Low Cost. Por outro lado, o anúncio de despedimento de 4.500 trabalhadores da Iberia, a redução dos ordenados dos pilotos em 50% e o encerramento de várias ligações internas para cidades tão importantes como Santiago, ou Bilbau, dá bem a medida do rombo que o novo modelo de negócio, inventado e experimentado com sucesso nos EUA, acabou por forçar a maior reestruturação de sempre na aviação comercial europeia, desde logo em matéria de fusões —Air France-KLM, IAG (British Airways-Iberia), Lufthansa-SWISS— e de Codeshare partnerships (a lista da Lufthansa Codeshare partners é impressionante e mostra bem o que se está a passar na Europa)
  3. os prejuízos da TAP, por sua vez, ao contrário dos lucros de outras companhias, Low Cost ou mesmo de bandeira, atestam a perda de competitividade e de mercado, sobretudo por erros crassos de estratégia e má gestão;
  4. há quem diga que o Efromovich quer a TAP por um motivo principal: desalojá-la de algumas rotas europeias onde tem, ou passará a ter (!) prejuízo, para ficar com os preciosos slots para a Avianca. Não é a TAP que entra no mercado iberoamericano que habla español, através da Avianca e da TAM, mas o senhor Efromovich que desembarca diretamente na Europa, sem passar por Lisboa, mas passando, talvez, quem sabe, por Madrid. Afinal, assim como os brasileiros são a maior comunidade imigrante em Portugal, os colombianos, peruanos, argentinos, etc., são o maior contingente de emigrantes que vive e trabalha em Espanha. Os doze A350 encomendados por Fernando Pinto, com intermediação financeira do BES e da banca suíça, vão ter que servir para alguma coisa, e não creio que a Ásia e a África ultrapassem os pedidos de ligações diretas entre São Paulo, Rio de Janeiro (Olimpíadas...), Brasília, Lima, Bogotá, Santiago, Caracas, Buenos Aires, Porto Alegre, Belo Horizonte, etc.;
  5. o hubezinho da Portela manter-se-á sobretudo por causa da comunidade brasileira que vive em Portugal, mas haverá dois novos hubezinhos em Madrid e Barcelona (e aqui a nova companhia desafiará efetivamente uma parte do mercado intercontinental da Iberia);
  6. quanto aos voos no interior da Ibéria, bem como no resto do espaço europeu, assistiremos ao acelerar da migração dos passageiros para as companhias Low Cost... da IAG, da Air France-KLM e da Lufthansa (1);
  7. a sucata da TAP será vendida para África e América Latina, e a que for imprestável irá para o novo sucateiro aeronáutico do Alentejo, mais conhecido por aeromoscas de Beja;
  8. e por fim, percebe-se agora porque motivo o futuro dono da TAP defende que os aeroportos Sá Carneiro e de Faro (Fátima, etc.) abram as portas de par em par às Low Cost: é que o negócio do senhor Efromovich é outro, e não passa pela imobiliária de aeroportos!
Com tudo isto podemos realmente suspeitar que a TAP, neste momento, valha mesmo menos de um euro :(


ÚLTIMA HORA!

TAP — do press-release em véspera de saldo da companhia publicado na versão papel do Jornal de Negócios:

Passageiros transportados entre novembro 2011 e novembro de 2012:

Brasil e América Latina: 2 906 000
EUA: 236 000
África: 616 000
Sub-total: 3 758 000
Europa: 5 673 000
Total: 9 431 000

Há, porém, um gato nestas contas: os passageiros em trânsito do Brasil-América Latina, EUA e África para a Europa são contados duas vezes!

Ou seja, embora comprem um bilhete, por exemplo, Rio de Janeiro-Londres, a verdade é que aterram na Portela, ou no aeroporto Sá Carneiro, e mudam de avião. Logo, são contados duas vezes. Admitindo, por outro lado, que os residentes do continente americano e africano em Portugal rondam os 180 000, e que não viajam para outros destinos europeus que não sejam Lisboa e Porto, e que todos eles farão em média uma viagem intercontinental por ano e na TAP, então o número de passageiros que terá feito expressamente uso do hub da TAP para chegar a outros destinos europeus (por exemplo, Itália), entre novembro de 2011 e novembro de 2012, rondará os 3, 578 milhões de passageiros. Subtraindo agora este número ao número de passageiros transportados no espaço europeu teremos 5 673 000 - 3 578 000 =  2 095 000. É esta fatia de dois milhões de bilhetes que as Low Cost disputam e têm capacidade de roubar à TAP assim que a easyJet, Ryanair, Germanwings, Vueling, Transvia, etc. ataquem em voo formado a Portela, o aeroporto Sá Carneiro e Faro. Se os voos intercontinentais da TAP andam cheios, as ligações entre o hub Lisboa-Porto e a Europa vão ter que deixar de dar prejuízo :( À vista está, por conseguinte, a migração de vários slots da TAP para a Avianca, nomeadamente no Reino Unido, Alemanha, França e Itália.

NOTAS
  1. Volar a Madrid con Iberia desde A Coruña cuesta un 66% más que hacerlo desde Santiago y Vigo, al menos hasta el próximo mes de marzo, cuando la compañía tendrá un competidor en Alvedro, Air Europa. Y es que desde el domingo, cuando despegó el último vuelo de EasyJet y hasta marzo, la aerolínea española operará en solitario el destino a Madrid. La Opinión Coruña.

Última atualização: 4 dez 2012 - 17:00 WET

 

Ana Pastor, atención!

Álvaro Santos Pereira e Ana Pastor tentam reparar os estragos?

Poderão um lusitano e uma galega salvar a bitola?
Ou será que Espanha quer crucificar Portugal e surripiar-lhe 800 milhões de euros?

Alguém arguto e desconfiado escreveu-me dando-me conta de um sobressalto: e se, afinal, a Espanha estivesse a preparar-se para surripiar os 800 milhões de euros reservados pela União Europeia para o troço Poceirão-Caia (do Priority Project 3 — PP3), que não podem ser transferidos para doidices em bitola ibérica, sendo assim aproveitáveis pela Espanha nestes tempos de penúria, já que os tugas andaram a pastar nos mirabolantes terrenos do NAL (Novo Aeroporto de Lisboa) desde a Ota até Alcochete, e se esqueceram de fazer o projeto da linha em bitola europeia entre o Poceirão e o Caia?

Escreve o meu amigo:
“... este forcing da Espanha visa obrigar Portugal a afirmar que não quer, ou que já não pode querer, os 800 milhões de euros porque, afinal, não tem projecto, nem sombra de obra! A calinada lusa serve às mil maravilhas os interesses económicos espanhóis: verbas para as RTE (TEN-T) espanholas, co-financiadas em 800 milhões, ainda que indiretamente, pelo governo português!

Portugal não está em condições, neste momento, de lançar um metro de UIC!

A Espanha quer por isso mesmo vergar a espinha a esta malta toda e obrigar o governo português a confirmar, nomeadamente perante a União Europeia, que não cumpriu os acordos internacionais nas RTE (TEN-T).

Diplomaticamente, a Espanha deixa Portugal numa posição muito pouco confortável, para não dizer humilhante, ao pés da Europa civilizada.

Espanha vai levar Portugal ao tapete, e neste particular o PS vai retirar claramente dividendos. Já deve estar a rir-se do espalhanço destes tipos todos.”

Se esta análise estiver correta, será uma grande chatice :(

Se esta análise estiver correta, significa que este governo não conseguirá emendar a mão a tempo. Eu acredito, porém, com algum otimismo, confesso, que Álvaro Santos Pereira ainda irá a tempo, mas para tal terá que substituir os imbecis e os sabotadores de serviço em menos de quinze dias!

Por outro lado, a Espanha não desejará certamente criar uma ferida tamanha entre os governos dos dois estados ibéricos, pelo que conheço deles. Querem mesmo é chegar a Lisboa :)

Para Madrid, a ligação a Lisboa é porventura o desígnio estratégico mais importante que têm entre mãos, sobretudo depois do espalhanço, esse sim, enorme, na América Latina.

Portugal é a sua única porta de acesso a África (refiro-me à parte rica do continente e seus off-shores) e ao Brasil..., além de Sines, claro...

Não nos esqueçamos, por outro lado, que os movimentos nacionalistas estão a ganhar terreno de eleição para eleição: País Basco, Galiza, Catalunha... e um dia destes não me admiraria nada que Sevilha voltasse a tornar-se mais exigente face aos mandriões e chulos da Moncloa.

Por fim, creio que entre um lusitano (o Álvaro) de gema e uma galega que não disfarça (a Ana), prevalecerá o bom senso. O bom-sendo do Caia!


POST SCRIPTUM

Diz quem sabe: “Caro Cerveira Pinto: o consórcio Elos mandou fazer e tem o projecto de execução do Poceirão-Caia, pelo que o sobressalto não tem razão de ser, se for devido à razão sugerida. Se quiser confirme com o RR” — ML.

Última atualização: 4 dez 2012 - 11:33 WET

sábado, dezembro 01, 2012

Portela, mon amour

É urgente revelar as causas do colapso

A blogosfera acertou !

Finalmente impera a verdade e o juízo relativamente ao aeroporto da Portela. Este blogue e quem o apoia, que sempre defendeu uma posição equilibrada sobre o setor dos transportes (rodoviário, ferroviário e aéreo), está de parabéns: precisamos de mais ferrovia interoperável com os nossos portos e as redes europeias de transporte, e precisamos de rentabilizar ao máximo as infraestruturas aeroportuárias, civis e militares, que já temos!

As centenas de milhões de euros que foram parar aos consultores do regime e da partidocracia, numa impressionante transfusão ilegítima de recursos financeiros preciosos, do Estado para as sanguessugas da degenerada democracia que temos, e sobretudo o preço quase irrecuperável das decisões erradas e dos atrasos estratégicos, deveriam agora começar a ser política e judicialmente faturados e cobrados aos piratas que afundaram o país.

Não basta mais umas palmadinhas nas costas. Foi esta corja que balbuciou em 2006 ou 2007 que tinha dois anos para sacar o que pudesse, não foi? A base legal para refazer contratos leoninos e desenhados com evidente má fé e propósitos de espoliação da poupança pública existe, e tem que ser levada a sério pela coligação saída das últimas eleições. Passos Coelho e Portas que façam o que tem que ser feito. O que não pode ocorrer, em caso algum, depois da sangria fiscal em curso e da destruição de uma parte da economia portuguesa, é deixarmos as mesmas tríades e máfias destruidoras continuarem a mandar e a consumir o país num festim pornográfico de vaidade e prepotência!


Parabéns Portela!
Um dos mais pontuais da Europa resiste aos piratas do regime...



Vídeo colocado no YouTube em 26 de dezembro de 2010. Uma longa batalha, de David contra Golias, pelo Aeroporto da Portela. Venceu a razão, mas foi preciso vermos primeiro Portugal cair na bancarrota :(

Três tristes tigres

Augusto Mateus, o adiantado mental do regime, sobre o NAL

José Manuel Viegas, outro adiantado mental do regime, sobre o NAL

João Cravinho, um ministro muito distraído e altamente ruinoso para o país (não acertou uma!)

Os Gatos Fedorento, que certamente liam, então, este bloque, afogaram com um video demolidor a socratintas (isto foi antes de os GF terem sido comprados e calados pela PT…)

TVI fez sempre um bom trabalho sobre o embuste da Ota em Alcochete


Última atualização: 1 dez 2012 15:42

sexta-feira, novembro 30, 2012

A carta e as moscas

Mário Soares e o pesadelo do regime.
Imagem derivada de foto de Fernando Veludo/
Público

A austeridade chegou onde os boiardos do regime jamais imaginaram que chegasse. Por isso berram como cordeiros desmamados. 

Soares e 77 personalidades exigem demissão de Passos

Com a acusação de estar a "fazer caminhar o País para o abismo", 78 personalidades exigem ao primeiro-ministro que se demita. Entre as razões está a "aprovação de um Orçamento de Estado iníquo, injusto, socialmente condenável", que consideram que "não será cumprido e que aprofundará em 2013 a recessão" — João Céu e Silva, DN, 29 nov 2012. (Carta Aberta — pdf)

Só não entendo porque precisou Mário Soares, um ex-presidente da república, de convocar uma lista tão previsível de subscritores para a sua vaga missiva, mas em forma de ultimato, ao homem que se candidatou e ganhou democraticamente o cargo que ocupa sabendo que herdaria um país destroçado pelo Bloco Central e em particular pelo partido que é o de Mário Soares, e pela pessoa, José Sócrates, que Mário Soares nunca criticou, nomeadamente em matéria de despesa pública e endividamento criminoso, colapso financeiro, ou sobre as sucessivas patifarias praticadas com descaramento e impunidade totais pela tríade de Macau, de que José Sócrates foi o veículo escolhido.

Será que Mário Soares quer fundar agora um novo partido à sua medida, ou então ajudar a cozinhar a próxima candidatura presidencial?

António Costa não assinou, pelo que a preferência do ex-presidente, que afinal vai fazendo política sempre que lhe apetece, deverá mesmo apontar para o ex-líder estalinista da CGTP, Manuel Carvalho da Silva, que agora assina e fala sempre na qualidade de professor universitário.

António Ramalho, o ex presidente, neste caso, do INATEL, homem no terreno do soarismo, já fala como diretor de campanha. A coisa promete...

Curiosamente, à medida que os devoristas do regime vão sendo atingidos nos seus privilégios fiscais e nos rendimentos extraídos dos orçamentos públicos, bem como nos acessos que julgavam naturais e eternos aos negócios e prendas do poder, as iniciativas, curiosamente anti-sistema, por parte de quem o criou, não deixa de ser uma extrema ironia do colapso em curso.

As sondagens mostram, porém, que a maioria dos eleitores não quer remover o governo saído da coligação, por pior que pareça, antes de ver os resultados finais da aplicação do memorando assinado com os credores oficiais do regime pelo PS, PSD e CDS-PP.

Todos sabemos que iria ser um sufoco. Mas também, cada vez mais, os eleitores reconhecem as duas causas básicas da bancarrota em que nos encontramos, e que, por isso, têm que ser atalhadas sem remédio: consumir alegremente mais do que produzimos durante demasiado tempo, e permitir um Estado acima das nossas possibilidades durante décadas a fio. Esta combinação de comportamentos irresponsáveis é uma receita que conduz inevitavelmente ao desastre.

Ignorar estas duas verdades elementares, confiando que haveria sempre uma árvore das patacas onde ir apanhar dinheiro, foi uma leviandade estratégica sem nome e fatal para o país. Os principais responsáveis desta barbaridade política foram e são quem esteve e continua a estar no poder executivo, legislativo, judicial e representativo de Portugal. Não é a Troika!

Daí que os eleitores rejeitam mais jogos de cadeiras. Agora, queremos mesmo resultados, doa a quem doer.

quinta-feira, novembro 29, 2012

A morte súbita dos partidos

Lenine morreu possivelmente de sífilis,  mas a nova religião social tentou preservá-lo até à eternidade. Na realidade, o seu cadáver embalsamado resistiu mais à intempérie do que a ditadura estalinista e a URSS.

Precisamos de uma nova constituição e sobretudo de mais democracia. Os politocratas que temos deveriam reformar-se mais cedo!

PCP "Está em construção" uma alternativa ao actual Governo

Jerónimo de Sousa afirmou que há um "elemento novo na política portuguesa" hoje que é a convergência de largos sectores da população em torno da contestação à política do Governo PSD/CDS-PP, juntando, nas manifestações "muita gente do PS, do PSD" e "até do CDS" bem como movimento sociais e pessoas sem partido.

Em entrevista à Agência Lusa, a propósito do XIX Congresso do PCP, que se realiza entre sexta-feira e domingo, em Almada, Jerónimo de Sousa disse que o partido propõe uma "alternativa política" e um "governo patriótico e de esquerda" capaz de a executar e afirmou que isso "está em construção", fruto da "luta de massas" onde convergem sectores que até ao momento estavam "neutros ou neutralizados" pela "ideologia das inevitabilidades".

Notícias ao Minuto, 29 nov 2012 ; 07:00

A síndrome dos corpos embalsamados de Lenine e de Mao, e da Cadeira de Salazar, é um dos maiores entraves à libertação de alguns povos —entre os quais se contam os portugueses— dos seus messiânicos salvadores que acabam invariavelmente por revelar-se seus coveiros.

A democracia portuguesa não existe. Basta olhar para a indigência e total falta de independência dos deputados parlamentares e autárquicos. Basta ler a fábula que leva o nome pomposo de Constituição. Basta reparar como os bancos controlam os patrões da política e estes controlam os partidos de quem procura emprego fácil. Basta verificar como as leis do país são cozinhadas em gabinetes de advogados pagos a peso de ouro pelos desgraçados contribuintes, sem que as comissões parlamentares e os plenários tenham verdadeiramente palavra e poder de mudar uma vírgula sequer das leis que servem quem se esconde sob o manto ilusionista desta democracia.

Todo este regime de falsa democracia é abençoado por uma justiça corporativa indigente e predisposta à corrupção diária do espírito intrinsecamente ético das leis. A nossa democracia é, na verdade, um regime populista, partidocrata, endogâmico, nepotista e corrupto, cuja glória, depois de tanta entorse, foi conduzir o país à bancarrota, em vez de lhe proporcionar prosperidade e cultura.

Os grandes partidos do arco da governação formam um bloco central de interesses, apático e tolhido pela corrupção de quem verdadeiramente manda. Os pequenos partidos, por sua vez, não passam de sindicatos de votos que medem os interesses do país à medida dos seus pequenos nichos de popularidade. O PCP vive das empresas públicas e de algumas autarquias; o Bloco apoia-se quase exclusivamente na turma dos professores.

E no entanto, mais do que nunca, precisamos de uma democracia que verdadeiramente emane da cidadania, apoiada em agrupamentos, ou reagrupamentos democráticos de base, sem hierarquias burocráticas, organizados em redes de convergência inteligente e solidária, transparentes, eficientes e onde predomine a mobilidade e o intercâmbio de pessoas e ideias.

Precisamos, em suma, de uma democracia sem partidos, ou onde os partidos passem a ter uma função e um desempenho muito mais discretos e bem delimitados, complementados no exercício legislativo e moral da democracia por outras formas de expressão e concretização da vontade democrática, e pela defesa inegociável das liberdades coletivas e individuais.

Jerónimo de Sousa repete pela enésima vez desde 1974 o amanhã que canta no coração cansado de quem ouviu a lenga-lenga estalinista do PCP ao longo das últimas quase quatro décadas de um regime de transição entre a ditadura corporativista de Salazar e uma sociedade democrártica livre e responsável que está longe de ser uma realidade. Os grandes vícios do corporativismo —prepotência política dos governantes e burocratas, dependência individual e corporativa do Estado, nepotismo, subserviência, corrupção endémica, manipulação e indigência da imprensa, isolacionismo ideológico, total falha de visão estratégica do país, e um enorme provincianismo somado ao aflitivo analfabetismo funcional que persiste, milhares e milhões de contos e de euros depois— continuam entre nós. De que fala então o líder do PCP? Que espera do "seu" povo? Que morra e ressuscite de cara e alma lavadas? Ou será que a desgraça do povo é, afinal, a sua única garantia de sobrevivência? A igreja antiga, a católica, também anda por aí num desatino audiovisual por causa da fome. Fome de quem, e de quê, pergunto?

Para haver democracia, ou melhor, para que esta democracia mal formada dê lugar a uma democracia digna do nome, precisamos de ter classes médias, empreendedoras, profissionais e intelectuais, imbuídas de uma ética do dever e da transparência, bem como de uma cultura do diálogo e da racionalidade. A gritaria da luta de classes para inglês ver é tão só a máscara cadavérica de um tempo virtual que não serve quem diz querer servir, mas apenas cuida do grande nicho do oportunismo e da mediocridade.

As formas e as forças do regime que temos deixaram de servir o interesse histórico do povo que dizem representar. Representaram-no tão mal que caímos na insolvência. Voltámos a ser, outra vez, um protetorado dos credores. Nisto, todos os partidos são igualmente responsáveis. Por inacreditável ignorância, por incompetência canina, por oportunismo incurável, por corrupção.

Precisamos, sim, de refundar o regime. Mas não como propõe Passos Coelho. Na verdade, não podemos continuar a jogar às escondidas com a Constituição. Do que se trata é de a substituir por outra, que não seja uma quimera hipócrita e oportunista.

Se não quisermos perpetuar as causas do fracasso que nos trouxe até aqui, teremos que fazer uma revolução constituinte ou simplesmente convocar uma nova assembleia constituinte, para escrever outra utopia para Portugal.