quinta-feira, junho 23, 2011

Como privatizar a TAP?

TAP Europa | TAP Atlântica | TAP Oriente
Pretendendo encurralar o novo ministro, Álvaro Santos Pereira, com a chantagem dos despedimentos, defensores encapotados do status quo falido do país (tríade de Macau e lóbi de Alcochete) acabam de reconhecer que a TAP está falida e é comercialmente inviável. Um definitivo tiro no pé!

Só há uma maneira de salvar a TAP: privatizando-a quanto antes!

“A concorrência das companhias aéreas de baixo custo vai custar 2 mil milhões de euros à TAP. De acordo com um estudo interno da companhia, a que o jornal Público teve acesso, a transferência de passageiros e a pressão para reduzir os preços ameaçam causar prejuízos de 152 milhões de euros em apenas um ano.

Em causa está a abertura de uma base da Easyjet no aeroporto da Portela em 2012 e ainda a concorrência da irlandesa Ryanair.

A confirmarem-se os prejuízos, os despedimentos na TAP serão inevitáveis o que pode levar ao encerramento da empresa.” — SIC Notícias. (1)

Não é a concorrência, estúpido! É a incompetência de gestão e a intromissão política, estúpido!

Há anos que a Blogosfera tem vindo a chamar a atenção de quem deve estar atento, sobre o curso suicida da TAP. Mas como quem mandou até agora foram os construtores civis, os negociantes de terrenos e o comissionista partidário de turno, não há outra saída que não passe pela privatização urgente, quer da TAP, quer da SATA. Nenhuma das companhias consegue sobreviver sem fortes subsídios estatais, i.e. mais endividamento externo! Além do mais, não foi Fernando Pinto que em entrevista aos jornais saudou em tempos a concorrência das Low Cost?

O ataque mediático dos defensores do status quo falido, veiculado pelo Público de hoje, contra o que ontem mesmo escrevi, configura duas perigosas derivas por parte de poderes informais instalados: uma deriva guerrilheira contra o novo governo, usando para tal golpes baixos, como foi já o caso do despedimento colectivo nos estaleiros de Viana de Castelo, ou o anúncio aos quatro ventos de que a TAP, afinal, não é viável em ambiente de concorrência leal, ou seja, que vale pouco ou nada em sede de privatização!

Esta insinuação, e a tentativa de responsabilizar o actual governo pela inevitável redução de efectivos que o obeso grupo TAP terá que sofrer, revelam três coisas: que as actuais administrações da TAP e da ANA foram e continuam capturadas por interesses inconfessáveis, muito pouco públicos; que estão desesperadas; e que os poderes instalados (tríade de Macau e lóbi de Alcochete) parecem dispostos a sabotar sucessivamente o memorando de entendimento assinado pelo governo "socialista" de José Sócrates com a Troika, e a maioria governamental recentemente formada. É caso para dizer que o corropio em curso de entrevistas à RTP-N, por parte de grandes figurões da alucinação socratina, não passa dum branqueamento cínico de quem tem efectivamente muitas contas a prestar ao país!

Além do mais as notícias sobre a falência da TAP são antigas, pelo que o alarme do Público não passa de uma sombra feia para agitar os sindicatos e as comissões de trabalhadores, a quem aconselho vivamente que estudem detalhadamente a situação e lutem por uma solução ajustada à realidade.

TAP vai registar os maiores prejuízos de sempre desde a chegada de Fernando Pinto — 02-10-2008, Público

“A transportadora perdeu 133 milhões até Agosto e prevê-se que as contas piorem até ao final do ano. A tentativa de acordo com os sindicatos parece estar condenada.”

“Quando Fernando Pinto apresentou os resultados do primeiro semestre de operação da TAP (136 milhões de euros de prejuízos), ainda restava a esperança de que o Verão, período de pico da indústria aérea, ajudasse a recuperar a empresa. Ontem, o gestor brasileiro regressou à mesma sala para anunciar que os meses de Julho e Agosto apenas reduziram as perdas em três milhões de euros.
Os dados acumulados dos oito primeiros meses do ano mostram uma TAP a caminho dos piores resultados de sempre desde a chegada de Fernando Pinto, no ano 2000. Desde Janeiro, a companhia registou prejuízos de 133 milhões e "o mais provável é que o resultado líquido seja pior no final do ano", avançou Michael Conolly, administrador financeiro da transportadora, ao PÚBLICO.”

Prejuízos de 2008 provocam falência técnica da TAP — 16-12-2008, Presstur

“Fernando Pinto começou (...) por comentar que a falência técnica é “aspecto contabilístico”, embora admitindo que “tem que ser visto” e, “principalmente”, à luz das obrigações do Artigo 35 do Código das Sociedades Comerciais, que determina que os administradores devem propor aos accionistas o reforço do Capital Social quando os Capitais Próprios já foram inferiores a dois terços desse montante.”

“[...] Fontes financeiras disseram ao PressTUR que o facto de a TAP passar a estar em incumprimento do Artigo 35 do Código das Sociedades Comerciais coloca o risco de qualquer credor poder pedir a falência, mas, frisam, não tem sido essa a prática, desde logo por que os próprios credores querem é que a empresa continue a laborar para poder ressarcir as dívidas.”

Pode evitar-se a privatização da TAP? Não.

Mas pode o Estado continuar presente na futura companhia? Pode: com uma pequena %. O serviço público das ligações entre-ilhas, na Madeira e nos Açores, e destes arquipélagos ao continente, pode e deve ser assegurado por companhias privadas subsidiadas pelo Estado. A TAP e a SATA (depois de privatizadas), mas também outras companhias poderão disputar livremente estas oportunidades de negócio com deveres especiais associados.

Em 19 de Março último o António Maria escrevia:
  • A TAP não tem futuro, a não ser reestruturando-se radicalmente. Isto é, focando-se na única actividade que lhe dá dinheiro: voar!
  • A TAP não tem futuro, a não ser partindo-se em três companhias ponto-a-ponto: TAP Atlântica (Brasil, Venezuela, Angola, Cabo-Verde, São Tomé, etc.); TAP Europa (mais de 80% do seu movimento actual); e TAP Oriente (Turquia, Golfo, Índia, China, Japão), com parceiros regionais fortes (na Europa, a Lufhtansa, em África a TAG, na Ásia, com a Air China, etc.)
  • A TAP precisa, como do pão para a boca, da Portela, mas de uma Portela renovada a sério e bem gerida, talvez por uma ANA privada, não para engordar a burguesia palaciana, inepta e preguiçosa nacional, mas para entregar a gestão aeroportuária do país a um consórcio privado com provas dadas, subordinado a obrigações de serviço público muito claras, mas libertando de uma vez por todas a gestão desta empresa rentável dos indecorosos boys&girls do PS e do PSD.
  • A Portela precisa, como do pão para a boca de obras que aumentem a segurança das pistas e a gestão dos movimentos no ar e em terra. Para tal precisa de libertar espaço aéreo militar reservado na zona de Lisboa sem qualquer justificação e que apenas permanece como está pela estúpida e proverbial resistência dos lóbis burocráticos às decisões racionais. Num estado civil, os militares obedecem ao poder civil democraticamente eleito, ponto final! O ministério da defesa, infelizmente dirigido nas últimas décadas por amadores e aparachiques, continua a ocupar corredores aéreos de bases militares à volta de Lisboa, inúteis ou até desactivadas: Sintra e Montijo (inúteis), e Alverca (desactivada).
  • A TAP precisa dum aeroporto na cidade, porque 80% dos seus voos são para e do espaço comunitário europeu, porque apenas 9% dos aviões que demandam a Portela são da classe wide-body (i.e. adequados a viagens de longo curso, nomeadamente intercontinentais), o que afasta liminarmente a verborreia dos vendedores-ambulantes do PS e do PSD sobre o "Hub aeroportuário de Lisboa".
  • A Portela deve permanecer, pelo menos até 2020, como o único aeroporto civil de Lisboa, pois tem ainda oportunidades de ver crescer o número de passageiros que por ele transitam, sem precisar de aumentar muito mais o número de movimentos de aeronaves. Só no filet mignon dos horários prime-time, há falta de slots na Portela. Mas isso é assim em todos os aeroportos! O que mais importa saber é que os aviões da TAP andam vazios, para ser mais preciso, com taxas de ocupação muito baixas e sempre a descer desde que as Low Cost atacaram, e bem, o mercado português. Os nossos imbecis governantes ainda não perceberam que o sucesso das Low Cost, que tem vindo a encostar a TAP literalmente às boxes (em Faro, Porto, e em breve Funchal e Lisboa) se deve, em grande parte, ao enorme contingente de novos emigrantes portugueses que viajam, desde que há tarifas convenientes, não uma ou duas vezes por ano, como antes acontecia, mas de dois em dois meses, todos meses, ou até quinzenalmente (sobretudo quando têm emprego ou negócios simultaneamente em Portugal e nalgum outro país comunitário). Os irresponsáveis e incompetentes políticos agarrados à mama orçamental habituaram-se às borlas e mordomias da TAP, e como qualquer viciado em heroína, custa-lhes a deixar os maus hábitos  pagos pela nossa austeridade!
  • Finalmente o aeroporto da Portela, que tem ainda margem para crescer fisicamente (nova taxiway, afastamento dos militares do aeroporto fantasma de Figo Maduro, desalojamento de alguns serviços e empresas do perímetro mais próximo da zona operacional das pistas, etc.) precisa de importantes e urgentes obras de saneamento básico. Tudo junto: uns 100 a 200 milhões de euros de investimento útil, para prolongar a vida de um dos mais seguros, pontuais e convenientes aeroportos do mundo. Como se vê, a construção civil ainda tem muito que fazer em Portugal. Só não queremos que continue a roubar à descarada e a enterrar o país, em vez de o construir!

Como privatizar a TAP?

Não há soluções fáceis para fazer o que tem que ser feito. A pior das soluções seria encanar a perna à rã, com sucessivos planos de mitigação dos problemas e reestruturações fictícias, com os vários grupos de pressão à bulha. Por isto mesmo só vejo uma saída produtiva para o impasse da empresa que descapitalizou a Parpública: o encerramento.  Uma nova empresa com os seus principais activos intactos, aviões, pilotos e pessoal de manutenção técnica, deverá então ser criada. Os postos de trabalho redundantes deverão ser extintos, indemnizando-se de acordo com a lei os profissionais afectados. A nova empresa deve então ser colocada no mercado de privatizações, podendo o Estado português deter uma posição minoritária na nova companhia, ao mesmo tempo que desenha uma visão estratégica para a nova empresa (TAP Europa, TAP Atlântica, TAP Oriente), e que impõe contratos de concessão bem desenhados no que se refere aos serviços públicos a que a futura TAP deverá estar vinculada.

Estamos em guerra! É uma guerra contra os níveis incomportáveis do nosso endividamento, mas não deixa de ser uma guerra. E em tempos de guerra, todos temos que admitir medidas de excepção em nome do bem comum. Não vejo como poderão os sindicatos pensar doutro modo.

NOTAS
  1. Ainda sobre esta ofensiva, outra citação:
    Apoios e custos reduzidos atraem concorrência de baixo custo — 23.06.2011, Público.

    “Os incentivos dados pelas entidades públicas às companhias de aviação low cost têm servido de estímulo à entrada destas empresas no mercado nacional. E, agora, com os projectos da ANA para transformar um dos terminais da Portela numa infra-estrutura com custos reduzidos, é provável que o poder que têm aumente. Ryanair e Easyjet já são donas de 23 por cento do tráfego aéreo e continuam a investir em força.”



O que dizia o genial inventor do aeromoscas de Beja, em 2007...

ANEXO

Cronologia de um desastre anunciado
23-06-2011 19:41


Publico um longo email que recebi a propósito do que acima se escreve, pela sua grande oportunidade.

“ — Este email é para ser ter uma ideia geral da situação da TAP que está falida e que terá que ser reestruturada e privatizada por imposição do FMI.

A TAP é uma empresa que já está em dificuldades financeiras há vários anos. O Presidente da empresa, Fernando Pinto paga a uma empresa de comunicação e imagem para dar a falsa ideia que a empresa está em boa situação e que é competitiva. A maioria da imprensa participa nesta farsa.

A situação mais caricata aconteceu há pouco tempo quando apresentaram as contas de 2010 e só revelaram o valor das receitas e ninguém conheceu o valor das despesas. Sempre que o Presidente da TAP aponta o preço dos combustíveis como o grande culpado dos prejuízos não há nenhum jornalista que lhe pergunte se os aviões das outras companhias não têm o mesmo problema.

Vamos aos factos:

Em 2008, quando o petróleo atingiu os 150 dólares a TAP teve perto de 300 milhões de euros de prejuízos

No ano de 2009, surpreendentemente a TAP anunciou que só teve 3 milhões de prejuízos. Não acredito nesta recuperação espectacular.

Em 2010, dizem que só tiveram prejuízos próximos dos 58 milhões de euros quando o Petróleo já está a 130 dólares; tendo em conta o cambio do euro, o custo dos combustíveis está semelhante aos preços de 2008.

O Governo já tentou privatizar a TAP mas ninguém a quer devido ao elevado passivo e por ter milhares de trabalhadores que vão ter que ser despedidos. Por esta razão ninguém a quer.

Quem está a injectar dinheiro na TAP é a Parpública, que está interessados no novo aeroporto de Alcochete. Como ninguém quis comprar a TAP agora fala-se na possibilidade de vender a ANA e a TAP em pacote. Isto é, quem comprar a ANA que tem lucros anuais de 50 milhões de euros, teria a possibilidade de construir o Novo Aeroporto e ficaria com a TAP!

PRECISAM DA TAP PARA JUSTIFICAR ALCOCHETE

No passado, diziam que a Portela estava esgotada devido á falta de slots. Como essa mentira já caiu, agora, a nova argumentação a favor de Alcochete reside no facto, segundo a NAER, de a Portela não servir para aeroporto Hub. Para salvar a TAP, dizem que é necessário o NAL em Alcochete. Isto é falso porque só 9% dos aviões que aterram a Portela são aviões de longo curso. A esmagadora maioria dos aviões da Portela são aviões de médio curso para a U.E.

EFEITO DAS LOW COST NO MERCADO AÉREO NACIONAL

A ANAM, empresa que explora o aeroporto da Madeira, publicou um estudo sobre as consequências da entrada, há 2 anos, da Easyjet na rota Lisboa-Funchal.

O estudo da ANAM revelou as seguintes conclusões:

– A easyJet ganhou 23% de quota de mercado, tendo transportado 195 mil passageiros em 2010, num total de 848 mil pessoas.

- A tarifa média baixou dos 144 euros para 73 euros, ou seja, teve uma quebra de 50%. Em 2010, a easyJet praticou uma tarifa média de 51 euros, enquanto a da TAP e SATA foi de 70 euros.

- A TAP perdeu em dois anos quase 95 mil passageiros, tendo baixado a sua quota de mercado de 78% para 58%, o que correspondeu a 492 mil passageiros. A SATA, em compensação, ganhou 24 mil clientes.

- A taxa de ocupação dos aviões das 3 companhias é: Easyjet 83%, TAP 64% e SATA 71%.

- Em 2007 o Estado pagava 20 milhões à TAP, em compensações, para os passageiros viajarem entre a Madeira e o Continente. Em 2010, pagou 6 milhões.

Em 2008, o tráfego aéreo Lisboa-Funchal era de 763 mil passageiros, transportando a TAP 595 mil, sendo 78% do total, com uma tarifa média de 144 euros, o que correspondeu a 85 680 000 euros de receitas, somando 20 milhões de euros em compensações pagos pelo Estado. Em 2010, a TAP transportou 492 mil passageiros a um preço médio de 70 euros, o que representou 34 440 000 euros de receitas, mais 6 milhões de euros em compensações. Ou seja, a perda de receitas para a TAP, de 2008 para 2010, terá atingido um valor próximo dos 65 milhões de euros.

Conclui-se, assim, que a entrada das Low Cost nesta rota provocou uma forte quebra na tarifa média e uma perda de dezenas de milhões de euros para a TAP.

LOW COST NO PORTO

Em Fevereiro de 2010, as Low Cost já possuíam 58% do tráfego total com a Ryanair em primeiro lugar, com perto de 150 mil passageiros e a TAP com pouco mais de 103 mil. Com uma base só com 5 aeronaves, a Ryanair tem uma média de 138 passageiros por avião, enquanto na TAP tem 59 pessoas por avião.

No Aeroporto do Algarve, que é a principal região turística de Portugal, já só possui 3 voos e a empresa Grounforce teve que despedir 330 trabalhadores. Em Faro, as Low Cost têm 86% do mercado. No Porto, as Low Cost, passaram de 11% há poucos anos para 58% do mercado, em Fevereiro de 2010, o que obviamente também provocou fortes quebras nos preços dos bilhetes e redução nas receitas da TAP.

LOW COST NO TERMINAL 2 DA PORTELA

Foi anunciado, recentemente, que o pequeno Terminal 2 passaria a ser utilizado para as Low Cost e que a Ryanair e Easyjet poderiam ali fazer a sua base com um pequeno número de aviões. Convém recordar que os aviões das Low Cost nunca estão no aeroporto, porque estão sempre a voar para efectuar receita. Ou seja, o Terminal 1 que irá possuir 20 mangas passaria a ser utilizado como HUB pela TAP e outras companhias aéreas de bandeira e o Terminal 2 seria só para as Low Cost.

As consequências vão ser as mesmas do que se passou em Faro, no Porto ou no Funchal. O que provavelmente vai acontecer é que o Terminal 1 vai começar a esvaziar e o Terminal 2 vai ficar com muito mais passageiros. Muitos aviões da TAP ficarão parados por falta de passageiros.

A criação de bases na Portela da Ryanair e Easyjet vai provocar uma nova quebra das tarifas nos destinos para a U.E. e forte perda nas receitas da TAP.

TAP DIMINUIRÁ COMO A ALITALIA?

A Alitalia, quando chegou a uma situação em que o prejuízo atingia 1 milhão de euros por dia, teve que ser reestruturada, também devido à concorrência das Low Cost. A companhia italiana foi obrigada a eliminar as rotas não rentáveis e a reduzir os custos, de modo a permitir uma diminuição nos prejuízos.

O que aconteceu com a Alitalia, também poderá ocorrer com a TAP, sobretudo nas rotas Portugal-países da União Europeia (UE). Para se ter uma ideia da diferença de produtividade, basta dizer que a TAP transporta 684 passageiros por cada um dos seus trabalhadores, enquanto a Ryanair transporta 10.050 e a Easyjet, 6300.

A TAP, após ter adquirido a Portugália por 140 milhões de Euros, vai ter ainda que pagar elevadas indemnizações aos trabalhadores já despedidos.

O que ocorreu com a Alitalia é a imagem do que poderá vir a acontecer no resto da UE, pois é muito provável que o mercado seja dominado pelas Low Cost e o que está a verificar-se na rota Lisboa-Funchal é um exemplo real de como a TAP não pode competir com o modelo de gestão das companhias de baixo custo.

CONCLUSÃO

A TAP não pode competir com as Low Cost no mercado europeu.

O Novo Governo vai ter que reestruturar a TAP e privatizar a empresa por imposição do FMI. Infelizmente, milhares de trabalhadores vão para o desemprego. As únicas pessoas que ficam na empresa, serão os pilotos e pessoal de manutenção. Boa parte do pessoal de terra irá para o desemprego.

No handling, após as 330 pessoas despedidas em Faro, o mesmo se poderá passar no Porto e Funchal devido à concorrência das Low Cost que trabalham com a Portway. A Tap trabalha com a Groundforce.

A TAP vai ter que abandonar as rotas que não são rentáveis. A rota mais lucrativa é Lisboa-Luanda. As rotas para o Brasil e África são lucrativas. Na U.E., o problema é a concorrência das Low Cost que fizeram cair os preços dos bilhetes para valores muito baixos.

Se fizerem um novo aeroporto em Alcochete arriscam-se a cair numa situação caricata: ter um novo aeroporto sem a empresa de bandeira, pois entretanto a TAP faliu. Ou seja, algo parecido como o aeroporto de Beja. Alcochete seria assim uma Beja em ponto gigante” — R.

quarta-feira, junho 22, 2011

Privatizem a TAP e a SATA, já!

TAP falida encomenda aeroportos em vez de aviões!
Entretanto, a aviação comercial recupera e recebe mais encomendas do que pode satisfazer



Assim que inaugurar a estação de Metro da Portela, o aeroporto de Lisboa será uma das mais competitivas interfaces de mobilidade do mundo. Poucos aeroportos baterão a Portela em matéria de pontualidade, acessibilidade, rapidez e conforto (mas convém, apesar das boas notícias, libertar a ANA da sua actual tacanhez partidária).

Quanto à mentira da saturação do aeroporto de Lisboa (1), basta consultar as tabelas de Slots para verificar que apenas entre as 7 e as 8 da manhã os Slots se encontram, em alguns dias e épocas do ano, ocupados a 100%. O interesse da Ryanair e da easyJet pela Portela é outro sinal claro de que o argumento fabricado pela malta perigosa do NAL —novo aeroporto da Ota em Alcochete, também conhecido por Novo Aeroporto de Lisboa— é um descarado embuste. Para as Low Cost que têm vindo a comer o bolo dos lucros do transporte aéreo de e para o nosso país, no cocuruto pelado do gaúcho que dirige a TAP, este é um excelente aeroporto e deverá sê-lo durante os próximos 20 anos, pelo menos. Depois desta data duvido que o petróleo permita a euforia do transporte aéreo dos últimos 30 anos.

Como se os Slots na Portela não estivessem às moscas, antes e depois das horas sétima e oitava da manhã, a União Europeia prepara-se para atacar as obstruções e negociatas duvidosas com os tempos disponíveis de descolagem/aterragem nos aeroportos europeus. Sabe-se que, no caso da TAP, uma das causas da sua ruína foi ter andado a segurar Slots à custa do contribuinte — um exemplo claro de companhia pública falida alimentada a pão de Ló!

EC study: Slot review could result in more than €5 billion in benefits by 2025. ATW (1-6-2011)

“According to the authors, there are problems with slot coordination (e.g., some aspects of how coordinators are structured could be interpreted to limit the independence of the coordinator), slot “misuse and abuse,” and slot allocation (e.g., at some congested airports administrative mechanism has led to inefficient allocation “as scarce capacity is used for flights with small aircraft” and secondary trading is not transparent, particularly at non-London airports).

[...] The study also concludes that allowing the introduction of market-based mechanisms would help to ensure that slots can be “used by those carriers able to make the best use of them,” the EC said in a statement.”

Finalmente, a Portela tem ainda algo a fazer para expandir a sua capacidade operacional!

Por um lado, o taxiway da Portela precisa de um prolongamento para evitar cruzamentos de pista (valor estimado da obra: 50 milhões de euros); e por outro, o incremento de corredores aéreos de aproximação às pistas pode ser conseguido de um dia para o outro, terminando a farsa do chamado "aeroporto militar de Figo Maduro" e encerrando o já inútil aeródromo militar de Sintra (a guerra colonial acabou há trinta e sete anos!)

Nos primeiros seis meses deste novo governo é preciso atacar com frieza analítica e coragem política as posições irracionais ocupadas pelos lóbis corporativos — sejam estes civis, ou militares!

Sobre este tema recebi esta manhã um comentário agudo e mordaz da Blogosfera anónima, que reproduzo:
    “...a easyJet tem bem claro aquilo que sempre se disse e defendeu: a Portela é um aeroporto ideal para as Low Cost, ou seja, chega-se à conclusão de que a Portela apenas não serve para a TAP. Tirem pois a TAP do Terminal 2 e deixem o mercado funcionar. Por certo que a Ryanair irá abrir por cá uma base, onde como se espera lá irá provocar a erosão nos tráfegos da TAP. Mas afinal não há qualquer problema nestas perdas de tráfego, pois a TAP desde que aqui se escreve negoceia em aeroportos.”

Entretanto o mundo não pára, e a aviação comercial recupera!

O novo Airbus A320 NEO já só aceita encomendas para depois de 2016. O grande apetite por este avião decorre da sua extraordinária eficiência energética — a prioridade económica que já entrou nas cabeças dos executivos mais atentos e que têm mais a ganhar ou perder.

A privatização da TAP e da SATA devem avançar quanto antes!

Creio que chegou o momento de colocar a TAP nas mãos de um grande grupo aeronáutico. Por mim, aposto na Lufthansa e em ligações fortes ao Brasil e Angola, para começar. O Atlântico norte já está nas mãos da nova aliança entre a Ibéria, British Airways e American Airlines. O Atlântico sul deverá ficar noutras mãos... europeias, claro!

Airbus e Boeing aceleram em ambiente de retoma
Por Luís Pimenta/OJE (com agências); 21/06/11, 01:06

O sector da aviação civil voltou a descolar. No Salão Aeronáutico de Le Bourget, um dos mais importantes do calendário mundial, são esperadas encomendas recorde e propostas tecnológicas sem precedentes. Ironicamente, são os próprios fabricantes que poderão não conseguir dar resposta...

A velocidade sente-se em praticamente todos os segmentos de mercado: nos "narrow-body" (Boeing 737, Airbus A320), nos "wide-body" de longo curso (A350, B 787) e nos aparelhos de grande porte e alcance (A380, B747-8). Com novos modelos e um esforço pelo aumento da capacidade de produção, os fabricantes tentam dar resposta ao previsível crescimento de encomendas, fruto da descolagem que se começa a sentir na economia global e, acima de tudo, dos voos cada vez mais altos dos países emergentes.

[...] Os especialistas do mercado consideram que esta retoma volta a colocar em foco os "narrow-body" (A320/ B737): "As encomendas para as famílias A320 e B737 encontram-se em níveis recorde", refere Paul Sheridan, da empresa de consultoria aeronáutica Ascend.

“Os dois fabricantes contam com mais de 4300 encomendas destes populares modelos, contra as cerca de 1200 registadas no final de 2002", sublinhou o mesmo responsável, considerando que, "ao ritmo actual de produção, será praticamente impossível encomendar um destes aparelhos para entrega antes de 2016”.

NOTAS
  1. A capacidade da Portela é de 21 a 23 milhões de passageiros/ano, e 40 movimentos/hora (descolagens+aterragens). Em 2010 a Portela movimentou 14.108.955 passageiros. Fora das duas únicas horas de ponta do dia, o aeroporto da Portela mais parece um aeródromo de província. É o lá vem um! Para verificarmos esta realidade à lupa basta consultar o serviço da ANA, Online Coordination System. Passos da navegação no sítio online: “Runway Availability” -> Week -> “Country”: Portugal -> “Airport”: LIS -> “Week containing”: 20JUN (ou outra data qualquer) Compare a disponibilidade de Slots da Portela com, por exemplo, London-Heathrow (LHR).

Bloco à deriva

Louçã e Fazenda: ortodoxos, autoritários e sem imaginação. Que fazer?

Miguel Portas, Marisa Matias e Rui Tavares: novo Bloco ou cisão?

Rui Tavares rompe com o Bloco de Esquerda

“Rui Tavares decidiu romper politicamente com o Bloco de Esquerda, depois de Francisco Louçã não lhe ter respondido a um pedido de desculpas público exigido pelo deputado europeu eleito como independente pelo Bloco de Esquerda.

O historiador exigira um pedido de desculpas público ao líder do BE, Francisco Louçã, depois de este o apontar como tendo estado na origem de informações enganosas sobre os fundadores desta força política.

A exigência de Rui Tavares consta numa nota de imprensa do seu gabinete no Parlamento Europeu e visava responder a um texto publicado por Francisco Louçã, às 23h18 de sexta-feira passada, na página do facebook do líder do Bloco de Esquerda (BE).” — Expresso, 21-06-2011.

A derrota eleitoral do Bloco de Esquerda foi demasiado grande e grave para que dela se não tirem as devidas consequências. Recusar arrogantemente falar com a Troika deveria, no mínimo, custar os postos de direcção a Francisco Louçã e a Luís Fazenda. Mas perder metade dos votos numa única eleição merece outro desfecho bem mais radical, mas também mais ambicioso, do que um simples acto de contrição jesuíta, como aquele que Louçã fez depois de se ter visto cercado de críticas e de olhares públicos reprovadores. Merece uma cisão!

Num partido menos cheio de presunção democrática, e mais sério e pragmático, o desaire em cadeia causado pelas decisões dos fundadores mais activos do Bloco, Franciso Louçã e Luís Fazenda, deveria já ter levado este movimento partidário a uma séria reflexão ideológica e programática, da qual não poderia deixar de sair um rompimento claro com os dois cadáveres ideológicos que actualmente impedem o crescimento do projecto, e até fazem perigar a sua existência. Refiro-me ao cadáver do maoísmo, protagonizado pelo quadrado Luís Fazenda, e refiro-me ao cadáver do trotskismo revisionista, oportunista e pueril, protagonizado pelo linear Louçã.

Estes dois fósseis ideológicos podem merecer a nossa curiosidade histórica e cultural, mas não qualquer tipo de atenção, e muito menos devoção. Se as duas viúvas negras que transportam estas enteléquias ao peito fossem mais jovens, ainda se poderia esperar um arrependimento, ou uma auto-crítica consequentes — e o Bloco lá mudaria de vida e de ideias, adaptando-se aos tempos. Há tanto por onde escolher. Mas como está a coisa, parece-me improvável.

Não há mesa que resista ao leninismo organizativo de Fazenda e de Louçã. Logo, só resta uma alternativa para salvar o que resta de um projecto cuja ambição é captar um eleitorado urbano instruído: afastar Louçã e Fazenda, ou partir para outra aventura política e cultural, mais actual, séria e promissora.

A decisão de Rui Tavares não poderia ser mais clara a este respeito. Creio que aponta e bem para a necessidade de se fundar um verdadeiro partido ecológico em Portugal, centrado na crise energética, no colapso ambiental e na mudança do paradigma da felicidade. Os modelos convencionais do progresso, do crescimento económico e do trabalho não só deixaram de fazer sentido, como a simples sobrevivência dos mesmos ameaça de morte a humanidade e a própria vida na Terra. Uma nova filosofia holística sobre a sustentabilidade de Gaia precisa de inspirar rapidamente as instâncias políticas da sociedade. Para já, não se conhece método mais eficaz, limpo e instrutivo, para lá chegar, que não seja a formação de um partido político.

Oxalá a saída de Rui Tavares possa em breve ser acompanhada de ruptura na mesma direcção no grupo de deputados que o Bloco elegeu para a Assembleia da República. Há hoje dicotomias muito mais urgentes e fundamentais do que a velha dicotomia Esquerda-Direita.

POST SCRIPTUM (22-06-2011 11:20)

Nem de propósito! A entrevista a Miguel Portas —que saúdo— foi publicada esta manhã pelo i, mais de oito horas depois desta postagem. Premonição pura.
Miguel Portas “A renovação do Bloco tem de passar pela saída dos quatro fundadores”i, 22-06-2011 08:21

Seguro defende mais Europa

O PS tem agora tempo para pensar e debater. Aproveite-o!

A Europa na encruzilhada. António José Seguro (Facebook)

“Se vier a ser, como espero, secretário-geral do Partido Socialista, proporei aos demais líderes socialistas dos países da União Europeia uma reflexão e acção conjuntas com vista à saída da presente crise, nomeadamente a definição de medidas concretas para o reforço do governo político e económico no seio da União Europeia. Na minha família política existe já um acervo interessante de reflexão recente, nomeadamente as contribuições de Jacques Delors, Felipe Gonzalez, Giuliano Amato e Mário Soares. Nos momentos de crise exige-se determinação e imaginação redobradas. Chegou a altura da família socialista, trabalhista e social-democrata europeia assumir um compromisso forte dando a máxima prioridade ao crescimento económico e ao emprego. A Europa tem que agir em conjunto. Não podemos continuar com uma política monetária e várias políticas económicas. Urge articular as respostas contra a crise com as reformas de futuro que necessitamos.”

A atitude moderada de António José Seguro (AJS) agrada-me. Alinhar com a ideia de uma União Europeia com governo económico próprio (e não apenas um governo financeiro, ainda por cima subsumido aos interesses do eixo Franco-Alemão), parece-me excelente.

Um governo económico da União deve significar basicamente que os diversos estados europeus precisam de ser vistos e tratados, não apenas como países que concorrem entre si, mas também como regiões de um todo estratégico solidário, onde não pode haver assimetrias fiscais, nem laborais, nem sociais, nem educativas, nem culturais, fora de intervalos de segurança a definir. A actual crise financeira e social serve de lição: ou os estados cedem mais da sua soberania substantiva em prol da robustez e força colectivas da União, ou arriscamos todos a dar de bandeja ao dólar americano 60 anos de construção europeia!

Mas AJS tem também que compreender que não é mais possível (em nenhuma parte do planeta!) crescer à custa do endividamento estrutural das economias e das nações. E que, portanto, o Estado Social terá que sofrer necessariamente uma profunda revisão. Começar por rejeitar esta mudança vital ao bem-estar relativo dos povos, nomeadamente em sede de revisão constitucional, não é boa ideia. Vamos ter que começar a pensar na maneira de sermos felizes crescendo menos e distribuindo mais justamente!


POST SCRIPTUM

A este propósito vale a pena ler este provocador artigo de Charles Hugh Smith, que recuperei já depois do comentário que fiz no Facebook ao escrito programático de AJS:

The Death of Demand - The Post-Consumer Debt Economy.
By Charles Hugh Smith (of two minds)

The Keynesians and other economists have no ideas for confronting the reality of a post-consumerist debt economy and society. Like frenzied rats in a cage, they only have one lever to push to release the cocaine-laced pellets, and so they've been pushing it for 40 years.

Now they're hitting the bar with frantic energy, hoping the crazed and addled rats around them can dredge up some "demand" for more pellets to "consume." But the consumer-rats are bloated and lethargic; they've consumed so much debt-drug that they're near death.

Like a star which has expanded and now cannot maintain its grand state, the debt-based consumerist economy is now poised to experience a supernova implosion.

segunda-feira, junho 20, 2011

Alea jacta est

Só a recessão nos pode salvar!
Os dados da escassez energética estão lançados, e os do colapso ambiental também.
Só uma profunda, prolongada e muito dolorosa recessão global poderá evitar o pior. Mas poderá?



Agência chinesa de rating baixa notação do Reino Unido, em Maio, de AA- para A+. Alguém ouviu falar disto?
Dagong Downgraded the Sovereign Credit Rating of United Kingdom

Dagong Global Credit Rating Co., Ltd. (hereinafter referred to as “Dagong”) has downgraded the local and foreign currency sovereign credit rating of the United Kingdom of Great Britain and Northern Ireland (hereinafter referred to as the “UK”) from AA- to A+ with a negative outlook for its solvency. The downgrade reflects the true status of the deteriorating debt repayment capability of the UK and the difficulty in improving its sovereign credit level in a moderately long term in the future — Dagon Global Credit Rating.

O consumismo ocidental foi uma fuga em frente destinada a criar os famosos mercados internos baseados no endividamento progressivo das sociedades do chamado bem-estar social. As indústrias fugiram, em geral, do Ocidente para o Oriente, ao longo das últimas quatro décadas, em busca de trabalho barato e de condições de exploração agressiva, por forma a compensar basicamente uma grande perda, que hoje se tornou irreversível, e cada vez mais evidente: a perda da energia fóssil barata.

As sociedades ocidentais, induzidas pela ideologia da gratificação instantânea plasmada no consumismo e no hedonismo generalizado acabaram por empobrecer paulatinamente, ainda que sem se darem propriamente conta do fenómeno. Só agora, com o colapso do gigantesco mercado da especulação financeira em volta do endividamento doméstico, empresarial e público, começamos a dar-nos conta da tragédia.

Os Estados Unidos estão à beira de novo colapso financeiro, tão ou mais sério do que os colapsos em curso no Reino Unido e na União Europeia. Basta somar as dívidas soberanas de todos estes países, e a respectivas dívidas externas, para vermos a dimensão do problema criado. Se as dívidas são, em si mesmas, difíceis de pagar, tapar o buraco negro nuclear formado pelos activos virtuais, activos reais mas em queda abrupta de valor, e contratos de derivados financeiros, com especial destaque para os especulativos e obscuros OTC, é uma missão impossível. Insistir em virar a cara a esta tragédia anunciada convocará inexoravelmente novos holocautos sociais, revoluções e guerras destinadas a provocar uma devastação imensa. Como aterrorizado confessa Jean-Paul Trichet ao especialista da CNN, Richard Quest: “Greece is part of bigger problem”.

China: European recovery crucial (China Daily)

BEIJING – China registered new concern Friday over the fate of its top trading partner, the embattled eurozone, saying the ability of stricken countries to overcome their financial woes is of "crucial importance."

China's support in terms of buying European debt and promoting imports is beneficial to both sides, Vice Foreign Minister Fu Ying told reporters at a briefing ahead of Premier Wen Jiabao's visit next week to Hungary, Britain and Germany.

But she expressed some anxiety over the fate of the eurozone. Greece is at risk of defaulting on its debt even after a massive bailout, and European leaders fear the country's problems could hurt other struggling economies that use the euro, including bailed-out Ireland and Portugal.

A China já percebeu que se não comprar parte significativa da dívida europeia (o que está fazendo desde que, em Novembro passado, Hu Jintao visitou Portugal e Espanha) ao mesmo tempo que se desfaz de consideráveis volumes de obrigações americanas, perderá o seu maior parceiro comercial. E sem este, ao mesmo tempo que as suas exportações para os EUA rendem cada vez menos, o crescimento chinês poderá entrar rapidamente em colapso, com tudo o que tal paragem significará para a estabilidade social e política desta potência emergente.

Japan Posts Second Biggest Trade Deficit In History (Zero Hedge)

For those who may not have noticed it, the headline says "deficit" and pertains to Japan: once upon a time a booming export economy. The reason: the ongoing collapse in export trade, after May exports dropped by 10.3% from a year ago, and just better than April severe economic contraction of 12.4%. Consensus was for an 8.4% decline. The net result was a monthly deficit of 853.7 billion yen, or $10.7 billion, the second biggest inverse surplus ever. And just like in Europe, where things are going to go from insolvent to perfectly solvent any minute now... just not yet... so in Japan the economic renaissance which will cause the economy to surge (unclear how: no new monetary stimulus, and the recently announced fiscal stimulus of Y500 billion in new loans will do precisely nothing to boost anything except for some corrupt bureaucrats Swiss bank accounts) is coming any minute.... just not yet.

O Japão tem a maior dívida pública do planeta: 225,8% do PIB! Mas até agora dizia-se que a coisa era suportável, porque o povo japonês continua a ser maioritariamente composto por uma espécie de servos da nova aristocracia tecnológica, e porque o país do Sol Nascente, além de boicotar ardilosamente qualquer importação de bens manufacturados fora do país, é o quarto exportador mundial, depois da União Europeia, China, Alemanha e Estados Unidos. O tsunami e sobretudo a tragédia nuclear de Fukushima, a par da recessão mundial e da desvalorização agressiva do dólar, e da manutenção da moeda chinesa muito abaixo do seu real valor, vieram colocar em risco o grande motor das exportações nipónicas.

Temos, em suma, demasiados países, e demasiadas potências nucleares endividadas, com populações envelhecidas e dominadas por bandos de gnomos e piratas incorrigíveis. Duvido que na Europa, Rússia e Japão haja suficiente gente nova para o cometimento de verdadeiras revoluções, ou mesmo guerras civis. Mas já não direi o mesmo relativamente ao continente americano, à África, ao Médio Oriente e a uma parte da Ásia (ver mapa). Sem uma gestão demográfica mundial inovadora e corajosa, espera-nos o pior.

A Grécia, se continuar pela via do protesto oportunista, acabará pior do que está. Portugal e Espanha, por sua vez, terão que fazer os impossíveis para evitar cair na armadilha da agitação social orquestrada a partir de Wall Street. Uma revolução de esquerda é praticamente impossível, pelas seguintes razões: não há programas credíveis; não existe uma base social de apoio coerente; e não há dinheiro. Logo, o que vemos são protestos compreensíveis, mas inconsequentes. Porém, se a Esquerda burocrática de Portugal e Espanha resolver apostar no quanto pior melhor, terá que arcar mais tarde com a responsabilidade ter ajudado a entregar o euro ao dólar! É isto que Francisco Louçã quer?

POST SCRIPTUM

Les océans «dans un état critique»
La vitesse de dégénérescence des mers est bien plus rapide que ce qui avait été prévu, concluent les spécialistes de six pays (Le Devoir.com, 21-06-2011)

Por paradoxal que seja, evitar um colapso ecológico à escala planetária já só depende da nossa ruína a curto prazo, e esta, por sua vez, acabará por resultar da confluência entre duas curvas catastróficas: a do Pico do Petróleo, e a da implosão económica mundial causada pelo buraco negro em que se transformou o mercado global de derivados financeiros. Se conseguíssemos escapar a esta tenaz, morreríamos como espécie, arrastando connosco uma extinção em massa da vida, nomeadamente à superfície dos oceanos e nos continentes, por via da destruição ecológica que o nosso crescimento como espécie representa para as outras espécies e para o fenómeno da vida em geral. A humanidade tornou-se uma espécie altamente tóxica, simultaneamente assassina e suicida. Convém pois relativizar a crise financeira em curso, evitando clubismos desnecessários. Não são as suas causas próximas que importa atacar, mas as suas causas sistémicas — e estas, não sei se teremos capacidade de realizar. A inércia é colossal!

sábado, junho 18, 2011

Um governo leve

Pensando melhor: é um excelente governo!
Se a intriga do Expresso corresponde à verdade, mais parece que Passos Coelho seguiu um ritual de convites previamente orquestrado para chegar a um bom resultado final. E chegou!

Assunção Cristas (CDS-PP): uma das grandes esperanças do novo Governo.
Foto:©Pedro Elísio/Negócios
Quatro independentes lideram quatro das pastas mais importantes. Além de Álvaro Santos Pereira para Economia, Vítor Gaspar estará à frente das Finanças enquanto Nuno Crato substituirá Isabel Alçada no Ministério da Educação. Paulo Macedo assume a tutela da Saúde — Jornal de Negócios.

Há um equilíbrio surpreendente e fresco entre partidocratas, jovens políticos ambiciosos, e técnicos independentes com formação e competência comprovadas, mas sobretudo com visões (que partilho) sobre o presente que infelizmente temos e o futuro pelo qual podemos e devemos lutar. A quase ausência de caras gastas e de contrabandistas de influências e lugares são as duas grandes alegrias que esta composição governativa começa por dar ao país. Passos de Coelho acaba de ser promovido, por mim, a Passos Coelho. Oxalá não me arrependa!

A primeira impressão causada pelo novo elenco de governo, no eleitorado que despachou José Sócrates para a capital francesa, foi certamente positiva (aguardemos pela sondagem da Marktest).

A surpresa, no entanto, foi grande, tão grande que os jornalistas, as redacções e os opinocratas de serviço andaram, todo o dia de ontem, à nora: sem fotos decentes dos novos ministros, e balbuciando dúvidas pela falta do que chamaram "pesos pesados" — i.e. a malta do costume, que ou deitou este país abaixo, ou ajudou a deitar este país abaixo, ou deixou deitar este país abaixo sem nada dizer até que a bancarrota se tornou óbvia para todos. Não é só José Sócrates que deve pagar pelos tremendos erros e crimes cometidos no passado recente. Há toda uma geração de cúmplices, por acção ou omissão oportunista, que deveriam acompanhar o mitómano que nos conduziu ao abismo, na sua declarada intenção de emigrar para Paris. Atenas, aliás, seria a cidade mais indicada para os novos estudantes de filosofia. Eu próprio só acordei em 2003 para a desgraça que vinha a caminho, quando deveria ter acordado muito antes!

Um governo com onze ministros é mais do que suficiente!

Os ditos super-ministros evitam os conflitos de poder e os jogos de empurra entre pastas afins. Não nos esqueçamos que actualmente Portugal tem menos população, às vezes metade dos habitantes, do que qualquer destas vinte e uma cidades (World Atlas) — que são naturalmente governados por câmaras municipais, ou quanto muito, governos metropolitanos (a solução de que precisamos urgentemente para as cidades-região de Lisboa e Porto)
  1. Tóquio, Japão - 32 450 000
  2. Seul, Coreia do Sul - 20 550 000
  3. Ciade do México, México - 20 450 000
  4. Nova Iorque, EUA - 19 750 000
  5. Mombaim, Índia - 19 200 000
  6. Jakarta, Indonésia - 18 900 000
  7. São Paulo, Brasil - 18 850 000
  8. Deli, Índia - 18 680 000
  9. Osaka/Kobe, Japão - 17 350 000
  10. Xangai, China - 16 650 000
  11. Manila, Filipinas - 16 300 000
  12. Los Angeles, EUA - 15 250 000
  13. Calcutá, Índia - 15 100 000
  14. Moscovo, Federação Rússia - 15 000 000
  15. Cairo, Egipto - 14 450 000
  16. Lagos, Nigéria - 13 488 000
  17. Buenos Aires, Argentina - 13 170 000
  18. Londres, Reino Unido - 12 875 000
  19. Pequim, China - 12 500 000
  20. Carachi, Paquistão - 11 800 000
  21. Daka, Bangladesh - 10 979 000
Ou seja, difundir a ideia de que alguns ministros não podem suportar o peso de tantas áreas político-administrativas não passa de uma treta para perpetuar a obesidade burocrática do Estado, arranjar tachos para amigos e familiares, e facilitar as movimentações das corporações e grupos de interesses desregulados que há décadas empatam e arruínam o país.

Mas há ainda dois outros factos (como lembrei em post anterior) que arrumam esta falsa polémica num ápice. Aqui vão:
  • O Executivo do Estados Unidos, 1ª economia mundial, e 3º em população, tem 15 departamentos (equivalentes aos nossos ministérios);
  • O Executivo do Japão, 2ª economia mundial, e 10º em população, tem 11 ministérios;
  • O Executivo de Portugal, 38ª economia mundial, e 77º em população, tem 16 ministérios e 36 secretarias de Estado.
 Ou seja, um governo com onze ministros é mais do que suficiente para as encomendas, e nem sequer precisa de muitos secretários de Estado. O que sim faz falta é despartidarizar os cargos de director-geral, director de serviço, chefe de divisão e presidente e vice-presidente de instituto, lançando um concurso nacional para a renovação destes cargos, de alto a baixo, baseado não nas cores políticas ou ligações familiares, mas na apresentação de CVs e na prestação de provas nacionais para a ocupação de cada um dos lugares. São estes lugares de chefia renovados que devem ter o conhecimento, experiência e autoridade necessárias para manter a máquina do Estado a funcionar bem, sob a orientação estratégica, transparente e precisa de um governo ágil, visionário e responsável.

Claro que para termos um tal governo são precisos ministros e ministras com personalidade, conhecedores, independentes e dispostos a defender as suas convicções, discutindo-as abertamente nos lugares próprios, e não uma turma de mortos-vivos da laia do último governo de José Sócrates.

O governo é este:
  • Primeiro Ministro - Pedro Passos Coelho
  • Ministro Negócios Estrangeiros - Paulo Portas
  • Ministro das Finanças - Vítor Gaspar
  • Ministro da Economia - Álvaro Santos Pereira
  • Ministro da Educação - Nuno Crato
  • Ministro da Saúde -  Paulo Macedo
  • Ministro da Solidariedade e da Segurança Social - Pedro Mota Soares
  • Ministro da Agricultura, Ambiente e Território - Assunção Cristas
  • Ministro da Defesa - Aguiar Branco
  • Ministro da Justiça - Paula Teixeira da Cruz
  • Ministro da Administração Interna - Miguel Macedo
  • Ministro dos Assuntos Parlamentares - Miguel Relvas
  • Secretário de Estado da Presidência do Conselho de Ministros - Marques Guedes
  • Secretário de Estado adjunto do PM - Carlos Moedas
  • Secretário de Estado da Cultura - Francisco Manuel Viegas
Finalmente, quanto à suposta despromoção da área cultural, dois argumentos apenas:
  1. As principais potências culturais do planeta —Estados Unidos, Alemanha, Japão e Reino Unido— não têm ministérios da cultura. Logo, o problema não está na burocracia nem nos subsídios, mas, uma vez mais, na visão, na estratégia e no sistema de aplicação das forças e dos investimentos disponíveis;
  2. Nunca soube quem é a senhora Gabriela Canavilhas, mas sei há muito quem é o Francisco José Viegas.

quinta-feira, junho 16, 2011

BCP fora do PSI20?

O efeito dominó da bolha soberana parece imparável

Carlos Santos Pereira, CEO do BCP. Foto©Arlindo Pereira-JN (alt.)

As acções do BCP abriram esta manhã nos 0,402€, preço médio das cápsula Nespresso!

Até 5 de Junho (presumo), o BCP era sistematicamente ajudado pela CGD, que lhe comprava acções sempre que estas se aproximavam dos 0,50€. Depois da vitória de Passos Coelho, e face à bancarrota da Grécia (a que o BCP está temerariamente exposto!), a Caixa parou as compras de socorro. Assim sendo, o BCP poderá ter que abandonar o PSI20 entre hoje e amanhã... sugerem algumas vozes atentas da Blogosfera.

Entretanto, outras notícias reveladoras da crise sistémica em curso desde 2007, e do seu impacto em Portugal:

Como se percebe bem, estamos assistindo ao colapso, puro e simples, do Capitalismo Corporativo Lusitano.

A Europa (FEEF) pede emprestado a 3,49%, empresta a Portugal a 5,64%, e este, se preferir pedir emprestado directamente aos mercados de dívida soberana (a 10 anos) terá que pagar 10,79%. Esta bolha vai, porém, rebentar em breve: Dezembro 2011, Primavera 2012? Só em 2013? Ninguém sabe. Pode ser já em Agosto!

“O crude deverá manter-se, em média, em torno dos 103 dólares por barril nos próximos cinco anos. As previsões são da Agência Internacional da Energia (AIE), que hoje divulgou o seu relatório para o petróleo e o gás, com perspectivas até 2016” — Jornal de Negócios.

Isto vai levar ao fundo a TAP, mas também as Estradas de Portugal, obrigando a parar imediatamente todas as PPP rodoviárias em curso e/ou agendadas. Passos Coelho, coragem!

“As concessões da Costa da Prata, Grande Porto e Norte Litoral, que passaram a ter portagens a 15 de Outubro de 2010, registaram uma redução percentual do tráfego médio diário no quarto trimestre do ano passado de 40%, 37% e 21%, respectivamente, face ao mesmo período do ano anterior, revela o relatório de tráfego de 2010 do Instituto de Infra-estruturas Rodoviárias (InIR)” — Jornal de Negócios

Idem para o tráfego na Ponte 25A. Logo, há que suspender imediatamente todas PPP rodoviárias (invocando o INTERESSE NACIONAL!), as imbecilidades aeroportuárias de Alcochete, e o sonho húmido da TTT Chelas-Barreiro. Os iluminados consultores e advogados prestáveis que temos que comecem a escrever outro guião!

Duplicação do fundo de resgate europeu?
“O membro do BCE diz que um segundo pacote de ajuda à Grécia poderá contagiar Portugal e a Irlanda, que poderão precisar também de mais dinheiro. É por isso necessário que o MEE passe de 750 mil milhões para 1,5 biliões de euros.

O Mecanismo Europeu de Estabilidade (MEE), que em 2013 vai substituir um dos dois instrumentos de financiamento da UE – o Fundo Europeu de Estabilização Financeira (FEEF) – deverá duplicar a sua linha de crédito para 1,5 biliões de euros se os políticos quiserem que os investidores do sector privado participem num segundo resgate à Grécia, defende Nout Wellink, membro do conselho de governadores do Banco Central Europeu (BCE).” — Jornal de Negócios.
Se a Europa enveredar pelo Quantitative Easing (o célebre grito de Jorge Sampaio: "Há mais vida para além do défice!"), teremos estagflação ou mesmo hiperinflação à vista — ou seja, a desintegração certa da União Europeia!

quarta-feira, junho 15, 2011

A crise das democracias: Grécia, Espanha e Portugal

Em 1976 o marxista grego Nicos Poulantzas, escreveu A Crise das Ditaduras: Portugal, Grécia e Espanha. Hoje, se fosse vivo, teria que escrever A Crise das Democracias: Grécia, Espanha e Portugal.


LIVE STREAMING: Η Αγανάκτηση των Ελλήνων por News247

China’s central bank used its annual financial stability report to sound one of its starkest warnings yet about Europe’s debt mire, saying a series of rescue measures had helped stabilise the situation but not tackled the root causes.

The report stated: "There is a possibility that the sovereign debt crisis will spread and deteriorate." Read more: Irish Examiner (15-06-2011)

O impasse na reunião de emergência entre os ministros das finanças da zona euro, atirando para o princípio de Julho a tomada de decisão sobre a reestruturação da dívida grega, poderá conduzir este país a uma nova revolução, só que desta vez, contra a democracia degenerada e falida a que os partidos locais conduziram o regime saído da queda ditadura militar há mais de trinta e cinco anos.

Tal como em 1974-1976, poderemos voltar a assistir ao efeito Dominó que Nicos Poulantzas então analisou na perspectiva dos colapsos das mais duradouras ditaduras europeias do pós-guerra —Portugal, Grécia e Espanha. O plano de austeridade imposto pelos credores ao parlamento ateniense (onde hoje parece ter-se instalado o Campus da próxima revolução), e sem o qual não haverá mais empréstimos externos, implica o despedimento imediato de 140 mil funcionários públicos e/ou equiparados, e o corte de milhares de subvenções de que hoje vivem dezenas ou centenas de milhar de gregos. O horizonte imediato não poderia ser mais sombrio —ver este gráfico do Índice de Miséria grego.

O BCE de Jean-Claude Trichet não quer que os ricos paguem a crise (na linguagem da Esquerda), ou seja, opõe-se a que os credores privados levem uma tesourada nos juros (o já famoso haircut) a que acham ter direito integralmente — como se não houvesse uma crise financeira que ameaça destruir o euro, e uma crise social e política que pode resvalar de forma incontrolável para um dominó de revoluções populistas por toda a Europa, ou como se o negócio das dívidas soberanas não tivesse evoluído, como todas as bolhas especulativas deste Capitalismo tardio e sem futuro à vista, para taxas de juro e dividendos esperados na zona perigosa da pura agiotagem financeira! Tudo isto é verdade e sério, mas o BCE tem razão em dois pontos:
  1. se os credores da dívida soberana grega forem forçados a um desconto nos juros esperados, na ordem dos 25-30%, trocando os títulos actuais por novos títulos, com juros mais baixos e/ou prazos de maturidade mais alargados, os governos e os partidos populistas, imprudentes e irresponsáveis, mais os insaciáveis devoradores de poupança privada (pela via do saque fiscal) e do endividamento público, tomarão a generosidade por fraqueza e assumirão que o crime compensa — ou seja, quando as novas maturidades caírem, terão levado de vez a Grécia, e os países que seguirem a mesma receita demagógica, ao fundo;
  2. se houver, por parte dos credores, uma partilha solidária da despesa do endividamento orgiástico das democracias populistas que hoje abundam por essa  Europa fora, o BCE, que recebeu resmas e resmas de papel soberano como garantia das centenas de milhar de milhões de euros que já emprestou aos bancos privados (a 1%) para comprarem dívida europeia (com rendimentos esperados no mercado secundário que já atingiram, nalguns casos, os 28%!), ficará com um enorme vazio nos seus cofres, e verá a sua notação financeira cair a pique! Alguém já pensou nas consequências que uma tal depreciação do BCE poderá ter na integridade do projecto europeu?
Vários governos europeus (Áustria, Alemanha, Holanda, Finlândia, Bélgica), pelo contrário, defendem que os credores sejam parte da solução e não uma parte mais do problema. Uma tesourada nos lucros esperados pelos especuladores da bolha soberana europeia, feita a tempo, com parcimónia, poderá evitar o pior, isto é, poderá impedir o rebentamento descontrolado da bolha soberana grega, à qual se seguirá, se efectivamente explodir este mês ou em Julho, um dominó de explosões descontroladas, em Espanha, Portugal, etc. Seria preferível que este tipo de explosões muito perigosas, a terem que ocorrer, começassem nos EUA, ou no Reino Unido, e não em Atenas! Mas será realista um tal cenário, ou vamos mesmo assistir a uma matança de porcos no Sul da Europa antes da época própria?

A Reserva Federal americana canalizou 600 mil milhões de dólares para bancos europeus, canadianos e japoneses, sendo que a maior fatia foi mesmo parar à Europa!

And one wonders why suddenly German banks are so willing to take haircuts on Greek bonds: it is simply because courtesy of their US based branches which have been getting the bulk of the Fed's dollars in 1 and 0 format, they suddenly find themselves willing and ready to face the mark to market on Greek debt from par to 50 cents on the dollar. And not only Greek, but all other PIIGS, which will inevitably happen once Greece goes bankrupt, either volutnarily or otherwise. In fact, the $600 billion in cash that was repatriated to Europe will mean that European banks likely are fully covered to face the capitalization shortfall that will occur once Portugal, Ireland, Greece, Spain and possibly Italy are forced to face the inevitable Event of Default that will see their bonds marked down anywhere between 20% and 60% — in Zero Hedge.

A hipótese da tesourada ganha pois força entre os bancos recentemente confortados pelo afluxo de liquidez virtual oriundo das suas sucursais americanas —BNP Paribas, Barclays, Credit Suisse, Deutsche Bank, HSBC, UBS. Estes gigantes financeiros, e o seus aliados, esperam apenas o momento oportuno para desencadear um voo de rapina e de concentração financeira sem precedentes na zona euro; ainda por cima, com o apoio de um número crescente de governos e partidos de esquerda. Trata-se, afinal, de levar os ricos a pagar, pelo menos, uma parte da crise, em nome de um estado de bem estar social atolado de dívidas, maus hábitos e contradições irresolúveis. No entanto, uma coisa é certa: se esta opção vingar, as grandes empresas e bancos portugueses cairão paulatinamente na rede de unificação económico-financeira europeia acabada de montar.

A posição mais suave e contemporizadora do futuro director do BCE, Mario Draghi, fará provavelmente caminho, ainda que um caminho tendencialmente favorável à teoria da tesourada, por contraposição à teoria da dívida odiosa, que começa a ganhar cada vez mais adeptos!

Por agora, ninguém sabe exactamente onde a revolução grega irá parar...

O governo supostamente socialista está praticamente demissionário e suplica uma coligação com a Direita parlamentar (ler notícia no Público). Em Portugal, o Partido Socialista lusitano terá mesmo que acelerar o passo na substituição da ainda vigente, mas completamente inútil e execrável, direcção socratina — pois a actual coligação de centro-direita poderá não ser suficiente para as encomendas. O perigo de uma restauração anti-democrática pode espreitar ao virar da esquina... antes mesmo de o frio propício à matança do porco chegar.

É cada vez mais difícil ler as folhas de chá. Mas tentarei fazê-lo nos dias e meses cada vez mais difíceis que se aproximam.

terça-feira, junho 14, 2011

Depois de Trichet

Vem aí um novo BCE!
Draghi, o italiano mais germânico que a Alemanha poderia esperar

Mario Draghi, o novo boss do BCE
Divergências entre o BCE e a UE agravam a crise da dívida
14.06.2011 - 07:32 Por Rosa Soares. Público.

Há um novo factor de pressão na crise da dívida soberana que afecta os países periféricos: a divergência de posições entre o Banco Central Europeu (BCE) e alguns Estados-membros da União Europeia (UE) em relação ao envolvimento dos credores privados no novo pacote de ajuda à Grécia.

Já tínhamos anunciado este ataque sem precedentes ao BCE.

Nos últimos sete meses 600 mil milhões de dólares voaram do FED para bancos europeus, canadianos e japoneses. O grosso da massa foi parar a estes bancos europeus: BNP Paribas, Barclays*, Credit Suisse, Deutsche Bank*, HSBC*, UBS. ‎Os que têm asterisco são os que vão tomar conta da emissão de 5mM€ que em breve virão acudir Portugal.

Acontece que o BCE está atulhado de papel soberano recebido em garantia de empréstimos concedidos a bancos privados para que estes comprassem dívida pública em copiosos montantes. Com a já inevitável reestruturação das dívidas soberanas da Grécia, Portugal, Irlanda, Espanha, etc., o valor do papel soberano cairá a pique (alguns crêem que pode desvalorizar entre 20 e 60%). Logo, os bancos privados e o BCE que entraram nestas negociatas vão ter prejuízos monumentais.

Há já quem fale de duas coisas: pré-falência/aquisição de algumas dezenas de bancos europeus (na realidade, há muito falidos), e um grande enfraquecimento do próprio BCE, ou a sua metamorfose assim que Mario Draghi comece a mandar neste super-banco.

É por causa desta iminente crise do BCE que todos os ministros das finanças do euro foram hoje despachados a grande velocidade para Bruxelas!

As minhas recomendações a quem me lê são as mesmas de há 5 anos a esta parte: livrar-se das dívidas e comprar ouro, prata e quintinhas produtivas, de preferência nas periferias das cidades com mais e 100 mil habitantes. Parece que os títulos de dívida pública alemã prometem também alguma rentabilidade estável. Mas para os grandes investidores (em Portugal vão deixar de existir) vem aí uma nova vaga industrial: ferrovia, portos, eficiência energética e energias pós-carbónicas.


POST SCRIPTUM

Nouriel Roubini defende PIGS fora do euro (Financial Times, 14-06-2011).

Na minha opinião, a razão está mais na resposta que Sony Kapoor deu ao artigo que entusiasmou o Expresso, do que nos fígados que Nouriel Roubini inspeccionou. No entanto, há outra via: uma quarentena dos PIGS fora do euro (durante 2 a 4 anos). Como? Deixo a geometria aos economistas com imaginação ;)

segunda-feira, junho 13, 2011

O amigo americano

600 mil milhões de dólares voaram, nos últimos sete meses, da Reserva Federal americana para 20 instituições estrangeiras. Entre os beneficiados estão seis bancos europeus: BNP Paribas, Barclays*, Credit Suisse, Deutsche Bank*, HSBC*, UBS. Bern Bernanke tem as orelhas a arder!

Bern Bernanke, presidente da Reserva Federal americana
O mínimo que se pode dizer é que o caos financeiro está instalado! Ou seja, o que parecia ser uma guerra da moeda americana contra o euro, pode afinal ser algo muito maior e potencialmente devastador: a elite financeira ocidental, com uma perna em cada margem do Atlântico, procura controlar os danos da especulação desenfreada que criou e alimentou a partir de meados da década de 1980 com a invenção e disseminação de produtos financeiros fraudulentos, no capítulo dos chamados derivados financeiros OTC (over-the-counter). Depara-se, por outro lado, com o colapso imparável da ainda principal moeda de reserva mundial —o dólar americano—, e com a necessidade de improvisar um Plano B (nem que seja o euro!) para o caso de a sentença da ONU se concretizar:

The value of the dollar has dropped to the lowest level in history vis-à-vis other major currencies. Further rising external indebtedness of the United States following a renewed widening of the twin deficits will keep downward pressure on the dollar, and the risk of a hard landing of the world’s main reserve currency will remain high.

[...]

The risk of exchange-rate instability and a hard landing of the dollar could be reduced by having a global payments and reserve system which is less dependent on one single national currency. One way in which the system could naturally evolve would be by becoming a fully multi-currency reserve system. The present system has already more than one reserve currency, but the other currencies remain a secondary feature in a system where most reserve assets by far are held in dollars and where most of the world’s trade and financial transactions are affected in the major reserve currency. The advantage of a multireserve currency arrangement is that it would provide countries with the benefit of diversifying their foreign-exchange reserve assets — in “World Economic Situation and Prospects 2010” (PDF).

As operações de empréstimos de emergência de curto prazo (discount window) lançadas pela Reserva Federal em 2008-2009, e mais recentemente, beneficiaram surpreendentemente várias e importantes instituições estrangeiras com sucursais na América. O documento da Reserva Federal recentemente desclassificado, Discount Window FOIA, é muito elucidativo da escala gigantesca do colapso financeiro da moeda americana.

Exclusive: The Fed's $600 Billion Stealth Bailout Of Foreign Banks Continues At The Expense Of The Domestic Economy, Or Explaining Where All The QE2 Money Went

In summary, instead of doing everything in its power to stimulate reserve, and thus cash, accumulation at domestic (US) banks which would in turn encourage lending to US borrowers, the Fed has been conducting yet another stealthy foreign bank rescue operation, which rerouted $600 billion in capital from potential borrowers to insolvent foreign financial institutions in the past 7 months. QE2 was nothing more (or less) than another European bank rescue operation!

...

In fact, the $600 billion in cash that was repatriated to Europe will mean that European banks likely are fully covered to face the capitalization shortfall that will occur once Portugal, Ireland, Greece, Spain and possibly Italy are forced to face the inevitable Event of Default that will see their bonds marked down anywhere between 20% and 60%. Of course, this will also expose the ECB as an insolvent central bank, but that largely explains why Germany has been so willing to allow Mario Draghi to take the helm at an institution that will soon be left insolvent, and also explains the recent shocking animosity between Angela Merkel and Jean Claude Trichet: the German are preparing for the end of the ECB, and thanks to Ben Bernanke they are certainly capitalized well enough to handle the end of Europe's lender of first and last resort — in Tyler Durden on 06/12/2011, Zero Hedge.

A exposição temerária do sistema financeiro europeu às tropelias de Wall Street foi e é enorme, pelo que não será uma surpresa assim tão grande constatar que parte do guichet dos aflitos tivesse também servido os bancos europeus, japoneses e canadianos com assento nas praças americanas, e que parte do dinheiro virtual da Reserva Federal tivesse voado a velocidade electrónica, de Nova Iorque para Bruxelas, Paris, Londres ou Zurique. Mais intrigante, ou talvez não, é que a liquidez fictícia da Reserva Federal continue a voar para todo o lado, estando já em preparação um novo programa de Quantitative Easing — o QE3.

Para a Grécia, Portugal, Espanha, Itália, Bélgica, Irlanda, estas podem ser, no entanto, más notícias, na medida em que a oligarquia financeira europeia pode estar a preparar-se para um movimento de concentração industrial e financeira sem precedentes, precisamente através da famosa reestruturação das dívidas soberanas — que, entre nós, as ortodoxias decadentes da esquerda estalinista e trotskista vêm reclamando alegremente. Louçã pode estar a ponto de ver realizado o sonho de derrotar Ricardo Salgado. Não deixa de ser irónica esta vitória de Pirro.

A doença da moeda americana parece ser fatal. Como em todas as doenças terminais nunca podemos prever com exactidão o dia e hora do falecimento da criatura atormentada pela morte que se aproxima. Mas que o destino do moribundo dólar parece estar traçado, parece. Aos mais curiosos recomendo esta exposição de hora e meia sobre a doença genética da nota verde.


Economic Federalism - Dr. Edwin Vieira. Ph.D, J.D. from StandUpForLiberty on Vimeo.

(*) — Estes são os bancos que vão gerir a emissão de obrigações do Fundo Europeu de Estabilização Financeira (FEEF), no valor de 5mM€, destinadas a angariar fundos de apoio ao resgate da dívida soberana portuguesa (Jornal de Negócios).

domingo, junho 12, 2011

Euro contra-ataca?

Presidente do Eurogrupo aponta baterias às dívidas americana e japonesa. Não percebe, diz, porque está o epicentro da crise na Eurolândia. Vamos ter um Verão quente!



Juncker: Greece Needs 'Soft' Debt Restructuring

BERLIN—Highly indebted Greece needs a “soft, voluntary restructuring” of its debt, said Jean-Claude Juncker, the head of the group of countries using the euro as a common currency, in a radio interview Saturday.

(...) “The debt level of the USA is disastrous,” Mr. Juncker said. “The real problem is that no one can explain well why the euro zone is in the epicenter of a global financial challenge at a moment, at which the fundamental indicators of the euro zone are substantially better than those of the U.S. or Japanese economy.” -- Wall Street Journal.

Tendo presente os números do FMI referentes a 2010, percebe-se melhor a declaração de Jean-Claude Juncker:

Dívida Pública em % do PIB (Wikipedia):
  • Japão: 225,8
  • Grécia: 130,2
  • Itália: 118,4
  • Bélgica: 100,2
  • Irlanda: 93,6
  • EUA: 92,7
  • Reino Unido: 76,7
  • França: 84,2
  • Portugal: 83,1*
  • Alemanha: 74,3
Dívida Externa em % do PIB (Wikipedia):
  • Irlanda: 1224
  • Reino Unido: 398
  • Portugal: 201 
  • Grécia 165
  • Eurozona: 120
  • EUA: 97
  • Mundo: 95
  • União Europeia: 83
  • Japão: 51
Balança de Transacções correntes, posição relativa (Wikipedia)
  • China: 1º (+)
  • Japão: 2º (+)
  • Alemanha: 3º (+)
  • Noruega: 5º (+)
  • União Europeia: 14º (+)
  • Irlanda: 167º (-)
  • Grécia: 180º (-)
  • Portugal: 181º (-)
  • Reino Unido: 186º (-)
  • França: 188º (-)
  • Itália: 189º (-)
  • Espanha: 190º (-)
  • EUA: 191º (-)

Ou seja: da guerra em curso ente o dólar e o euro apenas pode resultar um desastre maior. O modelo económico tem que mudar. E com ele o modelo financeiro especulativo dominante.

PS: a reestruturação da dívida grega vai ter consequências imediatas no BCP, o banco português mais exposto à dívida soberana daquele país. Sem capacidade para reforçar os capitais próprios, terá em breve que recorrer ao fundo de resgate de 16mM€ previsto no Plano da Troika. Esperam-se tempos difíceis neste banco.

(*) Estes números foram recentemente revistos em alta, depois de Bruxelas incluir no perímetro orçamental as dívidas que andavam escondidas nas empresas públicas e em entidades privadas de capitais 100% públicos! Segundo o Expresso: “Bruxelas estima que a dívida pública portuguesa aumente de 93 por cento do PIB em 2010 para 101,7 em 2011 e 107,4 em 2012.”

sexta-feira, junho 10, 2011

Bitcoin

Uma moeda finita, puramente computacional, para derrotar o buraco negro da ladroagem mundial?

E se os money changers fossem derrotados por um banqueiro anarquista anónimo e sem dono?

Em plena erupção da crise financeira e económica mundial, desencadeada pelo colapso dos chamados empréstimos Subprime, a percepção de que o sistema bancário na era da globalização electrónica se transformara numa Dona Branca planetária, levou um misterioso hacker japonês, Satoshi Nakamoto, a criar, entre 2007 e 2010, o modelo daquela que promete ser a futura moeda global: descentralizada, democrática, sem dono, e à prova de inflação. Esta moeda, que já circula na tecnosfera, chama-se Bitcoin. Baseada na partilha ponto-a-ponto de ficheiros entre computadores (P2P), é um meio de pagamento digital-electrónico, cujo valor é extraído através da resolução de problemas matemáticos de complexidade crescente, encriptado através de algoritmos muito sofisticados e resistentes, finito (para evitar a inflação monetária) e que promete resistir aos money changers pós-modernos, responsáveis pela gestação criminosa de um risco de incumprimento financeiro global equivalente a 10x o PIB mundial, ou seja, 600 milhões de milhões de US dólares (“Semiannual OTC derivatives statistics at end-December 2010”—Bank of International Settlements).

The Currency That's Up 200,000%
Bitcoins are the top-performing money in the world -- but what are they?
Smart Money, Wall Street Journal

The best performing currency of the past year isn't Brazil's real, up 15% versus the U.S. dollar, or Australia's dollar, up 27%. It's the Bitcoin. A year ago one was worth half a penny. Thursday morning it hit $10.50. That's a gain of more than 200,000%.

What's a Bitcoin? It's a peer-to-peer system of electronic money that allows payments to be sent directly between two parties without the need for a financial institution. It's related to Bit Torrent, a system for sharing large files like movies, but in this case the "movie" is a file with the currency's entire transaction history. And because users themselves all share that history, "it's more secure than even bank transactions," says Donald Norman, a spokesman for the Bitcoin Consultancy, which is seeking to gain wider acceptance for the currency.


The Bitcoin Triples Again
Smart Money, Wall Street Journal

The world's fastest-gaining currency has tripled in price again. Last week, SmartMoney.com reported that the Bitcoin had exploded from an exchange rate near zero to more than $10 in about a year, making it one of the top-returning assets of any kind. On Wednesday the currency topped $30.

If returns like those seem otherworldly, perhaps its because Bitcoin is a world unto itself. To recap, it's is a purely online currency with no intrinsic value; its worth is based solely on the willingness of holders and merchants to accept it in trade. In that respect, it's not so different from fiat currencies like the dollar or Euro, but whereas governments back such money, Bitcoins lack central control.

Bitcoin tem a sua origem cultural na vasta comunidade de hackers e de defensores de uma espécie de anarquia electrónica responsável, comunitária e anti-capitalista. A genealogia deste movimento cultural com impacto crescente na actual civilização tecnológica (paradoxalmente ameaçada pelo consumo e destruição especulativa dos seus limitados recursos energéticos, naturais e sociais objectivamente disponíveis) é bem conhecida de muitos de nós. Basta citar alguns do seus mais notórios acrónimos:

Linux
Open Source/ Software Livre
Creative Commons
Wikipedia
Wikileaks
Anonymous
Humblebundle
Bitcoin
BitTorrent
The Pirate Bay

Os recentes êxitos instantâneos do Facebook, Twitter, Groupon, LinkedIn e Mac iCloud são versões comerciais híbridas da ideologia tecno-comunitária do Software Livre e da Partilha Gratuita de Ficheiros. Esta ideologia, de que o Bitcoin promete ser o grande protagonista monetário, desafia as noções convencionais de propriedade intelectual aprisionadas por uma agressiva e imperial indústria dedicada à comercialização de direitos de autor e de patentes.

À medida que as dificuldades criadas pelos money masters reduzem as soluções racionais e socialmente disponíveis para a actual crise de endividamento, arriscando destruir a economia mundial (por exemplo, através de uma guerra tecnológica sem precedentes), os indivíduos, as empresas e os governos acabarão por escolher a melhor forma de se protegerem dos processos de implosão e rapina em curso e que não parecem ter fim (sobretudo por causa da dimensão do buraco negro dos derivados financeiros OTC.)

É neste contexto que a Bitcoin aparece como uma ideia brilhante, ainda que na sua infância, capaz de desafiar o poder aparentemente ilimitado dos senhores de um dinheiro que deixou de ser metálico em 1971, e que tem vindo a ser multiplicado electronicamente —numa base puramente declarativa, ou contabilística— sem qualquer base sólida de valor. As bolhas especulativas que nascem e rebentam de forma cada vez mais destrutiva são a marca distintiva desta espoliação em massa das populações e dos países. A partir do momento em que a moeda de reserva mundial, o dólar americano, em nome de uma inflação monetária que não mais acabaria, rejeitou qualquer regra de paridade relativamente ao ouro, as populações e as economias subordinadas à hegemonia imperial desta moeda flutuante foram sendo sucessivamente despojadas das suas poupanças, dos seus empregos, das suas autonomias e, no limite, do direito à existência. Há, no entanto, uma rebelião em marcha — confusa, caótica, mas que a crescente república electrónica global vem apetrechando com escudos e ferramentas de perturbação cada vez mais sofisticados e eficazes.

Há quem diga que Dominique Strauss-Khan foi vítima de uma conspiração dos serviços secretos americanos, em resultado de o ex-director do FMI ter confirmado o que há muito se suspeitava: as reservas de ouro americanas evaporaram-se de For Knox! E o ouro português, ainda lá está? Se o Parlamento Europeu aprovar a proposta da sua Comissão de Economia e Assuntos Monetários, ECON, sobre o uso das reservas de ouro dos países comunitários no pagamento de dívidas de Estado, saberemos finalmente até que ponto a moeda americana não passa hoje de um perigoso fantasma.


What is bitcoin?


Online Cash Bitcoin Could Challenge Governments, Banks

Late last year, after WikiLeaks began releasing its trove of State Department cables, many individuals sought to show solidarity with the group by making a donation. They found, however, that many payment processors would not remit money to WikiLeaks, some say as a result of U.S. government pressure. PayPal even froze the group's account so it couldn't access funds already collected.

“Hey, Visa, Mastercard, Paypal: It's MY money,” media critic Jeff Jarvis tweeted at the time. “How DARE you tell me where I can and can't spend it?” — TIME.

Bitcoin, the new digital currency explained


Crypto Currency
Andy Greenberg, 04.20.11, 06:00 PM EDT
Forbes Magazine dated May 09, 2011

Want to buy socks or psilocybin without being traced? Bitcoins are for you.

The Internet has left plenty of dead and maimed paper-based institutions in its wake. If Gavin Andresen and his underground cadre of cypherpunks have their way, another archaic slice of pulped tree may be next: the dollar.

Bitcoin is a grassroots nonprofit project that seeks to fashion a new currency out of little more than cryptography, networking and open-source software, and Andresen is the closest thing the project has to a director. Bitcoin is not, he explains, just a new way to digitally spend dollars, pounds and yen. That's been tried before. Remember Beenz and Flooz?

ÚLTIMA ACTUALIZAÇÃO: 10-06-2011 23:33

quinta-feira, junho 09, 2011

PS: o sucessor nomeado

Assis atropela Costa por ordem de Santos

Francisco Assis, o tribuno. Foto: ©LUSA

«Os meus camaradas do PS são os primeiros a compreender que honrar a confiança que em mim depositam os lisboetas, cumprir o compromisso que assumi com a cidade que me elegeu e exercer com total paixão as funções públicas que me estão confiadas é não só meu dever como o melhor contributo que posso dar para credibilizar a política e prestigiar o PS» — António Costa (08-06-2011 00:47)

Il consigliere Almeida Santos foi ao Conselho Nacional do PS explicar a António Costa que afinal não podia suceder a Sócrates, e mais: teria que apoiar o Assis!

Pior ainda: António Costa tinha anunciado que iria dar uma conferência de imprensa, logo depois do conselho nacional do partido rosa que teria lugar no Largo do Rato, para anunciar a sua posição sobre a corrida ao cargo de sucessor de José Sócrates. A imprensa ficou à coca, imaginando o que toda a gente imaginou: que o homem iria candidatar-se, prometendo obviamente dar continuidade responsável e idónea ao trabalho do demissionário secretário-geral do PS.

Subitamente, porém, entrando pelo horário nobre das televisões dentro, il consigliere veio dizer-nos, sem cerimónias, que António Costa seria certamente o melhor sucessor de Sócrates, mas que, infelizmente, não poderia acumular tal cargo com o de presidente da câmara de Lisboa. E uma vez que Costa não iria certamente abandonar o cargo camarário, a sua candidatura a secretário-geral do PS ficava, pois, sem efeito.

Ou seja, o futuro secretário-geral do PS pode e acumulará tal cargo com o de primeiro ministro, quando e se vier a ganhar umas próximas eleições legislativas, mas não pode acumular com o cargo de edil da capital. É inacreditável, se não fosse, pura e simplesmente, mais uma demonstração da natureza perigosa de quem, sem a menor vergonha, capturou um partido político de alto a baixo!

A anunciada conferência de António Costa, prevista para as 22:30 de 7 de Junho, acabaria por ter lugar já na madrugada do dia seguinte, para se resumir a uma breve e decepcionante declaração de desistência.

Podemos imaginar os gritos e as lágrimas de crocodilos que correram durante o conselho presidido pelo consigliere Santos!

Desenhou-se e fez-se pois aprovar o plano da tríade que continua a controlar o PS, por forma a colocar no poleiro um sósia barbudo de Sócrates —o amarantino renegado e de nome enganador, Francisco Assis, trepadeira falante disposta a tudo dizer e o seu contrário para agarrar o teleponto dos insaciáveis donos do PS.

Razão teve Manuel Maria Carrilho ao dizer, na passada terça-feira, na TVI, que Assis é um seguidor acrítico de Sócrates, que a seu tempo (digo eu) pescou Assis e o promoveu para o dia de hoje.

Entretanto, lendo as entrelinhas dos jornalistas-pedreiros do Correio da Manhã, ficamos a saber que a manobra do consigliere foi, de facto, mais elaborada e subtil do que inicialmente pensei.

Almeida Santos tenciona afinal retirar-se do cargo que ocupa há séculos —o de presidente do partido— entregando-o (adivinhem?) a António Costa! Ou seja: se Assis ganhar, continua tudo nas mãos da tríade de Macau (Jorge Coelho, António Vitorino, Vitalino Canas, Alberto Costa, Maria de Belém Roseira, Carlos Santos Ferreira, Francisco Murteira Nabo, Manuel Frasquilho); mas se Assis perder para Seguro, pelo menos o cargo decisivo de presidente do partido fica em mãos, como se constatou, bem domesticadas!

O objectivo, porém, é mesmo derrotar António José Seguro, apostando em tudo o que houver para apostar. Até numa candidatura feminista improvisada, como aquela que Maria de Belém Roseira e Ana Gomes parecem estar prestes a protagonizar. Só falta mesmo a Edite Estrela para termos as três desgraças cor-de-rosa na posição de acólitas eleitorais do candidato da tríade. É difícil imaginar uma democracia europeia mais miserável!

A Depressão Demográfica Portuguesa

Com metade da população actual, e mais de metade dela acima dos 65 anos, quem pagará as dívidas e o Estado Social?

Sem olhar para a demografia e para a energia não é possível decidir bem.

Em 2085 teremos a população actual da Catalunha (simular previsões nesta página da ONU) — ou até menos de metade da população actual!

Quem pagará então as facturas lançadas na primeira década do século 21 por uma classe política corrupta e estúpida até à medula?

O declínio demográfico e a inflação decorrente do Pico do Petróleo têm vindo a erguer rapidamente o verdadeiro muro intransponível da nossa decadência e da impossibilidade de pagar as dívidas contraídas pela partidocracia que deixámos crescer como um cancro imparável. Se não pararmos as PPPs rodoviárias e hospitalares, e o ilusório Plano Nacional de Barragens, imediatamente, a saída da zona euro será inevitável, assim como a perspectiva de nos tornarmos uma colónia a ferro e fogo dos nossos credores.

O alerta surgiu, há alguns anos, da Comissão Episcopal da Mobilidade Humana (e dele demos aqui conta então), desmentindo as estatísticas distraídas do político INE. Há décadas que o nosso instituto estatístico e o governo medem mal a realidade, e se esquecem de contar a emigração para a União Europeia (como se esta fosse já uma realidade política consolidada), daqui resultando a pouca fiabilidade dos seus números sobre a população portuguesa realmente residente e activa, e o escândalo da sistémica abstenção eleitoral. Os cadernos estão cheios de zombies, mas também, e principalmente, de emigrantes que o INE e os sucessivos governos não conseguem ver nem contar.
Ontem o INE admitiu pela primeira vez que o nosso saldo migratório foi negativo em 2010, ou seja, saíram mais portugueses do que as entradas de imigrantes no nosso país. Mais concretamente, o INE estimou que saíram cerca de 23,7 mil portugueses em 2010, o que contribuiu para que a nossa população diminuísse em cerca de 700 pessoas no último ano. Continuo a afirmar que os números de saídas de portugueses estimados pelo INE estão manifestamente errados, assim como iremos ver dentro de pouco, quando os dados do Censos 2011 forem publicados. Nessa altura, penso que iremos verificar que a população do país terá entre 200 mil e 300 mil pessoas a menos do que os 10,6 milhões estimados pelo INE. Como chego a este número? Subtraindo as minhas estimativas da emigração com os números de entradas de imigrantes. 
Álvaro Santos Pereira, Desmitos.

terça-feira, junho 07, 2011

Não pagamos?

Estamos no meio duma guerra financeira!
Precisamos de um sistema de forças, de definir correctamente os objectivos, de liderança, de estratégia e de aliados.

Manif. Grécia, 11 de maio, 2011

Como sair da armadilha do endividamento especulativo e da economia virtual para onde fomos arrastados ao longo das últimas duas décadas? Como impor aos credores, sobretudo aos que especularam e especulam com os mercados da dívida, uma repartição equitativa dos prejuízos?

“A UE substituiu os Estados nacionais pela planificação dos banqueiros e, por essa via, a política democrática foi substituída pela oligarquia financeira.” — inWill Greece Let EU Central Bankers Destroy Democracy? A World at Financial War” (6 de Junho de 2011), por Michael Hudson.

De leitura obrigatória, este artigo de Michael Hudson permite-nos uma reflexão mais equilibrada (ainda que deixando de fora as causa estruturais da presente crise financeira ocidental) sobre os desafios dramáticos que temos pela frente: onde estaremos depois de gastar os 78mM€ obtidos pela Troika nos mercados a que já não conseguimos aceder salvo pagando juros suicidas? O dinheiro que vai chegando, com exigências crescentes, serve para pagar facturas atrasadas aos principais credores (Espanha, Alemanha, França e Reino Unido), mas também muitas facturas recentes, provavelmente indevidas, por resultarem do ataque desencadeado pela especulação financeira contra as dívidas soberanas da periferia europeia.

Qual será o preço final do dinheiro fresco que chega, para logo sair em direcção aos credores? Pode ou não acontecer que, depois de os investidores e especuladores recuperaram o seu dinheiro, mais os juros agiotas que conseguiram impor com o auxílio do pelotão de sabotadores das agências de notação, ameaçando expropriar literalmente os nossos melhores activos, a Troika acabe por confessar que o país é insolvente e que por esta razão deverá sair do euro, ou submeter-se a uma governação directa do exterior?

Temos que discutir estas dramáticas perguntas, sem cair na tentação do pensamento linear e completamente inútil dos partidos que, apesar de pagos pelos contribuintes, se recusam a negociar com o inimigo. Na Grécia, actualmente governada por socialistas à beira de serem acusados de traição, é a direita que tem vindo a colocar as questões patrióticas que naturalmente se impõem.

Há uma guerra financeira em curso, como estou farto de sublinhar. Temos que identificar claramente o que está em causa, os teatros de operações, os adversários e os objectivos. E depois, como é óbvio, teremos que defender a integridade do nosso território, como parte indispensável do próprio processo de integração europeia. A União Europeia não pode ser trocada, sob a ameaça terrorista dos mercados especulativos, por uma espécie de feudalismo financeiro e tecnológico, como bem refere Michael Hudson. Regras, coerência e supervisão europeias, sim. Nem sequer contesto, antes pelo contrário, um governo europeu com poderes acrescidos sobre os vários estados-membros da União. Mas não podemos confundir esta trajectória em direcção a uma futura, efectiva e eficiente soberania europeia, com a submissão dos burocratas europeus ao poder cego do dinheiro. Se os dirigentes europeus pensam que podem vender a União a retalho, ou pior ainda, destruí-la em nome de um qualquer imperialismo franco-alemão de trazer por casa, preparem-se para um novo pesadelo! Sem racionalidade económica assente numa visão estratégica efectivamente europeia e solidária, a Europa caminhará inexoravelmente para uma nova guerra civil. É isso que querem os especuladores e os burocratas de Bruxelas, Paris e Frankfurt?

A condição necessária para que arranque o novo pacote “reformado” de empréstimos é que a Grécia entre numa guerra de classes aumentando os seus impostos e rebaixando os gastos sociais – incluindo as pensões do setor privado – e liquide e ponha em leilão terrenos públicos, enclaves turísticos, ilhas, portos, água e sistemas de esgoto. Isto aumentará o custo de vida e o custo de fazer negócios, atingindo a já limitada competitividade das exportações do país.

[...] E no que diz respeito às próprias classes ricas gregas, o pacote de empréstimos da União Europeia conseguiria manter o país na eurozona o tempo suficiente para que retirassem o seu dinheiro do país, antes de chegar o momento em que a Grécia seja forçada a abandonar o euro, regressando a um dracma rapidamente desvalorizado. Enquanto não chegar o momento deste regresso a uma moeda própria em queda, a Grécia terá que seguir a política báltica e irlandesa de “desvalorização interna”, isto é: de deflação salarial e corte de gastos públicos – exceto para pagar o setor financeiro – a fim de diminuir o emprego e, assim, os níveis salariais.

O que realmente se desvaloriza nos programas de austeridade ou de desvalorização monetária é o preço do trabalho. Ou seja, o principal custo interno, já que há um preço mundial comum para combustíveis e minerais, bens de consumo, alimentos e até crédito. Se os salários não puderem ser reduzidos pela via da desvalorização interna (com um desemprego que, começando pelo setor público, induza quedas salariais), a desvalorização da moeda acabará por fazer o trabalho que resta até o fim.

É assim que a guerra dos países credores contra os países devedores na Europa se torna uma guerra de classes. Mas para se impor tamanha reforma neoliberal, é preciso que a pressão externa passe ao lado dos parlamentos nacionais democraticamente eleitos. Pois não é de se esperar que os eleitores de todos os países se mostrem tão passivos como os da Letónia e da Irlanda quando se age manifestamente contra os seus interesses.

[...] As finanças são uma forma de guerra. Como na conquista militar, o seu objetivo é garantir o controle do território e das infraestruturas públicas, e impor tributos. Isso envolve ditar leis aos seus súditos e concretizar a planificação social e económica de forma centralizada. Isto é o que se está fazendo agora com meios financeiros, sem o custo, para o agressor, de ter que colocar um exército no campo de batalha. Mas as economias sob ataque podem terminar tão profundamente devastadas pelos rigores financeiros quanto seriam por investidas militares, provocando a contração demográfica, o encurtamento da esperança média de vida, emigração e fuga de capitais.

in “Golpe de estado financeiro ameaça democracia europeia”, Carta Maior.