source: tradingeconomics.com
A dívida continua alta, mas o país começou a crescer em 2013...
“O Governo saúda esta decisão. Portugal trabalhou arduamente para alcançar este resultado e dará seguimento a este trabalho para melhorar as perspetivas da economia e da sociedade portuguesas. Esta decisão é um momento de viragem na medida em que expressa a avaliação da Comissão de que o défice orçamental excessivo de Portugal foi corrigido de forma sustentável e duradoura” — in Dinheiro Vivo, 22/6/2017.
Se isto não é reconhecer os méritos da Troika, de Passos Coelho/Paulo Portas, e a confirmação de que António Costa/Centeno prosseguiram um programa de austeridade (ainda que mais leve e compensado por uma devolução de rendimentos aos funcionários públicos e pensionistas), não sei o que é.
Estão todos de parabéns, senhores deputados e governos, apesar do que doeu à maioria de nós. Até o PCP e o Bloco, afinal, acabaram por baixar os braços. Ainda bem.
Já agora, reparem como o gráfico acima desmente a basófia da Geringonça quando faz propaganda sobre os méritos da recuperação do país. Foram os portugueses que, apertados pelo garrote dos credores, reagiram em uníssono!
POST SCRIPTUM
Maria Luís Albuquerque não deixa os créditos por mãos alheias e avisa...
“Tivesse Portugal sido governado entre 2011 e 2015 por quem tanto enalteceu o Siryza e estaríamos em apuros semelhantes.”
“A explicação para o crescimento nos países que, tal como nós, ultrapassaram com sucesso a fase mais difícil do ajustamento é semelhante à que se aplica a nós. A conjuntura externa é favorável e as reformas empreendidas estão a dar frutos.
(...)
Onde está a alternativa, afinal? Houve reposição mais rápida de rendimentos a alguns — trabalhadores do sector público com salário superior a 1500€, acompanhada de um aumento do salário mínimo e de um aumento, mínimo, diga-se, nas pensões. Mas ao mesmo tempo aumentaram os impostos indiretos que afetam todos independentemente do seu nível de rendimento, incluindo aqueles que nunca tiveram reduções de rendimento por este ser muito baixo e que se vêem sem aumentos há anos de mais. A sobretaxa do IRS, que ia desaparecer por ser inaceitável o “esbulho fiscal”, continua cá para a classe média, e vai continuar. A austeridade para os serviços públicos agravou-se — veja-se o regresso aos pagamentos em atraso no SNS — e os cortes nunca foram tão fundos e tão cegos. O controlo do défice passou a ser a prioridade das prioridades e parece que afinal é possível crescer sem reestruturar a dívida. E o crescimento é impulsionado pelas exportações, ou seja, pelo rendimento dos estrangeiros. Para modelo de esquerda para lá da retórica não está nada mal. Para a alternativa reclamada é que parece faltarem alguns quesitos...
(...)
Ouve-se, com orgulho, que os resultados da Educação em Portugal nunca foram tão bons como os relativos a 2015, com o reconhecimento que tal implica do acerto das políticas seguidas. A maioria que governa o país arrasa com todas essas reformas e rompe com o modelo que provou estar certo. Os prejudicados são, como sempre, os que menos alternativas têm. Onde está a exigência de um acordo duradouro para a Educação, que nada mude sem avaliar os resultados do que foi feito?
A descida consistente do desemprego desde 2013 deve-se inegavelmente à reforma laboral, feita em acordo com os parceiros sociais. Se o que foi feito deu evidentes bons resultados, importaria continuar, não? Não. Nem se ouve falar no assunto, para lá dos protestos fingidos de PCP e BE que supostamente reclamam pela sua reversão.”
— in Público, 22/5/2017
Há, porém, outras formas de olhar para as estatísticas de sucesso que alegraram Costa e Centeno. O post de Pedro Romano no blogue Desvio Colossal é, a este respeito, do mais sensato que li nestes últimos dias.
Uma explicação trivial (mas palavrosa) para o maior crescimento económico do milénio
Maio 18 by pedro romano/ Desvio Colossal
O crescimento do PIB de 2,8% – o ritmo mais alto do século, como as televisões não se cansam de repetir – deixou muita gente surpreendida, algumas pessoas radiantes e outras naturalmente desgostosas. A surpresa é justificada, porque nas análises que fui lendo nos últimos tempos não havia nada que sugerisse uma aceleração tão forte. Mas penso que a ‘explicação’ para este crescimento, se é que assim lhe podemos chamar, é mais prosaica do que se presume. (...)
Se o PIB cresceu nos últimos anos e a produtividade estagnou, isso significa que toda o crescimento resulta da expansão do emprego. Isso torna a coisa mais trivial, porque tira logo de cena toda aquela conversa interessante acerca dos “novos processos produtivos”, a “reorientação do tecido económico”, “subidas na cadeia de valor” e por aí fora. Mas também nos facilita imenso a vida: para explicar o crescimento do PIB, basta-nos explicar o crescimento do emprego. (...)
(Se) o contributo da produtividade para este crescimento é virtualmente nulo, (...) tudo se resume a saber se este ritmo de criação de emprego pode ser mantido. A curto e médio prazo, a resposta sensata é: não sabemos. Tudo depende dos factores – internos e externos (como estes) que condicionam a necessidade das empresas de contratar mais ou menos trabalhadores. Não faço ideia de como evoluir estas condições, mas parece-me que não há razões a priori para se antecipar uma grande travagem (ou, em sentido contrário, uma grande aceleração).
Mas, no longo prazo, é óbvio que os números desta ordem não serão mantidos. Por uma razão simples: o que está a acontecer desde 2013 é uma recuperação cíclica – as pessoas que perderam os seus empregos estão agora a fazer o percurso inverso, passando do desemprego para o emprego. E há um limite até onde este processo pode ser levado, que é determinado (surpresa!) pelo número de desempregados.
Atualizado em 22/5/2017, 23:39 WET