terça-feira, setembro 03, 2024

Como acabar com a agressão russa contra a Ucrânia?

 

Civilians killed and cars destroyed in Russian missile strikes on Kyiv, 10 October 2022 (Wikipedia)

As defesas aéreas da região de Moscovo, a mais bem defendida da Rússia, falharam clamorosamente contra uma onda de pouco mais de 150 drones ucranianos no passado dia 1 de setembro de 2024. Este teste ajudará os ucranianos em futuros ataques, e deveria desde já levar os Estados Unidos a reverem as restrições inaceitáveis sobre o uso do seu armamento em território russo.

Por outro lado, os terroristas islâmicos, do ISIS e da banda Kadyrov (leia-se: as colónias muçulmanas) preparam-se para uma mais do que provável desintegração da Federação Russa. 

Mais do que uma vitória ucraniana contra Moscovo, o que está em marcha é uma segunda implosão no seio de decrépito império medieval moscovita.

A urgência de acabar com a aventura criminosa de Vladimir Putin tem, pois, ramificações muito perigosas, que o mundo democrático, a China, a Índia e até a Turquia e a Arábia Saudita terão que cercear, para a sua própria segurança.

Um plano de paz para a região deveria, creio, assentar em dez premissas:

1 - resignação de Vladimir Putin;

2 - retirada da Rússia de todas as terras ocupadas na Ucrânia, incluindo a Crimeia;

3 - constituição de um corredor desmilitarizado com 100 Km de largura ao longo de toda a fronteira entre a Rússia e a Ucrânia, vigiado por uma força militar de paz multinacional, da qual façam parte os Estados Unidos, a China, a União Europeia, o Brasil, a Índia, a Turquia e a Arábia Saudita;

4 - reparação dos danos causados pela invasão militar não provocada da Ucrânia, com recurso, nomeadamente, à riqueza criminosa dos oligarcas russos acumulada em bancos e paraísos fiscais ocidentais;

5 - julgamento dos responsáveis pelos crimes de guerra cometidos e documentados;

6 - aceitação por parte da Rússia de inspeções periódicas a todo o seu arsenal militar nuclear;

7 - imposição de um limiar às despesas militares russas totais na ordem dos 1,5% do seu PIB;

8 - perda do estatuto de membro permanente do Conselho de Segurança da ONU de que a Federação Russa atualmente goza;

9 - levantamento progressivo e seletivo das sanções comerciais e financeiras à Rússia;

10 - definição de um roteiro de democratização da Rússia, cujo seguimento permitirá o estabelecimento de futuros tratados de cooperação e desenvolvimento com os países da NATO.


[EN]

How do we end the Russian aggression towards Ukraine?

Air defences of the Moscow region, the best defended in Russia, failed resoundingly against a wave of just over 150 Ukrainian drones. This test will help the Ukrainians in future attacks and should now lead the United States to review the unacceptable restrictions on the use of its weapons on Russian territory.

On the other hand, Islamic terrorists, ISIS and Kadirov band (read: Muslim colonies) are preparing for a more than likely disintegration of the Russian Federation. 

More than a Ukrainian victory against Moscow, what is underway is a second implosion within the decrepit Moscow medieval empire.

The urgency of putting an end to Vladimir Putin's criminal adventure, therefore, has very dangerous ramifications, which the democratic world, China, India and even Turkey and Saudi Arabia will have to curtail for their safety.

We need a ten points peace plan for the region:

1 - Resignation of Vladimir Putin;

2 - Russia's withdrawal from all occupied lands in Ukraine, including Crimea;

3 - Creation of a demilitarised corridor 100 km wide along the entire border between Russia and Ukraine, monitored by a multinational military peacekeeping force, which includes the United States, China, the European Union, Brazil, India, Turkey and Saudi Arabia;

4 - Repairing damage caused by the unprovoked military invasion of Ukraine, using, in particular, the criminal wealth of Russian oligarchs accumulated in Western banks and tax havens;

5 - Trial of those responsible for committed and documented war crimes;

6 - Russia's acceptance of periodic inspections of its entire nuclear military arsenal;

7 - Imposing a threshold on total Russian military expenditure in the order of 1.5% of its GDP;

8 - The Russian Federation will lose its current status as a permanent member of the UN Security Council;

9 - Progressive and selective lifting of commercial and financial sanctions on Russia;

10 - Definition of a roadmap for Russia's democratization, which will allow the establishment of future cooperation and development treaties with NATO countries.

sábado, agosto 31, 2024

Que tal recomeçar o debate colonial?

Jovem cabo-verdiano confiante.
Gerado com a ajuda do ChatGPT


“But there’s also another aspect of the Portuguese colonial history, which is the existence of this big and important community of African descent” — Filipa Vicente.

Gostaria de ter visto esta exposição. A sua autora, Filipa Vicente, que não conheço, nem li, está de parabéns por esta abordagem da nossa íntima, contraditória, relação com tantos povos não-europeus. A ideia de levar, ainda que parcialmente, memórias fotográficas das comunidades africanas e afro-portuguesas residentes em Portugal e aqui chegadas desde 1975, i.e. desde o fim do império colonial, ao polémico Padrão dos Descobrimentos (peça central da exposição que Salazar mandou fazer, mostrando um império em relativa paz quando o mundo havia mergulhado na mais brutal guerra mundial que o mundo conhecera), foi um passo importante para desbloquear uma discussão que tarda sobre o nosso passado ultramarino, colonial e não colonial.

Convém explicar aos mais apressados, ou mentalmente condicionados, que as relações íntimas entre os portugueses e os povos das antigas colónias portuguesas, entre Portugal e os novos países que se libertaram (e que o nosso país libertou) da relação colonial, continuam bem e recomendam-se. Basta reparar que 50% das comunidades imigrantes residentes no nosso país provêm do Brasil, Cabo Verde, Angola, Guiné-Bissau, São Tomé e Príncipe. Curiosamente, a comunidade ucraniana é a terceira melhor representada no mosaico antropológico português, depois do Brasil e de Cabo Verde. Felizmente, estão todos, incluindo os agósticos e os ateus, embebidos no lastro histórico do Cristianismo.

Olhando para a demografia mundial, e em particular africana e europeia, perceber-se-à rapidamente que Portugal será no final deste século uma espécie de Cabo Verde em ponto grande, habitado por mulatos e mulatas. A nossa fraqueza tem sido, também, fonte de grandeza, sobretudo antropológica e de espírito. E já agora, neste ponto, ingleses, norte-americanos, alemães e russos nada têm a ensinar-nos. Os seus exemplos de colonialismo genocida e de racismo são sobejamente conhecidos. Desta gente gente nada temos que aprender em matéria de pós-colonialismo!