Caixa paga 10,75% pela dívida perpétua emitida!
Com esta remuneração, todos gostaríamos de ter um bocadinho da Caixa Geral de Depósitos, mesmo sabendo que o casamento seria indissolúvel. Deixar lá 100 mil euros até à eternidade e receber mensalmente 895 euros até que o nosso último trisneto se esquecesse que era um dos capitalistas da Caixa, quem é que rejeitaria tal perspetiva? O nosso investimento, em vez de obter uma rentabilidade negativa, ou seja, em vez de diminuir a cada dia que passa, como hoje sucede, estaria a engordar a 10,75% ao ano, numa era longa de crescimento efetivo abaixo dos 2%, juros assimétricos, e inflação escondida. É claro que as coisas não serão assim tão lineares, mas o que resulta evidente desta desmesurada rentabilidade prometida pela Caixa aos investidores institucionais é a extrema fragilidade, ou mesmo quase insolvência, em que o banco público se encontra. A confiança na sua viabilidade é tão baixa, tão baixa, tão baixa, que os tomadores da dita dívida exigem mais do dobro do que o país paga pela dívida pública a 10 anos, e quase 26x mais do que os mesmos investidores ganham com a dívida alemã a 10 anos (
0,414% no dia de hoje). Vale o risco!
Esta operação terá curiosamente lugar num dos paraísos fiscais da União Europeia: o Luxemburgo. Ouviram o Bloco, ou o PCP, piar?
No mesmo dia em que somos surpreendidos com mais este escândalo financeiro que o governo e os média se encarregarão de cobrir com creme pasteleiro, o IGCP anuncia aos indígenas uma remuneração de 1,708% (1,90% + a negativa Euribor a 6 meses) para as suas famosas Obrigações do Tesouro de Rendimento Variável (OTRV), a lançar na próxima semana. Ou seja, menos 6x do que o bodo aos ricos da Caixa.
Em suma, sem a mão do BCE por baixo, já vimos o que valem as promissórias indígenas. Nada, ou quase nada. E, portanto, assim que o BCE fechar a bica do Quantitative Easing (na versão
LTRO e TLTRO), Portugal entrará de novo numa zona de elevado risco. O risco de um novo resgate!
Teodora avisou, Schäuble avisou, o BCE quer multar Portugal, e o maior e um dos maiores fundos de investimento em dívida soberana, linchados pelo Banco de Portugal ao verem as suas compras de títulos do BES reduzidos a lixo, disseram que os elevados juros pagos por Portugal são o resultado da falta de confiança dos mercados nos nossos governantes e governadores...
Ou seja, o Diabo pode mesmo estar ao virar da esquina. Basta que o barril de petróleo suba para valores próximos dos 75-80 dólares (por enquanto continua a cair), ou que os juros americanos e europeus respondam à inflação emergente com uma subida consistente das taxas, para que o baralho de cartas da Geringonça se precipite para umas eleições antecipadas. Marcelo Rebelo de Sousa não tem sangue frio para aguentar uma pressão a sério.
POST SCRIPTUM
Um dia depois deste post, Mariana Mortágua veio contestar o mérito da operação da Caixa, reconhecendo que a mesma “põe em causa o balanço” do banco público. Pois põe! É que a pipa de massa a pagar em juros dificultará e muito o regresso do mesmo aos lucros. É caso para dizer que o que o Banco de Portugal roubou aos
edge funds que foram convencidos a meter dinheiro no buraco negro do BES vai agora devolver pela mão estendida da Caixa, ou seja, farinha do mesmo saco que o sistema financeiro obrigará, uma vez mais, o pobre contribuinte a pagar. Chama-se a isto austeridade de esquerda, e não devolução de direitos, ou de rendimentos, como propagandeia a Geringonça.
Bloco defende que nova emissão de dívida da Caixa deve ser travada
Marta Moitinho Oliveira martaoliveira@negocios.pt
Negócios, 24 de março de 2017 às 12:26
O Bloco de Esquerda defende que a emissão de dívida que a Caixa Geral de Depósitos (CGD) realizou esta quinta-feira, no valor de 500 milhões de euros, põe em causa o balanço do banco e aconteceu por imposição da Comissão Europeia, que teve de aprovar o plano de recapitalização da Caixa. O partido liderado por Catarina Martins quer que o banco público já não faça a segunda emissão, de 430 milhões de euros, que tem de ser feita nos próximos 18 meses.
“A recapitalização [do banco público] não pode ser feita à custa do equilíbrio financeiro da Caixa”, disse a deputada Mariana Mortágua, aos jornalistas, no Parlamento.
REFERÊNCIAS
"Hedge funds" ficaram com mais de 40% das obrigações da Caixa
Nuno Carregueiro nc@negocios.pt
Negócios, 23 de março de 2017 às 20:31
A Caixa Geral de Depósitos concluiu esta quinta-feira a emissão de 500 milhões de euros em dívida subordinada que conta como capital (AT1), numa emissão que constou com uma forte participação de "hedge funds".
De acordo com um comunicado do banco do Estado colocado na CMVM, os títulos de dívida foram subscritos por mais de 160 investidores, com as ordens a totalizarem mais de 2 mil milhões de euros, o que superou em mais de quatro vezes o montante da emissão, de 500 milhões de euros.
A Caixa revelou também a distribuição da colocação dos títulos, quer por tipo de investidores, quer por geografia. As gestoras de activos ficaram com praticamente metade dos títulos, sendo que os "hedge funds" compraram 41%. Uma distribuição explicada pelo risco elevado dos títulos colocados, que atraem os investidores mais propensos ao risco, como é o caso dos "hedge funds".
Os investidores do Reino Unido compraram mais de metade dos títulos (59%), sendo que os portugueses ficaram apenas com 14%.
Caixa paga 10,75% pela emissão de dívida perpétua
André Veríssimo averissimo@negocios.pt | Rui Barroso ruibarroso@negocios.pt
Negócios, 23 de março de 2017 às 13:08
O banco liderado por Paulo Macedo fechou a taxa final para emitir dívida subordinada que conta como capital (AT1). Para convencer os investidores a apostar nestes títulos perpétuos, a Caixa Geral de Depósitos vai pagar 10,75%, segundo dados avançados pela Bloomberg. O valor indicado inicial era de entre 11% e 11,5%. No entanto, o juro elevado atraiu um nível e procura que triplica o montante em oferta. A liquidação da operação está prevista para 30 de Março.
IGCP lança nova emissão de Obrigações do Tesouro na próxima semana
Agência Lusa/ Observador, 23/3/2017, 11:13
A Agência de Gestão da Tesouraria e da Dívida Pública (IGCP) vai emitir a partir da próxima semana uma nova série de Obrigações do Tesouro de Rendimento Variável (OTRV), com um montante indicativo de 500 milhões de euros. De acordo com o aviso do IGCP, publicado na quarta-feira em Diário da República, este montante poderá ser aumentado, por opção do emitente, até ao dia 31 de março de 2017, inclusive.
De acordo com uma nota publicada no ‘site’ do IGCP, as OTRV serão colocadas através de oferta pública de subscrição dirigida ao público em geral a decorrer entre o dia 27 de março e 7 de abril 2017, com pagamento de juros, semestral e postecipadamente, em 12 de abril e 12 de outubro de cada ano, calculados a uma taxa de juro variável e igual à Euribor 6 meses acrescida de 1,90%, ocorrendo o reembolso do capital em 12 de abril de 2022.
Grandes investidores internacionais fazem aviso a Portugal
Elisabete Tavares
Expresso, 22.03.2017 às 13h42
O grupo de grandes investidores a nível mundial que sofreu perdas com obrigações do Novo Banco alerta que o país continua a ser penalizado pela decisão do Banco de Portugal, e refere que um acordo seria benéfico para Portugal.
Este grupo, liderado pela BlackRock, a maior gestora de ativos do mundo, e pela PIMCO, uma das maiores investidoras em títulos de dívida, faz parte do conjunto de instituições que perdeu 2,2 mil milhões de euros com a transferência de cinco séries de obrigações do Novo Banco para o banco tóxico que sobrou do antigo BES.
O aviso surge numa altura em que a Caixa Geral de Depósitos procura angariar investidores para a sua emissão de obrigações perpétuas de 500 milhões de euros, no âmbito do projeto de capitalização do banco público.
Quase 500 bancos aproveitaram a última ronda de dinheiro grátis do BCE
Rui Barroso ruibarroso@negocios.pt
Negócios, 23 de março de 2017 às 12:41
Os bancos da Zona Euro acorreram em força à última operação de refinanciamento de prazo alargado direccionadas do BCE (TLTRO). Para estimular a concessão de crédito na Zona Euro, o banco central fez várias operações deste tipo, com juros de 0% ou mesmo negativos e um prazo de quatro anos, sendo que a cedência de liquidez desta quarta-feira é a última agendada.
Houve 474 bancos a participar na operação, segundo dados da Bloomberg e foram alocados 233,5 mil milhões de euros. O valor é bem superior aos 110 mil milhões de euros estimados pelos analistas, o que sinaliza que as entidades financeiras da Zona Euro quiseram aproveitar esta provável última oportunidade para assegurarem liquidez.
Dívida perpétua
Nota da Caixa Geral de Depósitos (
PDF)
BCE quer ultimato a Portugal: mais reformas ou sanções
Rui Peres Jorge rpjorge@negocios.pt
Negócios, 20 de março de 2017 às 21:10
Portugal está há três anos com desequilíbrios macroeconómicos excessivos e não tem adoptado as medidas necessárias para os corrigir apesar de várias recomendações europeias, o que de acordo com as regras do Procedimento relativo de Desequilíbrios Macroeconómicos (PDM) deveria implicar uma multa de quase 190 milhões de euros (0,1% do PIB ao ano). Esta é a posição do BCE, avançada a 20 de Março, numa análise à avaliação realizada em Fevereiro pela Comissão Europeia aos desequilíbrios na UE, na qual o banco central repete críticas à mão leve que Bruxelas tem revelado na gestão deste mecanismo de coordenação, mostrando-se "especialmente surpreendido" com o comportamento de Portugal, cujo governo prometeu muito e fez pouco em 2016.
Atualização: 24 mar 2017, 16:39 WET