terça-feira, agosto 09, 2011

A TAP do gaúcho, e a nossa

É melhor alguém olhar para as contas da TAP com olhos de ver!

Em Maio deste ano já havia números de 2010, mas só prá brasileiro verr!
  • Primeira pergunta: porque é que só em Agosto de 2011 se conhece o Relatório e Contas da TAP de 2010?
  • Segunda pergunta: porque é que em Maio de 2011 o gaúcho Fernando Pinto divulgou em Porto Alegre resultados de 2010 que só vieram a ser conhecidos em Lisboa esta semana?
  • Terceira pergunta: porque é que no Brasil a TAP teve lucros em 2010, e em Lisboa teve prejuízos?
“Com a desistência da Sissi [presumo que fosse a Swissair], potencial compradora, Fernando Pinto — e mais três brasileiros que o acompanham na direção da empresa — foram convidados para permanecer. Em pouco tempo, a companhia saiu de prejuízos acumulados ao longo de três décadas para lucro de 20 milhões de euros em 2003. Em 2010, a estatal atingiu cifra recorde: lucro de 62,3 milhões de euros, 8,7% maior do que no exercício anterior” — ZH Dinheiro, 04-05-2011.
“Em 2010, o Grupo TAP agravou os seus prejuízos em mais de 1.500%. Assim, no ano passado o grupo que controla a companhia aérea de bandeira fechou o exercício com perdas de 57,1 milhões de euros, valores que contrastam com os 3,5 milhões de euros negativos registados no ano anterior” — Jornal de Negócios online, 08-08-2011).

O Diário de Notícias, em vez de ler o relatório já disponível no sítio da TAP desde ontem ou anteontem (no dia 5 deste mês, quando tentei lê-lo, ainda não estava publicado), e procurar números mais claros do real panorama deficitário da TAP, limitou-se a copiar o Jornal de Negócios! Ou seja, se o ministro Álvaro Santos Pereira quiser conhecer realmente a situação da transportadora aérea nacional, terá que fazer o favor de começar por ler o exercício estilístico de design de comunicação que dá pelo nome TAP—Grupo TAP—Relatório Anual 2010.

Embora parecendo mais uma proposta criativa para a Experimenta Design, do que um documento destinado a informar claramente o leitor, o Relatório Anual 2010 da TAP nem por isso esconde os números duros de conhecer, mas que a nossa cada vez mais distraída imprensa não publicou.
  • Total do passivo: 2.351.634.000€ (mais 122.613.000€ do que em 2009)
  • Resultado líquido do exercício: -57.103.000€
  • Dívida aos bancos (1): 1.277.055.000€ 
  • Total do capital próprio e do passivo: 2.086.823 (mais 62.428.000€ do quem em 2009)

Em outubro de 2000, foi contratado pelo governo português para preparar a privatização da TAP”, relata o ZH Dinheiro na crónica entusiasta sobre as proezas do gaúcho e seus muchachos brasileiros em Lisboa (perdão, em Madrid, pois creio que é lá que o gaúcho vive). Mas então, porque é que ao fim de uma década e não sei quantos milhares de milhões de prejuízos e perda catastrófica de quota no seu principal mercado (o europeu) o gaúcho e seus muchachos continuam por cá a contar histórias da Carochina ao pessoal?

Só se for para justificar o célebre Hub da TAP Europa-Brasil e Europa-Angola, que justificaria por sua vez o embuste imobiliário do novo aeroporto da Ota em Alcochete. Mas este Hubezinho representa menos de 20% do negócio da TAP, e foi chão que deu uvas, carago! A Lufthansa já começou, e não vai parar de atacar o mercado angolano, com aviões a sério para estas distâncias —o A380. Idem para as ligações europeias em direcção ao Brasil. Os Hubs europeus estão em Londres, Paris e Frankfurt, senhores. Lisboa é um terminal. Só se a Alemanha, a França e o Reino Unido se esfumassem do mapa, é que Lisboa poderia ser um Hub do que quer que fosse.

Um pouco mais de inteligência, e menos corrupção, por favor!

ÚLTIMA HORA!

“Injecção de capital na TAP poderá ter de chegar aos 400 milhões” — Jornal de Negócios. E como a Parpública já deve estar impedida, pela Troika, de continuar a alimentar burros a Pão de Ló, a TAP entrou no mesmo beco sem saída airosa do BPN e... da EDP :( Sem um  spin-off desenhado com mestria a TAP é uma Gata Borralheira sem Príncipe. Ninguém quer uma empresa hiper endividada, com trabalhadores a mais, alguns deles demasiado bem pagos, e sobretudo sem estratégia credível. As cartas estão lançadas!

NOTAS

  1. Os principais financiadores bancários da TAP são, curiosamente, o Deutsche Bank, o BCP, a Tagus–Sociedade de Titularização de Créditos, S.A. e o Banco Popular. Se a Lufthansa tiver mesmo desistido da TAP, creio que a prenda irá mesmo para Isabel dos Santos — depois da entrada de capital fresco francês no Millennium BCP?

COMENTÁRIOS

Por ser demasiado longo (e importante ;) transcrevemos o comentário recebido sobre este post em 09-08-2011:

Viva António!

Fantástico post colocado sobre a TAP. Ninguém fazia melhor, muito menos a avençada imprensa do "bloco central".

No entanto, o filão ainda está muito por explorar, como por exemplo a entrega para 2014 dos primeiros 12 aviões A350 XWB.

É que houve o salão aeronáutico de Paris e ninguém veio esclarecer a plebe quanto à compra ou não dos ditos aviões. E se a intenção de compra foi declinada "fora de tempo" é claro que dá lugar ao pagamento das "teóricas" indemnizações. Mas é claro, segundo os critérios contabilísticos da TAP, reportando a despesas, passam a fazer parte da TAP SGRS (o lado negro da força), muito embora a decisão de compra tenha vindo da gestão de topo. Será que a TAP SGRS é a almofada das más decisões, imputáveis custos à tutela e aos trabalhadores?

Hoje o JN veio levantar um pouco mais o véu.

Parece que aquilo que se dizia sobre a "TAP a voar fiado", está expresso na urgência em meter 400 milhões de dinheiro fresco: 265 milhões da operação do ano passado, e o restante agora, com o alarmante cenário da operação do Verão 2011 estar praticamente encerrado. Ou seja, as expectativas de aumentar as facturações estão terminadas (à excepção do Natal e Final de Ano), o que se vai traduzir em prejuízos até ao dia 15 de Dezembro. E atenção aos 400 milhões que podem ser bem à vontade o DOBRO conhecendo-se o historial do gaúcho quanto à "forma de apresentar a informação".

Outro, ponto de alguma "satisfação", foi o "Relatório e contas 2010".

Algo nos dizia que o buraco já ia em 2.3 mM€ e acertou-se outra na "mouche". Esta, nem o João Duque.  :D

De uma reflexão feita ontem com o RR sobre os A380 vs. os improváveis A350, matéria que já começaste a aflorar, e que deverá confrontar o gaúcho consigo próprio:

— quando uma companhia aérea se propõe adquirir qualquer modelo de avião tem obrigatoriamente uma estratégia comercial pré-definida, estudada e validada. Não se brincam com milhões.

Os A380 foram desenhados para a Air France e Lufthansa, assim como os A319 foram desenhados para a easyJet, cujo "modelo" foi rapidamente adoptado pelas companhias aéreas de bandeira (mesmo as mais improváveis como a Air Canada), em que baseiam todo o seu tráfego interno nesse tipo de avião.

Neste negócio da aviação comercial a "versatilidade" é algo de critico para o negócio. Vê por exemplo o caso da utilização dos Boeing 727 da UPS, que em apenas 3 horas passavam de aviões de carga para aviões Lowcost competindo, por exemplo, com a Southwest Airlines.

Como se disse, não basta pertencer a um grupo (ex. Star Aliance) para se estar descansado, pois neste mercado tudo muda do dia para a noite, como foi a ligação da Ibéria com a BA. Alguém estava à espera dessa ligação há 2 anos? Para mais com as rivalidades (históricas) entre Espanha e o UK.

Cada vez mais acredito que esta ligação teve entre outros aspectos a ver com a própria operação com os A 380. A opção da Ibéria foi para não ter de os comprar (nem os A350), e a da BA foi ter de os rentabilizar. O A380 é neste momento o avião de maior economia de operação; o custo por lugar é o mais baixo, sendo ainda o avião "mais ecológico".

Nesta reflexão, cai por exemplo a ideia da "compra" dos A350 por parte da TAP (quando se assiste ao que acima se escreveu.) E coloca-se necessariamente a seguinte questão: terá dado a TAP ordens para aquisição dos A350 apenas para que os mesmos contribuam para esgotar a capacidade da Portela, e assim, justificar a construção de um novo aeroporto?

Fica o pressuposto para ser validado nos próximos tempos, e é claro para se "desmontar" os esquemas do amigo "Gaúcho". Na volta, a TAP é que está mais do que certa, sendo a única companhia aéra a comprar os A350,..., nalguma coisa mais o gaúcho terá de ser original.  :D

Prepare-se pois a tutela para suportar umas perdas, e é claro, ver a "privatização" da TAP por um canudo. 2,3 mM€ é muito dinheiro por um mercado que não vale isso na sua totalidade, como provaram os árabes que "fugiram" de semelhante proposta.

No entanto, a telenovela está em grande do outro lado do Atlântico, fazendo acreditar os seus muchachos (do gaúcho) de que deste lado a malta não passa de um monte de labregos que beijam o chão onde por onde gaúcho passa.

Que a Força esteja contigo.  ;D

Rui

segunda-feira, agosto 08, 2011

Banco de Portugal, cadé o ouro?

Primeiro, precisamos de saber se o nosso ouro está em boas mãos, depois temos que proteger as reservas públicas e privadas deste metal precioso

Goldman Sachs Group Inc. (GS) raised its futures forecasts to $1,645 an ounce, $1,730 an ounce and $1,860 an ounce on a three- month, six-month and 12-month horizon as it expects real U.S. interest rates to stay lower for longer. The previous estimates were $1,565, $1,635 and $1,730 an ounce, it said in a report. “We continue to recommend long-trading positions in gold,” the bank said. (Bloomberg, 8-8-2011)

Arrecadas em filigrana de ouro. Foto: APTL


Compras de ouro para Dezembro realizadas hoje, depois do tombo na credibilidade financeira dos EUA, pagaram-se a $1,718.20 a onça. A Goldman Sachs prevê que o preço deste metal precioso chegue muito perto do 1900 dólares a onça (60,6 USD/grama) daqui a um ano. E a subir mais depresssa do que o ouro está a prata!

O BCP vende barras de ouro de 10 gramas, com pureza máxima (999), mas só a clientes, e a Caixa também vende, mas desconheço os pormenores.

Ao contrário das jóias, as barras e as moedas (libras inglesas, águias americanas, pandas chineses, krugers sul-africanos, violinos austríacos, etc.) são imediatamente convertíveis em dinheiro.

Comprar ouro virtual, i.e. investir em ouro meramente electrónico, mas pago por transferências bancárias de dinheiro efectivo, é um risco especulativo sujeito a todos os perigos inerentes.

Comprar ouro mesmo, e guardá-lo, é investir na segurança em tempos de grande volatilidade, como os de hoje, e que não vão sossegar nos próximos anos!

ATENÇÃO: o ouro e a prata das jóias portuguesas são em geral mais puros que os empregues por outros países na confecção de objectos decorativos e simbólicos. O nosso ouro e a nossa prata têm, no mínimo, 80% de metal precioso puro, e em média, 83%. Assim quando comprar/vender prata e/ou ouro tenha estes números presentes... para não ser enganado! E não se esqueça também de observar sempre à lupa os contrastes das peças em ouro e prata (ver informação importante da INCM).

E ainda: o Banco de Portugal tem que se por rapidamente em campo para supervisionar o negócio dos metais preciosos no nosso país, protegendo-os dos "raids" em curso para a sua captura e exportação para os países credores. As máfias do ouro, da prata e do cobre proliferam, e precisamos por isso de uma estreita colaboração entre o Banco de Portugal, a indústria e comércio portugueses de metais preciosos, e a polícia, para proteger activos realmente preciosos!

CONSULTAR:

Gráfico interactivo das cotações do ouro e prata no Bullion Vault

Cotações e outras informações no Goldprice


NOTAS E RECOMENDAÇÕES SOBRE COMPRA/VENDA DE METAIS PRECIOSOS (10-08-2011)
  1. Em primeiro lugar é preciso ter em conta que os metais preciosos podem ser vendidos na forma quase pura, normalmente em barras (com um grau de pureza de 999 milésimas), e como parte integrante de objectos decorativos ou de outro uso trabalhados pelo homem: moedas, jóias e componentes de máquinas e aparelhos (da electrónica às protecções para motores e sistema de escape de um McLaren!)
  2. Enquanto as barras de prata, ouro, platina, etc., valem de acordo com cotação diária dos metais preciosos determinada pelo jogo de mercado, i.e. em função da procura e da oferta, já as aplicações de metais preciosos dependem de outros factores, como sejam, o trabalho e a raridade. Uma filigrana de Gondomar, ou uma caixa de rapé valem não apenas pelo metal que contêm, mas também, e às vezes sobretudo, pelo trabalho acumulado nessas mesmas peças: o trabalho do artista, o trabalho social que lhe conferiu um determinado valor cultural subjectivo, o trabalho da sua conservação, da sua manutenção, a apreciação historiográfica, etc. Idem para as moedas, onde pesam sobretudo os catálogos de Numismática e o mercado muito especial dos coleccionadores de moedas.
  3. Logo comprar/vender barras de ouro ou prata e comprar/vender jóias, ou peças de um serviço de jantar, são operações muito diversas. As aplicações em ouro, prata e platina, sobretudo se em ouro e a prata portugueses, contêm no mínimo 80% de metal precioso (podendo, no caso da prata, chegar às 999 milésimas de pureza.)
  4. Assim recomendo que 1) para moedas, se comece por consultar a Imprensa Nacional Casa da Moeda e este sítio na Net: Moedas Portugal; 2) para objectos doméstico e jóias, se consultem ourivesarias certificadas para avaliação do valor real dos mesmos; 3) para a venda da chamada "sucata" de prata e ouro, isto é objectos em ouro e prata usados e sem valor artístico assinalável (nomeadamente objectos soltos e danificados pelo uso) há pelos menos dois concorrentes no mercado nacional muito activos: Valores e Ouroinvest. Enquanto a primeira é de evitar absolutamente no caso de venda de objectos em prata, pois subvalorizam escandalosamente o metal em mais de 85%!, já a Ouroinvest desvaloriza em cerca 56,5%. O motivo porque a sucata de prata é tão desvalorizada prende-se com os custos associados à logística da transacção (alugueres de espaço, contratações, gastos de energia e telecomunicações, etc.), ao transporte da sucata e aos custos da sua ulterior fundição. Dada a valorização muito superior do ouro, o preço pago pelo mesmo contido nos objectos colocados à venda fora do circuito do mercado das jóias e moedas, é bem mais próximo do valor das cotações oficiais do ouro.
  5. Para a compra de ouro, a opção das barras é mais clara: vale sempre a cotação diária no mercado global. As moedas, pelo contrário, além de conterem menos ouro por volume/peso, estão sujeitas ao jogo de mercado distinto da Numismática, e às jogadas, por vezes traiçoeiras, dos bancos emissores, que frequentemente inundam os mercados com moedas, destruindo-lhes o valor de raridade, ou escassez relativa. Ou seja, para os não-coleccionadores de moedas, a opção das barras é mais directa e fiável. No entanto quem conseguir comprar Pandas de ouro e de prata, sem ter que se deslocar à China, fará certamente um bom investimento em metais preciosos, e em peças de colecção cujo valor, se o Dragão do Oriente, vier a ser o que promete, subirá provavelmente muito para além do valor dos respectivos pesos em ouro e prata ;)
  6. Para compra de barras de ouro já não recomendo os bancos, pois cobram comissões demasiado altas. É preferível recorrer a boas ourivesarias, casas de moedas, ou à Ouroinvest, comparando as condições e as comissões oferecidas pelas diversas alternativas.

sexta-feira, agosto 05, 2011

Spin off TAP, damn it!

Mais de 80% do movimento de passageiros nos aeroportos portugueses dirige-se ou provém da Europa. Menos de 20%, portanto, vai para ou vem do resto do mundo.

As companhias de baixo custo a operar em Portugal continuam a aproximar-se da TAP, que, no segundo trimestre deste ano, apenas conseguiu uma fatia de 37% dos passageiros nos principais aeroportos portugueses, contra os 44% dos primeiros três meses do ano, segundo cálculos do i tendo por base os dados estatísticos do Instituto Nacional de Aviação Civil (INAC), agora divulgados no site deste regulador. (i online)

Proposta de Rui Rodrigues. A Portela tem condições para viver até 2030, se houver coragem para explicar às chefias militares que têm que se deixar de corporativismos injustificáveis, e desamparar a loja.

Falar, pois, de um hub na Portela, não passa de uma fantasia retórica do gaúcho que a dirige e dos empenhados lobistas do novo embuste aeroportuário da Ota em Alcochete. Apenas os passageiros brasileiros fazem hub na Portela, mais ninguém! Ora, como a UE já tem processos contra a TAP por abuso de posição dominante nas ligações Europa-Brasil, o resultado está à vista: o célebre hub brasuca que o gaúcho montou na Portela vai deixar, muito em breve, de o ser!

A TAP, como a Blogosfera tem vindo a defender (desinteressadamente), só tem uma solução não humilhante para a privatização: contratar uma consultora internacional especializada para fazer um spin off da companhia, preservando o seu core business e vendendo o resto da tralha depressa e quanto melhor possível. Só um spin off bem feito poderá manter a TAP em mãos portuguesas. O Estado pode e deve ter uma participação na companhia, na ordem dos 20%, por intermédio da Parpública, ou da Caixa Geral de Depósitos, etc., mas sem Golden Showers, claro! E pode atrair parceiros nacionais fortes, como sejam o sindicato dos pilotos da própria TAP, bancos portugueses e seguradoras que não estejam completamente falidos, etc.

A nova TAP deveria dividir-se em três companhias comerciais distintas (na frota, no tipo de preços, no serviço e no estilo):
  • TAP Europa (uma variante de companhia Low Cost)
  • TAP Atlântica (focada no Brasil, Venezuela, EUA, Canadá)
  • TAP Oriente (voando para o Médio Oriente, Moscovo, Mar Cáspio, Bombaim, Dehli, Bangalore, Singapura, Pequim, Hong Kong, Xangai,...)
Entre os parceiros internacionais estratégicos, uma vez que a Lufthansa já se mostrou desinteressada deste negócio, devem privilegiar-se o Brasil, Angola, China e um país árabe amigo...

NÃO PERCAM TEMPO COM SOLUÇÕES DE MERCEARIA DOMÉSTICA!
ESQUEÇAM A BRISA E OS FIGURÕES DA SLN/ BPN QUE COMPRARAM TERRENOS EM ALCOCHETE!
ABAIXO A CORRUPÇÃO !!!

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COMENTÁRIO

Pela extensão e oportunidade, resolvemos incorporar este comentário no corpo deste post.

Um BIC à TAP!

Há dias os tipos da TAP compraram espaço no DE por forma a passarem a mensagem de que Julho tinha sido um mês fabuloso para a TAP. Na oportunidade comentou-se que, apesar dos números serem um bom indicador, o que interessava era a rentabilidade (por lugar).

No mesmo dia lia-se no Jornal de Negócios que a Air France e a British Airways se queixavam exactamente das quebras de rentabilidade, pois os preços tendem a baixar por efeito de vários factores (meu ponto de vista):

— utilização de aviões de maior capacidade (por exemplo, os A380, por parte dos principais operadores europeus, do médio-oriente e asiáticos;
— gestão mais eficaz da capacidade das aeronaves;
— reajuste dos grupos aeronauticos (sinergias), como são os casos da BE e IB.

Pelo meio ainda estão os programas de fidelização (em desuso), a venda de lugares com a devida e inteligente antecedência (estudo das lowcost) e práticas de gestão atentas aos factores de mercado / concorrenciais (hedging e leasing de peças e consumíveis).

Nesta área de gestão, onde o Gaúcho sempre defendeu os seus créditos, é precisamente onde a TAP tem perdido mais terreno, com a patente erosão dos mercados que se sabe. Já não basta pertencer à StarAliance, aliás, nunca bastou. Se os operadores não fizerem pela vidinha, actuando antecipadamente na defesa das suas quotas de mercado, nada feito. A Lufthansa, por exemplo, está a canibalizar a olhos vistos o mercado da TAP. Basta ver o Fligthradar24 dos voos saídos depois das 22:00 de Frankfurt para África...

Ora o INAC (Instituto Nacional de Aviação Civil), pela notícia do i, está a passar a mensagem à tutela sobre aquilo que já se sabe, ou seja, que a gestão da TAP vale o que vale, e nesta questão dos números, a análise da sua perda de influência face às Low Cost (em Faro, no Porto, no Funchal e em Lisboa) é uma autêntica bomba ao retardador. O gaúcho vai até onde o deixarem, mais ou menos como o Sócrates

Do acima escrito, e do que vem publicado n’ O António Maria e no blog Low Cost Portugal, produziram-se algumas reflexões as quais vieram demostrar que a TAP está sempre que pode disposta a utilizar "truques contabilisticos" por forma a mesclar o verdadeiro cenário: TAP SA (apenas para os LUCROS) e TAP SGPS (para os prejuízos).

Na verdade, se a TAP tem transportado mais passageiros deve-o às LowCost, pois estas obrigaram a companhia de bandeira portuguesa a baixar os preços, para poder voar com os aviões "compostos". Mesmo assim, do meu ponto de vista, a rota da Madeira está por um fio, e se a Rya entra na Portela (é mais do que certo) o cenário ficará desesperado para a TAP.

Será que depois de entregue o BCP (por compensação da bronca do BANIF), é desta que a filha do Edu fica com a esTAPê? Acredito que sim, pois interessam à TAAG as rotas para a Europa. E colocar ao mesmo tempo o "centro de gestão" de uma futura TAP angolana em Portugal, é bom para os negóciso e para a diplomacia, como se atesta no caso do BIC Português! Que a TAP vai ser uma empresa satélite da TAAG também me parece cada dia mais plausivel,..., "UM BIC À TAP" — RMV

A Alemanha tem razão!

Uma Eurásia com a América mais longe?

A Europa não tem outra alternativa se não descolar dos Estados Unidos e das ilhas piratas de sua Majestade Isabel II. Estes dois colossos arruinados, com o Japão, estão a levar o mundo para uma crise económica, financeira, comercial e política sem precedentes desde a II Guerra Mundial. O futuro da Europa chama-se Eurásia. E o aliado estratégico deste sonho por cumprir chama-se, curiosamente, China.

Culture of Life News, de Elaine Meinel Supkis, é uma leitura imprescindível

O colapso das bolsas europeias e americanas veio dar pleno sentido ao anúncio da degradação, anunciada pela agência de notação financeira chinesa Dagong, da capacidade da economia americana responder pelas suas dívidas.
“On August 2, 2011 (EST) the Congress of the United States of America (hereinafter referred to as the US) approved the bill on raising the debt ceiling of the government. Though this decision enables the government to continue the practice of repaying its old debt through raising new debt, it has not changed the general trend that the increase in national debt outpaces the increase in economy and revenue, making this incident a turning point for the US government’s solvency to decline even further. Hence, Dagong decides to downgrade the local and foreign currency credit rating of the US put on the negative watch list on July 14 from A+ to A with a negative outlook.” Dagong.

O panorama gráfico do afundamento e da volatilidade bolsista americanas não poderia ser melhor documentado pelos gráficos reunidos por outro dos meus analistas preferidos, Tyler Durden, do ZeroHedge:

VIX — Chicago Board Options Exchange Market Volatility Index

“The Dow is down more than 500. The S&P is down 60. The VIX surges 35% to 32 the highest since June 2010. Implied correlation surges to the highest since last summer. ES volume surges to the highest since the flash crash. Europe is opening in 12 hours. Margin debt is near record high levels, and mutual funds have record low cash. Liquidations galore. Did we miss anything?”

No entanto, passando os olhos pela imprensa económica em geral (na página online do Jornal de Negócios, nem uma referência), não se fala de algo decisivo para compreender a crise financeira actual, ou seja, a desvalorização competitiva das moedas americana e japonesa. O iene caiu hoje a pique em relação ao dólar, depois dos japoneses terem desencadeado uma venda em massa da sua própria moeda.

A competição para o abismo entre os EEUU e o Japão não pára. Quem terá o pior papel higiénico do mundo? Esta competição negativa tem uma outra face: a destruição suicida das respectivas taxas de juro, com a inevitável inflação escondida debaixo da retórica e da metódica falsificação estatística, pronta a explodir quando menos se esperar. Os Keynesianos de pacotilha e a Esquerda empalhada (entre nós, o PCP, o Bloco e o PS) adoram taxas de juros baixas, por razões de mero oportunismo e populismo barato, sem perceberem que uma tal deriva significa apenas uma expropriação paulatina do valor produzido pelas empresas e um saque criminoso das poupanças pessoais e familiares por parte de uma economia especulativa servida por uma nomenclatura política parasitária, desesperada, que quanto mais esbraceja mais se afunda.

“The Bank of Japan sold more than one trillion yen (£7.7bn) during trading on Thursday, according to latest estimates, in an effort to drive down its value. It also eased monetary policy by expanding its asset purchasing scheme and offering more cheap loans to financial firms to encourage them to keep lending”— Guardian.co.uk

Mas como escreve Elaine Meinel Supkis, o jogo japonês do yen carry trade acabou...
“I remember years and years of the US and Japan accusing China of manipulating the currency.  I thought this was very funny back then.  Everyone in the false world of floating fiat currencies are always ‘manipulating’ them!  The US had to desperately negotiate with Germany and Japan with the Bretton Woods deals to ‘fix’ rates that were ‘fair’, ie: would allow the US to export to both losers of WWII.  This DID NOT WORK AT ALL.

Of course, Japan discovered that holding US dollars in an inert FOREX fund did the trick!  Since then, all other nations wishing to manipulate the dollar to make it artificially strong do the exact same thing. It is now universal meaning, it can’t work so hot anymore since the Big Players must save more and more.  Once China surpassed Japan in its FOREX holding dollars, Japan’s ability to manipulate the dollar vanished.  Japan just can’t compete in this game with China. China won.  Hands down.  Big time.  And 15 years ahead of schedule of the 50 Year Plan, too!

Nonetheless, Japan has decided to double down: making government debt not just 200% of GDP, now it will be 400% of GDP if this is necessary to restart the export machine run by Toyota and gang.” — As Nations Race To Weaken Currencies, ZIRP Creates More ‘Money’.

Temos pois países que para manterem o consumo baixam os juros, emitem moeda e dívida pública de forma cada vez mais temerária, para não dizer suicida (EUA, Reino Unido), e temos um país (Japão) que, numa lógica igualmente suicida, baixa sistematicamente o valor da sua moeda e as taxas de juros do banco central como forma de manter a máquina das exportações a funcionar, seja pela criação de dinheiro a custo zero, reservado embora exclusivamente às elites financeiras do país, seja pela exportação de capital a custo zero para o estrangeiro, onde os rendimentos de capital são muito mais elevados, desencadeando por esta via não apenas o necessário alimento à deslocalização das suas empresas, mas também a destruição da concorrência industrial nos países onde desembarcam, e a corrupção daqueles que trocam o silêncio pelo aproveitamento especulativo monumental deste estratagema fraudulento (e contra todas as normas do comércio justo internacional.)

“There is a pernicious agenda at work in setting interest rates near zero while boosting money supply and deficit spending to create inflation. By robbing savers of any return on their savings and sparking “sustainable, orderly” inflation of around 4%, central banks are in effect transferring 4% from the owners of cash to reduce the debt of the central bank/State by this same amount every year. In a decade of this monetary scheme, savers’ wealth will be reduced by roughly 50% while the debt created by the central bank/State will decline by 50%.” — An Unconventional Guide to Investing in Troubled Times by Charles Hugh Smith (2011)

As pressões sobre o BCE para embaratecer o euro, com o pretexto falacioso de que uma tal política aumentará as exportações europeias, esquecendo que o maior exportador mundial é a União Europeia, e que depois do segundo lugar, ocupado pela China, vem a forte Alemanha, e que boa parte das exportações ocorrem dentro da Europa, não passa da demagogia de quem não faz o trabalho de casa, preguiça e vive do populismo partidário que grassa como um cancro por esta Europa fora.

As pressões para levar a União Europeia pelos caminhos suicidas do facilitismo financeiro (Quantitative Easing) servem apenas para manter as empresas protegidas e os gangsters da especulação bolsista no topo da obstrução à resolução da crise sistémica em que estamos metidos. A Europa precisa de entrar num processo radical de adaptação às condições da pós-globalização especulativa, e para isso não pode continuar a alimentar a inércia burocrática e as situações de privilégio absurdas que ainda persistem entre as elites europeias e entre as corrompidas burocracias partidárias e corporações — empresariais, profissionais e sindicais.

O primeiro passo desta metamorfose necessária é começar por reconhecer que o mundo mudou e que vai mudar ainda mais dramaticamente nas próximas décadas, evitando cair nos lugares comuns do maniqueísmo. Há causas objectivas da actual crise sistémica, cujo factores subjectivos, embora importantes, e frequentemente escandalosos, não são os mais decisivos. Daí a necessidade de caminharmos para a criação rápida de novos quadros analíticos e de diálogo social que permitam perceber o que nos trouxe até este impasse, abrindo depois caminho para correcções e soluções realmente adequadas a um mundo mais pequeno embora com gente a mais, envelhecido e à beira de uma ruptura histórica do padrão de recursos a que, pelo menos uma parte da humanidade, se habituou ao longo dos últimos duzentos anos.

terça-feira, agosto 02, 2011

E se as cidades começarem a falir?

A bolha do crédito municipal está prestes a rebentar na América, projectando-se depois como um boomerang até à Europa, sem deixar sequer a China intacta!




The state-appointed receiver overseeing Rhode Island's cash-strapped Central Falls on Monday filed for bankruptcy on the city's behalf in an effort to solve its fiscal crisis. Turnto10.com

Depois da bolha do crédito imobiliário, fracassada entretanto a tentativa inglória de criar uma nova bolha em torno do mercado especulativo dos créditos de Carbono, seguiu-se a incrível bolha das dívidas soberanas que continua a fazer vítimas numa espécie de efeito de dominó longe de ter chegado ao fim. O caso americano, que a chacota em torno dos PIGS camuflou ao longo de meses, está porém à beira do grande estouro — ou de um escancarado, prolongado e doloroso fim. Se o voto que ainda falta para o embuste se erguer uma vez mais, como se de uma flor se tratasse, dos escombros de uma economia arruinada (a americana), não aparecer até às zero horas de amanhã, o furúnculo da dívida global e do buraco negro dos derivados especulativos começará a rebentar e será um grande bang! Se, pelo contrário, republicanos e democratas acabarem a fantochada, como se prevê que acabem — isto é, festejando um acordo podre à nascença— a lenta agonia da globalização prosseguirá o seu curso de ruína e tragédias humanas.

When a Cut is Not a Cut

One might think that the recent drama over the debt ceiling involves one side wanting to increase or maintain spending with the other side wanting to drastically cut spending, but that is far from the truth.  In spite of the rhetoric being thrown around, the real debate is over how much government spending will increase.

No plan under serious consideration cuts spending in the way you and I think about it.  Instead, the "cuts" being discussed are illusory, and are not cuts from current amounts being spent, but cuts in projected spending increases.  This is akin to a family "saving" $100,000 in expenses by deciding not to buy a Lamborghini, and instead getting a fully loaded Mercedes, when really their budget dictates that they need to stick with their perfectly serviceable Honda.  But this is the type of math Washington uses to mask the incriminating truth about their unrepentant plundering of the American people.

The truth is that frightening rhetoric about default and full faith and credit of the United States is being carelessly thrown around to ram through a bigger budget than ever, in spite of stagnant revenues.  If your family's income did not change year over year, would it be wise financial management to accelerate spending so you would feel richer?  That is what our government is doing, with one side merely suggesting a different list of purchases than the other.

in Ron Paul, When a Cut is Not a Cut.

Mas ainda o dominó explosivo das dívidas soberanas vai no adro da globalização impossível, e já a bolha das obrigações municipais americanas (Muni) começou a fazer as suas vítimas. Por cá, como irá ser?

O dinheiro que aí vem é para pagar dívidas, não para contrair mais dívidas. No entanto, continuamos sem descortinar uma atitude diferente por parte das elites e das burocracias agarradas à sangria fiscal dos contribuintes. Como dizia com graça Lídia Jorge, numa entrevista à SIC conduzida por António José Teixeira, vai ser muito difícil desinstalar esta gente.

Algumas, ou mesmo dezenas de cidades portuguesas, vão começar por vender os anéis, isto é, os serviços de saneamento, tratamento de resíduos e as águas; depois venderão o espaço público de estacionamento e o património imobiliário, e privatizarão tudo o que restar — a começar pelas estradas municipais. Quando não houver mais nada de público para alienar, irão aumentar desmesuradamente os impostos e todas as taxas possíveis e imaginárias. As burocracias municipais inventarão ainda portagens onde puderem, e finalmente tentarão sacrificar a sua própria carne às fatias, despedindo centenas, e depois milhares de funcionários e contratados a prazo. Dependendo da reacção das classes médias, que tenderá a ser cada vez melhor organizada, mais cedo, ou mais tarde, as vereações municipais acabarão por pedir a falência das suas cidades, como ultima ratio capaz de levar à suspensão das garantias sociais e jurídicas dos cidadãos, expropriando ainda mais os seus bens, poupanças e direitos constitucionais. Querem melhor caldo para uma revolução, ou para uma guerra civil?

Antes que seja tarde demais (se é que não é já tarde demais) proceda-se racionalmente à reforma autárquica do país. Um país com a população da área metropolitana de Londres não pode ter 308 câmaras municipais!

A minha proposta é simples e racional: comece-se por fundir as autarquias urbanas das duas grandes cidades-região do país: Lisboa e Porto. Chamem-lhe o que for preciso —cidades-região, áreas metropolitanas, comunidades municipais—, mas concentrem os serviços, as cadeias de comando e as representações democráticas, e dêem coerência orgânica democrática a estas novas realidades hoje dilaceradas pela voragem das burocracias partidárias e do caciquismo.

Ao mesmo tempo, diminua-se muito claramente o número de freguesias urbanas e rurais, dando ao mesmo tempo um poder novo às aldeias das zonas demográficas mais deprimidas do país.

Os sinais crescentes de hesitação de Pedro Passos Coelho, certamente pressionado pela canalha de sempre, são muito preocupantes. Deixo-lhe tão só um aviso: a paciência que tivemos para Sócrates esgotar-se-à muito mais rapidamente relativamente ao seu governo. Se continuar a dar sinais de cedência aos instalados, em vez de os desinstalar, a reacção de desilusão, desconforto e indignação será seguramente avassaladora. Se esta democracia se revelar como um paciente intratável, e portanto um cadáver a prazo, outra democracia terá que nascer da sua já visível figura escanzelada. Se os maus hábitos desta democracia forem já uma doença incurável, outra praxis merecerá certamente conhecer a luz do dia e a esperança dos portugueses.

POST SCRIPTUM — parecia que adivinhava! Quando escrevi este post, o balão que a Estradas de Portugal lançou para o ar hoje (3 de Agosto de 2011) ainda estava por encher:
A Estradas de Portugal (EP) tem defendido junto do Governo a introdução de portagens em todos os troços de auto-estrada no País que actualmente não são pagos, solução que aumentaria, em seu entender, a sustentabilidade do modelo de financiamento do sector.

Para a empresa, esta solução devia ser adoptada em todos os troços que estejam classificados como auto-estrada e tenham características de auto-estrada, com duas ou mais vias em cada sentido. Neste perfil encaixam vias como o IC19 e a CRIL, que integram a concessão da Grande Lisboa e têm perfil de auto-estrada, mas sem portagens. Uma possibilidade que a EP se escusou a comentar — in Jornal de Negócios.
Antes de mais é preciso sentar no banco dos réus os piratas do betão e das autoestradas (os promotores das PPPs, e os inventores das SCUTs) Depois é preciso despedir a actual direcção da Estradas de Portugal, começando pela criatura inenarrável que dá pelo nome de Almerindo Marques (actualização: renunciou em 31 de Abril de 2011). Por fim, e prévia a qualquer nova decisão, há que analisar uma a uma, suspender, rever e anular os contratos leoninos celebrados entre um Estado capturado por um Partido Socialista corrupto e a malta do Bloco Central da Corrupção — próprios de uma república das bananas dos anos 60 e 70. O senhor Pedro Passos Coelho faz muito mal em deixar à solta os piratas que levaram o país à bancarrota. Se não acabar vítima deles, acabará vítima da nossa cada vez mais provável indignação.


ÚLTIMA ACTUALIZAÇÃO: 4 Agosto 2011 16:56


sábado, julho 23, 2011

Propaganda EDP

Mexia apostou no dólar, e perdeu!



Exemplo indecoroso de manipulação de massas através da propaganda publicitária. A EDP quer não só o monopólio da energia, mas também da água!

E não se trata de uma empresa pública, mas sim de uma empresa que responde única e exclusivamente aos interesses dos especuladores que nela apostam. Está no entanto na corda Bamba do incumprimento (default), ou seja, da falência — pois tem um passivo acumulado equivalente ao custo de 16 pontes Vasco da Gama. O Plano de Novas Barragens que congeminou com José Sócrates é uma fraude criminosa destinada apenas a aumentar a sua carteira de activos, a fim de conseguir dinheiro para sobreviver (1). Creio, porém, que o seu destino a breve trecho será uma OPA hostil, ou a entrada duma grande empresa na privatização da quota que o Estado vai por à venda (alemã ou francesa, dizem), que a pouco e pouco tomará conta da empresa. Se vai ser assim —e vai— que sentido faz deixar o oligopólio avançar com um Plano de Barragens inútil e assassino dos ecossistemas e do nosso potencial turístico, como bem lembrou há meses o The New York Times, numa reportagem em que alertava para eutrofização das albufeiras do rio Douro como uma ameaça escondida à sustentabilidade futura do turismo na região?



Os jornalistas da nossa indigente imprensa dedicam a sua falta de imaginação e brio ao massacre do “TGV”, um projecto necessário, objecto de compromissos de Estado reiterados e financiados parcialmente pela UE com taxas de juro invejáveis e inacessíveis nos tempos que correm. O futuro estratégico da mobilidade europeia, como consta das mais recentes resoluções de Bruxelas, está na interoperabilidade ferroviária, no transporte marítimo de longa (transoceânico) e curta distância (cabotagem), na aviação Low Cost e no transporte colectivo urbano, suburbano e interurbano. No entanto, os jornalistas da nossa indigente imprensa dedicam a sua falta de imaginação e brio ao massacre do “TGV”, esquecendo sistematicamente que o maior rombo nas nossas contas públicas advém, não do TGV (que nem sequer perturbou ainda, num cêntimo que seja, as nossas péssimas estatísticas), mas das 120 PPP — rodoviárias, hospitalares, hidroeléctricas, e ligadas ao negócio do saneamento e do lixo engendradas pelo Bloco Central. É assim tão difícil perceber esta realidade? Cá estaremos para lembrar este comentário aos órgãos de propaganda em que se transformou a nossa indústria jornalística, quando a linha de bitola europeia entre o Pinhal Novo e o Caia (Évora-Badajoz) inaugurar ;)




UMA CARTA AO MINISTRO DA ECONOMIA (recebido neste blog a 5 de Agosto de 2011)

Caro Prof. Álvaro Santos Pereira,

Tomo a liberdade de lhe enviar pessoalmente esta informação, dado que os canais institucionais não parecem estar a funcionar lá muito bem.

Contrariamente à propaganda da EDP (com cumplicidade das autoridades até à data), o Programa Nacional de Barragens é um verdadeiro desastre para a economia nacional, para o orçamento de Estado, para o desenvolvimento regional e para  ambiente.

Nunca foi publicada qualquer estimativa oficial dos custos reais do programa para os cidadãos e o Estado, mas as concessões das grandes barragens são um buraco financeiro comparável às SCUTS. Pelas nossas estimativas, os 3.600 milhões de euros de investimento inicial vão transformar-se num custo directo, para os consumidores e o Estado (ou seja para os contribuintes) de 15 mil milhões de euros, pelo menos. Cerca de 25 a 30% disto serão transferências do orçamento de Estado, pelo subsídio à reserva de potência, enquanto o resto será repercutido na tarifa ou no défice tarifário.

A isto há que acrescentar os custos indirectos das actividades económicas perdidas, das comunidades e dos recursos naturais destruídos.

O emprego gerado é escasso e limitado no tempo, sendo o custo de cada emprego dez vezes mais caro que investimentos no turismo rural.

As alternativas de poupança energética são dez vezes mais baratas, medidas em investimento por kWh, do que a nova produção nas novas barragens.

Anexo cópia do memorando sobre a matéria dirigido às instituições internacionais.

Ao seu dispor para quaisquer esclarecimentos ou para aprofundar a discusão no domínio da política energética (conforme de resto já solicitei pelas vias oficiais).


Com os melhores cumprimentos,

João Joanaz de Melo
Presidente do GEOTA
Professor de Engenharia do Ambiente,
Universidade Nova de Lisboa

ANEXO: “The Portuguese Dam Program: an economic and environmental disaster” (PDF)

NOTAS
  1. O senhor Mexia já teve que vender por duas vezes este ano, em nome da EDP, participações que esta empresa detinha em congéneres brasileiras. Sabem para quê? Pois para pagar os juros galopantes da sua dívida de 17 mil milhões de euros — ou seja, mais de 600 milhões de euros/ano (ler esta notícia do Jornal de Negócios).

    A pergunta óbvia agora é esta: como vai a EDP pagar o serviço da sua descomunal dívida, em 2012, 2013, 2014, etc.? O truque montado com José Sócrates chama-se Plano Nacional de Barragens com Elevado Potencial Hidroeléctrico — o qual irá custar ao país qualquer coisa como 15 mil milhões de euros! Depois do criminoso buraco das PPPs rodoviárias, esta é a maior burla financeira montada no nosso país para acorrentar o nosso futuro imediato e o futuro dos nossos filhos e netos a uma dívida que deveria enviar directamente para a cadeia os seus fautores. Que diz a Esquerda empalhada sobre isto?

ÚLTIMA HORA!

Suicídio não é opção | Sérgio Figueiredo | Económico, 9-8-2011 (QED: Vende-se a EDP, pois claro!)

Sérgio Figueiredo, presidente do conselho executivo da Fundação EDP (quem diria) reconhece implicitamente que o futuro da EDP é a alienação:
“Hoje não temos alternativa à venda de ativos ao exterior, [...]” “[...] Mas como o suicídio não é uma escolha, o mais provável é ver a esmagadora maioria das empresas nacionais sob controlo de estrangeiros. Acumulamos passivo, libertamos ativos. Não é uma opinião, muito menos um palpite. Também não é novidade.”

quinta-feira, julho 21, 2011

Pobre América!

Caro Nuno Crato, veja isto, e pense bem!



College Conspiracy é um documentário tendencioso da National Inflation Association, mas não deixa de ser um fresco impressionante sobre a agonia de um império mergulhado na espiral auto-destrutiva da ganância e da corrupção — os Estados Unidos. Portugal e a Europa ao pé do que este documentário revela são meninos e meninas de coro.

Portugal precisa de ver e discutir este documentário, sobretudo agora. Vamos ter que pagar as nossas colossais dívidas! Para o podermos fazer teremos inevitavelmente que diminuir o tamanho da despesa pública e aliviar a sociedade da presença excessiva, burocrática e tutelar do Estado no tecido intersticial das nossas vidas.

Mas para caminharmos rapidamente para um Estado económico, eficiente, estratégico, mas não intrusivo, nem paternalista, precisaremos de diminuir a despesa em três áreas cruciais: a segurança social, a saúde e a educação :(

Claro que se deve privatizar a RTP quanto antes, pois não faz qualquer sentido termos hoje uma televisão pública. Claro que temos que parar imediatamente o maior número de PPP que for possível, sem permitir ao mesmo tempo que o país se veja forçado a pagar indemnizações criminosas. Claro que temos que deixar de financiar com os nossos impostos fundações que, como o próprio nome indica, só fazem sentido se tiverem fundos próprios. Claro que deveríamos engavetar uma dúzia e meia de piratas especialmente responsáveis pela bancarrota do país.

Mas nada disto, a médio e longo prazo, permitirá restaurar as finanças públicas actuais na direcção da sua sustentabilidade se, ao mesmo tempo, não conseguirmos imaginar um modo muito mais barato, transparente e eficaz, de cuidar das pessoas na doença e na velhice; de evoluirmos para uma medicina mais preventiva e menos enfeudada ao diagnóstico caro, às intervenções cirúrgicas por tudo e por nada, e à intoxicação farmacológica; e de reformar de cima abaixo os sistemas de aprendizagem.

A Europa não deve perder o estado social, mas para o salvar terá que agir depressa, bem, e com a necessária firmeza. É preciso cortar pelo menos 30% nos orçamentos da segurança social, saúde e educação até ao fim desta legislatura! Como fazer semelhante cirurgia sem matar o doente, é o grande e irrecusável desafio do actual governo. Desejo aos novos ministros as maiores felicidades — e já agora faço-lhes uma sugestão: criem três campos experimentais dedicados ao futuro do estado social nos capítulos da segurança social, da saúde e da educação. E convoquem para tal os melhores investigadores europeus da especialidade.

O maior desperdício das vossas breves passagens pela governação ao mais alto nível será perderem demasiado tempo a falar aos deputados. São estes que têm que dar muitas e muitas explicações ao país, e não quem acaba de chegar com vontade de recuperar o país do pântano para onde o atiraram.

quarta-feira, julho 20, 2011

Filigranas de Portugal

 O euro, ou o ouro!

Viana, noivas de ouro (foto:?)

Depois de ultrapassar os 1600 dólares a onça, o ouro e os metais preciosos em geral, com um destaque muito especial para a prata, prometem não parar tão cedo a sua escalada contra as moedas virtuais do Ocidente. A onça de ouro poderá chegar aos 2000 USD já no Outono, se a crise das dívidas soberanas americana e europeia continuarem à deriva e as tensões militares no Golfo Pérsico derem origem a um ataque israelita ao Irão (1). Há mesmo quem aposte numa subida deste metal até aos 5000 USD, como uma das respostas possíveis à próxima queda abrupta da moeda americana, a qual se viria a traduzir numa nova corrida mundial em direcção aos metais preciosos, estimulada por vários países, com a China, a Índia e a Suíça, no pelotão da frente.

Seja como for, este não é o momento, nem de vender o ouro soberano português, nem de o hipotecar à dívida pública criada na sequência de uma orgia nos mercados financeiros e de uma política deliberada de crescimento pela via do endividamento galopante das pessoas, das empresas e dos governos. Portugal talvez tenha sido pioneiro em matéria de banca anarquista (Alves dos Reis e Dona Branca), mas não fomos nós que impusemos ao mundo a desregulamentação dos mercados financeiros, nem a banca piramidal. Não atirem pois sobre nós, como se fossemos os únicos patinhos feios da feira!

Apesar da gravidade da situação, alguns factores poderão de algum modo facilitar uma negociação mais suave das condições impostas pelos credores ao devedor Portugal:
  1. Os depósitos a prazo dos portugueses representam já mais de 120 mil milhões de euros (Economia e Finanças, 20/05/2011);
  2. Uma boa parte da nossa liquidez anda por fora, nessa forma tradicional de exportação chamada emigração (seria interessante calcular que parte desta poupança entra no país sob a forma de consumo);
  3. As reservas de ouro do Banco de Portugal (382,5 toneladas), a que haveria que somar as reservas privadas do mesmo metal, para termos uma ideia mais próxima da realidade em matéria de existências totais, apesar da sangria provocada pela democracia populista que temos, são ainda muito importantes (2), valendo hoje qualquer coisa como 13,8 mil milhões de euros. Destas reservas 45% estão guardadas nos cofres do Banco de Portugal. Falta saber onde estão os restantes 55%?! Em Fort Knox? O secretismo de Estado nesta matéria não faz qualquer sentido.
  4. A dívida pública portuguesa, que já anda acima dos 177 mil milhões de euros, supera em mais de 12,8x o valor das reservas de ouro, e ultrapassa mesmo, em mais de 43 mil milhões, o valor conjunto dos depósitos a prazo e das reservas de ouro.

As reservas de ouro declaradas pelos bancos de todo o mundo são da ordem das trinta mil toneladas e valiam no pico da valorização, a dezoito deste mês, cerca de 1,1 bilião de euros. A dívida pública mundial, por sua vez, é da ordem dos 28 biliões de euros, para um PIB mundial na ordem dos 44,4 biliões de euros — ou seja, a dívida pública mundial está ligeiramente acima dos 60% recomendados pelo Pacto de Estabilidade do Euro.

Como se percebe, a nossa dívida pública é mesmo insustentável, apesar de as reservas de ouro corresponderem a uma taxa de cobertura da dívida pública duas vezes superior à taxa de cobertura da dívida pública mundial pelas correspondentes reservas de ouro.

Estima-se que todo o ouro à face da Terra não irá além das 140 mil toneladas. Se de todo este ouro, 120 mil toneladas fossem convertidas em reservas, o seu valor seria hoje da ordem dos 4,3 biliões de euros. Ou seja, seria preciso multiplicar por quatro as actuais reservas mundiais de ouro, e depois multiplicar por sete o actual preço deste metal, para que as reservas cobrissem integralmente a actual dívida pública mundial!

Mantendo as existentes reservas oficiais de ouro nas 30 mil toneladas, seria pois necessário multiplicar por vinte e oito o valor do metal precioso para que as actuais reservas cobrissem a dívida pública mundial. Numa tal situação hipotética, as reservas de ouro do Banco de Portugal passariam a valer 386,6 mil milhões de euros, mais do dobro da actual dívida pública portuguesa.

O raciocínio vale tão só para percebermos que, perante a crise profunda que levará a economia ocidental a uma pausa no crescimento até 2020-2025, e ao pagamento doloroso das dívidas acumuladas, o regresso ao padrão-ouro é bem mais plausível do que alguns poderiam suspeitar. Daí que, para além da correcção drástica dos nossos níveis e estilos de endividamento, público e privado, a defesa das nossas reservas de ouro, assim como a defesa intransigente da poupança privada (traduzida no volume muito significativo dos depósitos a prazo existentes), são imperativos patrióticos irrecusáveis que nenhum governo poderá prejudicar, sob pena de levar este país a uma convulsão social sem precedentes.

Frankfurt e Bruxelas que se deixem pois de sonhos húmidos relativamente a dois dos activos portugueses de que não abrimos mão: as nossas filigranas de ouro, e os nossos depósitos a prazo!


REFERÊNCIAS

July 8, 2011
Swiss Parliament to discuss gold franc
Right-wing party seeks way back to gold standard

ZURICH (MarketWatch) — The Swiss Parliament is expected later this year to discuss the creation of a gold franc — a parallel currency to the official Swiss franc, with the fringe initiative likely triggering a broader debate about the role of the precious metal in the Alpine nation.

The initiative is part of “Healthy Currency,” a campaign sponsored by politicians from the right-wing Swiss People’s Party (SVP) — the country’s biggest — that is seeking to capitalize on popular fears about global financial turmoil and inflation to reverse the government’s current policy on gold.

“I can imagine that this will spark some sort of debate about gold and there may be some pressure to accept the parallel currency,” said Dr. Gebhard Kirchgaessner, an economics professor at St. Gallen University. “But it won’t have any real effect on the economy. It seems incredible to imagine that there are people out there willing to buy millions of these things.”

Switzerland, which in 2000 became one of the last countries to decouple its currency from gold, is not the only place to contemplate a change in the precious metal’s role amid controversy over government involvement in the economy. In March, Utah became the first state in the U.S. to legalize gold and silver coins as currency, while similar legislation was considered in Montana, Missouri, Colorado, Idaho and Indiana.

“I want Swiss people to have the freedom to choose a completely different currency,” said Thomas Jacob, the man behind the gold franc concept. ”Today’s monetary system is all backed by debt — all backed by nothing — and I want people to realize this.”

A good part of the enthusiasm for gold, which provokes strong emotion among many who invest in it, has to do with its price: the yellow metal has more than quadrupled during the last decade and now stands at more than $1,500 per ounce.

6 de Junho 2011
Reservas de ouro ameaçadas

(O ANTÓNIO MARIA) — Elisa Ferreira (PS) e Nuno Melo (CDS), membros efectivos da comissão do Parlamento Europeu ECON (Economic and Monetary Affairs), votaram no passado dia 24 de Maio um relatório, aprovado por unanimidade, a favor do uso das reservas de ouro dos países europeus como colateral do endividamento soberano. Este relatório será levado ao Parlamento Europeu no dia 30 de Junho de 2012 [corrigido] para discussão e aprovação.

10 de maio de 2011
Resgate: Alemães sugerem venda de reservas de ouro

(Expresso) Dois políticos alemães de quadrantes diferentes exigiram que no programa de resgate a Portugal se incluísse a venda das reservas de ouro do Banco de Portugal. As opiniões dividem-se entre economistas portugueses

29 de Maio de 2009
O ouro do Salazar…
por Henrique Neto

Em 1974, os cofres do Banco de Portugal (BdP) estavam a “abarrotar” de reservas de ouro, mais concretamente 865.936 toneladas que o Estado Novo “amealhou” a partir da 2.º Grande Guerra. A partir dessa altura, assistiu-se a uma verdadeira sangria…

De facto, desde 1974 que as reservas de ouro têm vindo a diminuir…Só entre 2002 e 2006, a instituição liderada por Vítor Constâncio vendeu 224,1 toneladas deste metal, reduzindo significativamente o volume de ouro detido.

Tal situação deveu-se à adesão em 1999, por parte do BdP, ao acordo («Acordo dos Bancos Centrais sobre o ouro»), em que participavam outros bancos centrais europeus, para a adopção de uma política de diversificação das reservas externas. Os “ganhos” realizados com essas vendas são transferidos para uma reserva especial do BdP que faz parte integrante dos capitais próprios do banco.
Este acordo foi revisto em 2005 e estipulava que nesse período as vendas anuais nunca poderiam exceder as 400 toneladas e as vendas totais nunca deviam exceder as duas mil toneladas.

Em 2006, Portugal já tinha “cerca” de 382.540 toneladas deste metal precioso, conforme comunicado emitido pelo BdP em 2007.

Actualmente “restam” pouco mais de 300 toneladas…do chamado "ouro de Salazar"! E as perspectivas não são animadoras, nos tempos mais próximos, pois a “tentação” de venda, sob a capa de diversificação das reservas externas, é enorme…

Entretanto, na semana passada, tivemos “conhecimento” que a China tem estado a comprar ouro nos últimos 10 anos… possuindo actualmente a maior reserva de ouro do Mundo!

NOTAS
  1. “CVN 77 G.H.W. Bush Enters Persian Gulf As CIA Veteran Robert Baer Predicts September Israel-Iran War” . 07/17/2011 Zero Hedge.
  2. As reservas de ouro do Banco de Portugal têm vindo a ser desbaratadas desde o início do actual regime democrático. Em 1971, ainda eram de 818,3 toneladas (ou seriam 865?); em 2001, baixaram para 606 toneladas; e em Março de 2009, já só somavam de 382,5 toneladas.

domingo, julho 17, 2011

Privatizar a RTP, já!

Media Capital e Impresa em pânico com privatização da RTP

Manuela Moura Guedes, um furacão a que não estávamos habituados.

O Expresso reafirmou este Sábado (LINK) a sua história sobre a investigação a Bernardo Bairrão supostamente realizada pela pouco Secreta portuguesa. Bernardo Bairrão era administrador da Média Capital, o grupo que detém a TVI, onde Miguel Pais do Amaral possui 10% do capital (1) e a Prisa (dona do El País) tem a maioria (84,69%), sendo que também a Caixa de Aforros de Vigo, Ourense e Pontevedra (Nova Caixa Galicia) detém 5,05% do grupo.

Bernardo Bairrão era pois administrador de uma empresa cujo comando pertence a um dos mais poderosos e políticos grupos de comunicação espanhol, com origens que remontam à era de Franco, mas cujo alinhamento pelo PSOE é a matriz genética e estratégica desde o primeiro dia em que o El País apareceu nas bancas. Bernardo Bairrão preparava-se pois para ser secretário de Estado da administração interna do actual governo português. O melindre, mais do que óbvio, é escandaloso!

Na qualidade de administrador da Media Capital, Bernardo Bairrão despediu Manuela Moura Guedes nas vésperas das eleições legislativas de 2009, para proteger o primeiro ministro (José Sócrates) que tentara controlar a TVI através de uma entrada da PT na Media Capital e que queria, por outro lado, numa espécie de dois em um, ajudar o El País e Zapatero. O canal de televisão português com maior audiência deixaria assim de ter vozes inconvenientes e evoluiria rapidamente para uma espécie de vaquinha ideológica dos socialistas ibéricos.

Um dos homens que concretizara esta estratégia (ainda que parcialmente, pois a Prisa acabou por não precisar de vender a Média Capital) foi Bernardo Bairrão, o mesmo que iria agora entrar no âmago do governo de Passos Coelho. Menos mal que Manuela Moura Guedes enviou um SMS ao primeiro ministro avisando-o da asneira crassa em curso.

É, porém, preciso regressar ao tempo em que o grupo Prisa pensou vender a Media Capital para realizar receitas urgentes destinadas a resolver um gravíssimo problema de incumprimento potencial das suas obrigações financeiras, para percebermos a outra dimensão deste caso, e sobretudo do empenho extraordinário do Expresso e da SIC (i.e. do cada vez mais frágil grupo Impresa, de Pinto Balsemão) em fazer do não-caso Bernardo Bairrão uma arma de arremesso contra o actual governo.

A Ongoing, que hoje se posiciona claramente para entrar na privatização da RTP, manifestou em 2009 a intenção de tomar posições accionistas activas (i.e. com capacidade de controlo e gestão) tanto no grupo Impresa (onde tem aliás uma participação histórica), como na Media Capital. A Impresa exibia já uma curva declinante aparentemente sem regresso, e o grupo Prisa tinha sido mais ou menos forçado a colocar à venda a Media Capital como forma de arrecadar receitas necessárias a por em dia o seu desequilibrado balanço. Quis o destino que nenhum dos grupo de média fosse parar às mãos da Ongoing e das do seu novo estratega para a área das indústrias de comunicação e conteúdos, José Eduardo Moniz.

Com o acordo da Troika ficou entretanto decidida a privatização da RTP — um monumental centro de custos (2), sede de mordomias sem fim e gestão aventureira dos escassos recursos fiscais existentes. No actual estado da tecnologia, a existência de televisões públicas não tem qualquer justificação, e a sua subsistência apenas revela a pulsão paternalista e o desejo de manipulação de massas que o poder partidário e o poder político conservam como uma espécie de direito natural. Basta pensar no trauma que à época foi a privatização do venerável Diário de Notícias para percebermos rapidamente que o caso da RTP é exactamente da mesma natureza: uma vez privatizada, ninguém mais pensará nisso, e o país deixará de carregar ao lombo um cancro despesista.

Os arquivos da RTP devem juntar-se à Cinemateca, e ambos os arquivos devem ser integrados na Biblioteca Nacional, formando um novo e único organismo de conservação e disponibilização pública de documentos. É assim que se poupa e ganha eficácia, transparência e independência democráticas.

Desde que a privatização da RTP foi anunciada (e não seria sério privatizar apenas um canal; é preciso mesmo privatizar toda a empresa), tanto Pinto Balsemão, como os espanhóis da Prisa, decidiram agitar as águas mediáticas, alertando para a ameaça que um novo canal privado de televisão colocaria à sobrevivência da SIC e da TVI. Ou seja, um canal público que é simultaneamente um buraco financeiro e uma empresa incompetente, nomeadamente na criação de audiências e na captação de receitas publicitárias, faz afinal bem à SIC e à TVI. Pois é, mas faz mal, aliás muito mal, ao bolso dos portugueses!

Bernardo Bairrão manifestou-se publicamente contra a privatização da RTP, em nome dos interesses da Prisa. Colocar este personagem, depois de semelhante declaração, na administração interna do país, ainda por cima com o cargo de secretário de Estado, seria como meter uma raposa dentro dum galinheiro e pedir-lhe que tomasse conta das galinhas! Elementar, não é?

Finalmente, toda a gente sabe nos "bas-fonds" da comunicação social portuguesa, que uma RTP privada, eventualmente controlada por uma aliança entre a Ongoing e a TV Globo, dirigida por José Eduardo Moniz, levar-nos-ia não só à segunda grande revolução na indústria mediática portuguesa, como acabaria por dar lugar à cooptação de uma das duas concorrentes, a Media Capital ou a Impresa, pela nova RTP.

Esta é a realidade que a indigente e manipulada imprensa que temos não desvenda, preferindo usar os canais de comunicação de massas à sua disposição para arquitectar uma guerra estúpida e injusta contra o actual governo. Espero bem que estes novos fariseus falhem o seu encapotado objectivo.

PS: A Prisa não voltou a receber no seu regaço Bernardo Bairrão, como seria normal. Moral da história: para evitar problemas com o novo ciclo político português, e com o que se aproxima em Espanha, o melhor mesmo é colocar uma catalã no lugar outrora ocupado por Bairrão. Há que por as barbas de molho, como se diria em Espanha: efectivamente!

NOTAS
  1. Segundo o Jornal de Negócios de 19-07-2011, Pais do Amaral vai comprar mais 20% da Media Capital. Daí, creio, a sua oposição à privatização da RTP. Resta perguntar se a oposição do CDS é um tributo de Paulo Portas ao seu antigo patrão.
  2. A  RTP, mesmo depois de por lá ter assado o famoso Almerindo Marques, tem mais funcionários do que a TVI e a SIC juntas, um passivo que daria para comprar duas pontes Vasco da Gama, e recebe mais dinheiro do Estado do que de publicidade. Consegue aliás a proeza de estar apenas a 13% do conjunto das indemnizações compensatórias pagas pelo Estado ao sector de transportes (ver este gráfico, relativo às contas de 2010, publicado pelo blogue Aventar.)

LINKS

Prisa vende posição na Media Capital abaixo do preço justo. Jornal de Negócios - 30 Setembro 2009 | 09:44
PRISA vende el 35% de Media Capital y el 25% de Santillana por 400 millones. EL PAÍS - Madrid - 28/09/2009
Prisa vende 30% da Media Capital à Ongoing (act.2). Jornal de Negócios - 28 Setembro 2009 | 19:58
Ongoing interessada em ter posições de "controlo partilhado".  Público - 02.07.2009 - 15:49 (Por Lusa)

ÚLTIMA ACTUALIZAÇÃO: 19 Julho 2011


sábado, julho 16, 2011

Governar com lucidez

É outro estilo, e bem precisávamos dum novo estilo!



Antes de mais o estilo: em vez do espectáculo fellinesco de ministros a fingir que fogem dos jornalistas, o governo de Passos Coelho parece ter adoptado um novo figurino no contacto com a imprensa. Tal como em qualquer democracia civilizada, há um tempo para tudo. Os governantes, por exemplo, só devem falar com a comunicação em cenários previamente montados, com agenda própria, jornalistas e fotógrafos acreditados e uma clara disciplina de perguntas e respostas. Uma vez por dia, de preferência antes do almoço, o primeiro ministro deve comunicar com a imprensa, transmitir os pontos altos da sua agenda e deixar os recados que entender ao país e aos seus diversos agentes sociais, políticos e culturais. Os ministros, por sua vez, devem deixar-se de jogos de sombras e passar a comunicar mensalmente com a mesma comunicação social, usando rituais semelhantes, previsíveis e disciplinados. A propensão televisiva dos governantes deve também ser evitada, ou melhor dito, deve servir estritamente os objectivos de comunicação e transparência do governo, e não as fantasias da propaganda arquitectada pelos nossas agências de mercadotecnia. Por fim, os debates quinzenais na Assembleia da República devem deixar de ser a feira de vaidades do costume e o gasto inútil de tempo que invariavelmente causam, para obedecerem também ao princípio da clareza, objectividade, eficácia e economia no uso do tempo precioso de todos nós. As intervenções sucintas, sem deixarem de ser elegantes e cordiais, com que os diversos membros do actual governo têm brindado o país e a velha classe política (que anda não recuperou da surpresa), são um bom augúrio.

Mas vamos ao grão da conferência de imprensa de Vítor Gaspar (1).

Até agora temos reparado na ansiedade que vem percorrendo os diversos grupos privilegiados que temem, por um lado, a inevitável austeridade, e por outro, as necessárias correcções por que este regime terá que passar ao longo desta legislatura, sob pena de abrirmos caminho para um novo regime autoritário (2). Os lóbis agitam-se como bandos de moscas encadeadas à volta do poder, pressionando-o a definir-se rapidamente, como se temessem —e temem— a fundamentação das decisões drásticas que terão que ser tomadas, sob pena de as corporações que deixaram este país cair no buraco em que está, prosseguirem alegremente as suas actividades deletérias.

Portugal é hoje um brinquedo escangalhado. E escangalhado por um regime democrático ainda mal assumido, populista e irresponsável, informal, sem carácter, corporativo de uma ponta à outra, e onde proliferam descaradamente a pequena e a grande corrupção. Despido do seu império colonial, tendo desbaratado a sua própria capacidade de atracção, já não digo do investimento estrangeiro, mas dos próprios fundos comunitários que lhe foram destinados (basta ver a miserável execução do QREN), Portugal empurrou, na última década, mais de duzentas mil pessoas para a emigração. Só para o Reino Unido (onde existe uma comunidade lusitana de quinhentas mil almas) terão ido mais de cem mil portugueses. E agora? E agora que fazer, quando os próprios bancos já não são capazes de se financiar sem a garantia, por sua vez nas ruas da amargura, do Estado? Só vejo uma saída: aproveitar a estreita janela de oportunidade aberta pelo resgate europeu da nossa bancarrota, para fazermos uma revolução política, em nome da decência, da lucidez e da autoridade moral.

Quando Vítor Gaspar afirma, como afirmou na sua surpreendente conferência de imprensa dedicada à Sobretaxa Extraordinária, que “...a redução da despesa corresponderá a dois terços do esforço de consolidação global, sendo que um terço do esforço será suportado pelo aumento da receita” pode em boa verdade concluir-se que há mesmo uma revolução em marcha! Daí o pânico que leio no balbuciar nervoso de tanto figurão do nosso regime corporativo e populista e da nossa falida economia.

Vale a pena ler todo o documento da conferência, não apenas pela forma iniludível que deixa tão nervosos alguns grupos de pressão indígenas —habituados a tudo terem e a nada retribuírem—, mas também pela novidade do estilo transparente, conciso e objectivo. O oposto evidente da propaganda sem vergonha da turma de piratas que o mitómano Sócrates comandou, vociferando em crescendo até estatelar-se na própria nódoa.

Só com extrema demagogia conseguem o PCP e o Bloco atacar o equilíbrio social deste documento, escondendo o que nele está escrito, para apenas deturpar o que lhes convém à demagogia populista e ao conservadorismo já insuportável das suas caricaturas marxistas. Escreve Vítor Gaspar:

“Na segunda metade do século xx Portugal cresceu rapidamente e juntou-se ao grupo dos países desenvolvidos. Entre 1950 e 2000 o produto per capita em PPPS no país cresceu em média cerca de 4 por cento por ano de acordo com as estimativas da Penn World Tables recentemente publicadas.

Neste período Portugal foi um dos países que mais cresceu na Europa e no mundo. Transformou-se de um país predominantemente agrícola e rural num país predominantemente urbano e produtor de serviços.

Os indicadores de educação, saúde e segurança social progrediram fortemente. O número de alunos matriculados no sistema de ensino cresceu.

Em 2009, a percentagem de jovens matriculados com idades compreendidas entre os 15 e os 19 anos situouse nos 81%, atingindo Portugal pela primeira vez a média dos países da OCDE.

O sistema de segurança social que hoje conhecemos - que nos proporciona um seguro contra a velhice, a doença e o desemprego - não existia em 1960. A melhoria das condições de vida é também evidente no significativo aumento da esperança de vida dos portugueses.

Em 1960 a esperança de vida das mulheres à nascença era de 67 anos e passou para os 80 anos em 2000.

Neste período de 50 anos Portugal erradicou definitivamente a ameaça malthusiana da fome e da morte prematura.

No entanto, desde o início dos anos 2000 que a economia portuguesa tem tido um crescimento fraco e abaixo da média da área do euro.

A economia registou uma perda de competitividade externa, crescimento do desemprego, persistentes e elevados défices na balança corrente, persistentes e elevados défices orçamentais e baixo crescimento da produtividade.

Neste período, as responsabilidades líquidas sobre o exterior cresceram rapidamente e ultrapassaram os 100% do PIB (107.5% em 2010). O défice orçamental foi frequentemente superior a 3% do PIB e em 2010 situou-se em 9.1% do PIB. O rácio da dívida pública também aumentou rapidamente.

Sendo assim, os maiores desafios da economia portuguesa são, em minha opinião:

-- crescimento da produtividade e competitividade;
-- crescimento económico sustentado e criação de emprego;
-- correcção dos desequilíbrios macroeconómicos fundamentais;
-- reforço e generalização da concorrência e transformação da estrutura produtiva da economia portuguesa.”

Não há qualquer sectarismo, nem preconceito, nesta síntese histórica, e dela o actual ministro das finanças parte para as soluções, com moderado optimismo, mas com estratégias bem definidas. Avisa que a mudança será profunda, mas também duradouros os efeitos positivos esperados. Para tal, não valerá a pena continuarmos a jogar à cabra-cega, privilegiando os mesmos de sempre, sabendo que tal cobardia apenas lançará o país num calvário mais cruel e sem saída. Daí o equilíbrio interclassista do programa, a prudência relativamente aos banqueiros, mas também a certeza de que o país não se salva sem entregar alguns anéis portugueses (em absoluto estado de desorganização, compadrio e falência técnica) ao capital industrial e financeiro estrangeiros, nomeadamente europeus. É duro de ouvir? É. Mas talvez se percebesse melhor a gravidade da situação em que estamos e a escassez de saídas plausíveis que temos pela frente sentando no banco dos réus os piratas que nos conduziram ao ponto em que estamos. Neste momento, quem abre as portas dos bancos portugueses e paga os vencimentos dos funcionários públicos é o Banco Central Europeu. Que dizem Jerónimo de Sousa e o professor Louçã a isto?

“O programa de privatizações é um pilar fundamental da transformação estrutural que é necessária operar em Portugal. O estado tem um peso excessivo na economia. A redução do peso do estado traz ganhos de eficiência e reduz os riscos para as finanças públicas.

O programa de privatizações será enquadrado no objectivo de aprofundamento da integração europeia. Quero com isto dizer que o governo vai abrir as portas ao investimento estrangeiro.

O investimento directo estrangeiro é fundamental para sustentar o crescimento económico em portugal, num quadro em que o estado e o sistema bancário têm dificuldades em obter financiamento do mercado. Assim, no curto prazo, para além de aumentar as receitas, esta abordagem permitirá aceder a financiamento externo independente do estado. No médio e longo prazo, trará um aumento da concorrência e da eficiência.

As empresas a privatizar são dos mais diversos sectores da economia. Na área dos transportes os Aeroportos de Portugal, a TAP e a CP carga. Na área da energia, a GALP, EDP e a REN. Nas comunicações os CTT e a RTP. No sector financeiro, o ramo segurador da CGD. Nas infra-estruturas as Águas de Portugal.”

Vale a pena ler ainda em detalhe a descrição da Sobretaxa Extraordinária, para se perceber até onde vai, apesar do costado ideológico da coligação, a sensibilidade social da medida e o modo corajoso como compele os portugueses com maiores rendimentos a um esforço proporcional na correcção das contas públicas.

“...a sobretaxa respeita o princípio da universalidade. Incide sobre todos os tipos de rendimentos englobáveis em sede de IRS (trabalho dependente, rendimentos empresariais e profissionais, rendimentos de capitais que sejam englobados, rendimentos prediais, incrementos patrimoniais e pensões), acrescido de alguns rendimentos sujeitos a taxas especiais (nomeadamente, as mais-valias de partes sociais e outros valores mobiliários e instrumentos financeiros derivados).”

“Estão excluídos do pagamento da sobretaxa:

Aproximadamente 80% dos pensionistas do regime geral da segurança social, correspondente a cerca de 1.4 milhões de pensionistas

Aproximadamente 65% dos agregados familiares, correspondente a cerca de 3 milhões das famílias portuguesas

Cerca de 52% dos salários pagos em Portugal não serão abrangidos pela sobretaxa Dos sujeitos passivos que pagarão sobretaxa: cerca de 22% pagarão menos de €50 cerca de 50% pagarão menos de €150

Os 10% dos sujeitos passivos que recebem salários mais elevados contribuirão para 60% do total da receita.”

Começar pelos impostos, quando se está realmente decidido a cortar na despesa do Estado de forma não só radical, mas sobretudo tendo em vista um Estado mais eficiente e poupado, é uma decisão avisada. Quem de nós, após sentir na pele um Natal menos efusivo, deixará de apoiar o governo à hora de impor a necessária lipoaspiração e as imprescindíveis extinções aos intermináveis grupos de pressão que hipertrofiam o Estado tentacular? Uma coisa de cada vez, portanto; e sem cair na armadilha da antecipação para que a imprensa indigente e manipulada que temos tem tentado atrair o governo, é neste momento a medida certa da táctica política da actual coligação. Doutro modo seria a própria estratégia que poderia ser posta em causa. Esta existe, clara como água e estou de acordo com ela:

“A transição para uma economia e sociedade próspera e competitiva na Europa e no mundo exige uma profunda transformação estrutural. O reequilíbrio das finanças públicas e a manutenção da estabilidade financeira são condições para o sucesso desta transformação estrutural. As condições adversas em que nos encontramos, conjugada com a turbulência nos mercados financeiros e a forte incerteza interna e externa exigem uma abordagem prudente que minimize os riscos para as portuguesas e os portugueses. A gestão prudente dos riscos e a constância do propósito de corrigir os desequilíbrios fundamentais possibilitará a concretização da transformação estrutural da nossa economia e sociedade. Desta forma podemos voltar a registar resultados que colocam Portugal entre as mais dinâmicas sociedades na Europa e no mundo.”

Alguém comparava a economia americana (o exemplo serve-nos perfeitamente depois dos mimos que Obama ontem nos dedicou) a um acidentado numa Unidade de Cuidados Intensivos, à volta do qual duas equipas de cirurgia divergiam na acção a seguir. Uma propunha sucessivas transfusões de sangue para salvar o doente lívido e praticamente sem reacção; a outra exigia que ao mesmo tempo se estancasse a hemorragia brutal da perna decepada pelo brutal acidente. Por mais sangue que fosse administrado ao paciente desesperado, o mesmo não serviria de nada se antes, ou ao mesmo tempo, não se cuidasse de laquear todos os vasos sanguíneos de onde o líquido vital espirrava fatalmente. Mudando o que há mudar, direi que sem estancar a descontrolada hemorragia orçamental do país, todos os programas de resgate, como qualquer reestruturação imaginária da dívida (a do bloquista Louçã, ou a do PCP, ou outra qualquer), apenas prolongarão a vida do paciente português por mais algum tempo, inútil, até que a sangria nos leve o corpo exangue e a alma perdida.


NOTAS
  1. Intervenção do Ministro de Estado e das Finanças na Conferência de Imprensa - Sobretaxa Extraordinária. Portal do Ministério das Finanças.
  2. A actual crise mundial começou em 2007, ou seja, vai a caminho dos cinco anos; e outros cinco, pelo menos, nos esperam! O prognóstico é grave, na medida em que o perfil desta crise sistémica do Capitalismo se aproxima da grande crise de 1929-1933, a qual, na realidade, apenas encontrou saída provisória na guerra mundial de 1939-1945 — ou seja, uma década depois. Não nos esqueçamos que o gatilho que levaria ao ascenso do populismo fascista protagonizado pelo partido nacional-socialista de Hitler foi o repúdio da dívida odiosa imposta aos alemães pelo Tratado de Versalhes que selou a derrota alemã na guerra de 1914-1918. O campo mundial está de novo minado, exigindo por isso cautelas redobradas e uma grande clarividência estratégica. Temos, pois, que nos preparar para o pior, começando por arrumar a casa, afastar os piratas das alavancas do poder, e lançar as bases de uma resistência colectiva solidária e inteligente à adversidade.

quinta-feira, julho 14, 2011

A bancarrota americana

Ron Paul, um congressista americano defensor do regresso ao ouro como garantia de valor das moedas, prediz a bancarrota da América num prazo não muito longo.



A China está cada vez mais preocupada com a velocidade do colapso do casino financeiro do Ocidente e em particular com a ameaça de calote que paira sobre as responsabilidades contraídas pelo tesouro americano. Um incumprimento, mesmo que superficial e temporário, da América, poderia desencadear um verdadeiro terramoto em todas as praças financeiras do planeta e a queda da economia mundial numa profunda e muito perigosa depressão.

O dilema da China face aos Estados Unidos é parecido ao do BCE relativamente aos bancos centrais dos países mais endividados ou já em pré-bancarrota da Eurolândia: se não quiserem aceitar uma tesourada nos juros prometidos pelos empréstimos que realizaram ao comprarem biliões de notas de crédito em troca de exportações, arriscam-se a ter que ficar com os papeis das dívidas soberanas ao colo, enquanto o dólar e o euro se precipitam para desvalorizações sem precedentes — arrasando em seguida as exportações da China (e em certa medida da Alemanha), ao mesmo tempo que deixam os respectivos cofres soberanos cheios de nada!

É um dilema dos diabos!

O problema das cedências, por parte da China, ou do BCE, é este:
  • se derem o mínimo sinal que seja de que estarão dispostos a aceitar uma comparticipação dos privados nos prejuízos oriundos do endividamento público sistémico, as nomenclaturas populistas que hoje governam as democracias ocidentais menos competitivas entenderão imediatamente tais sinais como ordens para voltar a gastar. A poupança e o rigor orçamentais seriam então outra vez adiados para as calendas gregas (nunca melhor dito!);
  • mas, por outro lado, se teimarem em deixar cair na insolvência os governos sobre endividados, nações inteiras serão instantaneamente conduzidas ao colapso financeiro, económico, social e político — com grande probabilidade de semelhante perda de controlo provocar tensões bélicas de proporções imprevisíveis.
O demónio da questão está no necessário ponto de equilíbrio entre austeridade, partilha de prejuízos e refundação do sistema financeiro mundial, que todavia falta imaginar. A pilhagem fiscal dos mais débeis poderá aliviar momentaneamente a situação, mas quanto mais injusta e injustificável esta for, maior será o custo social e político do reequilíbrio das economias e, em última instância, do sistema financeiro.

O regresso ao ouro, provavelmente misturado num cabaz de moedas de referência e direitos de saque, afastando assim a perturbação permanente que o dólar hoje causa no sistema financeiro mundial, talvez seja a solução. Não exactamente o que Ron Paul propõe, mas algo parecido.

quarta-feira, julho 13, 2011

Dagong contra-ataca!

Agência de notação chinesa ameaça baixar a notação da descomunal dívida americana!

Como anunciámos há meses, há de facto uma guerra financeira em curso entre o USD e o Euro.

Dagong contra-ataca manobras de sabotagem financeira americanas (China Daily)


Dagonga agência de rating chinesa— anuncia (China Daily) que irá baixar a notação da dívida norte-americana independentemente de Obama conseguir ou não aumentar o tecto da endividamento do seu país. É a resposta aos serviços que a Moody's tem vindo a prestar a Washington e Wall Street.

A Moody's além de ter iniciado uma série de acções de sabotagem financeira premeditadas e sincronizadas contra a moeda única europeia, atreveu-se a destapar a careca a 10% da dívida pública chinesa de má reputação que andava escondida nos municípios e regiões do país (lá como cá!)

A resposta chinesa não se fez esperar, tal como previmos há meses atrás. A China está farta do dólar, e aposta no euro — ponto final. Resta saber quando e se esta guerra financeira mundial dará lugar a uma nova moeda de reserva alternativa ao papel higiénico verde da América, e que tipo de moeda será...

Se ao menos a Europa tivesse um primeiro-ministro. Enquanto não saímos disto, porque não colocar em rede os bancos centrais da Eurolândia, com o BCE no topo, à semelhança da Reserva Federal? Sempre teríamos uma capacidade de resposta (e de controlo efectivo dos défices públicos) à altura da trapalhada em que estamos metidos e dos desafios enormes que temos pela frente.

Rating Agency Wars 2: The New Evil Empire Strikes Back - Dagong Says Likely To Downgrade US Even If Debt Limit Raised (

When on July 4 we reported the patriotic decision by Moody's to suddenly discover that up to 10% of China's GDP is concentrated in previously undisclosed bad debt, we suggest that "Dagong downgrades the US to junk status in 5, 4, 3..." Well, it's one and a half. China Daily has just reported that according to the notorious abovementioned Dagong rating agency, "The US' sovereign credit rating is likely to be downgraded regardless of whether the US Congress reaches an agreement on raising its statutory debt limit. "If the debt limit is raised and the public debt continues to grow, it will further damage the US' debt-paying ability, which is a key factor in Dagong's evaluation, and we will consider lowering its ratings accordingly," said Guan Jianzhong, chairman and CEO of Dagong. "If the raised limit fails to pass and the US faces default, the rating will be immediately and substantially downgraded," he said. According to Guan, the downgrading is really just "a matter of time and extent". And if Europe is suffering now, after Moody's has discovered religion and is slapping ratings downgrades at each and every PIIG, just wait until the global Nash equilibrium collapse in the rating agency Ponzi preservation prerogative goes trans-Pacific. Because following the imminent Dagong downgrade, Moody's and S&P will retaliate yet again, this time likely throwing Japan into the fray yet again, until such time as virtually the entire overleveraged world declares any and all rating agency employees persona non-grata —in ZeroHedge.