quinta-feira, outubro 04, 2012

Austeridade II

Francisco Louçã não mudou: continua a pensar que vai crescer à custa do PS

Menos burocracia, menos partidocracia, menos cleptocracia e menos Estado!

Na realidade, quem lê a imprensa económica internacional com alguma regularidade notará que Portugal saiu dos radares da desgraça — seja porque melhorou rapidamente a sua balança de pagamentos, ou porque conseguiu fazer crescer as suas exportações em plena recessão europeia e crise financeira mundial, ou porque o Banco de Portugal tem sabido gerir com discrição e resultados a difícil situação dos bancos nacionais, ou ainda porque conseguiu hoje mesmo trocar uma pesada dívida que vencia em 2013 por novas obrigações a custos razoáveis com maturidades mais estendidas.

A mobilidade profissional dos portugueses (1), buscando rapidamente trabalho fora do país, nomeadamente através das ligações familiares que têm em todo o mundo, a par da paz social que durou até aqui, têm sido ainda argumentos fortes a favor da confiança que lentamente regressa ao país. Mas também a determinação com que este governo e o anterior (é verdade, já vem do tempo de Sócrates) têm procurado estabelecer pontes diplomáticas e comerciais com a China, Angola e Brasil, e as respostas que não se têm feito esperar, é algo que deve ser pesado a nosso favor.

Nada disto quer dizer que estejamos bem — muito pelo contrário! Na verdade, vamos continuar a ganir até 2015, pelo menos. No entanto, quanto mais depressa encolhermos a burocracia, a partidocracia, a cleptocracia e o Estado, menos violento e duradouro será o terrorismo fiscal em curso.

As pessoas vão ficar, em breve, muito mais sensíveis ao gasto público, às mordomias, às tríades e às máfias que destruíram o país e querem continuar a sugá-lo. Mas também serão cada vez mais sensíveis às greves burocráticas das empresas públicas que prejudicam milhões de portugueses —apenas para garantir privilégios salariais, sociais, sindicais e partidários de que a esmagadora maioria de quem trabalha não usufrui— e que são financiados desde sempre e quase exclusivamente pelos impostos pagos por todos nós.

O ponto nodal do equilíbrio precário até agora conseguido é a atual equipa de governo, apesar do PM de plástico!

Parece-me fundamental barrar o caminho aos piratas que todos os dias clamam contra os ministros e pedem remodelações de governo. Só contendo os padrinhos do regime, nomeadamente Cavaco e Almeida Santos, haverá espaço suficiente para reformar o estado antes que a hipertrofia deste destrua por completo o país.

As lideranças miseráveis do PS, PCP e Bloco não oferecem quaisquer alternativas concretas aos planos do governo. Limitam-se a gritar frases inconsequentes, oportunistas e populistas, com o único fito de prosseguirem os seus pequenos jogos partidários e eleitoralistas. Já só pensam nas autárquicas. Querem lá saber do país e das pessoas!

Jerónimo de Sousa é um fóssil estalinista da era frente populista. Louçã é um fóssil trotskista oriundo de uma seita dos anos sessenta do século passado. Só Arménio Carlos parece ter aprendido a falar num português político mais inovador à sua base sindical e partidária de apoio. Pena é que continue fechado no armário das relíquias comunistas, e não tenha ainda percebido que o seu querido proletariado morreu, que a sua base de apoio é essencialmente formada por trabalhadores e burocratas do Estado, e que o mundo que hoje conta e pode forçar a mudança é essencialmente composto por classes médias profissionais e por um imenso precariado!

A esquerda populista quer tudo: quer pleno emprego, quer mais regalias sociais, quer mais dinheiro, quer mais escolas e universidades, quer mais hospitais e centros de saúde, quer mais tribunais, quer mais câmaras e mais freguesias, em suma, quer mais Estado. E acima de tudo não quer saber de contas. Os ricos, como dizem, que paguem!

No entanto, os efeitos inevitáveis da Austeridade II vão fazer pensar os portugueses sobre o preço da RTP, sobre o preço da TAP, sobre o preço da CP, sobre o preço dos barcos que atravessam o Tejo, sobre o preço de tantos deputados inúteis, sobre o preço de tantos governos municipais que nos casos evidentes das cidades-região de Lisboa e Porto há muito deveriam ter sido concentrados, sobre o preço dos juízes e procuradores improdutivos que temos, sobre o preço da corrupção, sobre o preço de uma constituição que já só serve os beneficiários especiais do regime — em suma, sobre o preço da nossa pobreza. E vão querer mudar!

Quando esta tensão subir, a esquerda deverá olhar para trás e meter a mão na consciência. Que papel tenciona desempenhar à medida que a contestação do monstro estatal subir de tom?


GREVES CORPORATIVAS
A propósito da campanha de greves promovida pelo PCP e pela CGTP

Nesta altura do campeonato as greves da CP (2) e em geral no setor público são intoleráveis.

O pessoal da CP, da Carris, Metro, etc, ganha em geral mais do que os usuários dos serviços que deveriam prestar com qualidade, eficiência e rentabilidade, e não prestam.

Os sindicatos portugueses do setor público começam a parecer-se cada vez mais com máfias extrativas.

Defendo que as greves no setor público devem ser objeto de medidas restritivas temporárias e em todo o caso de requisição civil sistemática em todos os casos em que o oportunismo sindical e partidário prejudique visivelmente os portugueses que pagam, quase sempre através de passes mensais, os insubstituíveis meios de transporte que utilizam para trabalhar.

Os senhores deputados se começassem a usar regularmente os transportes públicos, e pagassem o estacionamento dos seus automóveis na AR, como os lisboetas pagam para estacionar no espaço público que é a sua cidade, talvez passassem a ter uma maior sensibilidade relativamente aos milhões de portugueses que são prejudicados por este tipo de greves corporativas e partidárias. O PCP tem que aprender a ganhar eleições, e não a prejudicar o povo em nome das suas tropas de choque sindicais!

Não há nada que impeça o governo de ter mão dura com os sindicatos corporativos do setor público. Deixar apodrecer a situação só pode conduzir ao desastre. Os democratas não podem ficar prisioneiros de silogismos oportunistas sobre o direito à greve. Pois o preço de semelhante cobardia é normalmente o aparecimento e alastramento rápido de forças de extrema direita.

Olhem para a Grécia !!!


ÚLTIMA HORA

E é bom que se perceba que isto não vai ficar por aqui!

“O presidente do Banco Central Europeu (BCE), Mario Draghi, avisou esta quinta-feira que o BCE só voltará a realizar compras de obrigações portuguesas depois de o país ter reconquistado o acesso total ao mercado, algo que ainda não aconteceu.” Público, 4 out 2013.

Gaspar falou de um aumento brutal de impostos. Eu chamo-lhe terrorismo fiscal. No entanto, a coisa não vai ficar por aqui, sobretudo se a corja instalada continuar a boicotar o saneamento estrutural das finanças públicas.

2014 será ainda pior...
  • a menos que se reduzam drasticamente as rendas leoninas dos monopólios naturais e das PPPs, ou mesmo, em caso extremo, se recuperem para a órbita pública as autoestradas, hospitais, barragens, redes elétricas e redes de águas e saneamento negociados contra o interesse público, podendo mais tarde estas grandes obras regressar ao mercado das privatizações;
  • a menos que se acabem com todas as fundações e empresas pública municipais e regionais, fazendo regressar estes centros de má despesa aos perímetros orçamentais de onde nunca deveriam ter saído;
  • a menos que se privatizem a 100% a RTP, a Caixa Geral de Depósitos, os CTT, a CP, a ANA e a TAP;
  • a menos que se concentrem os municípios e freguesias das cidades-região de Lisboa e Porto, substituindo o Carnaval atual por verdadeiros governos metropolitanos, como existem em Madrid, Londres, Xangai, Pequim, etc;
  • a menos que se estabeleça um ensino 100% gratuito, do pré-escolar até ao último ano do secundário, mas ao mesmo tempo se privatizem todas as universidades e se atribuam bolsas de estudo para os 10 melhores alunos em cada 100 e ainda aos estudantes com médias acima dos 75% manifestamente sem recursos económicos próprios ou familiares;
  • a menos que se imponha um teto às reformas e pensões pagas pelo Estado, por exemplo de 1700 euros (caso Suíço), cabendo às pessoas procurar pelos seus próprios meios e hábitos formas de poupança complementares;
  • a menos que se reduza substancialmente a proporção de funcionários públicos e equiparados relativamente à população ativa nacional;
  • a menos que se despartidarize a administração pública com a introdução de um regime de admissão por concurso nacional obrigatório, cuja elegibilidade deverá passar pela frequência de cursos de administração pública a cargo de uma Escola Nacional de Administração e Trabalhos Públicos;
  • a menos que as nomeações políticas, obrigatoriamente temporárias, fiquem restringidas, sem exceção, aos gabinetes dos ministros e secretários de estado;
  • a menos que se reforme e reduza a Assembleia da Republica;
  • e a menos que se escreva uma Nova Constituição, breve, simples, não partidária, discutida e votada por uma nova assembleia constituinte alargada à cidadania não partidária e, por fim, ratificada em referendo.

NOTAS
  1. 100 mil portugueses em Angola
    Segundo a Monocle deste mês, a população portuguesa residente em Angola passou de cerca de 30 mil, em 2003, para mais de 100 mil em 2012.
  2. Recebi este comentário de alguém bem informado sobre a aristocracia sindical, que transmito na íntegra:

    As corporações que dão pelo nome de "sindicatos" já há muito perceberam que o seu poder advém da capacidade de prejudicar os outros trabalhadores e todos os demais que precisam de fazer a sua vida diária.

    Dito de outro modo, só as greves nos transportes têm impacto e dimensão para prejudicar os outros (não a entidade patronal, que até beneficia com a breve) em escala suficientemente visível para terem direito de acesso à lamentável comunicação social que temos.

    Especialista nestas artes, o PCP desde sempre dominou a FESTRU, mas, que se saiba, e felizmente, não controla o Sindicato dos Maquinistas da CP (SNAQ), que defende os seus interesses corporativos autonomamente (é a FESTRU que costuma colar-se ao SNAQ e não ao contrário).

    De qualquer forma, as empresas que prestam serviço público estão obrigadas a garantir os serviços mínimos, sejam eles quais forem, não sendo, pois, admissível o seu encerramento "por motivos de greve". Se as respectivas Administrações não são capazes de defender o interesse público, deveriam abandonar os cargos e respectivas mordomias.

    Acresce que, embora não pareça, existe um Secretário de Estado dos Transportes que deveria meter na ordem as Administrações que dele dependem. Por onde é que ele anda? Não tem tempo para acautelar os interesses dos utentes, nomeadamente dos que já pagaram no início do mês por um serviço que não lhes está a ser prestado na íntegra e que não irão ser reembolsados por esta falta? O desconto nos salários dos grevistas deveria servir para isto, não? Para onde é que ele vai?

    Repare-se que a Fertagus não é empresa pública nem depende de subsídios estatais e nunca fez uma greve. Por que será?

    O estado comatoso do País obriga a que o esforço financeiro tem de ser de todos, independentemente das armas reivindicativas de cada grupo de pressão, pelo que todos, sem excepções, terão mesmo de ter alguma redução salarial e ou de privilégios.

    No caso dos maquinistas da CP, que reclamam quanto à redução do valor pago pelas horas extraordinárias, a solução parece-me simples:

    — a CP reorganiza as escalas de serviço para não haver horas extraordinárias nenhumas, mesmo que tenha que ajustar alguns horários dos comboios ou até admitir maquinistas, e acaba-se com o problema (para não dizer com a mama).

    De que é que está à espera ? 


Última atualização: 5 out 2012 11:43

quarta-feira, outubro 03, 2012

Banco de Portugal, repito, cadé o ouro?

Marc Quinn, Siren (2006). Modelo: Kate Moss. Ouro de 18Q, Peso: 50Kg.

Onde está o ouro português? Existe mesmo ou é de papel? 

O Banco de Portugal, ao referir-se aos seus ativos em ouro, descreve-os assim:  “Ouro e ouro a receber”, ou seja, ouro mesmo e ouro emprestado em troca de liquidez, supõe-se. Mas quanto ouro metal afinal existe no Banco de Portugal? E quanto foi alienado sob a forma de swaps e outros instrumentos de venda dissimulada? É que há fortes suspeitas de que os bancos centrais europeus, tal como o FMI, alienaram milhares de toneladas de ouro desde que este século começou! Terá sido esta uma das contrapartidas para as astronómicas vendas de dívidas soberanas europeias, a chineses, americanos, árabes, russos e indianos, por intermédio do BCE?
“...once we acknowledge how big the discrepancy is between the actual true level of physical gold demand versus the annual “supply”, the obvious questions present themselves: who are the sellers delivering the gold to match the enormous increase in physical demand? What entities are releasing physical gold onto the market without reporting it? Where is all the gold coming from?

There is only one possible candidate: the Western central banks. It may very well be that a large portion of physical gold currently flowing to new buyers is actually coming from the Western central banks themselves. They are the only holders of physical gold who are capable of supplying gold in a quantity and manner that cannot be readily tracked. They are also the very entities whose actions have driven investors back into gold in the first place. Gold is, after all, a hedge against their collective irresponsibility – and they have showcased their capacity in that regard quite enthusiastically over the past decade, especially since 2008.”

in "Do Western Central Banks Have Any Gold Left???". By: Eric Sprott & David Baker. Sprott Global.
Entre 2002 e 2006 (!) o Banco de Portugal vendeu, sem perguntar aos portugueses, qualquer coisa como 225 toneladas de ouro (15 em 2002, 30+45 em 2003, 35+20 em 2004, 35+10 em 2005 e 15+20 em 2006). E só não vendeu mais, nomeadamente durante o consulado pirata de Sócrates, porque a UE proibiu a venda de ouro para tapar os buracos orçamentais — que todos os partidos com assento parlamentar cavam alegremente, em nome da presa eleitoral, e adiando invariavelmente o pagamento da fatura. Para a corja partidária populista que nos levou à bancarrota o governo que vier, os filhos, e os netos, que paguem a crise!

Diz-se que o BdP tem ainda 382,5 toneladas de ouro. Mas terá mesmo?

Nas demonstrações financeiras de 2011 o BdP regista entre os seus ativos: “Ouro e ouro a receber” no montante de 14 964 159 000 €.

"A receber"? Como? Porquê? Quanto? Quando?!

Fiz algumas contas rápidas, reportadas a 31 dez 2011:
  • Preço da onça troy em 31/12/2011: 1 209,87€
  • Preço da tonelada: 38 897 569 €/T  
  • Quantidade existente estimada no (?) Banco de Portugal: 384,7 toneladas
No entanto, fazendo contas de acordo com relatórios do próprio BdP, deveria haver 600-225=375 ton. E de acordo com os jornais (Sol), 382,5 ton.

Em que ficamos? Que diz o Banco de Portugal? O dono do banco, isto é, o povo português, quer saber!

Na realidade, está na altura de exigir uma auditoria independente às reservas nacionais públicas de ouro. É que depois do roubo encoberto pela nacionalização/venda do BPN tudo é de esperar das desconfiáveis autoridades monetárias deste sítio insolvente chamado Portugal.

Qual foi a rentabilidade real das vendas de ouro realizadas entre 2002 e 2006, quando comparadas com o valor atual e futuro próximo deste metal precioso, que regressa paulatinamente ao centro da discussão sobre a natureza inflacionista da monetização das dívidas soberanas atualmente em curso?


Francisco de Goya — Urano devorando a sus hijos (1823), Museu do Prado. Provavelmente uma das mais terríveis metáforas sobre o endividamento irresponsável.

Depreciação da moeda e decadência dos regimes andam sempre associados!

A inflação provocada pelo aumento constante dos custos do trabalho, da energia e da responsabilidade social associada à diminuição do emprego (seguros de desemprego, extensão dos programas educativos, criação de emprego burocrático e não produtivo, consumo conspícuo) leva ao crescente endividamento público e privado, atingindo por vezes níveis insustentáveis.

A resposta que historicamente os governos têm dado a estas crises sistémicas passa por aumentar a massa monetária e por diminuir o preço do dinheiro (através da destruição dos juros), ou seja, pela depreciação da moeda.

Esta depreciação, por sua vez, conduz à especulação económico-financeira, produzindo bolhas e colapsos, acabando por lançar pessoas, empresas e governos na insolvência. Se a resposta à insolvência for mais liquidez, e portanto uma depreciação radical da moeda, o resultado é invariavelmente a deflação dos ativos financeiros e não financeiros (casas, por exemplo) e a ocorrência de episódios de hiperinflação. atingindo sobretudo os preços associados aos bens de primeira necessidade (alimentação, etc.)

Quatro dos seis gráficos que se seguem foram compilados por Dylan Grice, um analista da Société Géneral, cuja mais recente reflexão desaguou em vários blogues económicos, nomeadamente no ZeroHedge — From Currency Debasement To Social Collapse: 4 Case Studies (ZeroHedge/ Dylan Grice).

A depreciação da moeda e a inflação aparecem intimamente associados ao colapso de Roma, ao incremento da Caça às Bruxas em Inglaterra nos séculos 16 e 17, ao Terror dos primeiros anos da Revolução Francesa, e ao colapso da República de Weimar que antecederia a irrupção do nazismo.

As tabelas sobre a depreciação do marco alemão, e sobre a repartição dos gastos familiares durante o longo período de inflação que antecedeu o episódio hiperinflacionista de 1923, são particularmente ilustrativas do que poderá vir a suceder na Europa e nos EUA se a crise sistémica em curso continuar agarrada a paliativos monetaristas.


Colapso do denário romano


A Caça às Bruxas recrudesce com a inflação


A desvalorização abrupta do franco face ao ouro acompanha o Terror na Revolução Francesa


A concomitância entre a chegada de Hitler e a inflação é evidente


Notas de banco servem para construir papagaios!


A relação entre o marco e ouro revela até que ponto o dinheiro fácil é ilusório. O ouro torna-se na medida real do valor das coisas quando o dinheiro nada vale


A alimentação torna-se o bem mais valioso quando o dinheiro perde exponencialmente valor

terça-feira, outubro 02, 2012

Portugal pode falhar

Adriana Xavier e Sérgio: imagem efémera de um país em colapso?

Há quem já aposte no regresso ao isolamento

“Estimular artificialmente a procura, como pedem muitos empresários, apenas agrava o problema. Reduz a poupança, aumenta o défice  e retarda a redução do endividamento externo. Sem redução do endividamento externo o crédito não volta.”

João Miranda, Blasfémias.

Vale a pena ler este comentário às declarações desajeitadas de António Borges.

No entanto, não basta mexer nas porcas da macroeconomia, do orçamento e da fiscalidade. Se não acabarmos com a apropriação do orçamento público pelos cleptocratas, rendeiros, corporações, burocracias instaladas e redes de tráfico de influências partidárias, isto é, se não atacarmos os setores protegidos do regime, como desde o Memorando e em todas as avaliações a Troika vem recomendando e insistindo, de nada servirão as engenharias financeira e orçamental.

O regime precisa de uma revolução!

Ou seja, sem uma nova Constituição, escrita por uma nova Assembleia Constituinte, convocada na sequência de um referendo ao regime, iremos mesmo pelo cano de esgoto abaixo.

Espanha está já em estado avançado de instabilidade social e política, que o agravamento da situação financeira apenas ajudará a transformar numa possível fragmentação da monarquia. Entre nós, assim que o desemprego chegar aos 20-25%, o consenso ruirá, deixaremos de beijar os polícias, e o tempo da convulsão civil e das tentações autoritárias regressará. Há mesmo, à esquerda e à direita, quem já só aposte nesta falsa saída para os nossos graves problemas.

República Federal Espanhola?

Fonte: JPMorgan, salvo comentário fora do quadro.

Juan Carlos, cuida de tus pueblos!

A situação económica, social e financeira da Espanha, longe de acalmar, parece cada vez mais fora de controlo. Abrem-se feridas antigas sobre a natureza do reino e das suas nacionalidades. O gráfico recém produzido pela JPMorgan mostra os altos e baixos de um país assombrado pelo fim de um período histórico de fulgor, império e glória.

A Catalunha quer a independência, o País Basco quer a independência, os nacionalistas galegos tornaram-se violentos, e Madrid não sabe responder se não com intransigência. Ao País Basco disse que não, porque são terroristas. Aos galegos envia a polícia. E à Catalunha diz que não, porque são inconstitucionais. Mas assim não pode ser!

A Portugal sempre calhou melhor ter um único soberano vizinho, em vez de uma dúzia. Mas a verdade é que um país chamado Espanha só em 1876, quando o império já se esfumava no horizonte, aparece constitucionalmente definido. Antes desta data, apesar de haver um único suserano, as Espanhas eram, na verdade, reinos e principados independentes, com fronteiras, arquiteturas regionais, idiomas próprios e moeda.

“A Espanha é unificada durante o Iluminismo, até então era um conjunto de reinos juridicamente e politicamente independentes governados pela mesma monarquia. Até à data da unificação a monarquia era formada por um conjunto de reinos associados por herança e união dinástica ou por conquista. A forma de governo era conhecida como aeque principaliter, os reinos eram governados cada um de forma independente, como se tivesse cada reino o seu próprio rei, cada reino mantinha o seu próprio sistema legal, a sua língua, os seus foros e os seus privilégios. As Leyes de extranjeria determinavam que o natural de qualquer um dos reinos era estrangeiro em todos os outros reinos ibéricos.” [Wikipédia]

A ideia de uma Espanha una e centralizada consagrada por uma constituição surge curiosamente por inspiração e durante a ocupação Napoleónica, em 1808 e 1812, sofrendo depois sucessivos avanços e recuos: 1834, 1837, 1845, 1852, 1856, 1869, 1873, 1876, 1931, 1938-1977, 1978 [Wikipedia]

A democracia que sucede à morte de Franco foi, de algum modo, armadilhada pelo ditador receoso das tendências historicamente nacionalistas da Ibéria. Franco garantiu, antes de morrer, a subordinação do novo regime que previa democrático a uma monarquia entretanto ressuscitada em nome da unidade da pátria espanhola. Apesar deste trinco, as nacionalidades históricas regressaram e progressivamente exigiram graus crescentes de autonomia. A Madrid não restou outra alternativa que não fosse sustentar o chamado Estado das Autonomias —um preço demasiado alto assim que as faturas da União Europeia e sobretudo do euro começaram a cair em cima do orçamento do estado central.

Durante o boom espanhol das últimas três décadas o nacionalismo disfarçado de poder autonómico foi alimentado a Pão de Ló. Madrid voltaria aliás a ter sonhos de expansão ultramarina, tendo cometido o erro crasso de voltar ao lugar do crime, isto é, às suas antigas colónias americanas, com ares de conquistador. Foi o tempo em que bancos e grandes empresas de telecomunicações acreditaram poder invadir a América Latina. O triste episódio entre Juan Carlos e Hugo Chávez (¿¡Por que no te callas?!) acabaria por transformar o sonho em pesadelo.

Madrid está cada vez mais só, apesar de ter crescido desmesuradamente, esvaziando tanto quanto pôde as capitais regionais de importantes centros de decisão institucional, financeira e empresarial. Mas o maior problema é que tanto o Palácio da Zarzuela, como a Moncloa, parecem incapazes de abordar a hipótese de uma viagem de regresso ao que foram séculos da sua história, tudo por causa de um figurino absolutista e centralista imposto por um invasor: Napoleão!

A Espanha encontra-se numa trajetória perigosa. Basta meditar um pouco no gráfico da JPMorgan.

Tal como Portugal e o resto da Europa, as nações ibéricas vizinhas terão que ceder uma parte significativa do seu ritmo de crescimento económico assente, ao longo dos últimos trinta anos, no consumo, na educação, no bem estar social e na economia especulativa, ao crescimento do resto do mundo e em particular dos chamados países emergentes. O preço desta adaptação vai ser doloroso, vai exigir uma verdadeira metamorfose cultural e uma renúncia drástica aos maus hábitos acumulados. E o pior é que não há tempo a perder!

Extrapolando um pouco o gráfico da JPMorgan, vejo seguramente o perigo de novos desastres num país que aprendi a amar desde 1986, quando um jovem arquiteto da Corunha me convidou a dar uma conferência num curso de verão promovido pela Universidade Menéndez Pelayo.

Será assim tão difícil imaginar uma República Federal Espanhola, pacífica e próspera, cujo nascimento ficaria a dever-se à lucidez de um rei capaz de abdicar a favor de um povo que são muitos povos?


 POST SCRIPTUM

Se o referendo catalão sobre a independência da Catalunha revelar uma clara maioria a favor da separação da coroa espanhola, e os Estados Unidos reconhecerem o novo estado, que fará Madrid? Envia generais fascistas, tanques e o seu porta-aviões para as imediações de Barcelona? A União Europeia não reconheceu o direito à autodeterminação e independência do Kosovo? Não está preparada para admitir a Escócia como um novo membro da União e do euro? Não façamos do regresso à normalidade secular nas nações espanholas campo para uma nova guerra fratricida!

segunda-feira, outubro 01, 2012

Alta Velocidade by Ferrari

Quem não quererá viajar a 350Km/h num comboio da Ferrari?
Foto ©Bloomberg

Portugal, Berlengas ferroviárias da Europa?

Aos ignorantes da imprensa e da classe partidária portuguesas, e à corja do Bloco Central da Corrupção que capturou o PS, PSD, CDS/PP e alguns autarcas do PCP, aqui vai a demonstração de que o futuro está na mudança de agulha para os novos foguetes ferroviários (TGV, AVE, ICE, NTV-Ferrari, etc.)

Rui Rodrigues (“A Nova Ferrovia Poupa Energia”, Público) compilou e analisou...
Em média, um comboio de Alta Velocidade, cuja operação não depende do petróleo, considerando o consumo de energia por passageiro e por quilómetro percorrido, é 7 vezes ou mais eficiente que o avião, e 4 vezes mais eficiente que o automóvel.

Avião: 0,87 kWh/passageiro.Km, com uma taxa de ocupação de 66%. Valor que baixa para maiores distâncias.

Carro: 0,5 kWh/passageiro.Km, com uma taxa de ocupação de 1,7 passageiros por viatura.

Comboio Regional: 0,45 kWh/passageiro.Km, com uma taxa de ocupação de 20%

TGV: 0,18 kWh/passageiro.Km, com uma taxa de ocupação de 65%

Metro: 0,14 kWh/passageiro.Km, com uma taxa de ocupação de 21%

ICE 350 (Intercity-Express): 0,12 kWh/passageiro.Km, com uma taxa de ocupação de 65%

Em Espanha, as contas estão feitas. Em Portugal as araras do governo e dos partidos andam a pastar, como sempre!

Portugal está a comportar-se com a Espanha como a Madeira com o Continente

Segundo as previsões do Ministério do Fomento espanhol, quando toda a nova rede estiver terminada, o transporte ferroviário será competitivo frente ao automóvel e ao avião e irá captar 30 % do tráfego gerado entre os pontos de origem e destino.

Por ano, a Espanha importa cerca de 51 mil milhões de euros em petróleo. Desta verba, a maioria é utilizada no sector do transporte. A nova rede ferroviária de tração elétrica vai pois permitir uma poupança anual de muitos milhares de milhões de Euros.

El Plan de Infraestructuras, Transporte y Vivienda 2012-2024 (PITVI), presentado la semana pasada por la ministra de Fomento, prioriza la inversión en ferrocarriles en el horizonte temporal que contempla el Plan. Así, de los 136.627 millones de euros de inversión en el sector del transporte, 52.733 millones de euros se destinarán a diferentes actuaciones en el ámbito del ferrocarril, entre las que destacan la culminación de los corredores de alta velocidad ya iniciados y las destinadas a potenciar el transporte ferroviario de mercancías, entre otros proyectos, como los que se desarrollarán en las redes convencional y de cercanías o en estaciones. Via Libre, 1 out 2012.

Mas se a comichão é cultural, então vejamos o tema doutro prisma: Alta Velocidade by Ferrari!

Rome, Italy (CNN) -- As chairman of Ferrari, Luca di Montezemolo is used to making things that move at breakneck speed. But rather than flashy sports cars for wealthy motor enthusiasts, the Italian businessman's latest high-velocity project aims to cater for the traveling masses.

The Italo train from NTV -- a passenger rail company of which di Montezemolo is also chairman -- is a high-speed service that has been dashing between Milan, Rome and other major Italian cities since April. CNN, june 22, 2012.




domingo, setembro 30, 2012

Petróleo no Beato?

O grande impulso dado pelo petróleo ao crescimento económico e demográfico ocorre entre 1950 e 1970

A festa acabou! Precisamos de aprender a crescer devagar.

“How much uranium or thorium would be required to power an industrial civilization comparable to that now powered by the fossil fuels? And does this quantity exist in a form that is readily obtainable?”

M King Hubbert (1956)

 A humanidade só começou a aumentar de número, acima dos meio por cento ao ano, depois do aparecimento das máquinas movidas a vapor gerado sob pressão em caldeiras aquecidas a carvão.

Esta época marca também crescimentos no consumo da energia e do produto interno bruto acima dos 1%. A fase de transição do carvão e do gás (usado sobretudo na iluminação) para o uso intensivo do petróleo (1920-1940) traduziu-se numa quebra acentuada dos ritmos de consumo energético e de crescimento económico, que só cinco anos depois da Segunda Guerra Mundial (1939-45), disparam para valores nunca antes alcançados na história humana. Entre 1950 e 1970 a população mundial começa a crescer a taxas anuais próximos dos 2%, ao mesmo tempo que os consumos energéticos e a produção crescem entre 3,85% e 5,02% ao ano. Mas depois deste período que coincide com a emergência da primeira crise petrolífera, todas as três taxas de crescimento —demografia, energia e produção— entram numa fase de declínio relativo, que só a especulação financeira e o endividamento ocorridos na década passada (2000-2010) permitiram ilusoriamente inverter, com as consequências agora conhecidas.

M. King Hubbert detetou em 1956, com grande exatidão, o pico do petróleo americano: 1970-71

M. King Hubbert detetou em 1956 o pico mundial do petróleo convencional:1995-2000 (na realidade verificou-se em 2008)

A partir de meados da década de 1980, cresce mais depressa o consumo do que a a produção de petróleo (ASPO)



Colin Campbell: o pico global do petróleo e gás em todas as suas formas exploradas ocorreu em 2008

O cruzamento das informações mais recentes (2012) confirmam a data do pico global da produção de combustíveis líquidos: 2008.

O tempo e os gráficos têm vindo a confirmar sensivelmente as previsões do geólogo americano M. King Hubbert (1), sendo pouco mais do que propaganda pueril o que António Costa e Silva escreveu esta semana no Expresso sobre a corrida ao xisto (2). Mas a melhor confirmação do acerto das previsões de Hubbert são as decisões estratégicas que o governo americano então tomou:
  1. criação de uma rede de centrais nucleares espalhada pelo território americano, com início em 1957 (3);
  2. criação de uma rede de bases militares destinadas a garantir o acesso e transporte de petróleo das principais bacias mundiais até aos Estados Unidos da América e reforço da aliança diplomática e militar com Israel;
  3. fim da convertibilidade do dólar em ouro (Nixon Shock, 1971), três anos depois da formação da OPEP, e dois anos antes do Embargo de 1973, responsável pela primeira grande crise associada ao fenómeno conhecido por Pico do Petróleo;
  4. acordo entre Arábia Saudita e os EUA sobre o uso exclusivo do dólar nas transacções e denominação do preço do petróleo, a troco de apoio militar americano — dando origem ao nascimento do chamado petrodólar (1973); OPEP no seu conjunto adere ao petrodólar em troca de armamento e protecção (1975).
     
Estas quatro decisões são inteiramente coerentes com a percepção das consequências do gráfico da Fig. 21 do estudo apresentado por M. K. Hubbert — o qual veio a revelar-se de uma enorme precisão.

Uma vez reconhecidos os limites das reservas petrolíferas americanas, nomeadamente das suas reservas de petróleo barato e de boa qualidade, a decisão só poderia ter sido esta: poupar as reservas, diminuindo a extração interna, e importando cada vez mais do exterior.

Mas para chegar aqui, com a garantia de que obteriam preços razoáveis pelo crude importado, os Estados Unidos teriam que conseguir preencher dois requisitos: ter muito dinheiro disponível e proteger os investimentos que viessem a realizar em países estrangeiros ricos em petróleo. Para além dos custos de prospeção, desenvolvimento e produção, os EUA teriam ainda que garantir a segurança diplomática e militar das novas fontes petrolíferas espalhadas pelo mundo. A que preço?

Bom, ao preço de uma desvalorização progressiva da sua moeda, ainda que retardada pela imposição do dólar como moeda de reserva mundial — nomeadamente através dos acordos que conduziram ao estabelecimento do petrodólar. No entanto, os custos reais desta substituição/proteção das reservas petrolíferas nacionais não deixaram de aumentar exponencialmente desde que a percepção do pico petrolífero americano foi tecnicamente reconhecido, com a consequente e imparável inflação da massa monetária e sobretudo do agregado conhecido por M3 (Williams, 2008).

O crescimento da massa monetária M3 (sobretudo em 1970-71 e 2006-08) dá bem a ideia do grau de monetização da economia americana.

Historical inflation adjusted oil price per barrel, (Brent equivalent in 2011$), based on amounts shown in BP’s 2012 Statistical Review of World Energy. Our Finite World, 26 set 2012.

Trabalho caro e energia cada vez menos barata fazem uma combinação fatal, só parcialmente compensada pela criação de dívida através da escrituração contínua e virtual de dólares, com a qual a América garantiu ao mesmo tempo uma capacidade aparentemente infinita de importação de petróleo, e a criação de um explosivo mercado interno de consumo conspícuo, alimentado por importações crescentes, já não apenas de matérias primas, nomeadamente energéticas, mas também e cada vez mais, de bens manufacturados. A perda crescente e irreparável de empregos foi temporária e parcialmente compensada por uma espécie de burocratização e terciarização mediática da economia, alimentadas pela especulação bolsista. Em 2008, esta bolha rebentava com estrondo, ao mesmo tempo que os sinais inequívocos do Pico do Petróleo adquiriam uma dimensão mundial.

M. King Hubbert desenhou em 1956 um gráfico assustador, através do qual a abundância energética que possibilitou os "tempos modernos" aparece como um brevíssimo episódio da nossa história.

Ao contrário de Donella H. Meadows e dos demais autores de The Limits to Growth (1972), para quem os limites do crescimento podem revelar-se catastróficos se a humanidade for incapaz de corrigir os custos e as distorções da sua própria expansão demográfica, M. King Hubbert viu na indústria nuclear (4) a única saída possível e duradoura para a inexorável crise de crescimento causada pela exaustão de recursos energéticos finitos.

Enquanto a China e outras economias emergentes podem suportar preços do petróleo acima dos $100-110 (5), já nos Estados Unidos e na Europa, quando os preços sobem e se mantêm acima dos $90 as economias entram em recessão ou crescem bem abaixo dos 3%. Em sentido contrário temos os países da OPEP, que precisam de vender o barril do petróleo acima dos $80, e cada vez mais perto dos $100, sob pena de verem degradar a sua estabilidade social e política. A solução, para países como os EUA, Japão e Europa, seria pois diminuir drasticamente a dependência do petróleo. Mas como, se 70-75% do petróleo que importam vai para o sector dos transportes (80-85% nos EUA)? A migração para o transporte eléctrico é uma saída, mas vai levar tempo, pois existem mais de 800 milhões de automóveis no planeta dependentes de combustíveis líquidos!

Sabemos hoje que muitas outras ameaças colocaram a humanidade em risco de desaparecer, ou ver diminuída a sua presença no planeta em algumas centenas de milhões de almas. E se os gráficos dos crescimentos exponenciais nos ensinam algo, é que as fases de colapso são muito mais desagradáveis do que as de expansão.

A dicotomia feliz entre "esquerda" e "direita" não serve para resolver nenhum dos problemas sérios colocados pela presente crise sistémica do capitalismo, a qual é antes de mais uma crise do modelo energético, tecnológico, social e cultural de crescimento e desenvolvimento da humanidade.

Podemos encher as ruas, mas se não percebermos o que realmente está em causa, apenas agravaremos a ansiedade em que as pessoas e as comunidades já se encontram neste momento. Sem procurarmos as causas profundas desta crise, acabaremos por perder as nossas energias na busca e castigo dos bodes expiatórios.

Porque que é que deixou de haver trabalho? Porque é que o trabalho que ainda existe é caro para a economia, e ao mesmo tempo mal remunerado e precário para quem trabalha, ou até manifestamente artificial e inútil? Para que servem os impostos quando os governos aumentam cada vez mais a pressão fiscal, e prestam cada vez menos serviços?

E se for necessário crescer melhor, mas mais devagar? Estaremos preparados para voltar a partilhar a herança comum à humanidade e às outras formas de vida com quem cooperamos neste planeta?


POST SCRIPTUM, 11 out 2012

“What matters is if our hourly wage once bought eight gallons of gasoline and now it buys only four gallons. This is called purchasing power, and rather naturally the Status Quo has worked mightily to cloak the reality that our purchasing power of the bottom 95% of wage earners has been declining for decades.”

in “Energy Higher, Earnings Lower” by Charles Hugh Smith (Of Two Minds, oct 10, 2012)

Mais um gráfico que ajuda a estabelecer a correlação entre o preço da energia e os rendimentos

Três gráficos muito importantes para percebermos o impacto do preço do petróleo na deterioração dos rendimentos americanos (o caso europeu é paralelo) ao longo dos últimos 43 anos, e uma ajuda para perceber a causa das coisas, nomeadamente no que se refere à Grande Depressão em curso nos EUA e na Europa....

“Despite the improvement from 1994, real wages are around the levels reached in 1969, 43 years ago, and 1980, 32 years ago.”

Alternativas para mitigar esta tendência irreversível na deterioração económica e financeira de Portugal, causada pelo Pico do Petróleo:

1) Estabelecimento urgente de um Plano Nacional de Eficiência Energética;

2) Liberalização e estímulo do uso dos veículos a gás e dos veículos elétricos (trolleys, tram-trains, elétricos, metros, comboios);

3) Impedir os monopólios energéticos, que fornecem combustíveis líquidos para veículos automóveis, e eletricidade às empresas e lares, de porem o pé sequer no abastecimento de gás às empresas e populações!

4) Rebaixar as rendas excessivas da EDP e empresas similares, eliminando das faturas todas as alcavalas oportunistas que o estado lá enfiou;

5) Rebaixar o imposto sobre os combustíveis (o estado hipertrofiado tem que encolher!);

6) Aumentar em mais 30% a desmaterialização da administração pública no prazo de uma legislatura;

7) Criar uma Fiscalidade Verde favorável à poupança energética, penalizando ao mesmo tempo os fatores condutores da excessiva intensidade energética da economia portuguesa;

8) Prioridade absoluta ao transporte ferroviário nacional e internacional, de modo a duplicar a quota deste modo de transporte nos próximos 10 anos, e triplicá-la nos próximos 20 anos.

9) Lançamento de um programa de investigação sobre a energia nuclear baseada no tório;

10) Criar um ministério da energia com igual ascendência sobre os demais ministérios e departamentos governamentais à do ministério das finanças.

NOTAS
  1. Nuclear Energy and the Fossil Fuels, M. K. Hubbert, Presented before the Spring Meeting of the Southern District. American Petroleum Institute, Plaza Hotel, San Antonio, texas, March 7-8-9, 1956 (PDF).
  2. O artigo "A revolução energética do gás de xisto", publicado por António Costa e Silva no Expresso de 29/9/2012, parece querer apenas induzir a substituição de uma bolha que rebentou —das eólicas subsidiadas— por um nova bolha de inspiração americana —a ilusória e muito perigosa bolha do xisto! A verdade é que o gás de xisto, tal como o petróleo de xisto, são dois monumentais fracassos comerciais, embalados por bolhas financeiras especulativas que irão rebentar nos próximos dois ou três anos! Travar qualquer operação nesta perigosa e ilusória área tecnológica de negócio, em Portugal, é uma prioridade. Já ouvi falar em buracos horizontais nas imediações do Mosteiro de Alcobaça. Se é verdade, é urgente denunciar e parar este crime! Sobre a bolha de xisto, vale a pena ouvir John Hemming sobre o tema.
  3. Rede nuclear energética americana
    • 1951 — primeiro reactor nuclear experimental destinado a produzir energia eléctrica
    • 1956 — Nuclear Energy And The Fossil Fuels, by M. King Hubbert.
    • 1957 — Shippingport, Pennsylvania, primeira central nuclear comercial para produção de electricidade.
    • 1960-70 — período de expansão da energia nuclear nos EUA.
    • 1979 — Three Mile Island, Dauphin County, Pennsylvania, EUA, accidente nuclear com derretimento parcial do núcleo.
    • 1991 — EUA têm mais de 1/4 de todas as centrais nucleares do planeta em funcionamento.
  4. Apesar da tragédia nuclear japonesa de Fukushima, há quem veja futuro numa energia nuclear limpa, desde que o ciclo produtivo passe reatores de tório, em vez de reatores de urânio. A China está na dianteira desta nova corrida pela energia nuclear verde
  5. An brief economic explanation of Peak Oil, Chris Skrebowski, ODAC, Oil Drum.


Última atualização: 11 out 2012, 0:20

sábado, setembro 29, 2012

Uma nova lava socialista?

Pedro Nuno Santos, uma referência da metamorfose em curso no PS.
Foto: autor desconhecido

Um relato sobre o que vai na caldeira ideológica do PS. Interessante!

Frederico Guilherme/ Aurora:

“Ao lado de Pedro Nuno Santos, emergiu nos quadros dirigentes da Juventude Socialista, uma fornada de novos valores, incluindo os dois secretários-gerais subsequentes, Duarte Cordeiro e Pedro Delgado Alves. O jornalista Luís Claro viria a identificá-los, com João Galamba e Isabel Moreira, exteriores ao aparelho partidário, como a “geração que quer tirar o socialismo da gaveta” (ionline, 30.06.2012). Ou seja, um grupo informal que converge na ruptura política (e etária) com a geração da Terceira Via, em Portugal simbolizada por António Guterres e seus delfins, António José Seguro inclusive.

Através das posições políticas que têm assumido, em particular na oposição aos principais arremessos neo-liberais que atravessam a Assembleia da República, Orçamento de Estado de 2011, Tratado Orçamental da União Europeia, Código de Trabalho, é notório o seu alinhamento à esquerda do Secretariado Nacional do Partido Socialista. E o seu maior sentimento de urgência. A demissão de Pedro Nuno Santos da vice-presidência do grupo parlamentar do PS surgiu como o sinal definitivo do corte epistemológico desta geração.

A abordagem da “geração que quer tirar o socialismo da gaveta” passa por enquadrar, reflectir, e explicar a angústia do País, à luz do ideário socialista matricial, humanista, solidário e inclusivo; e desenvolver eixos, soluções e instrumentos de corte com a situação vigente. Reconhecem abertamente como adversários as estruturas de decisão, políticas e económicas, nacionais e internacionais, que conduzem o País, através de um caminho ideológico absolutista, para uma sociedade corporativista, economicista, desigual e conflituosa. Que se materializa através das actuais políticas austeras e recessivas, agregadas em torno do memorando de entendimento com a troika.

A adesão de Pedro Nuno Santos, Duarte Cordeiro, Pedro Delgado Alves, João Galamba, Isabel Moreira, entre outros deputados do Partido Socialista, ao próximo Congresso Democrático das Alternativas, confirma e, de certo modo, reforça a vocação de ruptura desta nova geração do Partido Socialista.”

Ao pé desta corrente subterrânea, o manifesto a "meio da esquerda", do Rui Tavares, é, no mínimo, pueril.

Estamos a começar a ver efeitos interessantes da crise... no PSD —Jorge Moreira da Silva e a reintrodução da honestidade e coragem política na ação partidária—, no PS —a corrente de lava que já corre, com Pedro Nuno Santos, Isabel Moreira, etc.—, e na CGTP —a surpresa chamada Arménio Carlos.

A metamorfose interna do regime pode já estar em curso. Bem-vinda!

Vale ainda a pena ler, a propósito de metamorfoses e heterodoxia, a curta entrevista de Manuel Maria Carrilho dada hoje ao Expresso, a propósito da sua "obra completa", Pensar o Mundo, acabada de sair do prelo.

Num PS tão desacreditado, que precisa urgentemente de uma metamorfose, Carrilho poderia bem fazer a necessária ponte entre o que de melhor resta da passagem de António Guterres pelo PS e pelo poder, e a nova geração que tem vindo a tirar o socialismo da gaveta!