terça-feira, janeiro 13, 2015

IRS e sacos de plástico



Jorge Moreira da Silva: “sem a fiscalidade verde não haveria descida do IRS”


Isto parece mais uma guerra entre o PSD e o CDS, do que argumentação séria.

O Ministro do Ambiente, Ordenamento do Território e Energia, Jorge Moreira da Silva, escreveu no seu Facebook (sublinhados nossos):
“Lidas as notícias, hoje, muitos se apressaram a festejar, e outros a elogiar, a descida do IRS, pelo efeito do novo quociente familiar, com efeitos imediatos na retenção mensal na fonte. Também eu me congratulo. Luto por isto há muito tempo. Com uma diferença: eu não esqueço, nem omito, aquilo que permitiu esta descida. É uma pena que, depois de tantas críticas, nos últimos meses, ao efeito da fiscalidade verde (na taxa de carbono, nos sacos plásticos, no ISV, na TGR e na TRH), se continue a omitir que é a fiscalidade verde e apenas a fiscalidade verde, com o montante de 150 M€, que financia integralmente a descida do IRS. Repito, sem a fiscalidade verde não haveria descida do IRS. Logo, não estamos a falar de descida de impostos, nem de tentações eleitoralistas – disso estamos vacinados. Pelo contrário, trata-se de uma reforma estrutural que configura uma mudança de paradigma (ou ainda acreditam que o nosso problema estrutural está apenas no défice orçamental e na dívida pública e não está na nossa dependência energética do exterior ou na ineficiência na utilização de recursos?) Assim, optámos por uma estratégia, hoje considerada exemplar à escala mundial, de tributar mais o que se polui e degrada, para tributar menos o rendimento das famílias. Sendo que, ao contrário do IRS ou IRC, que comportam uma certa rigidez, na fiscalidade verde os cidadãos e as empresas têm forma de, pela reorientação de práticas e de comportamentos, reduzir a sua carga fiscal. Por exemplo, quando se aplica a taxa dos sacos plásticos, o objetivo não é que os consumidores paguem pelos sacos que hoje utilizam, mas que deixem de utilizar esses sacos plásticos leves; isto é, queremos reduzir o consumo estimado de 466 sacos por habitante por ano, para apenas 50 em 2015 e 35 em 2016. Além disso, a fiscalidade verde, sendo neutral, dado que financia integralmente os incentivos à conservação da natureza, à mobilidade elétrica, à floresta sustentável e à descida do IRS das famílias, tem um efeito positivo, bem estudado no âmbito da Comissão de Reforma brilhantemente liderada pelo Eng Jorge Vasconcelos, na redução da dependência energética do exterior, na proteção ambiental, no crescimento económico e na criação de emprego (com um efeito multiplicador de 0,22). Assim, vale a pena perguntar: será intelectualmente honesto continuarmos a criticar a fiscalidade verde e elogiar a descida do IRS, quando é a primeira, e apenas esta, que financia a segunda?
Onde advoga o senhor ministro que coloquemos o lixo orgânico diário? Um saco por dia para armazenar o lixo doméstico corresponde a 365 sacos/ano (sem contar com os saquinhos mais pequenos que vão dentro do saco principal). Se usarmos apenas 1 saco, de dois em dois dias, e eliminarmos os tais saquinhos (que certamente fizeram parte da contagem engenhosa evocada pelo senhor ministro: “466 sacos por habitante por ano”), chegamos aos 182,5 sacos por família por ano. Como pensa, pois, chegar aos 35 sacos por pessoa por ano?

Admitindo que a dimensão média das famílias portuguesas é de 2,6 indivíduos, e que apenas passaremos a usar 1 saco por família de dois em dois dias, teremos 70 sacos por pessoa por ano. 50, ou 35 sacos/p/ano são cifras manifestamene otimistas, não acha, meu caro ministro?

Em Bruxelas, por exemplo, os sacos do lixo são normalizados e destinados exclusiamente a este fim. Não se pode colocar lixo à porta de casa em sacos de supermercado, ou em qualquer outro tipo de recipiente, sob pena de coimas pesadas. Esta medida, e a recolha separada dos quatro tipos de lixo, parametrizada para os diferentes tipos de bairros da cidade—orgânico, às segundas, quartas e sextas, os plásticos e lixo do jardim, às terças, e os vidros e metais às quintas, por exemplo, permitem racionalizar o problema, evitando, nomeadamente, que os lixos sistematicamente se misturem como ocorre em Portugal. Será que as nossas empresas privadas de resíduos se importam? E se não se importam, porque será? Será que deitam tudo no mesmo sítio? Não estou a vê-las a perderem dinheiro com a separação do lixo orgânico, do não orgânico, que enche diariamente os contentores verdes? Alguém supervisiona, senhor ministro? Gostaríamos todos de saber, antes de pagar mais uma taxa cega e de alinhar numa operação típica de green washing!

Na Bélgica, ou pelo menos em Bruxelas, existem sacos tecnicamente estudados para a separação do lixo, com as características materiais e dimensões apropriadas ao ciclo completo da triagem e reciclagem, e assim, o cidadão tende naturalmente a prestar uma atenção redobrada a este tema, quer pela via da consciencialização, quer pelo preço transparente da coisa, quer pelas penalizações previstas em caso de infração. Acresce que a gestão dos resíduos e a higiene urbana, crescentemente apoiada e potenciada pelas redes sociais, compete ao governo da cidade-região de Bruxelas, e não aos gabinetes ministeriais longínquos que, entre nós, continuam a pontificar no que não devem, e a nada ou pouco fazer nas áreas estratégicas que deveriam ser o seu território de ação política democraticamente delegada.

Assim, meu caro ministro, em vez de aplicar mais taxas e mais impostos, desta vez aos sacos de plástico, já pensou libertar os produtores familiares e as PMEs da obrigação de vender a energia solar e/ou eólica de produção própria aos oligopolistas da energia?

Já pensou, como fez a Espanha, em rasgar os contratos leoninos e anti-democráticos (até cláusulas secretas têm!!!) negociados por baixo da mesa entre o estado e a corja rendeira da EDP e quejandos?

Já pensou em parar o descalabro das novas barragens negociadas entre o cabotino Mexia e o suspeito Sócrates?

Já pensou em defender no Conselho de Ministros a prioridade à ferrovia de bitola europeia, em vez de deixar crescer a fatura do transporte rodoviário de média e longa distância?

Já pensou num plano público, discutido democraticamente, de diminuição drástica da intensidade energética da nossa desgraçada e exangue economia, começando pelos gastos desmiolados de eletricidade em edifícios públicos?

Já pensou em limitar o uso de viaturas oficiais, nomeadamente as de topo de gama, pelos funcionários e agentes do estado, pelos governantes e pelos administradores das empresas públicas?

Resumir o balanço da sua política a uma guerra entre sacos de plástico e o mérito da descida do IRS para as famílias com rendimentos inferiores a 800 euros/mês é manifestamente pouco :(

O virtualmente imperceptível alívio fiscal, que beneficia sobretudo as famílias com rendimentos miseráveis, representa uma diminuição de receitas de IRS (e não um custo orçamental, como reza a crónica cínica do governo) na ordem dos 150 milhões de euros, a qual será suportada por todos, pois até as famílias mais pobres vão ao supermercado e usam sacos de plástico para transporte de produtos de mercearia, e para o lixo.

Bastava acabar com a Taxa do Audiovisual, que alimenta a imprestável RTP, para que todos poupássemos 140 milhões de euros por ano, e mais! Só este governo já enterrou mais de MIL MILHÕES DE EUROS na inútil RTP!

Bastava rever os orçamentos e os gastos injustificados da presidência da república, do parlamento e do governo, para pouparmos muito, muito mais do que os 150 milhões de euros que o ministro do PSD saca por um lado, para o ministro do CDS 'gastar' por outro!

segunda-feira, janeiro 12, 2015

Classes médias de todo o mundo, uni-vos!



Keiser Report en español: El despilfarro de la riqueza de Hong Kong (E704)

Karl Marx talvez tenha razão


As classes médias são hoje o proletariado teórico que serviu a Karl Marx para imaginar a Revolução Socialista como uma Revolução Permanente. Vem aí um novo ciclo revolucionário. Falta tão só desenhar a sua teoria e remover os oportunistas do caminho.

As classes médias, e em geral as profissões cognitivas, devem reorganizar-se social e culturalmente, deixando para trás a delegação de poderes políticos e a representatividade democrática nos corruptos partidos políticos atuais, no indigente sistema mediático dominante, e nas capturadas, decadentes e nada representativas instituições de representação política, social e corporativa saídas da Revolução Francesa.

As instituições democráticas, com particular relevância para os partidos políticos, associações de classe e mesmo as ditas ONGs, estão na sua grande maioria irremediavelmente corrompidas e tomadas por um único interesse e objetivo: manter as suas próprias vantagens de casta, embrulhando-as obviamente nas bandeiras dos interesses coletivos que, na realidade, analisadas as suas ações em profundidade, há muito deixaram de defender.

Entretanto, na China, o governo resolveu atacar a sério a corrupção (ou pelo menos, a corrupção que o precedeu): 65 mil detidos, e o objetivo de recuperar 300 mil milhões de dólares de dinheiro público capturado pelos tríades da corrupção.

Estão mesmo a perseguir piratas chineses em todo o mundo.

A pressão política sobre os governos, português, espanhol, americano, australiano, etc., para que facilitem os procedimentos judiciais para recuperar o dinheiro negro chinês espalhado pelo planeta está em marcha e terá consequências.

Eu, se fosse Pedro Passos Coelho, analisava com atenção o que se passa na EDP e pedia relatórios precisos sobre os investimentos 'privados' chineses em Portugal.

Os príncipes do dinheiro

Japão, 2005

Capitalismo de estado, ou banksterismo? Haverá uma terceira via?


E se todos expandirem o crédito ao mesmo tempo? E se o problema for económico, tecnológico e social, antes de ser financeiro e orçamental?

Seja como for, este vídeo é uma peça analítica fundamental para compreender uma parte crucial da crise sistémica do capitalismo global em mais uma das suas dolorosas metamorfoses.

O ponto de vista de Richard Werner — autor da expressão quantitative easing e do “Quantity Theory of Credit”, é a da defesa da expansão do crédito através de políticas monetárias controladas pelos cidadãos, ou seja pelos governos eleitos, em detrimento, portanto, do poder exagerado e perverso dos príncipes do dinheiro e das suas organizações sombrias.



Princes of the Yen, publicado no YouTube a 04/11/2014

“Princes of the Yen” reveals how Japanese society was transformed to suit the agenda and desire of powerful interest groups, and how citizens were kept entirely in the dark about this.

Based on a book by Professor Richard Werner, a visiting researcher at the Bank of Japan during the 90s crash, during which the stock market dropped by 80% and house prices by up to 84%. The film uncovers the real cause of this extraordinary period in recent Japanese history.

Making extensive use of archival footage and TV appearances of Richard Werner from the time, the viewer is guided to a new understanding of what makes the world tick. And discovers that what happened in Japan almost 25 years ago is again repeating itself in Europe. To understand how, why and by whom, watch this film.

“Princes of the Yen” is an unprecedented challenge to today’s dominant ideological belief system, and the control levers that underpin it. Piece by piece, reality is deconstructed to reveal the world as it is, not as those in power would like us to believe that it is.

“Because only power that is hidden is power that endures.”

domingo, janeiro 11, 2015

Quem matou Charlie Hebdo?

Chérif e Said Kouachi, comando terrorista ao serviço de quem?

NATO e François Hollande devem-nos explicações sobre o que realmente ocorreu!


O modus operandi do terrorismo —que inclui um vasto cardápio de soluções, como a sabotagem de infraestruturas críticas, o assassínio de personalidades, as matanças públicas e a crueldade exibicionista mais macabra (de que as decapitações transmitidas via Internet são a modalidade tecnológica mais recente)— é um modo de ação bélica antigo e que, normalmente, substitui os modos convencionais da guerra, seja como preâmbulo e/ou substituto pontual da mesma, seja como uma das práticas clássicas da guerrilha.

Em qualquer caso, estas ações militares, sobretudo quando são meticulosas, como o ataque fulminante à redação da revista satírica Charlie Hebdo foi, não se confundem com crimes de homicídio comum, nem são casos de polícia, como o lunático ex-ministro da administração interna e ex-ministro da defesa de dois governos do PS, Nuno Severiano Teixeira, quis irresponsavelmente fazer crer à opinião pública portuguesa.

Não, o que ocorreu em França nos dias 7, 8 e 9 de janeiro de 2015 não foi uma ação extrema de três fanáticos muçulmanos, mas sim uma operação especial bem coordenada, a qual dificilmente teria na agenda dos protagonistas o seu próprio sacrifício. Se a morte em combate dos três operacionais estivesse inscrita no plano inicial, não haveria plano de fuga, nem o assalto à mercearia judaica com retenção de reféns teria envolvido a exigência de uma via de fuga para os irmãos Kouachi, e muito menos a poupança das vidas da maioria dos judeus retidos como reféns na mercearia kosher em Port de Vincennes, Paris.

O facto de todos os envolvidos nos ataques serem pessoas bem conhecidas das polícias, e portanto dos serviços secretos franceses e de vários outros países, num país que assumidamente treinou e/ou armou e/ou financiou cidadãos franceses para combaterem na Síria contra o regime de Bashar al-Assad, deixa toda esta história envolta em suspeitas gravíssimas sobre quem poderá ter estado na origem da tragédia ocorrida em Paris — a qual visou obviamente atemorizar toda a França num ano eleitoral dominado pela crise económica e financeira, pelo desemprego em massa e pela desorientação completa do Partido Socialista Françês e de François Hollande face à enormidade dos desafios que encontraram pela frente desde que assumiram o poder.

Para já, o efeito imediato não foi o de copiar o modelo de suspensão da democracia e das liberdades escolhido desastrosamente pelos Estados Unidos. Esperemos, porém, pelos próximos capítulos do que parece ser uma radicalização da estratégia dos falcões americanos e israelitas de desestabilização da Europa e de confronto provocatório com a Rússia.

USA Today would also report (emphasis added):
The brothers were born in Paris of Algerian descent. Cherif was sentenced to three years in prison on terrorism charges in May 2008. Both brothers returned from Syria this summer.
The implications of yet another case of Western-radicalized terrorists, first exported to fight NATO’s proxy war in Syria, then imported and well-known to Western intelligence agencies, being able to carry out a highly organized, well-executed attack, is that the attack itself was sanctioned and engineered by Western intelligence agencies themselves,. This mirrors almost verbatim the type of operations NATO intelligence carried out during the Cold War with similar networks of radicalized militants used both as foreign mercenaries and domestic provocateurs. Toward the end of the Cold War, one of these militant groups was literally Al Qaeda – a proxy mercenary front armed, funded, and employed by the West to this very day.
Additionally, in all likelihood, the brothers who took part in the attack in Paris may have been fighting in Syria with weapons provided to them by the French government itself.  France 24 would report last year in an article titled, “France delivered arms to Syrian rebels, Hollande confirms,” that:
President Francois Hollande said on Thursday that France had delivered weapons to rebels battling the Syrian regime of Bashar al-Assad “a few months ago.”
Deflecting blame for the current attack on “radical Islam” is but a canard obscuring the truth that these terrorists were created intentionally by the West, to fight the West’s enemies abroad, and to intimidate and terrorize their populations at home.

quinta-feira, janeiro 08, 2015

Je suis CHARLIE

Wolinski

O CHARLIE HEBDO sai no próximo dia 14 de janeiro


É a resposta a quem decapitou mas não conseguiu cortar a língua da liberdade de expressão na Europa.

A barbárie perpetrada em Paris, que recentemente reconheceu o estado palestiniano, como muitos outros países já o fizeram, contando até com o apoio do parlamento europeu, tem que ser esclarecida.

Esta ação militar —esta operação especial— foi claramente realizada por profissionais, e corresponde aos manuais da chamada guerra assimétrica.

Que país ou organização ordenou tal operação? Quem pagou? A quem serve objetivamente esta carnificina?

Ainda é cedo para responder a estas perguntas, mas é preciso responder e agir em conformidade, sob pena de o descrédito nas instituições políticas europeias alastrar como uma verdadeira armadilha fatal às liberdades e democracias que tanto prezamos.

François Hollande está a um passo de entregar a França à direita nacionalista de Jean-Marie e Marine Le Pen. Tem pouco tempo para explicar ao mundo quem realizou a carnificina e o que esteve por trás desta provocação sangrenta.

Ilustração de Joep Bertrams

Os artistas e as pessoas de bem e democráticas, que prezam a liberdade antes de tudo o resto, em todo o mundo, estão contigo, CHARLIE!

Foi V. que pediu crescimento?

O crescimento está mesmo ao virar da esquina!



Quando um político lhe prometer crescimento, ria-se!


Há gráficos que explicam tudo, de forma simples e sem margem para dúvidas. O das vendas da Caterpillar é um deles, e o que compara a recompra de ações próprias (um desporto nacional também aqui na Lusitânia) com despesa de capital, também.

Portanto, quando a corja devorista e rendeira e os corruptos partidos que temos, que são todos os que se sentam na Assembleia da República (exceto os "Verdes" e o Bloco de Migalhas, que são tão insignificantes que foram excluídos deste festim), entoarem o cante do crescimento, já sabem: querem aumentar impostos, deixar correr o maremoto do desemprego e querem sobretudo safar a nomenclatura, de preferência à mesa da Travessa, comendo perdizes, asas de raia e fumando Habanos, pois claro!

Este regime acabou. Mas falta ainda preparar-lhe o funeral e enterrá-lo.

Outro contrato social e outra democracia, por favor!

Coke To Fire 1800, Caterpillar Laying Off 200
Zero Hedge, Submitted by Tyler Durden on 01/08/2015 11:40 -0500

Stocks are up nearly 2% today alone, with the S&P back to green for 2015. Among the reasons for today's rally: lower overhead courtesy of KO and CAT, which announced that between the two of them, they would fire some 2,000 workers, which is great news for stocks if not for actual employees as there will be even more dry powder for another record quarter of stock buybacks. 

terça-feira, janeiro 06, 2015

O último atum

Japão: o leilão do atum, uma das mais apreciadas e caras iguarias da dieta japonesa

Os atuns agradecem! Há sempre quem lucre com as grandes crises...


While Japan's population is toiling under what by now is insurmountable import price inflation, leading to soaring prices for anything that isn't produced domestically and has to be purchased with rapidly depreciating Yen, the reality is that - thanks to the biggest collapse in real wages in the 21st century - the deflationary mindest is now more embedded than ever. Case in point: the first tuna auction at Tokyo’s Tsukiji Market. It was here that earlier today the highest price for a bluefin tuna fell below ¥5 million for the first time in eight years, coming in at ¥4.51 million for a 180-kilogram tuna caught off Oma, Aomori Prefecture — in Zero Hedge.

Os preços baixaram, sim, mas porque o consumo caiu, ou seja, porque a depressão atinge profundamente os rendimentos do trabalho e dos próprios negócios na outrora segunda economia mundial. 

Lá como cá. 

Ou antes, se queremos saber o que se vai passar nos EUA e na Europa é só olhar para o que o Japão tem vindo a fazer há mais de duas décadas. Criar dívida como se vivesse num sonho acaba sempre em pesadelo. 

A verdade é que a procura agregada global está muito acima da oferta agregada global em condições de preço aceitáveis. Logo, durante mais de duas décadas, financiou-se artificialmente, i.e. com dinheiro falso, a produção, as infraestruturas e o consumo. 

O carroussel da inflação de que o sistema capitalista especulativo se alimenta lá foi andando até que estourou. E estourou mesmo! 

Aquilo a que vimos assistindo desde 2006-2008 são os efeitos deste estouro. Não há outra forma de descrever o fenómeno, que ultrapassa em muito a capacidade de gestão de danos por parte dos sistemas políticos instalados. No entanto, como o maremoto social vai continuar a crescer, haverá consequências... 

O melhor que podemos desejar é que esta mudança de ciclo longo (de crescimento inflacionista —acima dos 3-4%— para um ciclo longo de baixa inflação —entre 0 e 1%— dê rapidamente lugar a um NOVO CONTRATO SOCIAL, cuja filosofia e fundamentação teórica está ainda por compilar e sintetizar.

Em Portugal, o colapso do regime é uma excelente oportunidade para lançar UM NOVO CONTRATO DEMOCRÁTICO, o qual passa, evidentemente, por escrever, discutir por todo o país, e votar em sede constituinte UMA NOVA CONSTITUIÇÃO.

Vamos nisso?

Pobre Mário

Mário Soares
Foto ©Ana Nabais/ Sol

Ó Mário, meio milhão chega, não?


Quem diria! Como não há-de defender o Marquês de Maçada... atualmente a fazer jogging numa prisão alentejana.

SOL, 30 dez 2014: Desde 2011, o BES atribuiu à Fundação Mário Soares um apoio financeiro de 570 mil euros. O grupo liderado por Ricardo Salgado é assim o maior financiador da instituição do ex-Presidente da República, avança o Correio da Manhã.

O último financiamento no valor de 300 mil euros foi feito em Março de 2013, cerca de um ano antes da crise no Grupo Espírito Santo.

Ou seja, como o BES recorreu à lei do Mecenato para apoiar a Fundação Mário Soares, afinal fomos nós, os contribuintes saqueados, quem financiou, mais uma vez e mais uma vez por baixo da porta, dando, ainda por cima, os louros ao Tio Ricardo, a famosa fundação do Pai da Pátria.

O património desta fundação compõe-se, supomos, dos livros escritos, lidos e colecionados por Mário Soares, mais as cartas da prisão e as diplomáticas. Mas uma fundação tem que possuir fontes de rendimento próprias. Quais são, neste caso? Apenas a massa sacada anualmente aos contribuintes nacionais e autárquicos pela nomenclatura instalada, sem que os ditos contribuintes tenham uma palavra a dizer sobre o assunto?

É triste ver uma criatura descer tanto em tão pouco tempo. A III República será, pelo andar da carruagem, mais uma anedota da rápida decadência de Portugal à medida que foi perdendo o império, sem abdicar, porém, da mania das grandezas à custa do sistémico empobrecimento indígena.

PS: o último artigo publicado por MS no DN não deixa de ser mais uma prova do lamaçal em que este regime se afoga dia a dia. Então não é que Mário Soares propôs a Cavaco Silva um acordo de cavalheiros (ainda que sob a forma de ameaça grosseira) que não passa da falsa e básica alternativa do Dilema do Prisioneiro? Assim não se safa...


Última atualização: 6 dez 2015, 11:14 WET

segunda-feira, janeiro 05, 2015

O Tribunal Faz de Contas

Deitaram ao lixo mais de 950 milhões de euros, isso sim!


Uma demonstração simples de que o indígena Tribunal de Contas diz apenas as baboseiras que o poder político-partidário de turno lhe encomenda:

DANIEL GROS: "Muitos projectos ferroviários e rodoviários também avançam lentamente, devido à oposição local e não à falta de financiamento. Estas são as verdadeiras barreiras ao investimento em infraestruturas na Europa. As grandes empresas europeias podem facilmente obter financiamento a taxas de juro próximas de zero."
A Europa e a mania dos investimentos mal orientados
Jornal de Negócios, 05 Janeiro 2015, 10:09 por Daniel Gros

O que o TdC deveria fazer, ou seja, julgar e punir os descalabros das derrapagens orçamentais e os contratos leoninos contra o interesse público, não faz. Mas armar-se em gestor de negócios, já faz, caindo no ridículo, claro!

Além do mais, tanto o TdC, como o TC, não são verdadeiros tribunais, dignos de ostentar semelhante timbre, mas sinecuras partidárias ao serviço dos governos corruptos e/ou incompetentes de turno.

Neste caso, o frete tem um endereço claro: a teimosia encomendada de Passos Coelho relativamente ao famoso, mas que nunca foi, TGV, e as manobras do Sérgio das PPP em defesa da salamandra, que ainda mexe, do NAL da Ota em Alcochete, da Cidade Aeroportuária da Margem Sul propalada pelo adiantado mental Mateus, da TTT do sargento-ajudante Costa, em suma, dos pinheiros e das herdades onde a malta do BES e a corja do BPN, Soares e Cavaco incluídos, andaram, e pelos vistos ainda andam, objetivamente metidos!

Entretanto, a suspensão do projeto da ligação Poceirão-Caia já custou aos contribuintes, entre estudos pagos e por pagar, e verbas comunitárias deitadas ao lixo (que a França e a Espanha imediatamente recuperaram, claro!) perto de MIL MILHÕES DE EUROS (1). Quando é que a imprensa portuguesa fará o seu trabalho?

Temos que varrer este lixo, chamado Bloco Central da Corrupção, para bem longe.

Tribunal de Contas diz que alta velocidade não teria "viabilidade financeira"
Jornal de Negócios, 05 Janeiro 2015, 12:12 por Lusa

POST SCRIPTUM



O único motivo porque Portugal tem feito uma triste figura no que respeita às ligações ferroviárias em bitola europeia de Lisboa-Madrid, Lisboa-Porto e Porto-Aveiro-Salamanca, sabotando reiteradamente os compromissos com Espanha e com a União Europeia (Ver Mobility and Transport e TEN-T in EC) tem sido a tentativa do Bloco Central da Corrupção Alargado (PS-PSD_CDS/PP e PCP) de favorecerem o negócio da destruição do Aeroporto da Portela e da construção de um mega-aeroporto (na Ota, ou em Alcochete, tanto faz). Os argumentos pseudo estratégicos (2) com que vendem a patranha ao lóbi militar da importação de submarinos, helicópteros e blindados todo o terreno são conversa de vigaristas que só convence quem quiser ser convencido. O argumento da falta de dinheiro é, especialmente neste caso, uma mentira pegada e escandalosa, pois se há investimento estratégico que conta com avultados fundos da UE é precisamente este!

No entanto, haveria que investigar qual o peso que a perda do concurso para a construção da famigerada —e essa sim, ruinosa e criminosa— TTT Chelas-Barreiro, da Mota-Engil para o consórcio espanhol, ditou a sentença abusiva do TdC sobre a ligação ferroviária Poceirão-Caia.

Detalhe do mapa das ligações ferroviárias prioritárias na UE. TEN-T, Set. 2014


NOTAS

  1. Leia o que escrevíamos em dezembro de... 2012 neste mesmo blogue.
  2. Imaginem que a Bélgica pensava da mesma maneira que as grandes inteligências pardas da Lusitânia...

    Ligações ferroviárias atuais (GoEuro-Planear Viagens) entre a Bélgica e três poderosos países vizinhos

    —Bruxelas-Londres: 11 comboios diretos/dia
    —Bruxelas-Paris: 10 comboios diretos/dia
    —Bruxelas-Colónia: 7 comboios diretos/dia

    Pela lógica dos acagaçados estrategos que temos, a Bélgica já teria sido toda trincadinha pelos papões franceses, alemães e ingleses!

Última atualização: 5/1/2015, 23:38

OAMINDEX


Cubas de cerveja em De Halve Maan (Straffe Hendrik) Brewery. Bruges.

As bolsas estão puidinhas e cheias de buracos. Que digo? De buracões!


Preciso de um especialista em mercados financeiros para montar o OAMINDEX. A sério!

Há uma série de produtos neste planeta onde vale a pena investir, e onde as rentabilidades são mais do que interessantes e estáveis. Não hesite em falar com O António Maria, se estiver preparado e a ideia lhe agradar ;)

Vem aí uma guerra civil?

Rafael Bordalo Pinheiro. O António Maria, 29JUN1882


Anónimo:

Pelas respostas que Sócrates deu à TVI fica demonstrado que ele conhece bem o processo e os fortes indícios de que é acusado.

Aliás, já se sabia que o processo de Sócrates tem 800 páginas e quase 1 ano de escutas telefónicas.

O QUE DIZ A LEI

Em Portugal nenhuma pessoa pode ser presa preventivamente sem que o respectivo advogado tenha acesso, previamente, ao seu processo. E foi isso que precisamente aconteceu!

PRÓXIMA ESTRATÉGIA DE SÓCRATES E SEUS AMIGOS

No início, Sócrates e seus amigos montaram uma campanha para fazer crer ao povinho que a sua prisão é uma injustiça e uma ficção.

A próxima campanha vai passar por aniquilar as escutas telefónicas. O que exige bons advogados. Foi assim que a Felgueiras se safou.

Nos Estados Unidos as escutas telefónicas são sempre válidas como meio de prova. Em Portugal, os bons advogados safam os ricos e poderosos porque conseguem anular as escutas telefónicas.

EMIGRANTES, ATENÇÃO AO VOSSO DINHEIRO!

O regime está em risco de se desfazer e é óbvio que se os piratas que arruinaram o país levarem a sua por diante, resgatando Sócrates e as tríades que o pariram da punição que merecem, então a possibilidade de cairmos numa guerra civil é real.

Como noutras eras houve, também daqui a um, dois ou três anos, se a Justiça for humilhada como propõe Mário Soares, e se o psicopata de Évora sair triunfalmente da jaula mediática que entretanto montou, haverá sempre alguns euros, yuans e dólares para amarrar e queimar umas centenas ou mesmo alguns milhares de portugueses indigentes com os respetivos cachecois partidários.

De uma coisa os credores estão certos: há que pagar as dívidas. Se estas enriqueceram a nomenclatura e arruinaram um país chamado Portugal, o problema é sobretudo dos devedores.


A indigente e decadente nomenclatura partidária, tal como a corte de Luis XVI, apenas vê o seu transversal umbigo, que vai da extrema-esquerda à direita (a extrema-direita ainda dorme). O demo-populismo é a sua verborreia, o povo partidário e os dependentes do estado são a sua única clientela, o parlamento é o seu pardieiro preferido, onde abundam perdizes, pombos torquazes, cagarras e alguns porcos a cair de gordos, em suma, a captura fiscal de quem produz é o modo como se guindaram à casta dos 1% e destruiram o país por mais de meio século.

A partidocracia que reduziu a democracia aos escombros da miséria material e moral que tolhe o país a cada hora que passa, acha que tudo se resolve com umas asas de raia na Travessa, e uns charutos pelo meio. Quando acordar deste sonho doce, porém, já só verá o mundo como uma imagem turva e fugaz rodeada de um definitivo silêncio.

segunda-feira, dezembro 22, 2014

O acontecimento do ano

Brasões de um Portugal agoniado

O colapso do regime começou pelo nó promíscuo entre o PS e um banco do regime


O colapso do BES é, apesar de tudo, mais importante, pelas piores razões, do que a também vergonhosa prisão de um ex-primeiro ministro de Portugal, por suspeitas de corrupção, lavagem de dinheiro e fraude fiscal.

Um ano horrível para Portugal.

Curiosamente, ambos os colapsos, económico-financeiro e político-partidário, têm origem num erro de cálculo de Mário Soares.

Pertence à Maçonaria?

Beija-cu, portal da catedral de Saint-Pierre, Troyes, sec. XII.

A propósito de uma tempestade parlamentar e do perigo da caça às bruxas


Eu preferia que as Maçonarias e as Opus Dei, que são ou se tornaram grupos de pressão, tal como as igrejas, os partidos políticos, as confederações patronais, as ordens profissionais e os sindicatos, fossem instituições públicas, quer dizer formalizadas e escrutináveis. O que não significa transformá-las em peep-shows da laia da Casa dos Segredos.

E preferia, assim, que houvesse igualdade de oportunidades e um regime de incompabilidades, racional e transparente, no exercício de cargos públicos, mas também na concorrência privada.

Como as coisas estão, sem discutirmos estes temas, incidentes como o que ocorreu na Assembleia da República em volta da indigitação do próximo diretor do SIS tenderão a ser recorrentes.

“Está disponível para divulgar o seu registo de interesses e revelar se pertence a alguma sociedade secreta de natureza maçónica no âmbito da qual tenha deveres de obediência que possam, por essa via, pôr em causa a prioridade do interesse público?” — Teresa Coelho, deputada do PSD.

“Tenho dever de obediência à Constituição da República, à lei, à ética e à minha consciência” — Neiva da Cruz, novo diretor indigitado do SIS.

“Pertence ou não à maçonaria ou a alguma associação secreta que condicione ou influencie o cumprimento das suas funções?” — Teresa Coelho, deputada do PSD.

“Não me sinto condicionado por absolutamente nada, a não ser pela lei” — Neiva da Cruz, novo diretor indigitado do SIS

in Observador, 19/12/2014, 17:10

Recebi a este propósito uma correspondência de que transcrevo dois notáveis emails em defesa da liberdade individual, nomeadamente da liberdade de organizar e fazer parte de uma agremiação secreta e elitista desde que de semelhante praxis não resultem conflitos com as leis gerais, nem o prejuízo de terceiros.


Email de Jorge Paulino Pereira

Caro Eng.,

1. Li o texto que me enviou. Não tinha sabido o que se passara na Assembleia Nacional, ou Assembleia da República, e fui tentar perceber o que ocorrera.

Confesso que fiquei chocado que alguém, na sua qualidade de deputado, tivesse perguntado a uma qualquer pessoa que irá ocupar um lugar público e com um carácter de quase interrogatório policial, se ele era maçon. Não perguntou se ele era católico ou islâmico, se era da Opus Dei ou de uma Ordem religiosa, se ele era do Benfica, do Porto ou do Sporting, se ele gostava de meninas ou se era homossexual. Mas pela mesma forma de pensar, poderia também ter feito essas perguntas, o que me parece mal e profundamente incorrecto porque obviamente nenhuma destas questões se deveria colocar a alguém que vai exercer um cargo público.

2. Ao pensar nisto tudo, veio-me à memória Fernando Pessoa. Ele defendeu a liberdade das pessoas se associarem entre si da forma como quisessem quando, em 1935, um tal deputado Cabral impôs no Parlamento uma lei contra associações secretas.

Essa lei foi aprovada, por larga maioria, pelos deputados do Estado Novo. Contudo, na prática, foi utilizada apenas como instrumento de dissuasão e nunca foi legalmente aplicada para condenar mações do Grande Oriente Lusitano Unido (GOLU), a única Obediência Maçónica então existente.

Essa lei tinha em mente essencialmente atacar e desfazer as carbonárias anarco-sindicalistas e comunistas que ameaçavam, revolucionariamente e de forma violenta, o status quo social (e obviamente o status quo político). No entanto, impôs que organizações iniciáticas e secretas (como o Grande Oriente Lusitano Unido ou outras de carácter irregular associadas a antigas ordens religiosas ou do tipo alquímico) se tornassem de facto clandestinas.

Mais tarde, também foi sugerido que esta mesma lei fosse utilizada para impedir que a Opus Dei se instalasse em Portugal porque ela era vista, por certos sectores do regime de então, como uma estrutura secreta e iniciática que pretendia tomar o poder (curiosamente, Salazar e Cerejeira foram sempre contra a Opus Dei porque diziam que ela representava a vinda dos Novos Jesuítas. E apesar de não ser público, e agora a sua forma de pensar até ter sido completamente distorcida pelos pseudo-historiadores da actualidade, Salazar e Cerejeira e Bissaia Barreto foram sempre todos anti-jesuítas na sua mocidade, estando na onda do que defendia o então Bispo de Coimbra, também ele, ferozmente anti-jesuíta).

3. E porque é que Fernando Pessoa defendeu a Liberdade de existirem Associações Iniciáticas e secretas ou quaisquer outras?

Porque ele defendia a Liberdade Humana, ou a Liberdade do Indivíduo (ou liberdade individual), ou a liberdade de pensar e de actuar de cada um dos homens que vive temporariamente nesta Terra, como um ser racional.

Defendia que cada homem podia fazer o que quisesse e o que lhe apetecesse, desde que não colidisse com a Liberdade do seu outro vizinho. Só um pensamento sem baias e sem condicionalismos de qualquer ordem pode dar a dimensão transcendental ao Homem. Uma pessoa só é verdadeiramente livre quando puder pensar como quiser, se puder contactar com outros como entender, se puder falar como achar correcto. Ou seja, o Homem só será livre quando for livre o seu pensar e quando estiver livre o seu Pensamento e a sua acção do dia-a-dia.

E o Homem, como ser racional, deve questionar tudo: a existência de Deus, a estupidez humana, a existência de vida para além da Morte, os princípios e valores inerentes à forma deste ou daquele pensar ou actuar, os credos políticos e religiosos, os caminhos que ele acha serem os correctos para se emancipar.

Nesse âmbito, as pessoas têm o direito de se associarem fraternalmente entre si do modo como pretenderem, independentemente ou dependentemente, dos seus credos políticos ou religiosos, ou dos seus gostos pessoais, confessionais ou clubísticos. As pessoas podem-se associar num grupo de amigos, ou numa organização qualquer, ou numa tertúlia, ou nos almoços de 3ª feira ou de 4ª feira ou de outro qualquer dia da semana ou do mês. E podem ter os seus critérios, manias, rituais ou quaisquer metodologias estranhas para organizar e proceder aos seus trabalhos, se assim o entenderem.

Podem começar o almoço por saudar um qualquer ente desaparecido ou o chefe bem-amado, ou Deus ou o Partido Político onde estão. Não interessa! Podem fazê-lo, se assim o quiserem. Ou antes, devem ter a Liberdade de o poder fazer. Podem e devem fazê-lo em Liberdade, sem que sejam importunados por isso. Afinal, para mim, as revoluções do 25 de Abril e do 5 de Outubro e todas as demais revoluções, só servem para alguma coisa, se for esse o princípio básico que estiver subjacente a elas. Só a Liberdade leva à Democracia.

Fernando Pessoa considerava que essa Liberdade  era o princípio basilar da Democracia. E a Democracia pressupõe a igualdade das pessoas serem respeitadas por todos os outros e não serem excomungadas ou perseguidas ou discriminadas. E se houver entre essa gente um qualquer espírito de comunhão religiosa, política ou qualquer outra, não serei eu que lhes irei atirar uma pedra ou que os procurarei perseguir ou destruir. Como também não deve haver qualquer outra pessoa que o possa fazer, em nome da Democracia ou da Santa Liberdade.

Se forem católicos e se se encontrarem secretamente, não devem ser perseguidos; se forem protestantes e se quiserem ter os seus conciliábulos, não devem ser importunados; se forem maçons e se se juntarem, não devem ser inquiridos ou questionados. A Liberdade de Pensamento pressupõe a Liberdade  de Associação e a liberdade das pessoas se juntarem do modo como entenderem.

E só pela Polícia (e nunca por uma deputada de um qualquer parlamento) as pessoas devem ser inquiridas se pertencem a uma qualquer associação, seja política, seja religiosa, seja clubística, confessional ou doutro tipo.

Tal como não se espera que nenhum deputado venha a perguntar a alguém, no âmbito da sua função de deputado, se ele é paneleiro ou se ela é fressureira, qual a forma como gosta de fazer amor com a mulher, ou se reza o terço à noite antes de se deitar ou se vai à missa aos domingos e dias santos, ou se vê os jogos do Benfica, do Sporting ou do Porto em casa deste ou daquele amigo, e que tipo de bebida é que toma, e se se encontra às 2ªas feiras ou aos fins-de-semana com estes ou aqueles amigos.

Um deputado, ou deputada, não pode, nem deve, fazer esse tipo de perguntas, sob pena de se auto-excluir como deputado (ou deputada). Ponto final parágrafo.

4. Segundo consta e também por aquilo que estudei, a Maçonaria é uma organização iniciática que, teoricamente, procura agrupar gente que tem certo tipo de valores e de princípios; e onde está, com certeza, gente que tem esses princípios e valores; e também gente que não tem esses mesmos princípios e valores e que obviamente deve representar uma pequena minoria no seio da maioria.

E todos eles devem poder agrupar-se e associar-se entre si, sem que para o efeito sejam importunados. Como as pessoas da Opus Dei se devem poder associar e agrupar nas suas reuniões, e devem poder defender os seus valores e os princípios que entendem ser os correctos, Como qualquer franja ou tendência de um Partido Politico se pode agrupar, dentro dele ou fora dele, para formar um conjunto restrito de pessoas que pensam de certo modo e que secretamente procuram levar a sua organização partidária para um certo objectivo que eles consideram correcto.

Eu sou o mais tolerante possível. Acho que este princípio de associação e de reunião deve ser estendido aos comunistas e aos fascistas e aos anarquistas, aos socialistas ou aos conservadores, aos republicanos ou aos defensores da Monarquia. São livres de pensar e de se reunir e não devem ser questionados por isso. Todos se devem poder associar do modo como entenderem, todos devem ter a liberdade de poderem exprimir os seus propósitos e ideais e princípios, mesmo que sejam contrários à forma de viver da maioria das outras pessoas.

Compete ao Estado saber se eles são perigosos ou não. E, se o forem, no âmbito das leis que regem esse país, poderão ser perseguidos. Mas apenas quando provoquem situações que provoquem revoluções ou banhos de sangue (e mesmo assim, mais tarde, os que lhes sucederem até podem consagrar esses tais extremistas mortos ou presos, como seus heróis ou heróis nacionais).

5. Aliás, Fernando Pessoa era muito mais tolerante e liberal do que a grande maioria das pessoas e entendia que as minorias não deveriam ser anuladas. Por isso também defendeu, no seu tempo, a liberdade da existência de paneleiros. Ele não era homossexual, mas entendia que quem quisesse ser, podia sê-lo e não deveria ser perseguido por isso.

As minorias não devem ser perseguidas embora não seja obrigatório que se tenha de estar obrigatoriamente com elas. Cada qual pode escolher os amigos e as pessoas com quem quer estar, ou com quer falar, ou com quem quer conviver ou reunir.

Contrariamente ao que também consta por aí, posto a circular obviamente por paneleiros ou seus defensores (e depois pelos muitos historiadores de meia-tigela ou da moda que pululam por cá), Fernando Pessoa não era homossexual. Até vou relatar um episódio verídico e curioso que me foi contado por um amigo meu que era chegado à família de Almada Negreiros.

A viúva de Almada Negreiros ter-lhe-á contado que Fernando Pessoa, volta e meia, “ia às putas” e tinha geralmente umas duas ou três raparigas, que eram certas durante algum tempo. Procurava-as, esvaziava os tomates, e conversava com elas durante pouco tempo antes de se ir embora. Sobre uma dessas prostitutas, que o atraiu mais ou que despertou o seu sentido poético, compôs uma qualquer quadra ou poema.

Ora, um dia, Fernando Pessoa apanhou uma blenorragia com essa rapariga, o que foi um caso sério porque não era a primeira vez que ele tinha tido esse mal. Mas acho que, daquela vez, terá sido particularmente doloroso e, na época, ainda não havia penicilina para tratar essa doença.

Mais tarde, num grupo de amigos, alguém terá comentado que a Poesia era um Bálsamo para todas as doenças e que curava todos os males. E, com a sua ponta de humor britânico, de carácter arguto e de fino estilo, Fernando Pessoa disse que não era bem assim. E, como exemplo, disse que tinha estado com uma puta a quem tinha feito uns versos, e essa poesia e versos não o tinham safado de ter apanhado um valentíssimo esquentamento (blenorragia) por ter relações com ela.

6. Agora, algumas informações de carácter histórico. Contrariamente ao que se diz por aí, Fernando Pessoa  não era maçon do Grande Oriente Lusitano Unido (GOLU ou GOL), única obediência maçónica então existente. E apesar de não o ser, defendeu abertamente a liberdade de existência dos maçons do GOLU ou GOL e o direito à legalidade institucional da Maçonaria Portuguesa e noutros países.

E neste caso também é espantoso como se fabrica a História, invertendo completamente a realidade para servir propósitos de grupo ou para arranjar acólitos ou heróis para engrossar o grupo dos que defendem um qualquer tipo de pensamento.

Contudo, Fernando Pessoa pertencia a uma organização secreta e iniciática onvde estavam Bissaia Barreto e Salazar e Cerejeira e Duarte Pacheco e Almada Negreiros e Cotinelli Telmo e Mendes Cabeçadas e Carmona e muitos mais, que formaram a elite do regime implantado no 28 de Maio de 1926, E onde, antigamente ou no seu tempo, tinha estado gente que pouco tinha a ver politicamente com estes, como Alexandre Herculano e Norton de Matos e José da Silva Carvalho e Fontes Pereira de Melo, e António Augusto de Aguiar e Teófilo Braga, e António José de Almeida e Batalha Reis e Brito Camacho e muitos mais. Afinal, foi esta gente que constituiu a nata do Estado Novo e a nata da organização das comemorações nacionalistas e nacionais do século 19 e a nata da Monarquia e da República. E essa organização sobreviveu no Estado Novo, sem obviamente nunca ter sido questionada por ninguém, apesar de ser iniciática e secreta, porque tinha no seu seio, o poder, e também o contra-poder; enfim, porque agrupava as elites de Portugal.

Que isto ajude a fazer a luz em alguns espíritos que se julgam iluminados, sem o serem…

Melhores cumprimentos

Jorge Paulino Pereira


Réplica do Eng.
[...]

Resposta de Jorge Paulino Pereira

Caro Eng.,

1. Eu falo por mim e represento-me a mim próprio. Não falo pelos maçons nem pela Maçonaria... Eles devem-se representar a si próprios, a título individual; e os chamados altos graus da Maçonaria devem falar por ela, a título de representantes das várias Obediências Maçónicas a que pertencem. E actualmente há muitas Obediências maçónicas, como sejam o Grande Oriente Lusitano, a Grande Loja de Portugal, a Mênfis-Misrain, a Maçonaria Feminina, etc, etc, etc. E, para além destas estruturas que se assumem como maçónicas, há muitas outras, secretas e de caracter iniciático e que até são mais restritas porque de mais dificil acesso e divulgação e entrada de membros.

2. Aliás, o Mundo tem estruturas iniciáticas deste tipo, bem montadas e protegidas, e que envolvem até pessoas de vários países, numa rede que passa despercebida à maioria das pessoas e que envolve os sectores financeiros e os sectores políticos e os sectores religiosos. Desse modo, às vezes, do nada surge um nome de uma pessoa que ninguém conhecia e que, de um momento para o outro, aparece na ribalta e parece ter sido sempre uma figura de proa sem que ninguém o soubesse... Os Estados poderosos infiltram essas estruturas restritas de poder para daí tirarem os seus proveitos ou defenderem os seus interesses. E não vou falar nem da Assembleia dos 500, nem do Grupo de Bildeberg, etc. Em suma, os maiores países (e o Mundo em geral) são governados, geridos e perspectivados por elites que se agrupam nos vários países e que, não raramente, têm uma organização transnacional.

3. Em Portugal, os problemas que têm ocorrido com o SIS, envolvem alguns maçons da Grande Loja de Portugal. Não devem ser generalizados para todos os casos, como a imprensa sensacionalista o faz. Também é sabido que alguns maçons, que pertencem a esta e outras Obediências, têm desempenhado lugares públicos e cargos privados, de forma pouco abonatória (em minha opinião, alguns são verdadeiros ladrões e traidores à Pátria, e deviam ter sido afastados das Obediências a que pertencem, se os valores e príncipios que são propalados como sendo os da Maçonaria, fossem seguidos). Mas todos eles, apesar de maçons, fazem-no de forma individual e não como tendo organizado essa estratégia no seio da Maçonaria (e isto apesar de poderem estar envolvidos vários maçons de uma mesma loja ou Obediência maçónica)

4. Permita-me que lhe diga o seguinte: eu defendo que só as elites devem governar um país porque só elas têm os conhecimentos e o saber para o poderem levar para a frente. Foi assim com a Ordem dos Templários e a Ordem de Cister na primeira dinastia, e depois com a Ordem de Cristo e a Ordem de Cister, no período áureo dos Descobrimentos. E também defendo que as elites devem estar agrupadas entre si em organizações de carácter restrito (fechado ou não, mas sempre mais ou menos com carácter secreto). Um País não pode, nem deve, ser governado pelas claques de futebol, embora elas sejam uma maioria. A ignorância e o oportunismo são sempre os apanágios das grandes massas populares ou das massas uluantes como lhes chamo (até apresentei uma Teoria das Massas Ululantes num dos livros que escrevi - J. “Lisa ou a Pentalogia das Cores”).

5. Em conformidade, não acho que seja Democracia o sistema existente em que vivemos e que eu apelido de “Partidocracia”. Actualmente, os Partidos são viveiros de políticos incompetentes e oportunistas que chegam a Primeiros-Ministros em organizações pretensamente abertas e que de facto são dominadas por uma minoria (por vezes, quase parecem ser gente indigente, quase gangsters ou gente que defende os seus interesses e que se reune em reuniões secretas antes de tornarem públicos os seus intentos). E obviamente, não são nas estruturas maçónicas que eles pensam e organizam essas tomadas de poder. Mas fazem-no, em reuniões secretas que ninguém contesta e que toda a gente sabe que existem (afinal, as mesmas críticas que apontou à Maçonaria...)

6. Contudo, é normal que os amigos defendam os amigos, não só no dia a dia, como na política e na sua carreira profissional. Pela sua forma de ver as coisas, então isso queria dizer que organizações como o Rotary ou o Lyons, ou a Opus Dei, ou Associações Empresariais, ou o Benfica ou o Sporting ou o Porto, não deveriam existir, porque pode ter a certeza absoluta que, em todos os lados, os amigos se protegem uns aos outros; que, em todos os lados, os lugares disponíveis são distribuídos pelos amigos; e que, em todos os lados, funcionam “irmandades” que levam “os amigos” a se protegerem entre si. Afinal quando nós nos encontramos e trocamos opiniões nesta tertúlia ou noutra, estamos a fazer uma irmandade de troca de opiniões. E depois exprimimos os nossos pontos de vista também escudados por aquilo que foi essa vivência comum, mesmo que não nos encontremos em almoços ou jantares ou reuniões.

7. Contrariamente ao que se diz por ai, a Maçonaria no século 19 não foi perseguida e eram maçons que estavam na estrutura de poder porque representavam a elite de então. Quase todos os primeiros-ministros de Portugal no século 19 ou 20 eram maçons de várias obediências ou passaram por elas. Os maiores escritores e investigadores de Portugal eram maçons de várias obediências ou passaram por elas. Os próprios reis de Portugal eram maçons ou estiveram em organizações iniciáticas. Importa também registar um aspecto: no século 19, havia poucas centenas de maçons, mas não eram todos da mesma obediência. Por exemplo, o Duque de Saldanha era de uma, Passos Manuel de outra, Costa Cabral de outra (no meu livro A Maçonaria Portuguesa em Torres Vedras desde os os inicios do século 19 até 1910 esse assunto está bem discriminado e explicado). Aliás, eu tenho em preparação um livro (ainda muito atrasado) que mostra que em Portugal desde a sua fundação foram sempre organizações iniciaticas que asseguraram o poder, o governo e a gestão do território. E ainda bem...

8. Em minha opinião, o problema só existe quando passamos a ter Obediências maçónicas que servem os interesses de outras obediências maçónicas estrangeiras e não os interesses de Portugal. Por exemplo, nos inicios e meados do século 19, é obvio que houve maçons portugueses que estiveram ao serviço dos interesses da França e outros ao serviço dos interesses da Inglaterra. E empurrraram as obediências a que pertenciam nessas direcções por vezes afectando seriamente o interesse nacional. E nestes casos, eles até se perseguiram uns aos aoutros, apesar de todos dizerem defender os mesmos valores e príncipios da Maçonaria e serem todos maçons, embora de diferentes obediências.

9. Para concluir: compreendo o seu ponto de vista e a sua preocupação e até concordo com os seus receios. O que descreveu e o que o apoquenta nunca deveria acontecer em qualquer Obediência maçónica (e julgo que não acontece...). Tendo presente o que enunciei, neste e-mail e no anterior, também entendo que não se deve perseguir a Maçonaria ou os maçons, ou a Igreja e os padres, como se não deve perseguir ninguém pela forma como pensa ou como está integrado num grupo de pessoas ou amigos. E, por isso, continuarei sempre a defender a Democracia baseada na Liberdade Individual e na Liberdade de todos os seres humanos, independentemente da forma como pensam ou como vivem nas suas variadas vertentes do dia a dia.

10. Por isso, entendo que a questão colocada pela deputada na 6ª feira é inadmissível porque é uma intromissão no círculo de privacidade de uma pessoa que está a ser avaliada no âmbito de um lugar ou posto na função pública portuguesa.


Melhores cumprimentos

Jorge Paulino Pereira

domingo, dezembro 21, 2014

Já somos a Grécia!


A tentação grega não desiste

El primer ministro griego, Andonis Samaras, ha lanzado este domingo una oferta a la oposición para participar en un Gobierno "proeuropeo" a cambio de facilitar la elección como candidato a la presidencia de la República del conservador Stavros Dimas. El diario . es

Esta óbvia gralha iconográfica dá bem a medida da ignorância de alguma imprensa digital. Mas a verdade é que 2015 se apresenta com céu muito nebuloso, e o espetro da Grécia paira, não só sobre Portugal, mas sobre toda a Europa!

2015: o ano novo chinês!

A China (20/12/2014) teste de lançamento um ICBM com múltiplas cabeças nucleares

Em 2015 a China será o banco do mundo, e já tem força militar para tal


China Tests ICBM With Multiple Warheads
Clinton-era tech transfer aided multi-warhead program

BY: Bill Gertz   
The Washington Free Beacon, December 18, 2014 5:00 am

China carried out a long-range missile flight test on Saturday using multiple, independently targetable reentry vehicles, or MIRVs, according to U.S. defense officials.

The flight test Saturday of a new DF-41 missile, China’s longest-range intercontinental ballistic missile, marks the first test of multiple warhead capabilities for China, officials told the Washington Free Beacon.

sábado, dezembro 20, 2014

2015: os dois erros fatais de Mário Soares e o fim deste regime

Soares diz que o Governo está "moribundo" e "vai cair" (outubro, 2013)
© Daniel Rocha/Arquivo

José Sócrates e Jorge Coelho foram os testas de ferro de Mário Soares, e perderam. Nem Ricardo Salgado os salvou. Muito pelo contrário!


Soares começou por avaliar mal a China e Angola, crendo que a Europa e os amigos do seu amigo Frank Carlucci, que cairiam parcialmente em desgraça depois do 11 de Setembro, nomeadamente em Portugal, lhe manteriam as costas quentes para dizer o que quisesse, de modo cada vez mais incontinente, e para mover as suas tropas à vontade no território manifestamene exíguo do país que sobrara da implosão do nosso exangue império colonial.

Soares não estudou e por isso não conseguiu ver o óbvio: que a China precisaria de África e da América do Sul para a sua própria sobrevivência estratégica e crescimento sustentado. Não percebeu que a projeção global da China em direção ao Atlântico se faria naturalmente através de uma ligação entre Pequim (com Xangai e Macau) e Maputo, Luanda, Lisboa e Brasília (além de Buenos Aires e Caracas). Não leu os meus posts, onde escrevi, entre outras coisas, que a China estabelecera o ano de 2015 para se tornar o banco do mundo (incluindo o banco da América, da Rússia e da Europa), e assim passar a ser, de facto, a nova e única potência global em condições de desafiar a supremacia do império americano.

Observação: nesta nova divisão do mundo é preciso lançar a iniciativa de uma espécie de novo Tratado de Tordesilhas (a que chamei Tordesilhas 2.0), sob pena de, se algo de semelhante não for conseguido, Ocidente e Oriente cairem outra vez numa dinâmica de confrontação extremamente perigosa. Um alinhamento acéfalo e cobarde da Europa com os Estados Unidos só poderá dar péssimos resultados, como estamos neste momento a ver e perceber, finalmente.

A desastrosa política da NATO, comandada desde Washington, acossando e provocando as fronteiras da Rússia, mergulhou a Europa numa gravíssima crise de liderança.

Esperemos que Angela Merkel, que conhece bem os russos, tenha a sabedoria de reencaminhar a União Europeia para uma cooperação estratégica com Moscovo, em nome de uma Eurásia livre da prepotência americana. A Rússia precisa da ligação ferroviária entre Lisboa e Vladivostoque para se proteger da excessiva importância da ligação ferroviária Pequim-Madrid—que só não chega ainda a Lisboa porque o lóbi pirata do aeroporto da Ota em Alcochete conseguiu, até agora, condicionar a ação de Passos Coelho (1).

Por todos os motivos, neste particular aspeto da movimentação tectónica em curso, Portugal só tem uma opção estratégica que valha o nome: manter-se fiel à sua geografia, fiel às suas velhas alianças, mas também fiel à memória histórica, à sua memória histórica!

Ser um pequeno mas confiável parceiro do Ocidente e do Oriente onde estivemos ao longo dos últimos 600 anos—de facto até ao início deste século, pois Timor só obteve a sua independência efetiva em 2002— é uma missão histórica e a nossa principal estratégia para todo o século 21. Quem não percebeu ou não quer perceber esta subtileza histórica não tem lugar no futuro e deve, desde já, deixar de atrapalhar o presente.

Em Macau, para onde Mário Soares enviou uma tropa fandanga de aventureiros, ficou uma mancha terrível de corrupção grosseira e insaciável. Em Angola, Soares não só apoiou o cavalo errado, como teve mau perder e, desde então, foi sempre fustigando José Eduardo dos Santos, movendo sempre que quis a indigente imprensa local para denunciar a cleptocracia de Luanda.

José Sócrates bem tentou agarrar a areia com as mãos, quer dizer, bem tentou entrar no novo filão estratégico a que os país está destinado, viajando para Luanda, Maputo, Macau, Pequim, Caracas, Brasília. Até enviou o BES para Angola e para a China, onde mal estava presente. Até destacou a Mota-Engil para Angola, Moçambique, Brasil e alguns países mais da América Latina. Mas houve algo que falhou. O que foi? Só encontro uma explicação: a perceção de que Sócrates, Jorge Coelho e o resto da tríade de Macau era afinal a malta fixe do velho Mário Soares e do seu ajudante de campo, António Almeida Santos!

Que há de errado nesta configuração? Talvez isto: o aliado africano de Mário Soares foi Jonas Savimbi, e o aliado chinês chamou-se Stanley Ho — um milionário que perdeu 89% da sua fortuna em 2008 e cujos numerosos descendentes andam envolvidas em disputas de herança.

Como Mário Soares nunca fez as necessárias agulhas para os verdadeiros poderes da China e de Angola, e em Moçambique se manteve neutro, dificilmente se poderia esperar que o futuro das estratégias de Pequim e de Luanda passasse por velhos inimigos, ou por gente que se portou tão mal em Macau e nunca verdadeiramente olhou para Pequim com a atenção devida.

Na linhagem descendente e alinhada de Mário Soares, ninguém tentou mudar de direção exceto, em boa verdade, José Sócrates. Acontece, porém, que a mudança de direção teve mais de deriva oportunista do que estratégia. Basta ver a sanha moralista da deputada Ana Gomes, ou do filho de Mário Soares, João Soares, contra a cleptocracia angolana e a ditadura chinesa, para que fique claro que o Partido Socialista e os seus governos não são aliados confiáveis da China, nem muito menos de Angola.

Entretanto, José Sócrates e a sua turma de corruptos e irresponsáveis levaram o país à pré-bancarrota, deixando a maioria dos bancos portugueses na ruína, entregues a uma fuga criminosa de capitais e à ocultação de passivos mais ou menos clandestinos. Sem dinheiro, os banqueiros despediram Sócrates e o governo. O PS viria a perder compreensivelmente as eleições a favor de uma nova geração do PSD, capitaneada por Pedro Passos Coelho.

À medida que foi preciso corrigir o país, os casos de corrupção começaram a saltar.

Por outro lado, a estratégia diplomática portuguesa acertou o passo com a racionalidade e o pragmatismo, obtendo um significativo apoio por parte da China e de Angola. Foi isto que enfureceu Mário Soares e a corja corrupta do PS, mas também muita gentinha igualmente corrupta do PSD e do CDS/PP.

O timoneiro Soares chegou então à conclusão de que era preciso derrubar o governo de Passos Coelho fosse como fosse. António José Seguro não alinhava? Despediu-se o Tozé! A pressão sobre Cavaco Silva foi enorme, e veio dos dois lados: do PS de Soares e do PSD de Durão Barroso. Passos Coelho, porém, resistiu melhor do que se esperava.

Nem o golpismo impotente e de última hora de Mário Soares, atraindo toda a esquerda partidária neocorporativa e indigente para a rua, com as tropas de choque sindicais assediando continuamente ministros e comunicação social, empurrando os trabalhadores para greves que são becos sem saída (Professores, Metro, CP, Carris e TAP são bons exemplos da criminalidade sindical à solta), nada disrto derrubou a coligação, nem chegará para salvar o PS de uma mais que provável extinção partidária.

O carreirista limitado que é António Costa foi obviamente empurrado para o papel que hoje, sem jeito algum, e apesar da babada e desmiolada imprensa indigente que o apoia, desempenha: o de testa de ferro de segunda ordem de Mário Soares.

Esperemos que a Justiça que entretanto se libertou do disléxico Monteiro e de toda a canga de invertebrados judiciários que serviram a casta que nos arruinou, faça o seu trabalho depressa e bem, destapando um a um os potes da riqueza sequestrada aos portugueses, e recupere, se não todo o saque, pois parte dele foi delapidado em obras inúteis, contratos ilegítimos que terão que ser denunciados e corrigidos, e muita festa regada com Champagne, pelo menos nos ajude a restaurar, como povo, a honra perdida.

NOTAS
  1. O governo português, nesta particular mas importante matéria, só tem que fazer uma coisa: cumprir os acordos com Espanha e fazer a sua parte na construção da nova rede ferroviária europeia em bitola europeia. Para isto tem dinheiro europeu. Para as parvoíces que enfiaram no GTIEVA não tem, nem terá.

sexta-feira, dezembro 19, 2014

Esqueçam o crescimento em 2015!

Foto: Reuters

Petróleo barato e dólares caros: uma combinação explosiva para 2015


Segundo o BoA, a suspensão do QE em dólares será compensada apenas em 30% pela soma dos estímulos previstos no Japão e UE. Consequência: um maremoto financeiro global com epicentro nos países emergentes: Rússia, Turquia, Brasil, Indonésia, Angola, Letónia, Peru, etc...

A subida sustentada do dólar arrastará perdas de rendimento gigantescas nas moedas locais em que muita da dívida dos países emergentes foi negociada. Exemplo: investimentos de fundos de pensões americanos e europeus nos países emergentes, em busca de taxas acima dos 1%! Exemplo: empréstimos bancários em dólares a empresas angolanas de construção que vendem os imóveis e os serviços associados em kwanzas.

A fuga dos atoleiros financeiros em que os países emergentes, que representam já 50% da economia mundial, se poderão transformar a curto prazo já começou, mas o impacto só será sentido, e de que maneira, a partir de 2015.

O regresso dos euros vai encontrar um continente a nadar em EQE, a próxima moeda virtual da UE. Taxas de juro: menos de zero!

Haverá, por causa deste cenário mais do que provável, uma procura em massa da moeda americana que, depois de ter suspendido o QE, se afastará progressivamente do ZIRP (Zero Interest Rate Policy)?

Irá o dólar valorizar e ultrapassar em breve o euro?

Crescimento? Quem falou de crescimento? Só se foi o Costa das Caravelas.

UM SANTO NATAL, mas com os cintos de segurança bem apertados!


fx-rate

Fed calls time on $5.7 trillion of emerging market dollar debt

World finance is rotating on its axis. The stronger the US boom, the worse it will be for those countries on the wrong side of the dollar

The US Federal Reserve has pulled the trigger. Emerging markets must now brace for their ordeal by fire.

They have collectively borrowed $5.7 trillion in US dollars, a currency they cannot print and do not control. This hard-currency debt has tripled in a decade, split between $3.1 trillion in bank loans and $2.6 trillion in bonds. It is comparable in scale and ratio-terms to any of the biggest cross-border lending sprees of the past two centuries.

Much of the debt was taken out at real interest rates of 1pc on the implicit assumption that the Fed would continue to flood the world with liquidity for years to come. The borrowers are "short dollars", in trading parlance. They now face the margin call from Hell as the global monetary hegemon pivots.

By Ambrose Evans-Pritchard
The Telegraph, 9:27PM GMT 17 Dec 2014

O petróleo virtual da Galp

Dois anos e o petróleo a caminho dos 30 dólares poderá ser demais...


Gráfico das cotações da Galp desde dez 2008
Gráfico: Jornal de Negócios

Galp e Eni vão explorar petróleo na costa alentejana (act.)
18 Dezembro 2014, 17:30 por Wilson Ledo - Jornal de Negócios

A Galp Energia assinou um acordo com a multinacional italiana Eni para a exploração de petróleo na região de fronteira portuguesa. A parceria abrange três áreas de concessão, com cerca de 9.100 quilómetros quadrados.

"O programa exploratório compreende a perfuração de um poço de exploração durante o próximo período exploratório", concretiza a informação enviada esta quinta-feira, 18 de Dezembro, à Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM).

A Eni "passará a deter uma participação de 70%, tornando-se operadora e promotora, sendo que a Galp Energia mantém uma participação de 30%", informou a petrolífera portuguesa.

Esta notícia, ao preço que está o crude, e com operações a borregar em todo o mundo, só pode servir para lançar água salgada aos olhos da opinião pública e de algum 'investidor' tapadinho de todo.

A Galp Energia não tarda a entrar no mercado de saldos. Estará a Eni a posicionar-se para este saldo, mostrando uma pinça marota atrás deste banquete virtual de mariscos, com Lavagantes, Santolas e Lagostas?

Lembram-se quando a Galp inundou a imprensa indígena com notícias sobre o pré-sal da Baía de Santos? Cadé o famoso petróleo brasileiro então anunciado para inchar as cotações? Cadé a rentabilidade de quem entrou no jogo em 2009-2011 e não saiu a tempo?

Bastou-me olhar ontem para a cara de coelho do Oliveira da Figueira para perceber que não passava dum bluff de péssima qualidade.

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Gráfico: Nasdaq