E se José Sócrates formar um novo partido?
António Costa impôs uma contagem de espingardas, pois teme as próximas eleições e o seu futuro.
Quando analisava esta tarde o rescaldo do abandono do PS por parte do seu antigo secretário-geral e ex-primeiro ministro José Sócrates, recordei o que escrevera no dia 3 de maio no post Até tu, Galamba?
...começou uma espécie de noite das facas longas em versão português suave. Manuel Pinho será porventura a primeira rola a ser abatida. Só falta saber até onde irá a matança. Estamos a ver como começa, mas não sabemos ainda como vai acabar.O turbilhão surgiria, de facto, nesse mesmo dia 3, com António Costa tentando suavizar as contundentes declarações anti-Sócrates de Carlos César, dando uma no cravo e outra na ferradura.
Costa sobre caso Sócrates: A confirmar-se é uma “desonra para a democracia”
O primeiro-ministro afirmou esta quinta-feira que em Portugal ninguém está acima da lei e que, “a confirmarem-se” as suspeitas de corrupção nas políticas de energia por membros do Governo de José Sócrates, será “uma desonra para a democracia”.
“Se essas ilegalidades se vierem a confirmar, serão certamente uma desonra para a nossa democracia. Mas se não se vierem a confirmar é a demonstração que o nosso sistema de justiça funciona”, respondeu António Costa.
DN, 03 DE MAIO DE 2018 18:06
António Costa: “É uma decisão pessoal de José Sócrates que tenho obviamente de respeitar”, mas “fico surpreendido, porque não há qualquer tipo de mudança da posição da direção do PS sobre aquilo que escrupulosamente temos dito desde o início: separação entre aquilo que é da justiça e aquilo que é da política”, afirmou.
“Temos motivos para confiar no nosso sistema de justiça e no nosso Estado de Direito”, assegurou o primeiro-ministro português, aos jornalistas presentes em Toronto, antes de iniciar o terceiro de quatro dias de visita oficial ao Canadá. “Em relação à decisão de José Sócrates, tenho de a respeitar (…). O PS entende que não tem de intervir no sistema de justiça”, acrescentou o dirigente socialista e líder do Executivo.
Lusa/ Correio da Manhã, 04 Mai 2018
António Costa confessou ao Expresso ter sido apanhado de surpresa pelas palavras utilizadas pelo líder parlamentar do PS. Carlos César afirmou que os socialistas se sentiriam "envergonhados" com o caso Sócrates se as suspeitas se confirmassem.
O secretário-geral do PS, António Costa, garante ter sido surpreendido pelas palavras do líder da bancada parlamentar socialista, Carlos César, quando assumiu a vergonha partidária perante os casos investigados na justiça que implicam José Sócrates e Manuel Pinho.
“Fui apanhado de surpresa pelas afirmações de Carlos César”, assumiu o também primeiro-ministro ao jornal Expresso. As declarações do presidente socialista à TSF originaram uma verdadeira onda de declarações socialistas sobre Sócrates e Manuel Pinho – ao ponto do antigo primeiro-ministro socialista ter decidido abandonar o PS.
Negócios, 05 de maio de 2018 às 15:42
José Sócrates desfiliou-se do PS há menos de uma semana
Jornal i, 08/05/2018 13:41
José Sócrates vai voltar a juntar os seus apoiantes num “almoço de confraternização”.
A iniciativa está marcada para o dia 20 de maio num restaurante do Parque das Nações e começou a ser organizada uns dias depois da desfiliação do ex-primeiro-ministro do Partido Socialista.
O almoço já está a ser anunciado nas redes sociais e o objectivo é reunir mais de 200 pessoas. Cada um dos presentes terá de pagar 20 euros.
Sócrates decidiu desfiliar-se do PS, há menos de uma semana, na sequência das declarações de vários dirigentes socialistas a condenarem a sua actuação.
O ex-primeiro-ministro garante que está ser vítima de “uma espécie de condenação sem julgamento”.
Ana Lúcia Vasques, uma das pessoas que está a organizar o evento, diz ao i que este “é um almoço no alinhamento de outros que se fizeram aqui” e garante que não existe nenhuma ligação com a mudança de estratégia do PS em relação ao caso Sócrates.
Certo é que José Sócrates irá discursar durante o almoço, que se realiza uma semana antes do congresso do PS.Percebe-se, depois de ler esta sequência de ditos e desditos, o potencial explosivo do anunciado almoço socratista.
António Costa preparou um ataque fulminante contra José Sócrates, destinado sobretudo a neutralizar influências negativas na ambicionada caminhada do PS em direção a uma maioria absoluta nas próximas eleições legislativas. Mas o tiro poderá sair-lhe pela culatra.
Carlos César fez o que lhe fora encomendado, e foi seguido de imediato por José Galamba (mas não por todos os socratistas no Governo de Costa), dando assim sinais claros à prole cor-de-rosa de que a coisa vinha de cima.
Ou seja, António Costa não vai desta vez conseguir vender gato por lebre, dizendo-se surpreendido com as palavras do líder da bancada parlamentar e presidente do Partido Socialista.
Costa tenta, apesar disso, matizar as palavras de César, como se de um polícia bom se tratasse. Uma exibição nada abonatória da sua personalidade.
Sócrates abandona abruptamente o PS.
Costa diz que foi “...apanhado de surpresa pelas afirmações de Carlos César”. Tarde demais.
José Sócrates, entretanto, promove um “almoço de confraternização” para o próximo dia 20 de maio, uma semana antes do congresso do PS a realizar na Batalha. Falar-se-à de outra coisa no dito congresso? António Costa diz que importa olhar o futuro. Pois é isso mesmo que acontecerá, mas talvez não da forma imaginada pelo atual líder de um governo minoritário apoiado por leninistas, trotskystas e maoístas.
Que fazer?
Que fazer?
José Sócrates, acusado de 31 crimes, entre os quais, corrupção passiva de titular de cargo político, branqueamento de capitais, falsificação de documento e fraude fiscal qualificada, perdeu a rede socialista de proteção no momento em que mais precisaria dela. Acresce que o mesmo António Costa que recusara confundir o que é da Justiça com o que é da Política, veio agora promover esta mesma confusão, falando de desonra, depois de Carlos César ter falado de vergonha.
Não creio que António Costa tivesse previsto uma resposta tão rápida e sobretudo tão cortante de Sócrates. A qual não deixa margem para dúvidas: haverá consequências para o PS e nas eleições que aí vêm.
Quais?
Quais?
A primeira e mais surpreendente é que, fora do PS, José Sócrates poderá vir a ser facilmente eleito deputado nas próximas eleições legislativas. Bastará para tal formar um novo partido, arrastando para a nova formação a parte do PS que detesta António Costa. Não transitará certamente em julgado nenhuma sentença até lá!
No momento em que a corrupção se mostra, afinal, como uma enorme mancha oleosa que alastra a todos os partidos, e em que começa a sentir-se um certo hálito de fim de regime—recorde-se a declaração sombria de Marcelo Rebelo de Sousa sobre a sua não candidatura, caso assistamos a um novo verão de labaredas acesas pela incompetência e pela mesma corrupção—, é bem possível que o animal feroz encurralado decida atacar. E se atacar, temo bem que o PS de Costa e as bengalas de extrema esquerda que o amparam acabem não só por perder as próximas eleições, como por dar também lugar à emergência de soluções parlamentares inesperadas e a uma mais do que provável aceleração da decomposição do regime.
António Costa tem que estar neste mesmo muito nervoso e inseguro. Em breve, milhares de militantes e simpatizantes socialistas sentirão um calafrio pelas respetivas espinhas abaixo.