A apresentar mensagens correspondentes à consulta Tordesilhas ordenadas por relevância. Ordenar por data Mostrar todas as mensagens
A apresentar mensagens correspondentes à consulta Tordesilhas ordenadas por relevância. Ordenar por data Mostrar todas as mensagens

sexta-feira, janeiro 16, 2015

Guerra e Gás (2)

O mapa geoestratégico do gás move-se rapidamente na Eurásia
(clicar para ampliar o mapa)

Syriza agradece a Obama e Putin!


A Guerra do Gás está ao rubro! A Rússia anunciou anteontem que desviará os gasodutos de abastecimento do seu gás à Europa para a Turquia, com entrada... pela Grécia!

O Syriza abriu ontem, seguramente, duas garrafas de Champagne — pois ganhou, de repente, dois aliados: Obama e Putin!

E agora? Quem irá pagar as despesas da Ucrânia?

A castanha rebentou ou vai rebentar em breve na boca da Alemanha. É o preço da gula e de não respeitar os interesses dos vizinhos: Rússia e Turquia, por um lado, o sul da União Europeia, por outro.

A Tratado de Tordesilhas 2.0 é a única alternativa a uma Terceira Guerra Mundial.

EurActiv: European Commission Vice President Maroš Šefčovič was told in Moscow Wednesday (14 January) that Russia would shift all its gas transit from Ukraine to Turkey, and that EU customers should buy this gas at the border with Greece.

According to press reports, Šefčovič, who visits Russia for the first time since he was appointed Commission Vice-President for the Energy Union, said he was “very surprised” by the Russian move.

Russia recently abandoned plans to build the South Stream gas pipeline via the Black Sea to Bulgaria, and blamed Sofia for having obstructed the project.

Uma das consequências da mudança de paradigma energético em curso é esta: dentro de poucos anos teremos os preços do petróleo indexados ao preço do gás natural, e não o inverso, como sempre sucedeu desde que o petróleo era a energia dominante. O barril do petróleo poderá muito bem estabilizar nos 40-60 dólares, ou até menos!

A produção de petróleo estagnou há muito, sendo que parte do aumento da produção registada se deve a outros produtos que não o crude (por exemplo, o GTL, e alguns refinados, etc.), bem como à incorporação de petróleo pesado e caro ao cômputo geral da produção. Se o preço do barril estabilizar abaixo dos 60 dólares, o mais provável é que muito do petróleo vendido no mercado de futuros jamais venha a ser produzido!

O tempo do gás natural e da eficiência chegaram. Tudo irá mudar, desde logo no mercados financeiros, onde a especulação generalizada das últimas décadas chegou ao fim.


POST SCRIPTUM

Green light for TAP, amber for hydrocarbon tenders.
ekathimerini, 3/2/2015 (23:08)


Atualização: 6/2/2015, 00:13 WET

domingo, outubro 25, 2015

Primavera angolana?

Luaty Beirão, ativista luso-angolano
Foto: autor desconhecido

Quem é Gene Sharp? Que anda Luaty Beirão a ler?


Francisco Louçã disse em tom cândido num programa televisivo que Luaty Beirão e os seus vinte e um companheiros e companheiras foram detidos por suspeita de estarem a preparar um atentado contra o presidente José Eduardo dos Santos e o derrube do regime angolano. O vídeo obtido por um 'infiltrado' (palavra de Louçã) entretanto mostrado a alguns diplomatas mostrava o referido grupo numa discussão sobre ações, manifestações e outro tipo de protestos públicos, de natureza pacífica, nomeadamente à semelhança das primaveras árabes (ainda nas palavras usadas pelo ex-líder do Bloco de Esquerda).

Por sua vez, Catarina Martins, a nova estrela do Bloco, disse às televisões num tom igualmente cândido que Luaty Beirão fora preso por estar a ler um livro. Que livro seria?

Provavelmente um destes:

  1. Da Ditadura à Democracia: Uma Estrutura Conceitual para a Libertação
  2. Poder, Luta e Defesa: Teoria e prática da ação não-violenta
  3. On Strategic Nonviolent Conflict: Thinking About The Fundamentals
  4. Self-Liberation, A Guide to Strategic Planning for Action to End a Dictatoship or Other Opressions
Ou todos estes, e ainda algum outro da vasta bibliografia de Gene Sharp, o maior teórico vivo da resistência pacífica e das revoluções coloridas, bem como das mais recentes e trágicas primaveras árabes.

Comprei e li alguns destes livros há já dois ou três anos. Percebi então como boa parte das rebeliões pacíficas pós-modernas, nomeadamente todo o folclore anti-globalização, segue meticulosamente os ensinamentos, vastos e igualmente detalhados, de Gene Sharp. 

Tal como os manuais do terrorismo sionista, por sua vez inspirados nas táticas de terror do IRA, instruíram boa parte dos movimentos guerrilheiros anti-colonialistas em África (MPLA incluído), talvez se possa afirmar agora que Gene Sharp desenvolveu a mais importante arquitetura teórica da guerra civil pacífica dos tempos pós-modernos. 

A diferença entre os dois paradigmas é evidente: enquanto as táticas modernas assentavam e assentam ainda no uso da violência extrema e no terror, as táticas promovidas por Gene Sharp assentam na retórica dos direitos humanos e da democracia, na ideia de resistência pacífica e no uso intensivo e programado dos meios de comunicação de massas, nomeadamente as redes sociais, para enfraquecer e derrubar regimes não-democráticos.

Esta nova teoria da ação política militante, mas não militar, tem-se revelado muito eficaz em vários teatros de guerra assimétrica, onde, além das ações diplomáticas e militares, convencionais e não convencionais, têm confluído também as táticas, dispositivos e ações públicas de protesto e/ou resistência desenhadas por Gene Sharp. 

Resta saber quando e como esta guerra pacífica é mais do que isso, e acaba ou não por fazer parte de uma guerra assimétrica maior, cujos promotores deveremos, pelo menos, reconhecer, sob pena de nos deixarmos envolver e manipular pela dimensão psicológica e cultural dos factos criados e das suas calculadas projeções virtuais.

The Albert Einstein Institution: non-violence according to the CIA 
Non violence as a political action technique can be used for anything. During the 1980s, NATO drew its attention on its possible use to organize the Resistance in Europe after the invasion of the Red Army. It’s been 15 years since CIA began using it to overthrow inflexible governments without provoking international outrage, and its ideological façade is philosopher Gene Sharp’s Albert Einstein Institution. Voltaire Network reveals its amazing activity, from Lithuania to Serbia, Venezuela and Ukraine. 
by Thierry Meyssan
VOLTAIRE NETWORK | 4 JANUARY 2005 

O governo angolano identificou certamente um padrão de comportamento e ação por parte do grupo de ativistas anti-regime, hoje simbolizado por Luaty Beirão, mas que tem outros protagonistas bem conhecidos, como o jornalista e opositor declarado do regime, Rafael Marques.

Em Portugal, enquanto o PCP apoia tacitamente José Eduardo dos Santos, o MPLA e o atual regime, já João Soares (o novo porta-voz dos socialistas) e a ex-MRPP Ana Gomes, bem como os trotskistas e maoístas do BE tendem a questionar um regime cujas origens estalinistas, ou 'social-fascistas', historicamente rejeitam. Ou seja, debaixo do manto diáfano dos direitos humanos e da democracia temos, como sempre, a nudez sórdida das várias agendas partidárias.

Angola é um país artificialmente desenhado na sequência da Conferência de Berlim (1884-85), convocada com o objetivo explícito de retalhar o continente africano, sob a enorme pressão do arrogante e ambicioso prussiano que fundou do II Reich, Otto von Bismarck, e do humilhante Ultimato Britânico (1890), que acabaria com o sonho português de criar uma colónia africana ligando Angola a Moçambique — o famoso Mapa Cor-de-Rosa

Ao contrário do que possa parecer, ouvindo os argumentos levianos de quem parece nada saber do passado, isto são factos históricos recentes. Se o Mapa Cor-de-Rosa tivesse tido ganho de causa, em vez de ter sido traído pelos britânicos, hoje não estaríamos a falar de Angola, nem da Zâmbia, nem do Zimbábue, nem do Malawi, nem de Moçambique, como estados soberanos pós-coloniais, mas de uma extraordinária potência africana.

Esta nota histórica é importante pelo seguinte: a ligação ferroviária entre os portos de Lobito, em Angola, e Nacala, em Moçambique, iniciada pelos portugueses em 1901, ainda que à época com um alcance mais limitado (Caminho de Ferro de Benguela), estará em breve pronta. O país que mais investiu no fecho desta ligação estratégica chama-se República Popular da China. Basta percorrer o mapa Tordesilhas 2.0, que tenho vindo a povoar de sinais, para percebermos a importância desta notícia.

O acesso ao petróleo, ao gás natural e às demais matérias primas é vital para a China, cujo crescimento projetado para os próximos três a cinco anos andará entre os seis e os sete por cento. O Mapa Cor-de-Rosa pode, pois, revelar-se uma peça essencial da sua estratégia de crescimento e abastecimento se porventura o Médio Oriente explodir.




Infelizmente, os Estados Unidos têm procurado defender a sua supremacia mundial através de erros estratégicos sucessivos, de agressões bélicas brutais e da criação de um sem número de guerras por procuração, tudo em nome, como sabemos, da defesa do mundo livre e, mais recentemente, da democracia, embora só onde mais lhe convenha a cada momento. O exemplo mais recente desta hipocrisia vem do Departamento de Defesa norte-americano, que acaba de aprovar uma despesa de 11,5 mil milhões de dólares para fornecer navios de guerra à Arábia Saudita—link).

As primaveras árabes, tal como uma possível primavera angolana, moçambicana, ou mesmo ibérica, servem claramente os interesses estratégicos dos Estados Unidos, na medida em que perturbam ou podem perturbar o euro, a União Europeia, e a expansão económica da China em direção ao Ocidente, mas também, na própria China, em direção à livre iniciativa privada, à concorrência económica leal, à democracia e à liberdade.

A pergunta que, no caso da greve de fome de Luaty Beirão, forçosamente teremos que nos colocar é esta: a quem serve objetivamente?

Mas há também uma pergunta a dirigir a José Eduardo dos Santos:

— que pensa fazer, agora que as receitas do petróleo encolheram consideravelmente e por tempo indeterminado, para merecer o país que governa? Permitir que a pobreza de muitos e a escandalosa riqueza de alguns continuem lado a lado, reprimindo cada vez mais quem nada tem, para proteger a insultuosa riqueza pilhada de tão poucos não será certamente a melhor forma de se salvar e de salvar o futuro de Angola.

segunda-feira, janeiro 26, 2015

Syriza coliga-se à direita

Panos Kammenos e Alexis Tsipras durante o encontro desta manhã, em Atenas. No final da reunião, o líder do partido Gregos Independentes confirmou a existência de um acordo para a formação de um Governo /  LEFTERIS PITARAKIS/AFP/Getty Images

Syriza coliga-se com partido anti-austeritário de direita


Este é o primeiro soco no estômago da esquerda macumbeira indígena. O atónito Costa, o manhoso PCP e os desmamados esquerdistas do Bloco de Migalhas, exultavam ontem, ainda que discretamente, com a vitória retumbante do albergue espanhol de extrema-esquerda a que chamaram Syriza.

Alexis Tsipras acaba de coligar-se à direita, depois de um discurso de vitória onde anunciou a fidelidade ao euro e reformas (não disse, mas serão obviamente estruturais) na Grécia, a par de um programa de renegociação da dívida num quadro europeu alargado de maior racionalidade, capacidade de decisão e solidariedade, que o BCE, aliás, teve o cuidado de antecipar na mesma semana, quando percebeu o resultado inevitável das eleições gregas, e futuramente das eleições espanholas e... francesas. Como dizem os chineses, perder a face é uma uma derrota inaceitável e tudo devemos fazer para evitá-lo.

O que se está a passar na Europa é mesmo a derrocada dos que conduziram o continente até à beira do precipício. Para estes não há, nem poderá haver, novas oportunidades!

A metamorfose dolorosa está a meio, falta ainda muita imaginação para eliminar os vícios e sobretudo a corrupção estrutural dos regimes democráticos capturados pela aliança espúrea entre o capitalismo pirata mais especulativo e a generalidade das burocracias partidárias que capturaram os estados e as instituições em benefício próprio. Não nos esqueçamos que o senhor Ricardo Salgado financiava a Fundação Mário Soares, tal como financiava anualmente a Festa do Ávante!

Esta vitória do Syrisa, e a coliçação esquerda-direita anunciada, vão ser de uma enorme importância para avaliarmos o que foi e é inevitável nos programas austeritários de redução do endividamento excessivo (e especulativo) dos governos, das empresas e das famílias, já realizados, e o que pode e deve mudar à luz de uma Europa menos dominada pelo pensamento quadrado da Alemanha.

A Grécia da nova coligação quente-e-fria vai ter que bater o pé ao BCE, à Alemanha e aos satélites desta na Europa. Para isto irá desencadear uma dinâmica de coesão estratégica no sul da Europa, da Albânia até Portugal, passando obviamente pela Itália, Espanha, e França. Curiosamente, contará com aliados imprevistos, como o Reino Unido, os Estados Unidos e sobretudo a Rússia. Esta quer acabar com a passagem do seu gás natural pela Ucrânia, deixando o país em cacos ao cuidado da senhora Merkel e respetivos sobrinhos, e quer passar a abastecer a Europa através, precisamente, da Grécia (ler Guerra e Gás, e Guerra e Gás 2).

A Alemanha, com a sua proverbial falta de sabedoria diplomática, estragou uma vez mais o seu sonho imperial. A Eurásia com capital em Berlim morreu. Se outra Eurásia houver, que russos, indianos e chineses desejam, voltará a estar centrada nas potências atlânticas e mediterrânicas da Europa ocidental, na Rússia e na.... China. Os Estados Unidos terão que se contentar, a prazo, com a nova divisão do mundo (a que venho chamando Tordesilhas 2.0)

Quanto a Portugal, já é tempo de aparecer uma nova força política que anuncie o fim da velha ordem.

Uma medida imediata para mudar este país: acabar com a profusão de carros oficiais, reduzindo para metade toda a despesa suportada pelos contribuintes com automóveis do Estado, autarquias e empresas públicas. Os políticos devem usar os transportes públicos, tal como a maioria dos cidadãos que os elegem. O exemplo vem, aliás, da China, que acaba de anunciar mais esta medida de necessária austeridade (CCTV, 26 jan 2015).

ÚLTIMA HORA

Sem maioria absoluta, Alexis Tsipras não perdeu tempo para encontrar o parceiro de coligação: Panos Kammenos e o seu partido conservador, nacionalista, anti-Troika e algo xenófobo, Gregos Independentes. O líder do Syriza já tomou posse como novo primeiro ministro da Grécia.

Em Portugal, uma coligação destas daria uma aberração do género: Bloco de Esquerda+MRPP+Nova Democracia (PND). Vai ser lindo observar o atónito Costa, o manhoso PCP e os desmamados esquerdistas do Bloco de Migalhas a comentar o pragmatismo, certamente ousado, de Alexis Tsipras!

Atualização: 26 jan 2015, 15:17 WET

quinta-feira, julho 31, 2008

Portugal 36



2009: visão, lucidez e coragem - precisam-se!


"In December 2005, the Government [of Sweden] appointed a commission to draw up a comprehensive programme to reduce Sweden's dependence on oil. There were several reasons for this. The price of oil affects Sweden's growth and employment. Oil still plays a major role for peace and security throughout the world. There is a great potential for Swedish raw materials as alternatives to oil. But, above all, the extensive burning of fossil fuels threatens the living conditions of future generations. Climate change is a fact which we politicians must face. Broad and long-term political efforts are needed. -- Stockholm, 28 June 2006. Göran Persson, prime-minister, Commission on Oil Independence (Wikipedia).

O bloco central do betão, a preguiçosa, incompetente e corrupta burguesia de Estado, e sobretudo a nomenclatura partidário-corporativa que temos, alimentados todos pela generosidade adolescente da democracia portuguesa, levaram o país à ruína e a sociedade de volta à emigração. Por mais incrível que pareça, em vez de prendermos duas dúzias destas prejudiciais criaturas, toleramos alegremente que andem por aí exibindo sem vergonha os sinais exteriores de uma riqueza injustificável, como se fossem senadores de uma Roma debochada no fim dos seus dias. E são!

Os dados económicos miseráveis de Portugal são sobejamente conhecidos e nada têm que ver com a crise internacional, ao contrário do que arengam os vendedores governamentais e a laia de falsos jornalistas que tudo escrevem e dizem para manter o emprego. A catastrófica crise financeira internacional (1), que é sobretudo um sinal evidente da subalternização dos Estados Unidos, do Reino, da Austrália, da Nova Zelândia e da Zona Euro -- ou seja, dos países de consumidores ineficientes, pouco produtivos e sem recursos -- face aos países que produzem e/ou têm recursos, apenas veio precipitar a falência do nosso desmiolado e corrupto modelo económico.

A China por si só é responsável por 40% do recente acréscimo anual do consumo mundial de petróleo (2), pelo que depois das Olimpíadas veremos o preço do crude a subir de novo. Os países emergentes não dependem criticamente das exportações para manterem os seus elevados ritmos de crescimento, ao contrário do que alguns foram levados a crer. As suas demografias são mais do que suficientes para garantir taxas de crescimento anuais na ordem dos 6-10%. Tem pois absoluta razão Manuela Ferreira Leite quando avisa os portugueses que um Estado falido, tal como uma família falida, ou uma pessoa falida, não pode continuar a encomendar marisco como se nada se passasse. José Sócrates anda literalmente de mão estendida por esse mundo fora, mendigando liquidez: liquidez para o BCP, liquidez para a TAP (3), liquidez para o QREN!

Não o critico por isso, mas apenas por tal personagem ser cada vez menos primeiro ministro de Portugal, e cada vez mais o boneco atarantado da conspiração de ventríloquos apostados apenas em salvar-se a si próprios, afundando, se preciso for, o país. Note-se que esta conspiração promovida pelo bloco central dos interesses apenas estará ao lado de José Sócrates enquanto ele cumprir o guião histriónico que diariamente lhe põem nas mãos. No dia em que o actual primeiro ministro pensar um minuto na figura triste que anda a fazer, e der um murro na mesa em nome das aspirações socialistas que diz defender, verá como a turma cobarde que hoje move as baterias assassinas contra a sua adversária, Manuela Ferreira Leite, se voltará também contra si, sem dó nem piedade.

E no entanto, a aposta na prestidigitação política, como se a função de um primeiro ministro se pudesse confundir com a de um mero mestre de cerimónias, ou de um vendedor de produtos tecnológicos de duvidosa qualidade, vai levá-lo à derrota certa nas próximas eleições, apesar das sondagens actuais. Na apresentação do "Magalhães" -- um computador low cost da Intel, embrulhado em Portugal --, José Sócrates até imitou o Steve Jobs -- repararam? Ao que isto chegou!

As eleições de 2009 irão ser disputadas num ambiente de crise económica e instabilidade social grave ou muito grave. Quem falar verdade, sem subterfúgios, explicando claramente a causa das coisas, terá vantagem sobre quem quer que tenha andado com fantasias, não tendo por isso tomado as medidas apropriadas para mitigar os efeitos da crise. Mas tão importante como falar verdade, olhos nos olhos com os portugueses, é demonstrar coragem e firmeza na estancagem das pressões egoístas que atrofiam o país, contrapondo ao mesmo tempo uma visão para Portugal nos próximos 10 a 20 anos, sem ceder às métricas eleitorais, nem aos inúteis jogos florais em que o nosso inútil parlamento se especializou.

O que estava previsto fazer há três, cinco ou seis anos atrás viu caducar o prazo de validade, por razões óbvias:
  1. Portugal tem uma dívida pública e privada insustentável que inviabiliza a possibilidade de continuar a endividar-se em pseudo Parcerias Público Privadas, de que os negócios da Ponte Vasco da Gama e autoestradas SCUT são exemplos tristemente célebres;
  2. O alargamento da União Europeia veio enfraquecer a generosidade dos Fundos Comunitários, pelo que nenhuma das grandes obras públicas de que tanto se tem falado pode esperar de Bruxelas um apoio mais do que simbólico para a sua execução (não havendo, por outro lado, liquidez nos mercados financeiros para aventuras keynesianas improvisadas);
  3. O petróleo barato acabou de vez;
  4. A transição do paradigma energético vai ser longa, cara e dolorosa;
  5. A crise financeira internacional, que afecta sobretudo o Ocidente, é uma crise profunda e duradoura (20 anos, pelo menos...), tendo por origem um longo ciclo de energia e créditos baratos, do qual resultaram várias bolhas especulativas (algumas delas ainda por rebentar) e um extraordinario endividamento de países tão influentes como os Estados Unidos, o Reino Unido, a Austrália e a Espanha;
  6. O mundo está, por causa desta gravíssima situação, à beira de uma III Guerra Mundial. Se tiver juízo, evitá-la-à in extremis, por meio (proponho eu) de um Novo Tratado de Tordesilhas, através do qual o globo terrestre será dividido em duas metades com fronteiras aduaneiras claras, e a criação de zonas francas especiais como a Suiça, o Médio Oriente e os mares.
  7. Finalmente, as alterações climáticas exigem acção imediata e uma mudança radical de comportamentos económicos, sociais e culturais. Ver neste desafio inadiável uma oportunidade é seguramente uma forma positiva de ver os imensos problemas pelas frente, e de mobilizar as consciências, os recursos e a acção (4).



NOTAS
  1. New York Region - Governor Calls For Session On Fiscal Crisis
    By DANNY HAKIM. Published: July 30, 2008

    Gov. David A. Paterson of New York called on the Legislature to return next month to grapple with a budget deficit that will grow to $26.2 billion over the next three years.

    ... In his speech, the governor said taxes collected on 16 of the state's largest banks fell 97 percent between June 2007 and June 2008, to $5 million from $173 million. -- The New York Times.

    Australia faces worse crisis than America

    By Ambrose Evans-Pritchard, International Business Editor
    Last Updated: 6:39pm BST 29/07/2008

    The world's financial storm has swept through Australia and New Zealand this week amid mounting signs of contagion across the Pacific region.

    Australia now faces a worse crisis than America
    Many fear the economic party in Australia will end badly

    Financial shares were pummelled in Sydney on Tuesday after investor flight forced National Australia Bank (NAB) to slash a £400m bond sale by two thirds.

    The retreat comes days after the Melbourne lender shocked the markets by announcing a 90pc write-down on its £550m holdings of US mortgage debt, an admission that it AAA-rated securities are virtually worthless.

    In New Zealand, Guardian Trust said it was suspending withdrawals from its mortgage fund owing to "liquidity difficulties in the market".

    ... Hanover Finance - the country' third biggest operator - last week froze repayments to investors. The company said its "industry model has collapsed" as the housing market goes into a nose dive. Some 23 finance companies have gone bankrupt in New Zealand over the last year.

    It is now clear that the Antipodes are tipping into a serious downturn. Australia's NAB business confidence index fell to its lowest level in seventeen years in June. New Zealand's central bank began to cut interest rates last week on fears that the economy may have contracted in the second quarter, and is now entering recession. Housing starts slumped 20pc in June to the lowest since 1986. -- Telegraph.co .

    Merrill shocks Wall Street with $8.5bn share sale
    By Stephen Foley in New York
    Tuesday, 29 July 2008

    Merrill Lynch, the investment banking giant that has lost more than $40bn (£20.1bn) on its mortgage investments since the start of the credit crisis, shocked Wall Street last night with plans to raise $8.5bn in new shares.

    As part of a sweeping financial restructuring, the company is dumping most of its remaining holdings in risky mortgage derivatives and tapping the Singapore government for an emergency $3.4bn cash infusion.

    ... A portfolio of mortgage derivatives known as collateralised debt obligations (CDOs) that Merrill had valued at $11.1bn as recently as a fortnight ago, were offloaded last night for $6.7bn. Before the credit crisis struck, that portfolio had been worth $30bn. -- The Independent.

    Cortefiel's LBO Loans Signal European Retail Defaults

    If there is any doubt European shoppers are following their U.S. counterparts into a recession, look no further than retailers' debt.

    Chain stores, led by Madrid-based Cortefiel SA and Fat Face Ltd. in London, are the worst performers among the region's 140 billion euros ($220 billion) of leveraged-buyout loans, according to Markit Group Ltd. and Standard & Poor's data. The Spanish company's 1.4 billion euros of loans are trading at less than half of face value, the lowest for a European company that hasn't defaulted, data from Frankfurt-based Dresdner Kleinwort show. -- Bloomberg.

    Sovereign funds cut exposure to weak dollar
    By Henny Sender in New York
    Published: July 16 2008 22:35 | Last updated: July 16 2008 23:24

    Some of the world’s largest sovereign wealth funds are seeking to scale back their exposure to the US dollar in a sign of global concern about the currency.

    One big sovereign fund in the Gulf has cut its dollar-denominated holdings from more than 80 per cent a year ago to less than 60 per cent, while China's State Administration of Foreign Exchange (SAFE) has been looking to strike deals with private equity firms in Europe as a part of a strategy to reduce its dollar holdings. -- Finantial Times.

    European Banks May Need EU90 Billion, Goldman Says
    By Alexis Xydias and Ambereen Choudhury

    July 4 (Bloomberg) -- European banks may need to raise as much as 90 billion euros ($141 billion) to restore their capital after the U.S. subprime mortgage collapse caused credit markets to seize up, according to Goldman Sachs Group Inc.

    ... The European banks Goldman tracks have lost $900 billion of their market value since the credit crisis began last year. Anshu Jain, head of global markets at Deutsche Bank AG, said this week that that contagion is "by no means over," and Europe's banks have lagged behind the U.S. in raising money from investors.

    ... Goldman's analysts said in their report that "access to liquidity, capital adequacy and post-crisis profitability are the key areas of near to medium-term uncertainty" for European banks.

    Global financial stocks have led declines that wiped about $11 trillion from equity markets worldwide this year. Credit-related losses, surging oil prices and rising inflation have also stoked concern policy makers will have to raise borrowing costs as the global economy slows.

    LBO Defaults May Rise as About $500 Billion Comes Due
    By Neil Unmack

    July 4 (Bloomberg) -- Leveraged-buyout loan defaults may be "significantly higher" than ratings companies' estimates as about $500 billion of debt used to fund the takeovers comes due, the Bank for International Settlements said.

    Companies bought by private-equity firms worldwide must repay the high-risk, high-yield loans and bonds by 2010, the Basel, Switzerland-based bank said in a report today, citing Fitch Ratings data. They may find it hard to raise the cash because of a slump in demand for collateralized debt obligations that pool the loans, BIS said.

  2. China's Cars, Accelerating A Global Demand for Fuel

    "In China, size matters," says Zhang, the 44-year-old founder of a media and graphic design company. "People want to have a car that shows off their status in society. No one wants to buy small." -- 27-07-2008, Washington Post.

  3. British Airways and Iberia bow to economic and strategic necessity

    THERE is nothing like high oil prices, it would seem, to free a European airline from protective national sentiment. Late last year British Airways (BA) backed away from a bid it had made with four private-equity firms for Iberia, Spain's flag carrier, after Caja Madrid, a Spanish bank with government connections, bought a large defensive stake. On Tuesday July 29th, with the price of oil up 25% and BA and Iberia shares down 25% and 37% respectively, the two firms said they were in talks about an all-share merger. Both companies’ boards support the deal, as does Caja Madrid.

    ... In July Martin Broughton, BA's chairman, said the firm faced "perhaps the biggest crisis the aviation industry has ever known". As well as soaring fuel costs, airlines are bracing themselves for weakening consumer demand. Cost savings and revenue gains from a merger will help BA and Iberia mitigate the pain. -- Economist.

    Comentário: a TAP não tem condições para sobreviver à crise petrolífera, sobretudo depois da inconclusiva viagem da José Sócrates a Luanda, de onde Fernando Pinto não conseguiu, ao que parece, nem emprego! A solução da TAP passará irremediavelmente por uma fusão com outras companhias de aviação. Falhada a hipótese de promover uma companhia intercontinental de média dimensão, com um perfil estratégico claramente atlantista, i.e envolvendo países como Portugal, Angola, Cabo Verde, Brasil e Venezuela, por exemplo, parece-me que a única direcção consistente a tomar é a de bater à porta da BA e da Ibéria. O timing para uma decisão vantajosa está rapidamente a esgotar-se. Não creio que possa ir além do próximo Inverno.

    Ler a propósito: "A TAP e as Low Cost", de Rui Rodrigues: "A única forma de dar vantagens competitivas à TAP seria através da utilização de uma base para as Low Cost fora da Portela; caso contrário, a situação económica da transportadora nacional agravar-se-á ainda mais, pois já teve um prejuízo de 123 milhões de euros, no primeiro semestre de 2008." -- Público.

  4. The case for investing in energy productivity
    McKinsey Global Institute, February 2008

    Unless there is a shift in world energy policies, global energy demand is set to accelerate, putting increasing strain on the world economy and the environment. Yet additional annual investments in energy productivity of $170 billion through 2020 could cut global energy demand growth by at least half--the equivalent of 64 million barrels of oil a day or almost one and a half times today's entire U.S. energy consumption.

    MGI research suggests that the economics of investing in energy productivity--the level of output we achieve from the energy we consume--are very attractive. With an average internal rate of return of 17 percent, such investments would generate energy savings ramping up to $900 billion annually by 2020. Energy productivity is also the most cost-effective way to reduce global emissions of greenhouse gases (GHG). Capturing the energy productivity opportunity could deliver up to half of the abatement of global GHG required to cap the long-term concentration of GHG in the atmosphere to 450--550 parts per million--a level experts say will be necessary to prevent the mean temperature from increasing by more than two degrees centigrade. Moreover, the opportunities to boost energy productivity use existing technologies that pay for themselves and therefore free up resources for investment or consumption elsewhere.

    ... The International Energy Agency (IEA) estimates that on average, an additional $1 spent on more efficient electrical equipment, appliances, and buildings avoids more than $2 in investment in ekectricity supply. As Chevron CEO David O'Reilly recently pointed out, energy efficiency is the cheapest form of new energy we have."


    Will Soaring Transport Costs Reverse Globalization?
    By Jeff Rubin and Benjamin Tal, CIBC World Markets Inc. (PDF)

    While there remains a strong imperative in the world economy to arbitrage wage costs, the arbitrage will increasingly take place within the constraints imposed by soaring transport costs. Instead of finding cheap labor half-way around the world, the key will be to find the cheapest labor force within reasonable shipping distance to your market.

    Compare, for example, how relative transport costs have recently changed between the Pacific Rim and Mexico. If in 2000 American importers paid 90% more to ship goods from East Asia to the US east coast, today they pay 150% more, and when oil prices reach $200 per barrel, they will pay three times the amount it costs to ship the same container from Mexico. To put things in perspective, today's extra shipping cost from East Asia is the equivalent of imposing a 9% tariff on East Asian goods entering the US. And at oil prices of $200, the tariff-equivalent rate will rise to 15%.


    CREATE3S

    Short-sea shipping volumes are expected to increase by 50% between 2000 and 2020. Since 40% of the current fleet is older than 25 years, short-sea shipping needs a new generation of innovative ships to meet this potential market. These ships need enhanced economic, safety and ecological performance, fitting into future innovative logistic chains and providing a major role for EU shipbuilders. -- Transport Research.


OAM 400 31-07-2008 03:40

quarta-feira, abril 13, 2011

Populismo pós-moderno

O comício de Matosinhos fez-me lembrar outros tempos...

Carrilho diz que congresso do PS foi a cassete de Sócrates
No seu comentário semanal na TVI24, Carrilho voltou a repetir a ideia de José Sócrates “construiu uma história em que ele [Sócrates] é o herói” e que foi ao congresso “transformar a boa história numa cassete.”

“Não houve uma única ideia no congresso”, acrescentou Carrilho, que não foi à reunião socialista. “Foi como se todos os socialistas assumissem o teleponto de Sócrates.”

Carrilho salientou ainda que o PS “vai avançar para as eleições sem programa” e em que José Sócrates se apresenta “como um cartão de crédito” — in Público.

Manuel Maria Carrilho tem sido uma das poucas vozes avisadas do PS com a lucidez e coragem suficientes para denunciar o plano inclinado que Sócrates trouxe ao partido fundado por Mário Soares e a Portugal.

O ajuntamento partidário do último fim-de-semana fez-me pensar no que conduz realmente um povo ao fascismo. É só isto: a ameaça de miséria e o desemprego em regimes partidários parlamentares corrompidos. Sobretudo o desemprego urbano e suburbano, que num primeiro momento (uma ou duas décadas) o proteccionismo partidário e burocrático ainda disfarça com emprego público financiado por empréstimos e por uma fiscalidade cada vez mais agressiva.

Chega, porém, um momento em que deixa de ser possível esconder a realidade, e a ameaça de colapso social ameaça a continuidade dos próprios regimes. É aqui que a irracionalidade crescente pode levar os líderes outrora democratas à metamorfose e ao surgimento inesperado de caudilhos, cuja tropa de choque é formada, precisamente, pelo tipo de clientela que hoje vive e sobrevive apenas à custa dos partidos. A unanimidade do comício de Matosinhos, onde sintomaticamente nem Carrilho, nem Mário Soares estiveram, foi terrivelmente premonitório a este propósito. Aquela gente já é uma tropa de choque em movimento! A cassete do líder foi ali apresentada, saudada e unanimemente tomada como hóstia do desespero e agressividade que rapidamente irá tomar conta de milhões de portugueses.

O embate partidário em curso, da parte de todos os partidos que disputam assentos parlamentares, conselhos de administração, direcções-gerais, e toda a espécie de indecorosas mordomias, transpira cada vez mais estes perigosos odores populistas. O fascismo pós-moderno, que terá outra cor e dimensão mediáticas, pode estar, efectivamente, ao virar da esquina. Não digam, se o pior ocorrer, que não foram avisados.

Basta ler o excelente estudo editado por Daniele Albertazzi e Duncan McDonnell —Twenty-First Century Populism (2008) — para perceber claramente como novas formas de populismo estão a crescer rapidamente em toda a Europa e poderão eventualmente conduzir, antes de a presente década chegar ao fim, ao colapso da União Europeia, a uma nova guerra civil europeia ou, pelo contrário, mas só se tivermos juízo, à urgente paragem da globalização suicida das últimas três décadas.

Precisamos dum NOVO TRATADO DE TORDESILHAS! A América e a Europa devem proteger as respectivas economias. A China, o Japão e a Índia, mas  também a Alemanha e a Rússia, ou entendem rapidamente que é do seu interesse uma nova divisão internacional do trabalho, favorável ao equilíbrio, e não mais às deslocações tectónicas dos centros de produção, nem à especulação desenfreada, ou acabaremos numa guerra global que acabará com um parte substancial da humanidade.

O FMI até poderá ser uma bênção para o nosso país — sobretudo se conseguir rapidamente acantonar a parasitária, mole e indecorosa burguesia palaciana que temos. Sobretudo se conseguir rapidamente colocar os nossos deputados a andar de metro e autocarro. Sobretudo se conseguir limitar os danos à nossa independência e sustentabilidade provocados pelo terrorismo fiscal e pelos monopólios que há décadas têm vindo a destruir o nosso tecido económico e a discriminar os portugueses em duas grandes categorias: os que vivem à custa do Estado, nomeadamente pela via da cunha familiar e/ou partidária, e aqueles que emigram.

quarta-feira, fevereiro 06, 2019

César e Francisco

El papa Francisco, durante la rueda de prensa en el avión de regreso a Roma.
ALESSANDRA TARANTINO (AP)/ cropped

O meu reino não é deste mundo


El cinismo del papa Francisco 
La neutralidad del Vaticano en la crisis venezolana sirve de apoyo a Maduro
RUBÉN AMÓN
El País, 5 FEB 2019 - 15:30 CET 
No es Irán la única teocracia contemporánea que abjura del presidente Guaidó. Se resiste a reconocerlo el Vaticano, tanto por la idiosincrasia bolivariana del papa Francisco como porque su actual secretario de Estado, Pietro Parolin, fue el artífice de la reconciliación —de la comunión— entre el chavismo y la Santa Sede en los tiempos idólatras del mariscal Hugo. 
Es la razón por la que Nicolás Maduro ha pedido la mediación moral y política del sumo pontífice. Pretende involucrarlo como árbitro de una conferencia de países “neutrales” —México, Uruguay— convocada en Montevideo este jueves como salida al aislamiento del tirano venezolano.

Interessante, esta análise! É um facto que as ditaduras nunca assustaram o Vaticano. Basta lembrar a Itália de Mussolini, a Espanha de Franco, o Portugal de Salazar, e o Chile de Pinochet. Porque haveria então o Papa Francisco, que encanta o hedonista Marcelo, de se preocupar com o chavismo e o seu desastrado herdeiro, Nicolás Maduro? A Deus o que é de Deus, a César o que é de César. Foi este negócio com as autocracias que garantiu a esta, como a outras igrejas, a longevidade do atavismo religioso. Secundariamente, esta posição 'simpática' para com o ditador Maduro, até permitirá ao Vaticano fazer a mediação que o resto dos europeus já não é capaz.

Russos e chineses acharam que poderiam avançar pelo Atlântico e pelas Américas dentro. Não podem. Mas lá que os Estados Unidos e os caniches europeus lhes deram pretexto, nomeadamente na forma hipócrita, interesseira e estúpida como lidaram com o colapso da União Sovética, e mais recentemente com a Ucrânia, ou ainda com a soberania sobre o mar do Sul da China, deram...

Agora vai ser preciso reequilibrar os dispositivos de forças, quer a leste de Berlim, quer no quintal latino-americano dos gringos. Voltamos sempre ao mesmo: a paz futura depende da realização dum Novo Tratado de Tordesilhas. Dum lado deve ficar a Euro-América, do outro a China. No meio, precisamos dum continente independente, próspero e neutral: a África.

Dito isto, a posição diplomática assumida pelo governo português é absolutamente correta. Não se defendem os interesses de Portugal, nem dos portugueses emigrados na Venezuela, apoiando um ditador alimentado com sinodólares e euros de Moscovo.

Vamos provavelmente assistir a um prolongado braço de ferro, sobretudo porque dependerá de concessões a fazer ao longo da antiga cortina de ferro, na Síria e... no Irão. Já agora, um Irão nuclear será um player decisivo no Médio Oriente, podendo mesmo afastar o espectro de Putin na região. Daí que seja tempo de os americanos e europeus darem corda aos snickers!


REFERÊNCIAS
El Papa sobre Venezuela: “Temo un derramamiento de sangre” 
DANIEL VERDÚ
El País, A bordo del avión del Papa 28 ENE 2019 - 14:23 CET 
La posición del Vaticano en el conflicto de Venezuela ha sido siempre ambigua y discreta. Su frustrado papel como mediador lo requirió en su momento. Pero ahora, en pleno ultimátum de un nutrido bloque de países a Nicolás Maduro para que convoque elecciones, millones de venezolanos y los propios mandatarios implicados —con Juan Guaidó a la cabeza de la oposición— se preguntan cuál es la opinión del Papa y la postura que adoptará la Santa Sede, con enorme influencia en la comunidad católica del país, en un conflicto que camina peligrosamente hacia la violencia. El Papa, tras varios días de silencio, pidió en el Ángelus del domingo en Panamá “una solución justa y pacífica”. Pero, ¿qué quiere decir eso? 
Los hombres de Pinochet en el Vaticano 
JUAN JOSÉ TAMAYO
El País, 2 MAR 1999 
Desde su toma de poder en Chile, tras el golpe de Estado contra el presidente Salvador Allende, el general Pinochet buscó denodadamente el apoyo del Vaticano a su dictadura militar alegando como credenciales su fe católica y su cruzada contra el marxismo, llevada a cabo en plena sintonía con Juan Pablo II, antimarxista como él. Mientras el arzobispo de Santiago de Chile, cardenal Silva Enríquez, denunciaba los atentados de Pinochet contra los derechos humanos -incluido el derecho a la vida- a través de la Vicaría de Solidaridad, el Vaticano legitimaba las actuaciones del dictador, sobre todo a través de la nunciatura.Tras los resultados adversos del plebiscito de octubre de 1988, que le obligaron a abandonar el poder, Pinochet redobló sus esfuerzos por asegurarse el aval del Vaticano, confiando en que saliera en su defensa en caso de que fuera procesado. Y la larga sombra del general se extendió hasta la curia romana, donde hoy ocupan puestos de responsabilidad de primera línea personalidades eclesiásticas afines a él.


sexta-feira, junho 05, 2015

Angola mon amour

Sindika Nokolo, Rui Moreira e Paulo Cunha e Silva na exposição "You Love Me, You Love Me Not"

Um país sem falsos socialistas consegue resolver os seus problemas


Este é um bom negócio para o ex-colonizador falido, e para a ex-colónia que desponta como um dos grandes países africanos. Ninguém estranha que a antiga colónia britânica, os EUA, tenha sido ao longo de mais de um século um dos principais investidores no Reino Unido e na Irlanda. Mas há gente doida (e racista) do meu país que estranha os investimentos de Angola em Portugal. Ontem, Fernando Alvim, vice-presidente da angolana Fundação Sindika Dokolo, que em breve abrirá a sua sede europeia, no Porto, deu uma lição de anti-colonialismo e história a quem o quis ouvir (no cada vez melhor Canal Porto). Espero que alguém envie uma cópia do programa à família Soares!
Efacec tem porta aberta para negócios em Angola
Jornal de Negócios, 05 Junho 2015, 00:01

A Efacec tem a porta aberta para negócios em Angola, na área da energia, onde o governo do país prevê realizar investimentos de 21 mil milhões de euros até 2017.


Parabéns Porto, parabéns Luanda! 

2015 é o ano em que se fecha um anel de civilização com seis séculos. De Ceuta (1415), a Europa, com Portugal na frente, contornou África, deixou apelidos em Malaca, chegou à Índia, à China, ao Japão, à Terra Nova e à Gronelândia (que os dinamarqueses reinvindicariam como colónia sua duzentos anos depois). Sempre por mar, ouvindo as sereias e em busca da Ilha dos Amores. Fernão Magalhães provou que a Terra era redonda, e até à Austrália chegámos, guardando bem o segredo, por causa de Tordesilhas!

Seiscentos anos depois é a vez do mundo outrora longínquo conhecer esse canto da Terra chamado Europa, e a sua mais bela praia atlântica: Portugal. A China percebeu. Angola percebeu. Os brasileiros sempre souberam. O Japão também. O Vietname vem a caminho. E que melhor cidade para dar as boas vindas a este novo descobrimento, que o estuário onde Portugal nasceu e os seus homens de negócios levaram narizes, idioma, sabores e modos de negociar a toda a parte? A imperial e falida América de Obama deveria aprender connosco a arte da diplomcia e a humildade produtiva dos nossos comerciantes.

Bem votou quem votou no Rui Moreira!

Fundação Sindika Dokolo vai ter antena mundial no Porto
Público, 20/05/2015

A Fundação Sindika Dokolo (FSD), instituída em Luanda, vai ter a sua nova antena mundial no Porto, num espaço que está ainda a ser procurado para o efeito em articulação com a autarquia local.

“Nós sentimo-nos muito próximos do conceito de 'cidade líquida' desenvolvido pelo Paulo Cunha e Silva, e achamos que o que está a acontecer na cidade, do ponto de vista cultural, é extraordinário”, disse ao PÚBLICO Fernando Alvim, artista plástico e vice-presidente da fundação, a justificar a escolha do Porto como sede europeia e antena mundial da instituição.

Fundação do marido de Isabel dos Santos terá sede europeia no Porto
Expresso, 19.05.2015

Sindika Dokolo fechou com chave de ouro a exposição "You Love Me, You Love Me Not", que decorreu Galeria Municipal nos jardins do Palácio de Cristal, e em dois meses recebeu 40 mil visitantes, anunciando que o Porto terá a futura sede europeia da fundação com o seu nome.

O colecionar e empresário congolês, marido da empresária Isabel dos Santos e detentor da mais importante coleção de arte africana atual, já anda à procura de um local onde ficarão instalados os escritórios e um espaço cultural da fundação. Neste espaço, que não será fechado à coleção de arte ou a temas apenas relacionados com o contexto africano, pretende-se criar uma rede multidisciplinar, que provoque encontros e reflexão sobre o movimento da contemporaneidade nas suas diversas áreas.

quinta-feira, novembro 12, 2009

TAP 8

Iberia e British Airways fundem-se!
E a TAP? Só se Berlim, Brasília e Luanda ajudarem.



Estacionamento às moscas na Portela, antes da crise!
Agora está saturada com aviões parados da... TAP!!

El Consejo de Iberia aprueba la fusión con British Airways · ELPAÍS.com

Iberia se dispara en bolsa tras anunciar su fusión con BA
Las acciones de la compañía suben un 11,78% al cierre de la sesión.- El acuerdo, adoptado en una reunión extraordinaria, fija la sede financiera de la nueva compañía en Londres.- El presidente será Antonio Vázquez.- Se espera la inminente ratificación de la aerolínea británica. -- LARA OTERO - Madrid - 12/11/2009
Aqui se escreveu mais de uma vez sobre esta possibilidade e de como a TAP estaria descalça perante tal desenvolvimento. A TAP está falida e ninguém aparentemente a quer...

As placas da Portela estão saturadas. Sim, senhor: estão saturadas de aviões da TAP vazios.

Para já, despeçam o inútil gaúcho e enviem os aviões sem destino nem passageiros, nomeadamente os que o governo corrupto de José Sócrates comprou ao BES, para o aeromoscas de Beja do genial Augusto Mateus.

E depois corram-me com a corja da tríade de Macau quanto antes. Antes que seja tarde demais!!

Ingleses e espanhóis tentam salvar os gigantes despesistas e cravejados de dívidas que são as respectivas companhias aéreas de bandeira. Para já, dividem o continente americano em dois, numa espécie de Tordesilhas "latitudinário". Depois logo se verá. Alemães e brasileiros vão reagir. No meio da tempestade pode ser que a falida TAP, depois de despedir metade do seu efectivo, acabe por acolher-se sob o chapéu protector da Lufhtansa (Star Alliance).


OAM 649 12-11-2009 20:25

sábado, setembro 02, 2017

É a China, estúpido!

Clique para ampliar. In Nikkei Asian Review

Renminbi convertível em ouro desafia fake money de Wall Street. Um novo Tratado de Tordesilhas nunca esteve tão perto, pois uma guerra nuclear global é impensável.


“China is expected shortly to launch a crude oil futures contract priced in yuan and convertible into gold in what analysts say could be a game-changer for the industry.” Nikkei Asian News

A Coreia do Norte não é o maior problema da América. A China é. Na realidade, aquilo a que temos assistido é à transformação da Coreia do Norte numa espécie de Israel à moda de Pequim. Senão vejamos.

O que tem sido, de facto, o estado de Israel desde que foi criado pelos ingleses, sob o comando e inteligência de Lord Balfour e do Barão Edmond de Rothschild? Pois bem, um seguro de vida para as comunidades judaicas, sobretudo Asquenazis (oriundas na sua maioria da Europa Central e Oriental), e um bastião militar da estratégia petrolífera inglesa, e depois, anglo-americana. Basta ler a famosa Balfour Declaration (1917), ou a nota de Lord Rothschild que a precedeu para termos um quadro analítico que dispensa toda a verborreia ideológica. O petróleo foi a energia fundamental da Segunda Revolução Industrial. E quem controlou as principais regiões petrolíferas do planeta dominou o mundo até hoje.

Acontece, porém, que a taxa de crescimento demográfico mundial atingiu o seu pico em meados da década de sessenta do século passado, e o pico do petróleo americano ocorreu no início da década de 1970. Ou seja, os anos dourados do Sonho Americano tinham passado, e a partir daquele momento a hegemonia americana no mundo, conseguida como troféu da sua participação na Segunda Guerra Mundial, começaria a esmorecer. O dólar passou a estar sob pressão, pois a América estava cada vez mais dependente das importações de petróleo do Médio Oriente, do Golfo do México, da Venezuela e de África.

Esta dependência significava trocar petróleo por dólares convertíveis em ouro. Ou seja, a existência da moeda americana como moeda de reserva mundial pressupunha a estabilidade do seu valor real, e não apenas fiduciário, ou seja, implicava a sua convertibilidade no único mineral capaz de garantir a fé no dólar: o ouro.

Esta convertibilidade (1 onça de ouro = 35 USD) foi entretanto destruída por um império condenado a desvalorizar paulatinamente a sua moeda, tal como o Império Romano fez durante a sua longa decadência e colapso.

Nixon, face ao crescente excesso de dólares no mercado (e a correspondente procura de ouro como garantia anti-inflacionista), face à estagflação que se seguiu à criação da OPEP (1960), e face à Guerra dos Seis Dias (1967), viria a declarar sem efeito os Acordos de Bretton Woods, pondo deste modo fim à convertibilidade do dólar.

A Guerra do Yom Kippur (1973), protagonizada pela parceria entre Israel e a aliança anglo-americana, levaria a OPEC a concertar o famoso embargo, e a provocar uma subida do preço do petróleo sem precedentes (de 3 para 12 dólares). Desde então, a hegemonia americana não parou de perder influência, e a bolha fiduciária especulativa alimentada em Wall Street e na City londrina não parou de crescer até hoje.

A Alemanha tentou escapar a esta corrida para o precipício estabelecendo uma agenda económica e diplomática própria. Por sua vez, a implosão da União Soviética e a reunificação da Alemanha forçou a França a negociar com Bona a criação efetiva da União Europeia, um sonho alimentado desde 1952 (Comunidade Europeia do Carvão e do Aço), mas sempre adiado por pressão dos americanos e dos ingleses. O Brexit foi provavelmente a última e desesperada tentativa por parte da coroa britânica e financeiros londrinos de manter um paradigma de domínico há muito insustentável.

Entretanto, a China cresceu!

Mas para crescer, sobretudo depois de também ter chegado o pico das suas reservas petrolíferas, que começaram a ser extraídas por volta de 1959-60, em Daqing, a China viria a tornar-se no terceiro maior importador de crude do planeta, depois da União Europeia e dos Estados Unidos (há quem afirme que já é o primeiro). Ou seja, a disputa estratégica global pelo ouro negro tem três grandes atores, todos eles com demografias de peso e capacidade militar de sobra para destruir o planeta.

Acontece que os americanos, ainda que por razões compreensíveis (ninguém gosta de deixar de ser império), continuam a ignorar a realidade, ao mesmo tempo que se endividam cada vez mais, assistem ao declínio imparável do dólar, e começam a perder o controlo da sua própria estabilidade económica, social, política e cultural.

Chegou, pois, o momento de deixar de depender da moeda americana, e sobretudo de permitir que esta exerça chantagem sobre os países que quer controlar, ou impedir de crescer, recorrendo sistematicamente à prepotência das sanções económicas e financeiras, só possíveis de duas formas: pela manipulação do acesso e uso do dólar, ou pelo uso da força militar.

É neste ponto que importa perceber o real significado da escalada nuclear na Coreia do Norte, na sequência, aliás, de inúmeros incidentes entre americanos e chineses em torno da territorialidade dos Mares de China.

Quer queiramos quer não, o supremo líder da Coreia do Norte, Kim Jong-un, transformou o seu país numa potência nuclear. Ou seja, num país inatacável, ao contrário, por exemplo, da Síria, do Irão, ou da própria Turquia. As consequências são óbvias: se os Estados Unidos forem, como tudo indica, incapazes de impedir o nascimento de mais um país dotado de mísseis balísticos intercontinentais, então é só uma questão de tempo para que a Turquia e o Irão atinjam desideratos semelhantes.

Neste jogo de xadrez, a China levou a melhor, e usou Pyongyang da mesma forma que Washington usou Telavive ou, como alguns preferem, como Telavive tem usado Washington.

Aqui chegados, os Estados Unidos não terão outra opção que não seja negociar uma espécie de novo Tratado de Tordesilhas com Pequim. Desta vez, os meridianos não serão geográficos, mas monetários. Haverá duas moedas. Resta saber se o dólar e o yuan, se o yuan e o euro. Tudo dependerá de quem ganhar a batalha africana.


REFERÊNCIAS

Nota de Lord Rothschild ao então MNE britânico Arthur Balfour

Baron Edmond de Rothschild & Palestine 
Edmond de Rothschild (1845-1934) was the youngest son of James and Betty de Rothschild. He bore the Hebrew name Benjamin. He was born in Paris on 19 August 1845. Edmond joined the Paris Banking House in 1868 becoming a director of the Est railway company and other family concerns, and devoting himslef to art, culture and philanthropic interests.  In 1877, he married Adelheid (1853-1935), the daughter of Wilhelm Carl Rothschild (1828-1901). 
He made journeys to Bukharu to examine the potential of the oilfields of the area. In 1895, he visited Palestine for the first time, and his most outstanding achievements were involved in responding to the threats facing the Jewish people in Europe in the late 19th century by supporting massive land purchases and underwriting Jewish settlements in Palestine and Israel. 
Until his death, 'The Benefactor', as he was known provided support for Jewish colonists, overseeing dozens of new colonies. Rishon le Zion (the First in Zion) was followed by others bearing the names of his parents. In 1923 PICA (the Palestine Jewish Colonisation Association) was formed to oversee his affairs in Palestine. When Edmond died in Paris in 1934, he left a legacy which included the reclamation of nearly 500,000 dunams of land and almost 30 settlements. In 1954 his remains and those of Adelheid were brought to Ramat Hanadiv in Zikhron Ya'akov. 
— in Rothschild Archive

China prepara alternativa ao Banco Mundial

China sees new world order with oil benchmark backed by gold 
Yuan-denominated contract will let exporters circumvent US dollar
DENPASAR, Indonesia -- China is expected shortly to launch a crude oil futures contract priced in yuan and convertible into gold in what analysts say could be a game-changer for the industry. 
The contract could become the most important Asia-based crude oil benchmark, given that China is the world's biggest oil importer. Crude oil is usually priced in relation to Brent or West Texas Intermediate futures, both denominated in U.S. dollars. 
China's move will allow exporters such as Russia and Iran to circumvent U.S. sanctions by trading in yuan. To further entice trade, China says the yuan will be fully convertible into gold on exchanges in Shanghai and Hong Kong. 
"The rules of the global oil game may begin to change enormously," said Luke Gromen, founder of U.S.-based macroeconomic research company FFTT. 
(...)
China has long wanted to reduce the dominance of the U.S. dollar in the commodities markets. Yuan-denominated gold futures have been traded on the Shanghai Gold Exchange since April 2016, and the exchange is planning to launch the product in Budapest later this year.

(...)
Saudi Arabia, a U.S. ally, is a case in point. China proposed pricing oil in yuan to Saudi Arabia in late July, according to Chinese media. It is unclear if Saudi Arabia will yield to its biggest customer, but Beijing has been reducing Saudi Arabia's share of its total imports, which fell from 25% in 2008 to 15% in 2016. 
Chinese oil imports rose 13.8% year-on-year during the first half of 2017, but supplies from Saudi Arabia inched up just 1% year-on-year. Over the same timeframe, Russian oil shipments jumped 11%, making Russia China's top supplier. Angola, which made the yuan its second legal currency in 2015, leapfrogged Saudi Arabia into second spot with an increase of 22% in oil exports to China in the same period.
—in  Nikkei Asian Review, September 1, 2017 8:56 pm JST


Atualizado em 13/9/2017, 00:56, WET

segunda-feira, março 26, 2018

Sharp Power

Vladimir Putin e Xi Jinping em Moscovo, julho 2017.


Por onde passará o Tordesilhas 2.0?


Vem aí um novo debate. Chama-se Sharp Power. Por onde passará a próxima fronteira entre o Ocidente e o Oriente? Se fosse por Portugal, onde a penetração chinesa é já muito apreciável, se não mesmo exagerada, tal significaria a capitulação de toda a Europa ao novo e cada vez mais indisfarçável despotismo asiático. Infelizmente, Rússia e China caminham rapidamente em direção ao passado, e o perigo que desta regressão começa a emergir é cada vez mais preocupante. O debate ideológico sobre a democracia, sobre a transparência e a prevalência do estado de direito, e fundamentalmente sobre a liberdade individual e coletiva regressa, pois, quando todos pensávamos que as ditaduras socialistas tinham desaparecido. Não desapareceram. Estão mesmo a ressuscitar com grande cinismo e arrogância.

O recente escândalo da captura do Facebook, por parte da muito obscura Cambridge Analytica, para a manipulação do eleitorado americano durante a eleição que daria a vitória a Donald Trump, vem certamente justificar os alertas que o bem conhecido think tank da inteligência estratégica dos Estados Unidos—Council on Foreign Relations— tem vindo a lançar desde dezembro de 2017.

How Sharp Power Threatens Soft Power
The Right and Wrong Ways to Respond to Authoritarian Influence
By Joseph S. Nye Jr.
in Foreign Affairs/ Council on Foreign Relations
January 24, 2018


Washington has been wrestling with a new term that describes an old threat. “Sharp power,” as coined by Christopher Walker and Jessica Ludwig of the National Endowment for Democracy (writing for ForeignAffairs.com and in a longer report), refers to the information warfare being waged by today’s authoritarian powers, particularly China and Russia. Over the past decade, Beijing and Moscow have spent tens of billions of dollars to shape public perceptions and behavior around the world—using tools new and old that exploit the asymmetry of openness between their own restrictive systems and democratic societies. The effects are global, but in the United States, concern has focused on Russian interference in the 2016 presidential election and on Chinese efforts to control discussion of sensitive topics in American publications, movies, and classrooms.

(...)

In international politics, soft power (a term I first used in a 1990 book) is the ability to affect others by attraction and persuasion rather than through the hard power of coercion and payment. Soft power is rarely sufficient on its own. But when coupled with hard power, it is a force multiplier. That combination, though hardly new (the Roman Empire rested on both the strength of Rome’s legions and the attractions of Rome’s civilization), has been particularly central to U.S. leadership. Power depends on whose army wins, but it also depends on whose story wins. A strong narrative is a source of power.

(...)

But if sharp power has disrupted Western democratic processes and tarnished the brand of democratic countries, it has done little to enhance the soft power of its perpetrators—and in some cases it has done the opposite. For Russia, which is focused on playing a spoiler role in international politics, that could be an acceptable cost. China, however, has other aims that require the soft power of attraction as well as the coercive sharp power of disruption and censorship. These two goals are hard to combine. In Australia, for example, public approval of China was growing, until increasingly alarming accounts of its use of sharp power tools, including meddling in Australian politics, set it back considerably. Overall, China spends $10 billion a year on its soft power instruments, according to George Washington University’s David Shambaugh, but it has gotten minimal return on its investment. The “Soft Power 30” index ranks China 25th (and Russia 26th) out of 30 countries assessed.

(...)

In public diplomacy, when Moscow’s RT or Beijing’s Xinhua broadcasts openly in other countries, it is employing soft power, which should be accepted even if the message is unwelcome. When China Radio International covertly backs radio stations in other countries, that crosses the line into sharp power, which should be exposed. Without proper disclosure, the principle of voluntarism has been breached. (The distinction applies to U.S. diplomacy as well: during the Cold War, secret funding for anticommunist parties in the 1948 Italian election and the CIA’s covert support to the Congress for Cultural Freedom were examples of sharp power, not soft power.)

Today’s information environment introduces additional complications. In the 1960s, the broadcaster Edward R. Murrow noted that the most important part of international communications was not the ten thousand miles of electronics, but the final three feet of personal contact. But what does that mean in a world of social media? “Friends” are a click away, and fake friends are easy to fabricate; they can propagate fake news generated by paid trolls and mechanical bots. Discerning the dividing line between soft and sharp power online has become a task not only for governments and the press but also for the private sector.

As democracies respond to sharp power, they have to be careful not to overreact, so as not to undercut their own soft power by following the advice of those who advocate competing with sharp power on the authoritarian model. Much of this soft power comes from civil societies—in the case of Washington, Hollywood, universities, and foundations more than official public diplomacy efforts—and closing down access or ending openness would waste this crucial asset. Authoritarian countries such as China and Russia have trouble generating their own soft power precisely because of their unwillingness to free the vast talents of their civil societies.

Moreover, shutting down legitimate Chinese and Russian soft power tools can be counterproductive. Like any form of power, soft power is often used for competitive zero-sum purposes, but it can also have positive-sum effects. For example, if China and the United States wish to avoid conflict, exchange programs that increase American attraction to China, and vice versa, can be good for both countries. And on transnational challenges such as climate change, soft power can help build the trust and networks that make cooperation possible. Yet as much as it would be a mistake to prohibit Chinese soft power efforts simply because they sometimes shade into sharp power, it is important to monitor the dividing line carefully. Take the 500 Confucius Institutes and 1,000 Confucius classrooms that China supports in universities and schools around the world to teach Chinese language and culture. Government backing does not mean they are necessarily a sharp power threat. The BBC also gets government backing but is independent enough to remain a credible soft power instrument. Only when a Confucius Institute crosses the line and tries to infringe on academic freedom (as has occurred in some instances) should it be treated as sharp power.

To respond to the threat, democracies should be careful about offensive actions. Information warfare can play a useful tactical role on the battlefield, as in the war against the Islamic State (or ISIS). But it would be a mistake for them to imitate the authoritarians and launch major programs of covert information warfare. Such actions would not stay covert for long and when revealed would undercut soft power.


The Meaning of Sharp Power
How Authoritarian States Project Influence
By Christopher Walker and Jessica Ludwig
in Foreign Affairs/ Council on Foreign Relations
November 16, 2017

Although there are differences in the shape and tone of the Chinese and Russian approaches, both stem from an ideological model that privileges state power over individual liberty and is fundamentally hostile to free expression, open debate, and independent thought.

(...)

Beijing and Moscow have methodically suppressed genuine dissent, smeared or silenced political opponents, inundated their citizens with propagandistic content, and deftly co-opted independent voices and institutions—all while seeking to maintain a deceptive appearance of pluralism, openness, and modernity. Indeed, the dazzling variety of content available to consumers helps disguise the reality that the paramount authorities in these countries brook no dissent. In China’s case, a sophisticated system of online manipulation—which includes a vast, multilayered censorship system and “online content monitors” in government departments and private companies who number in the millions—is designed to suppress and neutralize political speech and collective action, even while encouraging many ordinary people to feel as though they can express themselves on a range of issues they care about.

(...)

As the essays in a forthcoming report by the National Endowment for Democracy’s International Forum for Democratic Studies point out, the authoritarians are not engaged in a form of public diplomacy as democracies would understand it. Instead, they appear to be pursuing more malign objectives, often associated with new forms of outwardly directed censorship and information manipulation.

The serious challenge posed by authoritarian sharp power requires a multidimensional response that includes unmasking Chinese and Russian influence efforts that rely in large part on camouflage—disguising state-directed projects as the work of commercial media or grassroots associations, for example, or using local actors as conduits for foreign propaganda and tools of foreign manipulation. It will also require that the democracies, on the one hand, inoculate themselves against malign authoritarian influence that corrodes democratic institutions and standards and, on the other, take a far more assertive posture on behalf of their own principles.

quinta-feira, abril 02, 2009

Portugal 95

O submundo da banca e da política

O mesmo dinheiro que os depositantes retiram do Millennium BCP, do BPN e do pseudo Banco Privado, por óbvios motivos de precaução, tem vindo a regressar àqueles mesmos covis pela mão do Estado!


"A situação de liquidez do BPN atingiu valores absolutamente insustentáveis a curto prazo"

Jornal de Negócios com Lusa — A administração do Banco Português de Negócios (BPN) está preocupada com a dimensão das saídas de depósitos da instituição e admite que a liquidez do banco atingiu valores insustentáveis a curto prazo.

... Numa carta interna dirigida às redes comerciais de retalho e de empresas do BPN, à qual a agência Lusa teve acesso, Jorge Pessoa, administrador do banco recentemente nacionalizado, começa por dizer aos colaboradores que "a situação de liquidez do banco atingiu valores absolutamente inimagináveis e insustentáveis a curto prazo".

"A saída diária de depósitos, em valores que chegam a atingir as dezenas e mesmo as centenas de milhões de euros, sem a necessária e vital compensação, pela via da captação de novos depósitos, está a conduzir a instituição para uma situação muito delicada e de extrema gravidade", escreveu o administrador, acrescentando que o cenário descrito "compromete seriamente o futuro do banco".

Uma das ilusões democráticas mais renitentes, nomeadamente em Portugal, é a de que as decisões que realmente fazem mover as carruagens dos países são obra dos governos e se decidem nos parlamentos, entre jogos de retórica mais ou menos inflamados.

A verdade, porém, é que o essencial da política contemporânea, por mais democrática que aparente ser, tem lugar em requintados restaurantes longe dos olhares públicos, ou em clubes de decisão exclusivos, se não mesmo secretos. As cerimónias oficiais, de que as actividades parlamentares, as reuniões ministeriais e a propaganda mediática em geral são os principais instrumentos, não fazem mais do que tratar do acessório, fazendo ao mesmo tempo passar discretamente o essencial sob a forma de decretos-lei regulamentares, portarias e múltiplos vazios legais, sem a menor suspeição de quem aprova.

Ou seja, a democracia domesticada actual é cada vez mais a cobertura doce, festiva e cara de uma inatacável e discreta plutocracia dominante, de que o sistema financeiro é a principal alavanca.

Higiene dentária

Conto a propósito uma anedota verdadeira que me foi transmitida por um familiar farmacêutico já desaparecido.

Corria o tempo da ditadura (1926-1974). Um dos problemas que preocupava em meados da década de 60 um dos ministros de Salazar era o das estatísticas desfavoráveis sobre a higiene oral dos portugueses. Segundo os números recolhidos pela indústria, que logo alimentavam estatísticas internacionais nada abonatórias do regime, os portugueses lavavam pouco os dentes depois das refeições. Claro que a indústria farmacêutica tinha outro problema: não vendia o suficiente. As multinacionais que por essa altura tinham já desembarcado em Portugal — com grande destaque para a célebre Colgate-Palmolive — andavam preocupadas. A publicidade começara por dar bons resultados, mas a quantidade de produto vendido, com base na qual se construíam as estatísticas de consumo, aumentava apesar de tudo devagar.

O governo de Salazar ambicionava outra ideia da higiene oral lusitana, e os fabricantes de pasta dentrífica queriam aumentar as vendas. Hummmm! Caso bicudo. Que fazer? Será que um decreto-lei de São Bento poderia ajudar? Mais anúncios como aqueles famosos spots da Pasta Medicinal Couto, chegariam? A ditadura era para coisas sérias, e não para forçar os portugueses a lavar os dentes. Os custos de publicidade, por sua vez, têm limites e não podem comprometer as margens de lucro. E se fosse hoje, que saída lhe poderia dar a nossa democracia parlamentar? Serviria a ASAE para alguma coisa num aperto destes? Creio que não, pelo menos directamente.

A solução acabaria por ocorrer a um jovem engenheiro químico, no laboratório de análises de um dos fabricantes do hoje indispensável sabão para os dentes.

O laboratório andava há um ano atrás da fórmula para aumentar o consumo da pasta dentrífica. O ângulo de abordagem fora o da melhoria do sabor e aspecto da pasta que escorria dos tubos de chumbo. Os resultados obtidos junto dos consumidores-teste foram porém decepcionantes. O tempo escorria e tardava uma ideia luminosa. Até que um belo dia alguém perguntou: e se alargássemos o buraco de saída da pasta? A história nunca se tornou pública, mas a verdade é que Salazar e os fabricantes da Colgate e da Couto ficaram muito satisfeitos!

Formatação cognitiva

Mais recentemente, alguém deu à actual ministra da educação uma solução parecida para resolver o problema das más estatísticas portuguesas no campo educativo. Se se alargar os buracos de saída em cada compartimento do ciclo educativo, haverá mais gente a passar do primário para o secundário, e deste para o universitário. Juntando estas aberturas ao esquema de Bolonha, e refreando o poder excessivo dos professores através do recurso à uniformização dos métodos de avaliação, nomeadamente pelo uso generalizado de testes de escolha múltipla —os famosos testes americanos —, em vez de exames à memória e ao raciocínio pela via dos interrogatórios de catedra, Portugal verá finalmente evoluir os níveis da educação prestada aos cidadãos, tal como outrora acabara por ver evoluir a qualidade da sua higiene oral.

Claro que este estratagema pode conduzir ao rebaixamento dos níveis cognitivos, culturais e cívicos dos formandos. Mas para corrigir este desconforto é que servem os rankings das escolas e universidades e a própria percepção crescente por parte das novas gerações de que a falta de emprego e o emprego precário são os seus destinos naturais à luz das novas sociedades tecnológicas. O acesso ao trabalho será sempre escasso e temporário no futuro, ou seja, muito competitivo. Ao contrário do que sucedeu às gerações dos nossos pais e avós, o ensino superior que Bolonha inaugurou é apenas um limbo de massificação e uniformidade da espécie urbana. Há, porém, que salvar as estatísticas, enquanto o problema da formação das massas não for radicalmente revisto à luz dos constrangimentos provocados pela robotização, nanoficação, biopolitização e digitalização de todos os processos produtivos. Ainda não foi encontrada a fórmula. Mas, como no caso da higiene dentária, não será a retórica democrática a descobri-la.

Obras públicas

Outro tema cuja problematização adequada tem vindo a escapar ao olhar democrático, e portanto aos jogos florais da Assembleia da República, é o das grandes obras públicas.

Os políticos e os média envolveram-nos numa miríade de pequenas discussões, certamente importantes do ponto de vista técnico, mas irrelevantes para o que verdadeiramente as move.

As autoestradas que aí vêm, a nova travessia rodo-ferroviária do Tejo, a rede de Alta Velocidade e a putativa cidade aeroportuária que o génio do aeromoscas de Beja quer repetir em Alcochete, são irracionais, seja tendo em conta a calamidade económico-financeira mundial actual — que não terminará antes de 2012, podendo até agravar-se exponencialmente até lá! —, seja avaliando os insustentáveis níveis de endividamento público e privado do país, seja tendo em vista a manifesta falta de qualidade técnica e de rentabilidade expectável das soluções, seja ainda porque as alterações inevitáveis dos actuais paradigmas energéticos e de comportamento ambiental irão obrigar a mudar de vez os mesmíssimos pressupostos caducos que politicamente têm vindo a ser esgrimidos como justificação dos vultuosos investimentos anunciados. E no entanto, como temos visto, o governo acelera que nem uma quadrilha desembestada em direcção às obras, atropelando tudo e todos. Sem o dizer nem admitir, aquilo que o governo quer são contratos assinados tão rapidamente quanto possível. E porquê?

Pelo mesmo motivo que Gordon Brown e Barak Obama querem grandes programas de investimento. Ou seja, para justificar uma gigantesca inflação monetária capaz de apagar o fogo das dívidas com o papel recém saído das tipografias do dólar e do euro. Claro que esta saída airosa não irá dar bom resultado, e em seu lugar poderemos ter um desastre entre Weimar e o Zimbabué. A menos que sejam a China e o Japão a inundar os mercados de liquidez. Mas aí, a factura que os Estados Unidos e a Europa irão pagar por semelhante imprudência é a antecipação precipitada da supremacia asiática. A China espera alcançar este estatuto lá para 2020, ou 2030. Obrigá-la a antecipar o plano parece-me uma ideia perigosa. Seja como for, uma qualquer espécie de Tratado de Tordesilhas terá que acontecer em breve.

As dívidas queimam, ó se queimam! No caso português, como em muito outros países, o risco é mesmo o de uma paragem cardíaca, com o Estado sem verbas para pagar aos funcionários públicos (forças armadas e policiais incluídas) e a consequente insolvência. Estamos de facto numa situação catastrófica do ponto de vista financeiro, muito semelhante à que antecedeu a queda da primeira República. Aliás, com uma agravante: sem colónia alguma que nos valha!

Desta vez, o que acontece por baixo da espuma mediática da política é pura e simplesmente a capitulação antecipada de parte importante do nosso PIB, e sobretudo do nosso Rendimento Nacional, sob a forma de uma gigantesca alienação de receitas de longo prazo (embrulhadas nas deploráveis parcerias público privadas a 50, 75 e mais anos), em troca de empréstimos urgentes, destinados a aliviar temporariamente os efeitos imediatamente nefastos do endividamento imprudente do país.

Se virmos bem, não parece haver outra forma de atrair liquidez a Portugal. E como é evidente, não se pode falar destas coisas em público!

Esponjas banqueiras

Vejamos, por último, o caso da actual crise financeira e o modo como tem sido gerida, por exemplo, nos casos do BCP, BPN e Caixa Geral de Depósitos.

Sabe-se que dezenas de milhar de contas, quer no BCP, quer no BPN, têm sido fechadas pelos respectivos clientes, descontentes e assustados com os escândalos e prováveis falências dos bancos a quem confiaram os seus depósitos. Sabe-se também que a Caixa Geral de Depósitos tem sido a grande beneficiária desta situação, na medida em que boa parte dos clientes que tem abandonado o BCP e o BPN, já para não falar do pseudo Banco Privado, vem confiando o depósito das suas poupanças, dos seus salários e dos seus lucros, à Caixa Geral de Depósitos. Normalmente, uma tal situação, que a notícia sobre o BPN acima transcrita bem evidencia, conduziria rapidamente à falência dos ditos bancos, cujas cotações no caso do BCP não param de cair. No entanto, que vemos?

Por um lado, vemos uma pessoa idosa e doente —o antigo presidente do BPN—, em prisão preventiva há meses, como se a cratera do BPN não devesse já ter arrastado para o calabouço mais suspeitos da prática de crimes económicos. Vemos o Estado entrar pelo BPN dentro, sob o disfarce de uma nacionalização de emergência, calando-se depois muito caladinho sobre tudo o que encontrou e sobre o futuro do banco. Vemos ainda a Caixa Geral de Depósitos a renegociar créditos atribuídos sem controlo à especulação financeira, em condições altamente discutíveis. Supomos mesmo que a CGD tem vindo a comprar acções do Millennium BCP sempre que este cai aos trambolhões da Bolsa abaixo. Por fim, a Caixa terá já injectado quantias astronómicas de euros no BPN, sem que se saiba exactamente para quê.

Resumindo, o mesmo dinheiro que os depositantes retiram, por óbvios motivos de precaução, do Millennium BCP, do BPN e do gestor de fortunas chamado Banco Privado, tem vindo a regressar àqueles mesmos covis pela mão do Estado! Se tudo isto se faz com falta de transparência, nas barbas do parlamento, do governo e do presidente da república, é porque a teoria de que o essencial escapa à democracia tem pernas para andar!

Vejamos apenas este caso: Joe Berardo pediu centenas de milhões de euros à Caixa Geral de Depósitos para comprar acções do Millennium BCP. Parte do dinheiro usado na compra das ditas acções foi emprestado pela Caixa Geral de Depósitos, e a liquidação do correspondente empréstimo deveria ter ocorrido há alguns meses atrás. No entanto, isso não aconteceu. Ao invés, a Caixa aceitou renegociar em termos altamente vantajosos para o milionário o prolongamento por mais cinco anos dos créditos vencidos, ao que se sabe sem juros, ou pagando juros insignificantes. Independentemente de se avaliar publicamente a qualidade dos colaterais dados em garantia pelo novo empréstimo, a verdade é esta: Berardo dispõe, por mais cinco anos, de umas centenas de milhões de euros à sua inteira disposição, que poderá aplicar em negócios rentáveis, pagando 0% de juros ao banco que aceitou renegociar a dívida neste termos. Se isto não é uma forma de alimentar com dinheiro público o gosto pelo risco de quem há muito se encontra na primeira linha do tipo de especulação que conduziu à actual crise mundial, então não sei o que é.

No meio da tormenta o ruído das baratas pode tornar-se ensurdecedor. As formigas há muito que foram expulsas da mesa de migalhas. Sobram tão só intenções piedosas que na realidade são demagogia fina e nada mais. Os especuladores, esses, não param de conspirar. E agora mais do que nunca.

O governo de Obama está a enviar milhares de milhões de dólares para a falida AIG, mas o dinheiro que lá chega, extorquido aos bolsos do contribuinte americano, está afinal a ser usado para gerar lucros súbitos e extraordinários à mesma banca sombria (nomeadamente o famigerado Goldman Sachs) que irresponsavelmente causou o actual colapso económico-financeiro mundial.

O extracto do artigo que se segue é um lancinante alarme para o que nos espera. Na realidade, caminhamos para uma revolução social sem precedentes.

AIG Was Responsible For The Banks' January & February Profitability
Posted by Tyler Durden at 6:35 PM — Zero Hedge.

Zero Hedge is rarely speechless, but after receiving this email from a correlation desk trader, we simply had to hold a moment of silence for the phenomenal scam that continues unabated in the financial markets, and now has the full oversight and blessing of the U.S. government, which in turns keeps on duping U.S. taxpayers into believing everything is good.

... AIG, knowing it would need to ask for much more capital from the Treasury imminently, decided to throw in the towel, and gifted major bank counter-parties with trades which were egregiously profitable to the banks, and even more egregiously money losing to the U.S. taxpayers, who had to dump more and more cash into AIG, without having the U.S. Treasury Secretary Tim Geithner disclose the real extent of this, for lack of a better word, fraudulent scam.

In simple terms think of it as an auto dealer, which knows that U.S. taxpayers will provide for an infinite amount of money to fund its ongoing sales of horrendous vehicles (think Pontiac Azteks): the company decides to sell all the cars currently in contract, to lessors at far below the amortized market value, thereby generating huge profits for these lessors, as these turn around and sell the cars at a major profit, funded exclusively by U.S. taxpayers (readers should feel free to provide more gripping allegories).

What this all means is that the statements by major banks, i.e. JPM, Citi, and BofA, regarding abnormal profitability in January and February were true, however these profits were a) one-time in nature due to wholesale unwinds of AIG portfolios, b) entirely at the expense of AIG, and thus taxpayers, c) executed with Tim Geithner's (and thus the administration's) full knowledge and intent, d) were basically a transfer of money from taxpayers to banks (in yet another form) using AIG as an intermediary.

For banks to proclaim their profitability in January and February is about as close to criminal hypocrisy as is possible. And again, the taxpayers fund this "one time profit", which causes a market rally, thus allowing the banks to promptly turn around and start selling more expensive equity (soon coming to a prospectus near you), also funded by taxpayers' money flows into the market. If the administration is truly aware of all these events (and if Zero Hedge knows about it, it is safe to say Tim Geithner also got the memo), then the potential fallout would be staggering once this information makes the light of day.


OAM 568 02-04-2009 19:25 (última actualização: 03-04-2009 02:04)