quarta-feira, agosto 19, 2015

Marcelo vê presidenciais a voar


Balbúrdia no laranjal de Belém


Marcelo avisa sociais-democratas que não podem abrir brechas nas presidenciais
Antigo líder do PSD adverte que será "um problema se começa a haver o grupo A, o grupo B, o grupo C, o grupo D…”
Jornal de Negócios, Margarida Gomes, 19/08/2015 - 07:28

Ao PÚBLICO, o professor e comentador político insiste na tónica das divisões no principal partido da coligação – “é um problema se começa a haver o grupo A, o grupo B, o grupo C, o grupo D…” – e explica que “só evitando divisões internas é que o PSD consegue juntar na campanha todas as figura do partido”.

A cerca de meio ano das eleições para a Presidência da República, Marcelo não abre ainda o jogo sobre se vai entrar na corrida, mas fala de dificuldades para os candidatos do centro-direita. “Se continuarem a surgir mais candidaturas à esquerda começa a ser mais difícil competir para qualquer candidato do centro-direita”, refere, fazendo as contas às candidaturas que já andam no terreno e àquelas que se avizinham.

À 'esquerda', mas com grande projeção no eleitorado do centro e conservador, já temos candidata: Maria de Belém.

No laranjal do PSD-CDS a confusão tenderá a aumentar. Entre o intriguista-mor do reino (Marcelo) e a caricatura serôdia de Cavaco (Rui Rio) as opções presidenciais da direita apodrecem a olhos vistos.

Por sua vez, a proliferação de candidatos orientados para o centro e o centro-esquerda —Henrique Neto, Sampaio da Nóvoa, Maria de Belém, Paulo Morais e o candidato do PCP (será que Marinho e Pinto também irá a votos para Belém?)— vai, como bem teme Marcelo, retirar dezenas de milhar de votos ao candidato finalmente apoiado pelo PSD e CDS-PP.

E se assim for, à segunda volta, a convergência ao centro-esquerda, sobretudo se a coligação ganhar as Legislativas, estará garantida.

Quem não gosta de ouvir o professor Marcelo? Cada macaco no seu galho, como reza o provérbio!

segunda-feira, agosto 17, 2015

Maria de Belém, em Belém

Maria de Belém Roseira, provável sucessora de Cavaco Silva

Maria de Belém decidiu no momento certo


Sampaio da Nóvoa, uma nódoa fora do baralho, desapareceu antes de entranhar-se, como previ.

Prevejo agora que a 'irmã' Maria de Belém Roseira será a próxima inquilina de Belém. Uma compensação, em termos de equilíbrios institucionais, para a previsível derrota de António Costa nas Legislativas de 4 de outubro.

Maria de Belém terá o apoio da hierarquia religiosa —é presidente da Mesa da União das Misericórdias Portuguesas—, do PS de Costa e de Seguro, e ainda, na segunda volta, claro, do Bloco, do PCP, do Livre e do Nós.

Se houver uma renovação da atual maioria parlamentar —isto é um novo governo liderado por Pedro Passos Coelho, apoiado por uma maioria PSD-CDS/PP-???—, Marcelo, Rio e outros putativos candidatos do centro-direita irão à vida.

É tempo de termos uma mulher na chefia do estado.

Lamento a reação intempestiva de Henrique Neto a esta notícia, dada a conhecer hoje pelo jornal i.

domingo, agosto 16, 2015

Uma surpresa chamada Nós, cidadãos!

Símbolo do partido Nós, Cidadãos!

O que diz a mais recente micro-sondagem do António Maria


  • PSD-CDS: 39,2% [34,8%*] [38%**]
  • PS: 3,1% [36,3%*] [37%**]
  • PCP-PEV: 6,1% [10,0%*] [10%**]
  • BE: 7,7% [5,0%*] [8%**]
  • NÓS, Cidadãos!: 32,3%
  • PDR: 0,8% [2,3%*] 
  • Livre: 5,4% [1,7%*] 
  • Outros: 5,4% [9,9%*] [3%**]
  • Abstenções: 10% 
  • Total de respostas obtidas: 145
  • Total de intenções de voto em partidos: 130 
*—resultados do Barómetro Eurosondagem Agosto 2015
**—resultados da sondagem da Universidade Católica para o DN, 19/06/2015

Uma sondagem propriamente dita obedece a regras extraídas da experiência e sobretudo de uma conjugação metódica de indicadores acumulados ao longo de sucessivos eventos similares ao que se pretende sondar. Desde logo é preciso identificar, classificar, segmentar e quantificar adequadamente as amostras a colher, para assim garantir uma razoável representatividade e fiabilidade das informações colhidas durante a sondagem. É igualmente necessário definir a maneira de chegar aos campos de sondagem de molde a não danificar ou diminuir a qualidade dos resultados (por exemplo, se faço sondagens de opinião usando exclusivamente o telefone fixo corro sérios riscos de obter maus resultados, pois a maioria das pessoas utiliza hoje telefones móveis). Finalmente, precisamos de boas fórmulas de compilação da informação e dedução de resultados.

Nada disto foi tido em conta na micro-sondagem deste blogue. O seu valor é, pois, meramente heurístico, e representa, em primeiro lugar, o universo de leitores deste blogue entre 8 e 14 de agosto de 2015.

O nosso inquérito sobre as próximas eleições legislativas é claro, embora pudesse incluir, e não incluiu, todos os partidos concorrentes. Mas a amostra considerada (145 respostas) é, por um lado, circunscrita aos leitores eventuais deste blogue e das página que O António Maria publica regularmente no Facebook e no Twitter e, por outro, aleatória, pois não considera a representatividade própria dos círculos eleitorais na organização das amostras.

Não deixa, no entanto, de ser extraordinária a sobre-representação das intenções de voto no Nós, Cidadãos!, em contraste com a humilhante sub-representação das intenções de voto no PS.

Este 'disparate' estatístico é tanto mais intrigante e sedutor quanto os 'resultados' da coligação PSD-CDS, do PCP e do Bloco estão perfeitamente em linha com o Barómetro Eurosondagem Agosto 2015 sobre o mesmo assunto.

De onde vêm as explosivas intenções de voto no Nós. Cidadãos!?

Vêm do próprio movimento, claro. Mas a quase ausência de intenções de voto no PS também tem algum significado, ou não?

Vai ser lindo comparar esta perlaboração estatística com os resultados de 4 de outubro!


POST SCRIPTUM

Na sondagem da Universidade Católica para o JN publicada em 19 de junho de 2015, o PS continua a cair aos trambolhões, embora não tão catastroficamente como opinam os leitores deste blogue, a coligação continua a recuperar, para um valor muito próximo da nossa sondagem de algibeira, nos dois inquéritos o Bloco sobe significativamente relativamente aos resultados da última Eurosondagem, os comunistas, por sua vez, parecem estabilizados nos 10%, 3,9% acima das respostas dadas ao António Maria. Por fim, os novos partidos continuam invisíveis, mais parecendo uma ocultação do que uma sondagem honesta das intenções de voto do eleitorado.

PSD/CDS-PP: 38%
PS: 37%
PCP-PEV: 10%
BE: 8%
Branco/nulo: 4%
Outros: 3%

Atualizado em 18/8/2015 16:28 WET

domingo, agosto 09, 2015

Tudo na mesma depois de 4 de outubro?


Desta vez vou votar


Resta saber o que determinará o comportamento dos portugueses depois de uma bancarrota ainda suspensa por fios e quatro anos de austeridade, se a indignação pelo castigo, se o medo de que o regresso à corrupção sem freio e ao desvario 'socialista' relance o país na ladeira do colapso.

Há quatro sinais que favorecem a renovação da coligação liderada por Pedro Passos Coelho:
  1. conseguiu travar o descalabro das contas públicas, ainda que à custa de uma enorme austeridade e repressão fiscal, 
  2. conseguiu melhorar substancialmente as contas externas, por via do aumento das exportações e do turismo, das remessas dos emigrantes, da queda do consumo privado e ainda do regresso tímido do investimento, nomeadamente através dos processos de privatização e reprivatização,
  3. conseguiu travar a subida empinada do desemprego, criando algum emprego novo, embora precário e mal pago, e finalmente, 
  4. levou um governo de coligação até ao fim, sinal de que houve estabilidade política apesar da gravidade da situação económica, financeira e social.
Do lado do Partido Socialista, pelo contrário, há vários indicadores que desaconselham os mais prudentes, ainda que com o coração à esquerda, a votar no PS de António Costa:
  1. O PS que quer chegar ao poder a 4 de outubro é a mesma maioria soarista e socratina que conduziu o país a três situações de bancarrota, resgatadas in extremis por três violentos programas de austeridade impostos pelos credores (1977, 1983, 2011);
  2. O PS que quer chegar ao poder prometeu atacar a propriedade privada, nomeadamente através da reintrodução do imposto sucessório, e prometeu, pasme-se, atingir uma taxa de desemprego em 2015 e 2016 superior à que hoje temos (O Insurgente);
  3. O PS que quer chegar ao poder prometeu diminuir as receitas do estado, aumentar as despesas do mesmo estado, estimular o consumo e empurrar com a barriga a diferença (i.e. mais dívidas públicas e privadas) até às gerações futuras—tudo em nome, claro, dos direitos da nomenclatura estabelecida (não mais do que 1% da população), que vê naturalmente com maus olhos qualquer perda de rendimento, mesmo se proveniente de um rol interminável de privilégios;
  4. O PS que quer chegar ao poder sabe que tem escassas hipóteses de o conseguir, pois ou sofrerá uma derrota humilhante nas eleições de 4 de outubro, apesar das sondagens, ou ficará por décimas à frente da coligação, sem possibilidade alguma de formar uma maioria parlamentar estável, empurrando assim o país (e o PS!) para a instabilidade num período que continuará particularmente crítico para a economia, para as finanças, para o emprego e para a solidariedade social.
O PCP, por sua vez, poderá subir a sua votação e até aumentar o número de deputados se, até 4 de outubro, conseguir atrair alguns milhares de eleitores habituados a votar 'à esquerda' e que deixaram de se reconhecer ou estão desiludidos com o populismo radical do Bloco, e a falsa e desastrosa esquerda protagonizada pelo PS. Há quem preveja mesmo uma subida extraordinária deste partido. A previsível substituição de Jerónimo de Sousa por uma geração que mal conheceu Cunhal e não sabe o que foi a Rússia estalinista poderá criar um quadro favorável à substituição do decadente PS, por um partido de esquerda bem organizado, experiente, ancorado em bases sociais amplas e estáveis, firme nos princípios, mas muito mais flexível na linguagem e nas causas, e sobretudo disposto a promover uma plataforma eleitoral democrática aberta capaz de ganhar eleições e governar 'à esquerda'.

A crise sistémica do capitalismo, que decorre estruturalmente dos picos energético e de matérias primas essenciais, vai prolongar-se por mais de uma década, e depois tudo será diferente. A primeira metade do século 21 tem-se revelado como um doloroso período de transição e metamorfose. Cada vez menos decisões dependerão dos partidos políticos, mas os que souberem promover e/ou integrar-se em plataformas de cidadania cognitiva culturalmente abertas sobreviverão, podendo mesmo contribuir para o desenho de uma nova pólis global.

Neste ponto não é de excluir o contributo que um Bloco de Esquerda renovado, sobretudo na lógica de competência argumentativa inaugurada por Mariana Mortágua, poderá dar à inadiável metamorfose do nosso esgotado sistema partidário. O Bloco poderá servir de ponte entre a desagregação do PS e o reforço do PCP, lançando ideias e iniciativas inteligentes com vista a uma reorganização da esquerda que sirva quem trabalha, mas sirva também o país no seu conjunto.

Os novos partidos, de que destacamos o Nós-Cidadãos, o Livre e o Partido Democrático Republicanos, poderão ter, ou não, a sorte dos outros grupinhos mais antigos e mais ou menos familiares que não conseguiram até hoje sair das suas cascas narcisistas. Tudo dependerá das suas ideias, do modo como falarem e agirem, do tempo necessário para se darem a conhecer, e da geometria da decomposição partidária que acompanhará a metamorfose do regime. Se conseguirem entusiastas de todas as idades, que nunca votaram ou que estão fartos de passar cheques em branco a partidos que nada fizerem, ou mal fizeram, terão futuro; mas se permanecerem fechados nos seus embriões fundadores, acabarão perdidos no limbo onde vegetam há décadas muitas outras siglas partidárias sem partido.

Precisamos de atacar em conjunto o fenómeno corrosivo da corrupção, precisamos de simplificar o texto constitucional e de lhe dar uma ambição utópica menos marcada pelo credo marxista degenerado que nada provou em parte nenhuma, precisamos de uma democracia mais justa e mais partilhada e participada, mais direta, melhor distribuída, mais compósita, mas também mais económica e eficiente. Este desiderato não deveria dividir a sociedade, e por isso pode e deve ser o eixo da renovação constitucional.

Um parlamento com mais partidos é uma coisa boa, e não uma coisa má. Os que lá estão vão continuar, mas é preciso abater o Bloco Central, que é uma intolerável argamassa de interesses e mordomias moldada por uma endogamia de tipo feudal. A entrada de novos partidos com pragmáticas políticas mais inovadoras, de que o Nós-Cidadãos será porventura o melhor exemplo, ajudará a promover soluções governativas menos atacadas de previsibilidade à nascença. Será bom para o CDS/PP, para PCP e para o Bloco, e será bom para toda a democracia na medida em que der cabo do terceiro-mundista Bloco Central que nos trouxe até à desgraça em que estamos.

Os partidos não são a solução. 

Mas continuamos a precisar deles para promover com prudência a metamorfose para que as sociedades pós-contemporâneas caminham a passo rápido. Vamos a caminho de uma sociedade global pautada por um modelo de crescimento material lento, mas onde poderá produzir-se um novo modelo de crescimento, imaterial e cultural, muito rápido, complexo e surpreendente, onde a humanidade, em vez de desaparecer, poderá inaugurar uma espécie de novo Renascimento, fortemente marcado pelo conhecimento, pelo desenvolvimento integral das emergentes redes sociais, pela solidariedade ecológica, pela exigência civilizacional partilhada, e por novos paradigmas de colaboração competitiva.

Desta vez vou votar, e convido os mais céticos a fazerem o mesmo.

Atualizado em 16/8/2015, 00:57 WET

sábado, agosto 08, 2015

A verdade do emprego num só gráfico

Gráfico da esquerda: A. S. Pereira; gráfico da direita: INE
Clique para ampliar

Não vale a pena tapar o Sol com a peneira do populismo partidário


A guerra eleitoral em curso sobre as estatísticas do emprego e do desemprego é o exemplo típico da demagogia de que padece a maioria dos partidos há quatro décadas sentados na Assembleia da República e em todos os escaninhos da comunicação social enquanto o país foi caindo, uma vez mais, paulatinamente, na fossa: bancarrota, salva in extremis pelos próprios credores, desequilíbrio fatal das contas externas, emigração em massa, colapso do sistema financeiro, balbúrdia no seio da nomenclatura (1% da população)—ou seja, na presidência da república, governos central e regionais, parlamentos, poder local e agremiações corporativas de todas as cores e feitios— em suma, fim de mais um regime, atingido na sua fase final por uma corrupção galopante e sem vergonha.

Haverá saída para isto? Há. Mas é preciso começarmos por eliminar o ruído e o fogo-de-artifício atrás do qual os piratas do regime continuam a esconder-se.

O PS ainda existe?


Uma anedota chamada Partido Socialista


Esta manhã um veterano do Partido Socialista telefonou-me apostando comigo que vai haver uma grande vitória do PS, ou uma grande vitória da coligação PSD-CDS/PP, e que o PCP vai chegar aos 20%, pulverizando o Bloco e obliterando qualquer presença do PDR, do Livre e do Nós-Cidadãos na próxima assembleia legislativa. Não é isto que dizem as sondagens, mas como já perdi um almoço com ele, valerá a pena deter-me um nadinha mais nos seus argumentos, não sem antes me inclinar para a hipótese de uma grande humilhação do PS nas próximas eleições seguida de um banho de sangue no Largo do Rato e nas caves de uma dúzia de tascas maçónicas.

“Esta história não é minha”. PS acusado de fabricar histórias dos cartazes
Observador, 7/8/2015, 20:22

“A história não é minha. Aquela afirmação é falsa”. É assim que Maria João resume a utilização da sua fotografia colada à frase “Estou desempregada desde 2012, para o governo não existo” num dos polémicos cartazes do PS, em declarações ao Observador. Maria João diz que não estava desempregada e que não disse o que está no outdoor. Mais: acrescenta que quando tirou a fotografia, que viria a aparecer espalhada pelo país nos cartazes do partido, prestava até serviços à Junta de Freguesia de Arroios (socialista) e foi lá que o fotógrafo a apanhou. Mais ainda: diz não ter dado autorização para que a sua cara aparecesse nos cartazes, quer que o partido os retire das ruas e admite processar o PS por uso indevido de imagens. Mas a história com os polémicos cartazes não acaba aqui. Há mais dois casos na mesma junta.

O PS comandado pelo sargento Costa é o mesmo partido que Mário Soares pariu no idos anos oitenta do século passado. Do fax de Macau à prisão preventiva de um ex-primeiro ministro que se apelida por um dos seus nomes próprios —Sócrates—, e à prisão domiciliária de um banqueiro que em tudo mandava e a muitos garantia prosperidade e fama terrena eternas, nada mudou, salvo o colapso do regime assim nascido e deformado até à náusea.

A rapaziada e a raparigada mais nova do PS que entretanto acedeu às mordomias parlamentares esfumaram-se debaixo das mini-saias e aventais cor-de-rosa do poder. O cesarismo impera nas hostes do Rato. Voltar a entregar o poder a este bando de senadores corruptos do regime que empurraram alegremente até à fossa seria puro masoquismo eleitoral. Donde a minha propensão para pensar que Passos Coelho arrancará uma nova vitória nas próximas eleições. Seria bom que o Nós-Cidadãos elegesse um ou dois deputados, mas vai ser muito difícil. Nisto estou de acordo com o meu amigo e veterano socialista. Por outro lado, se o PCP crescer, e João Oliveira surge, tal como Mariana Mortágua no Bloco, como um dos políticos mais cristalinos da nova geração, sem realejo, prudente, realista, assertivo, coerente, então ao Partido Socialista poderá acontecer o que aconteceu ao PS italiano depois da Operação Mãos Limpas: desaparecer!

BES com prejuízos de quase 9 mil milhões em Agosto de 2014
Jornal i, 07/08/2015 14:57:29

Os prejuízos do Banco Espírito Santo subiram quase 20 vezes em sete meses, de 462,5 milhões para 8,947 mil milhões de euros, entre 31 de Dezembro de 2013 e 4 de Agosto de 2014, data da resolução decidida pelo Banco de Portugal, que dividiu a instituição em duas, criando o Novo Banco para ficar com a actividade geral e deixou ao BES os activos problemáticos.

O BCE mandou fechar a loja do Espírito Santo por motivos óbvios que vamos conhecendo mês a mês. Passos Coelho percebeu a tempo que dar a mão a semelhante monstro financeiro seria um suicídio político e, assim, disse ao DDT — Não!

Só mesmo o socratino António Costa contava com o banqueiro para o levar no andor da corrupção até São Bento. Só mesmo ao beato Mário Soares lembraria peregrinar até à Boca do Inferno para visitar o novo arguido. O PS ainda existe?

sexta-feira, agosto 07, 2015

Finpro e a cleptocracia indígena

Obrigado WHKITG

A turma 'socialista' andou a jogar dinheiro da Segurança Social no casino dos private equitiy


A nomenclatura partidária está a esconder o escândalo Finpro com doses maciças de propaganda em volta do magno tema das estatísticas do emprego. O pânico eleitoral é evidente, para o PS, mas também para o PSD e o CDS/PP.

Ora veja quem então andou a brincar com a sua reforma.

Portuguesa Finpro obrigada a vender a participação no Grupo TCB
6 Agosto, 2015 at 14:00 por T&N

Os 18,5% do Grupo TCB, adquiridos em 2007 pela portuguesa Finpro, serão em breve colocados à venda na sequência da falência da holding controlada por Américo Amorim, Banif e CGD.

Falhado o primeiro PER e recusado o segundo, o destino da Finpro é a insolvência e a liquidação dos activos para saldar as dívidas acumuladas de 251,7 milhões. Entre esses activos destaca-se a participação indirecta, através da Portobar Capital, no capital do Grupo TCB, o maior operador portuário espanhol.

[...]

É este activo que terá agora de ser alienado. Curiosamente, o BIC, controlado a 25% por Américo Amorim, quando da apresentação do primeiro PER, e também a Caixa Geral de Depósitos, no segundo PER, votaram contra os planos de recuperação da holding apresentados pelos accionistas.

Estado e Amorim juntos na falência da Finpro
Negócios, 06 Agosto 2015, 00:01 por Rui Neves

Depois de dois processos de revitalização falhados, a Finpro declarou-se falida. A dívida ultrapassa os 250 milhões de euros. Segue-se a liquidação da sociedade controlada pelo Estado, Banif e Américo Amorim.


Finpro reconhece créditos inferiores aos reclamados pela banca
Sol, Sandra Almeida Simões | 07/04/2015 15:01

A Finpro é uma sociedade gestora de capitais públicos e privados. O Estado – através do Fundo de Estabilização Financeira da Segurança Social –, o Banif, a CGD e Américo Amorim são os seus principais accionistas.

[A Finpro] Fundada em 1998 [durante o governo PS-Guterres-Pina Moura-Coelho-Sócrates], [...] começou por dedicar-se ao investimento em private equity e infra-estruturas. Hoje, tem vários investimentos internacionais e aderiu, sem sucesso, a um primeiro Plano Especial de Revitalização no Verão de 2014.

Ou seja, durante dois governos cor-de-rosa os descontos da segurança social andaram a alimentar uma holding de private equity sem que nada tivesse sido perguntado aos contribuintes. A negociata (1) até funcionou, como agora se vê, em regime PPP: lucros para os privados, enquanto houve, prejuízos para os contribuintes e para os eleitores que há décadas alimentam a corja corrupta do Bloco Central—a ostras, pérolas e Pão de Ló— assim que a tempestade financeira mundial começou.

A Auditoria Integrada ao Instituto de Gestão de Fundos de Capitalização da Segurança Social, IP, pelo Tribunal de Contas, em 2009, e o correspondente Relatório publicado em 2010 (ver PDF), dão claramente conta da trapalhada e ausência de transparência da parceria cujo fim agora conhecemos.

A cleptocracia indígena no seu melhor.

Ainda vai votar no PS?

NOTAS
  1. Não deixa de ser sintomática a mudança de direção deste Instituto sempre que muda o governo. Por exemplo, o presidente do IGFCSS entre 2006 e 2013, nomeado pelo governo de José Sócrates, foi Manuel Pedro Baganha, grande entusiasta da privatização e obscuridade crescente do organismo encarregado de administrar o fundo de capitalização dos nossos descontos para a Segurança Social. Não será este mais um caso para a PGR investigar?

quinta-feira, agosto 06, 2015

Sem energia barata não há crescimento

Figure 12. World GDP in 2010$ (from USDA) compared to World Consumption of Energy (from BP Statistical Review of World Energy 2014)

O petróleo continua muito caro!


What we really need is more high wage jobs. Unfortunately, these jobs need to be supported by the availability of large amounts of very inexpensive energy. It is the lack of inexpensive energy, to match the $20 per barrel oil and very cheap coal upon which the economy has been built that is causing our problems. We don’t really have a way to fix this [Gail Tverberg].

Em vez de ouvir os desvarios geopolíticas sobre energia do senhor Partex (António Costa Silva) seria bem melhor ler o que escreve Gail Tverberg.

A queda dos preços do petróleo não é uma consequência do excesso de oferta e de produção, mas sim da queda agregada da procura motivada pelo preço demasiado alto do petróleo e das commodities em geral.

Neste momento, o preço do petróleo está abaixo do seu custo real uma vez descontado o efeito inflacionista do mercado especulativo que é por definição o seu. Deste modo a indústria petrolífera tenta responder à estagnação económica induzida, precisamente, pelo preço insustentável da energia e das matérias primas—do petróleo, do gás natural, da terra fértil, da água potável, das sementes e dos metais comuns, preciosos e raros.

Em suma, o petróleo está a ser vendido abaixo do seu preço de custo (deflação) porque se tornou demasiado caro. O petróleo barato acabou em 2006 (Peak Oil).

Sem crescimento do consumo energético não há crescimento. Sem crescimento, o endividamento gera instabilidade económica, financeira, social e política.

Ponto.

E agora?

Figure 1. Oil as a percentage of total energy consumption in 2006, based on June 2015 Energy Information data. (Inverted order from chart originally shown.)

Nine Reasons Why Low Oil Prices May “Morph” Into Something Much Worse
by Gail Tverberg
Posted to Our Finite World on July 22, 2015

[...]

4. The way workers afford higher commodity costs is primarily through higher wages. At times, higher debt can also be a workaround. If neither of these is available, commodity prices can fall below the cost of production.

If there is a significant increase in the cost of products like houses and cars, this presents a huge challenge to workers. Usually, workers pay for these products using a combination of wages and debt. If costs rise, they either need higher wages, or a debt package that makes the product more affordable–perhaps lower rates, or a longer period for payment.

Commodity costs have been rising very rapidly in the last fifteen years or so. According to a chart prepared by Steven Kopits, some of the major costs of extracting oil began increasing by 10.9% per year, in about 1999.

In fact, the inflation-adjusted prices of almost all energy and metal products tended to rise rapidly during the period 1999 to 2008 (Figure 7). This was a time period when the amount of mortgage debt was increasing rapidly as lenders began offering home loans with low initial interest rates to almost anyone, including those with low credit scores and irregular income. When debt levels began falling in mid-2008 (related in part to defaulting home loans), commodity prices of all types dropped.

Figure 6. Figure by Steve Kopits of Westwood Douglas showing trends in world oil exploration and production costs per barrel. CAGR is “Compound Annual Growth Rate.”


O que aí vem

O RUÍDO PARTIDÁRIO EM VOLTA DOS ÚLTIMOS NÚMEROS DO EMPREGO É UM RUÍDO POPULISTA QUE DEVE SER DENUNCIADO E DESPREZADO.

Sem uma disponibilidade crescente de energia barata (sobretudo petróleo e combustíveis líquidos em geral, abaixo do 40USD/b) não há crescimento; sem crescimento não há emprego, há desemprego e há substituição de emprego caro por emprego barato e mais eficientemente servido por máquinas e sistemas inteligentes. Esta espiral descendente é de natureza recessiva e deflacionista, sobretudo à medida que a capacidade de endividamento e de monetização das dívidas se esgota nos Estados Unidos, na Europa, na China...

Os governos têm cada vez menos controlo sobre esta dinâmica, e na luta entre capital e trabalho, desta vez, ambos empobrecem: número crescente de falências industriais e bancárias, empobrecimento das classes médias e colapsos financeiros de grande magnitude, com consequências terríveis, por exemplo, na bancarrota iminente de vários países, regiões e cidades.

Onde melhor podemos antever o nosso futuro, se nada fizermos e nos deixarmos embalar pelo populismo estridente das nomenclaturas partidárias instaladas, é nas vagas de migração de África para a Europa. Os níveis de rendimento destes países é há muito totalmente incompatível com o custo da energia e matérias primas disponíveis... Quando o barril de crude desce abaixo dos 60USD a maioria dos países exportadores de petróleo e gás natural deixam de obter as gigantescas receitas e margens de lucro e de rapina que têm alimentado as suas altíssimas taxas de crescimento e os investimentos e a especulação financeira nos Estados Unidos e na Europa.

sábado, agosto 01, 2015

O insolvente sistema de pensões americano

Quando os reformados americanos perderem 30% ou mais das suas pensões, como será?

Estados Unidos da América: “estado social” sobrecarrega dívida pública


Ou seja, o seu financiamento já é um encargo diferido para os que ainda não nasceram.

The 2015 Untrustworthies Report——Why Social Security Could Be Bankrupt In 12 Years by David Stockman/ Contra Corner • July 31, 2015

On a cash basis, the OASDI (retirement and disability) funds spent $859 billion during 2014 but took in only $786 billion in taxes, thereby generating $73 billion in red ink. And by the trustees’ own reckoning, the OASDI funds will spew a cumulative cash deficit of $1.6 trillion during the 12-years covering 2015-2026.

So measured by the only thing that matters—-hard cash income and outgo—-the social security system has already gone bust. What’s more, even under the White House’s rosy scenario budget forecasts, general fund outlays will exceed general revenues ex-payroll taxes by $8 trillion over the next twelve years.

Este problema não é, ao contrário da demagogia eleitoral em curso, um problema português, mas uma mutação em curso nas sociedades desenvolvidas. A esperança média de vida aumentou e continua a aumentar em todo o mundo, ao mesmo tempo que o trabalho humano vem sendo substituído por hardware, software, sistemas operativos e nuvens computacionais pós-humanas nas sociedades mais desenvolvidas. Por outro lado, abundam reservas crescentes de trabalho humano barato nos continentes cujas populações são mais jovens e mais crescem em volume e velocidade: África, América Latina e Caraíbas, e uma parte significativa da Ásia.

Ou seja, por um lado, Japão, Alemanha, Itália, Áustria, Grécia, Finlândia, Bélgica, Holanda, Suíça, Canadá, Dinamarca, Espanha, Portugal, França, Suécia, Ucrânia, Reino Unido, etc., têm populações cuja idade mediana é superior a 40 anos, enquanto em toda a África a mediana oscila entre os 14 e os 30 anos.

A resposta das sociedades desenvolvidas a este problema tem sido, em geral, subsidiar o número crescente de inativos permanentes e temporários, uma vez que o emprego diminui à medida que o capital procura oportunidades de produção com menores custos laborais e de contexto, e os sistemas de poupança individual e familiar, assim como os chamados estados sociais, colapsam. Travar o endividamento público e o endividamento das empresas e das famílias torna-se, neste contexto, uma missão praticamente impossível.

Esta não é, pois, uma solução do problema, mas apenas um adiamento dos impactos mais catastróficos do mesmo.


Esta é uma perversão comum às respostas sociais que americanos e europeus têm vindo a dar à crise do emprego e do envelhecimento demográfico (clique p/ ampliar)

Why Do So Many Working Age Americans Choose Not To Enter The Workforce?
Zero Hedge, Submitted by Tyler Durden on 07/30/2015 20:30 -0400
You could call it the “Mystery of the Missing Worker” – why do so many people of working age chose not to enter the workforce?  Here are the numbers, as of the most recent Employment Situation report:

250 million: the total number of people of working age in the United States.
149 million: the total number of people in that population that have a job.
8 million: the number of people who want a job but do not have one.
93 million: the number of people who don’t work, and don’t want work.

To put some context around that last number, it is 30% of the entire U.S. population. 

Muito do barulho diário dedicado pelos canais mediáticos ao desemprego, à criação precária de novos postos de trabalho, e à crise do estado social —pensões, saúde e educação— confunde a população ao induzi-la na crença de que estes problemas se podem resolver no âmbito populista irresponsável do rotativismo partidário eleitoral. Não podem!

Enquanto os países desenvolvidos continuarem a envelhecer e a encolher, enquanto a sua produção de bens transacionáveis continuar a cair, enquanto as suas balanças comerciais e de capitais continuarem a deteriorar-se, nenhum dos principais problemas sociais será resolvido, e a instabilidade político-social tenderá a agravar-se dia a dia, como se tem visto nos Estados Unidos e na Europa.


REFERÊNCIAS

A idade mediana da humanidade
Clique p/ ampliar


sexta-feira, julho 31, 2015

BCE prolonga receita hiper-keynesiana

Taxas de juro negativas e diarreia financeira, ou como enviar as dívidas de hoje para os nossos filhos e netos.

Populismo eleitoral empurra Japão, Estados Unidos e Europa para um buraco negro onde se sabe como entrar, mas ninguém sabe como sair



Inflação na Zona Euro em terreno positivo pelo terceiro mês
Jornal de Negócios, 31 Julho 2015, 10:32 por Nuno Carregueiro | nc@negocios.pt

O índice de preços no consumidor na Zona Euro aumentou 0,2% em Julho, no terceiro mês consecutivo de variações positivas. Excluindo alimentação e energia, os preços subiram ao ritmo mais elevado em 15 meses.

O EQE (European Quantitative Easing), oficialmente conhecido por Expanded Asset Purchase Programme, vai prolongar-se no tempo, pois 0,2% de inflação está muito longe dos ±2% pretendidos. 

Ou seja, a famosa reestruturação das dívidas (soberanas e bancárias, em primeiro lugar) soma e segue por trilhos perigosos que a indigente Esquerda finge não ver, ao lombo de classes médias cada vez mais entaladas entre o precariado e a sobre-exploração, e de pensionistas com o conforto contratado definitivamente ameaçado. 

Taxas de juro negativas ou próximo disso configuram um perdão de dívidas públicas e financeiras disfarçado, o qual se alimenta da poupança real que ainda existe, de um belicismo crescente (tanto nos EUA, como na Europa!), e da captura de rendimentos futuros, sobretudo do trabalho! 

Mas isto Mariana Mortágua e os sábios idiotas do PS não vêem!

quinta-feira, julho 30, 2015

Drogaria eleitoral

Armando Pereira, o emigrante minhoto que regressa para tomar conta da PT, como líder e dono!



Foi você que pediu uma revolução?


Altice corta estrutura de topo da PT Portugal
Económico, 15 jun 2015 Cátia Simões

Será anunciado em breve um presidente-executivo para a PT Portugal, garantiu Armando Pereira ao sindicato. Empresa vai investir em fibra.

“Tomamos consciência que uma nova PT nasceu no dia 2 de Junho. Uma PT menos formal e menos estratificada. Tem uma Administração reduzida (3 Administradores) para todas as empresas do Grupo em Portugal, presidida pelo Sr. Armando Pereira como PCA, que além de “dono” terá a função de acompanhamento regular da Empresa após os primeiros 3 a 4 meses de intensa presença. Brevemente será anunciado um Presidente Executivo português para estar a tempo inteiro”, frisa o comunicado.

O capitalismo indígena, rentista, devorista, clientelar, nepotista, irresponsável e arrogante, tem estado a levar uma tareia histórica. Mas não é do PCP, nem do Bloco, e muito menos dos indigentes socialistas do PS. É de quem emigrou e regressa rico depois de comer o pão que o Diabo amassou, com ideias claras, nomeadamente sobre as relações de mútuo interesse que podem existir entre trabalho e capital, entre crescimento e um estado social inteligente, transparente e mais justo do que aquele que temos neste momento.

Aeromoscas de Beja, cemitério e sucata de aviões

Os partidos da coligação parecem ter finalmente assimilado as ideias simples e as previsões deste blogue independente. A quem enviamos a fatura?

Desde 2005 que O António Maria, primorosamente assessorado, insistiu nisto:

  1. Que o NAL na Ota e o NAL da Ota em Alcochete não passavam de embustes montados pelos piratas do PS e do BES, com algumas fantasias do BPN à mistura;
  2. Que em Beja se derreteram mais de 33 milhões de euros num aeromoscas. Escrevemos a este propósito, em 2009, que a famosa modernização socratina da antiga Base Aérea da NATO, suportada por um estudo hilariante do visionário Augusto Mateus, acabaria  por transformar-se num cemitério e sucata de aviões. A confirmação veio a 29 de julho de 2015!

Portugal não será, apesar da vontade das elites que vivem na corte do orçamento, uma ilha ferroviária. 


Um dia Portugal acabará por colocar a bitola europeia nas ligações ferroviárias transversais das principais cidades e portos portugueses, Lisboa-Setúbal-Sines, Porto-Aveiro-Figueira da Foz, e Porto (Matosinhos-Leça)-Viana do Castelo-Valença, a Espanha e ao resto da Europa.

A ligação Poceirão-Caia, aprovada e quase totalmente financiada pela UE, foi abandonada na sequência de uma decisão estúpida do volúvel Tribunal de Contas, certamente por força dos piratas do NAL, agora finalmente derrotados, mas que não pararam durante toda a vigência do atual governo de coligação, ou pelo menos até à prisão de Sócrates e colapso do Grupo Espírito Santo. O mapa ferroviário europeu forçará, mais cedo ou mais tarde, o governo indígena a construir as ligações ferroviárias prioritárias previstas no mapa europeu da mobilidade económica e cultural.


Drogaria eleitoral

Estamos em plena corrida para as Legislativas. De cada vez que abrem os noticiários da Rádio e da TV parece que entramos numa drogaria eleitoral. A coligação tem marcado pontos, ao contrário do PS de António Costa, que se remeteu à condição de comentador crítico da ação governativa e da coligação PSD-CDS/PP. As poucas ideias do antigo ministro de José Sócrates têm-se desfeito contra o muro das realidades. O PS é o partido da burocracia e de uma burguesia rendeira e devorista cada vez mais acossada pelos credores e pela população escandalizada com o grau de corrupção e nepotismo que o PS promoveu na sociedade portuguesa, perdendo assim a sua verborreia corrente qualquer credibilidade, pelo menos até que mude a sua geração de dirigentes.

A coligação, pelo contrário, iniciou hoje, 29 de julho, um contra-ataque contra o PS que deixa a esquerda em geral com vários problemas por resolver. Três deles são cruciais para a sua credibilidade imediata: 
  1. Quem é que, afinal, atacou e ataca a corrupção e a sua nomenclatura? 
  2. Quem é que, afinal, tem as melhores propostas para defender o estado social, sem provocar novo agravamento da dívida pública e privada (a começar pela dívida externa) e a consequente derrapagem para um novo resgate?
  3. Qual é, afinal, a posição do PS, do PCP e do Bloco face ao euro? E face à União Europeia?
O Bloco, dada a dislexia óbvia de António Costa, tem nestas eleições uma oportunidade única para se apresentar ao eleitorado como um partido rejuvenescido, menos maniqueísta, menos demagogo e menos populista, mas também mais sofisticado no uso da linguagem, e com uma agenda programática inovadora, realista e propositiva, sem ter por isso que reprimir o saudável radicalismo de uma série de novas causas e preocupações sociais e culturais.

João Oliveira tem trazido uma lufada de ar fresco ao discurso ressequido dos comunistas. Com o tempo que tudo cura, ou leva, talvez ainda possamos assistir a um aggiornamento nesta pequena igreja do pós-estalinismo. Jerónimo de Sousa faria bem em promover uma clara e decisiva passagem de testemunho geracional, em vez de se agarrar a uma simpatia que não anda nem desanda.

A crise grega fez várias vítimas fora da Grécia. A esquerda em geral foi uma delas. Mas também as tentativas de criação de novas forças partidárias, como o Nós, o Livre ou a coisa do Marinho e Pinto. Serão estas as principais vítimas colaterais das eleições de 4 de outubro.

terça-feira, julho 28, 2015

Da transexualidade à transpolítica

Júlia Mendes Pereira, candidata do BE à Assembleia da República

Duas opções para 4 de outubro: PSD ou Bloco de Esquerda


Júlia Mendes Pereira poderá vir a ser a primeira deputada transexual eleita em Portugal
dezanove, Seg, 27/07/15

Júlia Mendes Pereira pode estar a caminho do Parlamento pelo Bloco de Esquerda (BE). O currículo é invejável: feminista, activista dos direitos das pessoas transexuais e intersexo, co-fundadora e co-directora da associação API - Ação Pela Identidade, organização não-governamental para a defesa e o estudo da diversidade de género e de características sexuais, é membro do Steering Committee da TGEU – Transgender Europe, organização europeia de defesa dos direitos das pessoas trans, foi também coordenadora do GRIT – Grupo de Reflexão e Intervenção sobre Transexualidade da associação ILGA Portugal.

Ora aqui está um sinal que poderá levar-me a votar no Bloco!
As agendas populistas dos partidos, em geral, apodreceram. Só dois dos que têm assento parlamentar parecem estar a mudar: o PSD de Passos Coelho e o Bloco de Mariana Mortágua—uma voz que se pode ouvir, sobretudo quando fala do que sabe (economia e finanças), e não mais um realejo.

Os tempos que correm são convulsos, trágicos para muita gente, mas interessantes quando percebemos a charneira de uma grande mudança, ou melhor ainda, o rompimento do casulo da autêntica metamorfose económica, social e cultural que aí vem.

Estamos numa espécie de PREC judiciário,
cujas consequências serão porventura mais profundas que o PREC dos capitães que não queriam perder privilégios para os milicianos. O topo simbólico da velha política corrupta está na prisão. O topo simbólico da casta financeira corrupta está na prisão. E as castas corporativas e nepotistas que proliferaram e incharam desde a queda da ditadura, começam a estar cercadas por uma opinião pública que paga impostos sem perceber para onde vai o dinheiro.

Neste contexto, a maior ameaça à democracia que apesar de tudo temos é deixarmos que a gangrena do regime vá comendo os partidos por dentro até à sua implosão. Como tenho repetido ao longo dos últimos anos, é preciso rejuvenescer os partidos parlamentares que temos, são precisos novos partidos e redes de cidadania capazes de dar a conhecer a realidade que se esconde por baixo das fantasias, da hipocrisia, e das mentiras, e de agir sobre a realidade com novas agendas culturais.

Os realejos maniqueístas tomam os eleitores por burros, ou por oportunistas.

O PS, o CDS/PP e o PCP/PEV continuam a olhar para trás sem perceberem que esse olhar os vai transformando em estátuas de sal.

Pelo contrário, o PSD de Pedro Passos Coelho tem vindo a promover uma rotura sistémica positiva no regime, que nada tem que ver com a política de austeridade imposta pelos credores cada vez mais impacientes.

Mariana Mortágua, por sua vez, é uma luz de esperança para o Bloco de Esquerda, sobretudo pela revolução linguística que começou a introduzir no albergue marxista que deu origem ao Bloco. É verdade que foi Francisco Louçã e a sua agenda tipicamente franco-trotsquista que permitiu o Bloco sair da Rua da Quintinha e chegar a São Bento. É verdade que Miguel Portas foi uma voz decisiva na urgência de substituir a geração dirigente. Falta agora promover um verdadeiro caleidoscópio de novas causas, que movem potencialmente milhares de pessoas, como é o caso das agendas da liberdade e da tolerância moral, como é o caso das agendas da justiça social e dos direitos individuais, ou como é o caso das novas agendas sexuais, de que a candidatura de Júlia Mendes Pereira é um testemunho oportuno.

Acredito que no interior do PSD e do Bloco existem forças magnéticas de tipo novo, ideológicas, mas informadas, radicais, mas pragmáticas. Precisamos todos de abandonar a biopolítica, e passar à transpolítica, dando cada vez mais espaço aos inúmeros atores-rede que estão a mudar o mundo.

Já ninguém ouve os realejos maniqueístas.

Se tem a cabeça ao centro, a puxar um bocadinho para a direita, já sabe onde votar.

Mas se o coração palpita à esquerda, não desespere, pois há um quadradinho onde a sua cruz poderá melhorar a nossa democracia.

sábado, julho 25, 2015

Sem pulseira eletrónica

Ex-DDT

1415-2015


O ano 2015 ficará para a História Portuguesa como o ano em que um secular sistema de poder centralista, reacionário, autoritário, endogâmico, clientelar, corporativo, manhoso e corrupto finalmente colapsou ao estatelar toda a sua matriz genética contra um muro de credores insensíveis à prosápia indígena.

Desde 1640 que andámos a financiar o endividamento crónico português, uma sociedade essencialmente extrativa e rural, com o ouro e as pedras preciosas do Brasil, o algodão e o caju de Moçambique, o café e o petróleo de Angola, as remessas dos emigrantes e, finalmente, fundos comunitários e novas remessas de emigrantes.

O ciclo que agora se fecha tem estas cristas assinaláveis
  • 1415 — conquista de Ceita/ expansão
  • 1640 — guerras da Restauração/ início do declínio
  • 1808 — abertura dos portos brasileiros aos ingleses/ declínio
  • 2015 — fecho de um longo ciclo de ascensão e queda

O pânico entre as nossas distraídas elites começa verdadeiramente agora, isto é, depois da prisão domiciliária, sem pulseira eletrónica, de Ricardo do Espírito Santo Silva Salgado, antigo Dono Disto Tudo.

sexta-feira, julho 24, 2015

Grécia, uma vacina contra o populismo



Do PS a Marinho Pinto, passando pelo PCP e pelo Bloco, os efeitos do maremoto grego serão devastadores, nas próximas eleições e depois.


Há dois tipos de populismo: o do regime instalado, dominado por rendeiros, devoristas e corporações egoístas e corruptas, o qual endividou o país para ganhar eleições e para benefício das suas clientelas, e o populismo que aposta na desgraça para alastrar como se fosse uma gripe, mas que tem o efeito dos cilindros compressores do alcatrão—por onde passa arrasa tudo por igual.

Ninguém, no seu perfeito juízo, irá dar o seu voto a espontâneos que ainda não provaram nada no terreno. O exemplo do que tem acontecido na turma de Marinho e Pinto é, aliás, um claro aviso à navegação. Paulo Morais vai pelo mesmo caminho.

É por estas e por outras que os eleitores estiveram ontem pregados aos televisores, cheios de dúvidas, tentando perceber o que poderão esperar do próximo governo de Passos Coelho.

Ou muito me engano, ou acabarão por optar entre o que conhecem, i.e. a coligação entre Passos Coelho e Portas, e o que também conhecem, ou seja, António Costa, ex-ministro de José Sócrates, de quem nunca se demarcou —e não me refiro, obviamente, ao arguido que está detido em Évora, suspeito de corrupção, mas ao político que atirou Portugal para a sua mais grave bancarrota desde o final do século 19, que só não foi declarada, nem caímos imediatamente numa situação grega, porque tivemos as mãos da Troika a impedir que o dique cedesse à pressão dos credores.

Post scriptum — tenho defendido a necessidade da emergência de novos partidos e a necessidade de uma renovação e reforma profunda dos partidos existentes e com assento no sistema. A primeira hipótese mostra-se, neste momento, demasiado frágil para caminhar até ao próximo parlamento, por falta de ideias realmente inovadoras, maniqueísmo partidário e, sobretudo, falta de juventude; a renovação interna dos partidos, por sua vez, tem progredido no PSD e no Bloco, no PCP só quando os velhos guardiões caírem todos da cadeira é que poderemos esperar mudanças mais sensíveis, e no CDS e Partido Socialista continua congelada à volta de gerações gastas e demasiado comprometidas com o descalabro do país. Não interessa saber se vou votar ou não, ou se prefiro o Bloco ou o PSD. O que aqui faço é escutar a sensibilidade dos eleitores potencias. Neste patamar da realidade prevejo uma maioria da coligação PSD-CDS nas próximas eleições (possivelmente absoluta).

Atualizado em 25/7/2015 11:10

quinta-feira, julho 23, 2015

Ler antes de votar

PIETRA, António Onofre Schiappa, fl. ca 1830
Marquez de Pombal : nasceo em Lisboa a 13 de Maio de 1699... / Schiappa. - [S.l. : s.n., entre 1830 e 1852] ([Lisboa] : : Off. Lithog. de Santos). - 1 gravura : litografia, p&b ; 16,3x12,1 cm (imagem com letra); pormenor. BNP.


Precisamos de uma maioria reforçada na próxima legislatura


O Presidente da República foi muito claro no discurso desta noite: o próximo Governo tem de ter uma maioria estável, porque senão não conseguirá resolver os problemas do país. Não o disse explicitamente, mas deu a entender que não aceitará um Governo sem maioria.
Jornal de Negócios, 22 Julho 2015, 21:37 por Bruno Simões

Tenho zero simpatia pelo senhor Silva, mas a verdade é que Cavaco tem andado bem no fim de um mandato que ainda vai dar muito que falar. Definiu uma posição estratégica correta face à Grécia; respondeu de modo certeiro ao beijoqueiro Jean-Claude; e exige, bem, uma maioria reforçada na próxima legislatura. É que sem revisão constitucional, ou sem uma nova Constituição, e sem uma maioria bem atada, não será possível conduzir a casca de noz portuguesa no mar cada vez mais encapelado que aí vem. A próxima coligação de governo terá que ser não só maioritária, como gozar da maioria qualificada para uma revisão inadiável do presente texto constitucional.

Portugal tem uma dívida pública, privada e externa colossal, gerada em grande medida pela corrupção endémica do país, e pelo populismo genético da democracia saída Revolução de Abril.

Salvo se reduzirmos o estado às suas funções essenciais, eliminando as redundâncias e entregando à sociedade o que esta pode fazer melhor e mais barato, salvo se reduzirmos o poder de bloqueio corporativo das agremiações rendeiras e devoristas do país —dos sindicatos dos funcionários públicos e equiparados, ao exército partidário que proliferou como uma praga, passando pelos banqueiros e industriais a soldo do orçamento de estado e dos subsídios comunitários—, salvo se libertarmos a iniciativa dos cidadãos e das suas empresas e associações livres, da canga burocrática que os reprime e esfola em sede fiscal, salvo se aprendermos a criar e proteger instituições democráticas sólidas, contra o nepotismo, a partidocracia e a predominância de uma aristocracia nova que herdou a iniquidade e repete os mesmos vícios de sucessivas gerações, pelo menos desde 1640, atirando e mantendo ainda hoje Portugal na cauda do mundo, o que nos espera é um enorme buraco negro, muito semelhante ao da Grécia, onde, se não pararmos um momento para pensar antes de votar, cairemos miseravelmente e sem retorno.

A aliança tipicamente provinciana e reacionária entre Francisco Louçã e João Ferreira do Amaral é a imagem mais fiel das resistências indígenas que teremos que vencer se quisermos finalmente criar um país civilizado, produtivo e justo.

Cá, como na Grécia, as velhas elites caricatas e obscurantistas, economicamente retrógradas e politicamente autoritárias, unem-se por conveniência oportunista a uma esquerda radical zombie cujo realejo disléxico há muito alienado da realidade é incapaz de apresentar uma ideia prática que se veja. Não precisamos de passar pelo suplício de ver um dia o senhor Louçã num ministério. O pesadelo proporcionado pelo Syriza aos gregos, e o senhor Varoufakis, chegam e sobram!

Não sei se os economistas (nomeadamente os sábios de António Costa) e os jornalistas da nossa ilustrada praça leram Trade and Power—Informal Colonialism in Anglo-Portuguese Relations, de Sandro Sideri, publicado em 1970. Se não leram, está na altura de lerem.

Duas citações apenas de um livro que vale cada vírgula, para o debate que deveria haver entre os beatos do PS, do PCP e do Bloco de Esquerda, e o famoso liberalismo de Passos Coelho. O primeiro ministro, apesar de contaminado pela pressão dos poderosos fregueses que o rodeiam, percebeu o essencial: endividados até ao tutano não iremos a parte alguma. Ou melhor, estando onde estamos, se não travarmos a fundo a despesa pública e o endividamento privado, se não libertarmos o estado de quem dele se serve sobretudo para proveito próprio e da casta, se voltarmos a ser governados por quem pensa que a obsessão do défice é uma doença, então sim, iremos àquela parte. Tal como foi a Grécia. E não será nada agradável de ver, menos ainda de viver.

...the potential contribution of capital to development is minimal without the necessary ‘institutions’ to really take advantage of it.

[...]

“In fact the partial success that Pombal did achieve with his commercial policies and the reduction of the trade deficit with Britain, encouraged him to move into a vast programme of industrialization. He could not fail to realize that without a strong manufacturing sector, his country’s dependence on the old ally might be somewhat lessened, but certainly not eliminated. Commercial measures alone could not substantially improve the Portuguese economic situation; if her destiny was to rest in Portuguese hands, and if a modern nation was to be reborn from what had become a colony then they had to be part of a large plan geared to the development of manufactures. Thus, it was necessary to redress the situation that had been created by the previous Anglo-Portuguese commercial treaties and which had forced the country into such a specialization that in the middle of the 18th century ‘two-third of her physical necessities were supplied by England’. This situation could not have been changed without breaking the regulations on which such a dependence was based. It is this emphasis on national interests, without war as the final aim of his development strategy, that makes Pombal more a forerunner of F. List [Friedrich List] than the last mercantilist, especially of the Colbert type.

There is another element in Pombal’s development strategy that reminds us of List’s industrial education, namely his constant effort to strengthen the young and  small bourgeoisie and gain its participation in the economic process. It was through his efforts that some of the most successful merchants and industrialists were made noblemen; this introduced a new mentality and outlook into the old ultra-conservative Portuguese nobility whose parasitic role had been increasing during the first half of the 18th century.”

(S. Sideri, 1970)

quarta-feira, julho 22, 2015

Porque cresce o turismo em Portugal e Espanha?

Photo: ruispotter.blogspot.com

O mérito dos políticos, neste caso, é nulo


Há oito causas essenciais para o crescimento do turismo em Portugal e Espanha, muito acima das suas economias, e nenhuma delas é mérito dos governos e políticos de turno, nem da sua propaganda:
  1. a queda do preço do petróleo;
  2. a queda continuada das taxas de juro;
  3. as guerras que assolam praticamente todos os destinos turísticos do Mediterrâneo oriental e os países do Magrebe; 
  4. o avanço das companhias aéreas Low Cost na Europa; 
  5. o aumento exponencial da emigração em Portugal e Espanha; 
  6. a deflação, que torna as estadias economicamente mais convenientes;
  7. o impacto da austeridade europeia e mundial nos bolsos dos viajantes (a Ásia e o Pacífico ficam mais longe);
  8. and last but not least, o colapso da Grécia :(

Aviso

A economia do turismo só não é sazonal e sujeita a contingências como as crises na Tunísia, Síria, Líbano, Egito, Turquia ou Grécia, se os países que recebem turistas forem económica e culturalmente fortes e diversificados, e não assentarem em regimes extrativos, nomenclaturas rentistas, estados devoristas e burocráticos, nem em setores económicos protegidos pelo corporativismo e pela corrupção político-partidária. Capiche?

Prova disto mesmo: a queda abrupta do turismo na Grécia ( Forget  Greece, We're Going to Spain, by Henrique Almeida, Maria Tadeo and Elco Van Groningen. Bloomberg Business, July 3, 2015)

terça-feira, julho 21, 2015

Crime e castigo

Dominatrix—Wikipedia


A corrupção combate-se com transparência


Francisca Almeida deixa bancada do PSD


A deputada que criticou a norma interna do PSD que obriga os futuros parlamentares do partido a renunciarem ao mandato em caso de "persistente divergência com as orientações do grupo parlamentar" anunciou ontem que não voltará a ser candidata no próximo mandato.

J.P.H, DN, 21/7/2015

A corrupção que arruina as nações é uma hidra com centenas de cabeças, que voltam a crescer depois de cortadas. Só as regras de transparência e punições automáticas e abrangentes podem travar este cancro instalado no regime.

Bastará aprovar meia dúzia de regras de transparência, nomeadamente sobre declaração de interesses, conflitos de interesses, incompatibilidades, e sobre as portas giratórias entre as várias tocas e lojas da nomenclatura que assaltou a democracia, para que esta comece a melhorar rapidamente.

As instituições, corporações, lojas e famílias que se sobrepõem à lógica e às instituições próprias das democracias são a origem do cancro da corrupção que está a dar cabo das democracias em todo o mundo. Se quisermos legar o ideal democrático, da liberdade e da igualdade de oportunidades e direitos para todos, teremos que destruir o cancro da corrupção.

Isto, e uma severa dominatrix alemã sempre pronta a castigar os mais, e as mais, renitentes, claro!

domingo, julho 19, 2015

Contemporânea do Chiado

Museu Nacional de Arte Contemporânea do Chiado

O que nasce torto...


A inauguração de algumas salas da nova extensão do Museu do Chiado deu origem a uma trapalhada lastimável.
  • O secretário de estado revogou um seu despacho anterior sobre a transferência das obras de arte da chamada Coleção da SEC (na realidade, um cúmulo de aquisições discricionárias e tipicamente burocráticas), depositadas desde 1997 no Museu de Arte Contemporânea de Serralves, para o acervo do agora chamado Museu Nacional de Arte Contemporânea do Chiado, em fase de ampliação das suas exíguas instalações.
  • O diretor do museu, David Santos, e a curadora Adelaide Ginga, que está ao serviço da instituição e é co-curadora da exposição em causa, não gostaram que o subtítulo da exposição —“O legado da coleção da Secretaria de Estado da Cultura ao MNAC”— fosse inopinadamente mudado para “Arte Portuguesa na Coleção da Secretaria de Estado da Cultura (1960-1990)”.
  • O copo finalmente transbordou quando a hierarquia de que depende o Museu do Chiado (Secretário de Estado da Cultura e Diretor-geral do Património) exigiu a supressão nos textos da exposição da frase “incorporação da coleção SEC no MNAC”, para assim, segundo Adelaide Ginga, “não criar problemas institucionais com Serralves”.

A versão de Serralves

Num comunicado de três páginas, no qual é relatada a sequência de correspondência entre as duas instituições, Serralves realça que o então diretor do Museu do Chiado David Santos, que se demitiu na passada semana, “concordou integralmente e de forma explícita com as condições” pedidas, ou seja, que as 114 obras da designada “Coleção da SEC” emprestadas por Serralves seriam creditadas como “obras da Coleção da Secretaria de Estado da Cultura (SEC) em depósito na Fundação de Serralves - Museu de Arte Contemporânea”.

“O Conselho de Administração de Serralves considerou então que estavam reunidas as condições para o empréstimo das obras e, em 22 de junho de 2015, foi assinada pelos diretores dos dois museus, Suzanne Cotter e David Santos, uma ficha de empréstimo das obras que cumpriu integralmente as condições estabelecidas”, refere o mesmo comunicado.

e ainda...

Num protocolo assinado em 1997, entre a Fundação de Serralves e o Ministério da Cultura, pode ler-se que a intervenção de Serralves, em termos da coleção de arte do Estado - a chamada coleção da Secretaria de Estado da Cultura - se “deverá centrar no período a partir da década de [19]60 e que o Museu do Chiado abarcará a arte portuguesa dos finais do século XIX até à década de 60”, ficando as obras afetas à coleção da Fundação de Serralves depositadas “por um período de 30 anos”, a contar da data daquele protocolo - até 2027 - automaticamente “renovável por períodos de cinco anos”.

Lusa via RTP, 16 Jul, 2015, 07:09 (notícia completa)

As razões de David Santos (1)

Resposta ao Comunicado do Conselho de Administração da Fundação de Serralves sobre a Coleção da Secretaria de Estado da Cultura

Tal como decorre do teor do próprio texto da carta de 18 de Maio de 2015, citada no comunicado do Conselho de Administração da Fundação de Serralves de 15 de Julho, o assentimento que então dei, em conformidade com ordem hierárquica superior, à identificação das obras nos termos da creditação “solicitada” pela Fundação de Serralves, e que aceitei, numa lógica de cooperação institucional e por entender que não esvaziava de sentido a exposição, tal qual tinha sido inicialmente concebida, jamais implicou abdicar, no próprio texto curatorial, da justificação da exposição, com a necessária referência à afectação da colecção SEC ao Museu Nacional de Arte Contemporânea-Museu do Chiado, determinada por despacho do SEC de 5 de Fevereiro de 2014, cuja revogação me foi comunicada no dia 6 do mês em curso e na sequência da qual me foi, então sim, determinado superiormente que eliminasse qualquer referência à dita afectação.

Vila Franca de Xira, 16 de Julho de 2015
David Santos

Comparando as duas versões relatadas dos acontecimentos parece-me evidente que houve uma gestão desastrosa do melindre suscitado pelo despacho de Barreto Xavier, entretanto revogado, que determinava a “incorporação da coleção SEC no MNAC”. A ser verdade o que escreve a administração da Fundação de Serralves, então a frase citada não poderia mesmo ser inscrita na exposição Narrativa de uma Coleção, independentemente do estipulado no despacho de 2014, pois compete ao SEC, e não do diretor do Museu do Chiado, estabelecer o tempo e o modo de execução do referido despacho.

Não há também censura, nem usurpação de autoria, quanto à decisão da tutela.

Sou amigo de David Santos, e sou amigo de Adelaide Ginga, como amigo sou de Jorge Barreto Xavier e de Nuno Vassallo. O critério desta opinião teria, pois, quer de outra natureza.

Alguns antigos responsáveis pela dislexia museológica nacional solidarizaram-se com David Santos e protestaram in situ contra as decisões de Jorge Barreto Xavier e Nuno Vassallo. Se não foi apenas um reflexo condicionado, nem um ato falhado, gostaria de conhecer os seus argumentos (2)

Como tenho opinado, e recentemente escrevi, o Museu do Chiado não deve ser mais um museu de arte contemporânea sem estrutura institucional à altura do título, sem missão clara e justificada, sem meios nem orçamento decentes, sem autonomia, sucessivamente entregue a direções fracas porque dependentes de um estado burocrático capturado pelas clientelas partidárias ou culturais de turno.

O Museu do Chiado deve ter uma e uma única missão: ser o Museu do Chiado, começando por reler o que Pessoa opinou sobre a Contemporânea, e museografar de forma competente e viva o legado riquíssimo de quem o habitou aquele coração da cidade, dando-lhe a forma e a fama cultural que merece.

Como é possível ainda não termos visto no Museu do Chiado uma exposição antológica sobre Rafael Bordalo Pinheiro?

“Perante qualquer obra de qualquer arte — desde a de guardar porcos à de construir sinfonias — pergunto só: quanta força?” (Álvaro de Campos, in Arquivo Pessoa)

Sobre este mesmo tema, neste blogue

NOTAS
  1. Da leitura deste esclarecimento enviado por David Santos ao Público online concluo que havia atrito evidente nas negociações do 'empréstimo' das obras da Coleção SEC, à guarda da Fundação de Serralves, ao Museu Nacional de Arte Contemporânea-Museu do Chiado. Se não fosse este o caso, o Museu de Serralves não poderia emprestar o que não era seu à entidade a quem fora destinada a referida coleção, embora só depois 2027, se... Mais relevante é ainda o facto de as divergências terem sido levantadas pela própria administração de Serralves, instância obviamente acima da que representa a diretora do museu com o mesmo nome, Suzanne Cotter. Logo, o assunto deveria ter transitado (transitou?) para o secretário de estado da cultura, Jorge Barreto Xavier, a quem competiria decidir as ações a empreender. Nem o diretor do Museu do Chiado, nem a co-curadora da exposição, Adelaida Ginga, tinham autoridade para insistir numa frase —“incorporação da coleção SEC no MNAC”—, menos ainda depois do despacho para que remetia a frase ter morrido. O SEC revogou a 6 de julho. O diretor demitiu-se a 8. Mas a exposição só inauguraria a 15, ou seja, tudo poderia ter sido resolvido nos oito dias que se seguiram à revogação do despacho de 2014.
  2. Li, entretanto, o panfleto de Raquel Henriques da Silva publicado em tempo útil pelo Público. O raciocínio do panfleto é tipicamente formal e burocrático, e aposta, como é usual em vésperas eleitorais, numa das hipóteses que concorrem, no caso, António Costa, e portanto numa mudança de titular à frente dos negócios da cultura, e certamente também num novo diretor para o que não deixa de ser um micro museu—segundo RHS, nacional e da arte portuguesa dos séculos 19, 20 e 21!

    Raquel Henriques da Silva sabe muito bem o que é engolir sapos, e conhece melhor que ninguém o resultado pífio da sua prestação museológica no país. O que decidiu ruiu, e o que se mantém, bem (Serralves), ou mal (Museu Berardo), não dependeu de si. A sua visão de típica burocrata centralista nunca lhe permitiu perceber a periferia de Lisboa, quanto mais o resto do país.

    Estender o Museu do Chiado para as antigas instalações ocupadas pelo Governo Civil de Lisboa foi obra do atual secretário de estado, Jorge Barreto Xavier, assim como o despacho que, se executado com prudência, sensibilidade e diplomacia, teria levado paulatinamente o acervo sofrível, conhecido como Coleção SEC, para as futuras reservas do Museu do Chiado, quando as mesmas estivessem prontas. Por isto, aliás, o protocolo com Serralves, de 1997, previu prudentemente um depósito das mencionadas obras, nas reservas no novo Museu de Serralves, até 2027. A abertura da nova extensão do Museu do Chiado e a exposição que hoje lá podemos ver teria antecipado este prazo, precisamente porque fora coroado de êxito o trabalho político paciente e juridicamente informado de Jorge Barreto Xavier. No fim, alguém borrou a pintura, cedendo à provocação (admito) de um administrador de Serralves, mas esta culpa, do que pude apurar, não pode ser assacada ao secretário de estado da cultura. Este engole sapos, tal como Raquel Henriques da Silva, à sua dimensão, terá engolido uma mão cheia deles ao longo da sua carreira. É a vida dos funcionários públicos e dos políticos que chegam e partem. Falar de censura, ou de atentado à autoria, a propósito deste escusado incidente é que não tem o mínimo fundamento.

    David Santos foi colocado perante uma pressão vinda do alto, tal como Barreto Xavier e Nuno Vassallo. Não soube gerir a pressão, e portanto decidiu mal, pois em nome de uma honra e deontologia que não estavam em causa comprometeu a sua própria agenda profissional e o projeto que defendeu para o Museu do Chiado. Os artistas que dele muito esperavam ficaram, uma vez mais, apeados.

    Leio insistentemente que os quadros da dita Coleção SEC andam por ai abandonados nos gabinetes ministeriais, “em gabinetes no Palácio da Ajuda e na Presidência do Conselho de Ministros” (RHS, Público, 14/7/2015), como se fosse uma lepra que ataca a pintura, a fotografia e a escultura. Mas as obras de arte não são feitas para decorar ou comemorar os aposentos de quem as compra—as nossas casas, os átrios e os gabinetes das administrações de empresas e instituições, as praças emblemáticas das cidades de todo o mundo? Não vemos, quase diariamente, uma monumental tapeçaria de Eduardo Batarda decorando as molduras humanas do Tribunal Constitucional? Não vemos pela televisão pinturas do mesmo Batarda, de Jorge Martins e de outros artistas portugueses nas reportagens políticas que nos chegam da sede da Comissão Europeia em Bruxelas? Onde crê a Raquel Henriques da Silva que as obras de arte devem estar? Nas morgues dos museus, onde por definição só os conservadores e os restauradores as observam, em museus que ninguém visita, ou entre os mortais que todos somos?

    Não temos nem poupança, nem competências para alimentar 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7 museus de arte moderna e contemporânea com os impostos que pagamos cada vez mais, ou com isenções fiscais que muita falta fazem noutras instâncias sociais. Sobretudo quando é para mostrar os mesmos artistas do cardápio palaciano de sempre, e boa parte destes museus estão invariavelmente às moscas salvo quando há inaugurações. E mesmo nestas...

    Se querem rentabilizar o Museu do Chiado chamem-lhe apenas Museu do Chiado, e convoquem Álvaro de Campos, o Almada Nome de Guerra, o Rafael Bordalo Pinheiro, Leitão de Barros, Mário Barradas, a voz genial de Villaret, Cezariny, O'Neill, Jorge Vieira, Lopes Graça, Joly Braga Santos, Hogan, Luís Pacheco, em suma, os mortos mais vivos do Chiado, e então teremos um museu a sério, pós-contemporâneo, habitado e explosivo.

    Estou farto de escribas e burocratas.
Atualizado: 19/7/2015, 18:00

sábado, julho 18, 2015

A opinocracia indígena



Culpado de investir, ou de esconder um conflito de interesses?


Miguel Sousa Tavares tinha 2 milhões investidos no GES mas diz que não sabia
Observador, 17/7/2015 8:46

Escritor terá investido cinco vezes num ano no GES, através do fundo ES Liquidez. No total foram 2 milhões de euros, diz o semanário Sol. Mas Sousa Tavares diz que nunca "soube" nem "nunca autorizou".

Miguel Sousa Tavares dá mais explicações sobre investimentos no GES
Observador, 17/7/2015, 23:53

O escritor diz que se quisesse ter investido no GES, tê-lo-ia feito de forma direta; diz que está a ser "um alvo colateral" e queixa-se de violação de sigilo bancário.

Agora é só compilar o que MST foi dizendo e escrevendo sobre o BES, o GES e a (também) sua família Espírito Santo. Ou ainda sobre o famoso 'TGV', cujo projeto aprovado foi anulado pelo Tribunal de Contas, satisfazendo assim o cartel do NAL em Alcochete.

Se a linha de alta velocidade e bitola europeia Pinhal Novo-Poceirão-Caia tivesse ido para a frente o embuste da cidade aeroportuária de Alcochete-Canha-Rio Frio, ou seja o novo aeroporto de Lisboa na Margem Sul (ex-NAL da Ota) teria caído imediatamente, destruindo toda a estratégia de investimento especulativo imaginada pelo senhor Ricardo Espírito Santo (+ BPN, Cavaco, PSD, PS e PCP) para aquela-sub-região.

Convém lembrar aos investigadores, jornalistas e procuradores, que a compra de 4000ha da Herdade de Rio Frio, por 250 milhões de euros, ocorreu 34 dias antes de José Sócrates ter anunciado, a 10 de janeiro de 2008, o fim do NAL na Ota e o novo NAL de Alcochete.

Um dos testas de ferro da SLN (e de Cavaco), o senhor Fantasia, munido de empréstimos do BPN, BCP, BES, Banif e Banco Popular, foi um dos principais protagonistas das aquisições de terrenos na zona destinada ao futuro mega aeroporto de Lisboa e à correspondente cidade aeroportuária, como lhe chamou o visionário Mateus.

Há também, ao que consta, nesta trapalhada toda, o envolvimento dum fundo financeiro do PS sediado na Holanda. Há, ou não há?

Felizmente, o Memorando, a venda da ANA, e as Low Cost rebentaram com este monumental e previsivelmente ruinoso negócio de piratas, no qual também existiram os interesses do senhor Ho, pois parte do financiamento do NAL da Ota em Alcochete viria da privatização da ANA e da venda dos terrenos da Portela para aí construir uma China Town de luxo!

A Grécia estourou, entre muitos outros motivos, pela ruína e corrupção somadas do novo aeroporto de Atenas e das Olimpíadas.

E no entanto, em Portugal o turismo não parou de crescer desde o Memorando, sem precisar de qualquer novo aeroporto. O aeromoscas de Beja existe, mas não consta que tenha ajudado ao crescimento do turismo no Alentejo! Foi, sim, preciso remover as proteções que durante mais de uma década foram levantadas contra as companhia aéreas Low Cost.

Caímos na pré-bancarrota por causa do roubo sem freio dos recursos e dos empréstimos, mas também pela obstrução criminosa ao crescimento criada pelo Bloco Central da Corrupção, de que a banca portuguesa foi obviamente parte cúmplice e interessada.

Sobre o trovão que opina sem cessar, aqui fica a moral da história: um opinocrata que não declara os seus interesses é um opinocrata destituído de credibilidade. Que tal demitir-se de opinar, ou colocar um carimbo na testa antes de opinar?