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sexta-feira, julho 21, 2017

O Capitalismo das esquerdas



A riqueza atual é expropriada com o fim exclusivo de perpetuar o poder da nova burocracia mundial, ou seja, uma modalidade só na aparência diferente do comunismo financeiro russo, ou chinês.


Pagamentos em dinheiro serão limitados a 3 mil euros 
Observador, 19/7/2017, 8:32357 
A lei, que ainda terá de ser promulgada por Marcelo Rebelo de Sousa, prevê que os pagamentos em dinheiro vivo na maioria das transações, designadamente nas operações comerciais, prestações de serviços e empréstimos, estejam limitados a um máximo de 3.000 euros. 
Há, contudo, uma exceção: os estrangeiros, desde que não sejam comerciantes ou empresários, podem fazer pagamentos em dinheiro vivo até 10.000 euros. Este foi um dos pontos mais criticados pelo Banco Central Europeu no parecer que enviou ao Parlamento, classificando a medida como discriminatória. 
O PSD ainda apresentou uma proposta para que o limite fosse aumentado para 10.000 euros para todos os cidadãos — portugueses e estrangeiros –, mas a proposta foi rejeitada pelo Parlamento.

Quando se proíbe o uso de numerário no pagamento de despesas superiores a 3.000 euros está-se, na prática, a confiscar a liquidez existente nos bolsos das pessoas, em benefício de entidades privadas, os bancos, cujo ofício é, por definição, a usura.

Ora isto só pode ser descrito como uma atividade ilícita a que chamamos roubar!

Através deste género de assalto dissimulado, a liquidez que o Estado força os portugueses a entregar aos bancos acaba por servir para financiar o próprio Estado (ou seja, para aumentar o buraco da sua já incomportável dívida), na medida em que força a transferir, das pessoas para os bancos, a liquidez que estes já não têm, assegurando assim o cumprimento das regras de solvabilidade sem o que não podem ir buscar dinheiro ao BCE em troca de títulos de dívida soberana portuguesa.

As imparidades, boa parte das quais está associada a créditos fraudulentos à burguesia rentista (nomeadamente aos pândegos das PPP), e às insanavelmente desorganizadas, improdutivas e corruptas empresas públicas, agravam a insolvência latente dos bancos, cujo negócio tem aliás sido também seriamente prejudicado pela política de destruição das taxas de juro praticada pelos bancos centrais em nome da monetização de dois buracos negros: a dívida global, e o risco de perda em contratos de derivados especulativos que ascendem a mais de 10x o PIB mundial!

Finalmente, quando os bancos quebram, ou pré-quebram, como quebraram o BPN, o BES e o Banif, e pré-quebraram o BCP, o Montepio e a Caixa Geral de Depósitos, resta uma de duas soluções:

— ou encontrar um cangalheiro da área que compre a sucata (foi o que sucedeu ao BCP e ao BPI), ou forçar os depositantes distraídos, idiotas ou gananciosos, mais a generalidade dos contribuintes do país, a resgatar por dezenas de milhar de milhões de euros os bancos em quebra. Tudo, claro, em nome da dita estabilidade do sistema financeiro e, agora que somos governados por uma Geringonça que ainda não saiu do armário, mas que é Geringonça, em nome também de sacrossantos bancos públicos como a Caixa Geral de Depósitos (concerteza!) e o Montepio abençoado pelo misericordioso Pedro Santana Lopes. Os bancos, depois destas operações de descapitalização intensiva, tornam-se, na realidade, espetros da ruína que nos espera. Ou seja, zombies político-financeiros.

Mas o que é extraordinário hoje é que sejam os indigentes políticos comunistas, maoistas e trotskystas, do PCP e do Bloco, os principais paladinos desta expropriação capitalista e desta destuição de valor, ambas ilegais e criminosas, dos portugueses que poupam, e até dos que não poupam!

Votem no vermelho, e na rosa, mas depois não se queixem. O 'depois', no entanto, acabará por chegar, talvez mais cedo do que alguns pensam e a maioria deseja.

quarta-feira, março 08, 2017

Populismo vermelho




Bastaram doze meses...


Não foram as ameaças a impedir a conferência de Jaime Nogueira Pinto. Foi o medo. Foi a conivência. Foi o reconhecimento da superioridade da extrema-esquerda. 
Helena Matos, Observador, 7/3/2017

Aguardo excitadíssimo uma reação dos professores e alunos da Universidade Nova que condenam esta censura inacreditável da liberdade de expressão. O sucedido é grave, sobretudo se o virmos no contexto de uma degradação económica e institucional das classes médias, e do ascenso do populismo por toda a Europa e Estados Unidos. Esta combinação é o fermento típico do fascismo, que aliás sempre nasceu no ventre dos partidos socialistas e comunistas patrióticos. Escrevo isto com o à-vontade de quem nunca prestou grande atenção à direita corrupta ou desmiolada que temos. E de quem nunca leu, nem tem especial apreço pelo taciturno Jaime Nogueira Pinto. O que me preocupa mesmo é a degenerescência, a corrupção e o fascismo que começa a medrar no útero das esquerdas.

E agora Marcelo?

Como se vê por este incidente, que o Presidente da República não comentou (e ele comenta tudo, não é?), Marcelo Rebelo de Sousa, afinal, nem fala de tudo, nem é equidistante. Tão poucos meses para tão grande arrependimento—o meu!

domingo, janeiro 29, 2017

Trump, dez dias que abalaram o mundo

Presidente eleito Donald Trump, de punho no ar, à chegada ao Capitólio em Washington no dia da tomada de posse como 58º presidente dos Estados Unidos da América, sexta-feira 20, 2017. (AP Foto/Andrew Harnik).

Estados Unidos da América - a grande divisão


Balbúrdia.

Demissões em massa na Administração americana, e um muro demasiado longo para construir. Só se forem os chineses a pagar e a fazê-lo! Sabem quem construiu uma boa parte dos caminhos de ferro americanos? Pois!

Que se passa na América? 

Uma Segunda Revolução Americana (a de Trump) contra a Revolução Púrpura de Soros, protagonizada pelos Obama e pelos Clinton? Seja o que for, mesmo descontando as teorias da conspiração, estes últimos dez dias, e os próximos noventa, vão ter uma tremenda influência na Europa. Repare-se como boa parte dos argumentos a favor da dita Segunda Revolução Americana (a dos 99% contra os 1%) poderia fazer parte de qualquer manifesto de esquerda, ou de extrema esquerda. Sem conhecer os dois lados da barricada que se formou, andaremos como cegos ao serviço de um dos extremos.

Protecionismo, isolacionismo e a questão migratória.

O problema da indústria de ponta americana é que não dispensa os imigrantes inteligentes, bem formados e com vontade de triunfar, e seria uma ilusão pensar que poderiam substitui-los no curto-médio prazo pela classe de indigentes subsidio-dependentes (da qual a maioria é mal instruída e tem empregos de baixa produtividade, mas a que também pertence uma sub-classe de estudantes eternos e uma burocracia educativa interminável) que a globalização iniciada na era Reagan, e prosseguida por todos os governos americanos desde então, desenhou e estimulou como forma de compensar a esperada projeção (1) de boa parte da economia americana produtiva para a China e outros países asiáticos. Ler a propósito Jeremy Rifkin e a obra The End of Work.

O grande debate sobre a imigração vai começar (ver este gráfico/ Statista). Quem quer mais imigração? Curiosamente, as elites que conhecem até que ponto os estados sociais na América, na Europa e no Japão faliram e precisam urgentemente de famílias com filhos e vontade de trabalhar, pois só por esta via (pelo menos nos próximos 20 anos) haverá quem pague as reformas e as pensões sem estourar de vez as empresas e as classes médias. O endividamento público dos EUA, da Europa e do Japão são bolhas que vão explodir, ou implodir, mais cedo ou mais tarde. Não há crescimento, e muito menos propaganda do crescimento, que remedeie esta realidade dramática que os governos enfrentam diariamente. A prosperidade hedonista do Capitalismo chegou ao fim. É uma má notícia? Para quem estava habituado, sim. (2)


Onde está o terrorismo?

Governos da Arábia Saudita e do Qatar financiaram ao mesmo tempo o Estado Islâmico e a Fundação Clinton quando Hillary Clinton era secretária de estado da defesa dos Estados Unidos. Não basta ser Politicamente Correto, é também necessário tirar os antolhos que nos impedem de olhar para a realidade. A pós-verdade não serve a ninguém, salvo aos que conspiram para nos escravizar, de forma explícita, ou dissimulada.

Trump, porém, esqueceu-se, na lista de países banidos, da Arábia Saudita, do Qatar, e da Turquia, de onde boa parte do dinheiro para o Estado Islâmico partiu e parte. A Arábia Saudita esteve comprovadamente envolvida no 11 de setembro... mas, ao que parece, Trump tem negócios em todos estes países!

Europa?


A terceira derrota alemã. Nem espaço vital a oriente, nem a ocidente.

A Alemanha deve estar a sentir os seus miolos a fritarem. De um lado, Putin, de outro, o Brexit, de outro ainda, Trump, e agora o Clube do Mediterrâneo (com a França dentro). Chiça!

Club Med.

A dita cimeira dos países do Clube do Mediterrâneo foi, objetivamente, um doce oferecido ao Brexit e a Donald Trump, e mais uma farpa espetada no dorso da Alemanha. Ou seja, os flancos atlântico e mediterrânico da Europa afastam-se de novo do sonho germânico, e colam-se aos Estados Unidos. E quanto à Rússia e ao inconsciente territoral alemão, Putin venceu claramente a mais recente tentativa anglo-saxónica e alemã de isolar o império dos czares (brancos e vermelhos). Porém, não deixa de ser extraordinário que esta deriva anti-alemã dos países do sul da Europa ocorra no preciso momento em que Donald Trump prognostica o fim da União Europeia e da sua moeda. Curiosamente também, é vermos o PSD de Pedro Passos Coelho demarcar-se dos atuais líderes dos PIGS, reafirmando o seu europeismo estratégico, que, como todos sabemos, não pode dispensar nem menorizar a Alemanha. Também nisto o nosso país começou a dividir-se gravemente. As apostas são elevadas. Os ganhos e as perdas também o serão.

Geringonça no fim?


Desculpem lá qualquer coisinha, terá pensado dizer António Costa. Como sabem, assim lhe vai o subconsciente, não mando nada; quem manda é o Supremo Soviete de São Bento, a quem devo este humilde cargo de servidor do povo. Mas voltando ao gado frio, ou frito, da Concertação Social, a António Costa só lhe terá ocirrido perguntar: como é que vamos dar a volta a isto?

Palavra de Fazenda.

Eu bem dizia (no apagado Política Sueca) que a ideia da coligação PS-Bloco, ou PS-Bloco-PCP, além de ser coerente e estimável (dado o cesarismo bicéfalo nascido das duas últimas eleições), estaria na cabecinha dos bloquistas desde que começaram a pensar no futuro do PS pós-Soares. A Geringonça simplificada, isto é, um governo minoritário do PS apoiado pelas esquerdas parlamentares, sem a muleta do PSD, não se aguenta. Logo, das duas uma: ou se desfaz e Costa vai à vida, ou Costa acabará por pedir a Marcelo um Governo da Geringonça (PS+Bloco+PCP/PEV), em nome da paz, ou mesmo da emergência social, e da estabilidade política. O Joker, entretanto, chama-se Pedro Passos Coelho, e dele dependerá a sorte da Geringonça, no sentido em que dele dependerá se a quer derrubar já, ou depois de a frente popular pós-moderna que ora nos governa conduzir o país a um novo resgate. A verdade é que só há uma alternativa à previsível coligação PS-Bloco-PCP: eleições em 2018, precedidas da defenestração congressual de António Costa. Neste cenário, que seria preferível após um mais claro e rotundo fracasso da Geringonça, ou da coligação que lhe suceder, Francisco Assis e Pedro Passos Coelho formariam uma Grande Coligação, e meteriam Marcelo no bolso, claro. Ou seja, seria o fim do tal cesarismo bicéfalo que ora existe. O braço-de-ferro vai ser longo e violento.

O Golpe de Coelho que Costa e Marcelo não previram.

O aviso a Marcelo está feito: quando não houver dinheiro, nem o Governo, nem Belém, poderão contar com o PSD. Ou seja, terá que haver eleições antecipadas. Se o terceiro e quarto trimestres deste ano forem o que alguns observadores atentos da conjuntura internacional e interna estimam, ou seja, recessão e subida incomportável dos juros da dívida pública, então nem nas Autárquicas o PS terá bons resultados, e a queda da Geringonça poderá contrariar as minhas previsões sobre a vida da mesma: uma legislatura, ou até duas.

A austeridade das esquerdas está a ter um preço escondido, chamado retenções orçamentais (definitvas) e ausência de investimento público, nomeadamente em serviços públicos essenciais: ferrovia, hospitais, escolas, etc. Mais um ponto percentual nos juros a dez anos e a Geringonça colapsará. O aviso foi dado pelo embuste da Concertação Social. A Grécia já esteve mais longe.

Não foi por acaso que Pedro Passos Coelho acordou da sua aparente hibernação no dia em que os rendimentos da dívida pública (yields) portuguesa ultrapassaram a barreira dos 4%, a 26 de janeiro último. Mais do que esta passagem do limiar considerado crítico pela DBRS (única agência de notação financeira que mantém a nossa dívida pública uma nesga acima de 'lixo'), é a tendência altista que se verifica desde 17 de janeiro [investing-com] que despertou o líder do PSD e colocou em cheque o malabarismo sectário de António Costa em volta da Concertação Social.

FMI

Mais um aviso a Portugal e à Geringonça das esquerdas a propósito do mais recente alerta do FMI à Grécia.

Os países vão virar-se para dentro (não é isso, aliás, que propõem o PCP e o Bloco?), os juros bancários vão começar a subir, e as 'yields' das dívidas públicas nos mercados secundários já começaram a agitar-se (Portugal que o diga!!!) Este é, aliás, o gatilho que desencadeou a crise, muito séria, instalada no regime depois do fiasco completo da subida do salário mínimo nacional e do chumbo parlamentar da descida discricionária da TSU. A Concertação Social está de rastos, e António Costa perdeu toda a sua credibilidade como primeiro ministro de Portugal. Depois dos boicotes do PCP, Bloco e PSD às manobras arrogantes (e depois mal criadas) do primeiro ministro que perdeu as últimas eleições, a Geringonça está ferida de morte. O golpe dado pelo líder da UGT ao bloquear a assinatura da adenda ao Acordo de Concertação Social foi uma resposta, não do socialista Carlos Silva, mas do furioso socialista António Costa! Em suma, a Geringonça irá arrastar-se até ao próximo resgate, e quando ele vier, cairá de podre. Ou então, PCP e Bloco, antevendo a sua rápida erosão eleitoral, provocarão a queda de Costa ainda este ano.

Almofada financeira, até quando?

Os juros pagos e a pagar por Portugal ao FMI são de 4,1%. Isto significa que subindo os rendimentos da dívida pública portuguesa a 10 anos acima 4,1% (estavam a 4,127% no dia 27 de janeiro), o chamado 'rollover' da dívida, i.e. trocar dívida cara por dívida barata deixa de funcionar. Neste sentido, a restruturação suave da dívida pública que vinha sendo realizada pelo governo anterior deu lugar a uma nova tendência perigosa de endividamento a taxas de juros incomportáveis por uma economia que cresce abaixo dos 1,6% (2015): 1,2% (2016), 1,4% (2017), 1,5% (2018) 1,5% (2019). Em suma, Marcelo foi mal informado, ou preferiu desvalorizar este perigoso boomerang. O alongamento de prazos que tem ocorrido e as baixas taxas de juro diretoras do BCE podem ser considerados uma forma mitigada, implícita, de restruturação da dívida. Porém o futuro, quer dizer 2017 e anos seguintes, parecem condenados a ver alterada esta bonomia financeira. Ou seja, as pré-condições para um nova derrapagem na próxima curva apertada do financiamento da nossa insustentável dívida total (pública e privada) regressaram.

O embuste da substituição da descida da TSU pela diminuição do PEC

Por apenas 40 milhões de euros António Costa perdeu a face, e vai passar a piar bem mais fininho do que até este fiasco evidente. Só mesmo a comunicação social indigente, perdão, rendida ao charme da Geringonça, consegue fazer retratos trumpianos do que sucedeu nestes últimos dias.

Uma coisa simples de perceber: a TSU é uma taxa paga por trabalhadores (11%) e empresas (23%) e serve, diz-se, para ajudar a manter a sustentabilidade da Segurança Social (acreditamos que sim). Ou seja, paga-se e está pago. Já o PEC é um adiantamento por conta do IRC a pagar pelas empresas no fim de cada ano fiscal. Ou seja, o Pagamento Especial por Conta é um empréstimo forçado ao Estado, que este depois deduz à coleta na hora de apurar o IRC que cada empresa tem que pagar ao Estado anualmente. Só as empresas que não têm lucros ou que declaram rendimentos coletáveis abaixo dos 850 euros (PEC em vigor) beneficiarão momentaneamente desta diminuição do PEC (para 750 euros, mas cujos detalhes ainda ninguém conhece). Ou seja, no caso da redução da TSU há uma poupança fiscal efetiva nas empresas, enquanto que no PEC não há qualquer poupança. É assim tão difícil de perceber? Lamentável é o lamaçal onde chafurdam hoje os atores pomposos da Concertação Social. E já agora: Bloco e PCP conseguiram o que queriam: aumentar o SMN sem baixar qualquer dos encargos das empresas. Mário Centeno agradece!

Simplificando, as empresas que não pagam IRC, por o seu volume de negócios e lucros serem muito baixos (ou até declararem prejuízo), passam a ter um desconto de 100 euros/ano no que têm vindo a adiantar ao Estado (PEC) por conta do tal IRC, e que, até 2016, eram 850 euros por ano e por empresa. Para as demais empresas, que declaram lucros e pagam IRC, a medida agora anunciada pelo irritado António Costa não representa qualquer poupança fiscal, apenas mais dinheiro em caixa e, eventualmente, os juros que os 100 euros do dinheiro adiantado ao Estado renderiam se estivesse aplicado ou a render juros (uma fortuna!) Em suma, a diminuição em 100 euros no Pagamento Especial por Conta não é nenhuma alternativa à diminuição da TSU, por mais que políticos do governo, os patrões troca-tintas, as comadres sindicalistas e a maioria dos jornalistas e analistas da pós-verdade digam o contrário, de cócoras para Costa.

IMI

Com o andar da carruagem —empobrecimento contínuo das pessoas, sobretudo das que possuem casa própria, ou estão a pagá-la— esta receita só poderá continuar a cair... até ao dia em que acabarem com as isenções, por manifesta insolvência do Estado. Quando não houver dinheiro para pensões, reformas e vencimentos da Administração Pública, o IMI subirá a pique. Ou seja, temos que nos preparar para viver apenas com aquilo que podemos pagar, nomeadamente evoluindo para novas formas de partilha social e associação mutualista defendidas da voragem fiscal da burocracia.

Mais um erro crasso do Governo em matéria ferroviária *.

A eletrificação anunciada vai ao arrepio da ligação da nossa rede ferroviária a Espanha/resto da Europa

  1. porque a Espanha tem vindo a migrar a sua rede ferroviária (bitola, eletrificação, sistema de sinalização) para a norma standard internacional (UIC), ao contrário dos governos que temos tido;
  2. mesmo que a bitola ibérica continuasse por mais alguns anos na linha que chega do resto de Espanha a Ayamonte, a ligação da linha algarvia a Espanha continuaria a ser inviável, nomeadamente porque um autarca espertalhão e amigo do imobiliário urbanizou a plataforma ferroviária entre Vila Real de Santo António e Vila Real de Santo António-Guadiana;
  3. tirando o facto de se mudar da tração diesel para a elétrica, vai ficar tudo na mesma, ou seja, a modernização anunciada não leva ninguém a lado nenhum, nem sequer às praias! No troço entre Tunes e Lagos, haveria a oportunidade de fazer passar a linha junto ao litoral (uma boa alternativa à EN 125 ou à A22 cujo uso e manutenção são cada vez mais caros...) mas, sobre isto, tire-se o cavalinho da chuva, pois o que está em causa é apenas a eletrificação dos troços anunciados;
  4. parece que só a Takargo beneficiará com esta ideia luminosa, aproveitando a eletrificação da linha para transportar Jetfuel para o Aeroporto de Faro.
* — Agradeço ao RMVS esta informação detalhada.


Parque Escolar de luxo e escolas inundadas e sem segurança, nem pessoal.

Onde pára a Parque Escolar engendrada pelo senhor José Sócrates Pinto de Sousa? Esvaíram-se milhares de milhões de euros neste embuste cor-de-rosa, mas continua a chover no interior de escolas vetustas como a Alexandre Herculano, e o Liceu Camões. A bolha das esquerdas continua a inchar e vai rebentar um dia destes.

Quem vai ganhar Lisboa?

João Ferreira (PCP) pode deitar a perder a eleição de Medina (patrocinada pelo PS e pelo Bloco). Este é um candidato a sério. Parabéns ao PCP, pois percebeu que tem finalmente que apostar na sua juventude qualificada. O instrumento Medina que se cuide.

Já agora, a linha de ataque de João Ferreira vai provavelmente melhorar e muito a votação na CDU. A linha é simples: denunciar, organizar e lutar contra a gentrificação de Lisboa, e em particular dos seus bairros históricos, que os vendilhões do templo procuram saldar a qualquer preço aos fundos especulativos de investimento imobiliário internacionais, mas também indígenas. Por exemplo, qual a posição da Caixa Geral de Depósitos nesta matéria?

Nota: Se o PCP souber renovar-se, e sobretudo se fizer a transição do estalinismo falido para um patriotismo de esquerda inteligente, e apostar claramente da renovação dos seus quadros, e também libertar-se em matéria de costumes (urbanizando-se!), o Bloco poderá acabar por ficar restringido ao papel de comadre do PS.

Os intermediários da fome

O Rendimento Básico Garantido é uma alternativa mais justa, decente e barata do que continuar a alimentar os intermediários da fome e da desgraça alheia.

Frenesim precoce

Não é o crescimento, estúpido! É a falta de procura (a falta de trabalho e a falta de dinheiro nos bolsos e nas expectativas) que gera o excesso de capacidade, ou vice-versa... O crescimento dos Estados Unidos em 2016 não foi nada do que alguns analistas apressados alegremente disseram, nomeadamente para contrapor Obama a Merkel, mas pouco mais de metade do que anunciaram: 1,9%.

Startups virtuais

Para já, são tudo castelos no ar. Nenhuma viragem como a da Indústria 4.0 se faz sem doses ciclópicas de capital e uma acumulação de conhecimento e de energia criativa colossal. Portanto, vamos lá a falar seriamente sobre estas questões. O governo português é o governo de um estado insolvente, falido e indigente, que vive da sopa dos pobres comunitária. Ou seja, sem fundos comunitários, nem dinheiro conseguem para os Power-Points. Se nos continuarmos a safar na indústria da maquinaria, calçado e têxteis, dos congressos, da praia e do surf, do peixe fresco, dos bons vinhos e azeites, e do Divino Sol, já não estaremos nada mal. Mas mesmo aqui é fundamental afastar dos negócios o estado predador que temos, pois, de contrário, para passar ao lado desta voragem fiscal e legislativa, só mesmo com empresas 4.0 (por definição, globais), para quem Portugal não passa de um nó da rede, sem qualquer capacidade económica, institucional e política de impor regras ou assaltar fiscalmente os protagonistas da revolução que o otimista secretário de estado diz querer trazer para o nosso país. Ou seja, se continuarmos a construir castelos no ar, acontecerá às boas indústrias que ainda temos o mesmo que aconteceu à banca que já não temos, e à burguesia clientelar (EDP, GALP, Mota-Engil, Soares da Costa, etc.) que tem vindo a ser engolida paulatinamente pelos peixes maiores que, como sabemos, não são indígenas :(

Esquerda/Direita

Que há de comum entre Trump, Marine Le Pen, Louçã e Jerónimo de Sousa? Resposta:

  • nenhum deles gosta da NATO
  • nenhum deles gosta da Alemanha
  • nenhum deles gosta do Euro
  • nenhum deles gosta da União Europeia
  • nenhum deles morre de amores pela China
  • e todos eles querem mais empregos

Acham que é preciso mais argumentos para vermos a importância desta convergência real?

Banksters e rendeiros falidos

A arrogância do senhor Faria de Oliveira é criminosa. Esperemos que o PSD obrigue a Caixa a revelar a lista dos seus 100 maiores clientes ruinosos, e que as operações duvidosas sejam investigadas. Só neste país é que os bancos ainda não foram sujeitos a pesadas multas pela vigarices praticadas. Pelo contrário, temos um Geringonça das esquerdas disposta a apaparicar tudo o que os 'banksters' indígenas exigem nos almoços do Ritz. Com uma esquerda destas, quem é que precisa da direita?!

Há dois pânicos que assaltam neste momento a Geringonça: a nacionalização do Novo Banco faria descarrilar o défice e, provavelmente, seria impedida pelo BCE; a falência do Novo Banco, por sua vez, colocaria o Fundo de Garantia de Depósitos sob uma enorme pressão. Como o Fundo de Garantia de Depósitos e o Fundo de Resolução são financiados pelos bancos residentes, podemos imaginar o grau de pressão que estes farão sobre António Costa para despachar o Novo Banco, nem que seja por um euro, a quem quiser tomar conta de semelhante tormenta. E ainda, já alguém perguntou pela massa do fundo de pensões do BES? Transitou para o Novo Banco? Duvido... Quem comprar por um euro o Novo Banco que encontrará, de facto, no cabaz das responsabilidades invisíveis do mesmo?

Santander e Bankinter com lucros recorde em 2016. Dois bancos espanhóis a sugarem o vazio deixado pelos insolventes banksters indígenas.

O regime engordou a sua nomenclatura financeira, empresarial e político-partidária até rebentar com o país, de má gestão, corrupção e dívidas. Resultado, o miolo económico, financeiro e laboral do país está a ser entregue de mão-beijada aos espanhois, franceses (árabes), chineses e angolanos. Ou seja, em vez de uma diversificação de investimentos e exportações, em vez do tão ansiado crescimento, temos uma rendição escandalosa (dos Banif, BES/Novo Banco, Ascendi, SDC e quejandos) aos credores e abutres que rodeiam uma ave ferida de morte chamada Portugal. E ninguém vai preso?! O presidente dos afetos vai começar a ouvir o que não pensava, e muito menos queria. Quando? lá para meados deste ano...

Portugal—EDP—China

A política de Donald Trump terá certamente consequências na EDP, dada a excessiva exposição desta à China, e aos parques eólicos americanos.

Nem tudo são tristezas


Barbie. ©Mattel

Monte da Peceguina tinto (2015) - uma pomada de beber e beber por mais ;) Taninos, fora! Sabores e aromas alternam numa tarde que a noite alentejana acaba por arredondar, em Beja, entre o luar e as luzes ténues da cidade. Cor linda. Frescura de coisa nova, como só as coisas novas sabem dar. Beber imoderadamente (aguenta ;), nunca acima dos 18 graus de temperatura.

E para por um ponto final nesta gazeta da semana que já vai longa, aqui vai uma notícia verdadeiramente cor-de-rosa: a Barbie tem uma nova chefe, vinda da Google, e vai voltar-se para a Indústria 4.0 ;)


NOTAS

1) Na realidade, a globalização equivale a uma projeção industrial e financeira dos países mais ricos para geografias onde o trabalho é mais barato e menos exigente em matéria de regulamentação. O objetivo principal da globalização iniciada pelos Estados Unidos e Europa ocidental é expandir os mercados, já não tanto pela via clássica das exportações de produtos acabados (que se tornaram menos competitivas, dada as assimetrias salariais e de externalidades entre países desenvolvidos e países emergentes), mas pela via da exportação das próprias indústrias e serviços financeiros que, por esta via, conquistam ao mesmo tempo, trabalho e mercado, encurtando ainda as distâncias entre produção e consumo. No caso dos Estados Unidos, apesar da dimensão do seu mercado interno, este tornou-se demasiado pequeno no quadro de uma competição comercial mundial que, a aprtir dos anos 60 do século passado, passou a incluir os chamados países emergenets da Ásia (China, Índia, Indonésia, Filipinas, ...), África (África do Sul, Nigéria, Angola,...) e América Latina (Brasil, México, ...).

2) Porque precisam os países ricos de imigração e/ou de prolongar a vida ativa até aos 70 anos?

RabbitOne 

Economics will go to hell in America because there are currently not enough taxpayers to support socialism in America. For 50 years our government has filled the law books with bills that give out pay outs. However in this Ponzi scheme they forgot that it requires new tax payers to keep the system afloat.

Socialism failed its own purposes. Once white people took up socialism they bought into its promises and they stopped having large families (who would have supported them if there was no government support). Add to this abortion and the pill and white people in America and Europe did not produce enough tax payers to support the socialist Ponzi scheme. There may be another explanation for this trend. The more affluent a society becomes, several factors unleash. The birthrate declines sharply, for as people become wealthier, women prefer not to have children. The poorest cultures have the greatest number of births because children take care of their parents. In our new age of socialism, government has replaced the family unit. Ask a girl under thirty in the United States if she wants to have children today and you are likely to get the answer, “No.”

The implications economically, financially, societally, etc. etc. of a collapsing population of young and soaring older population should be ringing alarm bells...but instead our politicians seem officially mindless (or intentionally misleading the populace) in the face of a cataclysmic shift. Without enough tax payers to pay for socialism’s promises western governments decided to import immigrants who still have large families (and produce lots of tax payers). Typical of those imported immigrants with large families are poor Muslim’s or poor Hispanics. So until they have the boat load to tax payers they need Western countries have large numbers of refugee’s to fill the tax payer void and will continue to run deficits and raise taxes to try to pay for the Ponzi scheme.

Connect the dots:

There were 76 million people born between the years 1946 and 1964, the traditional window for the baby boom generation. That means that they will retire over a 19-year period. Simple math shows that 76 divided by 19 is 4 million, or almost 11,000 people a day. Say 1,000 die a day. The biggest event in America today is we have l0,000 Baby Boomers retiring each day for years to come. The biggest problem in America is we cannot for the duration support these retiring Baby Boomers. The reason we cannot support these baby boomers is we have not produced a large enough group of supporting taxpayers.

Why are there not enough taxpayers to support retiring Boomers?  Government eliminated 60 million future tax payers with making abortion legal. Also it is estimated up to 30 million tax payers were prevented by the cheap birth control pill. And lastly the dissolution marriage as an institution in America has created much smaller family units than prior generations and single family moms have had 20 million fewer babies. This means 120 million tax payers are missing to pay for the retiring baby boomers.

How is our government replacing the missing revenue from lack of taxpayers? To replace these missing tax payer’s government has allowed 61 million immigrants plus into America to replace our missing tax payers to support the boomers (the total is estimated to be 94 million). These immigrants are fast tracked getting jobs our youth should have using subsidies from the government. Dems and Repubs are together on this.  Democrats want the immigrants as future party supporters. Republicans want the cheap labor.

Why are Muslims the primary people imported? Muslims don’t have abortions, take the pill and Muslim women are not single moms. It is not uncommon for Muslims to have the 6 to 10 children like white families used to have in America. Congress is counting on this group to generate the missing tax payers.

Why is America a bankrupt government? Revenue from current taxes is too low to pay for increasing entitlements and retirees. Deficits and debt plug the entitlement hole until immigrants produce enough taxes to fill the entitlement hole . Government is betting immigrants will produce the taxes to pay for retiring Baby Boomers before America goes belly up. Once the U.S. world reserve currency runs out and the government can no longer print bucket loads of money and debt they will strip the U.S. citizens cupboards bare to keep going. Need more proof on America’s bankruptcy? Look up Kotlikoff’s senate testimony last year.

Comentário/ OAM

Sharp observations. Historically, though, when aggregate demand starts a downward curve, and jobs fail, and well-paid jobs disappear, women defend their reproductive instinctual economy by having fewer children, and aborting if necessary. That's also the case with nomadic people since ancient times until today. We will probably have to develop intelligent machine slaves to produce the necessary quantum for individuals in the coming new nomadic societies. There are enough wealth and money to install a Basic Income system that would allow modern societies to evolve, and not go backward instead.

Timeline: U.S. Postwar Immigration Policy

Immigration has been an important element of U.S. economic and cultural vitality since the country's founding. This interactive timeline outlines the evolution of U.S. immigration policy after World War II. Council on Foreign Relations

quinta-feira, dezembro 01, 2016

Para o Bloco de Esquerda

Veloso Salgado (1864-1945) - A aclamação de D. João IV


O Bloco, a Monarquia e a República, no dia primeiro de dezembro


A nossa monarquia foi assassinada, hoje dir-se-ia que por um ato terrorista, em 1908. Temos uma república desde 1910, sem que tal mudança de regime tenha salvo o país da emigração, da miséria intelectual e da corrupção pandémica em que outra vez nos encontramos. Quanto mais não fosse por estes factos, os deputados do Bloco de Esquerda deveriam abster-se de sonhar com o regicídio em Espanha, ou pior ainda, de se revelarem, no próprio parlamento português, como uma mera sucursal iberista desmiolada do Podemos!

Bloquistas exibem bandeira republicana espanhola no parlamento português.
Augusto Santos Silva diz que não viu descortesia. Estava sem óculos...


Decorre da má criação parlamentar do Bloco de Esquerda que, se a sua afronta infantil ao rei de Espanha fosse tornada norma parlamentar indígena, os chefes de estado das seguintes monarquias europeias passariam a duvidar se valeria a pena visitar uma instituição que não sabe receber quem convida, ainda por cima de um país insolvente, praticamente sem banca própria, e de mãos estendidas aos seus credores:

- Luxemburgo
- Noruega
- Holanda
- Suécia
- Dinamarca
- Bélgica
- Reino Unido
- Espanha

Haverá alguém capaz de oferecer uma chávena de chá ao Bloco?

sexta-feira, dezembro 04, 2015

Democracia parlamentar à vista?

31 de Janeiro, proclamação da República no Porto - 1891
A proclamação da Republica das janellas da Camara Municipal
Grav., Bertrand Dete in A Ilustração, Paris 1891, vol. 3, p. 73
BN J. 1505 M.

Sintomas de um novo regime


A grande novidade, embora dissimulada, do debate do programa do novo governo minoritário do Partido Socialista, apoiado criticamente pelo PCP, Bloco, PEV e PAN, foi a convergência de todo o arco parlamentar em direção à prudência e ao realismo.

Aquilo que hoje ainda parece o soviete supremo de São Bento será em breve, provavelmente, um parlamento forte, que deixará aos futuros presidentes da república mais tempo para viajar, nomeadamente na grande geografia que ajudámos a desenhar desde 1415.

Governo para um ano teremos seguramente. Para toda a legislatura, nada exclui, para já, tal possibilidade.

Vamos precisar dum aparelho de estado mais técnico e estável do que político-partidário e instrumental.

As esquerdas estão, finalmente, em pleno processo de AGGIORNAMENTO.

As direitas devem prosseguir o AGGIORNAMENTO que, aliás, iniciaram com Paulo Portas e Pedro Passos Coelho.

O estigma da ilegitimidade

Não se mudam as regras a meio do jogo, e portanto, Cá se fazem, cá se pagam!

O governo minoritário do partido que perdeu clamorosamente as eleições não é inconstitucional, nem afronta o Código da Estrada, mas é ilegítimo, porque nasceu de uma mudança oportunista das regras a meio do jogo. A regra dizia: deve ser primeiro ministro o líder do partido que vence as eleições. Mas havia ainda outra regra não escrita: PCP e Bloco de Esquerda não fazem parte do arco da governação, pelo que só ganhando eles mesmos as eleições, poderão governar.

Tal como foi fácil a Jorge Sampaio derrubar uma maioria absoluta, pela simples circunstância de o 'povo' não gostar da ideia de ver um primeiro ministro não eleito a substituir o que elegera e entretanto se baldara para Bruxelas, deixando atrás de si a famosa deixa o país está de tanga, também António Costa não tem outro remédio senão ficar para a história como um primeiro ministro ilegítimo. O que não quer em absoluto dizer que não possa vir a ser amado pelo povo. Quantos ilegítimos o foram!

O problema institucional

1102 - Diego Gelmírez, primeiro arcebispo de Santiago de Compostela rouba os restos mortais de S. Frutuoso para expô-las como relíquias na cripta da Catedral de Santiago. Este roubo ficou conhecido como 'pio latrocínio'

1966 - as relíquias são devolvidas a Braga, encerrando-se o incidente ocorrido 864 anos antes.

Desde o ano 45 até 1999 foram consagrados 145 bispos e arcebispos em Braga.
O arcebispo de Braga usa o título de Primaz das Espanhas.

Como se percebe por esta deliciosa história que li de Adolfo Luxúria Canibal, vimos de muito longe, e não nos atrapalharemos com pequenos incidentes democráticos, como aquele que António Costa protagonizou.

Tendo havido e havendo uma coligação partidária e parlamentar negativa contra a maioria relativa que suporta Pedro Passos Coelho, líder do PSD, o regime chegou a um beco sem saída, ou antes, à necessidade de rever in extremis algumas regras não escritas. Por exemplo, que os governos e as maiorias governamentais passam a formar-se no parlamento e não nas eleições; ou que no arco parlamentar todos os partidos são iguais. Ou seja, no caso em apreço, temos António Costa a liderar um governo, mas amanhã, no atual quadro parlamentar, poderemos ter Jerónimo de Sousa, Catarina Martins, ou André Silva, bastando para tal que o fiel da balança mude de lugar.

Principais protagonistas do debate do Programa do XXI Governo Constitucional

O novo bunker socialista
  • António Costa/ Pedro Nuno Santos
  • Carlos César
  • Augusto Santos Silva
  • Rui Vieira da Silva
  • Capoulas Santos

... e o resto
  • Mário Centeno: um desastre anunciado, foi pior do que alguém poderia imaginar; no entanto, lá recorreu à aura da inclusividade que trouxe a fama a Daron Acemoglu e James Robinson (Why Nations Fail?)
  • Pedro Marques: mantenho uma expetativa positiva sobre o Ministro das Infra-estruturas e Planeamento,
  • João Soares: exigirá ele, e terá, 3% do Orçamento, para fazer da Cultura o epicentro da transformação criativa do país? 1% para as artes; 1% para a informação, comunicação e redes sociais; 1% para o património cultural? Duvido muito.

Os novos aceleradores críticos da Esquerda
  • Mariana Mortágua, Catarina Martins
  • João Oliveira/ Jerónimo de Sousa, Arménio Carlos, João Ferreira
  • Pedro Nuno Santos

PAN, o próximo grupo parlamentar
  • André Silva é uma agradável surpresa

PSD
  • Vai procurar preencher o vazio deixado ao centro esquerda pelo PS de António Costa e fazer marcação cerrada às componentes 'esquerdistas' da agenda do governo minoritário do PS, forçando, uma e outra vez, o PCP e o Bloco a clarificarem as suas posições, e o PS a secundá-las.

CDS/PP
  • Se não clarificar e melhorar a sua agenda conservadora, perder-se-à no meio do processo de mutação rápida do regime iniciada pelas eleições de 4 de outubro.

segunda-feira, novembro 23, 2015

Cavaco desafia PCP e Bloco a fazerem as suas Perestroikas

Inauguração do Centro de Investigação da Fundação Champalimaud. Lisboa, 5 de Outubro de 2010
© 2006-2015 Presidência da República Portuguesa

Faites vos jeux!


Cavaco encarrega António Costa de apresentar solução governativa credível e estável. As seis questões que deverão ser formalmente esclarecidas pelo PS obrigam o PCP e o Bloco de Esquerda a definirem, de uma vez por todas, se estão ou não dispostos a rever algumas das suas opções programáticas e ideais teleológicos.

Curiosamente, Cavaco Silva parece estar a ajudar António Costa a meter o PCP e o Bloco no bolso direito do sobretudo socialista. Vai ser lindo ouvir o que Jerónimo de Sousa, Arménio Carlos, João Oliveira e Catarina Martins (a nova presidenta da junta bloquista) têm para nos dizer, e o que dirão aos seus militantes e eleitores.

Uma semana de balbúrdia dialética digna da maior atenção.

Presidência da República divulga documento entregue ao Secretário-Geral do Partido Socialista 
O Presidente da República recebeu hoje, em audiência, o Secretário-Geral do Partido Socialista, a quem entregou o seguinte documento contendo questões com vista a uma futura solução governativa: 
Face à crise política criada pela aprovação parlamentar da moção de rejeição do programa do XX Governo Constitucional que, nos termos do artigo 195 da Constituição da República Portuguesa, determina a sua demissão, o Presidente da República decidiu, após audição dos partidos políticos representados na Assembleia da República, dos parceiros sociais e de outros agentes económicos, encarregar o Secretário-Geral do Partido Socialista de desenvolver esforços tendo em vista apresentar uma solução governativa estável, duradoura e credível. 
Nesse sentido, o Presidente da República solicitou ao Secretário-Geral do Partido Socialista a clarificação formal de questões que, estando omissas nos documentos, distintos e assimétricos, subscritos entre o Partido Socialista, o Bloco de Esquerda, o Partido Comunista Português e o Partido Ecologista 'Os Verdes', suscitam dúvidas quanto à estabilidade e à durabilidade de um governo minoritário do Partido Socialista, no horizonte temporal da legislatura: 
a) aprovação de moções de confiança;
b) aprovação dos Orçamentos do Estado, em particular o Orçamento para 2016;
c) cumprimento das regras de disciplina orçamental aplicadas a todos os países da Zona Euro e subscritas pelo Estado Português, nomeadamente as que resultam do Pacto de Estabilidade e Crescimento, do Tratado Orçamental, do Mecanismo Europeu de Estabilidade e da participação de Portugal na União Económica e Monetária e na União Bancária;
d) respeito pelos compromissos internacionais de Portugal no âmbito das organizações de defesa colectiva;
e) papel do Conselho Permanente de Concertação Social, dada a relevância do seu contributo para a coesão social e o desenvolvimento do País;
f) estabilidade do sistema financeiro, dado o seu papel fulcral no financiamento da economia portuguesa 
O esclarecimento destas questões é tanto mais decisivo quanto a continuidade de um governo exclusivamente integrado pelo Partido Socialista dependerá do apoio parlamentar das forças partidárias com as quais subscreveu os documentos 'Posição Conjunta sobre situação política' e quanto os desafios da sustentabilidade da recuperação económica, da criação de emprego e da garantia de financiamento do Estado e da economia se manterão ao longo de toda a XIII legislatura.
23.11.2015
Presidência da República

sexta-feira, novembro 06, 2015

Obrigado camarada Cunhal!


PCP salva-se de um salto para o abismo e salva o país de um mais que certo desastre se, porventura, António Costa usurpasse a maioria das últimas eleições


Para Francisco Assis o acordo de esquerda é a parte visível de um icebergue, mas “a parte invisível (deste icebergue) é a mais determinante”. Salvo se, digo eu, o PCP e o Bloco já tivessem passado pelo upgrade ideológico e programático de que desesperadamente precisam para ainda estarem por cá, quer dizer com alguma presença expressiva no parlamento e nas autarquias, em 2020. Não passaram, e não vai ser fácil aos mais novos vencerem as resistências dessa espécie de honestas e dogmáticas testemunhas de Jeová que habitam o lúgubre CC do PCP, ou os esqueletos ideologicamente decrépitos do Bloco, dos pequeno-burgueses maoístas Fazenda e Rosas, ao quadrado trotskista, da estirpe mandeliana, Francisco Louçã.

Os aggiornamentos do PCP e do Bloco precisam de tempo, e de ver reformados os velhos dirigentes. A golpada de António Costa, a que se somou a gula pelo poder que cresceu em e à volta de Catarina Martins, precipitaram os acontecimentos numa direção que poderá revelar-se fatal para o esperado e necessário renascimento do que resta das seitas marxistas-leninistas e trotskistas europeias.

Acontece que Arménio Carlos percebeu a armadilha e reagiu forte e feio. Nada mais do que uma manifestação-cerco da Assembleia da República no dia da votação das anunciadas moções de censura, e uma greve de estivadores durante dez dias, nos portos de Lisboa, Setúbal e Figueira da Foz, a partir de 14 de novembro. Ou seja, os nichos de mercado do PCP (sindicatos, autarquias e grupo parlamentar) não podem morrer nos braços do PS, um partido que como todos sabem e os comunistas nunca se cansaram de repetir, sempre esteve com as 'políticas de direita'.

Jerónimo de Sousa:
“a vida tem demonstrado que o PS, em minoria ou em maioria absoluta, sempre, mas sempre, ao longo destes 39 anos, fez uma opção - a política de direita - e a verdade é que os portugueses têm prova de facto, incluindo neste programa eleitoral [do PS]”, que, segundo o deputado do PCP, só se diferencia da coligação PSD/CDS-PP no “ritmo, modo ou grau” de austeridade — in Económico com Lusa, 1 set 2015.

O PCP recusa-se, portanto, a firmar acordos escritos com o PS. Ou seja, não há acordo que chegue para convencer Cavaco. E assim sendo só vejo uma saída para António Costa: ouvir Francisco Assis, anunciar este domingo que não há acordo para uma alternativa ao governo dos partidos que ganharam as eleições de 4 de outubro, e demitir-se imediatamente.

É que os danos que já causou ao país e ao PS são intoleráveis!

quarta-feira, novembro 04, 2015

A nova esquerda

Pedro Nuno Santos 
Enric Vives-Rubio/ Público

Com ou sem governo PS apoiado pelo PCP e pelo Bloco, nada ficará como dantes depois das Legislativas de 4 de outubro


Ao contrário do que ocorreu na Grécia, ou mesmo em Espanha, os comunistas do PCP, e os esquerdistas do Bloco, têm já, sobretudo os primeiros, uma larga praxis de convivência com as instituições da democracia burguesa, e uma grande experiência de negociação diária da política, quer no seio das esquerdas, quer, aliás, com os seus declarados adversários principais: a direita portuguesa.

Ambos são, na realidade, partidos burgueses, mais burocrático o PCP, mais classe média, o Bloco.

Como todos sabemos, o campesinato desapareceu debaixo dos tratores e drones das agro-indústrias, e o proletariado industrial é no nosso país uma memória cada vez mais vaga, ultrapassada pelas sucessivas revoluções tecnológicas e de gestão.

O que aflige, portanto o PS, o PCP e o Bloco é o ataque sem precedentes que a crise do capitalismo financeiro especulativo desferiu contra as classes médias, e o perigo que tal rolo compressor representa para a democracia. O que restava dos principais nichos de poder do PCP —sindicatos, autarquias e parlamento— foi e continuará a ser erodido pela armadilha das dívidas públicas e privadas em que nos deixámos cair, nomeadamente por incapacidade de lidar com a demagogia dos ciclos eleitorais. Por sua vez, a hipertrofia burocrática do setor educativo e social em geral atingiu limites de sustentabilidade fiscalmente incomportáveis, começando a corroer rapidamente solvabilidade do país, mas também as bases sociológicas, quer do PCP, quer do Bloco. Por fim, a demografia colocou todos os partidos perante desafios urgentes com que não contavam, e para os quais não se prepararam a tempo e horas.

É neste contexto que temos que analisar e entender o colapso do Bloco Central, e as novas polaridades político-partidárias em gestação. A economia da redistribuição populista chegou ao fim. Ao espetro das ideologias exigem-se agora novas ideias e programas de ação. O centro-direita foi empurrado para o exercício da austeridade, mas esqueceu-se que a mesma deve tocar também aos rendeiros do regime. A pergunta pertinente, neste caso, é esta: estarão as esquerdas dispostas a distribuir efetivamente o mal pelas aldeias?

Se não houver acordo para um governo do PS suportado diariamente pelo PCP, pelo Bloco e pelos pseudo Verdes —opção que claramente prefiro—, o governo minoritário do PSD-CDS seguirá o seu caminho até que o próximo presidente da república convoque novas eleições legislativas. Até lá o processo de convergência das esquerdas, protagonizado nomeadamente por Pedro Nuno Santos, Mariana Mortágua e João Oliveira, terá tempo suficiente para convencer os portugueses da sua bondade e do realismo de um novo modelo de alternância democrática.

Se, pelo contrário, as esquerdas avançarem precipitadamente para um saco de gatos capitaneado pelo oportunista António Costa, tudo ficará mais difícil para as novas gerações que neste momento protagonizam a sua necessária metamorfose. Toda esta trapalhada será vista por uma maioria esmagadora dos portugueses como um golpe de estado parlamentar para satisfazer as ambições sectárias dum secretário-geral que perdeu claramente umas eleições que ambicionou ganhar com maioria absoluta.

Até Francisco Assis desistirá de desafiar uma parte do PS a fundar um novo partido de centro-esquerda, se até à próxima segunda-feira os jovens turcos das esquerdas souberem fazer a curva apertada e vertiginosa por onde entraram sob pressão de um perdedor aflito—António Costa.

Vale a pena ler a entrevista a Pedro Nuno Santos publicada esta manhã pelo Público. A mesma dá bom recado da renovação das esquerdas, cuja aceleração súbita ninguém previu. A metamorfose no PS é uma mudança qualitativa necessária e há muito esperada e desejada no sistema partidário. Terá necessariamente consequências na configuração do regime. Também no PCP as coisas avançam, ainda que mais lentamente. No Bloco já só está em causa ajustar a mudança operada, afastando as influências intempestivas de alguns dos seus fundadores.

“Afastamento do PSD do centro facilitou” acordo à esquerda

A mensagem é clara para quem contesta o acordo do PS com o BE e o PCP. Mais antinatural que assinar um acordo de Governo com o BE ou PCP seria “viabilizar um Governo de direita, talvez o mais radical que o país já conheceu”. E argumenta que foi a deriva do PSD que fez aproximar o PS da esquerda.

[...]

—Se o acordo falha agora não destrói a possibilidade por muitos anos?

—Primeiro ponto: independentemente do resultado final, isto já foi uma vitória. É a primeira vez que se consegue sentar estes quatro partidos para discutir um programa de Governo. Isto é importante porque nós conhecemo-nos melhor, sabemos melhor o que é que cada um quer e defende, até onde é que pode ir. Isso representa um ganho inestimável. Segundo ponto: seria um desperdício enorme, não para os partidos, mas para o povo português, para a classe média, para os reformados, se não conseguíssemos chegar a um acordo. Era inaceitável.

São José Almeida e Nuno Sá Lourenço 04/11/2015 - 07:10. PUBLICO.PT

terça-feira, outubro 13, 2015

Primavera ibérica

Mariana Mortágua
Foto: Nuno Ferreira Santos (pormenor); in Público

Quem são os protagonistas desta espécie de revolução?


Se os camponeses portugueses foram substituídos por tratores e drones, se os operários portugueses foram substituídos por operários chineses, indianos, paquistaneses, bengaleses, e por robots, se as ideologias mais fundamentalistas do PCP e do Bloco há muito deixaram de ser determinantes para a sua ação política quotidiana, quem são então os novos comunistas e socialistas que hoje se dispõem a tomar as rédeas do poder em Portugal?

A avaliar pelas transferências de votos que permitiram ao Bloco tornar-se na nova charneira partidária do regime, só tenho uma resposta: a classe média ameaçada.

Quer dizer: uma classe média profissional qualificada, que vive do seu trabalho e depende em geral da saúde das empresas, mas também a vasta burocracia, particularmente atenta à distribuição do dinheiro público, que povoa o estado, o setor público empresarial, as autarquias e os partidos do arco parlamentar.

A ameaça de domínio autoritário, empobrecimento e fragmentação que pende sobre as classes médias tal como se foram desenvolvendo ao longo dos últimos cinquenta anos —habituadas a um conforto relativo decorrente do seu estatuto social, conhecimentos adquiridos, espírito de iniciativa e méritos— provocou finalmente uma reação inteligente daquela que é a base essencial das democracias, ao subir o patamar da rua para o patamar institucional da disputa eleitoral democrática. Que o tenham feito votando também no Partido Comunista Português e no Bloco de Esquerda, e não em novos partidos que entretanto se apresentaram a escrutínio, é a novidade complexa nascida na noite de 4 de outubro.

A revolução que agora começa em Portugal será, pelo que temos visto e lido, uma revolução inteligente, programática, meticulosa, tecnicamente fundamentada, cognitiva e culturalmente sofisticada. Começa depois de uma destruição sem precedentes das nossas expectativas, e depois de uma devastação igualmente sem precedentes no tecido económico-empresarial e financeiro do país. Estamos praticamente em cima de uma tábua rasa, e é preciso reaprender quase tudo no que diz respeito ao desenho do novo estado social, da nova economia e do novo sistema financeiro.

Mais cedo do que imaginei, formou-se uma aliança tácita entre os jovens políticos visionários do PS, do PCP e do Bloco. Várias vezes chamei a atenção para os nomes de Pedro Nuno Santos, João Oliveira e Mariana Mortágua, entre outros. A ameaça que pende sobre a velha esquerda e os seus sindicatos, sobre a impotência ideológica que os dividiu até agora, e que já ninguém entende, acabaria, em suma, nestas eleições, por trazer à superfície uma solução óbvia: concretizar a maioria numérica de esquerda existente no parlamento numa maioria parlamentar substancial e num governo.

Claro que esta metamorfose implicará ajustamentos algo drásticos, sobretudo dentro do PS, mas também no PCP. Por isso pareceu-me que o processo deveria ser gradual, uma vez revelada e comungada a nova estratégia da esquerda. O perigo de deixar o derrotado António Costa liderar um governo apoiado pelo PCP e pelo Bloco é o deste trair à esquerda e à direita, e o de tentar, quando a dívida pública voltar a apertar em cheio, um golpe de asa bonapartista, como fez Alexis Tsipras. A laracha populista do nosso Costa concórdia, sobre os mais pobres, já começou!

Um pormenor...

O PS só contará com uma maioria parlamentar estável se puder contar com o apoio a 100% dos 17 deputados do PCP, 100% dos 19 deputados do Bloco, e, pelo menos, 80 deputados do PS.

Poderá António Costa prometer isto mesmo a Cavaco Silva?

Quantos deputados socialistas eleitos discordam da aventura do náufrago Costa? Será que o país precisa neste momento de um Costa concórdia?

Aconteça o que acontecer, o Bloco de Esquerda, e o PCP se aprofundar o aggiormanento que em boa hora iniciou, mas também o PS, que parece querer renascer das cinzas, terão ao longo dos próximos quatro anos um tempo precioso para mudar de alto a baixo a esquerda portuguesa.

Seja como for, as coisas avançaram já demasiado para que os diferente atores possam recuar.

Alea jacta est!

segunda-feira, outubro 12, 2015

A revolução de outubro

Palacete da Palma—a sede do Bloco de Esquerda, Lisboa

Acabaram-se as greves!


“O Governo de Passos e Portas acabou hoje” 
No que ao Bloco diz respeito, ficou hoje claro que o Governo de Passos Coelho e Paulo Portas acabou. Temos hoje as condições para termos um Governo e um Orçamento dentro da Constituição da República portuguesa, depois de quatro anos de uma direita que não soube nunca respeitar a lei fundamental do país” 
[…] 
A dirigente bloquista, com um discurso muito claro e objetivo, insistiu que "há outra solução de Governo". E acrescentou quais as "condições essenciais" que seu partido colocou sobre a mesa para dar estabilidade a um Governo socialista: "a recuperação da economia, a defesa do Estado social e o rompimento com a política de austeridade da direita.” 
—in Expresso, 12.10.2015 às 13h23

Como escrevemos na noite eleitoral, depois de se saber que nenhum partido ou coligação teria a maioria absoluta, houve um vencedor e não era obviamente António Costa. Esse vencedor foi e é o Bloco de Esquerda. Ficou demonstrado, pela forma como hoje Catarina Martins derrubou formalmente a coligação de centro-direita ainda no poder, que tínhamos razão na análise que então fizemos.

Quisemos crer que o Bloco preferiria entalar devagarinho o PS, deixando-o preso entre a opção de viabilizar o programa e o governo do PàF, e a opção de governar sozinho, sem obstrução do resto da esquerda, até que os espinhos da governação em austeridade acabassem por levar metade do PS para o colo do Bloco, preparando assim as condições de um futuro governo de esquerda a meio da próxima legislatura.

Fomos, no entanto, surpreendidos pelo cenário, já quase certo, da formação em breve de um governo de frente popular, ainda que de uma frente popular pós-moderna, pois os camponeses foram substituídos por drones, e os operários por robots, restando apenas uma imensa mole humana composta por reformados e pensionistas, desempregados, empresários aflitos, banqueiros insolventes, burocratas depauperados, profissionais humilhados e uma classe média em vias de extinção. Em suma, em vez de liderar uma revolução proletária, o PCP e o Bloco vão liderar, arrastando mais de metade do PS pelos cabelos, uma insurreição de precários contra um capitalismo que entretanto se esfumou em dívidas e paraísos fiscais. Um antepassado dos mesmos Rothschild que hoje administram a dívida portuguesa ficou conhecido por afirmar: Quando o sangue corre nas ruas de Paris, compro!

Não sabemos que resposta dará Passos Coelho a este xeque-mate do Bloco. Abdicará de formar governo? Se o fizer, então a coligação PSD-CDS/PP morre no dia em que tal decisão for comunicada ao país. Que fará então Cavaco? Chamará Paulo Portas para formar governo? Manterá o atual governo em funções de gestão, contra a vontade de Passos Coelho, alegando que é necessário um governo do Bloco Central? Mas como, se o que sai derrotado em todo este processo é, precisamente, o Bloco Central? Deixará o país suspenso até à sua substituição pelo novo inquilino do Palácio de Belém?

O mais provável, no imediato, é que todos esperem pela reação dos mercados!

Mas a avaliar pela recentes declarações de Mario Draghi a propósito da Grécia de Tsipras,

«Muitas coisas assumiram um rumo melhor nos últimos tempos e isso deve-se ao primeiro-ministro grego, ao Governo grego e ao povo grego. Creio que é do interesse de todos que a atenção se centre a partir de agora na aplicação rápida das medidas que foram acertadas em conjunto, de acordo com os prazos previstos», disse o responsável italiano, numa entrevista a ser publicada este domingo no jornal grego Katherimini. 
— in Expresso, 10.10.2015 às 20h23 


o mais provável é que os mercados digiram rapidamente a nova situação e a sancionem.

Se for o caso, Cavaco irá à vida e o Bloco Central também.

Objetivamente interessa a Washington e Londres enfraquecer a Alemanha e dividir a Europa, e sobretudo conter a aproximação de Berlim a Moscovo e Beijing. Tentaram destruir o euro, mas não conseguiram; escutaram ilegalmente Merkel e Sarkozy; lançaram fogo à pradaria ucraniana; alimentaram o terrorismo e derrubaram regimes no Médio Oriente e no norte de África e, cereja em cima do bolo, dificilmente levantarão um dedo contra a balbúrdia que em breve poderá tomar conta do sul da Europa. A pedra de toque será o comportamento dos famosos mercados, e ainda o que em breve dirão Christine Lagarde e Mario Draghi sobre a nova Revolução Portuguesa.

O povo é sereno, mas vamos estar muito atentos.

Costa concórdia II

António Costa
Foto @ José Sérgio/ Sol

Tsipras à portuguesa? A avaliar pelo andar da carruagem, é bem possível que sim!


Última hora: coligação sem governo; governo PS-Bloco-PCP a caminho

Presidente do BCE elogia Grécia 
«Muitas coisas assumiram um rumo melhor nos últimos tempos e isso deve-se ao primeiro-ministro grego, ao Governo grego e ao povo grego. Creio que é do interesse de todos que a atenção se centre a partir de agora na aplicação rápida das medidas que foram acertadas em conjunto, de acordo com os prazos previstos», disse o responsável italiano, numa entrevista a ser publicada este domingo no jornal grego Katherimini. 
— in Expresso, 10.10.2015 às 20h23 


A Alemanha está cada vez mais virada para a Eurásia e a Nova Rota da Seda sino-russa e, por outro lado, enquanto os Estados Unidos e o Reino Unido se preparam para enfraquecer ainda mais a União Europeia, Berlim não pode suportar mais, por si só, os custos de uma integração europeia atolada em dívidas, crescimento a caminho de zero e uma demografia cada vez mais envelhecida e improdutiva.

O eixo Paris-Berlim poderá ter assim os dias contados, sobretudo se Marine Le Pen continuar a progredir sob o impacto da instabilidade plantada pelos Estados Unidos no Médio Oriente, no leste da Europa e no Mediterrâneo, e as velhas esquerdas de Portugal, Espanha e Grécia conseguirem atravessar com êxito as metamorfoses ideológicas que já iniciaram. Não creio que Washington coloque quaisquer reservas à emergência de governos de esquerda nestes três países. E se assim for, o PàF e Cavaco Silva passarão rapidamente à história.

O escândalo da Volkswagen, que não por acaso rebentou nos Estados Unidos, abriu uma cratera na credibilidade alemã e começou a destapar o buraco negro do seu sistema financeiro.

Só o Deutsche Bank tem uma exposição aos contratos de derivados financeiros na ordem dos 54,7 biliões de euros (54,7x10E12), isto é, 19x o PIB da Alemanha! Para termos uma ideia ainda mais dramática do problema, basta pensar que o PIB mundial em 2014 andou pelos 68 biliões de euros.

A fraude ambiental da Volkswagen pode, pois, ter sido o cisne negro que levou o sistema financeiro global —e portanto o capitalismo como o conhecemos— a dar mais um forte sinal de que caminha rapidamente em direção ao colapso, que alguns já chamam pós-capitalismo. Para já, o que se vislumbra no horizonte mais próximo é o esgotamento da capacidade económico-financeira alemã de impor condições ao resto da União Europeia.

Nesta conjuntura, que à escala global é de agravamento das tensões entre o Oriente e Ocidente, mas sobretudo de avanço estratégico da China no Grande Jogo da Eurásia (que, como sabemos, vai de Lisboa e Vladivostok), os graus de liberdade dos países do sul da Europa, apesar das suas crises de endividamento soberano, poderão aumentar contra todas as expetativas.

É neste quadro que a renovação da esquerda se joga, e o futuro da direita que temos, também.

Para ajudar a compreender porque motivo o impensável se poderá realizar em breve, junto alguns artigos recentes que permitem perceber as mudanças rápidas que estão em curso


Central bank cavalry can no longer save the world 
LIMA (Reuters) - In 2008 central banks, led by the Federal Reserve, rode to the rescue of the global financial system. Seven years on and trillions of dollars later they no longer have the answers and may even represent a major risk for the global economy.
[…]
"Central banks have described their actions as 'buying time' for governments to finally resolve the crisis... But time is wearing on, and (bond) purchases have had their price," the report said.
[…]
Reuters calculates that central banks in those four countries alone have spent around $7 trillion in bond purchases.
The flow of easy money has inflated asset prices like stocks and housing in many countries even as they failed to stimulate economic growth. With growth estimates trending lower and easy money increasing company leverage, the specter of a debt trap is now haunting advanced economies, the Group of Thirty said. 
— in Reuters, Sat Oct 10, 2015 | 3:34 PM EDT, By David Chance
The Endgame Takes Shape: "Banning Capitalism And Bypassing Capital Markets" 
We believe that the path of least resistance would be to effectively ban capitalism and by-pass banking and capital markets altogether. We gave this policy change several names (such as “Cuba alternative”, “British Leyland”) but the essence of the new form of QE would be using central banks and public instrumentalities to directly inject “heroin into blood stream” rather than relying on system of incentives to drive investor behaviour. 
Instead of capital markets, it would be governments that would decide on capital allocation, its direction and cost (hence reference to British Leyland and policies of the 1960s). It could involve a variety of policy tools, with wholesome titles (i.e. “Giving the economy a competitive edge”, “Helping hard working American families” or indeed recent ideas from the British Labour party of “People’s QE”). Who can possibly object to helping hard working families or improving productivity? 
However as the title of our previous note suggested (“Back to the Future”), most of these policies have already been tried before (such as Britain in the 1960-70s or China over the last 15 years) and they ultimately led to lower ROE and ROIC as well as either stagflationary or deflationary outcomes. Whilst the proponents of new attempts of steering capital could argue that we have learned from the lessons of the past and economists would start debating “multiplier effects” and “private-public partnerships”, the essence of these policies remain the same (i.e. forcing re-allocation of capital, outside normal capital market norms), and could include various policies, such as: 
—Central banks directly funding expansion of fiscal spending;
—Central banks and public instrumentalities funding direct investment in soft (R&D, education) and hard (i.e. infrastructure) projects; and
—Outright nationalization of various capital activities (such as mortgages, student loans, SME financing, picking industry winners etc). 
Whilst, these policies would ultimately further misallocate resources, they could initially result in a significant boost to nominal GDP and given that capital markets are now populated by highly leveraged financial instruments, the impact on various financial asset classes would be immediate and considerable. In other words, neither China nor Eurozone need to spend one dime for copper prices to potentially surge 30%+. 
Are we close to such a dramatic shift in government and CB policies? 
We maintain our view that for CBs to accept this new form of QE, we need to have two key prerequisites: 
Undisputed evidence that it is needed. The combination of a major accident in several asset classes and/or sharp global slowdown would be sufficient; and there has to be academic evidence (hopefully supported by sophisticated algebra and calculus) that there are alternatives to traditional QEs. 
At the current juncture, none of these conditions are satisfied. However, we maintain that as investors progress through 2016-17, there is a very high probability that both conditions would fall into place.
— in Zero Hedge, Submitted by Tyler Durden on 10/10/2015 19:44 -0400

Why Are The IMF, The UN, The BIS And Citibank All Warning That An Economic Crisis Could Be Imminent? 
— in The Economic Collapse, By Michael Snyder, on October 8th, 2015
The Final Crescendo Of Cognitive DollarDissonance And The Remonetisation Of Gold 
There is good reason to believe that what is already underway is going to be more severe than 2008-09. This time around, interest rates are already at zero, or outright negative. QE has failed. Confidence in economic officials’ general ability to restore healthy, sustainable growth has weakened considerably. Indeed, at a recent roundtable event at Chatham House I attended, multiple prominent international economists suggested that with ‘conventional QE’ having failed, the next logical arrow in the monetary policy quiver is that of direct money injections into corporations or households, in effect a Friedmanesque ‘Helicopter Drop’ of money. This conversation would not be taking place at all were the macroeconomic outlook not so poor. 
— in The Amphora Report, Vol.6, 8 October 2015

quinta-feira, outubro 08, 2015

E se fosse Maria de Belém?

Maria de Belém, candidata presidencial
Foto © desconhecido, in Luso Notícias

Uma candidata para derrotar Marcelo à primeira volta?


Ninguém compreenderia que o próximo governo fosse um governo de esquerda. Nem a própria esquerda lúcida que temos. Logo, aquilo a que estamos a assistir no rescaldo das eleições legislativas tem um alcance bem maior do que as aflições de Cavaco Silva, Passos Coelho e António Costa.

Há dois partidos no nosso espetro parlamentar que não fizeram o rejuvenescimento necessário para responder, com novos protagonistas, nova estratégia e nova linguagem, às mudanças profundas que têm ocorrido nas sociedades humanas nos últimos quarenta anos: o Partido Socialista, e o Partido Comunista. As lideranças oportunistas e as castas dirigentes destas organizações partidárias de origem jacobina, invariavelmente machistas, têm uma fatal e insuportável tendência para se perpetuarem nas cadeiras de poder que em dado tempo conquistaram. Nos tempos que correm, porém, estas características genéticas acabam por ser mais ameaçadoras da sua sobrevivência do que o próprio oportunismo marxista-leninista do PCP, ou do que o aburguesamento dos sociais-democratas do PS. O scratch ideológico de ambos deixou, aliás, de convencer e mobilizar. Resta-lhes, pois, fazer um reset das respetivas filosofias políticas, ou definhar.

Pelo contrário, o Bloco de Esquerda, cujo aggiornamento está em curso, terá as portas abertas para promover uma renovação sem precedentes do ideário socialista, cortando meticulosamente os nós górdios que tolhem o futuro tanto do PS, como do PCP. A necessária espada para o conseguir parece empunhá-la, a quatro mãos, Catarina Martins e Mariana Mortágua. Será, no entanto, imprescindível impedir o regresso dos fantasmas do oportunismo marxista-leninista e do trotsquismo mandeliano que ainda andam por aí. Há, tanto no PCP (João Oliveira), como no PS (Pedro Nuno Santos), jovens líderes e sobretudo muitos eleitores que há muito anseiam por uma verdadeira convergência da esquerda. Esta oportunidade chegou!

Não será, no entanto, no plano da formação do próximo governo —que deverá assentar na coligação que venceu as eleições, ainda que sem maioria e depois de uma sangria de mais de 720 mil votos— que os trabalhos ciclópicos e meticulosos da construção da almejada maioria de esquerda deverão confluir e precipitar-se.

A maioria potencial de esquerda atualmente existente no parlamento deve abrir um processo de convergência pragmática séria apontada à formação de um próximo governo de maioria, nomeadamente na sequência de um possível colapso do governo do PàF a que Cavaco Silva deverá dar posse, e o primeiro passo desta caminhada que recomendo é o da eleição de Maria de Belém para o cargo de Presidente da República — à primeira volta!

Se desafiar a maioria eleitoral de centro-direita obtida pelo PàF é um ato ilegítimo, e pior do que isso, aventureiro, já negar a possibilidade de eleger Maria de Belém à primeira volta seria a prova de que, afinal, o teatro montado por António Costa (que espero seja em breve substituído por Álvaro Beleza) não teria passado de uma farsa política inqualificável.

O país nunca precisou, e agora precisa ainda menos, de uma esquerda negativa.

O país precisará certamente, quando a atual coligação se esgotar, de uma esquerda positiva, capaz de governar com pragmatismo e assumindo com coragem as potencialidades, mas também os espinhos da transição social em que todos já estamos metidos.

O Partido Socialista, tal como existe ainda, morreu.

segunda-feira, outubro 05, 2015

Bloco, o único vencedor


António Costa vai ser empurrado. Mas quanto mais tarde, melhor para o Bloco


Em boa verdade, Miguel Portas é o grande vencedor póstumo destas eleições, pois deve-se a ele a decisão de renovar o Bloco de Esquerda, que mais tarde Fazenda e Louçã viriam a secundar.

Mas deve-se a Mariana Mortágua o clique que desencadearia a mudança decisiva deste saco de gatos de origem estalinista, maoista e trotsquista. Foi verdadeiramente durante o inquérito ao colapso do BES que, perante um PS visivelmente decadente, e um PCP tolhido pela sua incorrigível e egoísta gerontocracia, a jovem economista do Bloco imporia a todo o partido, e em geral à retórica da nossa esquerda partidária, um outro estilo de comunicação: disciplinado, racional, fundamentado, ponderado, compreensivo e, sobretudo, pragmático.

Depois deste histórico inquérito parlamentar, o PCP e o PS foram, como eles próprios costumam arengar, objetivamente encostados à parede. Não pela coligação de direita, mas pela voz sensata de uma militante de extrema esquerda que aprendeu a pensar de uma forma menos francesa. Agora, a estes dois partidos só resta arrastarem-se até uma morte inglória, ou fazer o aggiornamento que há anos lhes venho recomendando.

O PCP não percebeu que a classe operária, em nome da qual faz a sua propaganda há demasiadas décadas, não passa de umas centenas de milhar de idosos, a maioria deles reformados, cujas pensões, por serem baixas, nem sequer foram tocadas pela tal maioria de direita. O CC do PCP é uma turma de burocratas oportunistas que não percebeu ainda o essencial das mudanças sociais e culturais que têm vindo a ocorrer no mundo. Agarram-se às cadeiras como fez Salazar e como fazem os padrinhos e tias que continuam a manobrar os cordelinhos do corrompido até ao tutano Partido Socialista. Nenhuma destas oligarquias partidárias percebe, e por isso estão ambas a destruir o que supostamente amam, que ceder o protagonismo aos mais novos e às mais novas, e sobretudo abdicar de privilégios, económicos e de poder, que não são naturais, nem propriamente herdados, é uma condição essencial à sobrevivência da cultura democrática de que a Europa, e em geral o mundo, mais precisam neste momento de dolorosa metamorfose.

O Bloco de Esquerda tornou-se nestas eleições o terceiro partido político do nosso sistema democrático representativo—cortesia do Partido Socialista, do PCP e do PSD, de onde voaram muitos votos novos, sobretudo dos jovens profissionais, em direção ao que se perfila como uma nova forma informada e organizada de resistência aos rolos compressores da austeridade. Mas também e sobretudo mérito da visão estratégica de Miguel Portas e do impulso decisivo de Mariana Mortágua (1), sem o que a performance de Catarina Martins teria sido menos exemplar e eficaz.

Resumindo: temos três partidos do arco parlamentar que foram capazes de rejuvenescer a tempo, e por isso vingaram: CDS/PP, PSD e Bloco; e temos duas lanternas vermelhas que correm o risco de se apagarem de vez na próxima crise. Basta que não aprendam nada destas eleições.

Os partidos emergentes, entretanto, ficaram pelo caminho (2). E não foi culpa dos eleitores.


NOTAS
  1.  Poucos minutos depois de publicado este post lemos a nota de vitória de Mariana Mortágua. Sucinta, clara e estratégica.
  2. Ou talvez não... 140 mil eleitores votaram em partidos que não pertencem ao tradicional arco parlamentar, e o PAN, fundado em 2011, conseguiu eleger um deputado, pelo que gatos e cães, as suas queridas árvores e o seus dedicados donos estarão melhor defendidos daqui em diante ;) Mas mais: o Nós, Cidadãos! poderá roubar um deputado do círculo fora da Europa ao PSD (ou ao PàF), fazendo-se assim representar também na próxima legislatura parlamentar, o que, a verificar-se, baralhará ainda mais, mas neste caso bem, a atual conjuntura pós-eleitoral.

Atualização: 9/10/2015 00:08 WET

sábado, outubro 03, 2015

O suicídio do Rato


Não teremos tanta sorte


Um governo de zombies disfarçados de Frente Popular até nem seria mau para acabar de vez com o sonambulismo politicamente correto e desmiolado do país. Infelizmente, não teremos essa sorte.

Vamos mesmo ter instabilidade em 2016, 2017...

Ganhe quem ganhar, governe ou desgoverne quem governar ou desgovernar, vem aí uma nova dose de austeridade fiscal e o desmoronamento do capitalismo português.

É desta morte anunciada que verdadeiramente a Esquerda tem medo!


PS: António Costa regressa a Fontanelas no dia 5 de outubro.

quinta-feira, outubro 01, 2015

Syriza à moda de São Bento?


O importante é mudar a configuração do parlamento, votando em novas forças políticas


Num jantar comício da coligação PSD/CDS-PP, em Viseu, onde esteve Rui Rio, Passos Coelho defendeu que está em causa saber se “quem ganhar as eleições vai poder formar o Governo”, referindo que “já foi prometido, já houve quem o tivesse dito com todas as letras”, que “isso pode não ser assim tão simples, que uns podem ganhar e ser outros a governar”.

Passos acena com hipótese de Governo contra a vontade do povo
TSF, 30 de SETEMBRO de 2015

Outra maneira de apelar à maioria absoluta. No entanto, um governo PS+Bloco, ou PS+PCP, ou PS com acordos de viabilização dos orçamentos de estado de 2016, 2017, 2018 e 2019, parecem-me hipóteses altamente improváveis.

O Bloco e o PCP sabem perfeitamente que um Syriza em Portugal não duraria mais de um ano, e que uma tal experiência poderia fragmentar ainda mais a esquerda ideológica e politicamente atrasada que temos, arrumando-a de vez na mesma gaveta onde Mário Soares depositou o socialismo, em troca de uma cadeira garantida no topo da pirâmide do poder — capitalista, claro!

Não deixa de me surpreender os movimentos brownianos que agitam neste momento os donos da esquerda. Enquanto a extrema esquerda (Catarina Martins) se dirige ao eleitorado do centro-direita, o desastrado e nada recomendável líder improvisado do PS afasta-se, de forma suicida, do eleitorado que trouxe o partido da rosa ao arco da governação. Isto, e a corrupção que grassa nas entranhas mais viscerais do Partido Socialista são uma receita certa para o seu mais do que provável definhamento histórico.

Percebe-se o esforço retórico de Passos Coelho, pedindo de forma suave uma maioria para governar. Palpita-me que irá obtê-la. Até porque, com a nova fé marxista-leninista do PS, e o histórico pessoal de António Costa, que começa a aflorar no blogue Do Portugal Profundo, cautela e caldos de galinha não fazem mal a ninguém.

Além do mais, como me dizia o meu dentista há dois dias atrás, depois de um tratamento de choque, depois de iniciar-se um período de recuperação, ninguém quer mudar de médico. Seria trocar o certo e previsível, por uma incógnita que poderia levar-nos a uma recaída, com o consequente agravamento da doença e dos seus efeitos mais perniciosos.

É, no entanto, absolutamente necessário colocar no parlamento uma ou duas novas forças parlamentares ligadas à cidadania participativa, entre outras razões, para desdramatizar e anular o pendor populista da democracia que temos.