domingo, outubro 18, 2009

Obama Nirvana

Caminhando em direcção à luz?
Será a mensagem sobre o Diwali, pelo homem mais poderoso do planeta, um sinal? Que sinal?




Os tempos que aí vêm já não se compadecem com as oratórias cansadas do cada vez mais insuportável populismo político predominante no Ocidente, venha o dito da Direita ou da Esquerda, do falso Centro ou da Extrema Esquerda quadrada e mumificada nas suas falidas ortodoxias litúrgicas. O desenrolar inicial das agendas partidárias após o recente ciclo eleitoral prenunciam infelizmente uma procissão de impasses até à grande crise que se aproxima vertiginosamente de todos nós. Quando uma situação apodrece e o caldo de hipocrisias e tensões começa a ferver lentamente, basta uma faísca qualquer para que a guerra civil estale. O milhão de espanhóis que ontem (Sábado) confluiu para Madrid (1), protestando contra o fundamentalismo anti-humanista do pensamento senil da Esquerda é tão só um aviso do que, de um dia para outro, pode fazer descarrilar de novo as democracias ibéricas.

O enigma do Prémio Nobel da Paz deste ano merece pois, neste contexto que se degrada dia a dia, uma reflexão nada leviana, mas atenta e futurista.
O Diwali [...] é uma festa religiosa hindu, conhecida também como o festival das luzes. Durante o Diwali, celebrado uma vez ao ano, as pessoas estreiam roupas novas, dividem doces e estouram rojões e fogos de artifício. Este festival celebra o assassinato de Narakasura, o que converte o Diwali num evento religioso que simboliza a destruição das forças do mal — in Wikipédia.

O MITO DO ETERNO RETORNO
Para nossos propósitos, só uma questão deve nos preocupar: como pode o "terror da história" ser tolerado a partir do ponto de vista do historicismo? A justificação de um acontecimento histórico, pelo simples fato de ele ser um acontecimento histórico, em outras palavras, pelo simples fato de ter "acontecido dessa maneira", não caminha no sentido de libertar a humanidade do terror que o acontecimento inspira. Deve-se compreender que não estamos aqui preocupados com o problema do mal, que, independente do ângulo a partir do qual possa ser visto, permanece como um problema filosófico e religioso; estamos preocupados, isto sim, com o problema da história como história, do "mal" que está limitado não pela condição do homem, mas pelo seu comportamento em relação aos outros. Deveríamos querer saber, por exemplo, como seria possível tolerar e justificar os sofrimentos e a aniquilação de tantas pessoas que sofrem e que são aniquiladas pela simples razão de que sua situação geográfica as coloca no caminho da história; por serem vizinhos de impérios que se encontram em estado de permanente expansão. Como justificar, por exemplo, o fato de o sudeste da Europa ter sofrido durante séculos — sendo portanto obrigado a renunciar a qualquer impulso no sentido de uma existência histórica mais elevada, na direção da criação espiritual no plano universal — pela única razão de que estava no caminho dos invasores asiáticos e, mais tarde, vizinho do Império Otomano? E, em nossos dias, quando as pressões históricas já não permitem mais qualquer fuga, como pode o homem tolerar as catástrofes e horrores da história — desde as deportações e massacres coletivos até os bombardeios atômicos — se, além deles, não consegue ver qualquer sinal nem significado trans-histórico; se esses acontecimentos são apenas as jogadas cegas de forças econômicas, sociais ou políticas, ou, pior ainda, unicamente o resultado das "liberdades" que uma minoria toma e exercita de modo direto sobre o cenário da história universal?

Sabemos como, no passado, a humanidade conseguia suportar os sofrimentos que já tivemos oportunidade de enumerar: eles eram considerados como uma punição aplicada por Deus, a síndrome do declínio da "era", e assim por diante. E era possível aceitar os acontecimentos precisamente porque tinham um significado meta-histórico, porque, para a maior parte da humanidade, ainda apegada ao ponto de vista tradicional, a história não tinha, e nem poderia ter, valor em si mesma. Todos os heróis repetiam o gesto arquetípico, todas as guerras ensaiavam a luta entre o bem e o mal, cada nova injustiça social era identificada com os sofrimentos do Salvador (ou, por exemplo, no mundo pré-cristão, com a paixão de um mensageiro divino ou deus da vegetação), cada novo massacre repetia o glorioso fim dos mártires. Não nos compete aqui decidir se tais motivos eram pueris ou não, nem se uma tal rejeição da história mostrava-se sempre eficaz. Em nossa opinião, só um fato importa: em virtude deste ponto de vista, dezenas de milhões de homens, século após século, foram capazes de suportar enormes pressões históricas sem se desesperar, sem cometer o suicídio nem cair naquela aridez espiritual que sempre traz consigo uma visão relativista ou niilista da história. — O Mito do Eterno Retorno (1954), Mircea Eliade (1907-1986). Ed. Mercuryo Ltda. (1992).

Ler também artigo em inglês na Wikipedia, e em particular este trecho da versão inglesa original de The Myth of the Eternal Return: Cosmos and History, de Mircea Eliade:
"In our day, when historical pressure no longer allows any escape, how can man tolerate the catastrophes and horrors of history—from collective deportations and massacres to atomic bombings—if beyond them he can glimpse no sign, no transhistorical meaning; if they are only the blind play of economic, social, or political forces, or, even worse, only the result of the 'liberties' that a minority takes and exercises directly on the stage of universal history?

"We know how, in the past, humanity has been able to endure the sufferings we have enumerated: they were regarded as a punishment inflicted by God, the syndrome of the decline of the 'age,' and so on. And it was possible to accept them precisely because they had a metahistorical meaning [...] Every war rehearsed the struggle between good and evil, every fresh social injustice was identified with the sufferings of the Saviour (or, for example, in the pre-Christian world, with the passion of a divine messenger or vegetation god), each new massacre repeated the glorious end of the martyrs. [...] By virtue of this view, tens of millions of men were able, for century after century, to endure great historical pressures without despairing, without committing suicide or falling into that spiritual aridity that always brings with it a relativistic or nihilistic view of history". — Mircea Eliade, The Myth of the Eternal Return: Cosmos and History. Princeton: Princeton UP, 1971 (1954); in Wikipedia.

NOTAS
  1. Em Espanha, como é sabido, o aborto é praticado livremente e tornou-se aliás num negócio próspero há já vários anos. Pois bem, a tonta Esquerda espanhola, certamente pensando distrair o povo do buraco negro para onde foi conduzido pelas mãos laicas e corruptas da aliança entre os armani-marxistas do PSOE e a corja mundial da especulação imobiliária e financeira, resolveu escarafunchar a legislação sobre a IVG e propor que qualquer jovem mulher com 16 anos ou mais possa decidir individualmente (no foro íntimo da sua consciência, dizem) sobre a sua gravidez até às 16 semanas de desenvolvimento do feto que eventualmente traga no útero. Quer dizer, sem necessitar de autorização dos pais, nem do namorado ou marido, caso tenha. No entanto, esta mesma jovem adulta está proibida por lei de fumar e tomar bebidas alcoólicas. A noção de livre arbítrio tem para o exibicionismo decadente da Esquerda actual, como se vê, dois pesos e duas medidas. Descriminalizar a prática do aborto é uma exigência de saúde pública e de tolerância social e humanista, liberalizar comportamentos irresponsáveis e conferir poderes absolutos à mulher em matéria de procriação é, pelo contrário, ilegítimo, contra-natura e uma insensatez cultural que pagaremos caro, mais cedo do que alguns previram.


OAM 636 18-10-2009 01:25

quinta-feira, outubro 15, 2009

Portugal 134

A Quarta Geração
"Todas as coisas humanas são redondas" — inscrição no templo de Atenas, Atenas (Grécia)
Porque é que as sondagens e os palpites falharam tanto no ciclo eleitoral que agora termina? Pois por uma razão simples mas ignorada: a Geração Silenciosa está a morrer! E morrendo esta geração (1925-1942), morre a base dirigente e os segmentos mais estáveis e importantes das coutadas eleitorais do PSD e... do PCP!

Estas duas forças políticas têm um dilema pela frente: já não podem confiar no que a lei natural aparta aceleradamente deste mundo, e não têm, por outro lado, gente nem solidariedades suficientes na geração seguinte (1943-1960), pelo que estão confrontados entre pescar algumas almas penadas insuficientes na geração X (1961-1981), ou esperar que da Geração Milénio (1980-2001) surjam os heróis capazes de enfrentar uma crise mundial e nacional cujo pico mais dramático será atingido entre 2015 e 2030.

As mortes da minha mãe (1923-2002) e do meu pai (1926-2009) fizeram-me pensar em algo que até à leitura do magnífico livro de William Strauss e Neil Howe —The Fourth Turning, An American Prophecy— me escapara: o determinismo teleológico de que todos padecemos desde os alvores da Modernidade. Isto é, desde o século 16 (se não mesmo desde a emergência traumática —até hoje— do Judaico-Cristianismo), e mais radicalmente desde que o Darwinismo, o Positivismo, o Idealismo Hegeliano e o Marxismo instauraram os mitos da Individuação e da História. Há muito, pois, que deixámos de olhar para uma faceta simples da vida: todos morremos, e damos continuidade à vida através dos nossos descendentes. Ou seja, o determinismo histórico e as teleocracias que continuam a dominar a estrutura mental da maioria das organizações —nomeadamente partidárias— são afinal ilusões efémeras do ciclo contínuo/descontínuo da realidade. Lutar contra este dinâmico mas imutável círculo tem conduzido a várias desgraças humanas, entre as quais o possível suicídio demográfico do Ocidente.

Portugal: em cada 100 pessoas com mais de 15 anos, terão 65 anos ou mais, em 2010, 27 delas; 39 em 2030; e em 2050, 61 (1). Como se este envelhecimento não bastasse, seremos em 2050 menos 693 mil portugueses do que hoje somos —i.e. o equivalente a mais do que população actual das cidades de Lisboa e Setúbal (2).

Para termos uma ideia da gravidade desta situação, convém observar as implicações da mesma na nossa economia: sem um boom no sector das exportações (3), para o que faltam capital, pessoas qualificadas, energia e um adequado sistema de transportes e mobilidade, será impossível escapar ao garrote das dívidas pública, privada e externa a que já começámos a sucumbir. Pior: se nos metermos pelo programa de obras públicas especulativas do Bloco Central, assassinaremos de vez qualquer hipótese de preparar o que se afigura cada vez mais como um programa de salvação do país.

Se continuarmos como até aqui, sob o império do oportunismo ou da indolência, seremos comidos vivos por uma Espanha dramaticamente a braços com a sua própria e gigantesca crise de identidade e de paradigma económico. É o mínimo que nos poderá acontecer. Mas também poderemos voltar à tragédia duma prolongada guerra civil imposta pelos grande interesses geo-estratégicos que neste preciso momento se preparam para uma grande crise, provavelmente bélica, de gigantescas proporções, lá para 2015-2020. Basta para tal que nos afundemos, como prometem o Bloco Central e o Bloco de Esquerda, no endividamento público e externo ao ritmo das últimas duas décadas (4).

Os Baby Boomers —geração de que faço parte (1943-1960)— tem em cima dos ombros a pesada responsabilidade de entender e corajosamente enfrentar os sérios desafios que temos pela frente. E tem-na quase exclusivamente, pois, por um lado, a "heróica" geração anterior está a desaparecer muito rapidamente, por outro, só marginalmente poderá contar com a ajuda dos egoístas compulsivos (5) da Geração X (1961-1981). Por fim, a esperada geração do milénio, metade física, metade virtual, omnipresente no território cultural, da eco-economia, bem como de uma nova filosofia, simbiótica, da política, tarda em chegar. Não chegou a tempo, por exemplo, do ciclo eleitoral deste Outono. Mas já cá estará, esperemos que em força, em 2012 e em 2013! Os primeiras aves do novo heroísmo acabam de chegar ao Parlamento: Isabel Maria Sequeira e Rita Rato. Bem-vindas!

Farão bem Manuela Ferreira Leite e Cavaco Silva se segurarem a actual direcção do partido, dando força ao seu grupo parlamentar, e sobretudo lançando-se numa corrida louca pelo sangue verdadeiramente novo de que o corpo envelhecido do PSD precisa urgentemente para morrer em paz, dando lugar a uma boa descendência. Dos néscios que agora exigem a cabeça da líder, nada podem esperar. Pelo que o melhor mesmo é expulsá-los do corpo partidário onde se alojaram como vírus perniciosos e carga inútil. Quanto ao boomer Jerónimo de Sousa, um conselho: que mil Ritas se multipliquem no seu partido, pois dessa proliferação depende o futuro ou o naufrágio de uma energia política essencial ao país. Bloquistas, muito cuidado no que dizem e fazem. Não se esqueçam que apenas vos emprestámos os votos por algum tempo. É um swap com retorno prometido! Se falharem a entrega dos juros, estarão arrumados bem antes das vossas legítimas expectativas. Até porque o Partido Socialista talvez tenha mesmo começado a mudar neste ciclo eleitoral.

Para quem pensar que estou a delirar, recomendo uma meditação prolongada sobre a arrumação generativa que fiz à luz da metodologia de Strauss e Howe. Se me quiserem dar o prazer de ampliar o exercício, façam favor!

Aplicando a cronologia das "grandes descontinuidades" (ekpyrosis ) elaborada por William Strauss e Neil Howe ao caso português, poderemos olhar para os protagonistas da grande crise que vai de 1961 (início da luta armada nos ex-territórios coloniais portugueses) a 1974-76 (golpe de Estado militar seguido de uma crise pré-insurreccional e estabilização constitucional) enunciando as correspondentes gerações desta forma:


G.I.Generation
/ Hero (Civic) - 1901-1924

Adquire consciência política entre a Grande Depressão, a Ditadura Salazarista, a Guerra Civil Espanhola e a II Guerra Mundial). Inicia os confrontos que levarão ao fim da ditadura Salazarista.

Bento de Jesus Caraça (1901-1948)
Adelino da Palma Carlos (1905-1992)
Humberto Delgado (1906-1965)
Adolfo Casais Monteiro (1908-1972)
Gen. Spínola (1910-1996)
Álvaro Cunhal (1913-2005)
Gen. Costa Gomes (1914-2001)
Almirante Pinheiro de Azevedo (1917-1983)
Jorge de Sena (1919-1978)
Eduardo Mondlane (1920-1969)
Agostinho Neto (1922-1979)
Vasco Gonçalves (1922-2005)
Francisco Salgado Zenha (1922-1993)
Amílcar Cabral (1924-1973)
Mário Soares (1924-)


Silent Generation
/ Artist (Adaptive) - 1925-1942

Adquire consciência política durante a II Guerra Mundial, a Guerra Fria e os movimentos anti-coloniais na Ásia e em África. Desencadeia a oposição institucional à ditadura Salazarista, e finalmente o golpe militar que em 24 horas a derruba (1974).

António Almeida Santos (1926-)
Maria de Lourdes Pintassilgo (1930-2004)
Medina Carreira (1931-)
José Silva Lopes (1932-)
Álvaro Siza Vieira (1933-)
Francisco Sá Carneiro (1934-1980)
Américo Amorim (1934-)
Paula Rego (1935-)
Jorge Jardim Gonçalves (1935-)
Magalhães Mota (1935-2007)
Manuel Alegre (1936-)
Francisco Pinto Balsemão (1937-)
Belmiro de Azevedo (1938-)
Jorge Sampaio (1939-)
Aníbal Cavaco Silva (1939-)
Manuela Ferreira Leite (1940-)
Boaventura Sousa Santos (1940-)
Artur Santos Silva (1941-)

Capitão Melo Antunes (1933-1999)
General Ramalho Eanes (1935-)
Major Otelo Saraiva de Carvalho (1936-)
Coronel Jaime Neves (1936-)
Capitão Vasco Lourenço (1942-)


(Baby) Boom Generation
/ Prophet (Idealist) - 1943-1960

Adquire consciência política com a Revolução Cubana, a ocupação e fim do Estado Português da Índia, o início da guerra colonial na África Portuguesa, a eleição de John F. Kennedy para a presidência dos EUA, a crise dos mísseis em Cuba, a Guerra do Vietnam, a cultura Hippie e Pop e os movimentos estudantis radicais da década de 60. É protagonista decisiva no eclodir da crise social, política e militar que conduz ao 25 d Abril. O seu idealismo radical afasta-a, porém, da condução da política, que viria a ser protagonizada por uma aliança pragmática entre a geração de Álvaro Cunha a Mário Soares e a geração silenciosa, que com vagar e prudência lá foi alinhando com a transformação do regime. O destino desta geração, cujos sobreviventes, em regra, só a partir da década de 80 acedem ao patamar da liderança política e cultural, é preparar a emergência e acolher a geração do milénio.

Mota Amaral (1943-)
Alberto João Jardim (1943-)
Vítor Constâncio (1943-)
Capitão Salgueiro Maia (1944-)
José Luís Saldanha Sanches (1944-)
António Damásio (1944-)
Ricardo Salgado (1944-)
Joe Berardo (1944-)
Capitão Diniz de Almeida (1945-)
Joaquim Ferreira do Amaral (1945-)
Ângelo Correia (1945-)
Jaime Gama (1947-)
Ruben de Carvalho (1947-)
Jerónimo de Sousa (1947-)
Helena Roseta (1947-)
Marcelo Rebelo de Sousa (1948-)
António Guterres (1949-)
José Pacheco Pereira (1949-)
Fernando Teixeira dos Santos (1951-)
Fernando Ulrich (1952-)
Luís Amado (1953-)
Luís Filipe Menezes (1953-)
Jorge Coelho (1954-)
Luís Campos e Cunha (1954-)
Francisco Louçã (1956-)
José Manuel Durão Barroso (1956-)
António Vitorino (1957-)
António Mexia (1957-)
José Sócrates (1957-)
José Pedro Aguiar Branco (1957-)
Rui Rio (1957-)


Generation X/ Nomad (Reactive) - 1961-1981

Adquirir consciência política no ambiente exuberante do Cavaquismo e dos efeitos surpreendentes da entrada de Portugal na União Europeia e no paraíso artificial do Euro. Não se reconhece em causas de qualquer espécie e instaura a cultura do egoísmo competitivo, das praxes académicas violentas, dos shots e da "natural" condescendência perante os fenómenos de corrupção. Factores internacionais que contribuíram para a atitude anti-política desta geração: Perestroyka, Queda do Muro de Berlim, corrupção das sociais-democracias.

António Costa (1961-)
Paulo Portas (1962-)
António José Seguro (1962-)
José Luís Arnaut (1963-)
António Filipe (1963-)
Pedro Passos Coelho (1964-)
Paulo Pedroso (1965-)
Francisco Assis (1965-)
Nuno Melo (1966-)
Zeinal Bava (1966-)
Marco António (1967-)
Paulo Rangel (1968-)
José Eduardo Martins (1969-)
Teresa Caeiro (1969-)
Bernardino Soares (1971-)
Sérgio Sousa Pinto (1972-)
Luis Figo (1972-)
Ana Drago (1975-)
Joana Amaral Dias (1975-)
Miguel Teixeira (1977-)


Millennial Generation / Hero (Civic) (1982-2003?)

Adquire consciência política com a Guerra Civil na ex-Jugoslávia, o 11 de Setembro, a Guerra no Iraque, as devastações do ciclone Katrina e do tsunami na Tailândia, a percepção das ameaças climáticas e do actual modelo de crescimento à sobrevivência das espécies, incluindo a humana, além de perceber, pela primeira vez, que apesar da sua exigente preparação académica, só poderá esperar um cenário de desemprego e falta de emprego estrutural pela frente (6).

Pedro Rodrigues (1982-)
Rita Rato (1983-)
Cristiano Ronaldo (1985-)
Isabel Maria Sequeira (1986-)
?


NOTAS
  1. UNdata - Elderly-dependency ratio (per cent).
  2. World Population Prospects: The 2008 Revision. UN.
  3. Modigliani's work implies that a country with an ageing population must grow its exports aggressively in order not to build up an unsustainably large current account deficit.

    The IMF has calculated that the cost of age-related spending in the average advanced G20 country will cause public debt-to-GDP to grow to over 400%, with Spain and Greece reaching over 600% unless the existing welfare model is cut back. -- Niels C. Jensen for John Mauldin's "Outside The Box". Ver ainda Ageing and Export Dependency on the Agenda. Por Claus Vistesen. Alpha.Sources (13-10-2009)
  4. Recomendo a este propósito a leitura do oportuno Portugal, que Futuro — o tempo das mudanças inadiáveis, de Medina Carreira (2009).
  5. É sempre perigoso e indelicado generalizar, como bem me avisa José Silva (do importante blog Norteamos). Levar-nos-ia, porém, longe elucidar de forma precisa o retrato comportamental da chamada Geração X. Basta, para já (voltarei ao tema), dizer que esta geração se deparou simultaneamente com a perda pública de inocência relativamente aos sonhos que cantam do "socialismo real" e súbita afluência de um Capitalismo virado agressivamente para o consumo ostensivo, para a desregulamentação dos mercados, para a competição sem freio e para uma cultura cada vez mais cínica, manipuladora, enfatuada e especulativa. Alérgica ao hedonismo intelectual dos boomers que progressivamente tomavam conta do poder, a dita geração MTV, ou Reagan Generation, de que os personagens Beavis and Butt-head são geniais protagonistas, é certamente mais do que uma geração egoísta. Não deixa porém de ser uma geração de transição. Ler a propósito: GenXegesis: essays on alternative youth (sub)culture, por Por John McAllister Ulrich,Andrea L. Harris.
  6. Esta perspectiva vem aliás assinalada num recente artigo da Christian Science Monitor online, que uma leitora amiga enviou depois de ler este artigo.
    "This is the worst time in a generation for young people, but it's the 16-to 18-year-olds who are worse affected" [...] "Almost a million young Britons are now called 'neets' – not in education, employment, or training." — in Will recession create another 'lost generation' of British youth?, CSMonitor.


OAM 635 15-10-2009 16:31 (última actualização: 16-10-2009 00:50)

quarta-feira, outubro 07, 2009

Ouro 2

Era uma vez o dólar...

The demise of the dollar

In a graphic illustration of the new world order, Arab states have launched secret moves with China, Russia and France to stop using the US currency for oil trading

By Robert Fisk
Tuesday, 6 October 2009 (The Independent)

In the most profound financial change in recent Middle East history, Gulf Arabs are planning – along with China, Russia, Japan and France – to end dollar dealings for oil, moving instead to a basket of currencies including the Japanese yen and Chinese yuan, the euro, gold and a new, unified currency planned for nations in the Gulf Co-operation Council, including Saudi Arabia, Abu Dhabi, Kuwait and Qatar.

Secret meetings have already been held by finance ministers and central bank governors in Russia, China, Japan and Brazil to work on the scheme, which will mean that oil will no longer be priced in dollars.

The plans, confirmed to The Independent by both Gulf Arab and Chinese banking sources in Hong Kong, may help to explain the sudden rise in gold prices, but it also augurs an extraordinary transition from dollar markets within nine years.

O Iraque foi invadido duas vezes depois de Saddam Hussein ter balbuciado a sua intenção de substituir o depauperado dólar americano por outra moeda qualquer nas transacções petrolíferas. A campanha contra o Irão tem a mesma origem, i.e. no facto de o Irão ter decidido vender petróleo a troco de euros e ienes (Global Research). Só que aqui a coisa tem-se tornado cada vez mais difícil para as intenções agressivas dos EUA, pois precisamente a China, o Japão e a Índia, já para não mencionar a França, Itália, Holanda, Grécia, Espanha e África do Sul, principais clientes do Irão (Iran Energy Data), não estão nada interessados em repetir na terra dos persas os desastres em curso no Iraque e no Afeganistão.

Daí que, ao que parece secretamente, alguns países importantes e/ou emergentes começaram a conspirar sobre uma maneira de acabar simpaticamente com a hegemonia da moeda americana nas trocas internacionais. Este abcesso criado em 1971, quando Richard Nixon rasgou abruptamente os acordos de Bretton Woods, que vinculavam as moedas de todo o mundo à moeda americana, mas na condição de esta ter uma paridade fixa com o ouro (1 onça de ouro fino valia então 35USD, hoje vale mais de 1000USD!), acabaria por rebentar por efeito das prolongadas e sucessivas crises financeiras e de endividamento do Japão (1990-2010?) e Estados Unidos (2001-2020?)

Ao contrário do que a propaganda político-financeira tem querido fazer crer, a crise de endividamento encadeado dos EUA, da Europa e do Japão não terminará tão cedo. Pelo contrário, poderá agravar-se de um momento para o outro, e de forma rápida e exponencial!

Os factores puramente financeiros que continuam a pesar sobre a actual crise são essencialmente quatro:
  1. a desvalorização constante da moeda americana,
  2. o endividamento profundo das economias mais desenvolvidas e a sua entrega irresponsável ao mundo onírico e puramente artificial do crédito barato e ilimitado,
  3. o insondável buraco negro dos produtos derivados,
  4. a falta de uma nova bolha especulativa credível, pois a das energias renováveis começou a esvaziar, e a do hipermercado dos futuros créditos de carbono poderá nem sequer levantar voo.
Nada, neste lado do problema pode sarar-se espontânea e rapidamente — como se vê. Quanto mais se endividam as economias maior será o peso das dívidas, do serviço das dívidas, e mais escasso e caro será o dinheiro no futuro. Se a resposta dos caloteiros for imprimir mais papel-moeda, ou digitar cifras num contador electrónico sem fim, as suas moedas desvalorizarão inexoravelmente (veja-se o que tem sucedido ao dólar americano e à libra inglesa.)

Por sua vez, os principais factores económicos que permanecem na origem profunda da crise, que não tem solução à vista, são os seguintes:
  1. a migração das indústrias para Oriente em busca de trabalho árduo e barato, com direitos sociais escassos e sem constrangimentos de segurança nem ambientais relevantes;
  2. a extinção e desmaterialização progressivas do trabalho, por efeito da incorporação crescente de novas tecnologias, nomeadamente electrónicas e de automação, com a consequente expansão do desemprego permanente e da falta de emprego;
  3. a substituição da lógica de acumulação/poupança por uma lógica de especulação/consumo, a qual só pode subsistir se assentar em formas de domínio imperial e/ou colonial (que tanto os EUA, como a Europa, deixaram de poder assegurar);
  4. o envelhecimento populacional, associado ao colapso anunciado dos sistemas de segurança social;
  5. a crise energética, para o que tardou, porventura irremediavelmente, a investigação e desenvolvimento atempados de novos paradigmas e/ou soluções de transição;
  6. a exaustão dos principais recursos em que assentou o desenvolvimento humano nos últimos 200 anos: água, carvão, petróleo, gás natural, terra arável, fauna, flora e biodiversidade;
  7. alterações climáticas provocadas por uma lógica de crescimento insustentável, cujos contornos foram precisamente detalhados em 1972 num célebre à época, mas rapidamente esquecido relatório do Clube de Roma, intitulado The Limits to Growth.
Finalmente, há uma conjuntura política internacional explosiva pairando em surdina sobre a Humanidade. A batalha mundial pelos recursos financeiros (i.e. fiduciários), energéticos, económicos e naturais já começou, ainda que sob a forma, aliás, clássica, dos conflitos periféricos e/ou vicariantes. Sabemos já que qualquer manobra militar, ou mesmo diplomática, corre o risco de fazer disparar os preços do petróleo, do gás natural e do ouro, a que se seguirão depois as subidas dos recursos alimentares. As perspectivas são muito preocupantes. Só não vê quem não quer.

As pessoas e os países devem pois preparar-se para o pior, e não adormecer nas cantigas de embalar dos especuladores de toda a espécie que inundam os canais de comunicação de massas. Antes de investir pense muito bem no que vai fazer. Persistir na lógica consumista e/ou especuladora do endividamento fácil, berrando por taxas de juros negativas, como fazem os populistas de todos os quadrantes, é pior do que dar um tiro na cabeça. Porque é convocar a tortura e a morte lenta da nossa civilização e da nossa cultura.

As fronteiras estarão de volta mais cedo do que agora conseguimos imaginar. Preparemos pois esse dia, e até lá, apliquemos parte das nossas poupanças nalgum ouro fino e em quintas e quintinhas com água potável e terra fértil.


OAM 634 07-10-2009 01:12

terça-feira, outubro 06, 2009

TAP 6

Temos que ser surdos à demagogia populista, de direita (CDS) e de esquerda (PS, PCP, BE)

Se a TAP desaparece e as Low Cost não querem Alcochete, para quê um novo aeroporto? E o fecho da Portela?!

A TAP e a RTP não são serviços tão essenciais ao país, i.e. sem quem os substitua com vantagem económica e qualidade, que mereçam continuar a ser generosamente subsidiados por todos nós, tornando mais difícil acudir às verdadeiras emergências sociais (pensões e reformas) e necessidades estratégicas do país (electrificação e renovação integral da rede ferroviária nacional, modernização dos portos marítimos e fluviais, adaptação das grandes urbes ao paradigma energético pós-carbónico e criação de uma rede de cidades ecológicas, desenvolvimento acelerado de uma verdadeira economia do mar e adequação do sistema de defesa nacional aos desafios que se desenham no horizonte.)

Há muito para criar e há por conseguinte centenas de milhar de novos empregos à espera de um Portugal liberto da geração de burocratas e especuladores que há uma vintena de anos impedem o seu desenvolvimento sustentável. Insistir na manutenção de empregos inviáveis é um estupidez sem nome.

O Estado e as empresas públicas em geral precisam urgentemente de emagrecer, para pouparmos nas dívidas pública e externa, para termos maior produtividade e qualidade nos serviços, para libertar recursos que permitam à sociedade civil produzir mais e melhor e sobretudo libertar-se da indigência burocrática e da subsidio dependência que vêm definhando o país.

O sindicato dos Pilotos de Aviação Civil (SPAC) defende que o encerramento da TAP teria como consequência para o país o "aumento da dívida pública em mais de 1,5 mil milhões de euros e do défice público em 1,5% do PIB, em 2010, devido ao aumento do desemprego em mais de 12 mil pessoas e ao pagamento de indemnizações por rescisão".

Em comunicado, reagindo à manchete de hoje do Diário Económico, os pilotos avançam que as consequências do encerramento da companhia aérea para o país "serão substanciais", sobretudo depois dos compromissos feitos, como a construção do Novo Aeroporto de Lisboa.

Além disso, os pilotos apontam a redução das exportações em 0,8%, a redução do número de ligações aéreas de Portugal a outros destinos, a perda de quota de mercado, entre outros.

O SPAC defende que a "a acontecer [o encerramento da companhia aérea] não será por culpa dos Acordos de Empresa dos trabalhadores ou dos pilotos (...) mas sim por causa dos erros de gestão, como as excessivas compras de aviões ou empresas falidas, financiadas por dívida onerosa".

Ref.: Fim da TAP agrava dívida pública em 1,5 mil milhões (Económico)


OAM 633 06-10-2009 18:45

TAP 5

A TAP acabou!

Que tal criar uma nova companhia transcontinental, com capitais lusos, brasileiros, angolanos, moçambicanos e caboverdianos?


A blogosgfera tem vindo a fazer avisos à navegação sobre este assunto há quase 3 anos. Os corruptos, os incompetentes, os néscios, os distraídos e os protestantes tardo-marxistas, tardo-leninistas e tardo-trotsquistas não nos ligaram nenhuma. O resultado está à vista!

A TAP tem mais pessoal que a Air Berlin, easyJet e Ryanair juntas —escrevemos isto uma boa dúzia de vezes.

Há coisas que não têm solução, a não ser que seja radical. Por exemplo, como é que um putativo grupo como a TAP+PGA pode aguentar-se na competição europeia pela concentração do sector aéreo transportador, quando os três maiores operadores de Low Cost europeus - Ryanair, Easy Jet e Air Berlin -, que movimentam conjuntamente mais de 87 milhões de passageiros/ano, têm menos assalariados ao seu serviço do que a TAP+PGA (9.945 contra 10.110), que, por sua vez, movimenta menos de um décimo daquele número de passageiros?! — in OAM, 8 JAN 2007.

TAP
Dívida acumulada: 2 467 milhões de euros (activos: 2 261 M€);
Défice em 2008: 320 milhões de euros;
Custo da inviável PGA (Grupo BES), impingida politicamente à TAP: 140 milhões de euros;
Número de trabalhadores por avião: 156,3 (Alitalia: 122,9; média da Ryanair, easyJet e Air Berlin: 37,5);
Load factor: 2005 = 72,3%; 2008 = 63,8% (easyJet = 85%)
Origem do tráfego aéreo nacional: Europa: 80% (Península Ibérica: 30%); Brasil, Venezuela, Angola e Cabo Verde: 14,5%
Futuro da TAP: falência e possível incorporação, com menos 3 a 5 mil trabalhadores, na Lufthansa ou na Air France. As hipóteses angolana e chinesa estão cada vez mais longínquas (apesar dos correios que não param de viajar entre cá e lá...) — in OAM, Abril, 2009.

Como qualquer ferida com pus deve ser lancetada quanto antes. Por profissionais, com atenção e cuidados extremos, para não ferir para além do inevitável.

Notícia no Económico


OAM 632 06-10-2009 18:38

sábado, outubro 03, 2009

Portugal 133

Cavaco-Sócrates: depois do arrufo, a reconciliação

Bloco Central soma e segue


Escrevi antes de a tempestade atingir o seu clímax que a razão e os interesses de ambos chamaria Aníbal Cavaco Silva e José Sócrates Pinto de Sousa à renovação dos votos de uma cooperação institucional reforçada. A telenovela das escutas não passou, pois, de uma encenação canalha destinada a travar uma vitória escassa —que a ser escassa seria muito inoportuna—, de Manuela Ferreira Leite nas eleições do passado dia 27 de Setembro.

De facto, o actual Presidente da República ajudou o PS a ganhar/perder as eleições, para com este resultado evitar levar ao colo o PSD até a uma mais do que previsível derrota de Cavaco nas próximas eleições presidenciais. Quer dizer, a simples hipótese de uma maioria relativa de Manuela Ferreira Leite, acompanhada de uma maioria de esquerda parlamentar, foi o grande pesadelo que afligiu Cavaco Silva até ao Domingo passado. E daí que, por incrível que pareça, o actual presidente da república talvez tivesse mesmo tido necessidade de prejudicar um bocadinho o PSD!

De facto, um governo PS sem maioria parlamentar, dependente do PSD para evitar ter que se aliar ao CDS (o que engrossaria as fileiras do Bloco), ou pior ainda, ao BE e ao PCP (o que rebentaria de vez com as possibilidades de reeleição de Cavaco Silva) foi a lotaria desejada no sonho cor-de-rosa do homem de Boliqueime. E saiu-lhe! Daí os beijinhos discretos soprados depois do encontro de reconciliação entre o actual e afinal futuro primeiro ministro, e o actual e possível futuro presidente da república latino-indigente que somos.

Como dizia alguém no Expresso desta Meia-Noite, o Presidente já não precisará de vetar com tanta frequência. A nova Oposição parlamentar encarregar-se-à de travar —à esquerda e à direita— o que manifestamente for excessivo, caprichoso, sem sentido ou simplesmente mal amanhado. Ou seja, Cavaco pode ir tratando paulatinamente da sua reeleição enquanto Sócrates tenta navegar à vista e salva a pele dos casos judiciais sob investigação.

O PSD procurará colaborar, para não dar pretextos ao CDS. O BE procurará colaborar, para não desbaratar o extraordinário acréscimo de votos (muitos deles emprestados) recolhidos nestas eleições. O PCP evitará ocupar as ruas para além do estritamente necessário, para não perder votos para um Bloco de Esquerda tendencialmente respeitável. O CDS está metido numa camisa de sete varas, ou melhor num submarino muito apertado e claustrofóbico! Em suma, salvo a muita retórica parlamentar e mediática, prevejo uma multiplicidade de tácticas de cooperação entre os rivais. Pelo menos até às eleições presidenciais.

Todos precisam de tempo. E ninguém quer ficar com o ónus de não atender com a imprescindível responsabilidade política, e mesmo competência técnica, aos tremendos desafios que temos pela frente, até às presidenciais, mas também até ao fim da legislatura que em breve terá início.


OAM 631 02-10-2009 01:01

quarta-feira, setembro 30, 2009

Portugal 132

Queijo Limiano, 0; Bloco Central, 1
"A luta continua! Cavaco para a rua!" — coro de militantes na sede de campanha do PS na noite de eleições (in Sábado).

"Homens fortes do PS [José Junqueiro, Vitalino Canas, Vítor Baptista, Vítor Ramalho e António Vitorino] falam em interferência na campanha. Socialistas próximos de José Sócrates lançam forte ataque a Cavaco Silva." (in Filomena Fontes. Público, 15.08.2009 - 09h07)

"Agora, passada a disputa eleitoral, e porque considero que foram ultrapassados os limites do tolerável e da decência, espero que os portugueses compreendam que fui forçado a fazer algo que não costumo fazer: partilhar convosco, em público, a interpretação que fiz sobre um assunto que inundou a comunicação social durante vários dias sem que alguma vez a ele eu me tenha referido, directa ou indirectamente." — Aníbal Cavaco Silva, Presidente da República, in Declaração do Presidente da República, Palácio de Belém, 29 de Setembro de 2009.

LIMA, Peru, 30 Set 2009 (AFP) - O ex-presidente peruano Alberto Fujimori foi sentenciado nesta quarta-feira a seis anos de prisão por três casos de corrupção - espionagem, suborno e compras ilegais -, informou o tribunal que o julgou em um processo que teve início na segunda-feira.

... O tribunal também ordenou que o ex-presidente pague uma indenização equivalente a 8 milhões de dólares em favor do Estado e um milhão em favor dos dirigentes políticos e jornalistas que foram espionados por seu regime. — in UOL Notícias.

Apesar de Sócrates procurar, tarde demais, pôr água na fervura, o mal está feito: Cavaco Silva sente o terreno a fugir-lhe debaixo dos pés, isto é, a sua reeleição cada vez mais comprometida, e tenciona castigar sem complacência o protagonista visível da sua queda em desgraça. A caça ao Pinóquio das Beiras continua, pois, aberta, e transformou-se, desde ontem, numa declarada guerra de todos contra todos. Espionagem (1), contra-informação e manipulação sistemática dos média foram e continuarão a ser o pão-nosso-de-cada-dia nos meses que aí vêm, até que um evento inesperado altere qualitativamente a situação. O "Liminha" (o misterioso assessor Fernando Lima) não agiu, se esta minha hipótese está correcta, em vão, nem sem expressa autorização do Presidente. O "Liminha", perante um sonoro —imagino eu— "Faça alguma coisa, homem!", fez o que sempre soube fazer: sussurrou, queixou-se, intrigou e, qual Marcus Tullius Detritus, provocou uma monumental zaragata na aldeia lusitana! Mas, mal ou bem, permitiu a Cavaco Silva declarar formalmente guerra a José Sócrates, depois de ter percebido que o seu sacrifício no altar das próximas presidenciais já fora de facto decidido há muito pelos estrategas socialistas. E agora?

Não vale a pena escutar os indigentes jornalistas e opinocratas de serviço sobre o assunto. 90% deles estão na folha de pagamentos do governo, directa ou indirectamente! Pensemos pois pela nossa cabeça.

Se bem nos lembramos todos, José Sócrates, ao ler no tele-ponto o seu discurso de vencedor tísico das eleições do passado dia 27, frisou três vezes, para que todos os bons entendedores percebessem a gravidade da situação, que o Presidente deveria, segundo a Constituição, chamá-lo a formar governo.

E se não chamar?!

Afinal de contas, José Sócrates perdeu a maioria parlamentar e, dadas as sucessivas declarações dos demais partidos representados na AR, não pode dizer claramente ao PR o que vai acontecer ao próximo Programa de Governo e, mais importante ainda, como tenciona fazer aprovar o próximo Orçamento de Estado. Perante tantas incógnitas e improbabilidades, ninguém no seu perfeito juízo consegue vislumbrar a formação de um governo minimamente estável. Como pode então o senhor José Sócrates Pinto de Sousa, de quem todos os partidos da Oposição desconfiam (e uma parte do PS deseja ver pelas costas), e que desde ontem perdeu expressamente a confiança do Presidente da República, ter a veleidade de chefiar o próximo governo constitucional? Quantos dias, ou semanas, aguentaria no poleiro?

Em face deste calamitoso panorama, Cavaco Silva poderá, em tese, 1) indigitar outro dirigente do PS, que não Sócrates, para formar governo; 2) chamar alguém do PSD com idêntico objectivo; ou ainda 3) optar por promover um governo de iniciativa presidencial.

Mas poderá Cavaco Silva optar por alguma destas alternativas? A primeira parece tentadora, mas arriscada, e as duas seguintes são muito inverosímeis. Vejamos porquê:
  1. Invocando a perda de confiança em José Sócrates, pois ainda que não tenha referido o seu nome na declaração presidencial de 29 de Setembro, visa-o claramente, na medida em que ele é o chefe do mesmo governo e partido que, na sua opinião, ultrapassaram "os limites do tolerável e da decência", Cavaco Silva poderá exigir amanhã ao actual secretário-geral do PS que indique uma outra pessoa do Partido Socialista, que não José Sócrates, para possível futuro primeiro ministro, colocando o actual dirigente máximo "socialista" na posição humilhante de ter que consultar os órgãos dirigentes do PS sobre esta sugestão presidencial. Seria provável que os órgãos dirigentes do PS viessem em uníssono a proclamar a sua eterna fidelidade ao timoneiro das Beiras, rejeitando a sugestão presidencial. Neste caso, mais do que previsível, Cavaco acabaria por nomear Sócrates, endossando porém parte substancial da responsabilidade da indigitação ao próprio Partido Socialista. Na balbúrdia mediática que se instalaria de imediato seria possível conhecer melhor os posicionamentos tácticos dos vários partidos da Oposição, e ainda conhecer mais em pormenor a teia mediática montada contra Cavaco Silva e a soldo de um certo Bloco Central, bem como descortinar o comportamento potencial dos diversos agentes económicos e forças sociais. Seria, a ocorrer, um grande teste ao pendor presidencialista mitigado do actual regime constitucional.
  2. Se o PS só a muito penar conseguirá as maiorias parlamentares necessárias para se arrastar numa governação caótica, que diríamos dum governo PSD? Com menos votos ainda do que o PS, sem fazer maioria com o CDS, rodeado então por uma "maioria de esquerda" oportunista, e longe de resolver a sua eterna crise de identidade, o PSD, dirigido por quem quer que fosse, seria incapaz de dar sequer o primeiro passo!
  3. Para haver um governo de iniciativa presidencial seria necessário previamente vislumbrar-se a possibilidade de alguma maioria parlamentar favorável a uma abrupta torção presidencialista do regime, o que nesta altura do campeonato e com o parlamento que foi eleito não passa de miragem académica.

Cavaco está, como se vê, condenado a empossar e deixar governar José Sócrates, pelo menos por algum tempo. No entanto, já a partir de amanhã, ou melhor, já desde ontem que começou a fazer a vida negra à criatura sem palavra (certamente por falta de tele-ponto) que o terá traído em pelo menos uma das habituais reuniões de Quinta-Feira, quando ambos discutiram a reforma do Estatuto de Autonomia dos Açores.

Como já escrevi, face aos resultados eleitorais, que ficaram aquém das minhas expectativas de crescimento do Bloco de Esquerda (condição essencial e prévia do seu amadurecimento democrático), só a formação de um Novo Bloco Central poderá garantir a estabilidade mínima de que o país precisa para enfrentar a longa e dramática década que se avizinha. Este Novo Bloco Central será, no entanto, bem diferente daquele que objectivamente imperou até hoje e levou Portugal a um novo limbo cinzento e vergonhoso de destruição e saque da riqueza pública, implosão estratégica, empobrecimento e falta de patriotismo e nobreza de carácter. A diferença entre as duas formas de entendimento ao centro resulta da maior transparência que necessariamente deverá presidir à formação do Novo Bloco Central, imposta de fora para dentro, pelo crescimento do BE e do CDS —que poderá ampliar-se substancialmente no decurso dos próximos quatro a oito anos (se tiverem lucidez e juízo)—, mas também de um muito mais exigente escrutínio democrático, não só institucional e profissional, mas também "popular" — por via da emergência de uma verdadeira democracia electrónica, cujo impacto na demolição da maioria absoluta de José Sócrates foi decisivo e está ainda por estudar. Não foram os indigentes meios de comunicação social convencionais que encostaram os maus hábitos da política portuguesa à parede. Foi a Net! E seguirá sendo a Net...

É impossível prever o futuro. No entanto, de uma coisa estou certo: não é desejável prolongar a vida política do mitómano que acaba de desbaratar uma maioria absoluta que lhe foi entregue há quatro anos e meio, de mão beijada, por uma maioria de eleitores bem intencionados.

Daqui a dois anos poderemos ter outro inquilino em Belém —não, não será Manuel Alegre (2)—, mas também um PS e um PSD renovados. Ou, se a actual guerra civil continuar, 9 milhões de eleitores clamando por um regime presidencialista, ou algo ainda mais forte!


Post scriptum: o regresso da polémica dos submarinos destina-se tão só a avisar José Sócrates de que a reedição do queijo limiano está interdita. E como quem faz este aviso também não quer uma Frente Popular pós-moderna, a conclusão é óbvia: precisamos de um Novo Bloco Central!

NOTAS
  1. Esperemos que a próxima Legislatura desfaça a intolerável concentração de poderes que a subordinação do Sistema de Informações da República Portuguesa ao Primeiro Ministro consagrou assim que José Sócrates se assenhoreou da maioria absoluta. Bastará uma iniciativa parlamentar concertada entre os partidos da Oposição para recolocar as Secretas no lugar próprio e sob o apropriado escrutínio democrático da Assembleia da República.

    O novo SIRP, que esperemos venha a ser constituído, deve, além do mais, ser precedido por uma reforma profunda do sistema de informações e segurança do país. Portugal deveria passar a ter uma comunidade integrada de serviços de informação, presidida por um Alto-Comissário designado pela Assembleia da República e assistida por uma Comissão Parlamentar Permanente. Embora repousando em várias agências e serviços diferenciados e com autonomia operacional, tal comunidade deveria estar harmoniosamente integrada sob a égide de um comum espírito de segurança, com missões e prioridades politicamente definidas pelo poderes democráticos legislativo, judicial, executivo e presidencial. Além do mais, e ao contrário do que ocorre com o nebuloso e invisível SIRP, um futuro sistema integrado de informações da República deveria ser transparente na natureza, propósitos e missões, dando por isso a conhecer-se aos cidadãos. Os exemplos britânicos da UK Intelligence Community e do próprio MI5 dão bem a medida que falta percorrer entre a pindérica Secreta portuguesa e os serviços de informações da Europa desenvolvida.

  2. Os movimentos de sedução em direcção a Jorge Sampaio já começaram (ler notícia do i), ao mesmo tempo que é lançado o balão de ar quente chamado Jaime Gama. Sobre este último paira, porém, a sombra da Casa Pia, que poderia deitar tudo a perder numa única e inesperada caxa de um qualquer atirador furtivo da informação. O risco é grande, suponho. Daí que a pressão sobre Sampaio tenda a crescer, sobretudo se Cavaco Silva perder o controlo da situação em Belém. Com a actual votação do Bloco de Esquerda, a hipótese Manuel Alegre foi definitivamente afastada, creio. Mas há mais hipóteses, menos serôdias. Por exemplo, Correia de Campos, um homem civilizado e inteligente. A Maçonaria do PS tem que arejar de uma vez por todas o seu olhar sobre o mundo e a realidade.

OAM 630 30-09-2009 23:29 (última actualização: 01-10-2009 10:41)

segunda-feira, setembro 28, 2009

Portugal 131

Queijo Limiano 2 ou regresso do Bloco Central?

Para a gestão corrente, Sócrates poderá dançar com Paulo Portas de vez em quando, mas não todos os dias, e dificilmente poderá fazê-lo por ocasião da aprovação do próximo Orçamento de Estado. Os resultados eleitorais apontam, pelo contrário, para um entendimento, in extremis mas possível, entre o PS e o PSD, com o beneplácito de Cavaco Silva, que assim praticamente garante a sua reeleição. Pois é, acabámos com a maioria absoluta do PS, mas o crescimento do CDS e do BE foram para já insuficientes para desfazer a lógica dos interesses conhecida pelo nome de Bloco Central.

Basta olhar para os números:

Resultados das Eleições Legislativas 2009
  • PS: 36,6%, 96 a 98 deputados (se obtiver 2 dep. pelo círculo da Emigração)*
  • PSD: 29,1%, 78 a 80 deputados (se obtiver 2 dep. pelo círculo da Emigração)*
  • CDS: 10,5%, 21 deputados
  • BE: 9,9%, 16 deputados
  • CDU: 7,9%, 15 deputados
* — actualização (7-10-2009): PS: 97 deputados; PSD: 81 deputados

Maiorias plausíveis na Assembleia da República (mínimo 116 deputados)
  • PS+PSD = 178
  • PS+CDS = 118
  • PS+BE+PCP+PEV: 130
Combinações minoritárias
  • PS+BE = 113
  • PS+PCP+PEV: 112
Maiorias constitucionais, i.e. necessárias para mexer na Constituição (155 deputados)
  • PS+PSD = 178

Errei!

De facto, as sondagens bateram certo, e a minha vontade de ver o senhor Pinto de Sousa pelas costas traiu-me.

A verdade é que Sócrates foi mais esperto e venceu os seus adversários ao longo da campanha eleitoral, apesar da derrota das Europeias. A crise internacional, paradoxalmente, favoreceu-o. A falta de uma luz ao fundo do túnel no discurso de Manuela Ferreira, e as inconsistências sucessivas (aceitação de Santana Lopes em Lisboa, escolha de candidatos a contas com a Justiça, apoio desajeitado a Alberto João Jardim, espionagem em Belém, etc.) acabaram por desfazer a solidez do diagnóstico inicial que a secretária-geral do PSD bem fizera do país. Louçã, por sua vez, acabaria por sucumbir à sua peculiar forma de arrogância intelectual e ao seu dogmatismo, não conseguindo aquele que deveria ter sido o seu objectivo principal: chegar aos dois dígitos na percentagem da votação eleitoral nestas Legislativas. O PCP vai declinando, como se previa. Só o CDS marcou a diferença, crescendo sobretudo em Lisboa, à custa do PSD, e tornando-se o único pequeno partido capaz de formar maioria com o PS na próxima Legislatura.

Mas um casamento entre PS e CDS é impossível, salvo em votações pontuais sobre temas secundários. Nunca, por exemplo, em matéria de Orçamento de Estado. Se o fizer, aí sim teremos de novo grande instabilidade dentro do PS, e crescimento orgânico do Bloco.

Resta pois uma saída para a desejável estabilidade estrutural do futuro governo na difícil conjuntura económica, financeira e social em que nos encontramos e que irá agravar-se em 2010-2011-2012: uma aliança in extremis entre o PS e o PSD, que não bloqueará a governação nos seus momentos essenciais —aprovação dos Orçamentos de Estado e de leis objectivamente consensualizáveis—, e garantirá, por outro lado, a possibilidade de revisões constitucionais ordinárias, ou extraordinárias. O mais curioso é que Manuela Ferreira Leite deu um sinal perceptível, no seu discurso de derrota, sobre esta possibilidade (1), em nome do interesse nacional — deixando para depois das Autárquicas —que espera vencer (2)— a discussão desta saída.

Se olharmos para o que hoje o PS é —um PSD cosmopolita e profissional—, se pensarmos na natureza ideológica íntima de José Sócrates, António Vitorino, etc., veremos que um tal cenário é bem mais realista que todas as demais combinações ardentemente desejadas —mas impossíveis— pelos pequenos partidos.

Estes últimos pedalaram bem no último ano, mas falta-lhes o principal: uma agenda pós-ideológica de acção, ponderada, tecnicamente competente e realista. Até lá, seguiremos com o Pinóquio das Beiras.


NOTAS
  1. Depois de começar o seu discurso de derrota por parabenizar o PS, afirmou que o PSD permanecia o principal partido do arco da governação, conjuntamente com o PS, claro, e que assumiria essa responsabilidade na actual conjuntura, não sendo de esperar da sua parte nada que possa bloquear o país.
  2. O resultado muito fraco do PSD em Lisboa augura boas votações autárquicas para António Costa+Helena Roseta e para o... CDS. O que não deixa de ser meio caminho andado para a derrota de Santana Lopes, esvaziando-se deste modo a putativa conspiração para derrubar Manuela Ferreira Leite. A actual líder do PSD é mesmo a solução que melhor convém à estabilidade interna e recuperação a prazo do PSD, a melhor solução para o novo Sócrates e a chave de ouro de que Cavaco precisava para garantir a tempo e horas a sua reeleição. Ou seja, o travão ideal para os excessos da Tríade de Macau e o melhor estabilizador possível da governação do país num momento particularmente difícil. Os pequenos partidos cresceram, mas vão ter que penar ainda muito para se tornarem fiáveis aos olhos do eleitorado. Os bloquistas cantaram de galo antes de tempo. Não se esqueçam, estalinistas e trotsquistas tardios e empedernidos, que muitos dos que em vós votaram, fizeram-no apenas para retirar a maioria absoluta a Sócrates! Os novos eleitores, em suma, votaram com mais realismo do que se pensava. O voto inteligente, vendo bem as coisas, funcionou e foi certeiro.


OAM 629 28-09-2009 01:10 (última actualização: 08-10-2009 01:42)

sexta-feira, setembro 25, 2009

Portugal 130

A grande manipulação em curso tem uma marca: José Sócrates!

Não nos percamos em sondagens, nem sobretudo prestemos demasiada atenção às barragens de contra-informação dos jornais e televisões. A manobra em curso é exactamente a mesma que foi usada nas Europeias, só que desta vez mais descarada, com mais meios e... mais desesperada.

As agências de comunicação e empresas de sondagens (que vivem do tráfico cada vez mais sórdido da contra-informação) têm vindo a manipular de forma criminosa a actual campanha eleitoral, seguindo à risca as instruções do seu principal cliente: o PS, o Governo PS e os patrões da indústria dependentes das encomendas suicidas da tríade de piratas que tomou de assalto o PS. Daí que estejamos debaixo do mesmo fogo numérico falsificado que ocorreu durante a campanha eleitoral para as idas eleições europeias. Se não, vejamos:

Sondagens Europeias 2009
Resultados finais das Europeias
  • PSD: 31,71%
  • PS: 26,53%
  • BE: 10,72%
  • CDU: 10,64%
  • CDS-PP: 8,36%
Legislativas 2009
  • média ponderada das sondagens entre 01 e 17 de Setembro (Público)
    PS: 35,8%
    PSD: 31,9%
    BE: 11,5%
    CDU: 8,1%
    CDS-PP: 7,3%
Olhando para estes números vemos um padrão claro: o PS sempre à frente nas sondagens (salvo no exercício, curiosamente apressado, da Marktest), rondando frequentemente a percentagem mágica dos 38% — a mesma que a maioria das "sondagens" sobre as eleições deste Domingo igualmente têm vindo a papaguear. Temos pois um lindo feito para Domingo: o PS vai passar de 26,53% para 35,8%, 38% ou mesmo 40%! Ou seja, vai trepar sem nada ter feito de diferente nos últimos 3 meses (a não ser mudar o tom de voz ao Papagaio das Beiras), qualquer coisa como 9,27, 11,47 ou mesmo 13,4 pontos percentuais na sua posição eleitoral relativa. É obra! Está tudo doido ou quê?!

Alguns amigos meus aventam a hipótese de uma descida do PSD por causa de uma suposta fraca prestação de Manuela Ferreira Leite, agravada pela sua tolerância face à tropa fandanga do Pedro Santana Lopes, e ainda pelos alaridos montados em volta do TGV e das supostas escutas ao Palácio de Belém. Eu não estou de acordo.

A contra prova é muito simples: alguém sabe o que é que o PS propôs para a próxima Legislatura? Eu não. Mas sei muito bem o que é que Manuela Ferreira Leite se comprometeu a realizar, se for primeira ministra (como julgo que será): reavaliar e renegociar com Espanha o programa de Alta Velocidade/Velocidade Elevada ferroviária; apoiar de forma clara e consistente as PMEs; acabar com os pagamentos por conta de IRC; rasgar o pseudo sistema de avaliação dos professores, substituindo-o por uma nova lei; impedir a subversão da ADSE, que o actual governo se preparava para fazer; desfazer o actual clima de asfixia democrática e de manipulação sórdida dos média e do Poder Judicial.

Creio que esta mensagem passou, ao contrário do fogo-de-artifício do senhor Pinto de Sousa, onde nada vemos a não ser megafones, vendedores de banha da cobra e uma espécie de brigada do reumático socialista, apavorada como a outra, com o fim de um regime. Neste caso, o regime do Bloco Central. Com Pinto de Sousa, ou com Ferreira de Leite, o que vai acontecer, trucidando sem cerimónias a macabra coligação das sondagens e agência de comunicação no terreno, é mesmo o fim do Bloco Central. Cavaco terá que aprender rapidamente a lidar com a nova situação, onde dificilmente poderemos aturar por muito mais tempo o travesti da Madeira.

Como é de prever que nem o Bloco, nem o CDS, queiram deixar de crescer após estas eleições, e como não estamos também a ver nenhum governo PS-PCP no horizonte, a viabilidade de um futuro governo liderado por Pinto de Sousa é praticamente de excluir. Pois! O melhor mesmo é Manuela Ferreira Leite ganhar estas eleições!



Declaração pessoal de interesses

Já escrevi neste blogue mais de uma vez, e repito, que tenciono votar no Bloco de Esquerda para a Assembleia da República, no próximo dia 27 de Setembro (se Louçã não cair entretanto na tentação de apoiar José Sócrates); em António Capucho (PSD), para a Câmara Municipal de Cascais; e que me candidato pelo PS+Helena Roseta à Assembleia de Freguesia de São João de Brito. Contradição? Incoerência? Nem por isso!

Há certamente muita gente por este país fora que é capaz de fazer o mesmo. O que não é vulgar é assumir a coisa. Há um tabu, que os partidos políticos alimentam como se fossemos todos imbecis e não soubéssemos distinguir as subtilezas de uma votação com os seus contornos de classe mais ou menos oportunistas e diferenças ideológicas cada vez menos claras. Em vez de cair na armadilha do "voto útil" —suplicado pateticamente pelo PS e pelo PSD—, os portugueses estão rapidamente a adoptar a praxis alternativa do que resolvi chamar "voto inteligente". Esta é certamente uma arma poderosa para mudar positivamente o rumo da democracia portuguesa. Usemo-la, pois, com a determinação estratégica que merece.


OAM 628 25-09-2009 18:10

quinta-feira, setembro 24, 2009

Portugal 129

PS, uma vitória pírrica?

A implosão do Bloco Central vai ser prolongada, feia e dolorosa. Louçã e Portas vão no bom caminho, mas precisam de aprender a ler melhor a realidade e de limpar as borras ideológicas do século 19 que trazem agarradas às respectivas memórias consolidadas (repetitivas e acríticas, por natureza), antes de poderem desferir o golpe de misericórdia na união de facto (PS-PSD) que há 30 anos vem conduzindo Portugal para uma situação de pré-falência, colapso social e perda objectiva de independência.

"O cérebro humano está dividido em hemisfério direito (controla a percepção das relações espaciais, a formação de imagens e o pensamento concreto) e em hemisfério esquerdo (responsável pela linguagem oral e escrita, pelo pensamento lógico e pelo cálculo)." — in Exames.

"O hemisfério dominante em 98% dos humanos é o hemisfério esquerdo, é responsável pelo pensamento lógico e competência comunicativa. Enquanto o hemisfério direito, é responsável pelo pensamento simbólico e criatividade. Nos canhotos as funções estão invertidas. O hemisfério esquerdo diz-se dominante, pois nele localiza-se 2 áreas especializadas: a Área de Broca (B), o córtex responsável pela motricidade da fala, e a Área de Wernicke (W), o córtex responsável pela compreensão verbal." — in Wikipédia.

98% dos eleitores vota, por conseguinte, de acordo com os seus interesses particulares, isto é pessoais e de grupo — familiar, profissional, etc. Enquanto durou a bonança comunitária e o ouro de Salazar, enquanto as remessas dos emigrantes continuaram a afluir generosamente, os 98% de eleitores aproveitaram a boleia, crendo os mais distraídos que a prosperidade relativa, nomeadamente das classes médias, era mérito próprio, ou de quem nos foi governando.

Sabemos agora que quem nos foi governando foi, na realidade, governando-se, sem um único pensamento estruturado e responsável sobre o futuro de Portugal. Sabemos também que a bonança chegou irremediavelmente ao fim (euros de Bruxelas, recursos próprios e dentro em breve, remessas de emigrantes). Sabemos, por fim, que as classes médias caminham aceleradamente para a extinção — prevendo-se que venham a dar lugar a um neoproletariado urbano e suburbano, tecnologicamente instruído mas inculto (i.e. falho de memória histórica), sem trabalho, condicionado para o micro-consumo, e resvalando rapidamente para uma indigência social progressiva. Este neoproletartiado em formação poderá tornar-se numa desesperada e violenta rede revolucionária. De momento, envolto na ilusão fabricada de que a presente crise é meramente cíclica e ultrapassável, talvez vote no Domingo no prato de lentilhas da chamada "governabilidade" — em vez de lancetar, como devia e a direito, a ferida aberta que é o Bloco Central, libertando o país do pus fétido que corrói visivelmente a nossa democracia.

No entanto, ainda não estou convencido que o "povo português" vote no engenheiro de aviário que nos tocou na rifa há quatro anos e meio atrás, seduzidos que fomos todos então pela elegância deste inacreditável político sem apelido. As sondagens mentem!

Um das causas evidentes da pouca fiabilidade dos nossos institutos de sondagens é simples mas tem passado despercebida da maioria dos observadores. Os inquiridores fartam-se de fazer entrevistas telefónicas, mas fazem-no sempre para telefones fixos! Ora como toda agente sabe, telefones fixos são coisa do passado, que só empresas e gente reformada ou para lá caminhando ainda usa. Ou seja, se somarmos esta pelintrice dos chamados institutos de sondagens à sua óbvia dependência do grande empregador e cliente chamado Estado-Governo-Partido no Poder, a fiabilidade dos números que têm vindo a lançar na confusão da propaganda eleitoral acaba por ser duvidosa e sobretudo irrelevante, um ruído mais da própria campanha. Não confiem, pois, nas sondagens!

Quero crer que, apesar de tudo, os eleitores irão votar contra o actual governo, por algo diferente que lhe suceda. Nem que seja outro governo PS, mas desta vez minoritário e sem Sócrates Pinto de Sousa! E também acredito que o voto inteligente permaneça firme na sua intenção de modificar a configuração democrática do parlamento, dando força ao Bloco de Esquerda e ao CDS, como uma espécie de seguro anti-maiorias absolutas e anti Bloco Central.

Seja como for, com governo PS, ou com governo PSD, teremos instabilidade governativa que baste para corroer o rotativismo actual — esperemos que até à cisão de ambos os partidos! Se Manuela Ferreira Leite não ganhar estas eleições, poderá ganhar as autárquicas, e até voltar a disputar em breve novas eleições para o parlamento. E isto por uma simples ordem de causalidade: a "governabilidade socialista" que vier (se vier!), depois do dia 27 de Setembro, será tão só o epicentro de um terramoto político-social de consequências imprevisíveis. Os ingredientes de irresponsabilidade, cabotinagem, nepotismo, corrupção, autoritarismo e asfixia democrática já existem. Basta pois uma faísca.

É por tudo isto que apelo ao realismo do Bloco de Esquerda e ao realismo do CDS. Se querem crescer, como seria bom que ocorresse, restrinjam-se ao essencial, de forma concreta, suspendendo temporariamente os dossiers ideológicos. Olhem para daqui a 20 anos! Pensem na Politica como aquilo que é: por excelência, o exercício da responsabilidade e um cálculo sereno das oportunidades que tecem a história dos povos. O Bloco Central morreu. Se não são Vocês a exigir e garantir governança e viabilidade legislativa, quem poderá fazê-lo?!


ÚLTIMAS SONDAGENS PUBLICADAS (24 Setembro 2009)
  • PS (Intercampus/TVI*~38%; Católica/RTP~38%, 100 deputados, i.e. -21)
  • PSD (Intercampus/YVI~29,9%; Católica/RTP~30%, 75 deputados, i.e. -5)
  • BE (Intercampus/TVI~9,4%; Católica/RTP~11%, 22 deputados, i.e. +14)
  • PCP/PEV (Intercampus/TVI~8,4%; Católica/RTP~7%, 13 deputados, i.e. -1)
  • CDS/PP (Intercampus/TVI~7,7%; Católica/RTP~8%, 15 deputados, i.e. +3)
  • Outros partidos (Católica/RTP~2%)
  • Votos Brancos ou Nulos (Católica/RTP~4%)
  • Indecisos (Católica/RTP~12%)
  • NS/NR (Intercampus~13,2%
Total de deputados: 126
Maioria: 113 +1

* — O erro de amostragem, para um intervalo de confiança de 95%, é de mais ou menos 3,1%.


Declaração pessoal de interesses


Já escrevi neste blogue mais de uma vez, e repito, que tenciono votar no Bloco de Esquerda para a Assembleia da República, no próximo dia 27 de Setembro (se Louçã não cair entretanto na tentação de apoiar José Sócrates); em António Capucho (PSD), para a Câmara Municipal de Cascais; e que me candidato pelo PS+Helena Roseta à Assembleia de Freguesia de São João de Brito. Contradição? Incoerência? Nem por isso!

Há certamente muita gente por este país fora que é capaz de fazer o mesmo. O que não é vulgar é assumir a coisa. Há um tabu, que os partidos políticos alimentam como se fossemos todos imbecis e não soubéssemos distinguir as subtilezas de uma votação com os seus contornos de classe mais ou menos oportunistas e diferenças ideológicas cada vez menos claras. Em vez de cair na armadilha do "voto útil" —suplicado pateticamente pelo PS e pelo PSD—, os portugueses estão rapidamente a adoptar a praxis alternativa do que resolvi chamar "voto inteligente". Esta é certamente uma arma poderosa para mudar positivamente o rumo da democracia portuguesa. Usemo-la, pois, com a determinação estratégica que merece.


OAM 627 24-09-2009 18:45 (última actualização: 23:57)

quarta-feira, setembro 23, 2009

Portugal 128

Cavaco deve estar acima da cacafonia eleitoral

É pelo menos isso que todos esperam — menos as cavalarias e os rebanhos partidários; menos, está claro, as araras, os dementes e os delatores do jornalismo desgraçado que temos.

Será que o subscritor envergonhado de PPRs, Professor Francisco Louçã, se está a transformar, contra todas as previsões, no Papagaio do Pinóquio?! Se for assim, não dura até ao Natal. Este peru empertigado de voz macia precisa ainda, contra todas as expectativas, de crescer. Mas caramba, já passou dos 50, ou não?! Quando tenciona desaprender os catecismos leninistas e trotsquistas, e olhar de frente para a realidade? Tenho o receio antigo de que este rapaz seja como aqueles melões empedernidos, que nunca amadurecem. Envelhece no dogma que o viu nascer, sem graça, nem proveito. E um dia destes desaparece!

Já é evidente há muitos muitos meses que Sócrates vai perder a maioria. Só não se sabe se perde também e vergonhosamente as eleições (é provável que sim, apesar da coligação de sondagens, favorável a quem lhes tem dado de comer ultimamente).

Assim sendo, é óbvio que o Presidente da República será sempre um árbitro quase absoluto em qualquer das situações pós-eleitorais. Ou seja, para que precisaria ele de se envolver na campanha, ajudar o PSD, ou provocar o Governo com uma farsa de espiões, políticos cães de fila e jornalistas bufos? Pois para nada!

O filme foi montado à pressa e, por isso, está de pernas para o ar. Desde quando um Presidente da República tem que explicar ao país porque demite de função um dos seus cento e tal colaboradores? Ainda por cima um assessor de imprensa? Por quem se tomam os jornalistas?! Poderá alguma vez esta farsa montada à pressa ocultar a natureza tentacular e cada vez mais sinistra do poder tecido pela Tríade de Macau (que tomou de assalto o PS) e protagonizado pelo farsante-mor do reino — o "engenheiro" José Sócrates? Espero bem que não!

Sabem uma coisa? Quem vai decidir estas eleições é uma vasta mole de gente que não pode ver o Pinóquio das Beiras pela frente. E a verdade é que muitos de nós não sabemos ainda se para isso deveremos votar no Louçã, no Portas... ou na Manuela Ferreira Leite. É esta dúvida persistente que tem deixado os estados-maiores partidários a rabiar como baratas tontas. É daqui que nascem todos os disparates recentes da campanha eleitoral.

Continuo a dizer que o mais importante é mesmo substituir o Bloco Central da Corrupção por uma nova situação democrática mais equilibrada, com cinco partidos fortes, retirando a hegemonia ao casal de oportunistas que PS e PSD têm formado nos últimos 30 anos.

Votar no Bloco de Esquerda, apesar de quem por lá anda neste momento, e apesar do eterno adolescente universitário que o dirige, é porventura o meio mais expedito para desfazer a pedra siciliana que vem destruindo os rins do Partido Socialista. E por isso continuo a recomendar a quem, como eu, tem uma sensibilidade de esquerda, o voto no BE. Já para os que têm o coração mais à direita, ou receiam os abusos conhecidos das esquerdas no poder, o voto certo será seguramente em Manuela Ferreira Leite. Se a pílula for demasiado amarga de engolir, então votem no Paulo Portas, que tem feito uma excelente campanha (salvo na sua irresistível atracção por fardas e tatuagens). O importante mesmo é destruir eleitoralmente este PS. Outro virá depois se no dia 27 conseguirmos enterrar nas urnas a máfia que tem levado Portugal a uma situação de grave incúria estratégica, endividamento catastrófico, intolerável autoritarismo e, de facto, paulatina asfixia democrática.


Declaração pessoal de interesses

Já escrevi neste blogue mais de uma vez, e repito, que tenciono votar no Bloco de Esquerda para a Assembleia da República, no próximo dia 27 de Setembro (se Louçã não cair entretanto na tentação de apoiar José Sócrates); em António Capucho (PSD), para a Câmara Municipal de Cascais; e que me candidato pelo PS+Helena Roseta à Assembleia de Freguesia de São João de Brito. Contradição? Incoerência? Nem por isso!

Há certamente muita gente por este país fora que é capaz de fazer o mesmo. O que não é vulgar é assumir a coisa. Há um tabu, que os partidos políticos alimentam como se fossemos todos imbecis e não soubéssemos distinguir as subtilezas de uma votação com os seus contornos de classe mais ou menos oportunistas e diferenças ideológicas cada vez menos claras. Em vez de cair na armadilha do "voto útil" —suplicado pateticamente pelo PS e pelo PSD—, os portugueses estão rapidamente a adoptar a praxis alternativa do que resolvi chamar "voto inteligente". Esta é certamente uma arma poderosa para mudar positivamente o rumo da democracia portuguesa. Usemo-la, pois, com a determinação estratégica que merece.


OAM 626 23-09-2009 20:50 (última actualização: 24-09-2009 02:11)

terça-feira, setembro 22, 2009

Portugal 127

Que se passa?!

Está Cavaco metido num Watergate de pernas para o ar, ou é mais uma Operação Especial dos Serviços Secretos de José Sócrates?


Operações negras e tentativa de golpe palaciano sobre o Presidente da República

Na Operação das Cassetes, publicação de registos áudio violados, em Agosto de 2004, no CM, dirigido por João Marcelino, o director nacional da PJ, Dr. Adelino Salvado foi demitido e o caso usado para tentar demonstrar que as 40 (quarenta) crianças da Casa Pia que se queixaram de ter sido abusadas, e são testemunhas do processo, mentiam todas e participavam todas (com outras centenas de testemunhas) numa gigantesca conspiração contra o Partido Socialista.

Na Operação Encomenda, publicação de correspondência violada, desencadeada em 18-9-2009, a dez dias das eleições legislativas, no DN dirigido por... João Marcelino, o objectivo é a demissão... do Presidente da República e a vitimização do primeiro-ministro para provocar uma viragem no eleitorado que favoreça o Partido Socialista.

... A demissão do assessor de imprensa da Presidência da República, Dr. Fernando Lima, em 21-9-2009, é um troféu que não satisfaz a aliança PS-Bloco. A palavra de ordem da orquestra afinada é: a demissão do assessor é uma confissão de culpa de Cavaco; portanto, Cavaco deve demitir-se.

Assim, em jogo não está apenas o condicionamento do Presidente da República para não nomear Ferreira Leite primeira-ministra se esta ganhar as eleições, e o conjunto PS e Bloco tiveram mais votos do que PSD e CDS. Nesta altura, o que está em jogo é a cabeça de Cavaco Silva no prato da deriva ditatorial socialista. — Por António Balbino Caldeira, in Do Portugal Profundo (21 de Setembro de 2009.)

Francisco Louçã diz que a campanha eleitoral do PSD morreu com a demissão de um assessor de imprensa do Presidente da República denunciado pelo mesmo Francisco Louçã, como se este putativo candidato à área da governação fosse um vulgar Garganta Funda exibicionista, ou tão só camarada do informador profissional que o PS vai colocando à frente dos jornais para o trabalho sujo. Refiro-me, claro está, ao cretino Marcelino que hoje "dirige" o DN e antes "dirigiu" o Correio da Manhã.

O pânico revelado pelas sucessivas actuações desastrosas da campanha suja que acompanha o dia-a-dia bucólico e dandy do Pinóquio das Beiras, como uma espécie de contraponto desesperado dos argumentos fortes paulatinamente avançados por Manuela Ferreira Leite desde que foi eleita líder do PSD, parece grosseiramente despropositado, se é verdade o que diz a coligação de sondagens montada para reeleger José Sócrates. Se as enfezadas sondagens publicitadas (há outras, claro!) fossem tão profissionais e verosímeis quanto se apregoa, que justificação poderia haver para a guerra suja montada contra o Palácio de Belém desde a provocação e tentativa de humilhação criadas em volta da renovação do Estatuto Autonómico dos Açores? Então se Sócrates vai governar com Louçã, para quê atacar pela via baixa Cavaco Silva, acusando-o directamente, como fez o cão de fila Augusto Santos Silva, de ser a alma mater da campanha de Manuela Ferreira Leite e do "clamoroso vazio de ideias que caracteriza a actual liderança da direita" (ASS dixit)?

Francisco Louçã fez já passar para a comunicação social a notícia de que vai explicar nos próximos dias como tenciona ajudar o PS de José Sócrates se este tiver mais votos do que o PSD, ou se o PS e o Bloco juntos tiverem mais votos do que o PSD, e este, por sua vez, conjuntamente com o CDS, não formar maioria que chegue no parlamento. Vamos estar atentos, para saber, entre outras coisas, se faz ou não sentido votar neste partido emergente, ao que parece, tentado a um suicídio prematuro. Eu só voto no dia 27!

O tempo joga a favor, ou da renovação democrática do actual regime parlamentarista, com o fim do Bloco Central e a emergência de um sistema de poder a quatro ou cindo (PS, PSD, PP, CDS e PCP), onde partidos como o BE e o CDS se elevam por direito eleitoral à qualidade de protagonistas democraticamente consagrados para o exercício eventual da governação, ou então a crise do regime agrava-se subitamente e apodrece sem remédio, dando lugar ao advento muito rápido e popularmente aclamado de um regime presidencialista mais ou menos inspirado no modelo francês — democrático, mas acabando de vez com a balbúrdia sem lei e a corrupção galopante que vem marcando o fim da III República Portuguesa.

Infelizmente, ou não, a profunda e prolongada crise económica, financeira e social mundial, agravando drasticamente o definhamento de um Portugal democrático, mas corrupto, indolente e outra vez endividado até às costelas, favorecem o segundo cenário. Daí, creio bem, o desespero que tem levado à montagem de sucessivas Operações Especiais de Desestabilização do regime por parte da canalha que tomou conta do PS.



Declaração pessoal de interesses

Já escrevi neste blogue mais de uma vez, e repito, que tenciono votar no Bloco de Esquerda para a Assembleia da República, no próximo dia 27 de Setembro (se Louçã não cair entretanto na tentação de apoiar José Sócrates); em António Capucho (PSD), para a Câmara Municipal de Cascais; e que me candidato pelo PS+Helena Roseta à Assembleia de Freguesia de São João de Brito. Contradição? Incoerência? Nem por isso!

Há certamente muita gente por este país fora que é capaz de fazer o mesmo. O que não é vulgar é assumir a coisa. Há um tabu, que os partidos políticos alimentam como se fossemos todos imbecis e não soubéssemos distinguir as subtilezas de uma votação com os seus contornos de classe mais ou menos oportunistas e diferenças ideológicas cada vez menos claras. Em vez de cair na armadilha do "voto útil" —suplicado pateticamente pelo PS e pelo PSD—, os portugueses estão rapidamente a adoptar a praxis alternativa do que resolvi chamar "voto inteligente". Esta é certamente uma arma poderosa para mudar positivamente o rumo da democracia portuguesa. Usemo-la, pois, com a determinação estratégica que merece.


OAM 625 22-09-2009 11:10 (última actualização: 11:46)

segunda-feira, setembro 21, 2009

Portugal 126

Um voto inteligente contra Sócrates

Acabo de receber um oportuno artigo sobre o que é preciso fazer para derrotar de vez a caricatura socialista que fizeram do PS. O artigo leva o título Voto Útil Contra O ps De sócrates, foi escrito por Fafe, com a colaboração (presumo) de Juvenal Paio, e está publicado no blogue PrimeiroFAX.

Se quer derrotar o actual PS, traído e esventrado pela Tríade de Macau e suas marionetas e papagaios amestrados, tem que conservar a cabeça fria e prestar alguma atenção ao método de Hondt, escolhido, imposto e aplicado para favorecer os grandes partidos e os distritos mais populosos, contra os partidos pequenos e médios, e contra as regiões, zonas e localidades menos povoadas do país. É um sistema injusto, mas que temos que perceber como funciona, para assim podermos votar de acordo com os nossos objectivos finais. Se queremos derrotar este governo de cretinos e vigaristas, se queremos viabilizar uma reforma profunda do nosso caduco sistema partidário, então teremos que começar por derrotar a pandilha de José Sócrates e o próprio José Sócrates com um voto inteligente!

E para isso, aqui vai uma tabela bem mais útil que os decibéis cada vez mais agressivos e enganadores da campanha eleitoral.

Para derrotar o "PS" de Sócrates, se vive nalgum dos distritos abaixo indicados, vote nas únicas opções capazes de contribuir objectivamente para nos livramos do engenheiro de aviário que nos tocou há quatro anos e meio na rifa.

  • Beja: votar na CDU
  • Bragança: votar PSD
  • Castelo Branco: votar PSD
  • Évora: votar CDU ou PSD
  • Faro: votar PSD ou Bloco
  • Guarda: votar PSD
  • Portalegre: votar PSD
  • Viana do Castelo: votar PSD ou CDS-PP
  • Vila Real: votar PSD
  • Açores: votar PSD
  • Madeira: votar PSD
Se vive nos grandes distritos e cidades, pode seguir mais de perto as suas inclinações, interesses ou inspiração. Neste caso recomendo ainda assim, muito fortemente, a preferência pelo partidos emergentes: o Bloco e o CDS-PP, pois só uma forte subida eleitoral destes dois partidos mudará de facto o corrompido, estafado e perigoso Bloco Central.

É este o tipo de contas que os estados-maiores dos partidos não se cansam nem cansarão de fazer e refazer, dia a dia, hora a hora, e em cada minuto que passa, até ao próximo e decisivo dia 27 de Setembro. Nós também!


Declaração pessoal de interesses

Já escrevi neste blogue mais de uma vez, e repito, que tenciono votar no Bloco de Esquerda para a Assembleia da República, no próximo dia 27 de Setembro; em António Capucho (PSD), para a Câmara Municipal de Cascais; e que me candidato pelo PS+Helena Roseta à Assembleia de Freguesia de São João de Brito. Contradição? Incoerência? Nem por isso!

Há certamente muita gente por este país fora que é capaz de fazer o mesmo. O que não é vulgar é assumir a coisa. Há um tabu, que os partidos políticos alimentam como se fossemos todos imbecis e não soubéssemos distinguir as subtilezas de uma votação com os seus contornos de classe mais ou menos oportunistas e diferenças ideológicas cada vez menos claras. Em vez de cair na armadilha do "voto útil" —suplicado pateticamente pelo PS e pelo PSD—, os portugueses estão rapidamente a adoptar a praxis alternativa do que resolvi chamar "voto inteligente". Esta é certamente uma arma poderosa para mudar positivamente o rumo da democracia portuguesa. Usemo-la, pois, com a determinação estratégica que merece.


OAM 624 20-09-2009 18:42

domingo, setembro 20, 2009

Portugal 125

A governabilidade depois do Bloco Central

A alternativa ao voto útil no Bloco Central é um voto inteligente no amadurecimento partidário da democracia portuguesa, permitindo sem demora que as
representações parlamentares do PP e do Bloco de Esquerda entrem definitivamente na casa dos dois dígitos.

Apesar dos estragos provocados na Oposição pela máquina de mercar que tem levado a cabo a campanha governamental e partidária de José Sócrates, desde o início deste Verão, a verdade nua e crua é que a mensagem de Paulo Portas tem passado de forma excelente, as palavras de Louçã não param de angariar votos, e o texto de fundo da actual crise político-eleitoral foi acertadamente escrito e descrito, a tempo e horas, pela actual e futura líder do Partido Social Democrata, e provável próxima primeira-ministra, Manuela Ferreira Leite.

As sondagens realizadas pelos alfaiates do poder não chegam para contrariar um facto óbvio: a nomenclatura "socialista" está em pânico, pois teme, e com razões para isso, uma pesada derrota eleitoral, a que se seguirá um quase inevitável colapso partidário. O PSD, pelo contrário, fala de governabilidade e começa a pedir uma maioria confortável, pois teme chegar ao poder sem os votos necessários —somados aos do PP, claro está— para fazer aprovar o próximo Orçamento de Estado. E no entanto, o que está felizmente em causa é a possibilidade real de a democracia portuguesa evoluir para um patamar de maturidade onde nem as maiorias absolutas (que são sempre, nas actuais circunstâncias, absolutamente arrogantes e autoritárias), nem o rotativismo corrupto do Bloco Central, fazem qualquer falta ou sentido.

Muito dificilmente deixaremos de assistir à implosão, pelo menos parcial, e provavelmente simultânea, dos dois principais partidos do Bloco Central: PS e PSD. Se o Bloco de Esquerda chegar aos 12%-14%, e se o PP chegar aos 10%, teremos pela certa, e pela primeira vez desde o fim do período pré-revolucionário que se seguiu à rebelião de 25 de Abril de 1974, uma transformação radical do sistema partidário em que assenta a nossa democracia. Ora esta mais do que verosímil possibilidade é uma excelente notícia, que todos os democratas e patriotas devem saudar, sobretudo num momento em que as dificuldades económicas, financeiras e sociais são muito sérias e tendem, para mal da maioria de nós, piorar sem apelo nem agravo ao longo dos próximos dois ou mais anos. Só um regime democrático, capaz de melhor representar as diferenças existentes entre todos nós, será necessariamente mais responsável do que aquele que agora, exangue, busca desesperadamente evitar uma emergência presidencialista. É pois a possibilidade deste novo equilíbrio democrático que preocupa e move como nunca os eleitores portugueses. Há uma preocupação séria no ar. Como há muito não acontecia, os cidadãos querem perceber, querem fazer uma escolha certeira, querem coragem, sabedoria, equilíbrio, ponderação, justiça e... governabilidade!

Os cenários que podemos esperar depois do dia 27 de Setembro são basicamente quatro:
  1. o PSD ganha as eleições com uma maioria confortável, ficando dependente apenas do apoio de um dos partidos da Oposição;
  2. o PSD ganha as eleições com maioria escassa, i.e. sem garantias de poder fazer passar o próximo Orçamento de Estado, ficando assim na dependência quase certa do PP;
  3. o PS consegue ganhar as eleições por um voto, ficando inevitavelmente na dependência extrema das vozes e dos votos da Oposição;
  4. o PS surpreende e tem uma maioria relativa confortável, ficando pendente apenas do apoio de um dos partidos da Oposição.
O primeiro cenário, desejável, permitirá experimentar uma forte convergência estratégica entre dois políticos economistas, situados agora no topo do poder de Estado e da governança. Terão uma oportunidade única de acção, ainda mais substancial daquela que José Sócrates desbaratou em nome do fortalecimento estratégico do lóbi financeiro dos "socialistas". Porém, se Manuela e Cavaco falharem, o PSD poderá desaparecer do mapa!

O segundo cenário, muito instável, provocará agitação interna no PSD, a que se seguirá uma provável exclusão dos agitadores a soldo de Santana Lopes (que entretanto perderá Lisboa para António Costa e Helena Roseta). Esta cisão poderá espevitar uma outra cisão: a do próprio PS, então a braços com o processo de excisão de José Sócrates e da Tríade de Macau...

O terceiro cenário, muito instável (mas mais favorável ao PSD do que parece), levará o Partido Socialista a uma cisão quase imediata, com parte importante dos militantes ideologicamente mais convictos e eticamente exigentes a passarem-se com armas e bagagens (mas sem Alegre, claro!) para o Bloco e Esquerda. O governo do insuportável papagaio das Beiras sucumbirá em menos de um ano à sua própria pequenez mental e desorientação organizativa — dando então lugar a uma maioria confortável de Manuela Ferreira Leite, a qual, antes que seja tarde e por via das dúvidas, empurrará para fora do seu partido os agitadores neoliberais Pedro Passos Coelho e Miguel Relvas, capitaneados pelo desamparado teddy boy populista, Santana Lopes.

O quarto cenário, pouco provável, forçará contudo o PS de Sócrates a negociar permanentemente com um Paulo Portas absorto então numa nova grande estratégia pessoal e partidária. Apoiar-se no Bloco de Esquerda, seria o mesmo que fuzilar o partido que Francisco Louçã tão pacientemente tricotou — ou seja, uma impossibilidade teórica e prática, por mais que alguns deslumbrados bloquistas mal consigam dormir de frenesim face às expectativas sedutoras de acesso ao poder. Se o Bloco recusar, como deve, qualquer caução a José Sócrates, apressará inexoravelmente a cisão do PS a seu favor, pois um Sócrates ao colo de Portas será uma autêntica via rápida para o surgimento dum novo partido socialista, com matriz bloquista, mas expandido muito para além do previsto e num tempo fulminante, graças à afluência em massa de socialistas cansados de esperar pelo empata Alegre. Mendigar votos a Manuela Ferreira Leite está também, obviamente, fora de causa. Q.E.D.

O desejo de governabilidade é legítimo e sensato. Neste caso, porém, tal desiderato implica uma profunda alteração do nosso panorama partidário. Até que este processo de verdadeira reforma orgânica da democracia se conclua, não vejo como possa haver uma saída airosa para o bloqueio evidente do socratintismo, que não passe, desejavelmente durante toda uma legislatura, por Manuela Ferreira Leite e Paulo Portas.


Post scriptum — Francisco Louçã deveria declarar quanto antes que o BE irá promover a governabilidade dinâmica do país se os eleitores e os demais partidos com assento parlamentar assim o desejarem. Esta governabilidade dinâmica deverá, no entanto, assentar numa redistribuição mais justa e qualificada da riqueza, do trabalho disponível e das dificuldades. Esta governabilidade dinâmica exige, por outro lado, um Estado e uma Administração Pública respeitadas e com meios de acção suficientes nos domínios cruciais para a mitigação e superação da gravíssima crise em curso: Economia&Finanças, Justiça, Saúde, Segurança Social e Educação. Isto é tudo menos, claro está, um cheque em branco ao PS de Sócrates!


Declaração pessoal de interesses

Já escrevi neste blogue mais de uma vez, e repito, que tenciono votar no Bloco de Esquerda para a Assembleia da República, no próximo dia 27 de Setembro; em António Capucho (PSD), para a Câmara Municipal de Cascais; e que me candidato pelo PS+Helena Roseta à Assembleia de Freguesia de São João de Brito. Contradição? Incoerência? Nem por isso!

Há certamente muita gente por este país fora que é capaz de fazer o mesmo. O que não é vulgar é assumir a coisa. Há um tabu, que os partidos políticos alimentam como se fossemos todos imbecis e não soubéssemos distinguir as subtilezas de uma votação com os seus contornos de classe mais ou menos oportunistas e diferenças ideológicas cada vez menos claras. Em vez de cair na armadilha do "voto útil" —suplicado pateticamente pelo PS e pelo PSD—, os portugueses estão rapidamente a adoptar a praxis alternativa do que resolvi chamar "voto inteligente". Esta é certamente uma arma poderosa para mudar positivamente o rumo da democracia portuguesa. Usemo-la, pois, com a determinação estratégica que merece.


OAM 623 20-09-2009 02:08 (última actualização: 10:24)

sábado, setembro 19, 2009

Energia Verde 2

Bolha solar rebenta em Espanha


Spain’s Solar-Power Collapse Dims Subsidy Model

By ANGEL GONZALEZ and KEITH JOHNSON (WST)

Spain’s hopes of becoming a world leader in solar power have collapsed since the Spanish government slammed the brakes on generous subsidies.

The sudden change has rippled across the global solar industry, in a warning of the problems that government-supported renewable-energy programs can encounter.

Valerá a pena insistir em projectos de microgeração subsidiada?

Não é possível rentabilizar um investimento em microgeração fotovoltaica ligada à rede em menos de 6 anos. Ora seis anos, no actual quadro de desorganização mundial da economia e sobretudo do sistema financeiro, é muito tempo! Os benefícios governamentais e fiscais estão por um fio. A recessão global e o imparável deslizamento do dólar americano fazem cair os preços reais do petróleo. O crescimento previsto dos consumos energético está posto em causa. O excessivo endividamento dos grandes fornecedores de energia eléctrica, seja na especulação bolsista, nas operações de crescimento por aquisição e fusão de empresas, ou nos investimentos colossais nas energias eólica e fotovoltaica, anuncia uma inflação dos preços da energia junto dos consumidores a curto e médio prazo. Como disse, com grande frieza, o presidente da Iberdrola, Ignacio Sánchez Galán, “a energia solar era um produto financeiro, não uma solução energética”. Numa palavra, o boom fotovoltaico acabou! — CS.


Comentário: por algum motivo Ricardo Salgado anda muito palavroso. Em suma, mais um fracasso redondo das engenharias financeiras e tecnológicas do senhor Sócrates e do ido e inenarrável Pinho. Como aqui temos vindo a repetir sem descanso, não há solução para a crise energética em perspectiva, mas tão só planos de contingência, programas de mitigação, e sobretudo uma nova atitude perante os recursos limitados da Terra, todos a começar pelos princípios que urge adoptar: eficiência energética, fim do consumismo e da especulação financeira, substituição do actual modelo de avaliação do progresso e da felicidade humana. O crescimento permanente acabou! — OAM.


OAM 622 19-09-2009 17:14