sexta-feira, dezembro 05, 2014

O sargento Costa atrasou-se

Foto©Tim Brakemeir/ EPA (img recortada)

Sócrates é um lastro demasiado pesado...


José Sócrates: "...sistema vive da cobardia dos políticos..." (carta manuscrita, da prisão para o Diário de Notícias, 4/12/2014)

António Guterres fez o que lhe competia como ex-PM socialista ao visitar José Sócrates na prisão: manifestar a sua solidariedade pessoal a um seu antecessor, discretamente e sem alarido ou recados.

Soares, Almeida Santos e Fernando Gomes, pelo contrário, passaram mensagens encriptadas para o exterior (suponho, claro), e certamente ouviram pedidos expressos de Sócrates (suponho, claro)

Mas o pior de tudo é o lamentável atraso do sargento Costa!

Quando é que esta criatura secundária percebe que deveria ter sido o primeiro 'socialista' a visitar o ex-PM e ex-SG do PS?

Quando é que esta criatura secundária percebe que só depois de visitar José Sócrates na prisão poderia ter anunciado a grande novidade em que ninguém acredita: separar o que é da política (i.e. dos partidos) do que é pessoal?

E agora, António Costa, quando é que vai visitar José Sócrates? Depois do Rui Rio?

O afundamento estrutural do PS ainda vai no adro.

Basta prestar atenção aos recados que vêm de Bruxelas e da OCDE:
“A Comissão Europeia quer que os tribunais portugueses apliquem penas mais pesadas aos suspeitos de corrupção. Ou seja: mais condenações em consequência das investigações e um registo de resultados comprovados em cada caso investigado pelas polícias e Ministério Público.”
DN, 4 de dezembro 2014.

As autoridades portuguesas deixaram passar em branco -- não conseguiram aplicar qualquer sanção relevante -- a todos os casos de suborno ou de corrupção internacional envolvendo decisores e agentes do sector público detetados entre 15 de fevereiro de 1999 e 1 de junho deste ano, acusa a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE).
Dinheiro Vivo 02/12/2014 | 14:20.

Já agora, convem recordar estes textos de Joaquim Vieira, que foi despedido da revista Grande Reportagem, da qual era diretor, na última semana de Outubro de 2005, na sequência do que então publicou.

—in Grande Reportagem 3, 10, 17, 24 de Setembro e 1 de Outubro de 2005

“O POLVO (1)

Com Soares, já não há moral para criticar Ferreira Torres, Isaltino, Valentim ou Felgueiras.

Além da brigada do reumático que é agora a sua comissão, outra faceta distingue esta candidatura de Mário Soares a Belém das anteriores: surge após a edição de Contos Proibidos – Memórias de Um PS Desconhecido (livro completo em PDF), do seu ex-companheiro de partido Rui Mateus. O livro, que noutra democracia europeia daria escândalo e inquérito judicial, veio a público nos últimos meses do segundo mandato presidencial de Soares e foi ignorado pelos poderes da República. 
Em síntese, que diz Mateus?

Que, após ganhar as primeiras presidenciais, em 1986, Soares fundou com alguns amigos políticos um grupo empresarial destinado a usar os fundos financeiros remanescentes da campanha.

Que a esse grupo competia canalizar apoios monetários antes dirigidos ao PS, tanto mais que Soares detestava quem lhe sucedeu no partido, Vítor Constâncio (um anti-soarista), e procurava uma dócil alternativa a essa liderança.

Que um dos objectivos da recolha de dinheiros era financiar a reeleição de Soares.

Que, não podendo presidir ao grupo por razões óbvias, Soares colocou os amigos como testas-de-ferro, embora reunisse amiúde com eles para orientar a estratégia das empresas, tanto em Belém como nas suas residências particulares.

Que, no exercício do seu «magistério de influência» (palavras suas, noutro contexto), convocou alguns magnatas internacionais – Rupert Murdoch, Silvio Berlusconi, Robert Maxwell e Stanley Ho – para o visitarem na Presidência da República e se associarem ao grupo, a troco de avultadas quantias que pagariam para facilitação dos seus investimentos em Portugal.

Note-se que o «Presidente de todos os portugueses» não convidou os empresários a investir na economia nacional, mas apenas no seu grupo, apesar de os contribuintes suportarem despesas da estada. Que moral tem um país para criticar Avelino Ferreira Torres, Isaltino Morais, Valentim Loureiro ou Fátima Felgueiras se acha normal uma candidatura presidencial manchada por estas revelações? E que foi feito dos negócios do Presidente Soares? Pela relevância do tema, ficará para próximo desenvolvimento.

O POLVO (2)

A ética política é um valor permanente, e as suas violações não prescrevem.

A rede de negócios que Soares dirigiu enquanto Presidente (ver esta coluna na anterior GR) foi sedeada na empresa Emaudio, agrupando um núcleo de próximos seus, dos quais António Almeida Santos, eterna ponte entre política e vida económica, Carlos Melancia, seu ex-ministro, e o próprio filho, João.

A figura central era Rui Mateus, que detinha 60 mil acções da Fundação de Relações Internacionais (subtraída por Soares à influência do PS após abandonar a sua liderança), as quais eram do Presidente mas de que fizera o outro fiel depositário na sua permanência em Belém – relata Mateus em Contos Proibidos.

Soares controlaria assim a Emaudio pelo seu principal testa-de-ferro no grupoempresarial. Diz Mateus que o Presidente queria investir nos media: daí o convite inicial para Silvio Berlusconi (o grande senhor da TV italiana, mas ainda longe de conquistar o governo) visitar Belém. Acordou-se a sua entrada com 40% numa empresa em que o grupo de Soares reteria o resto, mas tudo se gorou por divergências no investimento.

Soares tentou então a sorte com Rupert Murdoch, que chegou a Lisboa munido de um memorando interno sobre a sua associação a «amigos íntimos e apoiantes do Presidente Soares», com vista a «garantir o controlo de interesses nos media favoráveis ao Presidente Soares e, assumimos, apoiar a sua reeleição».

Interpôs-se porém outro magnata, Robert Maxwell, arqui-rival de Murdoch, que invocou em Belém credenciais socialistas. Soares daria ordem para se fazer o negócio com este. O empresário inglês passou a enviar à Emaudio 30 mil euros mensais. Apesar de os projectos tardarem, a equipa de Soares garantira o seu «mensalão».

Só há quatro anos foi criminalizado o tráfico de influências em Portugal, com a adesão à Convenção Penal Europeia contra a Corrupção. Mas a ética política é um valor permanente, e as suas violações não prescrevem. Daí a actualidade destes factos, com a recandidatura de Soares. O então Presidente ficaria aliás nervoso com a entrada em cena das autoridades judiciais - episódio a merecer análise própria.

O POLVO (3)

A empresa Emaudio, dirigida na sombra pelo Presidente Soares, arrancou pouco após a sua eleição (ver esta coluna na anterior GR) e, segundo Rui Mateus em Contos Proibidos, contava «com muitas dezenas de milhares de contos ‘oferecidos’ por [Robert] Maxwell (...), consideráveis verbas oriundas do ‘ex-MASP’ e uma importante contribuição de uma empresa próxima de Almeida Santos».

Ao nomear governador de Macau um homem da Emaudio, Carlos Melancia, Soares permite juntar no território administração pública e negócios privados. Acena-se a Maxwell a entrega da estação pública de TV local, com a promessa de fabulosas receitas  publicitárias. Mas, face a dificuldades técnicas, o inglês, tido por Mateus como «um dos grandes vigaristas internacionais», recua. O esquema vem a público, e Soares acusa os gestores da Emaudio de lhe causarem perda de popularidade, anuncia-lhes alterações ao projecto e exige a Mateus as acções de que é depositário e permitem controlar a empresa.

O testa-de-ferro, fiel soarista, será cilindrado – tal como há semanas sucedeu noutro contexto a Manuel Alegre. Mas antes resiste, recusando devolver as acções e emperrando a reformulação do negócio. E, quando uma empresa alemã reclama por não ter contrapartida dos 50 mil contos (250 mil euros) pagos para obter um contrato na construção do novo aeroporto de Macau, Mateus propõe o envio de um fax a Melancia exigindo a devolução da verba. O governador cala-se. Almeida Santos leva a mensagem a Soares, que também se cala.

Então Mateus dá o documento a O Independente, daqui nascendo o «escândalo do fax de Macau». Em plena visita de Estado a Marrocos, ao saber que o Ministério Público está a revistar a sede da Emaudio, o Presidente envia de urgência a Lisboa Almeida Santos (membro da sua comitiva) para minimizar os estragos. Mas o processo é inevitável. Se Melancia acaba absolvido, Mateus e colegas são condenados como corruptores. Uma das revelações mais curiosas do seu livro é que o suborno (sob o eufemismo de «dávida política») não se destinou de facto a Melancia mas «à Emaudio ou a quem o Presidente da República decidisse». Quem, afinal, devia ser réu?

O POLVO (4)

Ao investigar o caso de corrupção na base do «fax de Macau» (ver esta coluna na anterior edição), o Ministério Público entreviu a dimensão da rede de negócios então dirigida pelo presidente Soares desde Belém. A investigação foi encabeçada por António Rodrigues Maximiano, procurador-geral adjunto da República, que a dada altura se confrontou com a eventualidade de inquirir o próprio Soares. Questão demasiado sensível, que Maximiano colocou ao então procurador-geral da República, Narciso da Cunha Rodrigues. Dar esse passo era abrir a caixa de Pandora, implicando uma investigação ao financiamento dos partidos políticos, não só do PS mas também do PSD – há quase uma década repartindo os governos entre si. A previsão era catastrófica: operação «mãos limpas» à italiana, colapso do regime, república dos juízes.

Cunha Rodrigues, envolvido em conciliábulos com Soares em Belém, optou pela versão mínima: deixar de fora o Presidente e limitar o caso a apurar se o governador de Macau, Carlos Melancia, recebera um suborno de 250 mil euros.

Entretanto, já Robert Maxwell abandonara a parceria com o grupo empresarial de Soares, explicando a decisão em carta ao próprio Presidente.

Mas logo a seguir surge Stanley Ho a querer associar-se ao grupo soarista, intenção que, segundo relata Rui Mateus em Contos Proibidos, o magnata dos casinos de Macau lhe comunica «após consulta ao Presidente da República, que ele sintomaticamente apelida de boss.»

Só que Mateus cai em desgraça, e Ho negociará o seu apoio com o próprio Soares, durante uma «presidência aberta» que este efectua na Guarda. Acrescenta Mateus no livro que o grupo de Soares queria ligar-se a Ho e à Interfina (uma empresa portuguesa arregimentada por Almeida Santos) no gigantesco projecto de assoreamento e desenvolvimento urbanístico da baía da Praia Grande, em Macau, lançado ainda por Melancia, e onde estavam «previstos lucros de alguns milhões de contos». Com estas operações, esclarece ainda Mateus, o presidente fortalecia uma nova instituição: a Fundação Mário Soares. Inverosímil? Nada foi desmentido pelos envolvidos, nem nunca

O POLVO (CONCLUSÃO)

O anúncio da recandidatura de Soares veio acordar velhos fantasmas.

As revelações de Rui Mateus sobre os negócios do Presidente Soares, em Contos Proibidos (ver anteriores edições desta coluna), tiveram impacto político nulo e nenhuns efeitos. Em vez de investigar práticas porventura ilícitas de um chefe de Estado, os jornalistas preferiram crucificar o autor pela «traição» a Soares (uma tese académica elaborada depois por Edite Estrela, ex-assessora de imprensa em Belém, revelou as estratégias de sedução do Presidente sobre uma comunicação social que sempre o tratou com indulgência).

Da parte dos soaristas, imperou a lei do silêncio: comentar o tema era dar o flanco a uma fragilidade imprevisível. Quando o livro saiu, a RTP procurou um dos visados para um frente-a-frente com Mateus – todos recusaram.

A omertà mantém-se: o desejo dos apoiantes de Soares é varrer para debaixo do tapete esta história (i)moral da III República, e o próprio, se interrogado sobre o assunto, dirá que não fala sobre minudências, mas sobre os grandes problemas da nação.

Com a questão esquecida, Soares terminaria em glória uma histórica carreira pública, mas o anúncio da sua recandidatura veio acordar velhos fantasmas. O mandatário, Vasco Vieira de Almeida, foi o autor do acordo entre a Emaudio e Robert Maxwell. Na cerimónia do Altis, viam--se figuras centrais dos negócios soaristas, como Almeida Santos ou Ilídio Pinho, que o Presidente fizera aliar a Maxwell.

Dos notáveis próximos da candidatura do «pai da pátria», há também homens da administração de Macau sob tutela de Soares, como António Vitorino e Jorge Coe-lho, actuais eminências pardas do PS, ou Carlos Monjardino, conselheiro para a gestão dos fundos soaristas e presidente de uma fundação formada com dinheiros de Stanley Ho.

Outros ex-«macaenses» influentes são o ministro da Justiça, Alberto Costa, que, como director do Gabinete de Justiça do território, interveio para minorar os estragos de um caso judicial que destapou as ligações entre o soarismo e a Emaudio, ou o presidente da CGD por nomeação de Sócrates, Santos Ferreira, que o governador Melancia pôs à frente das obras do aeroporto de Macau.

Será o polvo apenas uma bela teoria da conspiração?”

E por fim, para compensar a visão soturna sobre Mário Soares e o PS que resulta da transcrição anterior, aqui fica o link para uma entrevista babada de Clara Ferreira Alves: Mário Soares. “Sou o gajo que lhes atira mais às trombas”Expresso.

PARECE QUE O COSTA LEU O ANTÓNIO MARIA!


Tendo ou não lido este post (publicado às 15:17 do dia 5 de dezembro), o spin doctor de António Costa apressou-se a dizer à criatura que tinha que acrescentar qualquer coisinha ao Expresso: sim, claro, que vou visitar o Sócrates— no Natal!

Mas a verdade é esta: o ex-sargento de José Sócrates foi literalmente descalçado por Mário Soares e por António Guterres, que fizeram o que deviam ter feito em termos pessoais e institucionais, presumida que é a inocência do agora desgraçado ex-primeiro ministro. Quanto ao surfista de águas paradas António Costa, está confirmado o óbvio: intuição política = ZERO!

  • Costa visita Sócrates nas férias de Natal Expresso, 6/12/2014 
  • "Hei-de ir durante as férias de Natal. Com certeza que irei", disse António Costa, ao Expresso, acrescentando que "só me ficaria mal se não fosse" — Observador, 6/12/2015, 10:33 
  • António Costa vai visitar o ex-primeiro ministro José Sócrates nas férias de Natal. A visita será a titulo pessoal e segundo o jornal Expresso está marcada para as próximas semanas. — SIC, 6/12/2014, 14:50.


Atualização: 7 dezembro 2014, 11:11 WET

quinta-feira, dezembro 04, 2014

Regulação bancária ditou a sorte do BES



Governo e Banco de Portugal limitaram-se a seguir o novo guião mundial da supervisão bancária


Tudo o resto, incluindo a comédia do inquérito ao colapso do BES, não passa de dinheiro dos contribuintes deitado à rua pelo imprestável bando partidário que há décadas alimentamos com perdizes, ostras e champagne no recreio a que chamamos Assembleia da República. Pelos vistos a predileção das criaturas que habitam aquelas carteiras não passa de futebol e meninas avantajadas!

Entretanto, bem mais importante do que o que pensa ou deixa de pensar o Bloco de Esquerda ou o socratino PS, é a leitura deste sucinto relatório do Boston Consulting Group sobre o momento de recuperação da atividade bancária, que começa a apresentar lucros em todo o planeta salvo na Europa. Veremos o que Mário Draghi nos reserva para amanhã, quinta-feira, no BCE.

A questão da regulação e do aumento dos níveis de transparência parece um dado adquirido que a banca ou incorpora a bem, ou a mal, i.e. aumentando desmesuradamente as suas faturas com litigâncias e advogados, ou mesmo, no limite, perdendo os bancos para a concorrência, como sucedeu ao Grupo BES.

Gostei de ouvir esta noite na TVI o líder do Novo Banco, Eduardo Stock da Cunha. Assertivo, seguro de si, ágil, otimista e civilizado, o oposto, portanto, da maioria dos australopithecos que têm estado a gerir o sistema financeiro indígena.

Foi importante ouvir, pela primeira vez, alguém reconhecer o óbvio, i.e. que o sistema bancário português está sob apertadíssima vigilância do BCE, quer dizer, que nada do que é essencial se faz sem autorização deste.

O que poderia ser uma coisa má e humilhante, no caso vertente é uma coisa boa e provavelmente a única que evitará cairmos na indigência completa que os senhores Jorge Sampaio, António Costa e outras araras socialistas, estalinistas, maoistas e trotsquistas certamente gostariam de ver em Portugal, mesmo depois de todo o mal que fizeram ou deixaram fazer.




Do relatório:

The new era in banking is characterized by a rigorous enforcement of sanctions. As of September 2014, the cumulative litigation costs for EU and U.S. banks since the onset of the financial crisis has reached some $178 billion.

Most of the costs originated with U.S. regulators' mortgage-related claims, and the remaining litigation costs are divided among claims focused on misselling, violations of U.S. sanctions, improper conduct, market manipulation, tax evasion and misrepresentation. Litigation costs of banks headquartered in the U.S. leapt higher in 2011, driven by mortgage-related claims, which continue to dominate. EU bank costs were kick-started in 2012, beginning with redress payments for misselling payment protection insurance in the UK, followed by market manipulation issues-for example, those related to the London Interbank Offered Rate scandal-as well as improper-conduct litigation, such as anti-money-laundering cases.

The current wave of litigation cases has not yet been settled, and potential-still hidden-litigation risks are substantial. Meanwhile, regulators have shifted their view toward more unified and sanction-based supervision, adopting regulations with a stronger focus on business conduct.

All of these developments reflect the persistent character and future burden of litigation-a new cost of doing business.

Global Risk 2014-2015
BUILDING THE TRANSPARENT BANK
The Boston Consulting Group
PDF

terça-feira, dezembro 02, 2014

Que fazer depois desta democracia?

Kleroterion — sistema de seleção aleatória dos representaes da democracia em Atenas

Os partidos instalados são o problema mais sério do regime 


A crise democrática em Portugal degenerou numa gangrena que em breve atingirá o coração do regime, quero dizer, a liberdade.

Portugal, a Europa ocidental e os Estados Unidos, os ditos países emergentes, em suma, o mundo inteiro está confrontado com a imposição objetiva de um novo paradigma energético, demográfico, cognitivo, tecnológico, económico, social e cultural que nada tem que ver com aquele que, pelo menos no Ocidente, conhecemos durante os últimos duzentos anos, mas que neste momento começa a desabar em cima de todos nós.

As erupções e as implosões mais espectaculares e catastróficas encontram-se, porém, à nossa frente, contrariando o mal disfarçado otimismo dos múltiplos centros de poder e decisão incapazes de lidar com a crise sistémica em curso.

Não vale pois a pena alimentar as discussões indígenas como se fossem pérolas nossas, da responsabilidade do partido laranja, ou do partido cor-de-rosa, ou dos sem-vergonha que entopem os canais de televisão.

A corja rendeira e devorista, bem como o rotativismo partidário do regime, são certamente responsáveis pelo grau de degradação e corrupção das nossas instituições, pela destruição aceleradíssima das classes médias, e pela pobreza quase inacreditável de mais de 80% da população portuguesa — praticamente ignorada até ao início deste século.

Mas não tenhamos ilusões, a gravidade estrutural desta situação é ainda mais vasta do que a da mediocridade do nosso país.

Ou seja, sem prejuízo da condenação e castigo que a nomenclatura que rapou Portugal das suas reservas materiais e morais merecem, é preciso imaginar o futuro numa geografia muito mais ampla (de facto, global) e num quadro conceptual partilhado, bem informado, racional, profundo e sistemático.

Temos que abandonar o partidarismo oportunista, cuja similitude com o clubismo futebolístico dá bem a medida da miséria civilizacional e cultural a que chegámos. Não é só no futebol que o país desceu por inteiro à terceira divisão. Na política também!

Portugal já perdeu o essencial da sua autonomia financeira e económica.

Os principais bancos que operam no nosso país já não pertencem à burguesia portuguesa. O mesmo será em breve verdade para as principais empresas. Um país assim indigente é cada vez mais uma espécie de região autónoma sem autonomia, da Europa e do mundo. Por esta circunstância é irrelevante saber que partido, dos que hoje existem, está no poder. O rotativismo é uma farsa democrática, agravada agora pelo facto de o bolo orçamental estar a encolher a uma velocidade assustadora, sobretudo para quem dele fez sua fonte primeira de abundância e poder pessoal ou tribal.

As alternativas partidárias que entretanto apareceram são incipientes.

Ou não têm uma voz clara e credível, ou dão sinais de um populismo requentado que a poucos seduz. É pois improvável que não consigam conquistar a atenção da cidadania e, por outro lado, dificilmente arrancarão votos aos que vivem, de uma maneira ou doutra, das migalhas distribuídas pela partidocracia vigente.

A abstenção ativa nas próximas eleições continuará a ser provavelmente o sintoma mais claro da crise profunda que atravessamos. Se assim for, estarão criadas as condições para a emergência consistente de uma região cognitiva e cultural na sociedade portuguesa predisposta a discutir um plano de salvação da liberdade e racionalização do futuro, pois a democracia que conhecemos está a ir pelo cano de esgoto abaixo, ao fim de 40 anos de ilusão.

O diagrama com que fecho este post é a súmula da revolução por fazer.

A Maria Luís recusou? Ganda ministra! Um beijinho daqui, do António Maria :)


Conversa fiada dum submarino do Cavaco no BES!


De acordo com o então CEO do Banco Espírito Santo, o encontro com Maria Luís Albuquerque serviu para saber se o Governo estaria disposto a adiantar um financiamento provisório ao banco, para superar a fase mais difícil do impacto da divulgação das contas do primeiro semestre. No plano adiantado por Vítor Bento, essa verba seria depois substituída por capital privado. Mas a ministra recusou.

O ex-presidente do Novo Banco, Vítor Bento, diz que foi "surpreendido" com a aplicação da medida da resolução do BES e que "não houve tempo" para saber se haveria investidores privados interessados em investir no banco.

Ler mais no JN

O destino fatal do BES começou quando recusou abrir os seus livros ao Banco de Portugal, e entrou na rampa do cadafalso no dia em que o Luxemburgo iniciou um processo de investigação judicial sobre o grupo, culminando com o telefonema do Draghi, ou de alguém por ele, a explicar ao pobre Carlos Costa que não podia anunciar a Resolução do BES antes das 00:00 do dia 4 de agosto — segunda-feira, por motivos óbvios, mas que até hoje, nem o governador do Banco de Portugal, nem a maioria dos ministros, nem as cagarras do parlamento entenderam. O motivo era, afinal, simples: sem a publicação da legislação sobre o Mecanismo Único de Resolução bancária, aprovada in extremis no dia 15 de julho de 2014 pelo parlamento europeu, no Jornal Oficial da União Europeia, facto que só se verificaria no dia 4 de agosto, não haveria, pura e simplesmente, mecanismo para invocar!

Foi por isto que a célebre conferência de imprensa do Governador do Banco de Portugal, anunciada para o dia 3 às 20:30, escorregou para as 22:30, mas só viria a começar às 23:15 do dia 3 de agosto, em Lisboa, ou seja, às 00:15 do dia 4 de agosto, em Bruxelas e Frankfurt. Capiche?
Entretanto, o inquérito ao BES não passa de mais uma fantochada para indígena ver, e pagar, claro.

Quanto às ajudas do fundo de capitalização bancária ao BES, foi Ricardo Salgado que as recusou e por motivos óbvios, como a seu tempo identificámos: não queria que se soubesse o que viemos todos a saber depois e determinou o fim de um dos principais alicerces (podre, é certo) do sistema financeiro português.

Ricardo Slagado fez tudo para sacar a massa de que precisava para tentar tapar um buraco negro sem fundo. Até convocou um Conselho de Estado para o efeito! Em desespero de causa, embora tarde demais, exigiu aos seus rapazes da Portugal Telecom (Granadeiro e Bava) a renovação do empréstimo da Rio Forte à PT, no montante de 900 milhões de euros — ou até a conversão desta em capital da PT. O resultado é também o que se conhece: o colapso e alienação forçada da PT pelo melhor preço.

O Professor Pardal, perdão, Marcelo, e todas as restantes aves canoras dos médias asseguraram, a mãos e pés juntos, que o sistema bancário português era um dos mais sólidos da Europa. Era, não foi? Já alguém ouviu algum dos opinocratas que venderam o prestígio e fiabilidade dos nossos bancos aos indígenas pedir desculpa pela péssima avaliação que fizeram? Então porque andam todos a chater o governo? Esta corja de rendeiros e devoristas chegou felizmente ao fim do seu prazo de validade. O que virá depois não sabemos, mas pior é impossível.

Triste e indigente é a forma como a imprensa continua a vender as ilusões deste poder corrupto, falido e que já não manda nada no que é essencial nas nossas finanças e na nossa economia.

sábado, novembro 29, 2014

EDP e GALP, as próximas vítimas

A corrida ao ouro acelera, mas o stock é limitado!

Dívida > monetização > reflação > + dívida > deflação > depressão :(


Federal Reserve Confirms Biggest Foreign Gold Withdrawal In Over Ten YearsZeroHedge, 29 nov 2014
Gold To Start Week With Swiss Referendum, End With U.S. PayrollsForbes, 28 nov 2014

OPEC Presents: QE4 and DeflationThe Automatic Earth, 28 nov 2014 (1)

Special Report: Why Italy's stay-home shoppers terrify the euro zoneReuters, 28 nov 2014 (2)

O Referendo suíço sobre o regresso ao padrão ouro e à prudência monetária que terá lugar este domingo (30-11-2014) e cujo resultado poderá, se for um NÃO (como apontam as sondagens), sancionar de vez o monetização suicida das economias europeias e americana, em benefício dos países emergentes e sobretudo da China, assenta em três ideias:
  1. o Banco Nacional Suíço deixará de vender ouro; 
  2. o ouro soberano da Suíça deverá ser armazenado na Suíça; 
  3. o Banco Nacional Suíço deverá manter pelo menos 20% dos seus ativos em ouro.
Entretanto, Alemanha, Holanda e outros países cuidam das suas reservas de ouro, chamando para o seu território as toneladas eventualmente guardadas em cofres outrora confiáveis.

Por fim, e ao contrário da verborreia populista da esquerda desmiolada e oportunista que temos, o que temos pela frente é a continuação do declínio económico e social e mais défice.

A queda de preços, nomeadamente da energia, com impacto positivo no turismo, a par da ilusão de abrandamento da crise, são alívios psicológicos temporários. Só mesmo o QREN 2014-2020 e o EQE (European Quantitative Easing) prometido por Draghi poderão lançar uma bóia de salvação ao governo em funções, no que resta deste ano e no quadriénio 2015-2019, independentemente de quem governar.

A crise intestina no PS e no resto da 'esquerda', ao contrário do que alguns querem crer, são péssimos argumentos a favor de António Costa e do sonhado regresso da 'esquerda' ao governo em 2015. A menos que a nossa incompetente, insensível e oportunista casta partidária acorde e perceba de uma vez por todas que terá que acelerar o seu pensamento político, para perceber a gravidade da situação em que nos encontramos, e agir de acordo com a excecionalidade que a situação exige, o que aí vem será bem pior do que o que já conhecemos e estamos a sofrer na carne.

Mas como podemos estar enganados, fechamos com uma nota de boa disposição ;)

Se o petróleo acabar, nomeadamente porque abaixo de 50 dólares o barril não haverá forma de ganhar dinheiro com a sua exploração, cada vez mais dispendiosa, a solução é esta: regressar aos computadores movidos a água!




NOTAS

  1. OPEC Presents: QE4 and Deflation — The Automatic Earth, 28 nov 2014

    Thinking plummeting oil prices are good for the economy is a mistake. They instead, as I said only yesterday in The Price Of Oil Exposes The True State Of The Economy, point out how bad the global economy is doing. QE has been able to inflate stock prices way beyond anything remotely looking fundamental, but energy prices have now deflated instead of stocks. Something had to give at some point. Turns out, central banks weren’t able to inflate oil prices on top of everything else. Stocks and bonds are much easier to artificially inflate than commodities are.

    The Fed and ECB and BOJ and PBoC may of course yet try to invest in oil, they’re easily crazy enough to try, but it will be too late even if they did. In that sense, one might argue that OPEC – or rather Saudi Arabia – has gifted us QE4, but the blessings of the ‘low oil price stimulus’ will of necessity be both mixed and short-lived. Because while the lower prices may free some money for consumers, not nearly all of the freed up ‘spending space’ will end up actually being spent. So in the end that’s a net loss as far as spending goes.

    The ‘OPEC Q4′ may also keep some companies from going belly up for a while longer due to falling energy costs, but the flipside is many other companies will go bust because of the lower prices, first among them energy industry firms.

    [...]

    You can’t force people to spend, not if you’re a government, not if you’re a central bank. And if you try regardless, chances are you wind up scaring people into even less spending. That’s the perfect picture of Japan right there. There’s no such thing as central bank omnipotence, and this is where that shows maybe more than anywhere else. And if you can’t force people to spend, you can’t create growth either, so that myth is thrown out with the same bathwater in one fell swoop.

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  2. Special Report: Why Italy's stay-home shoppers terrify the euro zone — Reuters, 28 nov 2014

    (Reuters) - "Three for the price of two" used to be the most common special offer in Giorgio Santambrogio's supermarket chains. It has barely been used this year. The reason explains why efforts to resuscitate Italy's moribund economy are failing.

    "People aren't stocking up because they know prices will be lower in a month's time," says Santambrogio, chief executive of Vege, a Milan-based association covering 1,500 supermarkets and specialist stores. "Shoppers are demanding steeper and steeper discounts."

    Italy is stuck in a rut of diminishing expectations. Numbed by years of wage freezes, and skeptical the government can improve their economic fortunes, Italians are hoarding what money they have and cutting back on basic purchases, from detergent to windows.

    Weak demand has led companies to lower prices in the hope of luring people back into shops. This summer, consumer prices in Italy fell on a year-on-year basis for the first time in a half-century, and they have barely picked up since. Falling prices eat into company profits and lead to pay cuts and job losses, further depressing demand. The result: Italy is being sucked into a deflationary spiral similar to the one that has afflicted Japan's economy for much of the past two decades.

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sexta-feira, novembro 28, 2014

Na Avenida Presidente Wilson

Avenue du Président-Wilson, Paris

Sonho presidencial e bancos podres, o tsunami soma e segue


“Faço um desmentido formal de que tenha havido qualquer decisão antes de dia 1 ao inicio da tarde”; “Eu não posso decidir algo e ser desmentido pelos meus colegas governadores...”

— in "Carlos Costa reafirma que resolução do BES só arrancou a 1 de agosto", Expresso, 8 outubro 2014, 9:36.

A aceleração do colapso deste regime começou, como escrevemos oportunamente (1), quando o BES foi alvo de uma investigação judicial decisiva no Luxemburgo, a qual rapidamente alastrou à Suíça, França, Estados Unidos, etc., tendo desencadeado ao mesmo tempo um plano de ação urgente por parte do BCE, o qual envolveu a aceleração do processo legislativo comunitário relativo ao Mecanismo Único de Resolução (SRM), sem o qual Carlos Costa, ou seja o Banco de Portugal, não teria podido intervir decisivamente como acabaria por intervir às 23:15 do dia 3 de agosto —00:15 do dia 4 em Bruxelas e Frankfurt (2). Uma repetição do que se passara em Chipre estava fora de causa.

Quem se der ao trabalho de ler o que diz a legislação europeia sobre a entrada em vigor dos seus documentos legais e em particular do Single Resolution Mechanism (3) —coisa que a maioria dos nossos deputados e a imprensa em geral ainda não fez— perceberá que só a 4 de agosto de 2014, se cumpria o prazo mínimo de 20 dias necessários ao SRM ter alguma validade legal. Tudo o resto é barulheira populista.

A importância das instituições portuguesas nesta precipitação do colapso é acessória, ou melhor, coadjuvante e arrastada pela pressão externa. Basta ver o comportamento das autoridades locais a este respeito. Governo, Parlamento, Banco de Portugal e Presidência da República foram empurrados para a ação judicial, única e exclusivamente, por pressão da Troika, dos tribunais de outros países e pelo BCE. As investigações e processos judiciais em curso no nosso país foram sucessivamente travados politicamente ao mais alto nível pela corja partidária, rendeira e devorista que capturou o estado, o sistema financeiro e o país.

Abertas, porém, as comportas do dique da corrupção, o tsunami não deixará de inundar o país, afogando uma parte dos seus protagonistas.

Como refere Rui Rodrigues,
“Há várias décadas que a Suíça é acusada de acolher fortunas que escapam ao fisco nos seus países de origem e de não cooperar com as autoridades fiscais desses Estados como forma de tornar mais atrativa a atividade do seu sistema bancário. Mas, nos últimos anos, para além da pressão sobre a autoridade política, o país viu também muitos dos seus bancos começarem a ser investigados por governos estrangeiros. A UBS será o grupo que mais escândalos protagonizou. Nos Estados Unidos, a UBS já foi multada em cerca de 800 milhões de euros por ter apoiado esquemas de fraude e evasão fiscal e, em França, foi obrigada a depositar uma caução milionária no âmbito de uma acção similar.

Em Abril de 2009, a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) incluiu a Suíça numa lista negra de paraísos fiscais não cooperativos, lista que o país conseguiu deixar uns meses mais tarde após assinar 12 acordos bilaterais de troca de informação fiscal, o limiar necessário para ser retirado da lista negra. Mas organizações como a Tax Justice Network insistem que os critérios usados pela OCDE para elaborar a lista negra são “inadequados e ineficazes”.”


NOTAS
  1. BES: o golpe de coelho veio de Frankfurt” — OAM 
  2. Comunicado do Banco de Portugal sobre a aplicação de medida de resolução ao Banco Espírito Santo, S.A. 
  3. Single Resolution Mechanism (SRM)

Atualização: 29 nov 2014 19:51 WET

Tempo de mandar calar os DDT

Jane Fonda e Michael Sarrazin em They Shoot Horses, Don't They? (1969)

Não confundir os criminosos com os 'humilhados' é uma tarefa essencial 


Um povo que assiste à tragédia de um país, o seu, sobre endividado, corrupto até à medula dos mais altos dirigentes partidários e económico-financeiros, que empobrece a uma velocidade assustadora, que tolera a escravatura dissimulada que adia criminosamente a imprescindível reforma do estado, e que vê emigrar os seus cidadãos às centenas de milhar, não pode perder tempo com as manobras das tríades de piratas que capturaram parcialmente o país. Tem que se revoltar e exigir uma democracia menos cara, mais transparente e sobretudo mais justa. E é tempo de mandar calar os DDT!

Abater um cavalo doente e esfomeado é um ato de misericórdia. Empurrar milhões de portugueses para a emigração, o empobrecimento sistémico e a morte é um crime intolerável e os seus responsáveis devem ser chamados a responder pelas ações praticadas. O país não pode morrer às mãos da corrupção e da indigência partidárias.

“Se as pessoas não têm dinheiro para manter os seus cavalos, então deveria ser criada uma organização social (ou programa de abate) devidamente financiada. E a polícia ou autoridades precisam de ser capazes de apreender os animais se estes não são bem tratados”.

Susan Clark, advogada inglesa, à agência Lusa/ Jornal i
Motif de cette détention inédite : «fraude fiscale» et surtout «corruption» et «blanchiment de capitaux». Le montant des sommes qu’aurait détournées Socrates n’est pas connu, mais la presse nationale parle de dizaines de millions. Depuis environ un an, la brigade financière portugaise, la DCIAP s’était étonnée de son train de vie à Paris, où il réside : un appartement de 2,8 millions d’euros, la fréquentation de restaurants de luxe… Des écoutes téléphoniques auraient fait le reste.

Sócrates, la chute d’un «opportuniste sans idéologie»
François MUSSEAU MADRID, de notre correspondant 26 novembre 2014 à 14:59, Libération
Ricardo Salgado e restante administração do Banco Espírito Santo (BES) são os alvos de uma megaoperação da Polícia Judiciária que decorreu esta quinta-feira, apurou o Correio da Manhã, com buscas às residências dos visados, a bancos, escritórios e à sede do Grupo, em Lisboa. O juiz Carlos Alexandre acompanhou as buscas na sede da instituição bancária que agora tem o nome de Novo Banco.

[...]

“Nas investigações, relacionadas com o denominado universo Espírito Santo, estão em causa suspeitas dos crimes de burla qualificada, abuso de confiança, falsificação de documentos, branqueamento de capitais e fraude fiscal”, refere uma nota da Procuradoria-Geral da República (PGR). A PGR adianta que, no âmbito de investigações, dirigidas pelo Ministério Público, realizam-se durante esta quinta-feira várias diligências, designadamente 34 buscas domiciliárias, uma a um advogado e seis buscas a entidades relacionadas com o exercício da atividade financeira.

Salgado alvo de buscas por crimes no BES — Já terminaram as 41 buscas da Operação da Unidade de Combate à Corrupção da PJ “ao universo Espírito Santo”. Correio da Manhã, 27.11.2014  09:50.

quinta-feira, novembro 27, 2014

Ó senhor juiz, desapareça!

Um almoço sobre livros e viagens, claro!

José Sócrates: “Este processo é comigo e só comigo. Qualquer envolvimento do Partido Socialista só me prejudicaria, prejudicaria o Partido e prejudicaria a Democracia.”


A propósito da suposta humilhação de Sócrates

Humilhados são as centenas de milhar de portugueses que tiveram que emigrar durante a era Sócrates e depois dela (claro), e os que não tendo ainda emigrado andam na sopa dos pobres a que chamam segurança social, subsídio de desemprego com apresentações periódicas e pseudo formação profissional, rendimento de inserção social com obrigação de prestação de trabalho não remunerado, ou que, no caso dos funcionários e trabalhadores da Administração Pública, aguardam no matadouro do INA o fim compulsivo e sem indemnização dos seus vínculos ao Estado, em contraste com a vida faustosa de um ex-primeiro ministro que nunca teve profissão certa, nem qualificações profissionais que não fossem uma indecência que envergonha qualquer cidadão de um país civilizado.

As figuras públicas e mediáticas, como Sócrates ou Ricardo Salgado, Duarte Lima, Armando Vara, Isaltino de Morais, Carlos Cruz, etc., sabem o que são, o que querem e procuram, e ao que se sujeitam. Quem não quer ser lobo...

Como se sabe também, as fugas de informação e as infrações ao segredo de justiça são um campo de batalha onde se misturam todos os protagonistas: investigadores, investigados, procuradores, juízes, advogados, políticos e jornalistas. Exemplo: quando Sócrates chamou Pinto Monteiro para conversar sobre livros e viagens durante um almoço num dos mais caros restaurantes de Lisboa, nas vésperas de ser preso, de que falaram realmente? De livros e de viagens? É tempo de acabar com a arrogância de julgar que todos portugueses que não fazem parte da nomenclatura são pobres de espírito.

Ainda sobre o segredo de justiça

Quem faz as leis não são os juízes, mas os deputados. Será que as indignadas Isabel Moreira, Constança Cunha e Sá e Clara Ferreira Alves ignoram este detalhe? E senhor Miguel que sabe tudo, também ignora esta trivialidade?

Reitero ainda a propósito desta espécie de indignados, que as declarações de Marinho e Pinto foram declarações de um Bastonário corporativo, e não de um candidato a líder partidário e primeiro ministro. Se continuar por esta via não irá longe, até porque a telenovela Marquês de Maçada vai continuar. Como o próprio ditou: "Este processo só agora começou."

Mais avisados foram, ao que parece, António Costa e o PS, que já mandaram calar, via Sócrates, Mário Soares. É que se continuam a misturar o processo contra Sócrates com o PS, e a insultar magistrados, teremos em breve uma investigação em profundidade ao próprio PS. Capiche?

Há muitos anos vivi e gostava de fazer pesca submarina ao largo da Praia da Matiota, em São Vicente de Cabo Verde. Quando não havia carrascos (ou cavacos), nem lagostas, nem garoupas azuis por perto, íamos aos polvos e às moreias que frequentavam os mesmos buracos e grutas. A caça da moreia era um safari duro, pois a sua agressividade e resistência aos arpões era enorme. Já para os polvos, uma vez desimpedidas as entradas das grutas, bastava um aguilhão comprido para os caçar. Era porém raro apanhar um polvo com as oito patas previstas na sua anatomia: 7, 6, 5... Um dia perguntei a um velho pescador qual a explicação para a falta das patas. E ele, sorrindo, explicou-me: é que quando as moreias apertam o polvo escondido na gruta, o polvo, para escapar com vida, oferece uma das patas à moreia. Enquanto esta fica entretida com a iguaria, o polvo escapa com vida!


Declaração de Sócrates ao Público na íntegra
 Há cinco dias “fora do mundo”, tomo agora consciência de que, como é habitual, as imputações e as “circunstâncias" devidamente seleccionadas contra mim pela acusação ocupam os jornais e as televisões. Essas “fugas” de informação são crime. Contra a Justiça, é certo; mas também contra mim.

Não espero que os jornais, a quem elas aproveitam e ocupam, denunciem o crime e o quanto ele põe em causa os ditames da lealdade processual e os princípios do processo justo.

Por isso, será em legítima defesa que irei, conforme for entendendo, desmentir as falsidades lançadas sobre mim e responsabilizar os que as engendraram.

A minha detenção para interrogatório foi um abuso e o espectáculo montado em torno dela uma infâmia; as imputações que me são dirigidas são absurdas, injustas e infundamentadas; a decisão de me colocar em prisão preventiva é injustificada e constitui uma humilhação gratuita.

Aqui está toda uma lição de vida: aqui está o verdadeiro poder - de prender e de libertar. Mas em contrapartida, não raro a prepotência atraiçoa o prepotente.

Defender-me-ei com as armas do estado de Direito - são as únicas em que acredito. Este é um caso da Justiça e é com a Justiça Democrática que será resolvido.

Não tenho dúvidas que este caso tem também contornos políticos e sensibilizam-me as manifestações de solidariedade de tantos camaradas e amigos. Mas quero o que for político à margem deste debate. Este processo é comigo e só comigo. Qualquer envolvimento do Partido Socialista só me prejudicaria, prejudicaria o Partido e prejudicaria a Democracia.

Este processo só agora começou.

Évora, 26 de Novembro de 2014

José Sócrates

[LINK para este documento]

Reação do Sindicato dos Magistrados do Ministério Público (às declarações de M. Soares)
À agência Lusa, Rui Cardoso, presidente do SMMP, disse que “As declarações do Dr. Mário Soares são absolutamente lamentáveis, são indignas de um Presidente da República, são uma vergonha para o país de que foi o mais alto magistrado”. Soares falou aos jornalistas à saída do Estabelecimento Prisional de Évora, no final da manhã, onde o ex-primeiro-ministro José Sócrates se encontra em prisão preventiva desde a madrugada de segunda-feira por indícios de corrupção, branqueamento de capitais e fraude fiscal, na sequência da operação Marquês.

Declarações de Mário Soares são “uma vergonha para o país”
Observador, 26/11/2014, 18:01

Atualização: 28 nov 2014, 09:50 WET

Dívida: a nova escravatura

Ogre demo by JSMarantz
©2011-2014 JSMarantz

Precisamos de contra-atacar os ogres de sempre e o seu apetite pela desgraça alheia


From the dawn of history, elites have always attempted to enslave humanity.  Yes, there have certainly been times when those in power have slaughtered vast numbers of people, but normally those in power find it much more beneficial to profit from the labor of those that they are able to subjugate.  If you are forced to build a pyramid, or pay a third of your crops in tribute, or hand over nearly half of your paycheck in taxes, that enriches those in power at your expense.  You become a “human resource” that is being exploited to serve the interests of others.  Today, some forms of slavery have been outlawed, but one of the most insidious forms is more pervasive than ever.  It is called debt, and virtually every major decision of our lives involves more of it.

The Federal Reserve Is At The Heart Of The Debt Enslavement System That Dominates Our Lives
By Michael Snyder, on November 24th, 2014 — The Economic Collapse.

O fascismo fiscal está em plena expansão em todo o mundo e, claro, em Portugal também, com a colaboração plena, cretina e corrupta da maioria dos partidos e políticos que operam como capatazes das elites financeiras.

O truque que nos trouxe até ao buraco negro dos derivados financeiros OTC e suas consequências nefastas chama-se endividamento, diarreia monetária (QE, WIT, etc.) e destruição maciça das taxas de juro (i.e. da poupança e da própria faculdade de poupar).

Financia-se especulativamente e com dinheiro cada vez mais virtual os governos, as empresas e as famílias até que fiquem atolados em dívidas. Depois tira-se-lhes o tapete do crédito e impõe-se a chamada consolidação orçamental aos governos, a concentração de capital ao tecido económico e financeiro, e a austeridade a quem trabalha e produz. Uma primeira consequência desta vasta manobra é a deflação resultante do colapso económico e do fim do crédito barato. O que virá depois, se olharmos para a história económica dos últimos oitenta anos (Alemanha, Hungria, Grécia, Jugoslávia, Argentina, Zimbabué, etc.), poderá mesmo ser um dominó de episódios de hiperinflação!

No fim desta deriva em direção a uma nova forma de escravatura dissimulada estaremos a perder para uma elite que conta menos de 0,1% da população mundial, uma herdade infinita onde cabe praticamente toda a riqueza produzida e todos os recursos naturais, que pinga todos os anos, meses, dias, horas, minutos, segundos e nano-segundos, nos bolsos dos novos ogres da Idade Média Tecnológica que parece aproximar-se a passos largos.

Quando é que acordamos?

quarta-feira, novembro 26, 2014

A Encruzilhada do Partido Socialista


Por Henrique Neto

Na manhã de sábado passado recebi, como presumo todos os militantes socialistas, uma mensagem do  novo Secretario Geral do PS António Costa, iniciada como segue: “Caras e Caros Camaradas, Estamos todos chocados com a notícia da detenção de José Sócrates”.  A mensagem está muito bem escrita, mas confesso que não fiquei chocado e há muitos anos que esperava os acontecimentos do passado fim de semana, na convicção de que José Sócrates representava uma bomba relógio para o prestígio do PS e para a qualidade da democracia portuguesa. Escrevi-o vezes sem conta, na tentativa de chamar à razão os socialistas e  com o objectivo de defender o PS do opróbrio público e de proteger o regime democrático. Não por quaisquer razões de inimizade pessoal.

Por isso mesmo, não retiro qualquer satisfação pessoal com a detenção de José Sócrates, que é inocente até prova em contrário, deixando que a justiça portuguesa decida de forma justa e de acordo com os factos encontrados na investigação, se for esse o caso. Todavia, já não faço o mesmo relativamente ao julgamento político dos governos de José Sócrates e daqueles que, de forma indigente, o seguiram em muitas das decisões erradas  que conduziram Portugal à ruína e ao empobrecimento dos portugueses. Também por isso é agora tempo de deixar a justiça fazer o seu trabalho.

Ainda relativamente ao PS, António Costa vai ter a semana mais decisiva da sua vida, em que está em jogo o futuro do Partido Socialista e, por extensão, o futuro da democracia portuguesa. A alternativa é simples: ou António Costa compreende que os partidos políticos portugueses se encontram à beira do abismo, no ponto mais baixo da tolerância pública e inicia uma profunda reforma do PS, começando por limpar casa no próximo congresso, ou segue em frente com os mesmos que conduziram Portugal à falência e dentro de algum tempo rebobinaremos o mesmo filme de tráfico de influências e de promiscuidade entre a política e os negócios, colocando com isso em risco o próprio  regime democrático.

Raramente na nossa história moderna existiu uma oportunidade tão relevante e tão clara  de mudar a política portuguesa, de enobrecer o PS e de abrir as portas do partido a uma nova época de progresso e de desenvolvimento, através da escolha no próximo Congresso dos melhores, dos mais honrados e dos mais devotados ao bem público. Bastará  para isso compreender os desafios que se colocam ao nosso Pais na actual conjuntura e de privilegiar e democracia e a ética na acção política, colocando a defesa dos interesses gerais da comunidade acima de todas as outras considerações.

O Partido Socialista não pode, sob a capa da chamada unidade de todos os socialistas, continuar a ser o partido dos interesses, da distribuição de benesses e de mordomias e do enriquecimento ilícito de alguns dos seus militantes e promotores. É tempo de mudança e se António Costa e os militantes socialistas não o compreenderem, temo  que seja o futuro da democracia portuguesa que está em jogo, Estas foram algumas das razões porque apoiei António José Seguro no recente debate politico, o que não impede que tenha a esperança de ver o recém eleito Secretario Geral do PS ter aquela coragem e visão que, em momentos decisivos, marcam os grandes homens.

24-11-2014
Originalmente publicado no Jornal da Marinha

terça-feira, novembro 25, 2014

O Marquês de Maçada

"Marquês de Pombal" de Louis-Michel van Loo (1707-1771) e Claude-Joseph Vernet (1714-1789)
(Museu da Cidade de Lisboa)

Operação Marquês, a segunda caça a um ex-primeiro ministro português


1779
Queixas inúmeras contra Pombal levam à elaboração de uma acção judicial, onde o Marquês é acusado de abuso de poder, corrupção e fraudes várias. O interrogatório termina no ano seguinte.

Marquês de Pombal (1699-1782), cronologia por Patrícia Cardoso Correia. Revista Camões

A operação policial montada para apanhar José Sócrates nas malhas da Justiça depois de tantos escândalos que em qualquer país letrado há muito teriam despachado semelhante mitómano de volta às terras desertas de Trás-os-Montes, foi batizada com o humor a que a nossa Judiciária já nos habituou ao longo das últimas décadas: Operação Marquês.

De facto, desde 1779 que a justiça portuguesa não perseguia e acusava um ex-primeiro ministro —amado por muitos, odiado por mais ainda, irrascível, mitómano e prepotente— de corrupção. É certo que José Sócrates tem o seu famoso apartamento a dois passos da Praça Marquês de Pombal, mas a razão do nome da operação que ontem decidiu aplicar a medida de prisão preventiva ao cidadão José Sócrates Carvalho Pinto de Sousa, tem um significado muito especial: é o segundo ex-primeiro ministro da nossa longa história que cai às mãos de uma Justiça que, como todas as justiças consolidadas, retrata a ossatura de um país. Quem atropela os equilíbrios de uma velha sociedade, leva! Países antigos não gostam de novos-ricos e sabem normalmente lidar com estes fenómenos mais ou menos cíclicos.

Portugal deixa-se modernizar devagarinho e não gosta de atropelos, nem de modernices importadas, sobretudo quando se revelaram estrondosos fracassos. Por exemplo, o marxismo. A Esquerda ainda não percebeu duas coisas muito simples:

  1. Portugal é um país pobre (Plutocracia demo-populista e Rendimento Básico), onde 90% das famílias apresentam rendimentos coletáveis inferiores a 30 mil euros/ano; mais de 60% das famílias tem rendimentos coletáveis inferiores a 10 mil euros (833 euros/mês), e só 7,1% dos agregados apresenta rendimentos coletáveis entre 20 e 30 mil euros (1.666 a 2.500 euros/mês). Escusado será dizer que os nossos deputados, por exemplo, fazem parte de uma casta que representa menos de 1% da população — alguns pertencem mesmo à exclusiva elite dos 0,1%!
  2. Mas apesar de pobre, Portugal é um país de proprietários. Se não vejamos:
    • demografia (2011): 10,6 milhões de portugueses
    • 11,7 milhões de prédios rústicos (haverá algum português que não seja dono de uma leira?)
    • 305 mil explorações agrícolas (36.681,45 Km2; 40% da superfície agrícola útil)
    • 7,9 milhões de prédios urbanos
    • 4,4 milhões de alojamentos (num total de mais de 5,8 milhões) ocupados pelos seus proprietários 
Não é preciso saber mais nada sobre a sociologia do país. A corrupção até pode ser tolerada, desde que não nos arruine. Havendo, porém, colapso económico e financeiro no horizonte, os corruptos-mor e os poderosos acabam invariavelmente condenados a perder eleições, a ir parar com os ossos à cadeia, ou a cairem de uma qualquer cadeira. De outro modo o país não teria a idade que tem.

Os partidos políticos são co-responsáveis pela pré-bancarrota do país e cúmplices, quando não agentes ativos, da pandemia de corrupção que nos atinge há décadas. É bom que se reformem urgentemente, apartando as maçãs podres dos cestos, antes que seja tarde demais.

PS— Quando os regimes apodrecem a este ponto, ou vem aí uma ditadura, ou uma revolução... seguida de ditadura :( Tudo dependerá dos (des)equilíbrios geoestratégicos globais e da frágil unidade europeia.... Se a Alemanha não perceber que os países do Sul não podem ficar por muito mais tempo sob condições financeiras insustentáveis (espécie de Tratado de Versailles aplicado pela Alemanha aos PIIGS, na observação certeira do eurocético João Ferreira do Amaral) alguma coisa acabará por rebentar.... e até poderá ser a Espanha, aqui ao lado. O Podemos, ao declarar-se unionista, ou seja, mão dura na Catalunha, pode até salvar o país irmão duma nova guerra civil. Basta-lhe, uma vez no poder, começar por meter na cadeia o Pujol, o Más, etc.... O exemplo veio, uma vez mais, de Portugal.

ÚLTIMA HORA: José Sócrates em prisão preventiva, na cela 44, em Évora.
Ironia: também o ex-primeiro ministro Marquês de Pombal, depois de ter sido acusado de corrupção, foi destituído dos seus cargos e condenado a um exílio muito peculiar: manter-se a uma distância mínima de 20 milhas da rainha, i.e., do poder. Entretanto, a primeira visita do prisioneiro Sócrates foi Capoulas Santos, figura grada do PS em Évora e antigo deputado europeu responsável pela vasta pasta da Agricultura. Consta que o PS detém um fundo de investimento na Holanda, e que Capoulas foi ou é seu administrador. É verdade? Não é? A procissão ainda vai no adro.

Atualização: 26 nov 2014, 09:33 WET

E agora Costa? Não se demite?

Sócrates festeja eleição de Costa para a CML

Em Política o que parece é


“Eu disse-vos que a partir de Setembro eles não se iam aguentar, e não se aguentam.” A justificação para a queda do Governo, afirmou, está no “envolvimento do primeiro-ministro em coisas graves de carácter económico, e não só” — Mário Soares (Público, 24 set 2014)

A prisão preventiva do antigo, polémico e autoritário primeiro ministro José Sócrates enquanto suspeito da autoria de crimes de fraude fiscal qualificada, branqueamento de capitais e corrupção faz necessariamente implodir a estratégia de poder por ele mesmo desenhada em colaboração com Mário Soares e António Almeida Santos, da qual fez parte a remoção de António José Seguro do lugar que ocupava e a sua substituição, depois de uma farsa eleitoral de tipo coreano, pelo seu sargento-ajudante António Costa, autarca de uma cidade falida e que mete água por todos os lados chamada Lisboa.

Houve, percebe-se agora, algo que falhou e que falhou fatalmente. O que foi, então?

A campanha para derrubar Tozé Seguro persistiu e acabou por dar resultados. Há precisamente um ano atrás Mário Soares pedia também a demissão de Cavaco e de Pedro Passos Coelho — nada mais, nada menos, do que o presidente da república e o primeiro ministro. O objetivo era claro: derrubar e remover de qualquer maneira —nem que fosse através dum golpe de estado— as jovens cúpulas do PS e as jovens cúpulas do PSD, fazer cair o governo e, por fim, preparar o regresso de José Sócrates ao poder, numa primeira fase, mobilizando as suas tropas, mais tarde, apresentando-se a candidato à presidência da república!

José Sócrates ocupou, enquanto sonhava, um posto de comando virtual na RTP, mantendo vários dos seus antigos ministros, secretários de estado, deputados e autarcas em formação unida contra o governo, mas sobretudo contra António José Seguro.

Não deixa de ser curiosa a insistência e a pressa de Soares, as quais acabariam por forçar António Costa ao confronto com Seguro. Mas porquê setembro?

Talvez o antigo Procurador Geral da República saiba.

Com a morte judicial do mitómano Sócrates toda a estratégia, de que António Costa era apenas um executor titubeante e sem ideias, mas gozando da benevolência e atração erótica que a 'esquerda', por mais estúpida, irresponsável e corrupta que seja, exerce sobre a falhada intelectualidade indígena, colapsa — obviamente.

O Partido Socialista encontra-se, pois, numa encruzilhada de vida: ou Costa percebe a gravidade da situação e se demite, abrindo caminho a uma nova liderança socialista, sem a dislexia de António José Seguro, mas também expurgada da ganga socratina e soarista, ou iremos assistir a coisas muito feias daqui para a frente.

A Esquerda portuguesa está numa encruzilhada da qual poderá resultar um processo rápido de fragmentação/reconstituição ou, se prevalecer a ambição cega e o desespero, uma mais do que provável dispersão e afastamento do famoso arco da governação.

Álvaro Beleza deveria falar com Pedro Nuno Santos, e os dois, por sua vez, deveriam falar com Ana Drago, Mariana Mortágua e Rui Tavares. Talvez assim a coisa ainda se salve. De contrário, será uma corrida lémures em direção ao precipício.

PS: a menina Isabel Moreira deverá ser mantida prudentemente ao largo deste processo.

segunda-feira, novembro 24, 2014

Crimes e prejuízos


20 milhões são uma ninharia; 1% de 12 mil milhões seriam 120 milhões...


Convém recordar que o maior crime de todos foi levar o país à pré-bancarrota, nomeadamente com os negócios de grande corrupção em volta das PPP (autoestradas, barragens, etc.) e das privatizações.

Sempre se ouviu dizer que uma parte das comissões vão diretamente para os partidos a que pertence o angariador. Neste caso, já alguém investigou o badalado fundo de investimento que o PS terá na Holanda? Teve, ou não teve? Tem, ou não tem? Se tem de onde veio o dinheiro?

Os avisos foram feitos inúmeras vezes, pelo menos desde março de 2007 (Anjo caído), mas ninguém quis prestar a devida atenção. O resultado está à vista.  Os ratos, a começar pelos famosos advogados de Sócrates, fogem como piratas sobreviventes que são. Já tinham, aliás, fugido do Ricardo. Não deixa de ser revelador.

Transcrevemos a seguir parte do notável testemunho de um jornalista íntegro sobre este triste assunto.

É legítimo supor
José Gomes Ferreira
9:08 Segunda feira, 24 de novembro de 2014

A propósito da detenção de José Sócrates, recordo por estes dias vários momentos da vida política do país e do exercício do jornalismo em Portugal.
5 de Janeiro de 2009.

No final do primeiro mandato e já em ano de eleições legislativas, o primeiro Ministro aceita dar uma entrevista televisiva à SIC, conduzida por mim e por Ricardo Costa.

No decurso da conversa tensa, crispada, José Sócrates é confrontado com um gráfico do próprio orçamento de Estado de 2009, que mostra o verdadeiro impacto das sete novas subconcessões rodoviárias em regime de parceria público privada: a conta a cargo do contribuinte é astronómica, mas só comecará a ser paga... em 2014.

A reação do político é de surpresa desagradável, de falta de argumentos rápidos, pela primeira vez em muitos momentos de confronto jornalístico com a realidade das políticas que estavam a ser lançadas como "as melhores para o país", sem alternativa válida. Na mesma entrevista, Ricardo Costa questiona o então primeiro Ministro sobre o verdadeiro impacto da política para o setor energético, que estava a invadir a paisagem com milhares de "ventoinhas" eólicas. A reação evoluiu da surpresa negativa para a agressividade.

No balanço dessa entrevista, boa parte do país "bem pensante" insurgiu-se contra... os jornalistas. Os nomes que então nos chamaram estão ainda na internet, basta fazer uma pesquisa rápida.

Nesse ano de 2009, o Governo tinha lançado um pacote de estímulo à economia no valor de dois mil milhões de euros - obtidos a crédito no exterior porque nem Estado nem privados tinham já poupança interna suficiente. A maior parte do mega-investimento foi aplicada na renovação de escolas através da Parque Escolar. Uma crise decorrente de um brutal endividamento combatia-se com mais dívida.

No ano anterior, a Estradas de Portugal tinham visto os seus estatutos alterados por iniciativa do Governo. Passava a ser uma entidade com toda a liberdade para se endividar diretamente, sem limite. Ao então primeiro Ministro, ao Ministro da tutela, ao secretário de Estado das obras públicas, perguntei muitas vezes em público se sabiam o que estavam a fazer. E fui publicamente contestado por andar a "puxar o país para baixo".

Em 2007, o então Ministro da Economia cedia por 700 milhões de euros a extensão da exploração de dezenas de barragens por mais 15 a 25 anos à EDP. Os próprios relatórios dos bancos de investimento valorizavam na altura esta extensão em mais de dois mil milhões de euros.

A meados de 2009 começa a ouvir-se falar do interesse da PT em comprar a TVI. O negócio é justificado pela administração da empresa como uma necessidade de as operadoras de telecomunicações, distribuidoras de conteúdos avançarem para o controlo da produção desses mesmos conteúdos.

Por aquela altura, já os casos, dos projetos da Cova da Beira, da licenciatura duvidosa e das alegadas luvas no Freeport faziam as páginas dos jornais e aberturas nas televisões.

Por aquela altura, o jornalista e gestor Luís Marques, dizia-me que era uma vergonha nacional Portugal ter um primeiro Ministro com indícios de ser corrupto. E que a nível internacional isso também já era notado.

[...]

O tempo, esse grande clarificador, faz sempre o seu trabalho.

A suspeita materializa-se agora sob a forma de detenção e prolongado interrogatório. A imprensa, desde sempre acusada de conspiração, destapa agora indícios de inquietantes de conluios com recetadores e correios de verbas muito avultadas.

Só se surpreende quem não quis ver os sinais.

É legítimo supor que mais investigações levarão a mais resultados. É legítimo perguntar porque é que no ano 2010 aparecem 20 milhões de euros na conta de um amigo na UBS, na Suíça. E é legítimo lembrar que em Julho desse ano a PT vendeu a Vivo à Telefónica por 7.500 milhões de euros. E é legítimo imaginar que negócios desse tipo requeiram "facilitadores".
Face ao que aconteceu na história recente deste país, é legítimo a um jornalista e a qualquer cidadão interrogar-se sobre tudo isto e muito mais.

E é extraordinário ver que a maior parte do tempo de debate sobre esta mediática detenção é gasta em condenações à maneira de atuar das autoridades judiciais. como se fosse dever dos investigadores convidarem o suspeito para uma conversa amena num agradável bar de hotel, por ter ocupado o cargo que ocupou.

Não, o que está a acontecer em Portugal, com a queda do Grupo Espírito Santo e de Ricardo Salgado, as detenções de altos funcionários públicos no caso dos Vistos Gold e a detenção de José Sócrates, não é uma desgraça: é a Grande Clarificação do Regime, a derrocada do Crony Capitalism, o capitalismo lusitano dos favores e do compadrio.

É revoltante saber que o Parlamento aprovou sem hesitar todos os regimes especiais de regularização tributária, os RERT I, II e III, quando sabiam que a respetiva formulação jurídica iria apagar todos os crimes fiscais associados à repatriação do dinheiro de origem obscura que tinha sido posto lá fora. Os deputados foram previamente avisados desse gigantesco efeito de "esponja" pelos mesmos altos responsáveis tributários que me avisaram a mim...
Os mesmos RERT que passaram uma esponja sobre as verbas de Ricardo Salgado e as do recetador agora identificado no caso do ex-primeiro Ministro.

Sim, o Parlamento continua lamentavelmente a ser a mesma central de interesses.

Mas há esperança. Tal como o país está a mudar, o Parlamento também há de mudar.

A nós, cidadãos e jornalistas, assiste o direito de fazer perguntas, face a sinais estranhos que alguns políticos insistem em transmitir.

Face a esses sinais, é legítimo supor.

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domingo, novembro 23, 2014

Bloco de nada

Mariana Mortágua, deputada do Bloco de Esquerda
Foto©Paulete Matos

O que falta ao Bloco que o Podemos tem?


Miguel Portas “A renovação do Bloco tem de passar pela saída dos quatro fundadores”
i, 22-06-2011 08:21

Em 2009 cheguei a acreditar que o Bloco de Esquerda num vaipe de inteligência estratégica iria crescer com a energia da juventude de parte substancial dos seus entusiastas e o abandono dos esqueletos leninistas, estalinistas e trotskistas dos seus fundadores. Pensei mesmo que os bloquistas, aproveitando o desastre da governação pirata de José Sócrates, iriam ameaçar a hegemonia rentista e devorista do Bloco Central alargado (PS, PSD, CDS/PP), atraindo o eleitorado sincero e honesto do Partido Socialista nas eleições que se seguiram à queda ruinosa do governo Sócrates. Enganei-me.

Em 2011, a falta de credibilidade escancarada pelo Bloco de Esquerda na sequência da sua atuação desastrosa relativamente ao Programa de Assistência Económica e Financeira (PAEF), recusando-se liminarmente a sentar-se à mesa com a Troika, daí resultando uma pesada derrota eleitoral e a subsequente fragmentação partidária, que prossegue a toda a velocidade, fez-me regressar à análise anterior sobre o bloqueio genético deste armário de cadáveres adiados do marxismo-leninismo: enquanto os seus fundadores e acólitos não se reformarem, dando lugar ao que o Bloco tem de melhor —a sua juventude— este pequeno partido, tal  como o PCP tem sido, continuará a ser parte do lastro burocrático que tem vindo a afundar o país, independetemente das suas hipócritas e cada vez mais lunáticas profissões de fé ideológica.

Só há lugar para mais liberdade, para mais democracia, para mais transparência, para a defesa intransigente do estado de direito, para a soberania social sobre os recursos naturais estratégicos, e os não renováveis, e para menos burocracia de qualquer espécie. Tudo o resto deve ficar em segundo plano diante destas exigências cruciais. Sobretudo as ortodoxias, quase todas reprovadas pela História e por milhões de vítimas inocentes.

A ideologia marxista orginal nasceu no início da Revolução Industrial, uma revolução alimentada por sucessivas vagas de energia barata (carvão, petróleo e gás natural) que permitiu duzentos anos de crescimento rápido e inflação, mas que está a chegar ao fim. Não serão, pois, os cadáveres revisionistas de Marx que poderão inspirar-nos!

Miguel Portas colocou o dedo na ferida quando disse que os fundadores do Bloco deveriam afastar-se e dar lugar aos novos. Pelo que vemos, esta simples medida de higiene ideológica continua por aplicar, e a gangrena do estalinismo espalha-se corroendo o sonho de muitos.

O Bloco, tal como o espanhol Podemos, é um movimento de juventude. Mas, ao contrário do Podemos, está há demasiado tempo sentado no parlamento burguês sem nada fazer de fundamental. O resultado está à vista. Pablo Iglesias terá certamente sentido um calafrio depois de observar mais de perto o que acontece a um partido que não sabe ultrapassar o dogmatismo ideológico e o irrealismo político e ao mesmo tempo permanece sentado nos mesmos sofás da nomenclatura, participando, ainda que micrologicamente, nos processos de poder, respirando os aromas que os privilégios deste sempre exalam.

A implosão do Bloco abriu entretanto espaço político e eleitoral a novas propostas eleitorais, sobretudo assentes na denúncia da corrupção do regime e na rejeição dos irrealismos demagógicos que há décadas apanham a boleia dos privilégios e dos impostos, mas nada produzem que se veja.

Movimentos recentes, tais como o Partido Democrático Republicano, ou o Nós-Cidadãos, ocuparão inexoravelmente o vazio criado por todo um regime neocorporativo, populista e partidocrata que traiu as expetativas e já nada tem para oferecer, além de mais austeridade, corrupção e demagogia barata.

Será que a gente nova do Bloco, como a Mariana Mortágua ou a Catarina Martins, e outros que entretanto já abandonaram as coutadas do maoista Fazenda, do trotskista Louçã, e dos ex-PCP, serão ainda capazes de salvar uma jangada claramente à deriva?

Este regime acabou



Sem uma terceira força parlamentar a gangrena continuará a crescer


Este regime, na realidade, já morreu. Falta tão só abrir os caixões e preparar o funeral. Serão as próximas eleições o momento certo do enterro, ou por urgência de higiene pública é forçoso acelerar os preparativos?

Esta deve ser a pergunta que Cavaco Silva, neste momento, faz a si próprio:
—se quero um novo Bloco Central (Passos Coelho-António Costa) para me salvar e salvar a honra do convento, então esta prisão do Sócrates veio atrapalhar tudo e quase todos. Antecipar eleições nestas circunstâncias poderia originar uma dinâmica explosiva de tumultos urbanos, dando por esta via razão aos milhões de portugueses que deixaram de votar no regime, mas que poderão estar disponíveis para eleger uma espécie de Podemos lusitano, o qual, na ocorrência, só poderá chamar-se António Marinho e Pinto e Partido Democrático Republicano (1);
— se, por outro lado, decido manter a data prevista das próximas Legislativas, dando cumprimento ao que diz a Constituição e as leis aplicáveis, não sei quem estará ainda de pé e livre para disputar as próximas eleições. O mais provável é que tanto o PSD, como o PS, já para não falar do PCP e do Bloco, percam no conjunto mais de um milhão de votos, e que o mar de abstenção se transforme num maremoto capaz de varrer de vez este regime. A menos que... apareça mesmo uma terceira força parlamentar com dimensão e jeito para compor o brinquedo da democracia num país a que escasseiam cada vez mais recursos económicos, financeiros e sobretudo morais para a manter.

O processo judicial abertamente escancarado com a prisão do ex-primeiro ministro José Sócrates, num país clubista, indigente, mal formado, corporativo e corrupto como o nosso é, ainda por cima falido, isto é, sem possibilidades objetivas de continuar a alimentar uma mole imensa de criaturas que nada produz e há décadas vive da redistribuição burocrática e partidária da riqueza confiscada a quem trabalha ou simplesmente juntou alguma poupança, ou que tem sido emprestada por credores externos, corre o risco sério de precipitar um súbito colapso do regime, em vez da sua metamorfose ordenada, na qual teriam que estar forçosamente previstas, por um lado, a substituição das gerações no poder político, económico e financeiro do país e, por outro, a alteração do xadrez parlamentar há muito acantonado entre a endogamia corrupta do Bloco Central (PS-PSD-CDS/PP) e a impotência sectária dos estalinistas e trotskistas que compõem o PCP e o dito Bloco de Esquerda.

Eu preferiria ver os movimentos da nova cidadania digital amadurecerem ao ponto de serem capazes de precipitar a criação de um novo Partido Democrata, lúcido, criativo, ponderado e decidido a mudar de alto a baixo a nossa democracia, preservando e aprofundando o seu legado positivo —a liberdade, a democracia e o estado de direito—, mas avançando rapidamente para um regime mais participativo, transparente e responsável.

Haverá tempo para uma reestruturação ordenada do regime?

O perigo de nos estamparmos numa curva apertada, que pode ser o modo como o caso de polícia com o antigo PM for conduzido, ou a crise instalada no Partido Socialista, ou as próximas Legislativas, é real.

A gangrena que atinge a nomenclatura do regime, a corja de rendeiros e devoristas que o conduziram à pré-bancarrota, é incurável. Só mesmo uma terceira força, que queremos mais democrática e transparente, poderá reconduzir as águas revoltas da nossa democracia a uma nova tranquilidade. Isto, claro, se os monstros corporativos da direita, que não deixaram de povoar o imaginário lusitano, não voltarem a despertar, uma vez mais, em desespero de causa.


POST SCRIPTUM

António Marinho e Pinto perdeu uma boa oportunidade para estar calado quando se pronunciou sobre a detenção de José Sócrates, arremetendo, como se ainda fosse Bastonário, contra Procuradores e Juízes. Quem decide, afinal, se os magistrados podem ou não ser 'humilhados' como José Sócrates? Não são os magistrados, pois não?

NOTAS
  1. Um partido em fase de legalização que tem sido reprimido pela imprensa indigente e desmiolada que temos, bem como pela corrupta indústria das sondagens que por aí anda e mente estatisticamente.

Atualização: 24 nov 2014, 20:56 WET

José Sócrates e as tentações de Santo Antão

Lovis Corinth. Tentações de Santo Antão (1908)

A maldição de Santo Antão da Barca


Consta que há uma lenda em Santo Antão da Barca segundo a qual quem afronta o princípio filosófico da pobreza do Anacoreta egípcio e pai de todos os santos, Antão do Deserto, é severamente punido, sobretudo se o pecado for a soberba e a luxúria.

A verdade é que desde que José Sócrates, António Mexia, Manuel Pinho e o então presidente da câmara de Torre de Moncorvo, Aires Ferreira, confraternizaram em nome da destruição do Rio Sabor, para nele mandarem edificar uma barragem inútil (ver vídeo), o referido autarca do PS matou a mulher e suicidou-se, Manuel Pinho viu a sua vida andar para trás desde a cena dos chifres na AR até ao humilhante downsizing do seu vencimento no ex-BES, e José Sócrates foi preso no dia 21 de novembro de 2014 sob suspeita de vários crimes de corrupção. Só falta a Mexia ter que explicar a trapalhada das barragens e a compra das ventoinhas à Goldman Sachs para ser severamente atingido pela maldição do Eremita cuja imagem foi roubada do sítio onde esteve mais de duzentos anos, e a capela em sua homenagem removida do lugar e do caminho histórico de Santiago.

Só há corrupção se a política deixar

As pessoas têm que perceber uma realidade simples: não há corrupção, pelo menos na escala pandémica que atingiu o nosso país, que não seja fruto da própria política.

Nas ditaduras a corrupção é controlada policialmente pelos corruptos que são poder, determinando quem pode e quem não pode partilhar o saque dos cidadãos.

Em democracia, porém, a corrupção em larga escala só funciona sem problemas se houver muita riqueza para distribuir, ou seja, se houver riqueza suficiente para alimentar ao mesmo tempo a pequena corrupção que alastra a 25% ou mais da população, e a grande corrupção promovida por menos de 0,1% da população, normalmente distribuida por três setores: políticos, banqueiros e empresas piratas. Quando, porém, a economia entra num ciclo recessivo prolongado, a lógica da corrupção em democracia colapsa, pois deixa de haver margem para tal. A austeridade e o desemprego fustigam progressivamente mais de 90% da população, as classes médias são ameaçadas de extinção ou metamorfose dolorosa e, por fim, as próprias elites vêm-se envolvidas numa guerra fratricida incontrolável. É o que está neste momento a acontecer.

Ciclicamente a história parece repetir-se, com laivos bíblicos e até mitológicos.

Santo Antão da Barca foi levado por ladrões

Santo Antão da Barca foi roubado do seu altar onde se encontrava há pelo menos duzentos anos.

[...]

O Santuário de Santo Antão da Barca ainda nos dias de hoje possui um grande significado religioso, etnográfico e cultural, mas é nos finais do século XIX e durante quase todo o século XX que o sítio granjeia um significado especial entre a população que vive nas aldeias implantadas nas imediações do vale do Baixo Sabor.

Esta importância cultural, etnográfica, religiosa e social foi mesmo invocada pelos ambientalista e todos aqueles que se opõem à construção de uma barragem no rio Sabor, como mais um argumento para ajudar a obstar a sua construção.

O santo foi roubado após o arrombamento das portas, que tudo indica, foram forçadas com um pé de cabra.

As autoridades policiais já estão a investigar o furto.

Notícias do Nordeste, 13/6/2007
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Obras da EDP impedem festividades de Santo Antão da Barca junto ao rio Sabor

Alfândega da Fé, 14 jun (Lusa) - A presidente da Câmara de Alfândega da Fé anunciou hoje que o atraso na trasladação do santuário de Santo Antão da Barca levará a que as tradicionais festas de setembro não tenham lugar naquele templo.

O santuário situado na margem direita do rio Sabor, está a ser transferido para nova localização pela EDP, dado que o seu local tradicional vai ficar submerso após a conclusão da barragem do Baixo Sabor.

Visão, 10:06 Sexta feira, 14 de Junho de 2013
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Memorial perpetuará Santuário de Santo Antão da Barca

D. José Cordeiro presidiu esta tarde à bênção do memorial - uma cruz aberta, em granito - que perpetuará a memória do espaço que acolheu, ao longo de mais de 200 anos, uma das maiores romarias da região transmontana – o santuário de Santo Antão da Barca, espaço que vai ficar submerso pela barragem do Sabor.

RR, 17-01-2014 18:18
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