quarta-feira, dezembro 16, 2015

TAP privatizada antes do seu funeral




J. Martins Pereira Coutinho


Depois do golpe militar de 25 de Abril de 1974, a TAP foi utilizada pelos sucessivos governos para a colocação de “boys” da sua confiança política, sem conhecimentos de aviação comercial. A TAP funcionava como se fosse um refeitório, onde não faltavam tachos bem recheados para alimentar oportunistas e famintos políticos.

De facto, a preocupação da maioria dos governantes não era com a competência, honestidade e isenção política, mas com o emprego e mordomias para os seus amigos e apaniguados. No poleiro governamental, também não havia competência, nem conhecimentos de aviação civil.

Lembramos, como exemplo, o caso do ex-ministro João Cravinho, que ameaçou encerrar a TAP se os pilotos continuassem com as suas reivindicações. João Cravinho exercia o poder através de ameaças e chantagens, para impedir as greves na empresa. Num período de maior agitação laboral, tentou “comprar” uma greve dos pilotos, oferecendo-lhes uma percentagem na privatização da TAP, como se fosse o dono da empresa…

Nessa altura, a TAP já era um barco à deriva. O naufrágio parecia iminente. A indisciplina laboral reinava na empresa e o buraco financeiro não deixava de aumentar. Uma mistura explosiva, que levou ao aumento da insegurança dos trabalhadores e abriu a porta da falência. Uma situação que acontece, quase sempre, quando se verifica que a empresa é mal gerida, ou quando existe irresponsabilidade e incompetência dos seus gestores.

A TAP tem sido vítima duma gestão “show off”, demasiado hermética e muito preocupada com a promoção pessoal do presidente-executivo, mas desprezando a coordenação do sector económico, administrativo e financeiro da empresa, assim como o controlo da produtividade e a disciplina do seu pessoal.

Na TAP estatal, o regabofe tem sido rei. Ninguém controla ninguém. Os abusos e a indisciplina são evidentes. Há quem se permita ausentar da empresa e ninguém lhe exige justificação pela sua ausência. Tudo é permitido. Há também quem alegue a necessidade de reuniões de serviço no estrangeiro - para viajar e pernoitar em hotéis à custa da empresa – sem qualquer exigência prévia, nem explicações, resultados, ou relatórios, desses falsos encontros profissionais.

Esta indisciplina laboral tornou-se possível, porque a gestão da empresa é fraca e incompetente. Na verdade, quando um gestor quer agradar a toda a gente e satisfazer todas as reivindicações do pessoal – permitindo-lhe fazer tudo o que quer, incluindo não trabalhar – não é um gestor, mas alguém sem perfil, ou capacidade, para defender os interesses da empresa e merecer o respeito dos bons profissionais.

Desde que foi nacionalizada, em 1975, a TAP jamais deixou de acumular elevados prejuízos, pagos com o dinheiro dos contribuintes. Ao longo do seu percurso estatal, o Estado, antes da chegada do euro, desviou para a TAP largas centenas de milhões de contos, desbaratados por gestores públicos incompetentes. Em 1993, a extinção da TAP era já uma hipótese em discussão, confirmada pelo então ministro Ferreira do Amaral, que afirmou: “a TAP tem de mostrar que é rentável ou fechar.”

Em 1994, a Comissão Europeia autorizou o Estado a colocar na TAP mais 180 milhões de contos.

Em 1989, o Governo já tinha oferecido à TAP a desafectação dos terrenos e edifícios públicos que utilizava no Aeroporto da Portela – avaliados em 17.357.569.605,30 escudos – que ficaram integrados no seu património.

Em 1998, reinava o caos na gestão da TAP. O número de funcionários aumentou de 8.200 para 9.600! A TAP tinha entre 10 e 12 aviões a mais, do que necessitava. O MNE devia à TAP 600.000 contos, referentes a viagens e fretamentos de aviões ao serviço do PR e membros do Governo, nomeadamente do então primeiro-ministro António Guterres. Apesar de tudo isto, o presidente da empresa continuou em funções. Era amigo do ministro… Em 2001, no acordo assinado entre o Governo socialista e a defunta Swissair, os interesses da TAP foram desprezados. O então ministro Ferro Rodrigues confirmou isso na Assembleia da República, quando afirmou que “o Governo não estabeleceu nenhuma cláusula penal que assegurasse os interesses portugueses”. Além desta condenável actuação, o acordo nunca foi divulgado.

Este processo, que lesou financeiramente a TAP e o Estado, foi sempre considerado um segredo de Estado. Ou seja, a governação socialista não permitiu que fossem apuradas as responsabilidades dos respectivos governantes, no ruinoso negócio com a Swissair. Perante tanta opacidade e incompetência, só por milagre a TAP poderia ser lucrativa.

Em Dezembro de 2002, escrevemos: “Hoje, a TAP, por culpa de alguns políticos e sindicalistas, está a caminho da sua destruição, com custos muito elevados para os contribuintes e o País. Para agravar a situação, o governo socialista decidiu entregar a gestão da empresa a estrangeiros, sem competência para a recuperar e salvar da falência.” Passados 13 anos desta premonição, o gestor Fernando Pinto confirmou que não tinha dinheiro para pagar salários e combustível, no fim de Novembro de 2015!

Em 2006, Fernando Pinto comprou a falida VEM, no Brasil, aparentemente sem o aval do accionista Estado. Esta empresa de manutenção tinha apenas um cliente, a falida VARIG, antes presidida por Fernando Pinto… Sem aviões para reparar, a VEM era uma empresa fantasma, com 3 mil funcionários de braços caídos.

Em Setembro de 2012, a dívida da VEM ao Estado brasileiro e as acções fiscais em curso, ultrapassavam os 300 milhões de euros! Os valores penhorados ascendiam a 21,3 milhões de euros! Não obstante esta escandalosa situação, o presidente-executivo da TAP, Fernando Pinto, afirmou que “este é um negócio que muita gente quer ter”…

Uma afirmação falaciosa, para camuflar o que se passava. Em 2010, o governo socialista criou um vasto plano de privatizações para executar até 2013, quando a dívida pública aumentava diariamente, cerca de 75 milhões de euros! Esse plano concessionava a exploração das linhas da CP e incluía a privatização da Empordef, EDP, REN, GALP, CTT, INAPA, Estaleiros Navais de Viana do Castelo, CGD, EMEF, CP Carga, ANA-Aeroportos e TAP. As receitas deste plano, até 2013, estavam orçamentadas em 6 mil milhões de euros!

Segundo o então ministro das Finanças, Teixeira dos Santos, o Governo tinha previsto receber mais 5 mil milhões de euros, com outras privatizações. Na altura, o ministro confessou que a verba obtida “vai nos permitir controlar o andamento da dívida pública, que irá subir gradualmente por efeito do défice elevado que teremos nos próximos anos.” Ou seja, Teixeira dos Santos confirmava a ruinosa governação socialista.

Nessa altura, a TAP pediu ao Governo uma ajuda financeira no valor de 297,5 milhões de euros. O então ministro António Mendonça confirmou a dramática situação financeira da TAP e considerou urgente a sua recapitalização. Doutro modo, segundo ele, a empresa seria “arrastada para uma ruptura financeira e da impossibilidade de solver compromissos.” Era a confirmação de que a TAP estava falida e sem dinheiro na Tesouraria.

Assim, a TAP continuou a acumular endividamentos e a ser um sorvedouro dos dinheiros públicos. Entretanto, a Comissão Europeia impediu o Estado de continuar a esbanjar dinheiro numa empresa falida. Apesar disso, para responder a necessidades imediatas de tesouraria, a Parpública injectou na TAP mais 100 milhões de euros, do erário público.

Em 2010, o então primeiro-ministro José Sócrates e o ministro Teixeira dos Santos incluíram a privatização da TAP no PEC2 e PEC4, com a concordância do então ministro António Costa, hoje secretário-geral do PS. Depois de décadas de descalabro financeiro, o Governo de Pedro Passos Coelho decidiu privatizar a TAP, como constava do Memorando que José Sócrates negociou com o FMI, BCE e União Europeia, para obter o empréstimo de 78 mil milhões de euros, depois de levar Portugal à bancarrota.

Hoje, António Costa, conhecido pelas suas contradições e irresponsabilidade política, está contra a privatização da TAP e de todas as concessões decididas pelo governo de que fez parte. António Costa esqueceu-se que foi o Partido Socialista que em 1997, 2001, 2010 e 2011, defendeu a privatização da TAP. Agora, com a ambição de chegar ao poleiro do poder, diz o contrário. Uma cambalhota perigosa, que nenhum macaco ousaria dar.

Entretanto, confirmou-se a privatização da TAP. A Parpública, depois de ameaçada pela deputada socialista, Ana Paula Vitorino, confirmou o acordo de venda de 61% do capital da TAP ao consórcio Gateway. A concretização deste acordo, permitiu a entrada de novos fundos e assegurou a estabilidade económica e financeira da TAP.

A TAP recebeu 150 milhões de euros da primeira tranche de 270 milhões de euros. O negócio é de 348 milhões de euros, dos quais 338 milhões são para a sua recapitalização. Assim, o dinheiro que entrou na TAP foi para resolver graves problemas de tesouraria, que estava sem fundos para pagar salários e combustível.

Desprezando esta situação, o Partido Socialista de António Costa, talvez por interesses ocultos, insiste que o Estado deve ter a maioria do capital da TAP, que, se não fosse privatizada, corria o risco de fechar as portas e de colocar no desemprego milhares de trabalhadores. Se isso acontecesse, o funeral da TAP seria inevitável.

Logo, tudo isto prova a falta de respeito de António Costa pela TAP e pelo dinheiro dos contribuintes. Uma falta ignóbil semelhante a tantas outras de José Sócrates, que levou Portugal à bancarrota. Por isso, não podemos deixar de lembrar que a TAP não pode continuar a ser um albergue de “boys”, ao serviço de políticos incompetentes e sem escrúpulos.


NR: Agradecemos ao autor e à revista CARGO de nov./dez. a publicação deste artigo.

sexta-feira, dezembro 11, 2015

A areia do salário mínimo

Mário Centeno, 10 dez 2015.
Foto: Pedro Nunes/LUSA

O novo tempo da austeridade já chegou


Ainda antes da apresentação do próximo Orçamento de Estado, e depois de uma instrutiva viagem a Bruxelas, com direito aos proverbiais recados de Wolfgang Schäuble, Mário Centeno começou uma aterragem forçada na realidade. Faltam 200 a 500 milhões de euros para sair do procedimento por défice excessivo (1). E como não há tempo para lançar mais impostos, a única saída disponível passa por eliminar ou adiar despesas. Primeira curva apertada, portanto, para o governo de maioria parlamentar de esquerda.

Governo dramatiza défice e anuncia mais cortes orçamentais
Diário de Notícias, 11 DE DEZEMBRO DE 2015, 00:17
Luís Reis Ribeiro

Segundo apurou o DN/Dinheiro Vivo, a derrapagem em relação ao teto de 3% do Pacto de Estabilidade existe, mas também não é um descalabro. Deverá estar na casa dos 200 a 400 milhões de euros (cerca de duas décimas do produto interno bruto) acima dos 5,3 mil milhões de euros, que seria o défice nominal que corresponde a 3%.

Como o governo quer sair da situação de défices excessivos (menos de 3%), terá de cortar o défice atual pelo menos num valor desse intervalo. Só assim chegará a 2,9%, por exemplo.

Face a este primeiro susto, a discussão sobre o salário mínimo nacional não passa de uma manobra de diversão. O impacto da medida na despesa pública é da ordem dos sete milhões de euros.

O chamado Salário Mínimo Nacional (mensalizado) é de 589 euros (505*14 /12), e abrange um universo de mais ou menos 400 mil trabalhadores por conta de outrem, 20 mil dos quais na órbita do estado. Em 2013 o SMN correspondia, mais ou menos, a 52% da média da remuneração base, mais horas extra, subsídios ou prémios. Entre 2008 e 2015, o SMN subiu no nosso país 19% (Eurostat). Na Grécia, no mesmo período, caiu 14%...

Reivindica o PCP, e reivindica a Intersindical, uma subida do SMN para 600 euros. Se o governo de António Costa avançar para os tais 530 de que se tem falado, a verdade é que teremos em 2016, do ponto de vista de quem paga, e do Eurostat, um SMN de 618,3 € (530*14/12).

Aparentemente, esta medida poderá ser facilmente acomodada. Não é por aqui que o Schäuble vai às filhoses!

Haverá todavia que ter atenção ao efeito multiplicador que esta subida poderá induzir nas restantes remunerações do trabalho, a começar, desde logo, no estado, e na esfera dos governantes e políticos.

Haveria também impactos potenciais significativos —na ordem dos 25 milhões de euros— na despesa do estado, se a jornada laboral dos funcionários públicos baixasse para as 35 horas, e o vazio horário assim criado viesse a ser preenchido por trabalho extra, ou novas contratações.

Para relativizar este tema, convém recordar que seis países da União Europeia recusaram aplicar até hoje uma medida social com estas características: Áustria, Chipre, Dinamarca, Finlândia, Itália, Suécia. E na Alemanha, que só este ano resolveu finalmente aplicá-la, o exercício é bem mais sofisticado do que o nosso (Wage Indicator).

NOTAS
  1. Basta contabilizar os atrasos das devoluções das ajudas de estado à banca para se perceber imediatamente onde está o busílis da questão. Mário Centeno descobriu buraco de 500 milhões? Mas estava a descoberto e reportado pelo BCE desde setembro deste ano! Principais bancos que não devolveram vultuosas ajudas de estado: BES/Novo Banco, Caixa Geral de Depósitos, BCP, Banif, Montepio...

    As ajudas do Estado português aos bancos nacionais entre 2008 e 2014 representaram 11,3% do PIB [mais de €18 mil milhões], segundo dados divulgados ontem no boletim mensal do BCE.

    E Frankfurt destaca pela negativa a capacidade do Estado português em recuperar esses apoios.

    Na zona euro, apenas a Irlanda, Grécia, Chipre e Eslovénia destinaram valores, em relação ao PIB, mais elevados que Portugal para resgatar bancos. A média da zona euro foi de uma ajuda equivalentes a 4,7% do PIB. Além do montante destinado a apoiar a banca, o BCE destaca que "até à data, as taxas de recuperação são particularmente baixas na Irlanda, Chipre e Portugal e relativamente elevadas na Holanda". As ajudas à banca levaram a uma subida adicional equivalente a 11% do PIB na dívida pública portuguesa. Na Irlanda, Chipre e Grécia, esse impacto rondou 20%, tendo sido a média da zona euro de 4,8% do PIB. Já o feito acumulado no défice português, entre 2008 e 2014, das ajudas à banca foi de 2,9% do PIB.

    Económico (16 Set 2015)


    Bancos consumiram 18 mil milhões de euros em cinco anos


    ...aos aumentos de capital terá de se acrescentar as ajudas de Estado no caso do BCP, CGD, BPI e Banif. O BCP foi quem mais recebeu de apoios do Estado, 3 mil milhões, seguido do BPI, cuja ajuda ascendeu a 1,5 mil milhões de euros, o Banif (1,1 mil milhões de euros) e a Caixa (900 milhões de euros). Parte já reembolsada: o BPI já pagou 1, 080 mil milhões, o BCP 400 milhões de euros e o Banif 275 milhões de euros.

    Expresso (02.06.2014 às 13h21)

Atualização: 11 dez 2015 11:57 WET

segunda-feira, dezembro 07, 2015

Rendimento Básico Incondicional começa na Finlândia



Novas engenharias redistributivas a caminho na Europa



Finlandia estudia dar 800 euros mensuales de renta básica a cada uno de sus ciudadanos  
El Economista, 6/12/2015 - 16:44 
El Gobierno finlandés traza un plan para dar a cada uno de sus ciudadanos 800 euros mensuales como renta básica universal, además de otras ayudas.

Según el diario The Independent, una encuesta encargada por el Finnish Social Insurance Institute dice que la propuesta de renta básica cuenta con un respaldo social del 69%.

La primera ministra finlandesa, Juha Sipila, ha dicho: “Para mí, la renta básica sisgnifica simplificar el sistema de seguridad social”

La propuesta, metería en los bolsillos de cada finlandés 800 euros al mes libres de tasas. La medida, según Bloomberg, costaría 52,2 billones de euros anualmente.  
Noviembre de 2016 será cuando el Gobierno finlandés tome una decisión en firme sobre aplicar o no esta propuesta.

Se se fizerem as contas ao dinheiro alocado com fins sociais, mas perdido no labirinto kafkiano dos orçamentos públicos, parte do qual se transforma em lucro ilícito e isento de impostos de uma penumbra de rendeiros disfarçados de benfeitores; se medirmos as receitas de impostos e taxas não cobradas ao setor social que subsidiam de forma subreptícia e injusta um vasto setor da dita economia social, a qual no nosso país já vale mais de quatro mil milhões de euros; se tivermos em conta que o número de IPSS ultrapassa as cinco mil, chegamos rapidamente à conclusão de que seria provavelmente mais barato, mais transparente e mais justo criar um Rendimento Básico Incondicional para todos os portugueses. Seria uma espécie de imposto negativo universal, o qual garantiria ab initio que nenhum português se encontraria na situação de pobreza irremediável, assegurando ao mesmo tempo a dignidade mínima que qualquer democracia deve garantir aos seus membros.

Comparando o PIB/capita entre os dois países, Finlândia e Portugal, a mesma ideia traduzir-se-ia no nosso país num RBI de 360 euros. O impacto no OE 2015 andaria pelo 45 mil milhões de euros.

(360 euros x 12 meses x 10,4 milhões de residentes = 44.928.000.000).

A despesa do Estado (Admin. Central e Seg. Social) prevista no OE 2015 foi de 76.639 milhões de euros.

O exercício seria certamente exigente, mas vale a pena começar a fazer contas. O exercício poderia incidir, a título de experiências piloto, em duas ou três NUTS 3. Por exemplo: Baixo Vouga, Algarve e Madeira.

Em Portugal, sobretudo quando vemos a esquerda, finalmente unida, prometer um tempo novo, são necessárias ideias ambiciosas, inovadoras, que permitam a inadiável transição de que o mundo precisa para sobreviver: uma transição energética irrecusável, a redefinição das relações entre capital e trabalho numa sociedade global povoada por um número crescente de máquinas cada vez mais inteligentes, as são capazes não só de substiuir o trabalho físico humano, como a sua própria inteligência. A velha noção de luta de classes terá que ser profundamente repensada.

Em vez do direito abstrato ao trabalho devemos reclamar o direito à preguiça criativa, à cooperação e ajuda desinteressadas, mas também à justa remuneração daqueles que, por vontade, obrigação ou necessidade, continuam e continuarão a realizar trabalhos físicos árduos, tarefas mentalmente exigentes, cuidados e rotinas que ainda não dispensam a presença e a mais valia humanas.

Em vez de nos perdermos na agonística pavloviana da retórica partidária e da propaganda, que tal exigir dos partidos que deem corda à imaginação?


REFERÊNCIAS
  • "Finland plans to give every citizen 800 euros a month and scrap benefits" — The Independent
  • "Finns May Get Paid for Being Finns", Bloomberg
  • "Kela to prepare basic income proposal", yle UUTISET
  • "Rendimento Básico Incondicional Financiado pelas Pessoas", Miguel D. Horta (Scribd.)
POST SCRIPTUM —  houve um lapso na estimativa do impacto do RBI nas contas públicas que foi prontamente corrigido, graças a um comentário oportuno, que agradecemos.

Atualização: 14 dez 2015 15:59 WET

sexta-feira, dezembro 04, 2015

Democracia parlamentar à vista?

31 de Janeiro, proclamação da República no Porto - 1891
A proclamação da Republica das janellas da Camara Municipal
Grav., Bertrand Dete in A Ilustração, Paris 1891, vol. 3, p. 73
BN J. 1505 M.

Sintomas de um novo regime


A grande novidade, embora dissimulada, do debate do programa do novo governo minoritário do Partido Socialista, apoiado criticamente pelo PCP, Bloco, PEV e PAN, foi a convergência de todo o arco parlamentar em direção à prudência e ao realismo.

Aquilo que hoje ainda parece o soviete supremo de São Bento será em breve, provavelmente, um parlamento forte, que deixará aos futuros presidentes da república mais tempo para viajar, nomeadamente na grande geografia que ajudámos a desenhar desde 1415.

Governo para um ano teremos seguramente. Para toda a legislatura, nada exclui, para já, tal possibilidade.

Vamos precisar dum aparelho de estado mais técnico e estável do que político-partidário e instrumental.

As esquerdas estão, finalmente, em pleno processo de AGGIORNAMENTO.

As direitas devem prosseguir o AGGIORNAMENTO que, aliás, iniciaram com Paulo Portas e Pedro Passos Coelho.

O estigma da ilegitimidade

Não se mudam as regras a meio do jogo, e portanto, Cá se fazem, cá se pagam!

O governo minoritário do partido que perdeu clamorosamente as eleições não é inconstitucional, nem afronta o Código da Estrada, mas é ilegítimo, porque nasceu de uma mudança oportunista das regras a meio do jogo. A regra dizia: deve ser primeiro ministro o líder do partido que vence as eleições. Mas havia ainda outra regra não escrita: PCP e Bloco de Esquerda não fazem parte do arco da governação, pelo que só ganhando eles mesmos as eleições, poderão governar.

Tal como foi fácil a Jorge Sampaio derrubar uma maioria absoluta, pela simples circunstância de o 'povo' não gostar da ideia de ver um primeiro ministro não eleito a substituir o que elegera e entretanto se baldara para Bruxelas, deixando atrás de si a famosa deixa o país está de tanga, também António Costa não tem outro remédio senão ficar para a história como um primeiro ministro ilegítimo. O que não quer em absoluto dizer que não possa vir a ser amado pelo povo. Quantos ilegítimos o foram!

O problema institucional

1102 - Diego Gelmírez, primeiro arcebispo de Santiago de Compostela rouba os restos mortais de S. Frutuoso para expô-las como relíquias na cripta da Catedral de Santiago. Este roubo ficou conhecido como 'pio latrocínio'

1966 - as relíquias são devolvidas a Braga, encerrando-se o incidente ocorrido 864 anos antes.

Desde o ano 45 até 1999 foram consagrados 145 bispos e arcebispos em Braga.
O arcebispo de Braga usa o título de Primaz das Espanhas.

Como se percebe por esta deliciosa história que li de Adolfo Luxúria Canibal, vimos de muito longe, e não nos atrapalharemos com pequenos incidentes democráticos, como aquele que António Costa protagonizou.

Tendo havido e havendo uma coligação partidária e parlamentar negativa contra a maioria relativa que suporta Pedro Passos Coelho, líder do PSD, o regime chegou a um beco sem saída, ou antes, à necessidade de rever in extremis algumas regras não escritas. Por exemplo, que os governos e as maiorias governamentais passam a formar-se no parlamento e não nas eleições; ou que no arco parlamentar todos os partidos são iguais. Ou seja, no caso em apreço, temos António Costa a liderar um governo, mas amanhã, no atual quadro parlamentar, poderemos ter Jerónimo de Sousa, Catarina Martins, ou André Silva, bastando para tal que o fiel da balança mude de lugar.

Principais protagonistas do debate do Programa do XXI Governo Constitucional

O novo bunker socialista
  • António Costa/ Pedro Nuno Santos
  • Carlos César
  • Augusto Santos Silva
  • Rui Vieira da Silva
  • Capoulas Santos

... e o resto
  • Mário Centeno: um desastre anunciado, foi pior do que alguém poderia imaginar; no entanto, lá recorreu à aura da inclusividade que trouxe a fama a Daron Acemoglu e James Robinson (Why Nations Fail?)
  • Pedro Marques: mantenho uma expetativa positiva sobre o Ministro das Infra-estruturas e Planeamento,
  • João Soares: exigirá ele, e terá, 3% do Orçamento, para fazer da Cultura o epicentro da transformação criativa do país? 1% para as artes; 1% para a informação, comunicação e redes sociais; 1% para o património cultural? Duvido muito.

Os novos aceleradores críticos da Esquerda
  • Mariana Mortágua, Catarina Martins
  • João Oliveira/ Jerónimo de Sousa, Arménio Carlos, João Ferreira
  • Pedro Nuno Santos

PAN, o próximo grupo parlamentar
  • André Silva é uma agradável surpresa

PSD
  • Vai procurar preencher o vazio deixado ao centro esquerda pelo PS de António Costa e fazer marcação cerrada às componentes 'esquerdistas' da agenda do governo minoritário do PS, forçando, uma e outra vez, o PCP e o Bloco a clarificarem as suas posições, e o PS a secundá-las.

CDS/PP
  • Se não clarificar e melhorar a sua agenda conservadora, perder-se-à no meio do processo de mutação rápida do regime iniciada pelas eleições de 4 de outubro.

Um abcesso chamado (B)esTAP



O colapso do BES arrastaria sempre a TAP consigo. 


Elementar para quem foi acompanhando esta parceria, propiciada pela leviandade político-partidária e pelo amadorismo proverbial da nossa burguesia rendeira, desde que o BES impingiu a PGA à TAP, e desde que o BES começou a bancar a compra de 12 Airbus A350-900 para a TAP.

Com o banco mau do BES cheio de lixo por reciclar, e com o Novo Banco a caminho duma venda simbólica, a ameaça de vermos aviões e pessoal na TAP a vaguearem como mortos-vivos pelas pistas, sem jet fuel, nem salários, tornou-se real e cada vez mais próxima. É por isso que foi preciso vender a maioria da empresa a privados, única condição de a TAP poder recorrer, uma vez mais, a ajudas de estado dissimuladas, nomeadamente através de empréstimos de um banco público chamado Caixa Geral de Depósitos, da colocação da empresa em bolsa, ou mesmo do recurso à banca privada com garantias dadas pelo estado, na medida da salvaguarda do valor da participação deste na companhia: 39%.

TAP admite parceria com Ryanair e diz que toda a rede da companhia está em análise.
Económico.

Há anos que este blogue (sempre muito bem assessorado) vem recomendando à TAP a criação e implementação de uma estratégia Low Cost no mercado europeu, onde reside mais de 80% do seu mercado. Até lhes demos nomes: TAP Europa | TAP Atlântica | TAP Oriente...

Em 19 de Março de 2011 o António Maria escrevia:
Como privatizar a TAP? - TAP Europa | TAP Atlântica | TAP Oriente 
A TAP não tem futuro, a não ser reestruturando-se radicalmente. Isto é, focando-se na única actividade que lhe dá dinheiro: voar! 
A TAP não tem futuro, a não ser partindo-se em três companhias ponto-a-ponto: TAP Atlântica (Brasil, Venezuela, Angola, Cabo-Verde, São Tomé, etc.); TAP Europa (mais de 80% do seu movimento actual); e TAP Oriente (Turquia, Golfo, Índia, China, Japão), com parceiros regionais fortes (na Europa, a Lufthansa, em África a TAG, na Ásia, com a Air China, etc.) 
A TAP precisa, como do pão para a boca, da Portela, mas de uma Portela renovada a sério e bem gerida, talvez por uma ANA privada, não para engordar a burguesia palaciana, inepta e preguiçosa nacional, mas para entregar a gestão aeroportuária do país a um consórcio privado com provas dadas, subordinado a obrigações de serviço público muito claras, mas libertando de uma vez por todas a gestão desta empresa rentável dos indecorosos boys&girls do PS e do PSD. 
A Portela precisa, como do pão para a boca de obras que aumentem a segurança das pistas e a gestão dos movimentos no ar e em terra. Para tal precisa de libertar espaço aéreo militar reservado na zona de Lisboa sem qualquer justificação e que apenas permanece como está pela estúpida e proverbial resistência dos lóbis burocráticos às decisões racionais. Num estado civil, os militares obedecem ao poder civil democraticamente eleito, ponto final! O ministério da defesa, infelizmente dirigido nas últimas décadas por amadores e aparachiques, continua a ocupar corredores aéreos de bases militares à volta de Lisboa, inúteis ou até desactivadas: Sintra e Montijo (inúteis), e Alverca (desactivada). 
A TAP precisa dum aeroporto na cidade, porque 80% dos seus voos são para e do espaço comunitário europeu, porque apenas 9% dos aviões que demandam a Portela são da classe wide-body (i.e. adequados a viagens de longo curso, nomeadamente intercontinentais), o que afasta liminarmente a verborreia dos vendedores-ambulantes do PS e do PSD sobre o "Hub aeroportuário de Lisboa". 
A Portela deve permanecer, pelo menos até 2020, como o único aeroporto civil de Lisboa, pois tem ainda oportunidades de ver crescer o número de passageiros que por ele transitam, sem precisar de aumentar muito mais o número de movimentos de aeronaves. Só no 'filet mignon' dos horários prime-time, há falta de 'slots' na Portela. Mas isso é assim em todos os aeroportos! O que mais importa saber é que os aviões da TAP andam vazios, para ser mais preciso, com taxas de ocupação muito baixas e sempre a descer desde que as Low Cost atacaram, e bem, o mercado português. Os nossos imbecis governantes ainda não perceberam que o sucesso das Low Cost, que tem vindo a encostar a TAP literalmente às boxes (em Faro, Porto, e em breve Funchal e Lisboa) se deve, em grande parte, ao enorme contingente de novos emigrantes portugueses que viajam, desde que há tarifas convenientes, não uma ou duas vezes por ano, como antes acontecia, mas de dois em dois meses, todos meses, ou até quinzenalmente (sobretudo quando têm emprego ou negócios simultaneamente em Portugal e nalgum outro país comunitário). Os irresponsáveis e incompetentes políticos agarrados à mama orçamental habituaram-se às borlas e mordomias da TAP, e como qualquer viciado em heroína, custa-lhes a deixar os maus hábitos pagos pela nossa austeridade! 
Finalmente o aeroporto da Portela, que tem ainda margem para crescer fisicamente (nova 'taxiway', afastamento dos militares do aeroporto fantasma de Figo Maduro, desalojamento de alguns serviços e empresas do perímetro mais próximo da zona operacional das pistas, etc.) precisa de importantes e urgentes obras de saneamento básico. Tudo junto: uns 100 a 200 milhões de euros de investimento útil, para prolongar a vida de um dos mais seguros, pontuais e convenientes aeroportos do mundo. Como se vê, a construção civil ainda tem muito que fazer em Portugal. Só não queremos que continue a roubar à descarada e a enterrar o país, em vez de o construir!  
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A TAP e o codeshare com a Ryanair

Fernando Pinto descarta parceria entre TAP e Ryanair no longo curso
04 Dezembro 2015, 16:14 por Wilson Ledo | Jornal de Negócios 
A Ryanair diz estar em negociações com a TAP para criar uma parceria de "code share" nos voos de longo curso da transportadora portuguesa, mas Fernando Pinto assegura que "não está nada em cima da mesa".

Lá está o Fernando Pinto a fazer contra-informação. A informação correta é esta: a TAP perde dinheiro no médio curso; por outro lado, a Ryanair não para de crescer e pretende “negociar” slots com a TAP dando a garantia de transportar os passageiros de longo curso da TAP que se dirigem para a Europa, em particular nas rotas europeias onde a TAP perde dinheiro, por andar com os aviões com demasiados lugares vazios. Ou seja, a TAP quer oferecer aos seus clientes mais frequências e melhores ligações do Hub lisboeta para toda a Europa, estabelecendo um acordo de codeshare com a Ryanair. É uma típica win-win situation, pelo menos no curto prazo, enquanto Ryanair e TAP esperam por novos aviões, e a TAP por mais dinheiro e novas estratégias. Capiche?

Atualização: 4/12/2015 17:30 WET

sexta-feira, novembro 27, 2015

Mais gráficos e menos blá, blá, blá

À atenção de Mário Centeno, ministro das finanças


Horizonte 2016-2020

Tomemos a Alemanha como referência...
  • Poder-se-à subir a receita fiscal (31,3% do PIB em Portugal) até aos 44,1% (Alemanha), i.e. +12,8%? Creio que não, salvo se incidir nos bancos, nos oligopólios instalados e nas fundações e outras associações declaradas de utilidade pública mas que apenas existem para fugir aos impostos. Há uma fiscalidade escondida nas chamadas taxas municipais que, tudo somado, faz da nossa fiscalidade real uma canga que impede o crescimento, o desenvolvimento e a liberdade. Mas quanto soma, em suma, a fiscalidade escondida das taxas municipais? Onde aparece registada?
  • Poder-se-à descer a despesa pública dos atuais 50,6% do PIB até 46,4%, i.e. -3%? Vai ter mesmo que ser, com este, ou na pior das hipóteses, no próximo governo.
  • Dado importante: em 2014 mais de 74,66% dos portugueses, em média, eram proprietários de casa própria, já paga ou por pagar, e talvez mais de 80%, são alternada ou simultaneamente, proprietários de imóveis urbanos e rústicos. É preciso vigiar a gula da oligarquia partidária sobre o potencial de confisco que aqui reside. Atenção, pois, ao OE de 2016...

Antes de mais, porém, seria bom pouparmos o país às dicotomias felizes entre esquerda e direita, olhando bem para estes gráficos...


Portugal: crescimento anual do PIB, desde 1996
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Portugal: formação bruta de capital fixo, desde 1996
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Portugal: balança comercial, desde 1950
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Portugal: custos unitários do trabalho, desde 1996
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Portugal: salário mínimo mensal, desde 2001
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Portugal: emprego a tempo inteiro, desde 2008
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Portugal: despesa pública em % do PIB, 1996
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Portugal: dívida pública em % do PIB, desde 1996
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Portugal: dívida a estrangeiros
Portugal: dívida externa, desde 1996
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Portugal: desemprego jovem, desde 1986
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Portugal: produtividade, desde 1996
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Portugal: casa própria desde 2005
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Gráficos: TRADING ECONOMICS e EUROSTAT.

* — Convém sempre comparar com os nossos parceiros comunitários...

País - Despesa pública em % do PIB - Carga fiscal em % do PIB   
(ordenado por despesa pública em percentagem do PIB)

 1. Eslovénia  60,1  --,-  
 2. Finlândia  57,6   --,-  
 3. Dinamarca  57,1  48,1   
 4. França  57  44,2  
 5. Bélgica  54,4  44,0  
 6. Suécia  53,4  44,5  
 7. Áustria  50,9  42,1  
 8. Itália  50,8  42,9  
 9. Portugal  50,6  31,3   (carga fiscal na posição 19 UE28)
10. Hungria  49,7 --,-  
11. Holanda  46,2  38,7  
12. Reino Unido  45,5  35,5  
13. Espanha   44,3  31,6 
14. Alemanha  44,1  37,1  
11. Luxemburgo  43,3  37,1  

Atualização: 3 dez 2015, 14:07 WET

quarta-feira, novembro 25, 2015

Qual Islão? É o gás, estúpido!


Quem vai fornecer gás à Europa, e por onde passarão os gasodutos, eis a questão.


Rússia suspende fornecimento de gás à Ucrânia 
A petrolífera estatal russa Gazprom anunciou esta quarta-feira que suspendeu o fornecimento de gás à Ucrânia depois de Kiev ter falhado um novo pré-pagamento para obter mais entregas. i online 

Russia Says Turkey's Attack On Jet Was "Planned Provocation" As Ankara Moves Tanks Near Syrian Border. Zero Hedge 
On Tuesday evening, we took a close look at the circumstances surrounding Turkey’s decision to shoot down a Russian Su-24 near the Syrian border. The incident was the most meaningful escalation in the conflict to date and marks the first time a Russian or Soviet plane has been downed by NATO since 1953.

A temperatura da escalada bélica entre Turquia e a Rússia, quer dizer, entre a Turquia + NATO + EUA (+ Arábia Saudita + Qatar + ISIS) e a Rússia + Síria (+ Irão + China) continua a subir.

Em causa não está nenhuma divergência religiosa no seio do Islão, ou entre o Islão, o Judaísmo e o Cristianismo, mas antes saber por onde passará ou passarão o(s) futuro(s) gasoduto(s) proveniente(s) da Rússia (em alternativa à passagem cada vez mais problemática pela Ucrânia), e/ou do Mar Cáspio e/ou do Golfo Pérsico em direção à Europa, sendo que o acesso europeu às reservas do Cáspio e/ou do Golfo Pérsico  implicam passagens obrigatórias pela Turquia e/ou pela Síria e Líbano.

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O gás russo, cuja passagem pela Ucrânia está cada vez mais ameaçada, tem procurado chegar à Europa através de uma passagem pela Turquia e Grécia, mas os incidentes em curso poderão ter fechado esta hipótese por tempo indeterminado.

A Turquia é também um país indispensável ao projetado gasoduto proveniente do Mar Cáspio.

Por sua vez, o maior depósito de gás natural conhecido situa-se no Golfo Pérsico e é partilhado pelo Irão, xiita, e pelo Qatar, sunita. Neste caso, luta-se pelo trajeto do gasoduto até ao Mediterrâneo, ou via Arábia Saudita, Jordânia, Líbano (que o Irão jamais aceitará); ou através da projetada rede de gasodutos que atravessarão o Irão, o Iraque, a Síria e o Líbano, até chegar ao Mediterrâneo.

Percebe-se, pois, porque é que a Síria é hoje um Inferno.

terça-feira, novembro 24, 2015

Cadé a carta de António Costa?


Cavaco Silva “tomou devida nota”... e nós?


“We think this leftist government experience will prove relatively short-lived,” JPMorgan analyst Marco Protopapa wrote in a research note. 
“We would not be surprised if a weaker macro environment required additional austerity measures as soon as early 2016. In turn, that could prove to be a first key pressure point for the stability of the government.” 
Read more at Reuters

Ontem o presidente da república endereçou publicamente alguns comentários e seis questões ao secretário-geral do PS, António Costa. Este respondeu, como se dizia antigamente, na volta do correio. Hoje, de manhã, Aníbal Cavaco Silva indicou (indicou ou indigitou?) António Costa para Primeiro-Ministro, depois de o ter recebido mais uma vez. Cadé a carta de António Costa?

Que escreveu António Costa ao Presidente de República, para tê-lo convencido tão clara e prontamente? Todos gostaríamos de saber, sob pena de passarmos por plebe inculta e súbditos de uma farsa indigesta.

O governo de António Costa será sempre aos olhos de muitos portugueses um governo ilegítimo, pois nem é a cabeça de um governo de coligação, nem um governo minoritário com suficiente apoio parlamentar, mas apenas um governo minoritário do Partido Socialista saído de uma derrota eleitoral, que apenas conta na Assembleia da República com três travões de esquerda contra qualquer eventual moção de censura do centro-direita. Ou seja, o governo que António Costa formará é um governo minoritário sustentado, até ver, por uma maioria negativa composta por três muletas instáveis. Bastará que uma única destas muletas (PCP, BE, PEV) ceda, para que toda esta frágil montanha de oportunismo impluda.

Veremos se a esquerda à esquerda do PS evoluirá na direção do realismo, isto é, se será capaz de abandonar as suas ideologias faz de conta, ou se está tão só a defender posições de poder e nichos eleitorais ameaçados. Veremos também como vai o PS vender a austeridade que aí vem aos iludidos portugueses que ainda acreditam no Pai Natal.

Por fim, dividir os portugueses entre direita e esquerda, como António Costa fez e se tornou moda é um mau prenúncio.

Presidente da República indicou Secretário-Geral do PS para Primeiro-Ministro 
Na sequência da audiência hoje concedida pelo Presidente da República ao Secretário-Geral do Partido Socialista, Dr. António Costa, a Presidência da República divulga a seguinte nota: 
“As informações recolhidas nas reuniões com os parceiros sociais e instituições e personalidades da sociedade civil confirmaram que a continuação em funções do XX Governo Constitucional, limitado à prática dos atos necessários para assegurar a gestão dos negócios públicos, não corresponderia ao interesse nacional. 
Tal situação prolongar-se-ia por tempo indefinido, dada a impossibilidade, ditada pela Constituição, de proceder, até ao mês de abril do próximo ano, à dissolução da Assembleia da República e à convocação de eleições legislativas. 
O Presidente da República tomou devida nota da resposta do Secretário-Geral do Partido Socialista às dúvidas suscitadas pelos documentos subscritos com o Bloco de Esquerda, o Partido Comunista Português e o Partido Ecologista “Os Verdes” quanto à estabilidade e durabilidade de um governo minoritário do Partido Socialista, no horizonte temporal da legislatura. 
Assim, o Presidente da República decidiu, ouvidos os partidos políticos com representação parlamentar, indicar o Dr. António Costa para Primeiro-Ministro.”

Atualização: 24/11/2015, 23:56 

segunda-feira, novembro 23, 2015

Cavaco desafia PCP e Bloco a fazerem as suas Perestroikas

Inauguração do Centro de Investigação da Fundação Champalimaud. Lisboa, 5 de Outubro de 2010
© 2006-2015 Presidência da República Portuguesa

Faites vos jeux!


Cavaco encarrega António Costa de apresentar solução governativa credível e estável. As seis questões que deverão ser formalmente esclarecidas pelo PS obrigam o PCP e o Bloco de Esquerda a definirem, de uma vez por todas, se estão ou não dispostos a rever algumas das suas opções programáticas e ideais teleológicos.

Curiosamente, Cavaco Silva parece estar a ajudar António Costa a meter o PCP e o Bloco no bolso direito do sobretudo socialista. Vai ser lindo ouvir o que Jerónimo de Sousa, Arménio Carlos, João Oliveira e Catarina Martins (a nova presidenta da junta bloquista) têm para nos dizer, e o que dirão aos seus militantes e eleitores.

Uma semana de balbúrdia dialética digna da maior atenção.

Presidência da República divulga documento entregue ao Secretário-Geral do Partido Socialista 
O Presidente da República recebeu hoje, em audiência, o Secretário-Geral do Partido Socialista, a quem entregou o seguinte documento contendo questões com vista a uma futura solução governativa: 
Face à crise política criada pela aprovação parlamentar da moção de rejeição do programa do XX Governo Constitucional que, nos termos do artigo 195 da Constituição da República Portuguesa, determina a sua demissão, o Presidente da República decidiu, após audição dos partidos políticos representados na Assembleia da República, dos parceiros sociais e de outros agentes económicos, encarregar o Secretário-Geral do Partido Socialista de desenvolver esforços tendo em vista apresentar uma solução governativa estável, duradoura e credível. 
Nesse sentido, o Presidente da República solicitou ao Secretário-Geral do Partido Socialista a clarificação formal de questões que, estando omissas nos documentos, distintos e assimétricos, subscritos entre o Partido Socialista, o Bloco de Esquerda, o Partido Comunista Português e o Partido Ecologista 'Os Verdes', suscitam dúvidas quanto à estabilidade e à durabilidade de um governo minoritário do Partido Socialista, no horizonte temporal da legislatura: 
a) aprovação de moções de confiança;
b) aprovação dos Orçamentos do Estado, em particular o Orçamento para 2016;
c) cumprimento das regras de disciplina orçamental aplicadas a todos os países da Zona Euro e subscritas pelo Estado Português, nomeadamente as que resultam do Pacto de Estabilidade e Crescimento, do Tratado Orçamental, do Mecanismo Europeu de Estabilidade e da participação de Portugal na União Económica e Monetária e na União Bancária;
d) respeito pelos compromissos internacionais de Portugal no âmbito das organizações de defesa colectiva;
e) papel do Conselho Permanente de Concertação Social, dada a relevância do seu contributo para a coesão social e o desenvolvimento do País;
f) estabilidade do sistema financeiro, dado o seu papel fulcral no financiamento da economia portuguesa 
O esclarecimento destas questões é tanto mais decisivo quanto a continuidade de um governo exclusivamente integrado pelo Partido Socialista dependerá do apoio parlamentar das forças partidárias com as quais subscreveu os documentos 'Posição Conjunta sobre situação política' e quanto os desafios da sustentabilidade da recuperação económica, da criação de emprego e da garantia de financiamento do Estado e da economia se manterão ao longo de toda a XIII legislatura.
23.11.2015
Presidência da República

domingo, novembro 22, 2015

Monsieur Hollande écoutez Tulsi Gabbard



Uma congressista democrática, nascida na Samoa americana, vegetariana, hinduísta, veterana de guerra, que todos deveriam ouvir


Não é apenas a sua agenda política que surpreende, pela justeza das ideias, inteligência concisa e precisão nos argumentos, mas também a visão do mundo que emana das palavras de uma mulher sem dúvida extraordinária, que adora surfar, mas que também realizou duas comissões de serviço no teatro de guerra do Iraque. Saber de experiência feito. Tulsi Gabbard, uma política da nova geração, que merece um seguimento atento.

Zero Hedge:

Perhaps if the clueless masses won't listen to "lunatic" fringe blogs or Sergei Lavrov, they'll listen to a US Congresswoman who served two tours of duty in Iraq and who is now telling Americans that The White House, The Pentagon, and most especially the CIA are together engaged in an "illegal" effort to overthrow the government of a sovereign country and in the process are arming the very same extremists that are attacking civilians in places like Paris. 
Good luck Tulsi, and thanks for proving that there's at least one person inside that Beltway that isn't either dishonest or naive. 
From Gabbard
 “Here are 10 reasons the U.S. must end its war to overthrow the Syrian government of Assad: 
1. Because if we succeed in overthrowing the Syrian government of Assad, it will open the door for ISIS, al-Qaeda, and other Islamic extremists to take over all of Syria.  There will be genocide and suffering on a scale beyond our imagination.  These Islamic extremists will take over all the weaponry, infrastructure, and military hardware of the Syrian army and be more dangerous than ever before. 
2. We should not be allying ourselves with these Islamic extremists by helping them achieve their goal because it is against the security interests of the United States and all of civilization.
3. Because the money and weapons the CIA is providing to overthrow the Syrian government of Assad are going directly or indirectly into the hands of the Islamic extremist groups, including al-Qaeda affiliates, al-Nusra, Ahrar al-Sham, and others who are the actual enemies of the United States.  These groups make up close to 90 percent of the so-called opposition forces, and are the most dominant fighters on the ground. 
4. Because our efforts to overthrow Assad has increased and will continue to increase the strength of ISIS and other Islamic extremists, thus making them a bigger regional and global threat. 
5. Because this war has exacerbated the chaos and carnage in Syria and, along with the terror inflicted by ISIS and other Islamic extremist groups fighting to take over Syria, continues to increase the number of Syrians forced to flee their country. 
6. Because we should learn from our past mistakes in Iraq and Libya that U.S. wars to overthrow secular dictators (Saddam Hussein and Muammar Gaddafi) cause even more chaos and human suffering and open the door for Islamic extremists to take over in those countries. 
7. Because the U.S. has no credible government or government leader ready to bring order, security, and freedom to the people of Syria. 
8. Because even the ‘best case’ scenario—that the U.S. successfully overthrows the Syrian government of Assad—would obligate the United States to spend trillions of dollars and the lives of American service members in the futile effort to create a new Syria.  This is what we have been trying to do in Iraq for twelve years, and we still have not succeeded.  The situation in Syria will be much more difficult than in Iraq. 
9. Because our war against the Syrian government of Assad is interfering with our being one-pointedly focused on the war to defeat ISIS, Al-Qaeda, and the other Islamic extremists who are our actual enemy. 
10. Because our war to overthrow the Assad government puts us in direct conflict with Russia and increases the likelihood of war between the United States and Russia and the possibility of another world war.”

Ainda sobre este tema...

Envolvimento dos Estados Unidos e da Arábia Saudita, Qatar e Turquia, na criação e apoio económico e militar à criação de um Estado Islâmico no Iraque e na Síria (ISIS) é hoje uma evidência. Os documentos são oficiais e já foram desclassificados. O envolvimento da França no financiamento e apoio tático à oposição armada a Bashar al-Assad é também factual. Esperemos que o alarme geral lançado em França e na Bélgica não seja apenas uma cortina de fumo para esconder o que já é óbvio.

ISIS Coverup: US Centcom Accused Of Lying To President, Congress, Public About Airstrikes, Ground Fight 
Zero Hedge, Submitted by Tyler Durden on 11/22/2015 12:31 -0500 
“...there is the possibility of establishing a declared or undeclared Salafist Principality in eastern Syria (Hasaka and Der Zor), and this is exactly what the supporting powers to the opposition want, in order to isolate the Syrian regime, which is considered the strategic depth of the Shia expansion (Iraq and Iran).” 

Atualização:  22 nov 2015, 22:52 WET

sábado, novembro 21, 2015

Marcelo eleito à primeira volta


Calendário das presidenciais


  • Primeira volta: 24 de janeiro.
  • Segunda volta (improvável): 14 de fevereiro.
  • Posse do próximo PR : 9 março de 2016.
  • Eventual dissolução do parlamento: 31 de março 2016.
  • Eventuais eleições antecipadas: 29 de maio de 2016.
  • Eventual novo governo a funcionar plenamente: finais de junho de 2016.


NOTAS

Passos e Portas vão esperar até dezembro para oficializar uma posição conjunta. Só apoiarão Marcelo se este se comprometer com a convocação de eleições antecipadas.

Com ou sem Governo do PS, as eleições presidenciais estão irremediavelmente inquinadas pela crise de regime criada no rescaldo das eleições de 4 de outubro.

Marcelo Rebelo de Sousa pisca o olho ao centro-direita e ao centro esquerda, mas também à direita e à esquerda; e está disposto a manter o governo minoritário de António Costa se este vier a existir e enquanto se aguentar. O fiasco das legislativas de outubro poderá, no entanto, levar muitos eleitores a apostarem no voto útil, abandonando o experimentalismo que permitiu a crise atual. Neste caso, uma parte importante dos votos tradicionais do PS darão vitória a Marcelo Rebelo de Sousa logo na primeira volta.

Sampaio da Nóvoa, como candidato de bolso de Antonio Costa, apoiado pelo MRPP, irá tão longe quanto for António Costa. Terá que disputar os votos socialistas com Marcelo e Maria de Belém.

Maria de Belém Roseira, não tendo convencido as esquerdas, também não convencerá o centro, nem a direita. Terá que disputar os votos socialistas com Marcelo e Nóvoa.

Marisa Matias fará talvez o pleno do Bloco, mas este pleno ficará muito aquém dos resultados obtidos pelo Bloco nas últimas Legislativas.

Edgar Silva terá os votos do PCP.

Paulo Morais já tem as necessárias 7500 assinaturas, mas ninguém sabe o que pensa, salvo o que pensa sobre a corrupção, e neste particular poderá arrancar alguns milhares de votos. Mas a nova divisão criada entre 'esquerda' e 'direita' acabará por prejudicar seriamente a possibilidade dum bom resultado.

Henrique Neto foi o primeiro a dar a cara, mas conseguirá as 7500 assinaturas? Dizem-me que sim.

WILD CARD: se Marcelo não anunciar um compromisso firme com a convocação de eleições legislativas antecipadas para clarificar a situação política decorrente das eleições de 4 de outubro, outro candidato poderá avançar com o apoio total do PSD. Cristina Azevedo lançava hoje, no Política Sueca (RTP3), a hipótese de o próprio Pedro Passos Coelho, no caso de haver um governo de António Costa apoiado nas muletas do PCP e do Bloco, assumir o desafio!

sexta-feira, novembro 20, 2015

Situação política indefinida

Mário Centeno diz uma coisa, Louçã, outra

Tudo na mesma como a lesma


Público: Pedro Passos Coelho disse esta sexta-feira a Cavaco Silva que deve exigir ao PS que forme um Governo “estável”.  (...) “Cabe ao PS construir uma solução de Governo que corresponda àquilo que o próprio PS disse que era indispensável e sem o que não derrubaria o Governo que saiu das eleições: ter uma maioria estável, duradoura e credível, que ainda não tem”.

Ou seja, onde está a coligação? Onde está o acordo de incidência parlamentar? Onde está o acordo sobre a aprovação do OE2016? Onde está a tão badalada maioria de esquerda?

Expresso: O líder do PS afirmou esta manhã, à saída do Palácio de Belém, que garantiu ao Presidente da República que tem um Governo com um programa que passará na Assembleia da República, “uma solução necessária para o que se impõe ao país”.
(...) O secretário-geral do PS recusou-se no entanto a responder à pergunta se tinha dado mais garantias ao Presidente da República, ou apresentado mesmo um Governo, escudando-se na afirmação de que essas são competências próprias de Cavaco Silva e que não lhe cabe apresentar um Governo sem que o Presidente indigite primeiro um primeiro-ministro.

Do PS de António Costa nada de novo, ou seja, o homem continua a exigir que o PR e o país acreditem que tem uma maioria no bolso, embora esta não tenha sido capaz de se apresentar como tal. Se isto não é magia partidária manhosa, não sei o que seja. Só se for um golpe de estado parlamentar, a partir do qual todo o poder estaria concentrado no parlamento — algo a que poderíamos passar a chamar Soviete Supremo de São Bento.

Enquanto a situação política vai ficando cada vez mais pastosa, abrindo caminho à manutenção em funções do governo derrubado pela moções de censura das esquerdas até que o próximo presidente da república dissolva a assembleia e convoque novas eleições, ou decida chamar então António Costa para liderar um governo minoritário com apoio informal e incerto à esquerda, leiam esta pérola:

Mario Centeno ao El Español (19/11/2015):

“El Gobierno del Partido Popular está implementando medidas bastante parecidas a las que estamos proponiendo –reponer los salarios públicos, reducir la carga fiscal– en los presupuestos de 2016.” 

quinta-feira, novembro 19, 2015

Será possível reverter o 25 de novembro?


Voltar a dividir o país entre esquerda e direita é um suicídio político


Parlamento não comemora 25 de Novembro
TSF, 19 novembro 2015

Os partidos da esquerda (PS, PCP, BE e PEV) faltaram hoje à reunião do grupo de trabalho proposto pelo presidente da Assembleia da República para discutir uma eventual evocação parlamentar do 25 de Novembro de 1975, data que marcou o final do Processo Revolucionário em Curso (PREC).
...
Nuno Magalhães, do CDS disse que os partidos da oposição "desertaram e fugiram" da reunião e receou poder estar a acontecer "um processo revolucionário em curso se não reagirmos a tempo", numa referência ao PREC.
Porque está Costa tão nervoso e há tanto ódio no PS?
José Manuel Fernandes. Observador, 18/11/2015

Na crise de 2013 Cavaco Silva disse a Passos Coelho que não daria posse a um governo do PSD apoiado no parlamento pelo PP – a coligação tinha de se traduzir não só na existência de ministros do PP, como na presença do seu líder à mesa do Conselho de Ministros. Porque há-de ser diferente agora? 

Vivi por dentro o PREC—Processo Revolucionário Em Curso. Não passei à clandestinidade na semana decisiva da crise do verão-outono de 1975. O poder estava então praticamente na rua. Uma parte da esquerda à esquerda do PCP defendia que a situação pré-revolucionária caminhava inexoravelmente para um confronto militar. De um lado, o PS, o PSD, o CDS e uma parte do chamado MFA—Movimento das Forças Armadas, que então constituía uma espécie de motor, tampão e amortecedor do colapso da ditadura e das dinâmicas sociais e políticas que se lhe seguiram. Do outro, o chamado COPCON—Comando Operacional do Continente, que representava a parte mais radical do dito MFA— e uma série de partidos à esquerda do PS que chegaram a confluir numa aliança esporádica a que chamaram FUR—Frente de Unidade Revolucionária: FSP, LCI, LUAR, MDP/CDE, MES, PCP, PRP/BR. A FUR, de que o PCP rapidamente se desvinculou (deixando lá uma antena chamada MDP/CDE), contava com Otelo, e este contava com o então presidente da república, General Costa Gomes. O resultado é conhecido: Ramalho Eanes assumiu com sucesso o comando da contra-insurreição militar. O PCP comunicou a Costa Gomes que não poria os seus militantes na rua, e este decidiu então travar Otelo, acabando por declarar o estado de sítio. Desde este famoso 25N, o Partido Socialista, que acusou o PCP de envolvimento na tentativa de golpe, mas que travou a tentativa de o ilegalizar proposta por Sá Carneiro (PPD), marcou uma fronteira clara entre o chamado socialismo democrático e as forças à sua esquerda, vistas como autoritárias, revolucionárias e potencialmente golpistas.

Foi este o muro, levantado por Mário Soares, que António Costa decidiu derrubar no dia 4 de outubro, depois de uma clara derrota eleitoral. Quando todos previam a demissão do intempestivo secretário-geral do PS, eis que a criatura é salva in extremis por Jerónimo de Sousa, que lhe estende uma bóia de salvação inesperada: um governo PS apoiado pelos partidos à sua esquerda.

Invocando décadas de integração do PCP e até do Bloco de Esquerda no regime democrático vigente, António Costa volta a dividir verbalmente o país entre esquerda e direita, e acaba, na prática, com o chamado Bloco Central. O resultado desta manobra é incerto.

A evolução política do PCP e do Bloco em direção ao pragmatismo exige tempo. Dificilmente escapará a uma usura grave de credibilidade se embarcar no esbracejar do náufrago Costa.

Aníbal Cavaco Silva exigiu a Passos Coelho uma coligação PSD-CDS/PP, não aceitando um governo minoritário do PSD apoiado apenas no parlamento. Porque decidirá agora de modo distinto?

Aníbal Cavaco Silva exigiu duas coisas impossíveis a António Costa: que formasse uma coligação, ou seja, que apresentasse uma solução consistente, e que tal solução respeitasse as alianças e os tratados internacionais, o euro, o tratado orçamental, o programa de estabilidade e a supervisão orçamental de Bruxelas e financeira do BCE.

Previsivelmente, nada disto foi até hoje conseguido por António Costa junto do PCP e do Bloco de Esquerda.

Q.E.D.: ficaria muito surpreendido se o presidente da república exonerasse o governo demissionário e indigitasse o líder que perdeu as eleições de 4 de outubro para formar um governo minoritário sem nenhuma garantia formal de sustentação parlamentar.

terça-feira, novembro 17, 2015

Golpada parlamentar começa a desfazer-se


A intentona de António Costa é uma aberração constitucional


Um governo de minoria saído duma maioria eleitoral relativa é sempre preferível a um governo de minoria saído de um derrotado nas mesmas eleições.

Catarina repete: “...com todo o trabalho feito para permitir a aprovação de Orçamentos do Estado”.

Em bom português, isto quer dizer que não há nenhum compromisso firme de aprovação do orçamento do Partido Socialista, por parte da putativa ‘maioria de esquerda’. Nem do OE2016, nem dos que se lhe seguirão até 2019.

Ora sem uma maioria de esquerda expressa numa coligação governamental, ou, no mínimo, num acordo de incidência parlamentar firme, o que temos é uma mão cheia de nada. Assim sendo, só um presidente tomado pela loucura trocaria um governo de maioria relativa, saído das urnas, por um governo de minoria PS apanhado numa volátil e oportunista maioria parlamentar de contrários.

Será que é assim tão difícil de entender?

As ondas de choque do radicalismo adotado pelo PS de António Costa vão sendo anotadas em toda a parte.

Se alguém quer destruir a União Europeia e a sua moeda, parece que pode contar com a crescente ajuda das novas ondas de populismo partidário na Grécia, Itália, Espanha e Portugal. Já para não mencionar Marine Le Pen e a França, claro.

Já agora uma pergunta: se Cavaco Silva mantiver o governo empossado em funções, até que novas eleições possam esclarecer as dúvidas criadas pela falsa maioria de esquerda aparecida na Assembleia da República, e se na sequência desta decisão Pedro Passos Coelho voltar a estender a mão ao Partido Socialista, para uma revisão constitucional que permita a realização de novas eleições antes do verão de 2016, qual será a resposta deste último? Quem a dará, António Costa, ou o seu sucessor?