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domingo, dezembro 09, 2012

Democracia incompleta

Atenas: o estaleiro da democracia

A democracia é uma obra aberta; compete aos democratas aperfeiçoá-la

Durante 5 dias foi perguntado, na Blogosfera e no Facebook, se pode haver uma democracia com menos presença e com menos influência partidárias. A resposta foi inequívoca: SIM (87%)

Pois então vamos a isso!
 

segunda-feira, outubro 15, 2012

Fantasia eleitoral

Caldeira Grande, Furnas, São Miguel, Açores.
Foto @ OAM

Debaixo do paraíso há um vulcão!

As eleições de 14 de outubro não só desfizeram o CDS, o Bloco e o PCP, como revelaram uma realidade preocupante: mais de 54,2% dos eleitores inscritos deixaram de votar nos partidos do sistema. Ou não votam, ou votam em branco ou votam nulo.

O PS renovou no domingo a maioria absoluta nas eleições regionais dos Açores, conseguindo 31 deputados dos 57 mandatos totais, mais um do que há quatro anos, enquanto o PSD apesar de derrotado aumentou igualmente a sua votação em relação a 2008, com mais dois deputados.

O CDS perdeu eleitorado e passou de cinco para três deputados. Já Bloco de Esquerda perdeu também um deputado, ficando com apenas um representante no parlamento regional, enquanto a CDU manteve o seu deputado único, tal como o PPM.
A abstenção ficou nos 52,1 por cento, um pouco abaixo [não é verdade!] do recorde de 2008 (53,2 por cento).

O PS conseguiu 48,98% dos votos expressos (52.793 votos); o PSD obteve os 32,98% (35.550 votos); o CDS-PP ficou 5,67% (6.106 votos); o BE com 2,26; (2.437 votos); a CDU (PCP-PEV) com 1,89% (2.041 votos) e o PPM 0,09por cento (86 votos), conseguiu manter o seu deputado pelo círculo do Corvo.

in Público, 14 out 2012

Esta notícia, como todas as que foram publicada pela nossa imprensa indigente, limita-se a papaguear o que a Lusa e os condottieri de comunicação lhes impinge. É certo que a o portal da Comissão Nacional de Eleições é uma coisa deprimente —nem sequer os resultados provisórios das eleições publicou, já para não falar da falta completa de tino informativo e de usabilidade informática ali exposta— e que para sabermos alguma coisa das eleições de 14 de outubro, só mesmo consultando o portal do governo dos Açores.

Ora bem. Eu estive a ver os resultados e a coisa é bem pior do que parece, para os pequenos partidos, mas sobretudo para a democracia.
  • população residente (2011) = 246.746
  • menores de 15 anos (17,9%) = 44.167,534
  • população com mais de 15 anos = 202.578
  • eleitores: 225.109 (há obviamente muitos eleitores fantasma*)
  • votantes: 107.783 (47,88%)
  • abstenção: 117.326 (52,12%) — em 2008 abstiveram-se 102.913, logo, a abstenção subiu!
  • brancos: 3.460 (3,21%)
  • nulos: 1.388 (1,29%)
  • votos validamente expressos em partidos: 102.935 (45,72%)
  • abstenção + votos brancos + votos nulos = 122.174 (54,27%)
  • PS = 52.793 votos — 48,98% (% entre partidos concorrentes); 23,45% (% do eleitorado)
  • PSD = 35.550 votos — 32,98% (% entre partidos concorrentes); 15,79% (% do eleitorado)
  • CDS-PP = 6.106 votos — 5,57% (% entre partidos concorrentes);  2,71% (% do eleitorado)
  • B.E. = 2.437 votos — 2,26% (% entre partidos concorrentes) / 1,08% (% do eleitorado)
  • PCP/PEV = 2.041 votos — 1,89% (% entre partidos concorrentes); 0,90% (% do eleitorado)

Os milhares de eleitores fantasma, fenómeno que se verifica tanto nos arquipélagos como no Continente, ao que parece têm origem na vontade dos autarcas impedirem que os seus vencimentos desçam em função de dois fenómenos indisfarçáveis: a perda de população e a perda de eleitores. Seja como for, este empolamento da população eleitoral é mais uma prova da democracia degenerada que temos. A responsabilidade começa nos autarcas, mas acaba nos dirigentes partidários, que são conhecedores e cúmplices desta óbvia e indecorosa ilegalidade.

Por outro lado, a festa das percentagens em noite de eleições é outro embuste reiteradamente promovido pelos partidos em nome de uma democracia populista que, mesmo assim, se esvazia de eleição para eleição. O que importa não são as percentagens relativas entre os partidos, mas a percentagem de povo que vota nos ditos partidos, e aqui já são bem menos de metade dos eleitores dados oficialmente como vivos!

De 2008 para cá houve mais 14.870 pessoas que não votaram. A imprensa indigente, no entanto, assegura que a abstenção baixou um bocadinho! Como? Em percentagem? Pois, mas as pessoas não são %...

Chegados a este ponto é fácil perceber porque ganhou o PS nos Açores. Votaram neste partido, no essencial, os empregados e clientes do governo, os quais representarão algo mais do que 25% dos eleitores do arquipélago.

A maioria das pessoas não votou, ou seja, mais de 52% dos eleitores abstiveram-se. Isto significa que, para além de alguns empresários e proprietários residentes mal queridos pela administração de Carlos César (que serão poucos), a maioria dos que votaram reune, na realidade, empregados e clientes do governo regional.

Num ambiente de ameaça evidente ao emprego público a aos fornecedores do estado é natural que a continuidade governativa seja particularmente querida por quem dela depende. Ou seja, o medo de que um novo governo pudesse roubar algum emprego ou encargos "socialistas" para o PSD foi determinante na derrota deste partido e no desaparecimento fulminante dos pequenos partidos.

Por outro lado, não devemos confundir, nem os partidos, nem a governação nos arquipélagos dos Açores e da Madeira, com as cenas do Continente. Há um mar de diferenças! Carlos César, por exemplo, não foi nem um despesista, nem um demagogo leviano.

E no Continente ?

Se houvesse hoje eleições no Continente, o PS ganharia folgado, deixando igualmente o PCP e o Bloco para trás. Paulo Portas e Passos Coelho já sabem a esta altura do campeonato o que lhes vai acontecer nas autárquicas em 2013. Por isso nada fizeram da reforma autárquica, estupidamente!

O preço desta hesitação fatal, e doutras, é o terrorismo fiscal em curso que, ao ameaçar destruir as classes médias —baixa, média e alta— já as virou brutalmente contra o governo do Memorando.

Duvido que a coligação chegue ao Natal... É que Paulo Portas já percebeu que se não deita o governo abaixo, desaparece!

O radicalismo recente dos estalinistas do PCP, e dos trostkistas e maoistas do Bloco, é uma tentativa desesperada de evitar o inevitável: uma enorme fuga de votos em direção ao PS. A nova vaga de esquerda do PS, protagonizada por atores como Pedro Nuno Santos e Isabel Moreira, vai ter um efeito demolidor sobre os cadáveres adiados do leninismo, do maoismo e do trotskismo.

Abstenção e voto útil são as realidades que me aparecem na bola de cristal...

Agenda para os próximos meses
  1. aprovação do Orçamento de Estado (OE)
  2. análise do documento em Bruxelas
  3. se tudo estiver conforme, envio do cheque de 4,3 mil milhões €
  4. se houver recuos ou batota visível no OE, a Troika fará recomendações de cujo cumprimento dependerá o envio do cheque (humilhação redobrada da casta que manda no país)
  5. admitindo que 3) ou 4) são ultrapassados, e cobrado o cheque de Bruxelas, Paulo Portas abandona a coligação e precipita a queda do governo
  6. Cavaco nomeia governo de iniciativa presidencial (PSD-PS-independentes próximos de Cavaco), que durará até às próximas eleições, que serão convocadas para o fim de 2013.

IMPORTANTE: se o CDS não abandonar a coligação depois de chegar o cheque de Bruxelas, desaparecerá nas eleições autárquicas, o que até seria excelente, para espevitar uma reforma e recomposição do miserável panorama partidário que temos.

* Eleitores fantasma: a população total do Açores cresceu entre 2001 e 2011, de 4.983 almas, passando de 241.763 para 246.746. No entanto, o número de eleitores pulou entre 2008 e 2012 de 192.943 para 225.109, ou seja, um acréscimo de 32.166 votantes potenciais. Alguém me consegue explicar este fenómeno?

sexta-feira, agosto 10, 2012

RTP ou Nova Constituinte?

Em democracia nada justifica uma máquina de propaganda audiovisual ao serviço do governo de turno

Já não precisamos da RTP, obrigado. Precisamos, sim, de uma Nova Constituinte!

Um editorial tem 4.000 caracteres. Para este bastariam 56: vender uma licença de televisão não é privatizar a RTP. Pedro Santos Guerreiro, in Negócios, 5 agosto 2012.

Desde que se começou a falar da privatização da RTP, escrevi sempre o mesmo:

UM — Não precisamos de qualquer televisão pública no estado atual das tecnologias de comunicação. Assim como se privatizaram todos os jornais do estado que chegaram a coalhar o panorama mediático nacional e já ninguém se lembra porque duraram tanto tempo, o mesmo ocorre com os ainda existentes canais de propaganda audiovisual ao serviço das teias governamentais de turno, entretanto transformados em verdadeiros nichos de emprego político e fonte de despesismo escandaloso e inútil do ponto de vista da informação. Os arquivos da RTP devem ir para uma secção da Biblioteca Nacional e servirem a cidadania, toda a indústria, assim como os estudiosos académicos.

DOIS — Os maquiavelismos sórdidos que o licenciado instantâneo Relvas tem procurado implementar a propósito da falsa privatização da RTP-RDP em curso, apenas desacreditam o governo do Jota Passos de Coelho e demonstram à saciedade que este regime corrupto já não tem emenda.

Esperemos que a Troika esteja suficientemente atenta para não deixar passar mais esta farsa e falsificação dos termos acordados do memorando que preside ao resgate em curso.

A democracia portuguesa ainda vigente degenerou e o texto constitucional a que falsamente obedece morreu. É preciso retirar as inadiáveis consequência do cadáver adiado que temos entre mãos e preparar um funeral condigno. Isto é, é urgente convocar uma NOVA ASSEMBLEIA CONSTITUINTE para refundar esta insolvente, incompetente e corrompida democracia populista.

A Constituição em vigor é uma inutilidade manifesta, atropelada à esquerda e à direita todos os dias.

Ou apostamos na União Europeia e rasgamos a atual farsa constitucional, completamente esburacada pelos alçapões que a cleptocracia e o populismo multiplicaram ao longo das últimas décadas. Ou, se não tivermos força democrática suficiente para mudar este regime bloqueado, espera-nos um rápido e desastroso declínio da economia e das liberdades, com a consequente expulsão do paraíso europeu.

O tempo de optar entre o PSD e o PS, ou entre a esquerda desmiolada e oportunista que temos e o resto do espectro partidário acabou. Tal como no tempo da ditadura, a única atitude livre e democrática que nos resta é anunciar e boicotar publicamente os próximos atos eleitorais, e reclamar a formação de uma NOVA ASSEMBLEIA CONSTITUINTE.

Queremos, ou deveríamos querer, uma democracia simples, responsável e transparente.

Queremos ou deveríamos querer uma verdadeira União Europeia, próspera, sustentável, livre, democrática, justa e regionalmente equilibrada.

Mas para aqui chegarmos, o primeiro passo é mesmo derrotar a cleptocracia instalada e os seus vassalos.

sexta-feira, abril 20, 2012

Bases para um novo 25A

Sem classe média não há democracia

Flor de Jasmin


A emergência de um Novo Partido Democrata seria um estímulo positivo à necessária metamorfose de um regime insolvente que só não explodiu ainda porque tem contado com o cinto de segurança da União Europeia.

Parece cada vez mais evidente que os partidos a quem temos vindo a dar reiteradamente o nosso voto ao longo das últimas três décadas não cumpriram. Pior: os que estiveram rotativamente no poder conduziram o país à bancarrota, de que apenas nos poderemos salvar se, em primeiro lugar, contarmos com um período de carência por parte dos nossos principais credores e parceiros comunitários (que aliás coincidem) e, em segundo, formos capazes de provocar uma verdadeira metamorfose na democracia que deixámos infiltrar de ervas daninhas até ao ponto de estas terem capturado e envenenado todo o sistema.

Foi preciso bater no fundo da insolvência para acordarmos. Mas será que acordámos, ou continuamos a vaguear como mortos-vivos à míngua de mais paternalismo, mais ilusões e mais indolência? Queremos mudar, ou queremos esperar pela retoma da imprestável democracia burocrática, populista e corrupta que temos escancarada diante de todos nós e do mundo?

É certo que todos os partidos com assento parlamentar estão e estarão ainda mais no futuro próximo sujeitos a tensões internas e desejos manifestos de mudança. É notória a vontade de muitos militantes socialistas expiarem as suas culpas no cartório da insolvência do país e na má memória deixada por José Sócrates e pela turma de serviçais que o acompanharam sem hesitação, dúvida, ou remorso. Mas será que vão conseguir mudar alguma coisa dentro do PS, a tempo de fazerem a diferença sonhada? Uma provável vitória de François Hollande poderá dar uma ajuda, mas também poderá levar a uma colagem imediata de António José Seguro ao "novo paradigma", deixando a hipótese de uma renovação estrutural do partido em águas de bacalhau. Em breve, diria mesmo, até ao fim deste ano, e não mais, as personalidades críticas e os jovens turcos do PS terão que decidir se avançam internamente, se hibernam, ou se partem para outra. Os partidos deixaram de ser sacos azuis de onde se retira e paga o bodo aos pobres de pão e espírito. Vão ter que provar muito mais, daqui para a frente, se quiserem merecer a atenção e o sim dos cidadãos.

No PSD as tensões são por enquanto surdas mas podem rebentar quando menos esperarmos. Marques Mendes é uma espécie de ponto deste turbilhão que acabará por fazer caminho num partido que é governo insustentável de uma situação insustentável. Nunca nenhum governo, desde 25 de Abril de 1974 —o dia em que a ditadura tombou sob o peso da demolição interna, da rejeição pública manifesta e de um golpe militar largamente alimentado por reivindicações corporativas— sobreviveu uma legislatura completa com taxas de crescimento abaixo dos 2%. Quando os portugueses perceberem que a austeridade brutal que lhes está a ser imposta de forma assimétrica veio para ficar durante muitos anos, e que pende sobre toda a classe média uma real ameaça de destruição, haverá uma revolta que varrerá o presente governo, se não mesmo o regime inteiro, do mapa!

Os privilégios da famílias de rendeiros ricos e preguiçosos, e os privilégios da nomenclatura partidária existente, continuam tão protegidos como sempre. Mas por quanto tempo mais?
A pilhagem fiscal em curso, que visa expropriar quem trabalha, poupou ou herdou, em benefício das burocracias instaladas (que por sua vez irão ser as próximas vítimas) e sobretudo para proteger e enriquecer ainda mais os bancos e os seus poucos donos, quando for percebida no seu inteiro escândalo e crime, acordará as classes médias portuguesas, das mais baixas às mais confortadas, como as indulgência denunciadas por Lutero varreram Roma de boa parte da Europa —até hoje!
A grande questão que se coloca, porém, a todos os portugueses fartos deste regime, descrentes de um sistema partidário e parlamentar corrompido até à medula e largamente imbecilizado, é a de saber que outra realidade poderá, com vantagem, substitui-lo.

Outro partido?!

Não há ainda alternativa à democracia que não seja, no fundo, melhorar a democracia!
Acontece, porém, que desta vez não bastam pequenas emendas. É preciso uma ruptura vertical, de alto a baixo, que abane e mude radicalmente os partidos existentes e porventura faça brotar na paisagem pública novos partidos e agrupamentos de governo democrático não necessariamente constituídos segundo as mesmas cartilhas institucionais, formais e procedimentais que estão na base do vigente e desgastado edifício constitucional. Precisamos de dar força e legitimidade próprias às novas formas de pensamento, deliberação democrática e acção pública dos cidadãos.

Ao contrário da desculpa idealista, que acaba por justificar a corrupção em nome de um ideal em mente, moralmente imperativo, que um dia será alcançado, mas que enquanto não for, terá que ser desculpado na sua imperfeição, em nome do relativismo e das fraquezas humanas de sempre, a exigência democrática radical, que demanda a liberdade como veículo irrenunciável, faz-se em nome do que um filósofo distinto de Platão, Aristóteles, chamou uma enteléquia — ou seja, de uma exigência interna irredutível à vulgaridade do oportunismo quotidiano. A corrupção não pode nunca ser o caminho da virtude, da cultura, ou da civilização. E é por isto que a corrupção é o inimigo número um da democracia e da liberdade!

Mas se esta é uma diferença de fundo, que justifica uma nova revolução democrática no seio das democracias que temos, outro ponto igualmente importante diz respeito ao modus operandi desta necessária revolução.

Os partidos convencionais tiveram uma génese invariavelmente conspirativa, de pequenas seitas de interesses e convicções que depois foram dando lugar a grupos de pressão e finalmente emergiram como instituições partidárias. Hoje esta forma de nascer não faz sentido. O mundo ganhou nas últimas duas décadas uma extensão de realidade aumentada a que chamamos Internet, de onde saíram coisas como o email, a Web, o Google, o Skype, o YouTube, o Linkedin, o Scribd., o MySpace, o Facebook, o Tumblr, etc.

Tal com o Partido Pirata, que nasceu na Suécia em 2006, motivado por uma revolta contra a pata pesada e corporativa dos chamados direitos de autor, e hoje conta com mais de dezanove réplicas em vários países e promete tornar-se a terceira força partidária da Alemanha já nas próximas eleições, também o Novo Partido Democrata (NPD) que poderá em breve nascer em Portugal (com esta ou com outra designação), deverá brotar do interior desta nova realidade que é a extensão virtual da cidadania desperta e militante!

O NPD poderá assim tornar-se no primeiro partido português de génese imaterial, digital, em rede, mas com o propósito de intervir e disputar os terrenos tradicionais da representação e da ação democráticas materiais.

Nascer, neste caso, não significa simplesmente proclamar uma sigla, nem o resultado de uma corrida de protagonistas. O nascimento do NPD deve começar por ser original da sua própria génese e ulterior maturação. O pdf que se segue é um diagrama do que poderia ser, a partir de hoje, um acelerador de partículas criativas associado ao lançamento das bases teóricas e práticas no novo partido que, preferencialmente, deveria estar preparado e pronto para agir na precária conjuntura política, social e cultural portuguesa, tão cedo quanto possível. No entanto, a prontidão desejável implica começar por debater este diagrama e avançar com uma estratégia inovadora de produção da nova organização disposta a servir de alternativa num país aparentemente esgotado e sem alternativas.
NPD-lab-1.1

Dez pontos resumem, nesta fase de reflexão, as bases programáticas do partido que poderá em pouco tempo configurar uma alternativa real ao desnorte, aflição e decadência em curso no nosso país:
  • mais Europa
  • mais Democracia
  • mais Responsabilidade
  • melhor Justiça
  • mais Transparência
  • mais Equilíbrio
  • mais Conhecimento
  • mais Criatividade
  • menos Burocracia
  • menos Impostos
O ponto de partida é este. Falta agora debatê-lo, desdobrar as suas possibilidades, comparar com experiências inovadoras em curso noutros países desenvolvidos, afinar conceitos, apurar estratégias, angariar pessoas, promover círculos de conversa virtual e ao vivo, ajudas materiais de diversa índole e obter recursos financeiros.
A organização ainda não existe. O objetivo desta manifestação de vontade é que comece a emergir a partir de hoje!

20 de Abril de 2012
António Cerveira Pinto
(primeiro subscritor da plataforma para o Novo Partido Democrata)

NOTA : este post foi replicado do sítio do Novo Partido Democrata

Última atualização: 22 Abril 2012 16:18

quinta-feira, setembro 22, 2011

Portugal dos Pequenitos - 7

Um rei decente, por favor!

A criatura hirta de Belém —o calculista medíocre de nome Aníbal Cavaco Silva—faz cada vez menos falta ao actual ordenamento constitucional. Obscuro, atado a compromissos, conveniências e dívidas eleitorais, caríssimo e inútil centro de custos sem retorno positivo que se veja, bem poderia ser substituído por qualquer coisa chic e criativa. Porque não reinstaurar por via referendária uma monarquia constitucional avançada?

Aos que argumentam com as vantagens da transparência democrática republicana, respondo com factos: a actual democracia portuguesa é populista e corrupta como a primeira que deu em ditadura, e assenta numa imprestável e ilegítima monarquia clandestina, amanhada como uma nomenclatura medieval, medíocre, endogâmica, nepotista, onde nenhum cidadão tem acesso pela via efectivamente democrática, mas apenas por vontade da colegiata republicana — pela via normal, a maçónica, ou pelas vias bastardas, opusdeica, partidária ou simplesmente criminosa. Em todo o caso, sempre por caminhos radicalmente opostos ao da transparente genealogia monárquica.

Repito, pois, uma recomendação a Duarte Pio: prepare o Afonso para o que der e vier!

A democracia cognitiva e tecnológica do futuro poderá reencontrar na monarquia uma forma de representação do poder bem mais decente do que as decadentes, corruptas, populistas e cada vez mais estúpidas democracias actuais.

terça-feira, março 15, 2011

Por uma nova constituinte!

Geração à Rasca — Av. Liberdade, Lisboa, 12mar2011 (Foto: ACP)

A monumental manifestação de cidadania que por todo o país respondeu à convocatória da Geração à Rasca foi, na realidade, a certidão de óbito de uma democracia degenerada e já sem capacidade de auto-regeneração. De facto, só uma revolução constitucional poderá superar de forma realista e saudável o impasse sistémico a que chegámos. Precisamos, como escreveu Manuel Maria Carrilho, de uma nova república, mas para lá chegarmos precisamos também de uma nova constituição, e de uma nova assembleia constituinte. Esta é aliás a única via de saída pacífica e democrática para um regime que chegou miseravelmente ao fim. Resta apenas saber se o actual presidente da república tem condições para liderar um tal processo, ou se vai ser preciso um grande empurrão popular para lá chegarmos!

A manifestação de 12 de março de 2011 assinala a tomada de consciência patriótica, em sentido profundo e construtivo, de que algo muito importante e íntimo se quebrou e não pode ser reparado sem uma mudança de regime político. Refiro-me à confiança dos portugueses nas suas instituições democráticas.

Depois do avisado discurso de posse de Cavaco Silva, e dos sinais visíveis de realidades prontas a emergir —quer da alma amordaçada do PS, quer da insustentável duplicidade liberal-populista do PSD, ou ainda de múltiplos movimentos espontâneos de indignação, com o potencial de evoluírem para decisivas forças políticas de mudança—, Portugal está perante um dilema: prolongar por mais algumas semanas, meses, uma década que seja, a actual agonia, pagando o preço de entregar o país à guarda da Alemanha e da Espanha; ou então, despedir sem cerimónias o regime corrupto e inepto que deixámos imprudentemente proliferar como um cancro, substituindo-o rapidamente por uma nova república, constituída por poderes efectivamente democráticos, eticamente responsáveis, tecnicamente competentes e culturalmente ambiciosas.

O exemplo da Islândia

... a Islândia (ler aqui, e aqui) dispõe [desde 27 de novembro passado] de uma Assembleia Constituinte composta por 25 simples cidadãos eleitos pelos seus pares. É seu objectivo reescrever inteiramente a constituição de 1944, tirando nomeadamente as lições da crise financeira que, em 2008, atingiu em cheio o país. Desde esta crise, de que está longe de se recompor, a Islândia conheceu um certo número de mudanças espectaculares, a começar pela nacionalização dos três principais bancos, seguida pela demissão do governo de direita sob a pressão popular.

As eleições legislativas de 2009 levaram ao poder uma coligação de esquerda formada pela Aliança (agrupamento de partidos constituído por social-democratas, feministas e ex-comunistas) e pelo Movimento dos Verdes de esquerda. Foi uma estreia para a Islândia, bem como a nomeação de uma mulher, Johanna Sigurdardottir, para o lugar de Primeiro-Ministro. — De um amigo.
Na sequência da falhada tentativa de golpe estado "socialista" da passada sexta-feira, Paulo Portas fez uma intervenção oportuna, denunciando pela primeira vez, em simultâneo, o "TGV" e o novo aeroporto. Estou convencido que esta declaração, e a decisão de forçar a discussão do PEC-4 no parlamento, foram momentos decisivos para o fim do governo Sócrates. Sem esta intervenção, que sorrateiramente impediu Passos de Coelho de continuar a manobrar, estaríamos ainda suspensos da secreta e difícil negociação entre o PS e o PSD em volta da partilha dos 55 mil milhões de euros de obras públicas que ambos querem levar por diante, em nome das construtoras e bancos que neles mandam, nem que para tal tenham que expropriar toda a classe média da sua condição, e acelerar a morte dos mais idosos e mais pobres recorrendo a restrições e cargas fiscais verdadeiramente assassinas (1).

O instinto de sobrevivência de Portas falou mais alto. Com Rui Rio anunciando o fim do regime, Pedro Santana Lopes avisando que poderá formar um novo partido, e a Geração à Rasca inundando as principais cidades do país, só um tolo não perceberia que a crise política está instalada, e que antecipar o calendário eleitoral será o menor dos males. A Alemanha que espere!

NOTAS
  1. A saída de Manuel Avelino Jesus da comissão de avaliação das parcerias público-privadas (ler aqui), anunciada ontem, é apenas mais um sintoma do sinistro arquipélago de sombras disputado por grandes empresas e bancos endividados incapazes de largar as tetas do orçamento, sabendo embora que a dívida soberana portuguesa acaba de explodir. Nem que seja preciso escravizar uma nação inteira, enchendo o país de estradas, barragens, pontes e aeroportos de que não precisamos, nem podemos pagar, esta burguesia palaciana e burocrática continuará a enviar os seus testas de ferro para a frente televisiva e para os corredores e alcovas governamentais. Até que alguém lhes diga: basta!

sexta-feira, dezembro 10, 2010

Wikileaks

Não há democracia sem transparência

Wikileaks revela que Chávez pediu 1,1 mil milhões ao BES

A petrolífera estatal venezuela PDVSA pediu um empréstimo de 1,5 mil milhões de dólares (1,1 mil milhões de euros) ao Banco Espírito Santo (BES), no início do ano, revela um telegrama da embaixada norte-americana em Caracas, divulgado pelo site Wikileaks. O empréstimo, que à data do telegrama - 4 de Fevereiro - não estava ainda acordado, foi solicitado numa altura de aperto financeiro para o regime de Caracas, adianta a mesma fonte.

O telegrama confidencial descreve um encontro entre um alto responsável da PDVSA e uma fonte não identificada do grupo japonês Mitsubishi, que terá passado a informação aos diplomatas norte-americanos. — in Económico (Filipe Alves, 10/12/10 00:05).

A publicação pelo Wikileaks de mais de 400 mil documentos secretos, confidenciais ou simplesmente reservados, do Pentágono e das embaixadas americanas por esse mundo fora, é um verdadeiro terramoto político à escala global.

Será que afinal os Estados Unidos da América não passam de uma potência terrorista, apesar da sua obsessiva retórica democrática? Vale a pena ver até ao fim o elucidativo vídeo da televisão pública sueca, SVT, sobre o Wikileaks, e sobre as entranhas sinistras dos falcões americanos da guerra.

E em Portugal, até onde podemos confiar no actual primeiro ministro, no seu governo e no partido a quem demos a maioria dos votos nas duas últimas eleições, depois de sabermos que uma das maiores campanhas populistas do governo Sócrates —a do Portugal Digital— se viu envolvida, primeiro, na adjudicação ilegal da empreitada do computador Magalhães à JP Sá Couto (LINK), depois na contratação de meninos-figurantes para fazerem coro ao lado do primeiro ministro nas acções promocionais dos quadros electrónicos (LINK) nas escolas portuguesas; e finalmente, hoje, com a revelação de que a compra de um milhão de computadores Magalhães anunciada por Hugo Chávez (LINK) foi financiada com dívida do BES, que agora o país inteiro paga com um programa de austeridade que ameaça destruir a economia e lançar na miséria e no desespero milhões de portugueses?

Esta revelação do Wikileaks seria suficiente para fazer cair o governo se vivêssemos de facto numa democracia transparente. Mas como estamos metidos num regime que naufraga, cada um tentando encontrar o melhor salva-vidas, nem que para isso tenha que matar a mãe, incendiar a companheira, ou afogar os filhos, vamos assistir a mais um festival de retórica populista no parlamento e nas televisões.

Precisamos urgentemente dum Wikileaks em Portugal, independente, responsável e tecnicamente imbatível. Estou disponível para participar na sua construção!

POST SCRIPTUM — Afinal o milhão de computadores que o senhor Hugo Chávez anunciou que iria comprar a Portugal é uma compra financiada com um empréstimo 1,1 mil milhões de euros pelos senhores do BES. Bom, mas isso significa que:
  1. o senhor Sócrates mentiu, uma vez mais, aos portugueses;
  2. a banca portuguesa endividou-se em mais 1,1 mil milhões de euros para financiar as próprias exportações do país;
  3. se a Venezuela não pagar, o calote será coberto por quem?
  4. se a Venezuela não pagar, o calote será coberto pela austeridade imposta a todos os portugueses que não roubam e pagam impostos!
O negócio é muito interessante para a Venezuela e para o BES. Se não vejamos: Chávez compra  computadores a crédito, pagando anos mais tarde, com menos barris de petróleo do que os que teria que dar aquando do contrato, pois o preço do ouro negro não pára de aumentar; o BES empresta a Chávez com juros de 5, 6, 7...8%, depois de se ter refinanciado no BCE a 1%. Só Portugal fica a arder, pois tudo isto acaba por se traduzir numa troca comercial desfavorável para Portugal e no agravamento da dívida externa portuguesa, cujo financiamento pelo BCE acarreta a imposição dum programa de austeridade muitíssimo violento para a generalidade dos portugueses. Se a classe média não acorda a tempo, desaparece!

sexta-feira, outubro 01, 2010

O que nos espera - 4

O luto de Outubro

No dia 5 de Outubro de 2010 comemora-se a terceira bancarrota de Portugal gerada por sistemas parlamentares populistas que em nada mudaram ao longo dos últimos 100 anos. Assassinaram a Monarquia, colocaram a Primeira República ao colo da uma Ditadura, e preparam-se agora para mergulhar Portugal numa espiral de empobrecimento e descalabro social sem precedentes. A corja não mudou nada desde Eça Queiroz!

Há, porém, um pormenor que deve ser destacado desta vez:
  • quem levou Portugal à bancarrota? Foi o Partido Socialista;
  • quem começou a demolir de forma imparável o Estado Social? Foi o Partido Socialista;
  • quem permitiu a captura do Estado Português por organizações mafiosas de todas as cores e feitios? Foi o Partido Socialista;
  • quem transformou a Justiça Portuguesa numa anedota trágica? Foi o Partido Socialista.
  • quem instituiu a prática sistemática da falsificação de estatísticas e manipulação da imprensa? Foi o Partido Socialista.
Tudo isto aconteceu nos últimos quinze anos, sendo desprezível o impacto que Durão Barroso e Santana Lopes tiveram na acelerada e irremediável degradação do regime. É, de facto, o Partido Socialista, pela mão de quem o desfigurou e dele abusou sem pudor, à boa maneira de uma autêntica Cosa Nostra, o principal responsável do colapso ontem finalmente reconhecido pelo boneco que lá colocaram na pose de primeiro-ministro, depois do ultimato mais do que óbvio lançado ao governo pela Comissão Europeia.

As medidas anunciadas (1) foram vagas e deixaram de fora dois temas essenciais:
  • a diminuição do Estado paquidérmico, indolente, corporativo e corrupto que temos —há 13.740 entidades sem rosto que recebem silenciosamente centenas de milhões de euros dos nossos impostos todos os anos! (2);
  • e os grandes investimentos públicos associados ao Bloco Central do Betão e da Corrupção, com especial destaque para as criminosas Parcerias Público Privadas encavalitadas em verdadeiros desastres programados pelos piratas que há décadas saqueiam o país — tais como: a falência e posterior nacionalização fraudulentas do BPN, a tentativa de fazer um aeroporto desnecessário em Alcochete, a igualmente desnecessária e monstruosa Ponte Chelas-Barreiro, e as novas autoestradas, cujos contratos implicam uma sangria fiscal na ordem dos 2 mil milhões de euros anuais a partir de 2014 (ou seja, o mesmo que pagar anualmente aos concessionários o equivalente a duas Pontes Vasco da Gama!)
Presume-se que o desalmado Teixeira dos Santos tenha ido a Bruxelas, na manhã seguinte à da conferência realizada no dia 29 de Setembro, trocar por miúdos as vacuidades, desta vez tristes, anunciadas pela criatura sem emenda que os portugueses por duas vezes elegeram primeiro-ministro (não se queixem!)

Os floreados retóricos que decorreram hoje na Assembleia da República, no meio da mais grave crise de sempre das nossas finanças públicas, mostraram à saciedade que não temos parlamento, mas uma câmara corporativa e sindical dominada por professores (i.e. funcionários públicos) e advogados da corrupção. Na realidade, o parlamento português revelou-se não só um instrumento completamente inútil no regime democrático devolvido aos portugueses por um golpe de Estado militar, mas também um dos principais factores de irresponsabilidade política, compadrio por detrás das divergências televisivas, e egoísmo partidário. Se temos hoje uma democracia degenerada —e temos!—a causa desta triste realidade reside em boa parte no imprestável parlamento que temos vindo a eleger sem nos darmos conta de que criámos um monstro muito caro e patético.

Temer por uma crise política nestas alturas do campeonato é como ter medo da chuva depois de uma carga-de-água tropical. O papão da crise política, alimentado pelas tríades e máfias instaladas, e papagueado pelos bonecos que se agitam sob o seu comando, não passa de mais uma maquinação mediática para impedir que se faça o que tem que ser feito: demitir o actual governo, e convocar eleições legislativas antecipadas, assim que o novo presidente da república tenha sido eleito.

Como é também evidente, o maior aliado de José Sócrates, Aníbal Cavaco Silva —que ainda não explicou ao país porque meteu o senhor Dias Loureiro no Conselho de Estado—, é parte inteira do problema político, e não da sua solução. Aliás, só poderá agravá-lo, se se recandidatar e for reeleito!

Daí que Passos de Coelho, o actual líder do PSD, se quiser sobreviver politicamente, tenha que usar a "bomba atómica" que tem na mão. Isto é, anunciar duas coisas:
  1. que votará contra a proposta de orçamento do actual governo, na medida em que será mais um cheque sem provimento endossado aos portugueses, desta vez com demolição do Estado Social incluída, por um partido que é de facto o principal responsável pela bancarrota de Portugal;
  2. e que não apoiará a recandidatura de Cavaco Silva. Na realidade, bastará anunciar a primeira decisão para que o actual presidente, manifestamente incapaz de lidar com problemas pesados, desista de se candidatar a um segundo mandato.
O PS, como bem se disse já, que aprove o orçamento de Estado com os partidos que vão juntar-se no apoio eleitoral a Manuel Alegre. Basta de hipocrisias!

Por menos do que isto, teremos uma gangrena muito perigosa do regime.


NOTAS
  1. O Governo apresentou as 19 medidas que pretende implementar para reduzir o défice deste ano e de 2011. Entre as 19 medidas apresentadas, 15 são do lado da despesa e as restantes quatro do lado da receita.

    Despesa

    1 – Reduzir os salários dos órgãos de soberania e da Administração Pública, incluindo institutos públicos, entidades reguladoras e empresas públicas. Esta redução é progressiva e abrangerá apenas as remunerações totais acima de 1500 euros/mês. Incidirá sobre o total de salários e todas as remunerações acessórias dos trabalhadores, independentemente da natureza do seu vínculo. Com a aplicação de um sistema progressivo de taxas de redução a partir daquele limiar, obter-se-á uma redução global de 5% nas remunerações;
    2 - Congelar as pensões;
    3 - Congelar as promoções e progressões na função pública;
    4 -Congelar as admissões e reduzir o número de contratados;
    5 - Reduzir as ajudas de custo, horas extraordinárias e acumulação de funções, eliminando a acumulação de vencimentos públicos com pensões do sistema público de aposentação;
    6 - Reduzir as despesas no âmbito do Serviço Nacional de Saúde, nomeadamente com medicamentos e meios complementares de diagnóstico;
    7 - Reduzir os encargos da ADSE;
    8 - Reduzir em 20% as despesas com o Rendimento Social de Inserção;
    9 - Eliminar o aumento extraordinário de 25% do abono de família nos 1º e 2º escalões e eliminar os 4º e 5º escalões desta prestação;
    10 - Reduzir as transferências do Estado para o Ensino e sub-sectores da Administração: Autarquias e Regiões Autónomas, Serviços e Fundos Autónomos;
    11 - Reduzir as despesas no âmbito do Programa de Investimentos e Despesas de Desenvolvimento da Administração Central (PIDDAC);
    12 - Reduzir as despesas com indemnizações compensatórias e subsídios às empresas;
    13 - Reduzir em 20% as despesas com a frota automóvel do Estado;
    14 - Extinguir/fundir organismos da Administração Pública directa e indirecta;
    15 - Reorganizar e racionalizar o Sector Empresarial do Estado reduzindo o número de entidades e o número de cargos dirigentes.

    Receita

    1 - Redução da despesa fiscal
    ·                     Revisão das deduções à colecta do IRS (já previsto no PEC);
    ·                     Revisão dos benefícios fiscais para pessoas colectivas;
    ·                     Convergência da tributação dos rendimentos da categoria H com regime de tributação da categoria A (já previsto no PEC);

    2 - Aumento da receita fiscal
    ·                     Aumento da taxa normal do IVA em 2pp.;
    ·                     Revisão das tabelas anexas ao Código do IVA;
    ·                     Imposição de uma contribuição ao sistema financeiro em linha com a iniciativa em curso no seio da União Europeia;

    3 - Aumento da receita contributiva
    ·                     Aumento em 1 pp da contribuição dos trabalhadores para a CGA, alinhando com a taxa de contribuição para a Segurança Social.
    ·                     Código contributivo (já previsto no PEC).
    4 - Aumento de outra receita não fiscal
    ·                     Revisão geral do sistema de taxas, multas e penalidades no sentido da actualização dos seus valores e do reforço da sua fundamentação jurídico-económica.
    ·                     Outras receitas não fiscais previsíveis resultantes de concessões várias: jogos, explorações hídricas e telecomunicações.
  2.  O estado português dá emprego efectivo a cerca de 700 mil funcionários públicos (i, 18-05-2010) e contrata a recibos verdes quase 5 mil prestadores de serviços (Económico, 24-08-2010). No entanto, a diminuição dos agentes efectivos e provisórios do Estado não se traduziu na eliminação de serviços inúteis ou redundantes, mas antes na sua contínua proliferação, embora disfarçada pela criação de empresas municipais e regionais de capitais 100% públicos, e pela contratação de prestações de serviços permanentes a empresas privadas, boa parte delas na órbita empresarial dos partidos!

segunda-feira, março 16, 2009

Portugal 92

Uma semana com 20 horas?

Diante da natureza da crise e dos seus efeitos devastadores, é também a teoria económica de matriz neoliberal que perde credibilidade e se revela incapaz de interpretar a realidade económica. Consequentemente a efectiva resposta aos novos desafios da crise não deve ser procurada em políticas económicas assentes naquela inspiração. — "Reflexão para a Quaresma de 2009" (PDF), Comissão Nacional Justiça e Paz.

Senator Hugo Black of Alabama, a champion of a 30-hour workweek, agreed to sponsor the Administration bill on this subject in the Senate, while Representative William P. Connery of Massachusetts introduced corresponding legislation in the House. — in Fair Labor Standards Act of 1938: Maximum Struggle for a Minimum Wage by Jonathan Grossman (1).

Roosevelt later "voiced regret that he did not get behind the Black-Connery Thirty Hour Week Bill and push it through Congress" — in Jeremy Rifkin, The End of Work.

Eu não sou suspeito de morrer de amores pelo papagaio que a tríade de Macau colocou à frente do partido e do governo de maioria que actualmente nos governa. Mas devo confessar um facto: não é apenas a José Sócrates e à dita tríade que podemos atribuir a responsabilidade pelos mais de 574 mil desempregados, inactivos e sub-empregados registados pelo INE.

Comparando os números da análise crítica de Eugénio Rosa, compilados com base nas estatísticas oficiais, ficamos a saber que o desemprego em Portugal se manteve sempre em alta desde que José Sócrates prometeu criar 150 mil novos postos de trabalho. Esta tendência altista iniciou-se, porém, pouco depois de António Guterres ter entregue o governo, de mão beijada, a Durão Barroso.

Entre os 548.900 desempregados, no 1º trimestre de 2005, e os 574.200, no fim do 4º trimestre de 2008 —com um pico máximo no 4º trimestre de 2006, de 614.000, e um mínimo de 539.600 no fim do 2º trimestre de 2006—, registou-se um agravamento indisfarçável do desemprego em mais 25 mil postos de trabalho.

Tendo o INE interrompido desde 2003 o cálculo estatístico da emigração portuguesa, nomeadamente para a Europa, não podemos quantificar com exactidão a perda total de empregos no nosso país ao longo dos últimos quatro anos. Lendo porém o Relatório Internacional sobre Migrações de 2007 da OCDE (citado pelo D.N.), segundo o qual os 5 milhões de emigrantes espalhados pelo planeta se aproximam rapidamente da população activa do país (2), podemos estimar uma sangria média anual para o exterior nos últimos quatro anos na ordem dos 36.761 emigrantes —ou seja, quase 150 mil pessoas quando a presente legislatura chegar ao fim.

Em vez dos 150 mil novos postos de trabalho prometidos por José Sócrates, Portugal perdeu nos últimos quatro anos mais 172.344 empregos — os 25.300 desempregados a mais que no fim de 2008 se somam aos 548.900 do início da legislatura, mais 147.044 emigrantes. Ou seja, quando este governo for a votos, haverá 721.244 portugueses (ou talvez mesmo 800 mil) sem perspectivas de trabalho regular no nosso país, entre os quais se encontrarão desempregados recentes e de longa duração, jovens à procura do primeiro emprego e portugueses que emigraram desde 2005.

Os 70.334 novos desempregados inscritos até ao fim de Janeiro de 2009 (3) revelam bem até que ponto estamos perante uma tendência avassaladora, que nem este nem o próximo governo conseguirão travar, se não se perceber primeiro as causas do fenómeno.

O aumento do desemprego durante o governo de maioria absoluta é uma consequência directa da redução do Défice Orçamental imposta pelo Pacto de Estabilidade da União Europeia. Obras públicas e "jobs for the boys", alimentados sobretudo pelas receitas extraordinárias das privatizações e pelos fundos comunitários, foi a maneira como António Guterres disfarçou a tendência para a destruição do emprego inscrita nas sucessivas revoluções tecnológicas que têm marcado o Capitalismo desde o aparecimento da máquina a vapor. Porém, assim que o financiamento da bolsa artificial de emprego criada pela expansão do sector público começou a pesar no défice orçamental e na dívida pública, e o chicote de Bruxelas colocou Portugal sob a ameaça de multas pesadas por infracção manifesta do Pacto de Estabilidade —tendo então começado as dramáticas "reformas estruturais"—, o desemprego disparou.

Basta comparar os números oficiais do desemprego ao longo deste século:

Governo António Guterres
  • 2000: 4,0%
  • 2001: 4,0%
Governo Durão Barroso
  • 2002: 5,0%
  • 2003: 6,3%
Governo Santana Lopes
  • 2004: 6,7%
Governo José Sócrates
  • 2005: 7,6%
  • 2006: 7,6%
  • 2007: 8,0%
  • 2008: 7,6%

As anunciadas grandes obras públicas, pela fraca quantidade, qualidade e natureza precária dos empregos prometidos, nada podem fazer para inverter esta tendência de fundo. E pior do que isso: são uma ilusão caríssima que o País não pode suportar, nem sequer está em condições de financiar, mesmo que o IVA fosse parar aos 25% e a especulação financeira pagasse impostos. Os impactos desta ilusão na dívida externa portuguesa são pura e simplesmente insustentáveis. Neste ponto, o consenso crescente entre os economistas só é contraditado pela demagogia generalizada dos partidos políticos, à excepção, diga-se em abono da verdade, de Manuela Ferreira Leite.

A retórica dos partidos excêntricos da Oposição não convence. Ao elegerem o emprego e a segurança como bombos da festa anti-Sócrates, PP, PCP e Bloco de Esquerda —que nenhuma estratégia concreta propõem para mitigar o iminente colapso económico e social do país—, sabem que não têm soluções para esses dois dramas. A Direita folclórica do PP não pode ser mais previsível na sua histeria securitária, e a Esquerda previsível repete palavras de ordem há muito descredibilizadas. Onde pretendem pois chegar os partidos excêntricos com semelhante demagogia? Eu também quero ver o papagaio da tríade de Macau fora de São Bento. Mas em nome de algo que faça sentido! A voz grave, mas esfíngica, de Manuel Alegre, por si só, não basta. Precisa-se urgentemente de uma estratégia clara e criativa para superar a mais grave crise sistémica do Capitalismo desde a Grande Depressão.


O desemprego é o principal coveiro do Capitalismo

A principal causa da destruição de milhões de empregos em todo o mundo, mais ainda do que a deslocalização de milhares de empresas para a China e em geral para os países de mão-de-obra barata, é a inovação tecnológica aplicada tanto aos processos produtivos como aos métodos de gestão.

As ciências e as tecnologias aumentam a produtividade do trabalho. Este aumento, por sua vez, é responsável pelo acréscimo da produção, pela concentração do capital, pelo crescimento dos lucros, mas também pela extinção acelerada do trabalho humano! Se a tecnosfera cresce e é cada vez mais inteligente, ao mesmo tempo que o trabalho humano desaparece e é cada vez pior remunerado, quem irá no futuro adquirir os frutos da extraordinária produtividade das economias pós-industriais?

Até ao eclodir da primeira grande crise sistémica global do Capitalismo, esta aporia do progresso foi mitigada por uma estratégia combinada de deslocalização da produção para países com factores de exploração do trabalho mais favoráveis, e por uma expansão artificial do crédito e da massa monetária. O que agora desabou foi precisamente a bolha do endividamento continuado e excessivo das economias mundiais. As consequências são fáceis de prever: crises de endividamento, falências pessoais, falências empresariais, falência do sistema financeiro, quebra abrupta da procura, desinflação, quebra abrupta da produção, deflação, ajustamento dos modelos de emprego às nova tecnologias produtivas e de gestão, desemprego em larga escala, colapso iminente de milhares de sistemas públicos, colapso potencial dum número indeterminado de países, hiperinflação, adaptação catastrófica dos actuais sistemas sociais à super produtividade tecnológica.

É assim desde o aparecimento da máquina a vapor que levou à desertificação progressiva dos campos e ao crescimento exponencial das cidades. É assim desde a invenção da electricidade, do motor de combustão e das telecomunicações que conduziram à contracção do emprego industrial e ao aparecimento das sociedades de serviços. É assim desde o aparecimento da micro-electrónica, da computação digital e das bio e nanotecnologias que irão fazer disparar a produtividade e o desemprego para patamares dificilmente imagináveis.

Segundo Jeremy Rifkin, cujo livro, The End of Work, não me canso de recomendar, por volta de 2050, apenas 5% da população adulta mundial será provavelmente suficiente para dar conta de toda a produção industrial necessária.

Ainda segundo Rifkin, em apenas sete anos, entre 1995 e 2002, as vinte maiores economias mundiais perderam 31 milhões de postos de trabalho só na indústria transformadora. Ao contrário do que poderíamos imaginar, 15 milhões dos empregos perdidos ocorreram na China. Entre 1982 e 2002, apesar da produção de aço nos Estados Unidos ter subido de 75 para 102 milhões de toneladas, o emprego neste sector diminuiu de 289 mil para 74 mil trabalhadores. No sector de serviços a destruição massiva de empregos não é menos surpreendente, sobretudo para quem continua a crer que este sector será capaz de absorver eternamente os deserdados da agricultura e da indústria transformadora. O chamado net banking, por exemplo, pode chegar a reduzir 90% dos seres humanos necessários para gerir a mesma carteira de clientes que um banco convencional. Ou seja, o futuro de boa parte das actividades de serviços (finança, seguros, comércio, jornalismo, publicidade, etc.) irá eliminar milhões de empregos urbanos ao longo das próximas décadas.

Em Portugal, o caso da transportadora aérea nacional, embora menos badalado que a situação igualmente terminal da Alitália, é um bom exemplo do futuro dramático que se avizinha.

O Grupo TAP, depois de ter sido forçado politicamente a comprar por 140 milhões de euros (que não tem) a falida Portugália Airlines, do Grupo BES, ficou com cerca de 10 mil trabalhadores a cargo, ou seja, o mesmo número de trabalhadores que conjuntamente empregavam em Fevereiro de 2007 a easyJet, a Ryanair e a Air Berlin.

A Alitália, uma empresa em perda acelerada de produtividade, apesar de ter uma das mais jovens frotas europeias, continua incapaz de competir com o ascendente sector das Low Cost. Os seus 22 mil funcionários, i.e. 122,9 trabalhadores por aeronave, são um handicap muito desfavorável na comparação com as três principais Low Cost europeias, Ryanair, Easy Jet e Air Berlin, com uma média de 37,5 trabalhadores por avião. Na TAP esta relação é ainda mais desfavorável: 156,3 trabalhadores por aeronave. Alitália e TAP são pois empresas obsoletas na concepção estratégica do negócio, nos métodos de gestão e sobretudo na racionalização dos custos e flexibilidade laborais. A tendência para a concentração capitalista no sector não irá retroceder, pois sendo o capital fixo cada vez mais eficiente e precioso, também é cada vez mais caro e difícil de obter sem que previamente sejam dadas garantias de uma gestão racional dos recursos disponíveis. A contracção do emprego nestas, como na generalidade das companhias aéreas mundiais, pode ser adiada, mas é inevitável a médio prazo.


O voluntarismo neo-keynesiano é um erro

O desemprego deixou de ser um problema conjuntural que a demagogia partidária possa resolver. Na realidade, à medida que se esgotam as estratégias de mitigação (obras públicas, expansão do sector público, criação monetária, especulação financeira, endividamento) da principal tendência evolutiva das sociedades humanas actuais — a tendência para a diminuição do trabalho humano no sistema produtivo —, o desemprego e a falta de trabalho ocupam o centro das preocupações da esmagadora maioria da humanidade.

Se há cada vez menos trabalho, e se o trabalho disponível é cada vez mais mal pago independentemente do grau de preparação e até de responsabilidade de quem vai tendo acesso a este recurso em vias de extinção, que regime de acesso ao bem comum podem os humanos esperar no futuro?

O recurso à despesa pública de tipo keynesiano seria mais do mesmo, i.e. maior inércia dos sistemas económicos, sociais e políticos obsoletos, mais endividamento de quem já está sobre endividado (todos nós!), e diminuição dos períodos de expansão económica, com o consequente aumento, duração e gravidade das recessões e depressões económicas.

Ao contrário do que se diz por aí, não foi o New Deal (1933-1938) que salvou a América da interminável Grande Depressão, mas sim a preparação e entrada do país na Segunda Guerra Mundial. O ataque e destruição dos 11 obsoletos navios e 188 aviões de guerra estacionados na base militar de Pearl Harbour, em 1941, foi mais uma oportunidade do que um verdadeiramente inesperado casus belli.

Quando Franklin D. Roosevelt chegou ao poder (1933) e lançou o primeiro New Deal (1933-1934), o desemprego situava-se nuns elevadíssimos 25%. No início de 1937 desceu para os 15%, mas no fim desse mesmo ano, princípios de 1938, voltou a subir para os 21%. Em 1939, a jovem Conservative coaliton (formada pela maioria conservadora do Partido Republicano e pela minoria conservadora, sobretudo sulista, do Partido Democrata) bloqueou os planos liberais de Roosevelt, interrompendo o segundo New Deal então em curso (1935-38) e favorecendo claramente o esforço de guerra americano, primeiro no auxílio aos aliados ingleses, e depois de Pearl Harbour, entrando directamente na guerra mundial. Em 1940 o desemprego desceu para 15%; em 1942 (um ano depois de Pearl Harbour), para 7,5%; e em 1943, para 3,75%. A família Bush bem tentou recriar uma oportunidade parecida. Mas a sorte dos deuses não esteve do seu lado. Que fará Obama? A Cimeira do G20 que terá lugar em Londres no próximo dia 2 de Abril será porventura decisiva a este respeito...


Porque seremos o único animal que paga pelo que bebe e come?

O maior problema que temos pela frente é saber como distribuir o trabalho humano que assegura e faz progredir o trabalho das máquinas físicas, comunicativas e cognitivas que, por sua vez, asseguram a produção de uma parte crescente de tudo o que precisamos para viver e aumentar os níveis de sofisticação das redes de interacção social a que pertencemos.

Desde logo, precisamos de redefinir radicalmente a titularidade dos meios de produção, procedendo à sua integral socialização. Sabemos hoje que boa parte da concentração capitalista mundial e dos aumentos de produtividade do trabalho pela via da automação e da desmaterialização de muitos processos produtivos é alimentada financeiramente pela gigantesca poupança acumulada nos fundos de pensões. De facto, só mesmo a poupança —isto é a acumulação— permite estimular o aumento da produtividade do trabalho, na medida em que só a poupança que conduz à acumulação de reservas assegura em geral o crescimento económico, pela sua capacidade de desviar uma parte dos recursos, da esfera do consumo, para a esfera produtiva.

No entanto, se o trabalho assalariado tende a desaparecer, sobrando por outro lado uma enorme capacidade produtiva e de consumo progressivamente fora do sistema de valor capitalista, onde irá no futuro a economia dominante buscar a poupança de que necessita para promover os investimentos de capital intensivo de que depende criticamente para seguir em frente na procura de uma ainda maior produtividade do trabalho assalariado? No dia em que tudo for comandado por robots, quem contribuirá para os fundos de pensões que hoje, segundo Jeremy Rifkin, perfazem 1/3 dos activos financeiros da maior economia do mundo? O buraco negro do endividamento exponencial que hoje ameaça destruir a economia mundial é o resultado indesejável da tentativa de fugir a esta pergunta.

O trabalho assalariado tem que passar a ser uma actividade temporária de menor duração e mais sustentável em termos energéticos, abrangendo a totalidade dos adultos saudáveis, mas apenas durante um período limitado das suas vidas (por exemplo, dos 22 aos 45 anos), ocupando em média 4 a 5 horas seguidas de trabalho diário bem remunerado, 4 ou 5 dias por semana. Antes de chegar à idade profissional as pessoas deveriam evoluir livremente numa rede educativa alimentada em partes iguais pelo sector público, pelas empresas privadas e pelo chamado terceiro sector — uma vastíssima rede de voluntariado, cooperação e criatividade, cuja importância económica poderá ultrapassar, antes do final deste século, a dos actuais sectores empresariais públicos e privados. Depois dos 45 anos as pessoas abandonariam progressivamente a economia capitalista, levando consigo uma pensão vitalícia e universal (isto é, igual para todos). A partir deste ponto começa o terceiro sector, i.e. um estádio social de grande liberdade individual e de intensa criatividade, seguindo o paradigma da dádiva, por oposição ao paradigma da troca. Esta espécie de economia social radical deverá basear-se na cooperação, no voluntariado e na solidariedade. O que fazemos chegar aos outros, e o que os outros nos fazem chegar, tem origem num puro acto de amor e libertação subjectiva. O paraíso na Terra? Porque não?

Perante a crise actual, em vez de perdermos mais tempo a discutir as grandes obras públicas, deveríamos analisar e levar por diante duas reformas estruturais com impactos imediatos na redução dos riscos que a deterioração da actual situação económica comporta para a paz social:
  1. reduzir a semana de trabalho a 20 horas, diminuindo ao mesmo tempo a semana laboral para 4 dias;
  2. criar em todas as cidades com mais de 50 mil habitantes um cartão de residente municipal que dê acesso a múltiplos recursos em troca de voluntariado.
Se estas medidas de fundo fossem acompanhadas de um plano nacional de eficiência energética incidindo numa primeira fase sobre todos os edifícios públicos nacionais e municipais, teríamos com certeza resultados bem mais visíveis do que as expectativas demagógicas alimentadas irresponsavelmente pelo debate eleitoral em curso.


NOTAS
  1. Vale a pena ler toda a descrição de Jonathan Grossman sobre a iniciativa do Presidente Roosevelt relativamente à legislação laboral proposta no quadro da Grande Depressão de 1929-1943, de que os contributos do Senador Hugo Black e do deputado da Câmara dos Representantes, William P. Connery, foram então fonte de grande polémica e voltam hoje a inspirar autores como Jeremy Rifkin. Aqui fica a passagem completa de onde retirei a citação sobre o famoso, embora não aplicado Black-Connery Bill.
    On May 24, 1937, President Roosevelt sent the bill to Congress with a message that America should be able to give "all our able-bodied working men and women a fair day's pay for a fair day's work." He continued: "A self-supporting and self-respecting democracy can plead no justification for the existence of child labor, no economic reason for chiseling worker's wages or stretching workers' hours." Though States had the right to set standards within their own borders, he said, goods produced under "conditions that do not meet rudimentary standards of decency should be regarded as contraband and ought not to be allowed to pollute the channels of interstate trade." He asked Congress to pass applicable legislation"at this session."

    Senator Hugo Black of Alabama, a champion of a 30-hour workweek, agreed to sponsor the Administration bill on this subject in the Senate, while Representative William P. Connery of Massachusetts introduced corresponding legislation in the House. The Black-Connery bill had wide Public support, and its path seemed smoothed by arrangements for a joint hearing by the labor committees of both Houses.

    Generally, the bill provided for a 40-cent-an-hour minimum wage, a 40-hour maximum workweek, and a minimum working age of 16 except in certain industries outside of mining and manufacturing. The bill also proposed a five-member labor standards board which could authorize still higher wages and shorter hours after review of certain cases. — in Fair Labor Standards Act of 1938: Maximum Struggle for a Minimum Wage by Jonathan Grossman.
  2. 5.507.000, no 1º trimestre de 2005; 5.613.900, em Dezembro de 2008.
  3. Mais 44,7% do que em Dezembro de 2008; mais 27,3% do que em Janeiro de 2008.


OAM 557 17-03-2009 19:30 (última actualização: 25-03-2009 01:47)

sábado, setembro 06, 2008

Angola 3

Democracia adiada?

O momento crítico das eleições angolanas começa verdadeiramente agora, ou seja, com a contagem dos votos. Se a tensão criada pelos atrasos verificados na abertura das 320 assembleias de voto de Luanda prosseguir e aumentar de tom, estarão criadas as condições para o regresso dos generais! Espero que a Oposição tenha juízo e demonstre a necessária maturidade para lidar com a casca de banana que lhe lançaram aos pés.

A derrapagem do processo eleitoral angolano, segundo testemunho directo de um dos muitos actores no terreno, que conheço bem e teve a amabilidade de me informar, teve origem nos seguintes contratempos e problemas:
  1. a credenciação dos 600 mil "agentes eleitorais", que decorreu sem problemas nas 17 províncias fora da capital angolana, foi trabalhosa e difícil em quatro dos nove municípios da província de Luanda, com especial destaque para o Cazengue, o município com maior densidade populacional do país;
  2. estes constrangimentos aumentaram exponencialmente com o volume de eleitores em Luanda (mais ou menos um terço dos eleitores do país), contribuindo para um certa confusão nas horas iniciais de funcionamento das assembleias de voto;
  3. o grande atraso na abertura das assembleias de voto parece ter sido consequência de alguns erros na distribuição dos boletins de voto;
  4. o Tribunal Constitucional não deverá, apesar do grau de desorganização verificado, considerar haver matéria suficientemente grave para impugnar as eleições, ou sequer marcar novo acto eleitoral nas assembleias de votos onde se registaram os atrasos e consequente diminuição do tempo previsto para decurso do acto eleitoral;
  5. a situação parece ter sido normalizada atempadamente, pois apenas 320 das mais de 13.000 assembleias de voto abriram hoje a fim de que os eleitores que ontem não puderam votar possam exercer em pleno o seu direito de voto;
  6. embora a UNITA tenha avançado com um pedido de repetição das eleições, os demais partidos da Oposição foram mais moderados nas suas reclamações e, em particular a Igreja manifestou uma posição de extrema moderação sobre a dimensão afinal reduzida dos problemas técnicos verificados;
  7. os erros, compreensíveis até certo ponto, não deixaram porém a melhor impressão nos observadores internacionais, pelo que Luanda poderá ser objecto de críticas e recomendações que não deixarão de pesar sobre o passeio eleitoral esperado por José Eduardo dos Santos, e pelos generais que ele, curiosamente, admoestou no principal comício eleitoral da campanha para estas eleições.

Este é o terceiro postal que escrevo sobre Angola. No primeiro, chamei a atenção para a cleptocracia instalada na antiga colónia portuguesa, sobre cujas irregularidades Portugal mantém um silêncio oportunista e cúmplice. No segundo, chamei a atenção para a necessidade de olhar para Angola numa perspectiva de longo prazo, tendo em conta a infância do novo país e os previsíveis custos da sua consolidação como uma das principais potências económicas e políticas africanas, desejando de caminho ao povo angolano que o seu segundo processo eleitoral corresse pelo melhor. Neste terceiro postal, registo as dificuldades e os perigos contidos no actual processo político, o qual poderá, se não for bem gerido por todos os actores interessados na futura democracia angolana, degenerar rapidamente em novos acertos violentos de território. O tempo internacional é, aliás, propício a este género de perversões!

O Estado angolano é demasiado novo, e portanto aquilo que essencialmente continua a estar em jogo é a formação das suas classes dominantes e das correspondentes acumulações primitivas de riqueza, poder e tradição institucional. Eu sei que dito assim, tão cruamente, pareço estar a defender a ganância insensível da família dos Santos e a voracidade cruel, por vezes sanguinária, da tropa pretoriana que o protege e à sua sombra enriquece para lá da nossa imaginação. Mas analisando friamente o problema, como se Angola fosse um mero paciente num teatro anatómico repleto de historiadores, etnólogos, sociólogos e políticos, que outro diagnóstico poderíamos fazer? Significa esta observação "científica" que não devemos criticar os estádios necessariamente duros do nascimento de uma nação? Não. Significa que temos que ser capazes de manter um olhar bifocal sobre a realidade angolana. Por um lado, devemos perceber que a constituição das classes dominantes do novo país não se deu ainda e será sempre um processo duro e prolongado. Por outro, devemos exercer uma pressão democrática firme, bem doseada, e sobretudo bem informada, sobre o regime, por forma a prestar uma ajuda solidária e responsável a uma realidade que tem muito de nós. A responsabilidade ética de Portugal nos processos de emancipação nacional das suas antigas colónias é uma herança civilizacional que deve ser cumprida com diligência, sabedoria e humildade. Teremos sempre uma vantagem comparativa sobre todos os novos amigos de Angola.

ÚLTIMA HORA

08-09-2008 00:16. Depois das excitações paternalistas do grupo Impresa e da pequena histeria matinal da deputada maoista Ana Gomes em volta das eleições angolanas, o bom-senso veio ao de cima, sobretudo depois de constatada a esmagadora vitória do MPLA e a pesadíssima derrota da UNITA (fruto mais do que provável da sua convivência governamental com o MPLA ao longo de tantos anos.)

Não creio que a UNITA acabe por impugnar as eleições, como ameaçou no calor dos incidentes logísticos nalgumas centenas de assembleias de voto na capital. O MPLA não pode fazer o trabalho dos demais partidos políticos, que terão aliás muito que trabalhar para disputar um dia o terreno ocupado pelo MPLA. Mas o MPLA poderá começar, cumprindo as promessas de José Eduardo dos Santos no principal comício da campanha eleitoral, por despartidarizar o poder e a comunicação social, dando espaço ao crescimento conveniente do peso eleitoral dos seus adversários, e sobretudo estimulando o nascimento de uma sociedade civil activa, patriótica e empenhada no desenvolvimento sustentável do país. O petróleo não durará mais de 20 a 25 anos, e quando este recurso começar a decair, Angola será ainda um país muito jovem, com uma demografia escassa e um território imenso por organizar (e apetecível), que ou poderá contar com uma sociedade economicamente articulada e dinâmica, socialmente equilibrada, politicamente adulta e culturalmente forte, ou então... ou então terá muito com que se preocupar, a sério!

O artigo do Nicolau Santos (Director-Adjunto do semanário Expresso) poderia ter sido escrito por mim, que sou um bloguista independente, que não precisa do BES, nem do MillenniumBCP, nem do Governo, para sobreviver, mas não pelo Expresso! Compreendo que todo o grupo Impresa esteja indignado por não ter sido autorizado a cobrir as eleições angolanas in situ, e que proteste veementemente. Já me parece ridículo que se entretenha com prosas moralistas sobre a filha do Edu e a corrupção angolana, citando exemplos tão fora de propósito como o caso da banca falida e mendicante portuguesa que espera desesperadamente pelos petrodólares angolanos, mas quer continuar a ser senhora da situação! O Expresso tem que começar por compreender que uma coisa é investigar casos de corrupção, para o que tem toda a legitimidade jornalística do mundo. Outra muito diferente, e inaceitável, é lançar anátemas sobre protagonistas de primeiro plano de uma ex-colónia, como se ainda estivéssemos no tempo em que dávamos lambadas nos pretos, por dá cá aquela palha. O estilo, meu caro Nicolau, é tudo. Num mundo em que a maior potência mundial é dominada por três patrões da indústria petrolífera (George W. Bush, Dick Cheney e Condoleezza Rice) que, em nome dos seus exclusivos interesses privados, dizimaram mais de 100 mil iraquianos e alguns milhares de afegãos, e acabam de colocar a Europa perante uma crise político-militar gravíssima; ou num país (Portugal) onde a corrupção, a pedofilia de Estado e a endogamia dominam a economia, a política, e fazem lei, como é que você se atreve a escrever como um bloguista, nas respeitáveis páginas do Expresso, deixando passar em claro (pior ainda, sem a devida investigação) a imensa podridão e impunidade das nossas intocáveis democracias ocidentais? Estilo! Estilo, meu caro Nicolau!

OAM 428 06-09-2008 18:57 (última actualização: 08-09-2008 00:16)

sexta-feira, agosto 03, 2007

Desastres

Aspecto dos corredores do Hospital Clínico de Barcelona. Fonte: EFE

O Estado necessário

No dia 1 de Agosto de 2007 uma ponte com 8 faixas de rodagem situada à entrada da cidade de Minneapolis, no estado norte-americano do Minnesota, colapsou, arrastando para o meio do rio que atravessa, cerca de 50 veículos. Morreram provavelmente mais de 30 pessoas neste desastre. Tal como no caso da ponte de Entre-os-Rios (que colapsou em 5 de Março de 2001, matando 70 portugueses), relatórios técnicos apontaram para problemas de manutenção e fadiga de materiais. No caso da ponte do Minneapolis, tais problemas foram ainda agravados por problemas estruturais de concepção, conhecidos dos administradores das autoestradas da região (entretanto demitidos.) As pontes americanas, outrora o orgulho de toda uma engenharia pioneira, precisam de um investimento em manutenção na ordem dos 9 mil milhões de USD durante 20 anos. O investimento, porém, não tem ido além dos 2 mil milhões...

Os apagões eléctricos repetem-se um pouco por todo o mundo, sendo mesmo diários, semanais ou mensais em alguns países africanos e da América Latina. Porém, os casos bem vivos na nossa memória ocidental e europeia, do chamado Northeast Blackout of 2003 (ver OAM de 16-08-2003), do apagão italiano do mesmo ano e ainda do que há precisamente uma semana tirou a luz a mais de 10 mil habitantes da cidade e área metropolitana de Barcelona, durante, pelo menos, dois dias, demonstram que o problema deixou de ser uma mazela do Terceiro Mundo, e ameaça tornar-se um escândalo crescente nas sociedades ditas ocidentais, democráticas e desenvolvidas.

A tragédia ocorrida no aeroporto de Congonhas, no passado dia 17 de Julho, da qual resultaram 200 vítimas mortais, não foi resultado de um erro humano, mas sim o resultado de uma acumulação de erros, ineficiências acumuladas e de uma enorme irresponsabilidade política por parte das autoridades brasileiras (de que resultaram aliás a demissão do ministro da defesa do país e a própria interdição do aeroporto.)

O possível colapso da economia estado-unidense, provocado pela acumulação criminosa de todos os défices que um país pode contrair (comercial, de pagamentos e público), e de que a implosão do sector imobiliário (e a provável falência de muitos fundos de pensões e seguros de saúde) é a manifestação mais imediata, dramática e preocupante, encontra-se de momento semi-estancado (numa espécie de Unidade de Cuidados Intensivos) pelo conjunto das demais economias fortes do planeta (sobretudo China, Europa e Japão), as quais temem pelas consequências económicas (1), e sobretudo político-militares, de um cenário de derrocada súbita da nota verde. A resposta até agora desenhada pelos estrategas mais agressivos dos EUA tem passado por uma desestabilização geo-estrtatégica sem precedentes do mundo actual, destinada a fazer funcionar a única indústria que ainda parece residir no território norte-americano: a indústria da morte tecnológica sistemática e em massa. A venda de mais de 60 mil milhões de dólares de armamento a Israel, Arábia Saudita, Egipto e outros países amigos naquela que continua a ser a mais rica plataforma petrolífera do planeta, mostra até que ponto os Estados Unidos são, de facto, e talvez por necessidade estratégica, os principais, se não únicos, responsáveis pela corrida armamentista iniciada sob o pretexto da ameaça terrorista mundial e o perigo iraniano.

Como se tudo isto não fossem notícias suficientes de um Verão abrasador (os efeitos na Roménia, Grécia e Itália têm sido tremendos), temos a Europa (nomeadamente o Reino Unido) e o Sul da Ásia (20 milhões de deslocados pelas cheias na India, Nepal, Bangladesh) a registar chuvas e inundações sem precedentes, ao mesmo tempo que uma seca milenar afecta gravemente a Austrália, e os mais devastadores incêndios de que há memória assolam a Europa e as Canárias.

Nos aeroportos portugueses e em muitos outros, perdem-se bagagens por causa da completa irresponsabilidade de empresas como a Groundforce, certamente mais preocupada com a globalização da empresa-mãe, a Globália, do que com o vexame de quem protesta junta dos balcões incompetentes da TAP e da ANA.

Um apagão informático, causado pela ineficiência da Portugal Telecom, deixou 600 caixas Multibanco da grande Lisboa inoperacionais, entre as 11 e as 17 horas do dia 1 de Agosto, i.e. quando milhares de alfacinhas se preparavam para ir de férias!

Desgraçados, em suma, os que cairem na tentação de firmar um contrato por telefone com a TV Cabo ou qualquer outra grande empresa portuguesa. Sem saberem como, compram o que não sabem, e o que não querem, e depois, mesmo quando é patente o logro em que cairam (o serviço prometido não funciona, o preço não foi bem explicado, etc...), para anularem o contrato que tão facilmente "assinaram" de boca, vão ter que passar as passas do Algarve. Por telefone, nem pensar! Ninguém lhes aceita reclamações ou anulações de contrato. Por e-mail, também não. Só por fax (coisa que já ninguém usa, como toda a gente sabe), ou por carta registada. E depois, o mais provável, é continuarem a pagar o que não querem e o que não funciona, até que a kafkiana máquina de uma qualquer destas corporações cotadas em bolsa resolva, enfim, atender devidamente os protestos.

A globalização, apesar da euforia propagandística das agências de comunicação e da publicidade (que vendem a alma ao Diabo a cada segundo que passa), começou a estrebuchar. O sintoma mais evidente é este: como apenas vive da especulação bolsista, sabe cada vez menos de produtos e interessa-se cada vez menos pelos ditos, deixando-os apodrecer, e deixando ao cuidado dos seus poderosos exércitos de advogados corruptos a tarefa de litigarem com os desgraçados consumidores.

Mas a prova de que as coisas podem começar a mudar está não apenas na posição do governo espanhol face aos provedores responsáveis pelo apagão de Barcelona, mas também no modo como as autoridades policiais e judiciárias norte-americanas lidaram com o cartel promovido pela British Airways para expoliar (desde 2004) os passageiros e empresas que recorriam ao seus serviços, através de sobretaxas combinadas com outras companhais aéreas (nomeadamente a Virgin Atlantic.) Surpreendentemente apanhado pelas malhas da investigação policial norte-americana, o principal operador aéreo de sua Magestade não só se expôs a um ridículo de proporções planetárias como espera uma multa de 350 milhões de Libras Esterlinas.

Em Portugal, a decisão sem precedentes da Autoridade da Concorrência, de multar em 38 milhões de Euros a PT Comunicações, do grupo Portugal Telecom, por abuso de posição dominante, chega igualmente em boa hora. A contestação que a PT pretende mover contra a AdC não passa de um erro de miopia que acabará por pagar caro.

De uma forma ou de outra a cidadania vai começar a reagir ao descalabro da especulação financeira generalizada, começando por desmascarar e condenar publicamente os sórdidos conluios entre a imbecilidade política e a lógica autofágica da globalização. Talvez seja bom os governos democráticos começarem a perceber que a festa está mesmo prestes a terminar. Ponham as barbas de molho e comportem-se!

O Estado Providência faliu e em seu lugar emergiu, sob o alto patrocínio das corporações virtuais do Capitalismo, aquilo a que um arguto e preocupado pensador conservador português (Prof. Adriano Moreira) chamou "Estado exíguo" - quer dizer, Estado incapaz, impotente, subjugado e tendencialmente corrupto. A esta espécie de liquefacção dos sistemas democráticos de poder, e dos próprios estados e nações, que ameaça a própria sobrevivência das tipologias racionais e jurídico-legais herdadas da Mesopotâmia, da Grécia, de Roma e das tradições judaica, cristã e muçulmana, entre outras, precisamos de opor a ideia de um Estado necessário, nem mínimo, nem providencial; apenas atento, suficiente, fiável, fraterno, inteligente, justo e dotado de uma racionalidade democrática seminal. Um Estado acima dos governos que o devem respeitar e servir em nome, não apenas da vontade popular que os elege, mas sempre e também do interesse geral.

Actualizado em 07-08-2007



Post scriptum - Um surto de Febre Aftosa acaba de ser detectado no Sul do Reino Unido, obrigando Gordon Brown a regressar de férias. BBC online 03-08-2007.

Notas

1) Se uma pessoa ficar sem emprego e deixar de poder pagar a hipoteca da sua casa, o mais provável é que fique sem ela e sem o dinheiro que lá enterrou. Isto é, na rua! Se este drama se multiplicar por milhares, ou centos de milhar de casos (por efeito do desemprego crescente, da falta de criação de novos empregos, da quebra do poder de compra, da falência e fechos de empresas e, finalmente, de uma subida das taxas de juro), os bancos que emprestaram o dinheiro de forma aventureira (é o caso dos famosos empréstimos de 2ª categoria --subprime--, onde muito investimento especulativo --hedge funds-- foi realizado ao longo da última década), entram num beco cuja saída mais comum é a falência. Foi o que aconteceu já a várias entidades norte-americanas, abraços com mais de 2 milhões de hipotecas incobráveis (ConsumerAffairs), e acaba de ocorrer ao banco alemão IKB, a quem, para evitar a inevitável falência, foi concedido um empréstimo de 8100 milhões de euros. Este empréstimo foi realizado na sequênia de uma intervenção política directa do governo alemão, através do banco público KfW, em consórcio com algumas grandes instituições bancárias europeias: Crédit Suisse, Société Générale, Barclays, BNP Paribás e Deutsche Bank. A ameaça de derrocada do sistema financeiro mundial ("crise sistémica"), muito por causa das suas próprias filosofias especulativas, e no imediato, do historial de verdadeira pirataria político-financeira dos EUA, é conhecida desde, pelo menos, Fevereiro de 2006 (embora só muito tarde e a más horas os média convencionais tivessem começado a fazer-se eco do problema real que temos entre mãos --sabe-se lá porquê!!). Não se percebe, em toda esta trapalhada, porque deve o cidadão que deixa de pagar as prestações da casa que comprou e hipotecou, ficar sem a mesma, quando o banco que especulou e foi à falência merece um segunda oportunidade. Dirão os hipócritas, que é para salvar o sistema financeiro! Eu diria que a razão é outra: trata-se de assegurar que o dito banco falido possa continuar a espoliar os seus clientes das casas que deixaram de pagar, salvando assim a lógica especulativa do actual sistema económico. Mas se houver mais um, dois ou dez IKBs na Europa, na Ásia e no Médio Oriente, que ocorrerá? Quem irá então escrever as cartas de conforto? E não há uma regra comunitária que impede apoios públicos a empresas em situação económica difícil? O NÃO dos franceses e holandeses à constituição europeia --que jaz e arrefece-- talvez fosse mesmo o prenúncio de dificuldades muito mais sérias e difíceis de ultrapassar. Coitado do Socratintas.

Actualização de referências (
10-08-2007 0301)
1) Mortgage concerns hit US markets (BBC online)
2) China threatens 'nuclear option' of dollar sales (Telegraph online)
3) Rival to Nato’ begins first military exercise (Times online)
4) Market Meltdown. Cramer à CNBC no seu melhor: "Bernanke has no idea how bad it is out there." -- YouTube (07-08-07)
5) Stock Market Meltdown, by Mike Whitney. (Global Research)

OAM #226 02 AGO 2007

terça-feira, abril 24, 2007

Partido Democrata Europeu

O terceiro excluído


A crise de legitimidade do projecto europeu veio ao de cima quando os franceses, que costumam falar de política entre si, e não apenas de futebol (a conversa dominante entre os portugueses, a começar pelos políticos de serviço), disseram NÃO ao Tratado Constitucional Europeu. Desde esse momento, quando José Sócrates ainda prometia a pés juntos que iríamos votar, num instante, o referendo sobre o Tratado, que o projecto político europeu gripou, e não se sabe mesmo se haverá arranjo possível, pelo menos nos termos em que a coisa tem sido vendida aos povos de Europa: ora tomem lá o Euro, aguentem com uma inflação instantânea de 300%-500% (a bica que custava 30 escudos passou a custar 100 em poucos meses), endividem-se e trabalhem mais, se puderem, i.e. se conseguirem emprego. Quanto às empresas nacionais, sobretudo as estratégicas, as que dão dinheiro, e que por acaso são as que os Estados nacionais alimentaram, paciência... vão servir para aumentar a concentração capitalista no velho continente, em nome da inevitável competição com os Estados Unidos, e sobretudo com a China e a India. Quanto à solidariedade europeia, ou a uma nova visão do mundo, da economia, do trabalho e do consumo, nada de novo -- business as usual -- quer dizer, fim do Estado providência, desemprego estrutural, quebra progressiva do rendimento disponível dos indivíduos e das famílias (o PIB per capita é, como se sabe, uma falácia), desregulação do mercado de trabalho, imigração clandestina, transformação das praças financeiras em gigantescas máquinas de lavagem de dinheiro ilegal, promiscuidade crescente entre políticos, interesses económicos e canais mediáticos, anestesia do sistema democrático.

As eleições francesas, pela sua extraordinária mobilização, e sobretudo pelos resultados, veio demonstrar que as pessoas, felizmente, não andam a dormir, nem são idiotas, como os tarimbeiros da partidocracia dominante, e em geral os políticos corruptos (que são cada vez mais numerosos, lá, cá e em todos as famosas democracias ocidentais) crêem. A esquerda (toda a esquerda) há muito que não é de esquerda (mas situacionista), tal como a direita apenas quer o mesmo que a esquerda quer: votos suficientes para governar. O modelo da alternância ao centro, sem haver realmente um centro político-partidário, tem subsistido na maioria das democracias europeias como uma clara forma de oportunismo do chamado arco governamental, mas que o eleitorado, cada vez mais consciente de tal logro, gostaria de ver eliminado, dando para isso força à emergência de novas soluções no quadro geral da democracia representativa, obviamente.

Vamos ver como corre a segunda volta das eleições francesas. Tudo aponta para que Sarkozy ganhe à impreparada candidata socialista. Mas vai ser interessante saber que dirá François Bayrou sobre os dois candidatos que disputam efectivamente a presidência da França nos próximos e decisivos anos da Europa. Se ele apelar ao voto em Ségolène Royal, esta pode mesmo ganhar. Se nada disser, estará a dar implicitamente a vitória a Sarkozy. Dando a vitória a este favorito, fica sem grande margem de manobra para o potencial de crescimento obtido com a campanha que o levou até aos 18% da primeira volta. Mas, se pelo contrário, contribuir decisivamente para a vitória da candidata socialista, então terá uma palavra a dizer em muito do que vier depois na política francesa. A coutada marcada no território de Ségolène será um trunfo para negociar os termos do crescimento da nova força centrista que quer nascer em França.

É o centro que dá as vitórias. Pois então é preciso promover a formação de partidos de centro na Europa. Doutro modo, os eleitores sairão sempre frustrados, como se tem visto em França e em Portugal nas últimas duas décadas. A velha dicotomia esquerda-direita já não existe, mas existe no seu lugar o mais improdutivo dos oportunismos: o oportunismo dos interesses sem cor. Também existe o definhamento dos extremos, é certo, mas esse não conta para os problemas reais das pessoas, embora custe dinheiro à democracia.

OAM #196 23 ABR 07