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terça-feira, janeiro 13, 2009

Portugal 72

Contagem de corruptos

Antes de se iniciar uma guerra é usual haver uma contagem de espingardas próprias, aliadas e inimigas. No entanto, quando o confronto se avizinha num Estado exangue (que é muito pior do que o Estado exíguo de que fala Adriano Moreira), aquilo que infelizmente vemos parece ser apenas uma contagem de corruptos.
Ingleses suspeitam de corrupção de ex-ministro de Guterres no caso Freeport

10.01.2009 - 15h09 PÚBLICO, com Lusa — As autoridades judiciais inglesas, que têm em curso uma investigação criminal sobre o licenciamento da construção do Freeport de Alcochete, têm uma lista de 15 suspeitos de corrupção e fraude fiscal, encabeçada por um ex-ministro de António Guterres, noticia o semanário “Sol” na sua edição de hoje. Os outros suspeitos que terão estado na origem do desfalque à empresa de “outlets” são administradores do Freeport, autarcas portugueses, construtores e advogados.

Futuro do presidente da Lusoponte nas mãos do Ministério Público
Ferreira do Amaral é suspeito de corrupção

13 Janeiro 2009 - 02h00 (Correio da Manhã) — Não pediam um tostão que fosse a mais pela inscrição no curso e, em dia de exame, os directores das duas escolas náuticas ainda brindavam os alunos com mensagens por telemóvel a dar as respostas certas. Objectivo: garantir taxas de aprovação a roçar os cem por cento e atrair centenas de clientes de Norte a Sul do País. Arrasando a concorrência. Só que o crime foi denunciado à Polícia Judiciária e, apurou o CM, entre os 40 alunos suspeitos de corrupção está Joaquim Ferreira do Amaral – o actual presidente da Lusoponte que foi ministro de Cavaco Silva e candidato à Presidência da República.

No caso português, à medida que tomamos consciência da responsabilidade plena do Bloco Central, formado pelos dois principais partidos políticos do país: o Partido Socialista e o Partido Social Democrata, no beco sem saída em que Portugal se encontra depois de duas décadas de afluxo ininterrupto de milhares de milhões de euros comunitários, percebemos até que ponto o actual regime constitucional falhou os seus objectivos.

Temos uma dívida externa bruta superior a 200% do PIB (e não 100%, como os economistas beija-mão propagam por aí!) O défice orçamental propalado pelo actual governo não passa duma estatística martelada com engenharias orçamentais de trazer por casa, indignas de qualquer merceeiro fino que se preze. O destino deste défice mascarado é continuar a aumentar até estourar como uma bolha de corrupção e escândalo, antes de 2015.

O governo paga tardiamente às farmácias e demais fornecedores, adia o pagamento das SCUDs e exige pagamentos por conta como qualquer chulo do Cais Sodré, ao mesmo tempo que a generalidade das empresas públicas (algumas delas corroídas pela corrupção até ao tutano) camufla as suas criminosas dívidas acumuladas adiando sem qualquer penalização o pagamento de parte significativa dos impostos devidos (IVA e IRS) e a realização dos descontos para a segurança social. Como se isto fosse pouco, a intensidade energética do PIB português é três vezes (300%) mais elevada do que a média da União Europeia a 15! A propaganda governamental em volta das energias renováveis serve pois e apenas para promover a construção de dez barragens inúteis do ponto de vista energético, mas devastadoras do ponto de vista ambiental e da necessária reformulação dos nossos paradigmas de vida.
Empresas públicas devem milhões em IRS, IVA e segurança social

13-01-2009 (Diário de Notícias) — O Tribunal de Contas acusa cinco empresas públicas de reterem impostos, referentes ao exercício fiscal de 2007, que deveriam ter sido entregues aos cofres do Estado. Numa auditoria a 20 sociedades do sector empresarial do Estado, a entidade fiscalizadora refere que ANA, NAV, TAP, RTP e Metro do Mondego tinham inscritas nas suas contas dívidas referentes a impostos sobre lucros, IRS retido aos seus trabalhadores, contribuições à segurança social e IVA.

As acusações não são iguais para todas as entidades referidas e os montantes em débito são de valor diverso. No total, perfaziam 47,40 milhões de euros. O maior devedor era a TAP, com 22,62 milhões em falta, seguido da RTP (11,61 milhões) NAV (10,87 milhões) e ANA (2,3 milhões). A dívida do Metro do Mondego aos cofres públicos não está especificada, mas é negligenciável.

As dívidas não foram contestadas em sede de contraditório, ao contrário do que ocorreu com outras empresas - caso da Administração do Porto de Lisboa, por exemplo -, as quais acabaram por não constar do relatório do Tribunal. No total, os auditores apuraram que a dívida das empresas consideradas ascendia, no final de 2007, aos 17,47 mil milhões de euros, ou seja, um valor semelhante a 17% da receita do Orçamento de Estado.

O maior devedor é a Refer. A empresa que gere as infra-estruturas ferroviárias devia, no período auditado, 4,74 mil milhões de euros, dos quais 3,82 mil milhões eram respeitantes a médio e longo prazo. As empresas do sector dos transportes, aliás, seguem na linha da frente dos devedores, com o Metro de Lisboa, CP, Metro do Porto e TAP a ocuparem os lugares seguintes. Das empresas consideradas pelo Tribunal, a que apresenta melhor perfil é a Quimiparque, com uma dívida de 7,6 milhões de euros. Para além desta, só os CTT e a SIMAB-Sociedade Instaladora de Mercados Abastecedores não tinham dívidas à banca.

Baixar estes escandalosos níveis de desperdício e atraso económico, tecnológico, organizativo e cultural, causado pela utilização irresponsável da energia que não temos e importamos, para a média europeia dos 15, seria um programa suficiente para responder aos efeitos tremendos da actual crise social, que, para quem não saiba, ainda vai no adro. A banda larga e as estuporadas barragens, mais as novas auto-estradas e aeroportos, bem poderão esperar por melhores dias e sobretudo melhores argumentos! De que serve estarmos todos ligados por fibra óptica se não tivermos nada para dizer? É tolerável destruir paraísos naturais e recursos turísticos insubstituíveis sem outro propósito efectivo que não seja aumentar fraudulentamente os activos da EDP?

Há uma bomba-relógio que pode rebentar mais cedo do que anunciou Medina Carreira, por efeito da detonação da primeira crise de endividamento mundial (Ann Pettiffor). A espoleta dessa bomba-relógio chama-se juros acumulados da dívida externa e da dívida pública portuguesas. Quando aos juros compostos da dívida, somarmos tudo o resto e chegarmos aos 300% (Islândia, 2006), ou mesmo 400% (USA, 2006) do PIB, estaremos irremediavelmente fritos! Este mecanismo do juro composto é um demónio incontrolável se o deixamos à solta demasiado tempo. Vale a pena ver este excelente crash course de Chris Martenson sobre o fenómeno do crescimento exponencial, e agarrar depois os políticos pelos colarinhos para que façam alguma coisa!
The United States is Insolvent
by Dr. Chris Mortenson

December 17, 2006 (Finantial Sense University) — Despite improvement in both the fiscal year 2006 reported net operating cost and the cash-based budget deficit, the U.S. government’s total reported liabilities, net social insurance commitments, and other fiscal exposures continue to grow and now total approximately $50 trillion, representing approximately four times the Nation’s total output (GDP) in fiscal year 2006, up from about $20 trillion, or two times GDP in fiscal year 2000. As this long-term fiscal imbalance continues to grow, the retirement of the “baby boom” generation is closer to becoming a reality with the first wave of boomers eligible for early retirement under Social Security in 2008. Given these and other factors, it seems clear that the nation’s current fiscal path is unsustainable and that tough choices by the President and the Congress are necessary in order to address the nation’s large and growing long-term fiscal imbalance.

Não se pense que os nossos políticos estão avisados. Não estão, ou estão-se nas tintas, cheios de pressa em antecipar e garantir as suas reformas milionárias antes que o inverno da miséria chegue ao povo e comprometa a democracia! A actual generosidade pró-cíclica da nomenclatura partidária, e a vontade incontida do neoliberal governo Sócrates de premiar o aventureirismo, ganância e corrupção da banca portuguesa, à custa de mais responsabilidades imputáveis à dívida pública, prossegue a bom ritmo e vai porventura acelerar depois de conhecermos em toda a extensão as acrobacias programáticas de Barak de Obama. O caminho da insolvência do Estado português estará então irremediavelmente traçado e antes de o Senhor Cavaco Silva decidir se tem ou não coragem para engolir um segundo mandato presidencial, veremos o que é viver num Portugal insolvente!
Dívida pública: avisos em 2006 (onde estavam os economistas?)

"a dívida pública estabilizará dentro de dois ou três anos ligeiramente abaixo de 70% do PIB, o que representa ainda mais do dobro do nível médio dos países com rating AA", a classificação actual de Portugal. — uma previsão de 2006, da Ficht Ratings, já fora de prazo...

Standard & Poor’s coloca dívida portuguesa em vigilância negativa

13-01-2009 (Jornal de Negócios) — A agência de notação de risco colocou hoje em vigilância negativa o rating da divida República portuguesa e avisou que uma decisão de baixar o notação nos próximos dois, três meses dependerá agora da evolução da políticas orçamentais e financeiras do Governo. A mesma decisão foi tomada em relação à Espanha e à Grécia.

2009 is payback year

"...next year, 2009, there will be a massive bulge in the value of bonds issued by European companies that have to be repaid.

Or, to put it another way, about $1000bn of "old world" companies' borrowings in the form of tradable debt has to be paid back during the next 12 months - with something like $800bn of this owed by financial companies and $200bn by non-financial companies.

That would be a colossal sum to pay off at the best of times, and is equal to about five times what's been repaid in 2008." — Robert Peston, 15 Dec 08, 12:00 AM (Peston's Picks)/ BBC News.

Em face da gravidade da actual crise, resulta evidente que a burguesia portuguesa, sobretudo a grande burguesia burocrática portuguesa —que vive basicamente da proximidade do poder—, precisa mais do que nunca de sentir o norte da política!

Há treze anos que esse norte é cor-de-rosa, pois as passagens de Durão Barroso e Pedro Santana Lopes por São Bento são vistas hoje, por todos nós, e em particular por essa poderosa burguesia burocrática, como uma não ocorrência. A profunda crise e o desespero crescente do PPD-PSD —patentes no semblante patético de Filipe Menezes, na mímica zombie de Pedro Santana Lopes, no patuá imberbe de Pedro Passos Coelho e nas gargalhadas histriónicas do arguto Alberto João— são a prova de uma realidade até agora mantida em total surdina:

— a tríade de Macau (Coelho, Vitorino, Canas, Nabo, Santos Ferreira, Vara, Manuel Frasquilho, etc.) tomou de assalto o Partido Socialista, rasgou a sua cartilha social-democrata em nome de todos os panfletos sobre globalização e enriquecimento rápido que conseguiu tragar, montou uma rede de cumplicidades entre todos os sectores pesados da economia e da finança portuguesa: empresas públicas, empresas privadas de obras públicas, transportes e comunicações, e energia, e finalmente... bancos!

Se montarmos o organigrama de toda esta teia de ligações fortes entre o poder político democrático (protagonizado aqui por uma força partidária aparentemente consolidada) e a burguesia burocrática, unindo cumplicidades a deveres, deveres a patrocínios, patrocínios a cartelização, cartelização a manipulação das super-estruturas do Estado, manipulação a corrupção do regime em múltiplas e decisivas instâncias, teremos imediatamente o retrato de uma subversão em larga escala do actual regime constitucional.

A tríade de Macau não só meteu o PS no bolso —rindo-se como Judas Santos Silva se ri das suas velhas convicções de esquerda—, como ameaça neste preciso momento, e no decorrer de toda a presente crise, meter o regime político português no bolso.

A gula macaísta é tanta, e a nossa distracção tão lamentável, que ninguém reparou ainda até que ponto a Mota-Engil e a Brisa (para não falar de ANA, da Refer, da REN, na EDP, RTP, PT, etc.) ameaçam tornar-se, com bons argumentos, num Estado dentro do Estado. A primeira tomou conta da Lusoponte com dinheiro emprestado pelo semi-falido BCP (salvo com dinheiro público da Caixa Geral de Depósitos), que entretanto voltou a endividar-se, correndo os riscos por conta do contribuinte, sob a benção ignara do papagaio Sócrates. O lavar de roupa suja em volta do actual presidente da Lusoponte, Ferreira do Amaral (descendente da velha burguesia burocrática que serviu Salazar e Caetano), não poderia aliás ser mais oportuna do ponto de vista dos interesses da Mota-Engil. O objectivo da Mota-Engil parece-me claro:
  • controlo das futuras três travessias do estuário do Tejo;
  • construção-exploração do aeroporto de Alcochete;
  • gestão dos principais aeroportos nacionais;
  • construção da Terceira Travessia do estuário do Tejo;
  • controlo dos principais portos do país, começando pelo ampliado terminal de contentores de Lisboa;
  • exploração comercial dos combóios de Alta Velocidade.
Se verificarmos em que consórcios a Mota-Engil e Brisa se associam, ficaremos com o mapa completo da grande ofensiva da tríade Macau e das suas reais intenções.

Aquilo que Salazar precisou de fazer em ditadura —i.e. dar uma certa protecção às forças fáticas do regime, mantendo a independência nacional em banho-maria— talvez seja possível em democracia... desde que a democracia engula, claro está, esta transfiguração do Partido Socialista. Se o PPD-PSD continuar como está, é isto que irá suceder. Hesitar na criação dum novo partido de esquerda, conhecidos que são os dados do problema, parece-me um erro, que não irá impedir soluções mais drásticas no futuro.


Post scriptum — acabo de ouvir na SIC Notícias o diálogo entre António Bagão Félix e Luís Campos e Cunha, moderado por Ana Lourenço, sobre a actual crise e o aumento do risco de crédito que o país corre segundo um aviso publicado esta Terça-Feira pela agência de rating Srandard&Poor, divulgado pelo Finantial Times. Ambos os economistas coincidiram nas análises das causas e do estado real do país (endividamento sem apostas estratégicas de médio e longo prazo visando a sustentabilidade e produtividade do país; disfarce sistemático das contas públicas; eleitoralismo) . E não divergiram nas prescrições: apoiar o sistema financeiro, mas alterando várias das regras e prerrogativas actuais; ajudar temporariamente os que mais precisam; adiar os grandes investimentos para melhores dias; evitar o discricionarismo nas acções governamentais de apoio à crise, aplicando medidas tão universais quanto possíveis; mexidas pontuais e temporárias nas regras fiscais; descentralização das medidas de emergência em colaboração estreita com as autarquias. Nenhum deles acredita, porém, que o governo da tríade escolha o melhor caminho. Mais uma razão para se criarem novos partidos, caramba!


OAM 512 13-01-2009 20:29 (última actualização: 14-01-2009 00:10)

terça-feira, março 04, 2008

Portugal 20

Rui Marques
Rui Marques, fundador do Movimento Esperança Portugal

Força MEP!

03-03-2008. "O 'Movimento Esperança Portugal' [MEP] é um movimento humanista que quer estar ao centro do centro político, entre o PS e o PSD, para que a partir daí seja possível construir pontes e sublinhar mais aquilo que nos une do que aquilo que nos separa", adiantou Rui Marques, em declarações à Lusa. -- Público.

Como previa, a situação está cada vez mais madura para a pulverização do actual sistema partidário. Conheci o Rui Marques há alguns anos atrás e fiquei com uma boa impressão da pessoa. Tornou-se uma personalidade pública depois da sua viagem solidária a Timor, depois do lançamento da revista Cais, e mais recentemente como alto-comissário para a Imigração e Diálogo Intercultural, cargo que abandonou a seu pedido, seis meses antes de terminar o mandato, entre especulações de que estaria a preparar-se para protagonizar o lançamento de um novo partido político. E estava!

A reacção epidérmica e a quente da picareta do PSD, Miguel Relvas, foi a melhor nota do êxito antecipado do MEP. É que o saco de gatos em que se transformou o PSD só pode mesmo rebentar antes das próximas eleições, dando lugar a um espectáculo digno de qualquer culebrón latino-americano. O problema do PSD é simples de entender: se o José Manuel Durão Barroso continuar à espera de mais uma oportunidade europeia, em vez de anunciar a tempo e horas (como se fosse um político crescido) a sua saída de Bruxelas no fim do actual mandato, nomeadamente porque há coisinhas importantes a fazer no seu país, o tempo de consertar o PPD-PSD esgotar-se-à irremediavelmente. E se assim for, não lhe auguro melhor sorte do que a do partido do táxi! Quem continuar a pensar que basta ter aparelho para ter partido, desengane-se, porque o tempo das vacas gordas e do aparatchiquismo bronco e corrupto já passou.

Quanto ao PS, o silêncio da tríade que o comeu por dentro não deixa de ser sintomático. Na realidade, começam a estar apavorados. Por outro lado, os verdadeiros socialistas têm pouco tempo para pasmar, já que a recente manifestação de apoio ao governo, convocada pelos piratas que elegemos sem querer, ou simplesmente para nos livrarmos do argentino e do seu reality show, vai colocá-los duramente à prova. Não sei se voltámos ao PREC, se a Salazar. Mas duma coisa estou certo, a contra-manifestação programada pelos piratas da tríade governamental para contrabalançar a manifestação nacional dos professores 1), que terá lugar no próximo dia 8 de Março, vai exigir uma palavra de Manuel Alegre (1). Não pode ir à caça nesse dia!

O comício nacional de desagravo ao engenhocas José Sócrates Pinto de Sousa (2), que, dada a concomitância, não pode se não ser ilegal, é uma vergonha e tem que ser denunciado como uma intolerável manobra digna do mais bolorento caciquismo! O PS profundo tem que se revoltar contra esta tentativa de instrumentalização fascizante. É essencial derrotar os piratas que corroem o partido Socialista e corroem o país. Nem que para isso seja necessário encostar os aparatchics à parede! Nem que para isso seja necessário perguntar ao militante de topo, opinocrata e Conselheiro de Estado, Jorge Coelho, quem são os clientes da sua empresa de consultoria Congetmark. Tem clientes? Realizou algum projecto até agora? Quais?

Os demais partidos são irrelevantes para o problema colocado pela iniciativa de Rui Marques.

O PCP, o único a dispor de uma efectiva e coerente base social de apoio, só precisa mesmo de limpar as teias de aranha do sótão Estalinista para começar a crescer eleitoralmente, pois os tempos que aí vêm não poderiam ser mais propícios. O Bloco de Esquerda está condenado a ser um clube pequeno-burguês de universitários imersos nos pesadelos ideológicos de que não conseguiram e já não conseguirão livrar-se até que a reforma os ponha a escrever memórias inócuas. O partido do táxi deveria estar na cadeia (3), mas continua por aí a fazer de contrapeso folclórico do sistema. Finalmente, o fascinante partido de um só militante que consegue a proeza de ser repetidamente ouvido pela comunicação social que temos, acabou de esfumar-se no horizonte da sua edulcorada hipocrisia e nulidade mental. Como se vê, a decisão de ir para o centro do tabuleiro, anunciada por Rui Marques, faz todo o sentido. É que este centro está desfeito pela idiotia e pela corrupção, e alguém tem que ambicionar ocupá-lo de novo com ideias!

Eu não sei mesmo se vou estar de acordo com o Rui Marques, ou com o seu partido. Nem isso é minimamente importante agora. Agora, trata-se tão só de subscrever a formação do novo partido e de ajudá-lo a desfazer a endogamia e o nepotismo corruptos do Bloco Central. Para isso pode desde já contar com a minha assinatura. E se outro partido mais se perfilar no horizonte das próximas eleições, protagonizado por uma boa ideia, terá também a minha subscrição. A ideia do Movimento Esperança Portugal é fazer um risco ao meio do Bloco Central. Não podia ser um projecto mais claro e rico de potencialidades. Força Rui Marques!


NOTAS
  1. Manifestação de professores: Ana Benavente pondera ir, Louçã será o único líder.
    05-03-2008. Por sua vez, Manuel Alegre, o candidato a secretário-geral que disputou a liderança com José Sócrates e que ficou em segundo lugar nas eleições para Presidente da República, declarou ao PÚBLICO que não irá a nenhuma manifestação. "A nenhuma. Não vou a nenhuma, nem a uma nem a outra", afirmou, peremptório.

    A outra a que Alegre se refere é ao comício de apoio ao PS marcado para o sábado seguinte ao da manifestação de professores, no Porto. "Ao comício do PS não vou. Nem sequer às Novas Fronteiras tenho ido, não faz sentido ir ao comício", afirmou na Benavente, lançando um desafio à actual direcção socialista: "Onde eu iria era a um debate no interior do PS sobre a escola pública e as actuais políticas educativas." -- Público.
  2. PS quer juntar sete mil pessoas no comício de apoio a Sócrates.
    05-03-2008. O PS está a mobilizar todas as estruturas do partido para o "grande comício nacional" do próximo dia 15 de Março, na Praça de D. João I, no Porto, uma acção partidária que pode vir a representar um teste à popularidade de José Sócrates, numa altura em que os protestos contra as políticas educativas tomam conta das ruas. Ontem foram mais cerca de três mil professores que se manifestaram em Faro. -- Público.
  3. Escutas contradizem Telmo Correia.
    05-03-2008. O parecer no qual Telmo Correia colocou o seu "visto" sobre a cedência do Casino de Lisboa à Estoril-Sol data de 22 de Fevereiro, mas escutas telefónicas revelam que em Março círculos próximos de ex-ministro ainda procuravam que este assinasse o parecer. -- TSF.


OAM 328 04-03-2008, 20:00

terça-feira, março 31, 2009

Portugal 94

Uma manifestação da GNR?!

APG lidera manifestação contra «degradação» das condições de serviço
A Associação de Profissionais da Guarda vai estar na liderança de uma manifestação de agentes da GNR que vão protestar contra a «degradação» das condições de serviço. José Manageiro fala mesmo em «absoluta escravatura» na GNR. — TSF.

Quando a guarda pretoriana do regime, espécie de última ratio da ordem civil, fala de escravatura a propósito das condições económicas e de serviço a que terá chegado, temos uma vaia ao regime bem maior e mais grave do que aquela que o actual primeiro ministro sofreu no CCB depois de chegar meia hora atrasado à estreia da ópera Crioulo.

O cerco ao governo PS está cada vez mais apertado e aceso. Começo a pensar que, para além dos meus posts e da justa indignação dos portugueses perante tanta inépcia e corrupção, há mesmo uma conspiração "aliada" capitaneada pelo agente laranja colocado em Bruxelas por Bush e Blair —Durão Barroso, pois quem havia de ser!— para derrubar a estratégia da tríade de Macau.

Mas disto escreverei noutra ocasião.

A minha recomendação à tríade é esta: expliquem ao Pinóquio que será melhor para ele e para todos nós a sua imediata demissão, em nome da defesa tranquila da sua honra contra a conspiração internacional montada contra o PS e apontada directamente à sua cabeça.

António Costa deveria substituir José Sócrates, unir o partido em nome de uma estratégia clara e transparente, pondo a ênfase da sua comunicação nas interferências estrangeiras —em particular inglesa—que ameaçam uma vez mais espezinhar o país, desta vez em nome da defesa criminosa da irremediavelmente decadente aliança anglo-americana.

Os Estados Unidos e a Inglaterra estão literalmente falidos. E o que querem do G20 é que o resto do mundo morra de fome e bombas em nome do seu insustentável estilo de vida, safando uma vez mais a mesmíssima canalha que precipitou o planeta na maior crise económica e social da sua história: JP Morgan, Goldman Sachs e quejandos, FMI e ainda os paraísos fiscais sediados nas ilhas privadas de sua majestade pirata a rainha de Inglaterra.

Para o eixo Londres-Washington, a Portugal não é permitido mijar fora do penico. E mijar fora do penico é, por exemplo, estabelecer uma nova triangulação estratégica activa entre Portugal, a Rússia, o Brasil, a Venezuela, Angola, Guiné e Moçambique, China e Timor.

Para o súbdito Obama e para a rainha de Inglaterra, Portugal não passa de um porta-aviões, deles, claro!

A minha avó odiava os ingleses. Começo a perceber porquê.


OAM 566 31-03-2009 13:22

segunda-feira, março 30, 2015

Costa visita Beijing. Quem paga?


 O regresso da tríade Macau?


O secretário-geral do PS, António Costa, desloca-se à China na primeira quinzena de abril de 2015. Apesar da desinformação oportunamente posta no jornal do mano de que teria cancelado a visita e da incompreensível omissão do delegado da Lusa em Macau, José Costa Santos. Já agora, seria interessante descobrir quem paga a viagem de António Costa e comitiva.

O motivo da urgente deslocação poderá ser o financiamento eleitoral do Partido Socialista que consta ter os cofres depauperados. Tratava-se de uma visita secreta, que, no entanto, vazou e o embaraça...

in Do Portugal Profundo, 30/3/2015

Este sujeitinho —ANTÓNIO COSTA— é mesmo um sargento-ajudante de Sócrates, perdão, da tríade de Macau, ou seja, de Almeida Santos, Vitalino Canas, António Vitorino, perdão, de Mário Soares!

Leiam só o que a criatura disse aos amigos chineses:

«Em Portugal, os amigos são para as ocasiões, e numa ocasião difícil em que muitos não acreditaram que o país tinha condições para enfrentar e vencer a crise, a verdade é que os investidores chineses disseram ‘presente’, vieram, e deram um grande contributo para que Portugal pudesse estar na situação em que está hoje, bastante diferente daquela em que estava há quatro anos».

Lembram-se dos faxes de Macau e do livro banido de Rui Mateus? Lembram-se das personagens cor-de-rosa da Casa Pia sobre as quais o Costa já não pôde fazer nada? Conhecem a empresa GEOCAPITAL, do Stanley Ho e Ferro Ribeiro, do Novo Aeroporto de Macau, das andanças por Cahora Bassa, dos negóciso com a EDP do Mexia, do fiasco da Alta de Lisboa que deveria ter podido contar com os terrenos do Aeroporto da Portela para ser o que estava combinado, ou da nuvem negra da ex-VEM, onde andou metida a GEOCAPITAL, e que entretanto mudou de nome, para TAP Maintenance & Engineering, responsável principal da ruína da TAP? Ora comecem lá a juntar as pontas, a que podem somar ainda os negócios do Espírito Santo Salgado com o Benfica, os Mellos, o GES/BES, a Mota-Engil, o anjo ds Avenida da Liberdade chamado Violas, ou a mais recente sacanice na Fontes Pereira de Melo, cortesia da parelha Costa-Salgado e do LBO António de Sousa, e verão o lindo molho de bróculos que sai.

Querem votar no regresso dos piratas ao poder? Votem, mas depois não se queixem!


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sexta-feira, janeiro 02, 2009

Portugal 67

Ano Novo, vida nova?

Mensagem de Ano Novo
Cavaco alerta para o agravamento do desemprego e aumento da pobreza em 2009

«É sabendo a verdade e não com ilusões que os portugueses podem ser mobilizados para enfrentar as exigências que o futuro lhes coloca», disse o Chefe de Estado, sublinhando que «a verdade é essencial para a existência de um clima de confiança».
...

«Os portugueses gostariam de perceber que a agenda da classe política está de facto centrada no combate à crise. As dificuldades que o país enfrenta exigem que os agentes políticos deixem de lado querelas que em nada contribuem para melhorar a vida dos que perderam o emprego, dos que não conseguem suportar os encargos da prestação das suas casas ou da educação dos seus filhos, daqueles que são obrigados a pedir ajuda para as necessidades básicas da família». TSF/Sapo.

No estado calamitoso em que se encontra o PPD-PSD, e perante os movimentos de caranguejo de Manuel Alegre, Cavaco Silva preferiu dar um passo atrás nas suas responsabilidades, e pedir tréguas à desenfreada maioria governativa, cavalgada com total descaramento pela tríade de Macau. Sócrates precisa de aparecer como guerreiro triunfante na pugna com o Presidente da República, para assim matar dois coelhos (perdão, duas respeitáveis personagens) de uma só cajadada: o dubitativo Alegre e a avó Ferreira Leite. Se não me engano, o discurso de Ano Novo do Presidente da República serviu basicamente este propósito.

"Deixar de lado as querelas" foi a frase da rendição presidencial.

Ou, para sermos optimistas, neste ano que acaba de começar, a retórica apaziguadora de Cavaco Silva foi o recuo táctico calculado antes de os estragos da crise proporcionarem a oportunidade de uma efectiva emergência presidencialista. O grande problema de Cavaco Silva é este: para derrubar a actual maioria, infectada por intoleráveis doses de corrupção interna e docilidade canina face à tríade de piratas que sequestrou o regime (nomeadamente através do chamado "bloco central de interesses"), Cavaco Silva precisaria de uma reconfiguração dramática do actual espectro partidário, que acabasse de vez com a possibilidade eleitoral de maiorias absolutas autoritárias.

Mas para tal, o PS e o PPD-PSD deveriam cindir-se ao meio antes de a situação político-social do país se tornar ingovernável, e sobretudo incontrolável. Como as apostas neste campo continuam muito arriscadas, o Presidente resolveu dar tempo ao tempo, assumindo a pose de Sibila preocupada da nossa inclinada democracia. Não podemos culpá-lo pelo respeito demonstrado pelas regras constitucionais (apesar do golpe de Estado em curso contra os seus poderes soberanos.) Somos nós, bovinos eleitores, quem tem a opção de deixar o país caminhar sem freio para o abismo, ou alterar drasticamente o status quo. Este, como venho repetindo há muito, tem que rejuvenescer, sob pena de convocarmos inadvertidamente todos os demónios que não pensávamos ver tão cedo no horizonte das nossas utopias.

O Partido Socialista não pode continuar como está. O PPD-PSD é uma balbúrdia sem sentido. O Bloco de Esquerda tem que deixar de portar-se como um adolescente com borbulhas ideológicas ridículas. O PCP tem que abandonar a sua posição reaccionária de sentinela corporativa da "classe operária", libertar os sindicatos da sua tutela Estalinista, e passar a ouvir com mais atenção os seus economistas. Em suma, os velhos partidos têm todos que mudar, e mudar depressa. Mas não chega! Precisamos de dois ou três partidos novos. Seriam seguramente bem recebidos e forçariam os velhos partidos a corrigir os maus hábitos. A inacção atávica e o medo da mudança serão, porém, fatais ao estado exangue em que se encontra o regime actual.
Se nada fizermos, o mais provável é assistirmos, em menos de uma década, ao regresso negro da unanimidade intelectual, da exploração desenfreada, da humilhação e dos PIDES todos que ainda não morreram!


OAM 503 02-01-2009 17:09

quarta-feira, dezembro 31, 2008

Portugal 66

Depois do Golpe de Estado

Para todos os efeitos a aprovação em lei ordinária de uma norma que retira poderes constitucionais a um presidente da república é um golpe de estado. Foi o que aconteceu com a aprovação do Estatuto da Região Autónoma dos Açores pelos bandos de zombies, analfabetos funcionais e oportunistas que pelos vistos formam a maioria absoluta da actual Assembleia da República. Diz-se que José Sócrates pretendia com o acto, certamente estimulado pelos bonecreiros que o movem, levar Cavaco Silva a demiti-lo, num audaz golpe de génio que levaria o engenheiro, arquitecto e vendedor de cobertores da Covilhã, a reeditar a maioria absoluta antes mesmo de esta ruir completamente sob a pressão da crise. Como diria o meu avô, «presunção e água benta, cada um toma a que quer!»

Não foi nada disto o que passou pelas cabeças da tríade de Macau que comandam o pobre primeiro ministro de Portugal. Foi muito mais simples e carroceiro: tratou-se de explorar à força toda a atrapalhação presidencial perante dois factos incontroversos: a exposição pública do pior do Cavaquismo (que na realidade, é o pior do Bloco Central) - i.e. a corrupção endémica do regime democrático (1) -, e a manifesta inapetência governativa da senhora Manuela Ferreira Leite que, além de pessimamente acompanhada, se tem revelado um completo erro de casting.

O objectivo desta ofensiva contra Cavaco Silva é simples: se resultar, deixará não apenas o PSD fora de combate, mas também... o dubitativo Manuel Alegre! Se resultar, a tríade de Macau poderá continuar com as suas tropelias, tomando conta do país a coberto do papagaio Sócrates. Veja-se como assaltaram o BCP e acabam de colocar esta vaca falida a espirrar euros para dentro da Mota-Engil na sua galopada para o assalto final à Lusoponte! O resto dos pacóvios lusitanos, que somos todos nós, com cara de parvos, assiste bovinamente ao espectáculo.

Um golpe de Estado, pela sua natureza anti-constitucional, não pode, porém, ser tolerado em democracia. Ou seja, pelos meios democráticos disponíveis, ou por outros, de emergência, se forem imprescindíveis, há que desfazê-lo! Cavaco Silva tem duas alternativas pela frente: ou esperar pela fiscalização sucessiva do Estatuto de Autonomia dos Açores (note-se que não está em causa o direito a uma ampla e responsável autonomia dos arquipélagos), e se o Tribunal Constitucional estiver a dormir, como estiveram os deputados, deixando passar o intolerável, demitir o Governo e dissolver a actual Assembleia da República em nome da reposição da ordem constitucional; ou então, demitir desde já o governo Sócrates como principal responsável pelo golpe de Estado em curso, pedindo ao PS que indique nova personalidade para o cargo. Caso fosse impossível encontrar uma solução no actual quadro parlamentar, Cavaco Silva deveria então dissolver o parlamento e convocar eleições. Um governo de iniciativa presidencial poderia conduzir o país até à formação do novo governo constitucional. Há ainda alternativas mais expeditas, obviamente. Tudo dependerá do senso ou falta dele por parte de quem tem obrigação de agir sem demora perante o que se afigura como uma delapidação criminosa do regime democrático fundado em 25 de Abril de 1974.

O ano de 2009 vai ser, como se adivinha, divertido! Se esperam que o Santo Obama nos venha salvar, tirem daí toda a esperança. A América vai continuar a implodir pelo cano do seu incomensurável endividamento. Portugal poderá, de um dia para o outro, juntar-se à Islândia, à Irlanda e à Grécia, entre outros, como exemplo de país arruinado pela dívida pública e privada, e como prova de que a União Europeia passará a evoluir nas próximas duas décadas a dois tempos: o tempo do Norte, e o tempo dos PIGS (Portugal, Itália, Grécia e Espanha.)

Coragem!


NOTAS
  1. Ler declarações de Marinho Pinto ao Expresso.

OAM 502 31-12-2008 21:55

sexta-feira, fevereiro 12, 2010

Portugal 161

Paulo Rangel tem condições
Eu preferiria, porventura, ver Paulo Rangel suceder a Manuela Ferreira Leite,... (O António Maria, 23 Jan 2010).
Enquanto o PS apodrece, vou torcer por Paulo Rangel — eis como poderia resumir o meu estado de alma depois de ouvi-lo anunciar a sua entrada na corrida à sucessão de Manuela Ferreira Leite. Reconsiderou e fez bem.

O país está numa situação lastimável. O PS foi literalmente deglutido por uma tríade de piratas sem escrúpulos e parece-se cada vez mais com a Máfia italiana. Claro está que o Padrinho não é José Sócrates. Este não passa, na realidade, dum arlequim temporário e perfeitamente dispensável. Mas a verdade é que, sem nos vermos livres de semelhante traste, o polvo que vem chupando os miolos, a carne e os ossos do Partido Socialista continuará a sua insanável deriva autofágica. Os zombies cor-de-rosa pálido que hoje vagueavam lívidos pelos corredores de São Bento, à espera do "grande chefe", mudos, em transe, fizeram-me perceber de uma vez por todas que embora me considere um socialista espiritual, nada tenho já que ver com aquelas criaturas desprezíveis. Outro PS é preciso, e enquanto não nasce, abramos as portas a uma nova e jovem liderança no PSD. Torço por Rangel!

José Pedro Aguiar Branco é um político que me cai bem, como me cai bem Nuno Melo, Fernando Assis, ou o velho Alberto Martins— curiosamente tudo gente do Norte. A tríade de Macau, Sintra, Lapa e Zona Expo, pelo contrário, envelheceu de corrupção, gordura a mais e mau pensar. Já ninguém sabe o que é esta gente, se camareros de los banqueros españoles, se criadagem da dependente grande burguesia burocrática local, se jornalistas disfarçados de políticos, se políticos disfarçados de jornalistas. Uma corja imprestável!

Pedro Passos Coelho parecia ser o inevitável futuro líder do PSD, por uma espécie de falta de comparência, nomeadamente de Paulo Rangel. Mas a pressão da derrocada do governo de Sócrates levou o actual brilhante deputado europeu a medir bem o conselho que Durão Barroso certamente lhe dera há umas semanas atrás, bem como as inúmeras insistências que lhe terão chegado nestes últimos dias alucinantes. Agora, a chama de Coelho empalidecerá inexoravelmente diante do fulgor combativo de Rangel. E Aguiar Branco, apesar da sua notável cordialidade e sentido de Estado, certamente aceitará que a dimensão dos desafios que temos pela frente exige, de facto, um aço bem mais temperado do que o seu. Faço, porém, votos para que José Pedro Aguiar Branco venha a ser um forte aliado de Paulo Rangel.

Se Sócrates não for demitido por Cavaco Silva —que não será—, das duas uma: ou se demite por pressão dos poucos políticos socialistas de peso que ainda existem no PS, ou vai arrastar-se, como um boneco, até Abril, mês em que sob o alarido ensurdecedor da sucessão de escândalos acabará por ser demitido, pois não vejo que sentido possa ter dissolver-se a Assembleia da República, quando a causa principal da crise política e da paralisia governativa é mesmo e só o actual primeiro ministro — um mitómano que se esgueirou pela escadaria do poder acima sem ter a menor qualidade para tal.

Os tempos que aí vêm serão tremendamente exigentes e pedirão seguramente um governo de coligação, que só em sonho poderia ser de "esquerda".  O PCP e o Bloco terão tarefas importantíssima pela frente, mas não certamente a de governar. O que destes partidos todos esperamos é o reforço da sua capacidade crítica e de vigilância democráticas. E também o esforço de melhor esclarecerem as classes assalariadas na resistência que necessariamente terão que opor à lógica cega e cruel do Capitalismo puramente parasitário, especulativo e burocrático. As sociedades do Capitalismo global, tecnológico e especulativo são complexas e sofisticadas. Para promover com eficácia a defesa dos interesses do Trabalho são precisos novas ideias, melhor argumentação, menos maniqueísmo, mais consistência teórica e política, mais coragem na acção, e menos populismo. Ah! —e também menos oportunismo sindical.


OAM 683 — 12 Fev 2010 00:02 (última actualização: 14:35)

terça-feira, dezembro 21, 2010

2013-2015

Um casamento inseparável
Apesar dos amuos e setas atiradas, são inseparáveis.

Mesmo que o país seja forçado a declarar falência e a reestruturar a sua dívida pública, mesmo que o FMI e o Fundo Europeu de Estabilização Financeira, de braço dado, desembarquem na Portela e se instalem no Pestana Palace durante três anos, mesmo que o desemprego chegue aos 20% e os vencimentos da administração pública sejam congelados até ao fim da legislatura, mesmo que a indignação e violência sociais desçam às ruas, mesmo que..., aposto que José Sócrates levará o seu mandato até ao fim.

Só uma dissolução do parlamento poderia interromper o curso desta malfadada história portuguesa. Mas a quem interessaria tal decisão? A Cavaco Silva reeleito, para quê? Só se fosse para colocar o Passos de Coelho no lugar de Sócrates. Mas este cenário é a última coisa que interessa ao actual e futuro presidente da república! Com Sócrates, tudo o que correr mal, é com o PS e com Sócrates. Com Passos de Coelho, que Cavaco sempre desprezou (um cábula que se arrastou demasiado tempo pelas esquinas do sombrio aparelho laranja, à espera de um vazio de poder), tudo o que corresse mal cairia em cima do novo primeiro ministro, em cima do PSD, mas também em cima de Cavaco Silva. Só um masoquista iria por este caminho. Nunca um frio homem de carreira como reconhecidamente é o actual e futuro presidente Cavaco Silva. Além do mais, como pateticamente reconheceu o actual líder parlamentar laranja ao Expresso de Sábado passado, o PSD ainda não está preparado para ser governo.

Não está, nem estará! E a explicação é esta: assim como Mário Soares destruiu o PS, deixando-o degradar-se até à condição de um mero aparelho partidário, habitado por sombras, pequenas ambições, desgraçados à procura de emprego, e piratas, de onde a mais leve manifestação de inteligência e criatividade é imediatamente capturada para fins práticos, ou desligada do sistema, também Cavaco Silva destruiu o PSD, lançando sobre aquela imensa federação de autarcas sem história, nem futuro, e os cortesãos de Lisboa e Porto, o estigma de uma quase insuperável anestesia mental. Só esquecendo estes dois grandes vultos da recente e desgraçada história portuguesa, os dois maiores partidos portugueses —os únicos a quem o povo entrega as rédeas do poder— poderão ressuscitar. Quer dizer, só depois de 2015, quando a partida de Cavaco encerrar de vez um grande ciclo de expansão e declínio da nossa História, assistiremos ao colapso e eventual renascimento do actual e caduco sistema partidário.

O ciclo histórico que começa em 1415, com a conquista de Ceuta, termina simbolicamente depois do último grande Quadro Comunitário de Apoio da União Europeia, em 2013, e no fim do segundo mandato de Cavaco Silva, em 2015, ano em que Portugal figurará nas estatísticas como o país mais pobre de toda a União Europeia. Só então teremos mesmo batido no fundo. Os protagonistas principais deste naufrágio são conhecidos: José Sócrates e Aníbal Cavaco Silva. A gente do CDS-PP, PCP e Bloco de Esquerda, apesar das responsabilidades que também tiveram, é irrelevante para o desfecho.

A primeira candidatura de Manuel Alegre à presidência da república foi um oportunidade perdida para antecipar a inevitável reestruturação do corrupto e inoperante quadro partidário que temos. Como perdida foi a oportunidade de recompor o centro-direita e a direita do espectro partidário português quando Manuela Ferreira Leite ascendeu ao topo directivo do PPD-PSD. À época defendi que teria sido útil ao país partir os dois maiores partidos do imprestável sistema rotativo que temos em quatro.

A ala socialista do PS deixava o aparelho, há muito capturado pela tríade de Macau, entregue aos piratas, e conquistava o Bloco de Esquerda e parte o PEV para a formação de um novo partido socialista, capaz de incorporar e desenvolver os novos pensamentos políticos em formação, fruto da necessidade urgente de abordar de forma transparente e corajosa aquilo a que se vem chamando desde 1968, A Tragédia dos Comuns. O PS restante acabaria por entrar em colapso, pelo menos parcialmente, e em dois actos eleitorais (o que já passou e o que vai ocorrer em Janeiro próximo) ter-se-ia enfraquecido mortalmente a tríade de Macau, e reduzido substancialmente a capacidade de captura que as clientelas económico-financeiras do poder exercem sobre os dois principais partidos.

No PSD teria sido útil uma separação de águas entre Santana Lopes e Manuela Ferreira Leite, isto é, entre o PPD e o PSD. O partido urbano de barões, baronetes e cortesãs que é o PSD continuaria na Lapa, mas o PPD do campo, das vilas e aldeias, dos pequenos proprietários agrícolas e empresários industriais que têm ainda algo de seu, duros de roer, muitos deles de fibra bem republicana e até anti-clerical (era assim o meu avô), sairia a terreiro reivindicando aquilo que Paulo Portas só sabe e pode fazer em falsete. Há muito abandonado pela democracia dos corredores, este PPD tem e terá cada vez mais vontade de se fazer representar no parlamento. Vai ser provavelmente necessário esperar por alguém que não se deixe seduzir pela sereias do nepotismo clientelar. Como disse, alguém que não precise, que tenha algo de seu, histórico, familiar e inalienável.

Nada disto aconteceu, e agora resta-nos esperar pela implosão do sistema. Como não creio que a Alemanha perca de novo a cabeça, perdendo de novo a Europa, a União lá irá andando aos solavancos, entre americanos falidos, russos corruptos e chineses ansiosos. Só por isso não teremos de novo os militares na rua, outro golpe de Estado, ou uma revolução.

O actual PSD de Passos de Coelho não é nada. E por ser coisa nenhuma, o eleitorado português, por mais enojado que esteja com o Pinóquio que duas vezes elegeu para primeiro ministro, deixá-lo-à desgovernar Portugal até 2013, em matrimónio inseparável com o imprestável reCavaco.


POST SCRIPTUM

(23 dez 2010 17:11) O "i" de hoje transmite a opinião de Eduardo Catroga sobre a necessidade de remover Sócrates e o PS do poder. Mas onde obteve o "i" a opinião do douto negociador? Não diz....
Pois eu acho que, dada a urgência na disseminação do argumento, é uma resposta a este post ;)
Se o FMI vier... diz Catroga....
Mas o FMI já cá está! Além do mais, demonizar o FMI é uma estratégia sem futuro: primeiro porque António Borges (do PSD) é o BOSS europeu do Fundo; e depois, porque o director executivo do FMI é um socialista francês, que o PSF quer apoiar na próxima corrida presidencial, contra Sarkozy. Logo, este argumento não pega. Como se faltasse algo para ser espúrio, recorde-se ainda que o reCavaco ainda há dois dias disse para quem quisesse ouvir que ele conhece muito bem o FMI — pois trabalhou para o dito -- ou seja, reeleito, será um mediador vigilante das negociações.

(22 dez 2010 20:38) Excluo da aposta feita neste Post duas possibilidades: a de uma moção de confiança por iniciativa de Sócrates, e a de uma moção de censura proposta seja por que partido for. A primeira, por razões óbvias, conhecendo a personagem; e a segunda, porque se for de iniciativa do PSD ou do CDS, a "esquerda" votará contra a "direita", e não antevejo nenhuma iniciativa do PCP, ou do Bloco, no sentido de derrubarem Sócrates. Quem tomar a iniciativa de propor uma moção de censura desaparecerá do mapa eleitoral, ou mergulhará o respectivo partido (derrotado na própria iniciativa) em convulsão interna. Assim sendo, os sequiosos autarcas falidos do PSD terão que esperar... por 2013... pelo menos!

terça-feira, maio 31, 2011

A morte de Pinóquio

Quer ganhe, quer perca, José Sócrates tem o destino marcado: a expulsão do paraíso que julgava eterno...



O PSD volta a alargar a sua vantagem para o PS. Na oitava sondagem da Intercampus para o PÚBLICO e a TVI, os sociais-democratas somam agora 37,0% da preferência dos votos, contra 32,3% dos socialistas. O CDS sobe, a CDU mantém e o BE cai. Público (30-01-2011).
Neste momento tudo leva a crer que o PS perderá as eleições do próximo domingo. Os portugueses já não suportam mais a criatura. Eu, por exemplo, mudo imediatamente de canal sempre que o nariz espetado e descarado deste Pinóquio me assalta a casa por um dos canais do MEO. Sei que vai mentir com o descaramento típico de todo o vigarista que se preze, e assim sendo, mudo de programa, ou desligo a televisão. Prefiro manter-me a par dos seus compulsivos delírios de propaganda e manobras de intoxicação mediática, recorrendo aos canais da Net. É menos intrusivo.

As opções de José Sócrates no dia 6 de Junho são apenas estas:
  • no caso improvável de o PS ganhar as eleições, José Sócrates não terá parceiro com quem governar e será por isso forçado a ceder o lugar a alguém que possa e saiba fazer a ponte entre o PS e o PSD. Hoje uma voz amiga soprou-me que estaria tudo preparado para que o socialista ex-fundador da JSD, e actual presidente do Tribunal de Contas, Guilherme d'Oliveira Martins (1), assumisse a espinhosa missão de formar um governo de maioria PS-PSD-CDS, caso o improvável cenário de uma derrota de Passos Coelho viesse a ocorrer;
  • no caso de o PSD ganhar as eleições, formando maioria absoluta com o CDS, ou mesmo precisando do PS para consagrar a estabilidade parlamentar necessária para aplicar rapidamente as medidas mais dolorosas e reformadoras do Memorando de Entendimento, a sorte de José Sócrates é a mesma: despedimento com justíssima causa! A sentença foi aliás decretada pelo consigliere Almeida Santos (primeiro está a família!)

Uma votação mais expressiva no PCP e no Bloco, que deverá, apesar das sondagens, ocorrer, tornaria as coisas ainda mais críticas para o ainda primeiro ministro que conduziu o pais à bancarrota. Se ao menos os ortodoxos do PCP e do BE percebessem quantos milhares de votos perderam pelo simples facto de terem rejeitado quaisquer conversações com a dita Troika, talvez fizessem ainda um esforço nos dias que restam da campanha para evitarem mais verborreia populista, e proporem uma ou duas ideias claras ao país. Louçã está neste momento a perder votos para o PCP, para o PS, para o PSD, para o CDS, para o Partido da Terra, e até para o partido vegetariano!

O PS precisa de uma boa derrota para acordar do estado de hipnose a que foi sujeito pela tríade de Macau e pelo ilusionista José Sócrates Pinto de Sousa. Sem um abalo até às raízes não será provável a clarificação urgente de que necessita para sobreviver ao longo da pesada década que temos pela frente.

A Esquerda está perdida no novelo do seu próprio oportunismo irresponsável. Mas só o PS tem condições de iniciar um processo de aggiornamento socialista capaz de contagiar o PCP e sobretudo o BE, ansiosos ambos por verem superados os atavismos marxistas, estalinistas e trotsquistas que os têm condenado à insignificância partidária e à incapacidade de assumirem o pragmatismo que as gerações mais jovens naturalmente reclamam.

A situação é complexa. Mas há algo cada vez mais evidente: um voto no PS é provavelmente o único voto inútil destas eleições.


NOTAS
  1. Os episódios em volta dos relatórios sobre as PPP rodoviárias podem ter algo que ver com isto. O actual presidente do T.C. aparece, em aparente sintonia com Cavaco, como protector de Sócrates, retendo o relatório que "arrasa" a gestão que a tríade de Macau fez do dossier das PPP rodoviárias do continente (um encargo escandaloso de 20 mil milhões de euros!) Por outro lado, hoje, 30 de Maio, o mesmo Guilherme d'Oliveira Martins deixou publicar, a menos de cinco dias das eleições, um relatório sobre as PPP de Alberto João Jardim na Madeira, onde o governo autónomo é severamente criticado. Link1. Link2. Link3. Link4.

quinta-feira, abril 24, 2008

PPD-PSD 2

O Joker do Atlântico

Depois de uma noite de facas longas, Jardim regressou ao Funchal com uma certeza: no Continente só viu candidatos fracos, como uma Manuela Ferreira Leite incapaz de chegar a primeira-ministra, e alguns exóticos, entre os quais se deparou, inesperadamente, com o cadáver ambulante de Pedro Santana Lopes.

Há quatro partidos dentro do PPD-PSD: o PSD de Cavaco, Pacheco Pereira e Manuela Ferreira Leite, o PPD dos herdeiros desvairados de Sá Carneiro, entre os quais se destacaram pela caricatura, Pedro Santana Lopes e Luís Filipe Menezes, o PiSD, de Alberto João Jardim -- impagável jindungo da nossa malbaratada democracia --, e o grande vagão laranja de quem um dia espera ser ministro ou motorista de Aníbal Cavaco Silva, de Alberto João Jardim, ou de qualquer outro distribuidor de empregos pouco especializados.

No momento em que escrevo estas linhas começou o processo de execução do zombie em que se metamorfoseou Pedro Santana Lopes na sua teimosia em não morrer com o mínimo de dignidade política exigível a um ex felizmente brevíssimo primeiro ministro. Convém que a execução seja rápida. Amanhã, ou quanto muito, depois das festividade abrilistas, o populismo voluntarioso e experiente do líder da Madeira deveria começar a desinfectar o PiSD dos seus candidatos exóticos à liderança e das suas obsoletas sobrevivências "maoístas", lançando-se sem demora às goelas de José Sócrates. O país está a precisar dum bom Thriller!

Há muito que defendo a necessidade de partir ao meio (ou mais ou menos ao meio) a laranja e a rosa do nosso esgotado e corrompido Bloco Central. O populista que a tríade de Macau colocou em desespero de causa à frente do PS e do país, merece um populista à altura, capaz de o pôr na ordem e de divertir ao mesmo tempo o país durante o tango político que, presumo, já ninguém conseguirá evitar. A cisão do PPD-PSD é inevitável. Quanto mais cedo se der melhor.

Quanto mais cedo se der, mais cedo precipitará a cisão do PS e a renovação imprescindível do apodrecido espectro político-partidário que temos. O CDS deve desaparecer, porque na realidade há muito que não existe. Os socialistas devem mandar o Sócrates e a tríade de Macau às urtigas e refundar o seu partido em moldes cultural e tecnologicamente decentes. A linda Joana Amaral Dias deve dar um golpe de Estado no Bloco de Esquerda e fazer daquilo um partido pós-contemporâneo capaz de atrair de novo a juventude para o debate político e para a cidadania activa. Em suma, os sociais oportunistas do PSD e do PS devem juntar os trapos sob a batuta de José Sócrates e do sagaz Júdice, e formar uma espécie de partido neo-tecnocrata e tardo-liberal.

Sabem uma coisa? O elogio de Jaime Gama a Alberto João Jardim afinal não foi um lapso. E mais, a noite passada sonhei que o actual presidente da república aproveitou o passeio pelo arquipélago da Madeira para indicar ao populista que o governa há mais de trinta anos, um destino inadiável: Lisboa! Se não for desta, será na próxima crise do moribundo PPD-PSD.


OAM 350 24-04-2008, 21:06

quinta-feira, fevereiro 12, 2015

Uma bomba-relógio chamada TAP

Fernando Pinto, contratado pelo governo protuguês em 2000 para privatizar a TAP

Uma TAP de dívidas, encargos e segredos insustentáveis


Governo quer anunciar vencedor da venda da TAP em final de junho
Observador. 11/2/2015, 20:17

Secretário de Estado dos Transportes espera anunciar em final de junho o vencedor do processo de privatização da TAP, que terá de capitalizar a transportadora aérea nacional em 300 milhões de euros.

Ora vamos lá por partes

Plano de reembolsos da dívida de médio-longo prazo da TAP relativamente a 2012 e anos seguintes (Relatórios e Contas, 2006): 401.602.272€.

O Sérgio das PPP diz que são precisos 300 milhões para capitalizar a TAP. São mais, não é?
Talvez fosse prudente duplicar o número oficial, para chegarmos mais perto da verdade: uns €600 milhões para começar... pois ninguém no seu perfeito juízo vai comprar uma empresa sem um plano de reestruturação, ou sem contabilizar este impacto no custo do investimento. Isto para não mencionar sequer custos escondidos debaixo dos vários tapetes onde era habitual esconder dívida das empresas públicas — Parpública, Caixa Geral de Depósitos, etc. Por exemplo, que é feito do pagamento da PGA ao BES, no valor de 144 milhões de euros, e intermediada pelo então cor-de-rosa Millennium BCP?

Dúvida

Irá a ANA Vinci escavacar a Pista 17/35 (1), fundamental à segurança do aeroporto da Portela, atirando ao lixo centenas de milhões de euros gastos recentemente (2004-2010) na melhoria desta pista (iluminação da mesma), em novas placas de estacionamento, em duas novas saídas rápidas e um cruzamento de "taxi" na Pista 03/21, e mais de uma dezena de novas mangas telescópicas, acessos a parques de estacionamento, etc.?

O argumento da necessidade de espaço para estacionamento dos A350 quando estas aeronaves poderão nem chegar a Lisboa —no caso, por exemplo, da privatização da TAP borregar mais uma vez— é, no mínimo, imprudente.

Que estará a ANA Vinci a dizer ao governo ao lançar este balão temerário para o ar?

Que quer ir já para o Montijo? Ou andará alguém a zurzir os bolsos dalgum facilitador da ANA Vinci para a célebre narrativa do esgotamento da Portela e da necessidade do NAL seja onde for, desde que seja grande, e se possa ganhar muito dinheiro com especulações de terrenos e betão?

Foi assim que a Tríade de Macau montou a narrativa da Ota, depois de o distraído Cravinho ter engolido a fantasia dos aviões a caírem aos trambolhões na capital (ver relação de acidentes aéreos). A única aeronave que levantou voo da Portela e caíu na cidade foi objeto de sabotagem e matou um primeiro ministro, um ministro da defesa, acompanhantes e tripulação.

A TAP, a PGA e a SATA estão substancialmente falidas

Estão falidas e vivem de sucessivos balões de oxigénio orçamental que os portugueses pagam com a famosa austeridade, contra a qual os sindicatos e a pseudo esquerda partidária, ao mesmo tempo que enchem o peito de patriotismo hipócrita, reclamam.

O argumento patriótico sobre a necessidade de manter estes centros de custos e corrupção no balanço da dívida pública deixou de convencer e não é mais tolerado pelo Eurogrupo. E o Eurogrupo tem sempre razão, não tem, senhor Presidente da República?

Além do mais, alimentar empresas públicas insustentáveis à custa da ruína de toda uma classe média não é certamente uma ideia com grande futuro.

Passa-se com a TAP-PGA-Sata, o mesmo que ocorre na Refer, na CP-Carga ou na RTP: existem em toda a parte do mundo alternativas privadas que funcionam melhor, que são mais baratas, e que não pesam diretamente nos bolsos dos contribuintes — nomeadamente em mau serviço, preços caros, indemnizações compensatórias e outro contrabando orçamental. A menos que enveredemos por um sistema comunista fechado, perder tempo com estes dossiês apenas implicará maiores custos para todos nós—menos estado social, maior insanidade fiscal, mais falências e mais desemprego sistémico.

O previsível colapso da TAP —falência declarada inclusive— deixará os famosos doze Airbus A350-900, originalmente encomendados pela gloriosa TAP da Tríade de Macau, no estaleiro, a menos que alguma grande companhia resolva adquirir a TAP e de caminho aproveitar para ficar com a posição na encomenda dos Airbus. Por 600 milhões de euros, transformando a TAP numa Low Cost europeia e intercontinental especializada nos mercados da América Latina e África, até pode ser um bom negócio!

De contrário, ou seja, com uma TAP a arrastar prejuízos e a perder voos e rotas para as Low Cost, que pagam menos taxas, a ANA Vinci irá reclamar indemnizações ao estado português pela perda de receitas causada pela crise na TAP.

Talvez seja esta a mensagem que o balão da destruição da Pista 17/35 pretende transmitir aos decisores políticos.


NOTAS
  1. A destruição da pista 17/35 é um erro crasso.

    Mas porque razão é um erro crasso destruir a pista 17/35, apesar desta ser utilizada em apenas cerca de 4% dos voos? Resposta: porque a pista 17/35 reforça a fiabilidade do aeroporto da Portela.

    Por vezes as condições meteorológicas podem dificultar, ou tornar menos confortável para os passageiros, o uso da Pista 03/21 (a principal). Nestes casos a navegação aérea pode então encaminhar as aeronaves para a pista 17/35, optando por uma direcção da aterragem diferente da direção da pista principal.

    O aeroporto da Portela tem uma excelente fiabilidade, raramente encerrando por causa de condições meteorológicas adversas. Mas para conservar a fiabilidade elevada do aeroporto é fundamental contar com as duas pistas construídas em 1962, que sempre deram excelente conta do recado.

    Encerrar a pista 17/35 iria, portanto, diminuir a fiabilidade da Portela—erro crasso, portanto.

    O aeroporto da Portela é dos mais pontuais da Europa. Basta observar as tabelas internacionais para o confirmar.

    Encerrar a pista 17/35, nomeadamente em dias de ventos cruzados fortes, teria como consequência inevitável o desvio de aviões para outros aeroportos e a perda, com prejuízos óbvios, da fiabilidade de que a Portela sempre gozou ao longo de mais de 50 anos.

sábado, fevereiro 28, 2009

Chinatown Angola

Chinatown Portugal
O projecto secreto da tríade de Macau e do Pinóquio Sócrates

Chinatown, Africa é um excelente documentário sobre as ambições da China em África, nomeadamente em Angola, de Mariana Van Zeller, produzido para a Vanguard Journalism, e que dificilmente verá nos canais televisivos portugueses. Acabo de revê-lo e decidi tecer um comentário geral sobre o seu significado menos aparente, nomeadamente no que toca a Portugal.

A captura do PS pela tríade de Macau tem um objectivo secreto: permitir que a China, nomeadamente através dos bancos e empresas públicas angolanas, ponha paulatinamente uma grande pata em cima de Portugal e por esta via salve a indolente e frágil burguesia portuguesa do colapso que se avizinha. A nossa burguesia é manifestamente incapaz de se adaptar às regras comunitárias da concorrência, da transparência e da responsabilização. Só consegue vegetar em regime de monopólio ou cartel, e para tal nada melhor do que a promiscuidade entre as suas decadentes famílias e os arrivistas do Bloco Central da Corrupção. Esta velha burguesia em vias de extinção, há séculos que não sabe fazer mais do que aninhar-se junto à mesa do orçamento público dos portugueses. Hoje, encontra-se à beira de uma mais do que provável extinção. Daí agarrar-se a tudo o que flutua e o despudor com que se prepara para vender o país às fatias!

O Bloco Central da Corrupção, por sua vez, tem vindo a cumprir um plano de privatização assassina dos principais recursos estratégicos do país — produção e distribuição de energia, sistemas de captação, armazenamento, tratamento e distribuição da água doce e potável, tratamento e reciclagem dos lixos e águas residuais, redes de mobilidade de pessoas e bens, etc.

Os rios e albufeiras, estradas, pontes, barragens, portos, aeroportos e aterros sanitários estão a caminho de monopólios privados ou de escandalosos cartéis. A percentagem do capital nacional nestes consórcios tende porém a declinar muito rapidamente, como se tem visto nos casos do BCP, do BPI e da GALP.

Os países ricos em matérias primas e divisas, como a China e Angola, aproveitam naturalmente a oportunidade. E se amanhã uma América ansiosa entrar no leilão, mais contente ficará a velha-nova burguesia burocrática lusitana com a sua famosa "economia aberta". Há porém um ponto negro neste cenário: o Atlântico tem uma importância estratégica incompatível com as obsoletas ambições imperiais chinesas. O mais provável é que em breve se coloque o problema de traçar uma linha de separação entre o sonho chinês e a realidade do Ocidente. Em que embrulhada estaremos então, se deixarmos o Estado português entregue a piratas?

OAM 542 28-02-2009 13:04

sexta-feira, fevereiro 11, 2011

Censura e populismo parlamentar

Mostrem os sapatos a Sócrates — o Mubarak das Beiras!

Sócrates furioso com anúncio de moção censura do Bloco de Esquerda

É do interesse vital do PSD provocar a queda do governo da tríade de Macau ainda este ano e ganhar as subsequentes eleições legislativas antecipadas. De contrário, alguns dossiers, como o do aeroporto da Ota em Alcochete, onde o lóbi cavaquista da ex-SLN meteu o pescoço, cairão irremediavelmente. Mas poderá fazê-lo, pergunto, depois de ter viabilizado até agora a agonia de Sócrates em nome do "interesse nacional"?

O grande dilema de Passos de Coelho é, pois, este: ou segurar Sócrates até ver consumado o colapso financeiro do país, provavelmente antes do verão, e quando este ocorrer (sob a forma de um pedido de ajuda desesperado ao BCE), exigir a demissão do governo, anunciando que votará contra o próximo orçamento de Estado seja ele qual for; ou precipitar a sua queda imediatamente após a tomada de posse de Cavaco Silva, votando nas moções de censura do Bloco e do PCP, ou anunciando mesmo, em alternativa, uma moção de censura de iniciativa laranja. A perspectiva de três moções de censura consecutivas ao governo moribundo em funções —depois das quais, independentemente de virem a ser aprovadas ou não, este ficaria ferido de morte— chegaria previsivelmente para que Sócrates se demitisse, em vez de desafiar uma demissão humilhante pelo presidente da república. Esperar pela palavra de Cavaco é, no entanto, um grande risco para o actual líder do PSD!

No primeiro cenário —o cenário da hiena que espera pelo animal ferido de morte— o PSD corre o risco de receber um país em cacos, pois até ao outono haverá tempo suficiente para que uma fuga de capitais, de empresas e de massa cinzenta, sem precedentes, tenha lugar, ao mesmo tempo que a instabilidade e mesmo a revolta social poderão tonar-se explosivas de um momento para o outro, ao menor e mais inesperado incidente com estudantes e pais desesperados, doentes e reformados, ou camionistas (outra vez!) Foi isto que o PCP, primeiro, e o quadrado Louçã, depois, perceberam finalmente. Estão aliás ambos aterrados com a perspectiva de serem confundidos e engolidos com o PS pela ira que cresce entre os portugueses. Jerónimo de Sousa tem razão: para o povo (leia-se, para o eleitorado que vota à esquerda) já nada pode piorar a governação dos piratas que tomaram de assalto o PS e o país. Sócrates tornou-se uma espécie de Mubarak das Beiras. Só sairá de empurrão!

A alternativa a este cenário é Passos de Coelho aproveitar a boleia das moções de censura do Bloco e do PCP, votando-as favoravelmente, em nome, não das respectivas ideologias e verborreia populista, mas da necessidade inadiável de acorrer ao país verificada a incapacidade irreversível de o actual governo lidar com a situação económica, financeira, social e política que se degrada dia a dia. A aventura criminosa da tríade de Macau, servida pelo mitómano José Sócrates, levou o país à mais completa ruína, desde a bancarrota de 1892. É preciso correr com esta gente do Governo e do PS. E é preciso sentar alguns dos seus principais protagonistas no banco dos réus!

Mas Passos de Coelho tem ainda outra alternativa para encurtar a agonia de Sócrates: anunciar uma moção de censura do próprio PSD, ideologicamente neutra e pragmática, se verificar que as fundamentações das moções do Bloco e do PCP são, como se prevê, uma espécie de insecticida doutrinário destinado a matar no ovo a eficácia das próprias moções. Ou seja, se as moções de censura da "esquerda" não passarem de uma farsa para povo distraído ver, o PSD inviabilizará de vez o governo com a sua própria moção de censura, na medida em que, a partir da sua apresentação, o PS deixará de contar com qualquer apoio parlamentar do PSD e do CDS, ficando a sua sobrevivência ao colo do senhor Louçã, já que a posição lúcida de Jerónimo de Sousa acabará por ganhar apoio pleno no interior do PCP.

Este é o momento ideal para uma mudança radical no seio do PS. Se tal não ocorrer, podemos dizer adeus ao Partido Socialista, e pedir outro. Está na altura de António José Seguro, Francisco Assis e Sérgio Sousa Pinto perceberem que o melhor que têm a fazer é unir-se, e unirem-se a Manuel Maria Carrilho para salvar o PS e a alternância de esquerda em Portugal. Esta terá que ser repensada de uma ponta à outra, naturalmente. Por uma nova República? Por um novo PS? Não vejo como possa ser doutro modo!

Portugal não tem nenhuma possibilidade de pagar um QREN por ano pelo serviço da sua dívida pública. É este o estado de falência do regime a que chegámos. Para sairmos de tamanho buraco negro é preciso, de facto, uma nova República!

REFERÊNCIAS
  • Dívida pública portuguesa (2010): 83,2% do PIB (CIA)
    Dívida externa bruta portuguesa (2010): 201,5% do PIB
  • Os aforradores e os especuladores de dívida pública portuguesa
    (...) O Estado português, em 2011, pretende pedir emprestado 46 mil milhões de euros, cerca de 32% do total da dívida e 28% do PIB português. Quase 25% da dívida total, 35 mil milhões, para renovar dívida vencida e 11 mil milhões para colmatar o diferencial negativo entre as receitas e as despesas do Estado. A grande fatia das emissões, cerca de 25 mil milhões, está prevista até finais de Abril.
    (…) Caso se assista a uma escalada das taxas para perto dos 10% nas OT a 10 anos no mercado secundário, e das taxas de prazo mais curto – no início da curva de rendimentos, como já estamos a assistir nas de 2 a 6 anos – poderemos ter uma taxa média 6 pontos percentuais acima do normal e um acréscimo dos juros em mais 1500 milhões de euros (quase 1% do PIB) passando o serviço da dívida dos actuais 8% do total da despesa pública para quase 11% — in Paulo Rosa, Os aforradores e os especuladores de dívida pública portuguesa, Público, 16.11.2010 - 14:50.
  • Portugal de novo ameaçado pela dívida, diz Guardian
    O The Guardian salienta que, pela primeira vez em três semanas, o BCE foi obrigado a intervir no mercado e a comprar títulos da dívida soberana portugueses, pois os juros exigidos chegaram aos 7,63%, níveis que a Grécia e a Irlanda não conseguiram suportar. Portugal terá de se refinanciar em 10 mil milhões já nesta primavera e os investidores estão preocupados depois da pouca confiança demonstrada pela emissão de dívida sindicada de 3,5 mil milhões de euros, realizada esta semana, e cujas taxas elevadas (6,24%) vão obrigar o país a pagar 226 milhões de euros de juros por ano — DN.
  • Taxa a dez anos iguala pior sequência de Portugal desde a entrada na zona euro
    Até ao dia 14 de Janeiro, nunca a sequência de dias a fechar acima dos sete por cento havia sido superior a dois dias consecutivos, mas a partir de 14 de Janeiro a taxa genérica da Bloomberg ficou acima dessa barreira durante quatro dias consecutivos. Hoje, esta taxa continua acima dos 7 por cento, pelo quinto dia consecutivo, igualando nesta altura a pior sequência de dias registada desde a entrada no euro, registada na última semana de Janeiro, sendo que esta semana os juros têm sido mais altos que em Janeiro  — DN Economia.
  • Para una análise comparativa internacional: “The Future of Public Debt: Prospects and Implications,” by Stephen G. Cecchetti, M. S. Mohanty, and Fabrizio Zampolli, published by the Bank of International Settlements (BIS). PDF.

domingo, maio 17, 2009

Defender o Tejo

Alegre, não penses nas presidenciais, pensa em Portugal!

Querem destruir um rio, e não dizes nada?!


O governo espanhol do cândido Zapatero quer esvaziar de vez o rio Tejo para alimentar campos de golfe e queimar o resto da Andaluzia com agricultura intensiva de regadio, enquanto o nosso indescritível Pinóquio corre quilómetros, para as câmaras de televisão, e distribui portáteis vestidos e baptizados por uma das muitas empresas do bolso sem fundo da tríade de piratas que um dia comeu o PS, e hoje quer engolir Portugal!

Vila Nova da Barquinha, Santarém, 17 Mai (Lusa) - A Rede Cidadã para uma Nova Cultura da Água convidou hoje os portugueses a participarem, dia 20 de Junho, numa manifestação em Talavera de La Reina contra a política de transvases que, alega, está a matar o rio Tejo.

Soledad de La Llama, da Rede Cidadã, participou hoje, em Vila Nova da Barquinha, na iniciativa "Salvar a Terra e a Água", promovida pelo Instituto Democracia Portuguesa (IDP) com o apoio da Fundação D. Manuel II, da COAGRET e da autarquia local, e que contou com a presenças de D. Duarte Nuno e do arquitecto Gonçalo Ribeiro Telles.

A manifestação que se vai realizar em Talavera de La Reina visa reivindicar "água para o rio Tejo", ou seja, a fixação de caudais e evitar que sejam autorizados novos transvazes e a passagem a escrito das concessões dos transvazes actuais, Tejo-Segura e Tejo-Guadiana, por um período de 75 anos, afirmou Soledad de La Llama.

"Portugal não pode ficar alheio", disse Pedro Couteiro, da Coordenadora de Afectad@s pelas Grandes Barragens e Transvazes (COAGRET), afirmando que está em negociação o aluguer de uma carruagem do Lusitânia, que pára na estação de Talavera, para que os cidadãos das zonas ribeirinhas do Tejo, desde a fronteira até Lisboa, se juntem aos espanhóis neste protesto (www.pornuestrosrios.org).

Soledad de La Llama afirmou que a manifestação visa impedir que a lei que está em preparação no Parlamento espanhol, e que deverá sair em Setembro, ignore a importância do rio para cidades como Talavera e Lisboa e que fixe os caudais do rio.

"O Tejo está a morrer no mediterrâneo espanhol", afirmou, denunciando o facto de 80 por cento do caudal do Tejo estar a ser desviado para as regiões de regadio, que "estão a crescer com uma água que não é sua".

Se se concretizar o novo transvase, o Tejo Médio "morre", advertiu, pedindo a fixação de caudais e que o Tejo "continue a chegar a Portugal e a 'morrer' em Lisboa". — in Expresso (17-05-2009)

Quem especulou no BPP (e os supostos depósitos com retorno garantido não passam disso mesmo — de especulação) não tem que ser ressarcido pelo Estado. Quem roubou no BCP, no BPP e no BPN deve ser julgado e preso se for o caso.

O senhor Alberto Costa, pelo que supostamente tem andado a fazer desde Macau, há muito que merece um bom processo-crime em cima do lombo.

O senhor Cavaco, se não tem coragem para empurrar o senhor Loureiro para os braços da Justiça, que se demita! Pode aliás ter a certeza que o seu dilecto conselheiro de Estado já é, de facto e para todos os efeitos eleitorais futuros, uma corda apertada em volta da sua ambicionada reeleição presidencial.

A vergonhosa propaganda da EDP dirigida pelo petulante Mexia, em volta do programa de construção da dezena de novas barragens em rios portugueses — que para nada servem, a não ser disfarçar a enorme dívida acumulada da principal empresa energética portuguesa, e às escondidas privatizar o acesso à água (Nuno Melo investiga mais este dossier, por favor!) — deve ter uma resposta rápida e inflexível: renacionalizar a EDP e despedir o insolente Mexia!

Finalmente, Manuel Alegre, em vez de jogares ao gato e ao rato com os Portugueses, assume as tuas responsabilidades, que são muitas e devidas, e mostra um cartão vermelho à tríade de piratas que tomou de assalto o teu partido, e defrauda em cada dia que passa, criminosamente, as expectativas de quem acreditou nas virtualidades de uma esquerda moderada para conduzir a nau portuguesa a bom porto. Não penses nas presidenciais, pensa em Portugal!

Post scriptum — O senhor Louçã e o senhor Miguel Portas afirmam, ou dão a entender, que querem governar, ou ajudar a governar, Portugal. Como ainda não desisti da Esquerda, o fiasco Alegre empurra-me inevitavelmente para vós! Votarei pois, se não fizerdes nem disserdes demasiadas asneiras no que resta de ano, no Bloco de Esquerda. Recomendo-vos, entretanto, que leiam o que fui escrevendo desde 2006 neste blogue, pois encontareis seguramente matéria suficiente de reflexão. Coisa para que geralmente os afazeres partidários deixam pouco tempo.


OAM 586 17-05-2009 19:35

domingo, maio 29, 2011

Travem os agiotas!

Em vez de juros usurários, porque não exigir à tríade uma taxa média de 0,01%?


Fed Gave Banks Crisis Gains on Secretive Loans Low as 0.01%Bloomberg, 26.05.2011.

May 26 (Bloomberg) -- Credit Suisse Group AG, Goldman Sachs Group Inc. and Royal Bank of Scotland Group Plc each borrowed at least $30 billion in 2008 from a Federal Reserve emergency lending program whose details weren’t revealed to shareholders, members of Congress or the public.

(...) New York-based Goldman Sachs’s borrowing peaked at about $30 billion, the records show, as did the program’s loans to RBS, based in Edinburgh. Deutsche Bank AG, Barclays Plc and UBS AG each borrowed at least $15 billion, according to the graphs, which reflect deals made by 12 of the 20 eligible banks during the last four months of 2008.

(...) Other banks listed in the Fed charts borrowed less than their peers. New York-based Morgan Stanley and Paris-based BNP Paribas, France’s biggest bank by assets, took no more than about $10 billion. Citigroup Inc., JPMorgan Chase & Co. and Merrill Lynch & Co., which is now part of Bank of America Corp., borrowed less than $5 billion each — Bloomberg, 26.05.2011.

O cálculo do resgate da dívida soberana portuguesa está de momento avaliada em 78mM€. As organizações que integram a tríade do resgate —Mecanismo Europeu de Estabilização Financeira (MEEF), Fundo Europeu de Estabilização Financeira (FEEF) e Fundo Monetário Internacional (FMI)—, pretendem cobrar juros por esta operação na ordem dos 5,9%! São juros agiotas, mas inferiores aos mais de 10% para onde actualmente caminham as operações de colocação comercial da dívida soberana portuguesa.

Enquanto esteve aberto o guichet do BCE, através do qual os bancos comerciais pediam dinheiro emprestado à taxa de 1%, dando como colateral títulos de dívida soberana com rendimentos garantidos acima dos 4% (hoje estes rendimentos já andam muito próximos dos 10%), foi o fartar vilanagem que o mitómano Sócrates saudou alegremente como prova da sua eficácia na condução de Portugal à bancarrota.

Quando qualquer coisa cresce a 7% ao ano, significa que duplica numa década. Quando cresce a 10%, significa que duplica em apenas sete anos!

Foi conhecendo esta lei matemática, e depois de constatar que o negócio das dívidas soberanas se tinha transformado em mais uma perigosa bolha especulativa, que o BCE decidiu fechar a sua peculiar portinhola de Quantitative Easing. O ataque especulativo à moeda única europeia, por via do ataque às dívidas soberanas dos PIGS, tornara-se uma ameaça real à própria integridade do euro. Bruxelas, Berlim e Paris não tiveram outra saída que não fosse enveredar por programas de resgate dos países membros aflitos, criando estratégias de endividamento em cascata capazes de travar a espiral de pilhagem especulativa em curso.

Assim, a União Europeia passa a financiar-se junto dos mercados a juros aceitáveis, e depois empresta aos PIGS a juros inaceitáveis e sob condições draconianas. Eu até estou de acordo com todas as condições draconianas da última versão do Memorando de Entendimento da Troika (pois são essenciais à reforma da nossa degenerada democracia), mas não estou de acordo, nem com os prazos, nem com o preço do dinheiro emprestado e a emprestar. O FMI, e sobretudo os FEEF e MEEF, estão a comportar-se como agiotas, e pior do que isso, poderão afogar-se na sua própria ganância. Se os juros e os empréstimos forem impagáveis, a cobrança dos ganhos poderá revelar-se impossível, forçando os credores a aceitar um perdão parcial da dívida (o já célebre hair cut) — ou seja, a sua renegociação.

Durante a crise que levou ao colapso do Lehman Brothers, em 2008, a Reserva Federal (FED), o grande cartel bancário que nos EUA equivale aos bancos centrais de outros países, emprestou secretamente mais de 80 mil milhões de dólares a um grupo de bancos americanos e europeus, a prazos de 28 dias, cobrando juros de 0,01%, com o pretexto de evitar uma corrida aos bancos. Mais tarde, Henry Paulson, Ben Bernanke e Timothy Geithner, convenceram o Senado a realizar uma punção fiscal sem precedentes, de 700 mil milhões de dólares, para resgatar a banca de potenciais faltas de liquidez, cobrando-lhes juros de favor cada vez mais próximos do zero. Esta política de empréstimos sem juros, reservada apenas aos bancos (ZIRP), começou no Japão, mas tem feito o seu caminho. No entanto, o contraste com os juros cobrados às empresas, aos cidadãos, e agora, aos governos, é de tal modo escandaloso, que não poderá deixar de causar conflitos sociais e políticos num futuro bem próximo.

Os mais de 42 milhões de americanos que recorrem hoje às senhas alimentares (food stamps) querem saber as razões desta discriminação, e querem deixar de alimentar um sistema financeiro tão evidentemente injusto e corrupto. Os europeus, à medida que as senhas de alimentação forem entrando na sua rotina, para complementar as suas degradadas pensões de reforma, o custo crescente do seus serviços públicos de saúde e o desemprego sistémico, cada vez menos subsidiado, também!


POST SCRIPTUM (30.05.2011 9:11)

O trauma da reestruturação entrou definitivamente na ordem do dia das dívidas soberanas europeias, a começar pela Grécia, seguindo-se-lhe depois, inevitavelmente, Portugal, Irlanda, Espanha, Itália, etc.

Hipóteses em cima da mesa:
  1. estender os prazos de pagamentos;
  2. diminuir as taxas de juro abusivas;
  3. aparar a dívida (hair cut), i.e. deixar os credores (mas sobretudo os especuladores) com uma parte dos lucros esperados no tinteiro;
  4. não pagar de todo e mandar o euro às urtigas (uma hipótese radical que, na realidade, significa transformar um pesadelo de 10-20 anos, num definhamento até ao fim deste século, no mínimo!)
 Mas pode haver um passe mágico, ou seja, uma quinta hipótese que contorne estas soluções demasiado espinhosas: fazer um acerto de contas prévio entre os países que são simultaneamente devedores e credores. Esta é, pelo menos, a proposta criativa de dois professores associados da Europe Business School: Anthony J. Evans (Economics) e Terence Tse (Finance).
The idea

The idea is very simple - if Portugal owes Ireland €0.34bn of short term debt, and Ireland owes Portugal €0.17bn, we can write off Ireland's obligations and leave Portugal with a reduced debt of €0.17bn.

If you are both a debtor and a creditor you do not need money to settle claims. Rather than require additional funds to deal with choking debt, why not write it off?
The diagrams above show the before and after situation, based on analysis done by students. The simulation itself took place on May 17th 2011 and involved three separate trading rounds — inThe great EU debt write off”.

Parece um jogo vídeo. Mas não estamos todos, de facto, imersos numa economia virtual?

quinta-feira, junho 23, 2011

Como privatizar a TAP?

TAP Europa | TAP Atlântica | TAP Oriente
Pretendendo encurralar o novo ministro, Álvaro Santos Pereira, com a chantagem dos despedimentos, defensores encapotados do status quo falido do país (tríade de Macau e lóbi de Alcochete) acabam de reconhecer que a TAP está falida e é comercialmente inviável. Um definitivo tiro no pé!

Só há uma maneira de salvar a TAP: privatizando-a quanto antes!

“A concorrência das companhias aéreas de baixo custo vai custar 2 mil milhões de euros à TAP. De acordo com um estudo interno da companhia, a que o jornal Público teve acesso, a transferência de passageiros e a pressão para reduzir os preços ameaçam causar prejuízos de 152 milhões de euros em apenas um ano.

Em causa está a abertura de uma base da Easyjet no aeroporto da Portela em 2012 e ainda a concorrência da irlandesa Ryanair.

A confirmarem-se os prejuízos, os despedimentos na TAP serão inevitáveis o que pode levar ao encerramento da empresa.” — SIC Notícias. (1)

Não é a concorrência, estúpido! É a incompetência de gestão e a intromissão política, estúpido!

Há anos que a Blogosfera tem vindo a chamar a atenção de quem deve estar atento, sobre o curso suicida da TAP. Mas como quem mandou até agora foram os construtores civis, os negociantes de terrenos e o comissionista partidário de turno, não há outra saída que não passe pela privatização urgente, quer da TAP, quer da SATA. Nenhuma das companhias consegue sobreviver sem fortes subsídios estatais, i.e. mais endividamento externo! Além do mais, não foi Fernando Pinto que em entrevista aos jornais saudou em tempos a concorrência das Low Cost?

O ataque mediático dos defensores do status quo falido, veiculado pelo Público de hoje, contra o que ontem mesmo escrevi, configura duas perigosas derivas por parte de poderes informais instalados: uma deriva guerrilheira contra o novo governo, usando para tal golpes baixos, como foi já o caso do despedimento colectivo nos estaleiros de Viana de Castelo, ou o anúncio aos quatro ventos de que a TAP, afinal, não é viável em ambiente de concorrência leal, ou seja, que vale pouco ou nada em sede de privatização!

Esta insinuação, e a tentativa de responsabilizar o actual governo pela inevitável redução de efectivos que o obeso grupo TAP terá que sofrer, revelam três coisas: que as actuais administrações da TAP e da ANA foram e continuam capturadas por interesses inconfessáveis, muito pouco públicos; que estão desesperadas; e que os poderes instalados (tríade de Macau e lóbi de Alcochete) parecem dispostos a sabotar sucessivamente o memorando de entendimento assinado pelo governo "socialista" de José Sócrates com a Troika, e a maioria governamental recentemente formada. É caso para dizer que o corropio em curso de entrevistas à RTP-N, por parte de grandes figurões da alucinação socratina, não passa dum branqueamento cínico de quem tem efectivamente muitas contas a prestar ao país!

Além do mais as notícias sobre a falência da TAP são antigas, pelo que o alarme do Público não passa de uma sombra feia para agitar os sindicatos e as comissões de trabalhadores, a quem aconselho vivamente que estudem detalhadamente a situação e lutem por uma solução ajustada à realidade.

TAP vai registar os maiores prejuízos de sempre desde a chegada de Fernando Pinto — 02-10-2008, Público

“A transportadora perdeu 133 milhões até Agosto e prevê-se que as contas piorem até ao final do ano. A tentativa de acordo com os sindicatos parece estar condenada.”

“Quando Fernando Pinto apresentou os resultados do primeiro semestre de operação da TAP (136 milhões de euros de prejuízos), ainda restava a esperança de que o Verão, período de pico da indústria aérea, ajudasse a recuperar a empresa. Ontem, o gestor brasileiro regressou à mesma sala para anunciar que os meses de Julho e Agosto apenas reduziram as perdas em três milhões de euros.
Os dados acumulados dos oito primeiros meses do ano mostram uma TAP a caminho dos piores resultados de sempre desde a chegada de Fernando Pinto, no ano 2000. Desde Janeiro, a companhia registou prejuízos de 133 milhões e "o mais provável é que o resultado líquido seja pior no final do ano", avançou Michael Conolly, administrador financeiro da transportadora, ao PÚBLICO.”

Prejuízos de 2008 provocam falência técnica da TAP — 16-12-2008, Presstur

“Fernando Pinto começou (...) por comentar que a falência técnica é “aspecto contabilístico”, embora admitindo que “tem que ser visto” e, “principalmente”, à luz das obrigações do Artigo 35 do Código das Sociedades Comerciais, que determina que os administradores devem propor aos accionistas o reforço do Capital Social quando os Capitais Próprios já foram inferiores a dois terços desse montante.”

“[...] Fontes financeiras disseram ao PressTUR que o facto de a TAP passar a estar em incumprimento do Artigo 35 do Código das Sociedades Comerciais coloca o risco de qualquer credor poder pedir a falência, mas, frisam, não tem sido essa a prática, desde logo por que os próprios credores querem é que a empresa continue a laborar para poder ressarcir as dívidas.”

Pode evitar-se a privatização da TAP? Não.

Mas pode o Estado continuar presente na futura companhia? Pode: com uma pequena %. O serviço público das ligações entre-ilhas, na Madeira e nos Açores, e destes arquipélagos ao continente, pode e deve ser assegurado por companhias privadas subsidiadas pelo Estado. A TAP e a SATA (depois de privatizadas), mas também outras companhias poderão disputar livremente estas oportunidades de negócio com deveres especiais associados.

Em 19 de Março último o António Maria escrevia:
  • A TAP não tem futuro, a não ser reestruturando-se radicalmente. Isto é, focando-se na única actividade que lhe dá dinheiro: voar!
  • A TAP não tem futuro, a não ser partindo-se em três companhias ponto-a-ponto: TAP Atlântica (Brasil, Venezuela, Angola, Cabo-Verde, São Tomé, etc.); TAP Europa (mais de 80% do seu movimento actual); e TAP Oriente (Turquia, Golfo, Índia, China, Japão), com parceiros regionais fortes (na Europa, a Lufhtansa, em África a TAG, na Ásia, com a Air China, etc.)
  • A TAP precisa, como do pão para a boca, da Portela, mas de uma Portela renovada a sério e bem gerida, talvez por uma ANA privada, não para engordar a burguesia palaciana, inepta e preguiçosa nacional, mas para entregar a gestão aeroportuária do país a um consórcio privado com provas dadas, subordinado a obrigações de serviço público muito claras, mas libertando de uma vez por todas a gestão desta empresa rentável dos indecorosos boys&girls do PS e do PSD.
  • A Portela precisa, como do pão para a boca de obras que aumentem a segurança das pistas e a gestão dos movimentos no ar e em terra. Para tal precisa de libertar espaço aéreo militar reservado na zona de Lisboa sem qualquer justificação e que apenas permanece como está pela estúpida e proverbial resistência dos lóbis burocráticos às decisões racionais. Num estado civil, os militares obedecem ao poder civil democraticamente eleito, ponto final! O ministério da defesa, infelizmente dirigido nas últimas décadas por amadores e aparachiques, continua a ocupar corredores aéreos de bases militares à volta de Lisboa, inúteis ou até desactivadas: Sintra e Montijo (inúteis), e Alverca (desactivada).
  • A TAP precisa dum aeroporto na cidade, porque 80% dos seus voos são para e do espaço comunitário europeu, porque apenas 9% dos aviões que demandam a Portela são da classe wide-body (i.e. adequados a viagens de longo curso, nomeadamente intercontinentais), o que afasta liminarmente a verborreia dos vendedores-ambulantes do PS e do PSD sobre o "Hub aeroportuário de Lisboa".
  • A Portela deve permanecer, pelo menos até 2020, como o único aeroporto civil de Lisboa, pois tem ainda oportunidades de ver crescer o número de passageiros que por ele transitam, sem precisar de aumentar muito mais o número de movimentos de aeronaves. Só no filet mignon dos horários prime-time, há falta de slots na Portela. Mas isso é assim em todos os aeroportos! O que mais importa saber é que os aviões da TAP andam vazios, para ser mais preciso, com taxas de ocupação muito baixas e sempre a descer desde que as Low Cost atacaram, e bem, o mercado português. Os nossos imbecis governantes ainda não perceberam que o sucesso das Low Cost, que tem vindo a encostar a TAP literalmente às boxes (em Faro, Porto, e em breve Funchal e Lisboa) se deve, em grande parte, ao enorme contingente de novos emigrantes portugueses que viajam, desde que há tarifas convenientes, não uma ou duas vezes por ano, como antes acontecia, mas de dois em dois meses, todos meses, ou até quinzenalmente (sobretudo quando têm emprego ou negócios simultaneamente em Portugal e nalgum outro país comunitário). Os irresponsáveis e incompetentes políticos agarrados à mama orçamental habituaram-se às borlas e mordomias da TAP, e como qualquer viciado em heroína, custa-lhes a deixar os maus hábitos  pagos pela nossa austeridade!
  • Finalmente o aeroporto da Portela, que tem ainda margem para crescer fisicamente (nova taxiway, afastamento dos militares do aeroporto fantasma de Figo Maduro, desalojamento de alguns serviços e empresas do perímetro mais próximo da zona operacional das pistas, etc.) precisa de importantes e urgentes obras de saneamento básico. Tudo junto: uns 100 a 200 milhões de euros de investimento útil, para prolongar a vida de um dos mais seguros, pontuais e convenientes aeroportos do mundo. Como se vê, a construção civil ainda tem muito que fazer em Portugal. Só não queremos que continue a roubar à descarada e a enterrar o país, em vez de o construir!

Como privatizar a TAP?

Não há soluções fáceis para fazer o que tem que ser feito. A pior das soluções seria encanar a perna à rã, com sucessivos planos de mitigação dos problemas e reestruturações fictícias, com os vários grupos de pressão à bulha. Por isto mesmo só vejo uma saída produtiva para o impasse da empresa que descapitalizou a Parpública: o encerramento.  Uma nova empresa com os seus principais activos intactos, aviões, pilotos e pessoal de manutenção técnica, deverá então ser criada. Os postos de trabalho redundantes deverão ser extintos, indemnizando-se de acordo com a lei os profissionais afectados. A nova empresa deve então ser colocada no mercado de privatizações, podendo o Estado português deter uma posição minoritária na nova companhia, ao mesmo tempo que desenha uma visão estratégica para a nova empresa (TAP Europa, TAP Atlântica, TAP Oriente), e que impõe contratos de concessão bem desenhados no que se refere aos serviços públicos a que a futura TAP deverá estar vinculada.

Estamos em guerra! É uma guerra contra os níveis incomportáveis do nosso endividamento, mas não deixa de ser uma guerra. E em tempos de guerra, todos temos que admitir medidas de excepção em nome do bem comum. Não vejo como poderão os sindicatos pensar doutro modo.

NOTAS
  1. Ainda sobre esta ofensiva, outra citação:
    Apoios e custos reduzidos atraem concorrência de baixo custo — 23.06.2011, Público.

    “Os incentivos dados pelas entidades públicas às companhias de aviação low cost têm servido de estímulo à entrada destas empresas no mercado nacional. E, agora, com os projectos da ANA para transformar um dos terminais da Portela numa infra-estrutura com custos reduzidos, é provável que o poder que têm aumente. Ryanair e Easyjet já são donas de 23 por cento do tráfego aéreo e continuam a investir em força.”



O que dizia o genial inventor do aeromoscas de Beja, em 2007...

ANEXO

Cronologia de um desastre anunciado
23-06-2011 19:41


Publico um longo email que recebi a propósito do que acima se escreve, pela sua grande oportunidade.

“ — Este email é para ser ter uma ideia geral da situação da TAP que está falida e que terá que ser reestruturada e privatizada por imposição do FMI.

A TAP é uma empresa que já está em dificuldades financeiras há vários anos. O Presidente da empresa, Fernando Pinto paga a uma empresa de comunicação e imagem para dar a falsa ideia que a empresa está em boa situação e que é competitiva. A maioria da imprensa participa nesta farsa.

A situação mais caricata aconteceu há pouco tempo quando apresentaram as contas de 2010 e só revelaram o valor das receitas e ninguém conheceu o valor das despesas. Sempre que o Presidente da TAP aponta o preço dos combustíveis como o grande culpado dos prejuízos não há nenhum jornalista que lhe pergunte se os aviões das outras companhias não têm o mesmo problema.

Vamos aos factos:

Em 2008, quando o petróleo atingiu os 150 dólares a TAP teve perto de 300 milhões de euros de prejuízos

No ano de 2009, surpreendentemente a TAP anunciou que só teve 3 milhões de prejuízos. Não acredito nesta recuperação espectacular.

Em 2010, dizem que só tiveram prejuízos próximos dos 58 milhões de euros quando o Petróleo já está a 130 dólares; tendo em conta o cambio do euro, o custo dos combustíveis está semelhante aos preços de 2008.

O Governo já tentou privatizar a TAP mas ninguém a quer devido ao elevado passivo e por ter milhares de trabalhadores que vão ter que ser despedidos. Por esta razão ninguém a quer.

Quem está a injectar dinheiro na TAP é a Parpública, que está interessados no novo aeroporto de Alcochete. Como ninguém quis comprar a TAP agora fala-se na possibilidade de vender a ANA e a TAP em pacote. Isto é, quem comprar a ANA que tem lucros anuais de 50 milhões de euros, teria a possibilidade de construir o Novo Aeroporto e ficaria com a TAP!

PRECISAM DA TAP PARA JUSTIFICAR ALCOCHETE

No passado, diziam que a Portela estava esgotada devido á falta de slots. Como essa mentira já caiu, agora, a nova argumentação a favor de Alcochete reside no facto, segundo a NAER, de a Portela não servir para aeroporto Hub. Para salvar a TAP, dizem que é necessário o NAL em Alcochete. Isto é falso porque só 9% dos aviões que aterram a Portela são aviões de longo curso. A esmagadora maioria dos aviões da Portela são aviões de médio curso para a U.E.

EFEITO DAS LOW COST NO MERCADO AÉREO NACIONAL

A ANAM, empresa que explora o aeroporto da Madeira, publicou um estudo sobre as consequências da entrada, há 2 anos, da Easyjet na rota Lisboa-Funchal.

O estudo da ANAM revelou as seguintes conclusões:

– A easyJet ganhou 23% de quota de mercado, tendo transportado 195 mil passageiros em 2010, num total de 848 mil pessoas.

- A tarifa média baixou dos 144 euros para 73 euros, ou seja, teve uma quebra de 50%. Em 2010, a easyJet praticou uma tarifa média de 51 euros, enquanto a da TAP e SATA foi de 70 euros.

- A TAP perdeu em dois anos quase 95 mil passageiros, tendo baixado a sua quota de mercado de 78% para 58%, o que correspondeu a 492 mil passageiros. A SATA, em compensação, ganhou 24 mil clientes.

- A taxa de ocupação dos aviões das 3 companhias é: Easyjet 83%, TAP 64% e SATA 71%.

- Em 2007 o Estado pagava 20 milhões à TAP, em compensações, para os passageiros viajarem entre a Madeira e o Continente. Em 2010, pagou 6 milhões.

Em 2008, o tráfego aéreo Lisboa-Funchal era de 763 mil passageiros, transportando a TAP 595 mil, sendo 78% do total, com uma tarifa média de 144 euros, o que correspondeu a 85 680 000 euros de receitas, somando 20 milhões de euros em compensações pagos pelo Estado. Em 2010, a TAP transportou 492 mil passageiros a um preço médio de 70 euros, o que representou 34 440 000 euros de receitas, mais 6 milhões de euros em compensações. Ou seja, a perda de receitas para a TAP, de 2008 para 2010, terá atingido um valor próximo dos 65 milhões de euros.

Conclui-se, assim, que a entrada das Low Cost nesta rota provocou uma forte quebra na tarifa média e uma perda de dezenas de milhões de euros para a TAP.

LOW COST NO PORTO

Em Fevereiro de 2010, as Low Cost já possuíam 58% do tráfego total com a Ryanair em primeiro lugar, com perto de 150 mil passageiros e a TAP com pouco mais de 103 mil. Com uma base só com 5 aeronaves, a Ryanair tem uma média de 138 passageiros por avião, enquanto na TAP tem 59 pessoas por avião.

No Aeroporto do Algarve, que é a principal região turística de Portugal, já só possui 3 voos e a empresa Grounforce teve que despedir 330 trabalhadores. Em Faro, as Low Cost têm 86% do mercado. No Porto, as Low Cost, passaram de 11% há poucos anos para 58% do mercado, em Fevereiro de 2010, o que obviamente também provocou fortes quebras nos preços dos bilhetes e redução nas receitas da TAP.

LOW COST NO TERMINAL 2 DA PORTELA

Foi anunciado, recentemente, que o pequeno Terminal 2 passaria a ser utilizado para as Low Cost e que a Ryanair e Easyjet poderiam ali fazer a sua base com um pequeno número de aviões. Convém recordar que os aviões das Low Cost nunca estão no aeroporto, porque estão sempre a voar para efectuar receita. Ou seja, o Terminal 1 que irá possuir 20 mangas passaria a ser utilizado como HUB pela TAP e outras companhias aéreas de bandeira e o Terminal 2 seria só para as Low Cost.

As consequências vão ser as mesmas do que se passou em Faro, no Porto ou no Funchal. O que provavelmente vai acontecer é que o Terminal 1 vai começar a esvaziar e o Terminal 2 vai ficar com muito mais passageiros. Muitos aviões da TAP ficarão parados por falta de passageiros.

A criação de bases na Portela da Ryanair e Easyjet vai provocar uma nova quebra das tarifas nos destinos para a U.E. e forte perda nas receitas da TAP.

TAP DIMINUIRÁ COMO A ALITALIA?

A Alitalia, quando chegou a uma situação em que o prejuízo atingia 1 milhão de euros por dia, teve que ser reestruturada, também devido à concorrência das Low Cost. A companhia italiana foi obrigada a eliminar as rotas não rentáveis e a reduzir os custos, de modo a permitir uma diminuição nos prejuízos.

O que aconteceu com a Alitalia, também poderá ocorrer com a TAP, sobretudo nas rotas Portugal-países da União Europeia (UE). Para se ter uma ideia da diferença de produtividade, basta dizer que a TAP transporta 684 passageiros por cada um dos seus trabalhadores, enquanto a Ryanair transporta 10.050 e a Easyjet, 6300.

A TAP, após ter adquirido a Portugália por 140 milhões de Euros, vai ter ainda que pagar elevadas indemnizações aos trabalhadores já despedidos.

O que ocorreu com a Alitalia é a imagem do que poderá vir a acontecer no resto da UE, pois é muito provável que o mercado seja dominado pelas Low Cost e o que está a verificar-se na rota Lisboa-Funchal é um exemplo real de como a TAP não pode competir com o modelo de gestão das companhias de baixo custo.

CONCLUSÃO

A TAP não pode competir com as Low Cost no mercado europeu.

O Novo Governo vai ter que reestruturar a TAP e privatizar a empresa por imposição do FMI. Infelizmente, milhares de trabalhadores vão para o desemprego. As únicas pessoas que ficam na empresa, serão os pilotos e pessoal de manutenção. Boa parte do pessoal de terra irá para o desemprego.

No handling, após as 330 pessoas despedidas em Faro, o mesmo se poderá passar no Porto e Funchal devido à concorrência das Low Cost que trabalham com a Portway. A Tap trabalha com a Groundforce.

A TAP vai ter que abandonar as rotas que não são rentáveis. A rota mais lucrativa é Lisboa-Luanda. As rotas para o Brasil e África são lucrativas. Na U.E., o problema é a concorrência das Low Cost que fizeram cair os preços dos bilhetes para valores muito baixos.

Se fizerem um novo aeroporto em Alcochete arriscam-se a cair numa situação caricata: ter um novo aeroporto sem a empresa de bandeira, pois entretanto a TAP faliu. Ou seja, algo parecido como o aeroporto de Beja. Alcochete seria assim uma Beja em ponto gigante” — R.