sábado, agosto 29, 2015

Política americana


Claro que não posso enviar dinheiro para o Obama. Mas não deixa de ser divertido ver como funciona a propaganda naquele país. Pelo menos é sexy ;)

sexta-feira, agosto 28, 2015

A disfunção da esquerda burocrática

Bezerro nascido em dezembro de 2009 em Rhode Island, nos EUA, com a marca de uma cruz branca na cabeça.
(Foto: AP)

A esquerda portuguesa não percebeu duas coisas essenciais: que entre nós predominam as classes médias (mesmo quando são muito pobres), e que a sua peculiar religiosidade sempre desconfiou e desconfia do poder


O governo provisório que dirigirá a Grécia até às próximas eleições é hoje empossado em Atenas.

O executivo vai ser liderado pela presidente do Supremo Tribunal da Grécia, Vassiliki Thanou, 65 anos, a primeira mulher a assumir a chefia de um governo no país.

[...]

O primeiro-ministro cessante, Alexis Tsipras, demitiu-se na semana passada depois de uma cisão no grupo parlamentar do Syriza a propósito do novo programa de resgate à Grécia.

Em declarações à imprensa na quarta-feira, Tsipras afastou a possibilidade de formar uma coligação, seja com a Nova Democracia (conservador), o Pasok (socialista) ou o To Potami (centro-esquerda), caso não vença as eleições com uma maioria clara.

in Diário Digital, 28/8/2015


Em democracia, a esquerda radical —e o PS falso e hipócrita de António Costa, mais os seus 'desmiolados' sábios economistas— não sabe, nem governar, nem segurar o poder quando episodicamente o agarra em eleições livres.

Aprenderam que a coisa só se pode fazer com a famosa ditadura do proletariado.

Esquecem-se, infelizmente para eles, que o proletariado morreu. Os trabalhadores de hoje já não podem alimentar as proles, e como tal, a sua base familiar revolucionária esfumou-se. Ou seja, os pressupostos da revolução social descolaram-se para outros paradigmas, que a esquerda burocrática em geral não consegue, nem quer ver.

Não podemos, porém, confundir esta esquerda burocrática, dominante, embora cada vez mais pulverizada, com os intelectuais livres que continuam a promover o ideal de uma sociedade socialmente justa, baseada na liberdade, na igualdade e na solidariedade, mas onde o poder deverá ser cada vez mais simétrico, e cada menos menos assimétrico. Ou seja, uma Irmandade Global (1).

Sinal dos tempos na Grécia: 
"O executivo vai ser liderado pela presidente do Supremo Tribunal da Grécia, Vassiliki Thanou, 65 anos, a primeira mulher a assumir a chefia de um governo no país."

NOTAS
  1. Acabei de ler esta madrugada o essencial de uma tese de doutoramento fascinante, da autoria de Antonieta Costa (ISCTE, 1998) sobre esse fóssil vivo que são as irmandades do Espírito Santo nos Açores, em particular na Ilha Terceira. Cheguei a este maravilhoso estudo sociológico e político através do meu amigo Ricardo Mealha, que mo recomendou sabendo das minhas deambulações em volta da metamorfose social em curso, e das aporias político-burocráticas que continuam a dificultar a emergência de um pensamento renovado sobre a anarquia e a absoluta necessidade de criarmos uma sociedade global alicerçada num labirinto geográfico e mental de redes sociais radicalmente democráticas, que dispensem a hierarquia subordinante, a sujeição, a exploração e a especulação oportunista, e, pelo contrário, cresçam a partir do equilíbrio entre a tradição e a criatividade. Voltarei a este estudo, pois desde que li A Via das Máscaras, de Claude Lévi-Strauss, que não sofria um tão estimulante sobressalto filosófico. Deixo este link para os relatos extraordinários em volta do Bezerro do Espírito Santo.

quinta-feira, agosto 27, 2015

O Sr. Peanuts e a tragédia africana

António Guterres esteve reunido com o ministro francês do Interior.
Foto: Martial Trezzini/Epa, in RR

Coração a mais, ou campanha pessoal?


Qual é a população de África, hoje? Mais de 1.100 milhões de pessoas (1). Se 1% fugir para Europa estamos a falar de uma integração na ordem dos 11 milhões de pessoas—certo? Se foram 10% de refugiados, encantados pela sereia irresponsável de António Guterres, serão mais de 110 milhões. 20% serão 220 milhões. É impensável? Mas é esta a ordem de grandeza da emigração portuguesa: 20%. E nem todos são de luxo!

A OCDE prevê que a Europa e os Estados Unidos irão absorver 50 milhões de migrantes cada até 2060...

Guterres será muito católico, e será muito socialista, mas não deixa de ser um perigoso distraído.

A solução não passa por abrir as portas à emigração indiscriminada, e muito menos por abrir as portas, como já se fez, ao radicalismo desesperado. Mas sim, por uma ação da ONU e do G20 no sentido de eliminar as criminosas cleptocracias que, com a ajuda dos Estados Unidos, Europa, e até a China, vêm abrindo as portas à subjugação do Médio Oriente e à nova colonização do continente africano, sob a forma de uma manta sangrenta de estados falhados artificialmente induzidos e alimentados pelas grandes potências.

Para Guterres, tudo são 'peanuts'. Era assim que pensava quando se preparava para ser primeiro ministro de Portugal. É assim agora, que quer subir a SG da ONU. A beatitude não chega, é preciso ter os neurónios no sítio.

Uma vez mais a esquerda desmiolada faz o jogo do pior que temos na humanidade :(

Guterres. Refugiados “têm direito a uma Europa mais calorosa” 
Desde o início do ano, tentaram chegar à Europa 293 mil migrantes e refugiados. Mais de 2.400 morreram pelo caminho. Os números são do ACNUR.
RR, 27-08-2015 8:31

É urgente. O alto comissário das Nações Unidas para os refugiados pede a criação imediata de centros de acolhimento e de triagem na União Europeia para dar resposta ao fluxo de migrantes e refugiados.

“Se tivermos em conta todos os dramas humanos, vamos perceber que é preciso agir depressa e com eficácia”, afirmou António Guterres na noite de quarta-feira, em Genebra.

O alto comissário reuniu-se com o ministro francês do Interior, Bernard Cazeneuve, e falou no fim do encontro, pela primeira vez, sobre a drama dos refugiados.

“Se pensarmos que, por exemplo, hoje, no Líbano, refugiados sírios e palestinianos são um terço da população, é evidente que a Europa tem dimensão e capacidade de responder ao desafio, para o qual se deve unir e assumir conjuntamente a responsabilidade”, defendeu.

NOTAS

  1. A população em África: 1.186 milhões em 2014 >> 1.679 milhões em 2030 >>> 2.478 milhões em 2050 (United Nations, World Population Prospects; The 2015 Revision) 


Atualização: 29/02/2016 12:36 WET

domingo, agosto 23, 2015

Moscas pagas a peso d'ouro


Precisamos de reverter o buraco negro das PPP


As Parcerias Público Privadas (PPP) foram, à época, um estratagema financeiro engendrado pelo Bloco Central da Corrupção como meio de financiar obras públicas sem aparentemente carregar no défice público.

Este estratagema, que viria a envolver sucessivos governos, bancos, construtoras e os rendeiros do regime, aplicou-se à construção de autoestradas, barragens, hospitais, sistemas de saneamento e de captação, tratamento e distribuição de águas, e ainda estações de tratamento de lixos.

Ou seja, quando as receitas fiscais e a despesa do estado já aconselhavam maior prudência e responsabilidade no lançamento de obras públicas, a nomenclatura partidária e os cleptocratas do regime resolveram apostar numa fuga em frente, em nome do crescimento, da criação de emprego e — claro, mas não dito— do enriquecimento ilícito de rendeiros, devoristas, partidos e governantes de um país que pouco depois sucumbiria à sua terceira bancarrota desde 1974 (cortesia invariavelmente cor-de-rosa), e cujo resgate implicou uma transferência sem precedentes de ativos preciosos do país, embora a saque, para os credores. Acrescendo a isto, o inevitável cortejo de desemprego, empobrecimento e emigração, de que se salvou, também invariavelmente, a nomenclatura partidária.

Posso imaginar que os piratas financeiros alemães e americanos tenham apostado nesta armadilha.

O que não posso aceitar, nem deixar passar em claro, é a cumplicidade dos piratas indígenas neste saque programado do país. É que, ao contrário do que a maioria dos portugueses —sempre embasbacados diante do futebol, das telenovelas e dos concurso desmiolados da TV— imaginam, ou nem sequer imaginam, a maioria das faturas das PPP estão por pagar e serão um verdadeiro flagelo ao longo das próximas duas, três ou mais décadas.

Estamos, porém, a tempo de reverter este assalto aos bens, às poupanças e ao emprego dos portugueses. Mas para isso é preciso correr com a cleptocracia que tomou de assalto o país, mudando de alto a baixo a composição do parlamento. Mais do mesmo, não!

Vale a pena, a este propósito, ler o elucidativo email dirigido pelo Professor Jorge Paulino Pereira, do IST, a Clara Teixeira, a propósito dum importante artigo publicado pela Visão do passado dia 6 de agosto.

Cara Clara Teixeira

1. Como lhe tinha dito, parti para fora de Portugal na 5ª feira de manhã (dia em que saiu o artigo da Visão sobre as Auto-estradas desertas). Apenas cheguei anteontem à noite, e só ontem consegui ler a sua peça na íntegra. Entretanto, soube que esta notícia teve algum impacto em certos sectores, tendo em conta os ecos que me chegaram de vários conhecidos e amigos de vários quadrantes políticos.

2. Antes de mais quero-lhe testemunhar o meu apreço pelo facto de ter utilizado os nossos dados e pela feliz escolha das figuras que deram uma ideia muito clara dos tráfegos existentes (e muito baixos). Também a forma como conseguiu condensar a informação que tivemos ocasião de discutir, me pareceu um trabalho interessante.

3. Contudo, no texto, julgo que se deveria ter separado a análise relativa às auto-estradas do Sul de Portugal, daquilo que falámos sobre as SCUT's (estradas Sem CUstos para o UTilizador) porque se trata de duas situações diferentes. Ao não se fazer essa separação, o leitor poderá ter ficado com uma ideia distorcida do que foi a nossa conversa e do que eu disse e penso.

4. Recapitulando o meu pensar. A BRISA foi durante muitos anos a única concessionária de auto-estradas em Portugal tendo sido constituída no Governo de Marcelo Caetano, ainda antes do 25 de Abril. Tinha uma instituição financeira portuguesa subjacente (o BIC de Jorge de Brito). Nesses tempos, a Junta Autónoma das Estradas (JAE), brilhantemente reestruturada por Duarte Pacheco, Ministro de Salazar na distante década de 40, era o motor do desenvolvimento rodoviário nacional e assim permaneceu durante largas dezenas de anos.

No Governo de Cavaco Silva, foi a JAE que permitiu "abrilhantar" a imagem desse período porque era das poucas instituições que fazia um planeamento de curto, médio e longo prazo, tendo uma estratégia nacional com projectos preparados para diferentes estádios (ao nível de estudo prévio e de projecto de execução). E como veio o dinheiro da União Europeu e os outros ministérios que tinham a seu cargo outros sectores económicos e institucionais do País não tinham nada preparado, o Ministro das Obras Públicas de então, sacava de um dos projectos que estavam na gaveta da JAE, e ele era feito para não se perderem as verbas que a Europa punha à nossa disposição.

No Governo de Guterres (quando João Cravinho era Ministro) foi definida uma política rodoviária diferente. A antiga Junta Autónoma das Estradas (JAE) foi considerada como "corrupta" e até como "incompetente" para levar por diante o Programa Rodoviário Nacional (PRN), que incluía a construção de muitos Itinerários Principais (IP) e de Itinerários Complementares (IC). Paralelamente, a BRISA foi vista como pouco vocacionada para fazer esse mesmo programa e, além disso, queriam-se criar concorrentes a esse monopólio de auto-estradas. Por isso, nesse Governo, a JAE foi "destruída" e criaram-se novos concessionários para fazer concorrência à BRISA, por meio das famosas PPP (Parcerias Público Privadas).

A estratégia então defendida consistia no seguinte: partia-se do princípio que bastava fazer uma estrada para qualquer região, para a poder desenvolver. Logo a seguir à abertura da estrada, apareciam mais empresas na zona servida; e elas geravam mais emprego e maior crescimento do PIB local. E, como corolário desta "brilhante teoria", a estrada era paga pelo próprio crescimento económico gerado ao nível regional e local. Como exemplos, eram utilizados os desenvolvimentos verificados noutros países europeus por via da construção de estradas.

Para demonstrar que se tratava de um estratégia excepcional e bem sucedida, o Governo entendia que não haveria portagens. Eram as tais estradas Sem CUstos para o UTilizador (em alternativa às estradas com portagem). Elas seriam a chave do desenvolvimento do interior de Portugal. Como é sabido, as portagens devem existir quando se põem, à disposição do público, trechos alternativos em auto-estrada, mais rápidos e mais directos, ou qualquer ponte ou túnel de certa dimensão que permita encurtar traçados.

Para além disso, com as PPP rodoviárias, o Estado não pagava nada (ou quase nada) durante a construção e os primeiros anos, e só depois começava a pagar os investimentos efectuados quando a região se começasse a estruturar e a desenvolver. A "nova ideia" parecia ter uma justificação logística técnica e uma envolvente política inovadora. A História recente já mostrou que ela se revelou completamente desapropriada e irrealista, com resultados desastrosos para o País e para as gerações vindouras que vão ter de pagar infra-estruturas rodoviárias que estão “às moscas”...

Logo esta estratégia utópica, apresentada pelos governantes, foi secundada pelos habituais seguidores (e servidores do poder), existentes no meio académico, que são sempre benvidos para assegurar as necessárias "bases e fundamentos teóricos" que tornam essas estratégias mais bem aceites pelo público em geral (que são afinal os votantes).

Diga-se que as Parcerias Público Privadas (PPP), por si sós, não são um mal. Considera-se que as PPP podem ser úteis para despoletar e fazer funcionar alguns projectos de alguma dimensão. Sobretudo naqueles onde há risco envolvido e o Estado receia que os objectivos e receitas a atingir possam não ser assegurados em tempo útil. Deste modo, o risco associado passa a ser do privado e, paralelamente, o Estado irá pagar uma contribuição mais elevada para motivar o privado. Ou seja, uma obra feita por meio de uma PPP sai sempre mais cara do que se tivesse sido feita directamente pelo Estado (pelas entidades do Estado). E isso tem lógica, como se procurou mostrar. Contudo, o uso generalizado de PPP para fazer obras é penalizante para o País, porque o Estado deixa de ter condições de financiamento mais favoráveis junto da Banca e das instituições mutuárias e financeiras internacionais. Ora, no caso de Portugal, as PPP rodoviárias não envolviam quaisquer riscos para os privados, pelo que se tratou apenas de uma política de transferir para terceiros o papel do Estado que passou obviamente a pagar muito mais pelas obras que deveria fazer.

Os grandes construtores nacionais perceberam a estratégia e posicionaram-se de forma adequada. Estas empresas (principais financiadores dos partidos)  são grandes empregadoras de mão-de-obra, geram um efeito multiplicador junto de subempreiteiros e no local onde se fazem os trabalhos, e possuem elevados volume de negócios. Contudo, não têm capacidade financeira para efectuar esses investimentos relacionados com as PPP e estão sempre dependentes da Banca. Por isso, quando se deu início à política das PPP, a Banca Portuguesa surgiu à tona e, nomeadamente, o papel do Banco Espírito Santo tornou-se hegemónico. Pela sua forma de actuar, pela sua hábil capacidade de gerar uma teia de contactos políticos, económicos e financeiros, controlando, na prática, as lideranças dos partidos do Arco da Governação (PS e PSD) mas também de alguns dos sectores influentes dos outros partidos menores, pela sua inteligente estratégia de se apoiar em grupos económicos e em pequenos bancos emergentes, pela forma como decapitou o seu rival directo (o BCP actual Millenium), o chefe do BES, Ricardo Salgado, rapidamente se assumiu como o verdadeiro Primo-Ministro Económico de Portugal. E daí que ele se tenha de facto tornado no líder económico e financeiro de Portugal nas últimas décadas, imprimindo a sua estratégia na maioria dos grandes projectos nacionais.

Por meio destas PPP, os grandes construtores portugueses e a Banca portuguesa auto-financiaram-se com base no dinheiro que provinha do próprio Estado. Ora, como a Banca Portuguesa também não tem dinheiro, teve de recorrer à Banca Internacional para se prover de fundos para fazer as obras, e esta exigia o aval ou garantia do Estado Português para estas várias operações financeiras. Deste modo, o Estado português foi-se endividando sistemática e progressivamente, tal como um empresário medíocre e incompetente, que não sabe gerir o seu negócio empresarial, o vê afundar-se também de modo progressivo e sistemático.

Os Bancos internacionais mais importantes, a que a Banca portuguesa recorreu, estavam localizados nos países europeus mais industrializados e que controlam a União Europeia e o Euro, nomeadamente na Alemanha e na França.  Por isso, esses Governos que dominam a Europa passaram a promover uma mera política de "colonialismo financeiro", tratando os países que pediam os tais "empréstimos bancários" como seus reles servidores. E tal como qualquer agiota, a sua estratégia política consistiu em defender arduamente os partidos e os governos desses países dependentes que ajudassem a promover esse mesmo colonialismo. Aliás, este "dinheiro emprestado" passou a representar uma das principais fontes de rendimento desses novos países colonizadores do Sul da Europa... Em abono da verdade, deve referir-se que muitos dos bancos envolvidos estão associados no chamado EuroGrupo (uma cabeça que domina a Europa e que só é controlada pelo poder financeiro e que funciona como uma hidra de numerosos contactos financeiros internacionais).

A estratégia de construção das SCUT's também tinha outros inconvenientes. Por um lado, não permitia efectuar um faseamento das estradas, porque cada troço tinha de ser feito todo de uma só vez para o ano horizonte. Deste modo, não podia ser feita uma estrada por fases (primeiro, com menos vias; e depois com maior número de vias) para ter em conta o crescimento do tráfego. Também a estrada tinha de ter o aspecto final quer em termos de equipamentos de controlo e segurança, quer doutros. Para além disso, como eram os construtores que estavam envolvidos como patrões e eles queriam reduzir custos, a própria qualidade do projecto foi afectada para optimizar os investimentos do ponto de vista do empreiteiro (redução do comprimento de viadutos sobre baixas aluvionares, minimização dos gastos com a pavimentação, etc).

Também o papel das empresas que fizeram projecções de tráfego merece ser criticado desfavoravelmente. Para justificar os investimentos, os tráfegos foram empolados, tendo-se verificado que actualmente e na realidade, eles estão completamente afastados do que foi antecipado (estão muito abaixo das suas previsões optimistas).

Entretanto, colocaram-se sistemas de pagamento do tipo portagem, o que se deveria ter feito desde o início. Mas o sistema utilizado, recorrendo a pórticos, novamente penaliza o utente, ou seja, penaliza essencialmente os Portugueses. Não foi instalado um sistema de pagamento com as portagens convencionais (com ou sem portageiro). De facto, em cada trecho definido pelos pórticos, não se sabe o que se paga nem porque se paga.

Em vários países da Europa (por ex. na Áustria, na República Checa, na Eslováquia, na Eslovénia, etc), é obrigatório pagar uma vinheta sazonal (10 dias, mensal, anual) para andar pela rede de auto-estradas e não se pagam portagens localizadas. Ali, têm pórticos iguais aos das nossas SCUT’s para detecção dos veículos que estão em infracção (sobretudo os pesados). Nesses países, em algumas auto-estradas ou túneis ou pontes, construídas no âmbito de PPP, continua a haver adicionalmente portagens localizadas nos inícios e nos finais dos vários lanços.

Em Portugal, de forma abusiva, apenas se colocaram pórticos. E estes têm apenas lógica para quem tem uma vinheta (a Via Verde da Brisa) e não para o condutor que pontualmente circula pelo trecho de auto-estrada.

Como seria de esperar a introdução de sistemas de pagamento provocou uma quebra de tráfego nas auto-estradas do tipo SCUT porque a alternativa existente, apesar de pior, é gratuita. Por isso, a realidade que se observa actualmente em muitas SCUT’s é desoladora, com tráfegos diminutos a muito diminutos. E este panorama até é bem pior do que o que está retratado nos mapas que foram apresentados para algumas das auto-estradas do Sul de Portugal e da região de Lisboa.

E agora o que se deve fazer?

Se se tratasse de uma empresa privada que não gera receitas para cobrir as despesas e os encargos dos empréstimos, a solução seria fácil. Bastava fechá-las, despedir as pessoas que iriam para o Fundo de Desemprego e vender equipamentos e bens para tentar fazer dinheiro para pagar aos principais credores. A falência de qualquer empresa acarreta sempre inevitavelmente este tipo de procedimentos.

No caso das auto-estradas do tipo SCUT, as empresas (ou seja, os consórcios construtores e financeiros) também estão falidas porque as receitas geradas pelos tráfegos são, em, muitos casos, irrisórias. Deveriam pois ser tratadas do mesmo modo. Ou seja, se uma auto-estrada não tem tráfego, então deveria ser fechada por ter entrado em falência a empresa concessionária. Os gastos com dívidas ficariam para os construtores e para as instituições financeiras que os apoiaram e o resto da população nada teria a ver com isso. De facto, seria fácil, se fossem só consórcios privados (só construtores e financeiros). Que ficassem com o seu investimento ruinoso! Depois haveria uma eventual renegociação para que o Estado ficasse com a infra-estrutura a “bom preço” (preço da chuva) pondo-a ao serviço da população, mas sem suportar os gastos associados com uma estratégia de planeamento incorrecta e demasiado optimista, feita pelo privado.

Agora, no caso das PPP não é possível esta estratégia porque o Estado é um dos envolvidos. Que fazer? Neste caso, dever-se-ia proceder do mesmo modo que no caso dos privados. A auto-estrada fechava (ficava para os construtores e os financeiros). Mas a política do Estado é que deveria ser outra. As entidades portuguesas deveriam ir junto das entidades financeiras internacionais que emprestaram o dinheiro, comunicando que elas, apesar de estrangeiras, eram co-responsáveis pelo investimento e tinham integrado um processo estranho (para não dizer fraudulento) para sacar dinheiro ao Estado Português. Nestes casos, as dívidas que existiam porque o Estado deu o seu aval, deveriam ser renegociadas. Obviamente que alguns políticos e empresários também teriam de ser penalizados e criminalizados à luz da Lei (existente ou a criar) para credibilizar a reclamação do Estado Português.

Esta política de renegociação das dívidas das PPP deveria ser efectuada não apenas relativamente às PPP rodoviárias, mas em relação a todas as PPP que existem onde o Estado deu a face e o Povo Português está a ser penalizado (e irá ser penalizado) por várias gerações. No caso das PPP rodoviárias até existem alternativas (quem não quiser não vai por aquela auto-estrada). Mas que dizer do escândalo das PPP ao nível da Energia e das rendas que se pagam às empresas distribuidoras e fornecedoras de Electricidade onde de facto não há alternativas? Ou do que já se avizinha em termos de política de Águas e Esgotos, etc?

A opinião que transmiti é a de um técnico e não a de um político. E eu sei que este olhar de técnico é sempre visto com alguma desconfiança pelo poder político que receia qualquer opinião ou pergunta incómoda que possa fazer levantar dúvidas ao nível do seu rebanho de eleitores ou que ajude a promover os seus rivais.



Cara Clara Teixeira

Que fique claro que não estou à espera que faça uma qualquer adenda à sua excelente peça, em qualquer outro número da revista Visão. Nem lhe peço que publique este meu complemento como qualquer artigo de opinião. Mas assim fica claro o meu ponto de vista, também para si.

Tentei reencaminhar este e-mail para o João Garcia, mas desconheço se o e-mail dele está certo. Por favor, faça-lhe chegar uma cópia.

Por último, irei enviar cópia desta minha opinião a alguns amigos e conhecidos que ficaram um pouco confusos com o texto ou com a forma como lhes pareceu estar apresentado o modo como eu penso.

Melhores cumprimentos e Parabens

Jorge Paulino Pereira

sábado, agosto 22, 2015

Cacafonia eleitoral

Frente da manifestação de 15 de setembro de 2012 em Portimão
 Foto: Virgílio Rodrigues/Algarvephotopress/Global Imagens, in JN [editada]

Vendilhões sem vergonha esgadanham-se por tachos orçamentais


A oposição acusa a coligação Portugal à Frente de querer ter o dobro do tempo nos debates televisivos. É a resposta à decisão de Pedro Passos Coelho de não participar no debate de 22 de setembro, por causa da ausência de Paulo Portas. - See more at: http://www.rtp.pt/noticias/politica/oposicao-acusa-coligacao-de-querer-peso-a-mais-em-debates_v853099#sthash.l4FbslhX.dpuf

in RTP, 22/8/2015

O CDS já se dissolveu no PSD? Não. Os Verdes já se dissolveram no PCP? Não. O PSR, a UDP e alguns trânsfugas do PCP dissolveram-se no Bloco de Esquerda? Sim. Então de onde vem a ideia peregrina de excluir o CDS e os Verdes de um debate onde estariam todos os partidos parlamentares que são simultaneamente candidatos às próximas Legislativas?

Esta democracia está em adiantado estado de decomposição mental.

Os pequenos partidos emergentes devem tirar partido de mais esta manifestação da decadência partidária que tomou conta do regime e o afundou, não para reclamar mais uma cadeira na cacafonia eleitoral que se anuncia, mas exigindo espaço mediático autónomo, como novos partidos que são, nada tendo que ver com o MRPP e outras relíquias do passado.

quarta-feira, agosto 19, 2015

Marcelo vê presidenciais a voar


Balbúrdia no laranjal de Belém


Marcelo avisa sociais-democratas que não podem abrir brechas nas presidenciais
Antigo líder do PSD adverte que será "um problema se começa a haver o grupo A, o grupo B, o grupo C, o grupo D…”
Jornal de Negócios, Margarida Gomes, 19/08/2015 - 07:28

Ao PÚBLICO, o professor e comentador político insiste na tónica das divisões no principal partido da coligação – “é um problema se começa a haver o grupo A, o grupo B, o grupo C, o grupo D…” – e explica que “só evitando divisões internas é que o PSD consegue juntar na campanha todas as figura do partido”.

A cerca de meio ano das eleições para a Presidência da República, Marcelo não abre ainda o jogo sobre se vai entrar na corrida, mas fala de dificuldades para os candidatos do centro-direita. “Se continuarem a surgir mais candidaturas à esquerda começa a ser mais difícil competir para qualquer candidato do centro-direita”, refere, fazendo as contas às candidaturas que já andam no terreno e àquelas que se avizinham.

À 'esquerda', mas com grande projeção no eleitorado do centro e conservador, já temos candidata: Maria de Belém.

No laranjal do PSD-CDS a confusão tenderá a aumentar. Entre o intriguista-mor do reino (Marcelo) e a caricatura serôdia de Cavaco (Rui Rio) as opções presidenciais da direita apodrecem a olhos vistos.

Por sua vez, a proliferação de candidatos orientados para o centro e o centro-esquerda —Henrique Neto, Sampaio da Nóvoa, Maria de Belém, Paulo Morais e o candidato do PCP (será que Marinho e Pinto também irá a votos para Belém?)— vai, como bem teme Marcelo, retirar dezenas de milhar de votos ao candidato finalmente apoiado pelo PSD e CDS-PP.

E se assim for, à segunda volta, a convergência ao centro-esquerda, sobretudo se a coligação ganhar as Legislativas, estará garantida.

Quem não gosta de ouvir o professor Marcelo? Cada macaco no seu galho, como reza o provérbio!

segunda-feira, agosto 17, 2015

Maria de Belém, em Belém

Maria de Belém Roseira, provável sucessora de Cavaco Silva

Maria de Belém decidiu no momento certo


Sampaio da Nóvoa, uma nódoa fora do baralho, desapareceu antes de entranhar-se, como previ.

Prevejo agora que a 'irmã' Maria de Belém Roseira será a próxima inquilina de Belém. Uma compensação, em termos de equilíbrios institucionais, para a previsível derrota de António Costa nas Legislativas de 4 de outubro.

Maria de Belém terá o apoio da hierarquia religiosa —é presidente da Mesa da União das Misericórdias Portuguesas—, do PS de Costa e de Seguro, e ainda, na segunda volta, claro, do Bloco, do PCP, do Livre e do Nós.

Se houver uma renovação da atual maioria parlamentar —isto é um novo governo liderado por Pedro Passos Coelho, apoiado por uma maioria PSD-CDS/PP-???—, Marcelo, Rio e outros putativos candidatos do centro-direita irão à vida.

É tempo de termos uma mulher na chefia do estado.

Lamento a reação intempestiva de Henrique Neto a esta notícia, dada a conhecer hoje pelo jornal i.

domingo, agosto 16, 2015

Uma surpresa chamada Nós, cidadãos!

Símbolo do partido Nós, Cidadãos!

O que diz a mais recente micro-sondagem do António Maria


  • PSD-CDS: 39,2% [34,8%*] [38%**]
  • PS: 3,1% [36,3%*] [37%**]
  • PCP-PEV: 6,1% [10,0%*] [10%**]
  • BE: 7,7% [5,0%*] [8%**]
  • NÓS, Cidadãos!: 32,3%
  • PDR: 0,8% [2,3%*] 
  • Livre: 5,4% [1,7%*] 
  • Outros: 5,4% [9,9%*] [3%**]
  • Abstenções: 10% 
  • Total de respostas obtidas: 145
  • Total de intenções de voto em partidos: 130 
*—resultados do Barómetro Eurosondagem Agosto 2015
**—resultados da sondagem da Universidade Católica para o DN, 19/06/2015

Uma sondagem propriamente dita obedece a regras extraídas da experiência e sobretudo de uma conjugação metódica de indicadores acumulados ao longo de sucessivos eventos similares ao que se pretende sondar. Desde logo é preciso identificar, classificar, segmentar e quantificar adequadamente as amostras a colher, para assim garantir uma razoável representatividade e fiabilidade das informações colhidas durante a sondagem. É igualmente necessário definir a maneira de chegar aos campos de sondagem de molde a não danificar ou diminuir a qualidade dos resultados (por exemplo, se faço sondagens de opinião usando exclusivamente o telefone fixo corro sérios riscos de obter maus resultados, pois a maioria das pessoas utiliza hoje telefones móveis). Finalmente, precisamos de boas fórmulas de compilação da informação e dedução de resultados.

Nada disto foi tido em conta na micro-sondagem deste blogue. O seu valor é, pois, meramente heurístico, e representa, em primeiro lugar, o universo de leitores deste blogue entre 8 e 14 de agosto de 2015.

O nosso inquérito sobre as próximas eleições legislativas é claro, embora pudesse incluir, e não incluiu, todos os partidos concorrentes. Mas a amostra considerada (145 respostas) é, por um lado, circunscrita aos leitores eventuais deste blogue e das página que O António Maria publica regularmente no Facebook e no Twitter e, por outro, aleatória, pois não considera a representatividade própria dos círculos eleitorais na organização das amostras.

Não deixa, no entanto, de ser extraordinária a sobre-representação das intenções de voto no Nós, Cidadãos!, em contraste com a humilhante sub-representação das intenções de voto no PS.

Este 'disparate' estatístico é tanto mais intrigante e sedutor quanto os 'resultados' da coligação PSD-CDS, do PCP e do Bloco estão perfeitamente em linha com o Barómetro Eurosondagem Agosto 2015 sobre o mesmo assunto.

De onde vêm as explosivas intenções de voto no Nós. Cidadãos!?

Vêm do próprio movimento, claro. Mas a quase ausência de intenções de voto no PS também tem algum significado, ou não?

Vai ser lindo comparar esta perlaboração estatística com os resultados de 4 de outubro!


POST SCRIPTUM

Na sondagem da Universidade Católica para o JN publicada em 19 de junho de 2015, o PS continua a cair aos trambolhões, embora não tão catastroficamente como opinam os leitores deste blogue, a coligação continua a recuperar, para um valor muito próximo da nossa sondagem de algibeira, nos dois inquéritos o Bloco sobe significativamente relativamente aos resultados da última Eurosondagem, os comunistas, por sua vez, parecem estabilizados nos 10%, 3,9% acima das respostas dadas ao António Maria. Por fim, os novos partidos continuam invisíveis, mais parecendo uma ocultação do que uma sondagem honesta das intenções de voto do eleitorado.

PSD/CDS-PP: 38%
PS: 37%
PCP-PEV: 10%
BE: 8%
Branco/nulo: 4%
Outros: 3%

Atualizado em 18/8/2015 16:28 WET

domingo, agosto 09, 2015

Tudo na mesma depois de 4 de outubro?


Desta vez vou votar


Resta saber o que determinará o comportamento dos portugueses depois de uma bancarrota ainda suspensa por fios e quatro anos de austeridade, se a indignação pelo castigo, se o medo de que o regresso à corrupção sem freio e ao desvario 'socialista' relance o país na ladeira do colapso.

Há quatro sinais que favorecem a renovação da coligação liderada por Pedro Passos Coelho:
  1. conseguiu travar o descalabro das contas públicas, ainda que à custa de uma enorme austeridade e repressão fiscal, 
  2. conseguiu melhorar substancialmente as contas externas, por via do aumento das exportações e do turismo, das remessas dos emigrantes, da queda do consumo privado e ainda do regresso tímido do investimento, nomeadamente através dos processos de privatização e reprivatização,
  3. conseguiu travar a subida empinada do desemprego, criando algum emprego novo, embora precário e mal pago, e finalmente, 
  4. levou um governo de coligação até ao fim, sinal de que houve estabilidade política apesar da gravidade da situação económica, financeira e social.
Do lado do Partido Socialista, pelo contrário, há vários indicadores que desaconselham os mais prudentes, ainda que com o coração à esquerda, a votar no PS de António Costa:
  1. O PS que quer chegar ao poder a 4 de outubro é a mesma maioria soarista e socratina que conduziu o país a três situações de bancarrota, resgatadas in extremis por três violentos programas de austeridade impostos pelos credores (1977, 1983, 2011);
  2. O PS que quer chegar ao poder prometeu atacar a propriedade privada, nomeadamente através da reintrodução do imposto sucessório, e prometeu, pasme-se, atingir uma taxa de desemprego em 2015 e 2016 superior à que hoje temos (O Insurgente);
  3. O PS que quer chegar ao poder prometeu diminuir as receitas do estado, aumentar as despesas do mesmo estado, estimular o consumo e empurrar com a barriga a diferença (i.e. mais dívidas públicas e privadas) até às gerações futuras—tudo em nome, claro, dos direitos da nomenclatura estabelecida (não mais do que 1% da população), que vê naturalmente com maus olhos qualquer perda de rendimento, mesmo se proveniente de um rol interminável de privilégios;
  4. O PS que quer chegar ao poder sabe que tem escassas hipóteses de o conseguir, pois ou sofrerá uma derrota humilhante nas eleições de 4 de outubro, apesar das sondagens, ou ficará por décimas à frente da coligação, sem possibilidade alguma de formar uma maioria parlamentar estável, empurrando assim o país (e o PS!) para a instabilidade num período que continuará particularmente crítico para a economia, para as finanças, para o emprego e para a solidariedade social.
O PCP, por sua vez, poderá subir a sua votação e até aumentar o número de deputados se, até 4 de outubro, conseguir atrair alguns milhares de eleitores habituados a votar 'à esquerda' e que deixaram de se reconhecer ou estão desiludidos com o populismo radical do Bloco, e a falsa e desastrosa esquerda protagonizada pelo PS. Há quem preveja mesmo uma subida extraordinária deste partido. A previsível substituição de Jerónimo de Sousa por uma geração que mal conheceu Cunhal e não sabe o que foi a Rússia estalinista poderá criar um quadro favorável à substituição do decadente PS, por um partido de esquerda bem organizado, experiente, ancorado em bases sociais amplas e estáveis, firme nos princípios, mas muito mais flexível na linguagem e nas causas, e sobretudo disposto a promover uma plataforma eleitoral democrática aberta capaz de ganhar eleições e governar 'à esquerda'.

A crise sistémica do capitalismo, que decorre estruturalmente dos picos energético e de matérias primas essenciais, vai prolongar-se por mais de uma década, e depois tudo será diferente. A primeira metade do século 21 tem-se revelado como um doloroso período de transição e metamorfose. Cada vez menos decisões dependerão dos partidos políticos, mas os que souberem promover e/ou integrar-se em plataformas de cidadania cognitiva culturalmente abertas sobreviverão, podendo mesmo contribuir para o desenho de uma nova pólis global.

Neste ponto não é de excluir o contributo que um Bloco de Esquerda renovado, sobretudo na lógica de competência argumentativa inaugurada por Mariana Mortágua, poderá dar à inadiável metamorfose do nosso esgotado sistema partidário. O Bloco poderá servir de ponte entre a desagregação do PS e o reforço do PCP, lançando ideias e iniciativas inteligentes com vista a uma reorganização da esquerda que sirva quem trabalha, mas sirva também o país no seu conjunto.

Os novos partidos, de que destacamos o Nós-Cidadãos, o Livre e o Partido Democrático Republicanos, poderão ter, ou não, a sorte dos outros grupinhos mais antigos e mais ou menos familiares que não conseguiram até hoje sair das suas cascas narcisistas. Tudo dependerá das suas ideias, do modo como falarem e agirem, do tempo necessário para se darem a conhecer, e da geometria da decomposição partidária que acompanhará a metamorfose do regime. Se conseguirem entusiastas de todas as idades, que nunca votaram ou que estão fartos de passar cheques em branco a partidos que nada fizerem, ou mal fizeram, terão futuro; mas se permanecerem fechados nos seus embriões fundadores, acabarão perdidos no limbo onde vegetam há décadas muitas outras siglas partidárias sem partido.

Precisamos de atacar em conjunto o fenómeno corrosivo da corrupção, precisamos de simplificar o texto constitucional e de lhe dar uma ambição utópica menos marcada pelo credo marxista degenerado que nada provou em parte nenhuma, precisamos de uma democracia mais justa e mais partilhada e participada, mais direta, melhor distribuída, mais compósita, mas também mais económica e eficiente. Este desiderato não deveria dividir a sociedade, e por isso pode e deve ser o eixo da renovação constitucional.

Um parlamento com mais partidos é uma coisa boa, e não uma coisa má. Os que lá estão vão continuar, mas é preciso abater o Bloco Central, que é uma intolerável argamassa de interesses e mordomias moldada por uma endogamia de tipo feudal. A entrada de novos partidos com pragmáticas políticas mais inovadoras, de que o Nós-Cidadãos será porventura o melhor exemplo, ajudará a promover soluções governativas menos atacadas de previsibilidade à nascença. Será bom para o CDS/PP, para PCP e para o Bloco, e será bom para toda a democracia na medida em que der cabo do terceiro-mundista Bloco Central que nos trouxe até à desgraça em que estamos.

Os partidos não são a solução. 

Mas continuamos a precisar deles para promover com prudência a metamorfose para que as sociedades pós-contemporâneas caminham a passo rápido. Vamos a caminho de uma sociedade global pautada por um modelo de crescimento material lento, mas onde poderá produzir-se um novo modelo de crescimento, imaterial e cultural, muito rápido, complexo e surpreendente, onde a humanidade, em vez de desaparecer, poderá inaugurar uma espécie de novo Renascimento, fortemente marcado pelo conhecimento, pelo desenvolvimento integral das emergentes redes sociais, pela solidariedade ecológica, pela exigência civilizacional partilhada, e por novos paradigmas de colaboração competitiva.

Desta vez vou votar, e convido os mais céticos a fazerem o mesmo.

Atualizado em 16/8/2015, 00:57 WET

sábado, agosto 08, 2015

A verdade do emprego num só gráfico

Gráfico da esquerda: A. S. Pereira; gráfico da direita: INE
Clique para ampliar

Não vale a pena tapar o Sol com a peneira do populismo partidário


A guerra eleitoral em curso sobre as estatísticas do emprego e do desemprego é o exemplo típico da demagogia de que padece a maioria dos partidos há quatro décadas sentados na Assembleia da República e em todos os escaninhos da comunicação social enquanto o país foi caindo, uma vez mais, paulatinamente, na fossa: bancarrota, salva in extremis pelos próprios credores, desequilíbrio fatal das contas externas, emigração em massa, colapso do sistema financeiro, balbúrdia no seio da nomenclatura (1% da população)—ou seja, na presidência da república, governos central e regionais, parlamentos, poder local e agremiações corporativas de todas as cores e feitios— em suma, fim de mais um regime, atingido na sua fase final por uma corrupção galopante e sem vergonha.

Haverá saída para isto? Há. Mas é preciso começarmos por eliminar o ruído e o fogo-de-artifício atrás do qual os piratas do regime continuam a esconder-se.

O PS ainda existe?


Uma anedota chamada Partido Socialista


Esta manhã um veterano do Partido Socialista telefonou-me apostando comigo que vai haver uma grande vitória do PS, ou uma grande vitória da coligação PSD-CDS/PP, e que o PCP vai chegar aos 20%, pulverizando o Bloco e obliterando qualquer presença do PDR, do Livre e do Nós-Cidadãos na próxima assembleia legislativa. Não é isto que dizem as sondagens, mas como já perdi um almoço com ele, valerá a pena deter-me um nadinha mais nos seus argumentos, não sem antes me inclinar para a hipótese de uma grande humilhação do PS nas próximas eleições seguida de um banho de sangue no Largo do Rato e nas caves de uma dúzia de tascas maçónicas.

“Esta história não é minha”. PS acusado de fabricar histórias dos cartazes
Observador, 7/8/2015, 20:22

“A história não é minha. Aquela afirmação é falsa”. É assim que Maria João resume a utilização da sua fotografia colada à frase “Estou desempregada desde 2012, para o governo não existo” num dos polémicos cartazes do PS, em declarações ao Observador. Maria João diz que não estava desempregada e que não disse o que está no outdoor. Mais: acrescenta que quando tirou a fotografia, que viria a aparecer espalhada pelo país nos cartazes do partido, prestava até serviços à Junta de Freguesia de Arroios (socialista) e foi lá que o fotógrafo a apanhou. Mais ainda: diz não ter dado autorização para que a sua cara aparecesse nos cartazes, quer que o partido os retire das ruas e admite processar o PS por uso indevido de imagens. Mas a história com os polémicos cartazes não acaba aqui. Há mais dois casos na mesma junta.

O PS comandado pelo sargento Costa é o mesmo partido que Mário Soares pariu no idos anos oitenta do século passado. Do fax de Macau à prisão preventiva de um ex-primeiro ministro que se apelida por um dos seus nomes próprios —Sócrates—, e à prisão domiciliária de um banqueiro que em tudo mandava e a muitos garantia prosperidade e fama terrena eternas, nada mudou, salvo o colapso do regime assim nascido e deformado até à náusea.

A rapaziada e a raparigada mais nova do PS que entretanto acedeu às mordomias parlamentares esfumaram-se debaixo das mini-saias e aventais cor-de-rosa do poder. O cesarismo impera nas hostes do Rato. Voltar a entregar o poder a este bando de senadores corruptos do regime que empurraram alegremente até à fossa seria puro masoquismo eleitoral. Donde a minha propensão para pensar que Passos Coelho arrancará uma nova vitória nas próximas eleições. Seria bom que o Nós-Cidadãos elegesse um ou dois deputados, mas vai ser muito difícil. Nisto estou de acordo com o meu amigo e veterano socialista. Por outro lado, se o PCP crescer, e João Oliveira surge, tal como Mariana Mortágua no Bloco, como um dos políticos mais cristalinos da nova geração, sem realejo, prudente, realista, assertivo, coerente, então ao Partido Socialista poderá acontecer o que aconteceu ao PS italiano depois da Operação Mãos Limpas: desaparecer!

BES com prejuízos de quase 9 mil milhões em Agosto de 2014
Jornal i, 07/08/2015 14:57:29

Os prejuízos do Banco Espírito Santo subiram quase 20 vezes em sete meses, de 462,5 milhões para 8,947 mil milhões de euros, entre 31 de Dezembro de 2013 e 4 de Agosto de 2014, data da resolução decidida pelo Banco de Portugal, que dividiu a instituição em duas, criando o Novo Banco para ficar com a actividade geral e deixou ao BES os activos problemáticos.

O BCE mandou fechar a loja do Espírito Santo por motivos óbvios que vamos conhecendo mês a mês. Passos Coelho percebeu a tempo que dar a mão a semelhante monstro financeiro seria um suicídio político e, assim, disse ao DDT — Não!

Só mesmo o socratino António Costa contava com o banqueiro para o levar no andor da corrupção até São Bento. Só mesmo ao beato Mário Soares lembraria peregrinar até à Boca do Inferno para visitar o novo arguido. O PS ainda existe?

sexta-feira, agosto 07, 2015

Finpro e a cleptocracia indígena

Obrigado WHKITG

A turma 'socialista' andou a jogar dinheiro da Segurança Social no casino dos private equitiy


A nomenclatura partidária está a esconder o escândalo Finpro com doses maciças de propaganda em volta do magno tema das estatísticas do emprego. O pânico eleitoral é evidente, para o PS, mas também para o PSD e o CDS/PP.

Ora veja quem então andou a brincar com a sua reforma.

Portuguesa Finpro obrigada a vender a participação no Grupo TCB
6 Agosto, 2015 at 14:00 por T&N

Os 18,5% do Grupo TCB, adquiridos em 2007 pela portuguesa Finpro, serão em breve colocados à venda na sequência da falência da holding controlada por Américo Amorim, Banif e CGD.

Falhado o primeiro PER e recusado o segundo, o destino da Finpro é a insolvência e a liquidação dos activos para saldar as dívidas acumuladas de 251,7 milhões. Entre esses activos destaca-se a participação indirecta, através da Portobar Capital, no capital do Grupo TCB, o maior operador portuário espanhol.

[...]

É este activo que terá agora de ser alienado. Curiosamente, o BIC, controlado a 25% por Américo Amorim, quando da apresentação do primeiro PER, e também a Caixa Geral de Depósitos, no segundo PER, votaram contra os planos de recuperação da holding apresentados pelos accionistas.

Estado e Amorim juntos na falência da Finpro
Negócios, 06 Agosto 2015, 00:01 por Rui Neves

Depois de dois processos de revitalização falhados, a Finpro declarou-se falida. A dívida ultrapassa os 250 milhões de euros. Segue-se a liquidação da sociedade controlada pelo Estado, Banif e Américo Amorim.


Finpro reconhece créditos inferiores aos reclamados pela banca
Sol, Sandra Almeida Simões | 07/04/2015 15:01

A Finpro é uma sociedade gestora de capitais públicos e privados. O Estado – através do Fundo de Estabilização Financeira da Segurança Social –, o Banif, a CGD e Américo Amorim são os seus principais accionistas.

[A Finpro] Fundada em 1998 [durante o governo PS-Guterres-Pina Moura-Coelho-Sócrates], [...] começou por dedicar-se ao investimento em private equity e infra-estruturas. Hoje, tem vários investimentos internacionais e aderiu, sem sucesso, a um primeiro Plano Especial de Revitalização no Verão de 2014.

Ou seja, durante dois governos cor-de-rosa os descontos da segurança social andaram a alimentar uma holding de private equity sem que nada tivesse sido perguntado aos contribuintes. A negociata (1) até funcionou, como agora se vê, em regime PPP: lucros para os privados, enquanto houve, prejuízos para os contribuintes e para os eleitores que há décadas alimentam a corja corrupta do Bloco Central—a ostras, pérolas e Pão de Ló— assim que a tempestade financeira mundial começou.

A Auditoria Integrada ao Instituto de Gestão de Fundos de Capitalização da Segurança Social, IP, pelo Tribunal de Contas, em 2009, e o correspondente Relatório publicado em 2010 (ver PDF), dão claramente conta da trapalhada e ausência de transparência da parceria cujo fim agora conhecemos.

A cleptocracia indígena no seu melhor.

Ainda vai votar no PS?

NOTAS
  1. Não deixa de ser sintomática a mudança de direção deste Instituto sempre que muda o governo. Por exemplo, o presidente do IGFCSS entre 2006 e 2013, nomeado pelo governo de José Sócrates, foi Manuel Pedro Baganha, grande entusiasta da privatização e obscuridade crescente do organismo encarregado de administrar o fundo de capitalização dos nossos descontos para a Segurança Social. Não será este mais um caso para a PGR investigar?

quinta-feira, agosto 06, 2015

Sem energia barata não há crescimento

Figure 12. World GDP in 2010$ (from USDA) compared to World Consumption of Energy (from BP Statistical Review of World Energy 2014)

O petróleo continua muito caro!


What we really need is more high wage jobs. Unfortunately, these jobs need to be supported by the availability of large amounts of very inexpensive energy. It is the lack of inexpensive energy, to match the $20 per barrel oil and very cheap coal upon which the economy has been built that is causing our problems. We don’t really have a way to fix this [Gail Tverberg].

Em vez de ouvir os desvarios geopolíticas sobre energia do senhor Partex (António Costa Silva) seria bem melhor ler o que escreve Gail Tverberg.

A queda dos preços do petróleo não é uma consequência do excesso de oferta e de produção, mas sim da queda agregada da procura motivada pelo preço demasiado alto do petróleo e das commodities em geral.

Neste momento, o preço do petróleo está abaixo do seu custo real uma vez descontado o efeito inflacionista do mercado especulativo que é por definição o seu. Deste modo a indústria petrolífera tenta responder à estagnação económica induzida, precisamente, pelo preço insustentável da energia e das matérias primas—do petróleo, do gás natural, da terra fértil, da água potável, das sementes e dos metais comuns, preciosos e raros.

Em suma, o petróleo está a ser vendido abaixo do seu preço de custo (deflação) porque se tornou demasiado caro. O petróleo barato acabou em 2006 (Peak Oil).

Sem crescimento do consumo energético não há crescimento. Sem crescimento, o endividamento gera instabilidade económica, financeira, social e política.

Ponto.

E agora?

Figure 1. Oil as a percentage of total energy consumption in 2006, based on June 2015 Energy Information data. (Inverted order from chart originally shown.)

Nine Reasons Why Low Oil Prices May “Morph” Into Something Much Worse
by Gail Tverberg
Posted to Our Finite World on July 22, 2015

[...]

4. The way workers afford higher commodity costs is primarily through higher wages. At times, higher debt can also be a workaround. If neither of these is available, commodity prices can fall below the cost of production.

If there is a significant increase in the cost of products like houses and cars, this presents a huge challenge to workers. Usually, workers pay for these products using a combination of wages and debt. If costs rise, they either need higher wages, or a debt package that makes the product more affordable–perhaps lower rates, or a longer period for payment.

Commodity costs have been rising very rapidly in the last fifteen years or so. According to a chart prepared by Steven Kopits, some of the major costs of extracting oil began increasing by 10.9% per year, in about 1999.

In fact, the inflation-adjusted prices of almost all energy and metal products tended to rise rapidly during the period 1999 to 2008 (Figure 7). This was a time period when the amount of mortgage debt was increasing rapidly as lenders began offering home loans with low initial interest rates to almost anyone, including those with low credit scores and irregular income. When debt levels began falling in mid-2008 (related in part to defaulting home loans), commodity prices of all types dropped.

Figure 6. Figure by Steve Kopits of Westwood Douglas showing trends in world oil exploration and production costs per barrel. CAGR is “Compound Annual Growth Rate.”


O que aí vem

O RUÍDO PARTIDÁRIO EM VOLTA DOS ÚLTIMOS NÚMEROS DO EMPREGO É UM RUÍDO POPULISTA QUE DEVE SER DENUNCIADO E DESPREZADO.

Sem uma disponibilidade crescente de energia barata (sobretudo petróleo e combustíveis líquidos em geral, abaixo do 40USD/b) não há crescimento; sem crescimento não há emprego, há desemprego e há substituição de emprego caro por emprego barato e mais eficientemente servido por máquinas e sistemas inteligentes. Esta espiral descendente é de natureza recessiva e deflacionista, sobretudo à medida que a capacidade de endividamento e de monetização das dívidas se esgota nos Estados Unidos, na Europa, na China...

Os governos têm cada vez menos controlo sobre esta dinâmica, e na luta entre capital e trabalho, desta vez, ambos empobrecem: número crescente de falências industriais e bancárias, empobrecimento das classes médias e colapsos financeiros de grande magnitude, com consequências terríveis, por exemplo, na bancarrota iminente de vários países, regiões e cidades.

Onde melhor podemos antever o nosso futuro, se nada fizermos e nos deixarmos embalar pelo populismo estridente das nomenclaturas partidárias instaladas, é nas vagas de migração de África para a Europa. Os níveis de rendimento destes países é há muito totalmente incompatível com o custo da energia e matérias primas disponíveis... Quando o barril de crude desce abaixo dos 60USD a maioria dos países exportadores de petróleo e gás natural deixam de obter as gigantescas receitas e margens de lucro e de rapina que têm alimentado as suas altíssimas taxas de crescimento e os investimentos e a especulação financeira nos Estados Unidos e na Europa.

sábado, agosto 01, 2015

O insolvente sistema de pensões americano

Quando os reformados americanos perderem 30% ou mais das suas pensões, como será?

Estados Unidos da América: “estado social” sobrecarrega dívida pública


Ou seja, o seu financiamento já é um encargo diferido para os que ainda não nasceram.

The 2015 Untrustworthies Report——Why Social Security Could Be Bankrupt In 12 Years by David Stockman/ Contra Corner • July 31, 2015

On a cash basis, the OASDI (retirement and disability) funds spent $859 billion during 2014 but took in only $786 billion in taxes, thereby generating $73 billion in red ink. And by the trustees’ own reckoning, the OASDI funds will spew a cumulative cash deficit of $1.6 trillion during the 12-years covering 2015-2026.

So measured by the only thing that matters—-hard cash income and outgo—-the social security system has already gone bust. What’s more, even under the White House’s rosy scenario budget forecasts, general fund outlays will exceed general revenues ex-payroll taxes by $8 trillion over the next twelve years.

Este problema não é, ao contrário da demagogia eleitoral em curso, um problema português, mas uma mutação em curso nas sociedades desenvolvidas. A esperança média de vida aumentou e continua a aumentar em todo o mundo, ao mesmo tempo que o trabalho humano vem sendo substituído por hardware, software, sistemas operativos e nuvens computacionais pós-humanas nas sociedades mais desenvolvidas. Por outro lado, abundam reservas crescentes de trabalho humano barato nos continentes cujas populações são mais jovens e mais crescem em volume e velocidade: África, América Latina e Caraíbas, e uma parte significativa da Ásia.

Ou seja, por um lado, Japão, Alemanha, Itália, Áustria, Grécia, Finlândia, Bélgica, Holanda, Suíça, Canadá, Dinamarca, Espanha, Portugal, França, Suécia, Ucrânia, Reino Unido, etc., têm populações cuja idade mediana é superior a 40 anos, enquanto em toda a África a mediana oscila entre os 14 e os 30 anos.

A resposta das sociedades desenvolvidas a este problema tem sido, em geral, subsidiar o número crescente de inativos permanentes e temporários, uma vez que o emprego diminui à medida que o capital procura oportunidades de produção com menores custos laborais e de contexto, e os sistemas de poupança individual e familiar, assim como os chamados estados sociais, colapsam. Travar o endividamento público e o endividamento das empresas e das famílias torna-se, neste contexto, uma missão praticamente impossível.

Esta não é, pois, uma solução do problema, mas apenas um adiamento dos impactos mais catastróficos do mesmo.


Esta é uma perversão comum às respostas sociais que americanos e europeus têm vindo a dar à crise do emprego e do envelhecimento demográfico (clique p/ ampliar)

Why Do So Many Working Age Americans Choose Not To Enter The Workforce?
Zero Hedge, Submitted by Tyler Durden on 07/30/2015 20:30 -0400
You could call it the “Mystery of the Missing Worker” – why do so many people of working age chose not to enter the workforce?  Here are the numbers, as of the most recent Employment Situation report:

250 million: the total number of people of working age in the United States.
149 million: the total number of people in that population that have a job.
8 million: the number of people who want a job but do not have one.
93 million: the number of people who don’t work, and don’t want work.

To put some context around that last number, it is 30% of the entire U.S. population. 

Muito do barulho diário dedicado pelos canais mediáticos ao desemprego, à criação precária de novos postos de trabalho, e à crise do estado social —pensões, saúde e educação— confunde a população ao induzi-la na crença de que estes problemas se podem resolver no âmbito populista irresponsável do rotativismo partidário eleitoral. Não podem!

Enquanto os países desenvolvidos continuarem a envelhecer e a encolher, enquanto a sua produção de bens transacionáveis continuar a cair, enquanto as suas balanças comerciais e de capitais continuarem a deteriorar-se, nenhum dos principais problemas sociais será resolvido, e a instabilidade político-social tenderá a agravar-se dia a dia, como se tem visto nos Estados Unidos e na Europa.


REFERÊNCIAS

A idade mediana da humanidade
Clique p/ ampliar


sexta-feira, julho 31, 2015

BCE prolonga receita hiper-keynesiana

Taxas de juro negativas e diarreia financeira, ou como enviar as dívidas de hoje para os nossos filhos e netos.

Populismo eleitoral empurra Japão, Estados Unidos e Europa para um buraco negro onde se sabe como entrar, mas ninguém sabe como sair



Inflação na Zona Euro em terreno positivo pelo terceiro mês
Jornal de Negócios, 31 Julho 2015, 10:32 por Nuno Carregueiro | nc@negocios.pt

O índice de preços no consumidor na Zona Euro aumentou 0,2% em Julho, no terceiro mês consecutivo de variações positivas. Excluindo alimentação e energia, os preços subiram ao ritmo mais elevado em 15 meses.

O EQE (European Quantitative Easing), oficialmente conhecido por Expanded Asset Purchase Programme, vai prolongar-se no tempo, pois 0,2% de inflação está muito longe dos ±2% pretendidos. 

Ou seja, a famosa reestruturação das dívidas (soberanas e bancárias, em primeiro lugar) soma e segue por trilhos perigosos que a indigente Esquerda finge não ver, ao lombo de classes médias cada vez mais entaladas entre o precariado e a sobre-exploração, e de pensionistas com o conforto contratado definitivamente ameaçado. 

Taxas de juro negativas ou próximo disso configuram um perdão de dívidas públicas e financeiras disfarçado, o qual se alimenta da poupança real que ainda existe, de um belicismo crescente (tanto nos EUA, como na Europa!), e da captura de rendimentos futuros, sobretudo do trabalho! 

Mas isto Mariana Mortágua e os sábios idiotas do PS não vêem!

quinta-feira, julho 30, 2015

Drogaria eleitoral

Armando Pereira, o emigrante minhoto que regressa para tomar conta da PT, como líder e dono!



Foi você que pediu uma revolução?


Altice corta estrutura de topo da PT Portugal
Económico, 15 jun 2015 Cátia Simões

Será anunciado em breve um presidente-executivo para a PT Portugal, garantiu Armando Pereira ao sindicato. Empresa vai investir em fibra.

“Tomamos consciência que uma nova PT nasceu no dia 2 de Junho. Uma PT menos formal e menos estratificada. Tem uma Administração reduzida (3 Administradores) para todas as empresas do Grupo em Portugal, presidida pelo Sr. Armando Pereira como PCA, que além de “dono” terá a função de acompanhamento regular da Empresa após os primeiros 3 a 4 meses de intensa presença. Brevemente será anunciado um Presidente Executivo português para estar a tempo inteiro”, frisa o comunicado.

O capitalismo indígena, rentista, devorista, clientelar, nepotista, irresponsável e arrogante, tem estado a levar uma tareia histórica. Mas não é do PCP, nem do Bloco, e muito menos dos indigentes socialistas do PS. É de quem emigrou e regressa rico depois de comer o pão que o Diabo amassou, com ideias claras, nomeadamente sobre as relações de mútuo interesse que podem existir entre trabalho e capital, entre crescimento e um estado social inteligente, transparente e mais justo do que aquele que temos neste momento.

Aeromoscas de Beja, cemitério e sucata de aviões

Os partidos da coligação parecem ter finalmente assimilado as ideias simples e as previsões deste blogue independente. A quem enviamos a fatura?

Desde 2005 que O António Maria, primorosamente assessorado, insistiu nisto:

  1. Que o NAL na Ota e o NAL da Ota em Alcochete não passavam de embustes montados pelos piratas do PS e do BES, com algumas fantasias do BPN à mistura;
  2. Que em Beja se derreteram mais de 33 milhões de euros num aeromoscas. Escrevemos a este propósito, em 2009, que a famosa modernização socratina da antiga Base Aérea da NATO, suportada por um estudo hilariante do visionário Augusto Mateus, acabaria  por transformar-se num cemitério e sucata de aviões. A confirmação veio a 29 de julho de 2015!

Portugal não será, apesar da vontade das elites que vivem na corte do orçamento, uma ilha ferroviária. 


Um dia Portugal acabará por colocar a bitola europeia nas ligações ferroviárias transversais das principais cidades e portos portugueses, Lisboa-Setúbal-Sines, Porto-Aveiro-Figueira da Foz, e Porto (Matosinhos-Leça)-Viana do Castelo-Valença, a Espanha e ao resto da Europa.

A ligação Poceirão-Caia, aprovada e quase totalmente financiada pela UE, foi abandonada na sequência de uma decisão estúpida do volúvel Tribunal de Contas, certamente por força dos piratas do NAL, agora finalmente derrotados, mas que não pararam durante toda a vigência do atual governo de coligação, ou pelo menos até à prisão de Sócrates e colapso do Grupo Espírito Santo. O mapa ferroviário europeu forçará, mais cedo ou mais tarde, o governo indígena a construir as ligações ferroviárias prioritárias previstas no mapa europeu da mobilidade económica e cultural.


Drogaria eleitoral

Estamos em plena corrida para as Legislativas. De cada vez que abrem os noticiários da Rádio e da TV parece que entramos numa drogaria eleitoral. A coligação tem marcado pontos, ao contrário do PS de António Costa, que se remeteu à condição de comentador crítico da ação governativa e da coligação PSD-CDS/PP. As poucas ideias do antigo ministro de José Sócrates têm-se desfeito contra o muro das realidades. O PS é o partido da burocracia e de uma burguesia rendeira e devorista cada vez mais acossada pelos credores e pela população escandalizada com o grau de corrupção e nepotismo que o PS promoveu na sociedade portuguesa, perdendo assim a sua verborreia corrente qualquer credibilidade, pelo menos até que mude a sua geração de dirigentes.

A coligação, pelo contrário, iniciou hoje, 29 de julho, um contra-ataque contra o PS que deixa a esquerda em geral com vários problemas por resolver. Três deles são cruciais para a sua credibilidade imediata: 
  1. Quem é que, afinal, atacou e ataca a corrupção e a sua nomenclatura? 
  2. Quem é que, afinal, tem as melhores propostas para defender o estado social, sem provocar novo agravamento da dívida pública e privada (a começar pela dívida externa) e a consequente derrapagem para um novo resgate?
  3. Qual é, afinal, a posição do PS, do PCP e do Bloco face ao euro? E face à União Europeia?
O Bloco, dada a dislexia óbvia de António Costa, tem nestas eleições uma oportunidade única para se apresentar ao eleitorado como um partido rejuvenescido, menos maniqueísta, menos demagogo e menos populista, mas também mais sofisticado no uso da linguagem, e com uma agenda programática inovadora, realista e propositiva, sem ter por isso que reprimir o saudável radicalismo de uma série de novas causas e preocupações sociais e culturais.

João Oliveira tem trazido uma lufada de ar fresco ao discurso ressequido dos comunistas. Com o tempo que tudo cura, ou leva, talvez ainda possamos assistir a um aggiornamento nesta pequena igreja do pós-estalinismo. Jerónimo de Sousa faria bem em promover uma clara e decisiva passagem de testemunho geracional, em vez de se agarrar a uma simpatia que não anda nem desanda.

A crise grega fez várias vítimas fora da Grécia. A esquerda em geral foi uma delas. Mas também as tentativas de criação de novas forças partidárias, como o Nós, o Livre ou a coisa do Marinho e Pinto. Serão estas as principais vítimas colaterais das eleições de 4 de outubro.

terça-feira, julho 28, 2015

Da transexualidade à transpolítica

Júlia Mendes Pereira, candidata do BE à Assembleia da República

Duas opções para 4 de outubro: PSD ou Bloco de Esquerda


Júlia Mendes Pereira poderá vir a ser a primeira deputada transexual eleita em Portugal
dezanove, Seg, 27/07/15

Júlia Mendes Pereira pode estar a caminho do Parlamento pelo Bloco de Esquerda (BE). O currículo é invejável: feminista, activista dos direitos das pessoas transexuais e intersexo, co-fundadora e co-directora da associação API - Ação Pela Identidade, organização não-governamental para a defesa e o estudo da diversidade de género e de características sexuais, é membro do Steering Committee da TGEU – Transgender Europe, organização europeia de defesa dos direitos das pessoas trans, foi também coordenadora do GRIT – Grupo de Reflexão e Intervenção sobre Transexualidade da associação ILGA Portugal.

Ora aqui está um sinal que poderá levar-me a votar no Bloco!
As agendas populistas dos partidos, em geral, apodreceram. Só dois dos que têm assento parlamentar parecem estar a mudar: o PSD de Passos Coelho e o Bloco de Mariana Mortágua—uma voz que se pode ouvir, sobretudo quando fala do que sabe (economia e finanças), e não mais um realejo.

Os tempos que correm são convulsos, trágicos para muita gente, mas interessantes quando percebemos a charneira de uma grande mudança, ou melhor ainda, o rompimento do casulo da autêntica metamorfose económica, social e cultural que aí vem.

Estamos numa espécie de PREC judiciário,
cujas consequências serão porventura mais profundas que o PREC dos capitães que não queriam perder privilégios para os milicianos. O topo simbólico da velha política corrupta está na prisão. O topo simbólico da casta financeira corrupta está na prisão. E as castas corporativas e nepotistas que proliferaram e incharam desde a queda da ditadura, começam a estar cercadas por uma opinião pública que paga impostos sem perceber para onde vai o dinheiro.

Neste contexto, a maior ameaça à democracia que apesar de tudo temos é deixarmos que a gangrena do regime vá comendo os partidos por dentro até à sua implosão. Como tenho repetido ao longo dos últimos anos, é preciso rejuvenescer os partidos parlamentares que temos, são precisos novos partidos e redes de cidadania capazes de dar a conhecer a realidade que se esconde por baixo das fantasias, da hipocrisia, e das mentiras, e de agir sobre a realidade com novas agendas culturais.

Os realejos maniqueístas tomam os eleitores por burros, ou por oportunistas.

O PS, o CDS/PP e o PCP/PEV continuam a olhar para trás sem perceberem que esse olhar os vai transformando em estátuas de sal.

Pelo contrário, o PSD de Pedro Passos Coelho tem vindo a promover uma rotura sistémica positiva no regime, que nada tem que ver com a política de austeridade imposta pelos credores cada vez mais impacientes.

Mariana Mortágua, por sua vez, é uma luz de esperança para o Bloco de Esquerda, sobretudo pela revolução linguística que começou a introduzir no albergue marxista que deu origem ao Bloco. É verdade que foi Francisco Louçã e a sua agenda tipicamente franco-trotsquista que permitiu o Bloco sair da Rua da Quintinha e chegar a São Bento. É verdade que Miguel Portas foi uma voz decisiva na urgência de substituir a geração dirigente. Falta agora promover um verdadeiro caleidoscópio de novas causas, que movem potencialmente milhares de pessoas, como é o caso das agendas da liberdade e da tolerância moral, como é o caso das agendas da justiça social e dos direitos individuais, ou como é o caso das novas agendas sexuais, de que a candidatura de Júlia Mendes Pereira é um testemunho oportuno.

Acredito que no interior do PSD e do Bloco existem forças magnéticas de tipo novo, ideológicas, mas informadas, radicais, mas pragmáticas. Precisamos todos de abandonar a biopolítica, e passar à transpolítica, dando cada vez mais espaço aos inúmeros atores-rede que estão a mudar o mundo.

Já ninguém ouve os realejos maniqueístas.

Se tem a cabeça ao centro, a puxar um bocadinho para a direita, já sabe onde votar.

Mas se o coração palpita à esquerda, não desespere, pois há um quadradinho onde a sua cruz poderá melhorar a nossa democracia.

sábado, julho 25, 2015

Sem pulseira eletrónica

Ex-DDT

1415-2015


O ano 2015 ficará para a História Portuguesa como o ano em que um secular sistema de poder centralista, reacionário, autoritário, endogâmico, clientelar, corporativo, manhoso e corrupto finalmente colapsou ao estatelar toda a sua matriz genética contra um muro de credores insensíveis à prosápia indígena.

Desde 1640 que andámos a financiar o endividamento crónico português, uma sociedade essencialmente extrativa e rural, com o ouro e as pedras preciosas do Brasil, o algodão e o caju de Moçambique, o café e o petróleo de Angola, as remessas dos emigrantes e, finalmente, fundos comunitários e novas remessas de emigrantes.

O ciclo que agora se fecha tem estas cristas assinaláveis
  • 1415 — conquista de Ceita/ expansão
  • 1640 — guerras da Restauração/ início do declínio
  • 1808 — abertura dos portos brasileiros aos ingleses/ declínio
  • 2015 — fecho de um longo ciclo de ascensão e queda

O pânico entre as nossas distraídas elites começa verdadeiramente agora, isto é, depois da prisão domiciliária, sem pulseira eletrónica, de Ricardo do Espírito Santo Silva Salgado, antigo Dono Disto Tudo.