sexta-feira, outubro 23, 2009

Alta Velocidade 5

Hoje querem implodir os estádios do Euro, amanhã será a vez do aeromoscas de Beja e do elefante branco da Ota em Alcochete

Comboios

Cavaco que se prepare para o que o Rei de Espanha lhe vai dizer sobre o AVE Madrid-Lisboa. Vai ouvir das boas!

Obrigar o comboio de Alta Velocidade Madrid-Lisboa a transferir mercadorias para comboios de bitola ibérica (1) no Poceirão é como impor a Espanha uma portagem extraordinária no fluxo de mercadorias de e para os portos de Setúbal, Lisboa e Sines, ao mesmo tempo que se mata à nascença a Plataforma Logística do Caia (Elvas-Badajoz). O resultado pode ser este: a Espanha desiste de ligar a sua rede de Alta Velocidade/Velocidade Elevada a Portugal, por óbvia inviabilidade económica, apostando tudo nos seus próprios portos atlânticos: a Norte, Vigo, Corunha, Ferrol, Bilbau, e a Sul, Cádis e Huelva.

Aviões

O fiasco, aqui anunciado até à exaustão, do aeromoscas de Beja, que nunca mais inaugura..., é o mesmo fantasma que paira sobre o aeroporto da Ota em Alcochete. Despertem!!

Construir o aeroporto da Ota em Alcochete com a TAP falida é o mesmo que fazer estádios de futebol para equipas que depois falem... Hoje querem destruir os estádios de Leiria, Aveiro e Faro. Amanhã, se a Mota-Engil e o BES conseguirem —como tudo leva a crer— levar por diante a loucura da Ota em Alcochete, a Terceira Travessia Chelas-Barreiro e o encerramento do aeroporto da Portela, cá estaremos para admirar o grande fiasco da governação "socialista" — que ficará conhecida por ter parido estádios de futebol que afundam municípios e dois grandes desertos aeroportuários: o de Beja e o da Ota em Alcochete.

84% do tráfego no aeroporto de Portela tem origem no perímetro da União Europeia, cujo modelo de exploração tem vindo a evoluir para as chamadas companhias Low Cost. Não há pois alternativa à falência da TAP (o petróleo voltou a subir!) e à sua eventual substituição por uma nova companhia profundamente remodelada e necessariamente com menos 50% ou mesmo 2/3 da sua actual força de trabalho.

A miragem de uma fusão com a TAG e com a TAM, ou seja, a miragem de uma acção de salvamento in extremis da inviável TAP, com petro-euros angolanos e brasileiros, não passa disso mesmo: duma miragem gaúcha, que o lóbi da especulação financeira e do betão —verdadeiros sanguessugas da poupança nacional— aproveita para fazer avançar os dossiês e os decretos-lei que mais lhe convêm.

Dentro em breve as Low Cost terão comido literalmente o mercado europeu à TAP (i.e. 84% do mercado efectivamente disponível). Por outro lado, os voos intercontinentais estão em queda e o respectivo modelo de exploração evoluirá muito rapidamente — assim que o Dreamliner da Boeing entre em operação (2010-2012) — para ligações ponto-a-ponto, à semelhança das estratégias Low Cost. Ou seja, Lisboa não poderá ter se não um aeroporto cada vez mais orientado para as ligações ponto-a-ponto e para os voos Low Cost. O resto, isto é, as companhias de bandeira gordas e arregimentadas às nomenclaturas político-partidárias, bem como os famosos "hubs", morreram! O funeral segue dentro de meses...

Eu se fosse o Stanley Ho abandonava de vez a Alta de Lisboa e começava a pensar em licitar quanto antes o lombo da TAP, i.e. o seu qualificado pessoal de voo. O fruto está a cair de maduro!


NOTAS
  1. Algo que o novo ministro da obras do Bloco Central do Betão (MOPTC) —António Mendonça—ainda não sabe o que é! Ver tb. bitola europeia ou bitola internacional.

OAM 641 23-10-2009 14:30

quinta-feira, outubro 22, 2009

Portugal 135

Novela sórdida da TVI
Prisa nos eixos depois de adiar colapso financeiro com a venda de 35% da Media Capital.

In Illo Tempore: quem deu emprego a Fernanda Câncio no DN? Resposta: Henrique Granadeiro. Quem depois pôs o Granadeiro na PT: José Sócrates! Quem deu o primeiro passo, a pedido de Sócrates (claro!), para calar a Manuela Moura Guedes? Henrique Granadeiro. Quem deu o segundo (porque o primeiro foi em falso)? O franquista recauchutado que dirige o grupo Prisa! Quem insistiu e acaba de conseguir controlar a TVI? A PT superiormente comandada pelo boy socratino: Henrique Granadeiro. Que grande zurrapa!!

Com o estado de falência suspensa da Impresa (para se manter à tona viu-se forçada a dar o Expresso e a SIC como garantia aos bancos!), com o controlo crítico dos conteúdos da TSF e a transformação da RTP num reedição proto-fascista do Secretariado da Propaganda Nacional, só faltava mesmo à máfia que domina o PS controlar a TVI e monopolizar até ao limite a Internet e as comunicações telefónicas fixas, móveis e de dados. Estamos quase lá, ou estou enganado?!

Os meus amigos democratas já pensaram bem no que estão a tolerar?

O caldo de cultura para uma súbita desconstrução do Estado democrático está aí. De um dia para outro, deixaremos de ter democracia, e em seu lugar estará, sem que sequer disso nos tenhamos apercebido, um NOVO FASCISMO, suave como o anterior, mais corrupto do que o anterior, de seringas e tribunais fantoches em punho, capaz de nos esmagar com eficácia bem maior do que Salazar alguma vez imaginou.

Se abandonarmos os princípios, se os trocarmos pelo mísero prato de lentilhas que as eleições dá a alguns, não tenho dúvidas que o colapso acabará por ocorrer. De momento, só deposito esperança em duas coisas: no voto inteligente dos eleitores, e sobretudo no potencial de uma crítica social auto-organizativa que, com palavras e actos, denuncie sistematicamente o desastre que se prepara em múltiplos domínios, e se prepare para exercer de forma proporcional, mas sem hesitação, o seu inalienável direito à liberdade, à justiça, à democracia, à solidariedade e ao bom governo.

LER noticia no Público


OAM 640 22-10-2009 14:15

quarta-feira, outubro 21, 2009

O fim dos EUA e da Europa?

Poderia ter sido escrito por Álvaro Cunhal!

While Americans are sacrificing the future for the present, China is sacrificing the present for the future. — Patrick J. Buchanan.

Transcrevo abaixo parte de um lancinante artigo do conservador Patrick J. Buchanan, escrito em 2003, sobre as causas do colapso iminente dos Estados Unidos da América. A leviana Direita que temos devia estudar com muita atenção cada palavra desta confissão descarnada sobre o que correu muito mal na América, nomeadamente a partir da era Clinton e da sua alegre globalização. E a Esquerda lunática que temos deveria aplicar algum do seu tempo livre a pensar na realidade de chumbo que temos diante de nós — começando por fazer tábua rasa de muitas das convenções e preconceitos ideológicos e analíticos que há décadas entorpecem a sua capacidade de pensar de forma límpida e necessária.

O que está em causa e pode colocar em causa o futuro de Portugal, apesar de fazermos parte da União Europeia, é muito mais amplo e dramático do que se tem pretendido fazer crer. Trata-se de um processo de reversão e translação estrutural do Capitalismo —de facto em curso— em nome da sua sobrevivência desesperada num qualquer outro corpo capaz de o aceitar na sua incurável e descarnada bestialidade inumana, especulativa e gananciosa. A terceiro-mundialização do nosso pais, que não anda muito longe do que se passa noutros países outrora orgulhosos do seu desenvolvimento, a começar pelos Estados Unidos e a Inglaterra, é o cerne de uma súbita e possivelmente fatal doença da modernidade, que a simples administração de melhor justiça, melhor educação ou ética política será insuficiente para salvar.

Teremos, seja como for, de regressar ao trabalho. Isto é, à produção local e regional daquilo que comemos, usamos e amamos. Significa esta decisão rejeitar o Outro? O novo Outro? Não necessariamente, mesmo se tivermos que voltar a traçar uma linha divisória, uma linha de osmose, entre os competidores estratégicos do planeta. Um novo Tratado de Tordesilhas, desta vez entre a Ásia dum lado e a Euro-América do outro.


Death of Manufacturing
The rise of free trade has eroded America’s industrial base and with it our sovereignity.

By Patrick J. Buchanan (August 11, 2003) — in The American Conservative.

(...)

Thirty years have elapsed since our free-trade era began and 30 months since George W. Bush became president. It’s time to measure the promise of global free trade against the performance.

Undeniably, free trade has delivered for consumers. A trip to the mall, where the variety of suits, shoes, shirts, toys, gadgets, games, TVs, and appliances abounds, makes the case. But what has it cost our country?

Every month George Bush has been in office, America has lost manufacturing jobs. One in seven has vanished since his inauguration. In 1950, a third of our labor force was in manufacturing. Now, it is 12.5 percent. U.S. manufacturing is in a death spiral, and it is not a natural death. This is a homicide. Open-borders free trade is killing American manufacturing.

(...) In 1860, Britain abandoned its Britain First trade policy for the free-trade faith of David Ricardo, John Stuart Mill, and Richard Cobden. By World War I, Britain, which produced twice what America did in 1860, produced less than half and had been surpassed by a Germany that did not even exist in 1860.

Free trade does to a nation what alcohol does to a man: saps him first of his vitality, then his energy, then his independence, then his life.

America today exhibits the symptoms of a nation passing into late middle age. We spend more than we earn. We consume more than we produce.

(...)

Manufacturing is the key to national power. Not only does it pay more than service industries, the rates of productivity growth are higher and the potential of new industries arising is far greater. From radio came television, VCRs, and flat-panel screens. From adding machines came calculators and computers. From the electric typewriter came the word processors. Research and development follow manufacturing.

Alexander Hamilton, the architect of the U.S. economy, knew this. He had served in the Revolution as aide to Washington and lived through the British blockades. He had led the bayonet charge at Yorktown. And he had resolved that never again would his country’s survival depend upon French muskets or French ships.

(...)

For 12 decades, America followed Hamilton’s vision. On the eve of World War I, the 13 agricultural colonies on the eastern seaboard had become the richest nation on earth with the highest standard of living, a republic that produced 96 percent of all it consumed while exporting 8 percent of its GNP, an industrial colossus that manufactured more than Britain, France, and Germany combined.

The self-sufficiency and industrial power Hamiltonian policies created enabled us to rearm in security, crush the Axis in four years, rebuild Europe and Japan, and outlast the Soviet empire in a Cold War, while meeting all the needs of our people.

But in the Clinton-Bush free-trade era, Alexander Hamilton is derided as a “protectionist.” Woodrow Wilson’s free-trade dogma is gospel. Result: our trade surpluses have vanished, our deficits have exploded, our self-sufficiency has been lost, our sovereignty has been diminished, and an industrial base that was the envy of mankind has been gutted.

And for what? All that junk down at the mall? What do we have now that we did not have before we submitted to this cult of free trade?

(...)

As a former Friedmanite free trader, let me say it: free trade is a bright shining lie. Free trade is the Trojan Horse of world government. Free trade is the murderer of manufacturing and the primrose path to the loss of national sovereignty and the end of our independence.

(...)

While Americans are sacrificing the future for the present, China is sacrificing the present for the future.

Beijing’s boom began after it devalued its currency in 1994. While a blow to Chinese consumers, devaluation gave Beijing a competitive edge over the other “Asian tigers.” Beijing then invited Western companies to locate new factories there to tap its pool of low-wage labor. As the price of access, Beijing demanded that Western companies transfer technology to Chinese partners. What the companies do not transfer, the Chinese extort or steal.

By offering excellent workers at $2 a day, guaranteeing no union trouble, allowing levels of pollution we would not tolerate, and ignoring health and safety standards, China has become the factory floor of the Global Economy and surpassed the United States as the world’s first choice for foreign investment.

(...)

In 2002, China ran up its largest trade surpluses with us in electrical machinery, computers, toys, games, footwear, furniture, clothing, plastics, articles of iron and steel, vehicles, optical and photographic equipment, and other manufactures. Among the 23 items where we had a surplus with China were soybeans, corn, wheat, animal feeds, meat, cotton, metal ores, scrap, hides and skins, pulp and waste paper, cigarettes, gold, coal, mineral fuels, rice, tobacco, fertilizers, glass. Beijing uses us as George III used his Jamestown colony.

in The American Conservative.


OAM 639 21-10-2009 02:10

terça-feira, outubro 20, 2009

Linha do Tua

Pare, Escute e Olhe !
Alexandre Melo: o mercado já não é a vanguarda!



Um excepcional documentário de Jorge Pelicano. Recordou-me —num registo obviamente mais subtil e informacional, o incendiário filme de Buñuel, "Las Hurdes". Este regresso do cinema verdade e da arte militante não poderia ser mais bem-vindo.

Impedir o fecho da Linha do Tua e a construção da criminosa barragem que a EDP, o senhor Sócrates e a restante pandilha do Bloco Central da Corrupção querem levar por diante, não é uma questão apenas crítica para os habitantes daquele vale belíssimo, para os cidadãos de Mirandela, Bragança e em geral da região transmontana e alto duriense — é uma questão crítica da maior importância para todos nós, portugueses!

O que está em causa é um plano de barragens irrelevante para a produção de energia, pois as 12 barragens previstas satisfariam apenas 3% das nossas actuais ineficientes e mal-geridas necessidades. Os objectivos escondidos da EDP têm que ser revelados. E na minha opinião são dois:
  1. colocar a EDP, depois de estabilizar a sua posição hegemónica no sector da produção de energia, à cabeça do controlo privado de um bem público escasso: a água! Este objectivo estender-se-à a prazo ao completo domínio privado das bacias hidrográficas do país, dos sistemas de abastecimento público de água e dos próprios off-shores marítimos!
  2. gerar activos capazes de mitigar a extrema fragilidade financeira da empresa gerida pelo pirata António Mexia, a qual, como se sabe, tem uma dívida acumulada de mais de 13 mil milhões de euros. Ou seja, mais de que quatro vezes o custo estimado do novo aeroporto da Ota em Alcochete!
Grandes empresas de construção e energéticas, bancos e sociedades financeiras obscuras, empresas de comunicação e o próprio Estado estão endividados até aos cabelos. Enquanto os banqueiros e alguns empresários falidos insistem diariamente, com a cumplicidade neo-fascista dos canais televisisvos controlados pelo governo, na necessidade de cortar a eito na despesa pública social, gritam ao mesmo tempo, como passarinhos esfomeados, por empreitadas e subsídios estatais (i.e. mais dinheiro dos contribuintes, sobretudo pela via da destruição do Estado Social) para salvar as suas empresas. É neste contexto que devemos olhar para a Linha do Tua (353 vídeos no YouTube). O que lá deixarmos morrer poderá ser o boomerang que em breve nos atingirá fatalmente na nuca.


OAM 638 20-10-2009 13:12

segunda-feira, outubro 19, 2009

H1N1 (3)

Vacinar o vértice do poder em primeiro lugar?!

H1N1: as primeiras vacinas anti gripais vão para Sócrates, Cavaco e Jaime Gama. Será? Há quem diga que estas vacinas podem matar!

H1N1 influenza virus image
Imagem do virus H1Ni in Wikipedia.

Se as estatísticas americanas se aplicassem a Portugal (afinal, são dois países do 1º mundo), a probabilidade de contrair a gripe por acção do H1N1 seria maior em José Sócrates e Jaime Gama (~3,9%) do que em Cavaco Silva (~1,3%), assim como a probabilidade de morrer em resultado dos danos colaterais provocados pelo vírus seria também maior para o Primeiro Ministro e para o Presidente da Assembleia da República (~24%), do que para o Presidente da República (~9%).

Embora o potencial mórbido do vírus seja algo preocupante uma vez contraída a infecção, a verdade é que a probabilidade de contracção do vírus é demasiado baixa para justificar a administração de uma vacina pouco testada e com efeitos adversos (por vezes fatais) conhecidos. Esta é aliás a razão porque boa parte dos médicos informa privadamente os seus doentes que não tenciona tomar a vacina impingida pela máfia das multinacionais farmacêuticas.

Que leva então as agências de informação a lançarem a campanha de vacinação da OMS no nosso país invocando os exemplos das três principais figuras do Estado? A pergunta está feita e seria bom que a nossa depauperada e manipulada imprensa investigasse o assunto. Até porque, diga-se em abono da verdade, quer o Director-Geral de Saúde, Francisco George, quer a Ministra da Saúde, Ana Jorge, têm mantido um comportamento até agora exemplar sobre este delicado tema. Portugal tem excelentes epidemiologistas, boas unidades de investigação sobre doenças contagiosas (nomeadamente de origem tropical), mas pergunto: terá um sector científico e institucional suficientemente corajoso e independente para se opor a qualquer possibilidade de manipulação da opinião pública em matéria tão sensível e preocupante?

Se por remota hipótese a pandemia da gripe suína estiver a ser empolada e manipulada por motivações comerciais, ou pior ainda, estratégico-militares, haverá quem no nosso país consiga desmascarar o embuste a tempo de evitar uma catástrofe? Eu sugiro que se comece por investigar a fileira do lucro nesta pessegada toda. Por onde entra, quem encomenda, quem paga e quem ganha com o gigantesco negócio montado em volta do H1N1?

Quanto à vacinação das altas figuras do Estado sugiro que tal operação seja controlada directamente por uma comissão médica expressamente nomeada para o efeito, com todas as garantias de transparência e acesso público aos detalhes da operação. Só assim estaremos todos tranquilos.

O facto de a OMS ter aconselhado os Estados a deixar de contar o número de infectados a partir dum indeterminado número de casos levanta dúvidas legítimas sobre a dimensão efectiva da pandemia, ou se existe mesmo uma pandemia. Daqui até ao surgimento de inúmeras teorias da conspiração, mas também de análises fundamentadas que merecem toda a nossa atenção foi um passo. Sou dos que pensam que devemos levar a sério o H1N1. Tenho tido até agora confiança nas autoridades sanitárias do meu país, mas gostaria de ver conferidos maiores e mais claros poderes ao director-geral de saúde, Frederico George, e à ministra Ana Jorge, no que se refere à decisão de uma campanha de vacinação generalizada. Este não pode ser um assunto onde haja interferência camuflada dos Serviços Secretos e do Ministério da Administração Interna. Se o Primeiro Ministro tem nesta matéria algum motivo fundado de segurança interna deve explicá-lo ao país, antes de largar os mastins das secretas e das agências de comunicação por aí.

Para uma melhor contextualização dos problemas convocados pela anunciada pandemia gripal que deverá atingir o nosso país com os primeiro frios de Inverno, aqui ficam algumas leituras de leitura obrigatória — umas objectivas e acertivas, outras arrepiantes! Mas antes de ler esta bibliografia seleccionada, fique a saber que o principal componente do Tamiflu é a flor de anis ! Disponível em qualquer ervanária, dá uma excelente infusão e vai muito bem com caril de vitela, porco e guisados à base de feijão vermelho e preto !

  • No António Maria: Tamiflu e H5N1.
  • Novel H1N1 Flu: Facts and Figures
    ... How many people have been infected with novel H1N1 flu?

    A CDC model was developed to try to determine the true number of novel H1N1 flu cases in the United States. The model took the number of cases reported by states and adjusted the figure to account for known sources of underestimation (for example; not all people with novel H1N1 flu seek medical care, and not all people who seek medical care have specimens collected by their health care provider). Using this approach, it is estimated that more than one million people became ill with novel H1N1 flu between April and June 2009 in the United States. The details of this model and the modeling study will be submitted for publication in a peer reviewed journal. — in CDC - Centers for Disease Control and Prevention (USA).
  • Debunking False Media Claims on the 2009 H1N1 Vaccine (Flu.gov / October 14, 2009)

    Myth: Healthy people are not vulnerable to dying from the new 2009 H1N1 virus.

    Fact: Both healthy people and people with underlying conditions, such as asthma and diabetes and other chronic diseases, are vulnerable to the 2009 H1N1 flu. CDC studies have shown that about 70 percent of people who have been hospitalized with this 2009 H1N1 virus have had one or more medical conditions previously recognized as placing people at “high risk” of serious seasonal flu-related complications. That leaves 30% of those hospitalized in the previously healthy category. The 2009 H1N1 flu has especially affected young people ages 5 to 24. A recent study of by the New England Journal of Medicine of 272 hospitalized H1N1 patients showed that although 60% of the children who were hospitalized had an underlying condition, the remaining 40 percent had no underlying condition. Since April, 81 children who contracted 2009 H1N1 flu have died.
  • Vaccine creators will refuse the H1N1 vaccine !
  • Swine flu jab link to killer nerve disease: Leaked letter reveals concern of neurologists over 25 deaths in America

    By Jo Macfarlane (Last updated at 11:05 PM on 15th August 2009)

    A warning that the new swine flu jab is linked to a deadly nerve disease has been sent by the Government to senior neurologists in a confidential letter.

    The letter from the Health Protection Agency, the official body that oversees public health, has been leaked to The Mail on Sunday, leading to demands to know why the information has not been given to the public before the vaccination of millions of people, including children, begins.

    It tells the neurologists that they must be alert for an increase in a brain disorder called Guillain-Barre Syndrome (GBS), which could be triggered by the vaccine.
  • Now legal immunity for swine flu vaccine makers.
    by F. William Engdahl

    The US Secretary of Health and Human Services, Kathleen Sebelius, has just signed a decree granting vaccine makers total legal immunity from any lawsuits that result from any new “Swine Flu” vaccine. Moreover, the $7 billion US Government fast-track program to rush vaccines onto the market in time for the Autumn flu season is being done without even normal safety testing. Is there another agenda at work in the official WHO hysteria campaign to declare so-called H1N1 a pandemic virus threat?

    First and foremost, neither the WHO nor the CDC or any other scientific body has demonstrated required scientific proof for the existence of the alleged H1N1 Influenza A new virus, a proof which requires such a virus to be scientifically isolated, characterized and photographed with an electron microscope—the scientifically accepted standard procedure. Yet it is being used as the basis for declaring a global “pandemic” threat.

    The current official panic campaign over alleged Swine Flu danger is rapidly taking on the dimensions of a George Orwell science fiction novel. The document signed by Sebelius grants immunity to those making a swine flu vaccine, under the provisions of a 2006 law for public health emergencies.
  • Martial Law and the Militarization of Public Health: The Worldwide H1N1 Flu Vaccination Program. By Michel Chossudovsky

    ... There is ample evidence, documented in numerous reports, that the WHO's level 6 pandemic alert is based on fabricated evidence and a manipulation of the figures on mortality and morbidity resulting from the N1H1 swine flu. — in Global Research, 26-07-2009.
  • 2 new moms in Bay Area die from swine flu; concern raised about risk for pregnant women

    Swine-flu virus has claimed the lives of two Bay Area women who recently gave birth, adding to the growing body of evidence that pregnancy puts women at increased risk of flu-related hospitalization and death.

    News of the deaths comes as the federal Centers for Disease Control and Prevention recommends that pregnant women be among the first to receive a vaccine, when it's available. The CDC also urges that anti-viral drugs like Tamiflu or Relenza be quickly administered to pregnant women with suspected influenza. — in MercuryNews.com (31-07-2009).
  • Pregnancy likely to be swine flu shot priority

    ATLANTA — Swine flu has been hitting pregnant women unusually hard, so they are likely to be among the first group advised to get a new swine flu shot this fall.

    Pregnant women account for 6 percent of U.S. swine flu deaths since the pandemic began in April, even though they make up just 1 percent of the U.S. population.

    On Wednesday a federal vaccine advisory panel is meeting to take up the question of who should be first to get swine flu shots when there aren't enough for everyone. At the top of the list are health care workers, who would be crucial to society during a bad pandemic.

    But pregnant women may be near the top of the list because they have suffered and died from swine flu at disproportionately high rates.
  • First picture of pregnant mother flown to Sweden for emergency swine flu treatment

    A pregnant mother with swine flu was battling for her life last night after being flown to Sweden for emergency treatment.

    Sharon Pentleton developed adult respiratory distress syndrome, a rare complication of swine flu.

    She was taken to the Karolinska University Hospital in Stockholm because a specialist five-bed NHS unit in Leicester was full.

    Patients included two other swine flu victims. Her chances of recovery are put at 50-50. — DailyMail (25-07-2009)


OAM 637 19-10-2009 12:16 (última actualização: 21-10-2009 00:37)

domingo, outubro 18, 2009

Obama Nirvana

Caminhando em direcção à luz?
Será a mensagem sobre o Diwali, pelo homem mais poderoso do planeta, um sinal? Que sinal?




Os tempos que aí vêm já não se compadecem com as oratórias cansadas do cada vez mais insuportável populismo político predominante no Ocidente, venha o dito da Direita ou da Esquerda, do falso Centro ou da Extrema Esquerda quadrada e mumificada nas suas falidas ortodoxias litúrgicas. O desenrolar inicial das agendas partidárias após o recente ciclo eleitoral prenunciam infelizmente uma procissão de impasses até à grande crise que se aproxima vertiginosamente de todos nós. Quando uma situação apodrece e o caldo de hipocrisias e tensões começa a ferver lentamente, basta uma faísca qualquer para que a guerra civil estale. O milhão de espanhóis que ontem (Sábado) confluiu para Madrid (1), protestando contra o fundamentalismo anti-humanista do pensamento senil da Esquerda é tão só um aviso do que, de um dia para outro, pode fazer descarrilar de novo as democracias ibéricas.

O enigma do Prémio Nobel da Paz deste ano merece pois, neste contexto que se degrada dia a dia, uma reflexão nada leviana, mas atenta e futurista.
O Diwali [...] é uma festa religiosa hindu, conhecida também como o festival das luzes. Durante o Diwali, celebrado uma vez ao ano, as pessoas estreiam roupas novas, dividem doces e estouram rojões e fogos de artifício. Este festival celebra o assassinato de Narakasura, o que converte o Diwali num evento religioso que simboliza a destruição das forças do mal — in Wikipédia.

O MITO DO ETERNO RETORNO
Para nossos propósitos, só uma questão deve nos preocupar: como pode o "terror da história" ser tolerado a partir do ponto de vista do historicismo? A justificação de um acontecimento histórico, pelo simples fato de ele ser um acontecimento histórico, em outras palavras, pelo simples fato de ter "acontecido dessa maneira", não caminha no sentido de libertar a humanidade do terror que o acontecimento inspira. Deve-se compreender que não estamos aqui preocupados com o problema do mal, que, independente do ângulo a partir do qual possa ser visto, permanece como um problema filosófico e religioso; estamos preocupados, isto sim, com o problema da história como história, do "mal" que está limitado não pela condição do homem, mas pelo seu comportamento em relação aos outros. Deveríamos querer saber, por exemplo, como seria possível tolerar e justificar os sofrimentos e a aniquilação de tantas pessoas que sofrem e que são aniquiladas pela simples razão de que sua situação geográfica as coloca no caminho da história; por serem vizinhos de impérios que se encontram em estado de permanente expansão. Como justificar, por exemplo, o fato de o sudeste da Europa ter sofrido durante séculos — sendo portanto obrigado a renunciar a qualquer impulso no sentido de uma existência histórica mais elevada, na direção da criação espiritual no plano universal — pela única razão de que estava no caminho dos invasores asiáticos e, mais tarde, vizinho do Império Otomano? E, em nossos dias, quando as pressões históricas já não permitem mais qualquer fuga, como pode o homem tolerar as catástrofes e horrores da história — desde as deportações e massacres coletivos até os bombardeios atômicos — se, além deles, não consegue ver qualquer sinal nem significado trans-histórico; se esses acontecimentos são apenas as jogadas cegas de forças econômicas, sociais ou políticas, ou, pior ainda, unicamente o resultado das "liberdades" que uma minoria toma e exercita de modo direto sobre o cenário da história universal?

Sabemos como, no passado, a humanidade conseguia suportar os sofrimentos que já tivemos oportunidade de enumerar: eles eram considerados como uma punição aplicada por Deus, a síndrome do declínio da "era", e assim por diante. E era possível aceitar os acontecimentos precisamente porque tinham um significado meta-histórico, porque, para a maior parte da humanidade, ainda apegada ao ponto de vista tradicional, a história não tinha, e nem poderia ter, valor em si mesma. Todos os heróis repetiam o gesto arquetípico, todas as guerras ensaiavam a luta entre o bem e o mal, cada nova injustiça social era identificada com os sofrimentos do Salvador (ou, por exemplo, no mundo pré-cristão, com a paixão de um mensageiro divino ou deus da vegetação), cada novo massacre repetia o glorioso fim dos mártires. Não nos compete aqui decidir se tais motivos eram pueris ou não, nem se uma tal rejeição da história mostrava-se sempre eficaz. Em nossa opinião, só um fato importa: em virtude deste ponto de vista, dezenas de milhões de homens, século após século, foram capazes de suportar enormes pressões históricas sem se desesperar, sem cometer o suicídio nem cair naquela aridez espiritual que sempre traz consigo uma visão relativista ou niilista da história. — O Mito do Eterno Retorno (1954), Mircea Eliade (1907-1986). Ed. Mercuryo Ltda. (1992).

Ler também artigo em inglês na Wikipedia, e em particular este trecho da versão inglesa original de The Myth of the Eternal Return: Cosmos and History, de Mircea Eliade:
"In our day, when historical pressure no longer allows any escape, how can man tolerate the catastrophes and horrors of history—from collective deportations and massacres to atomic bombings—if beyond them he can glimpse no sign, no transhistorical meaning; if they are only the blind play of economic, social, or political forces, or, even worse, only the result of the 'liberties' that a minority takes and exercises directly on the stage of universal history?

"We know how, in the past, humanity has been able to endure the sufferings we have enumerated: they were regarded as a punishment inflicted by God, the syndrome of the decline of the 'age,' and so on. And it was possible to accept them precisely because they had a metahistorical meaning [...] Every war rehearsed the struggle between good and evil, every fresh social injustice was identified with the sufferings of the Saviour (or, for example, in the pre-Christian world, with the passion of a divine messenger or vegetation god), each new massacre repeated the glorious end of the martyrs. [...] By virtue of this view, tens of millions of men were able, for century after century, to endure great historical pressures without despairing, without committing suicide or falling into that spiritual aridity that always brings with it a relativistic or nihilistic view of history". — Mircea Eliade, The Myth of the Eternal Return: Cosmos and History. Princeton: Princeton UP, 1971 (1954); in Wikipedia.

NOTAS
  1. Em Espanha, como é sabido, o aborto é praticado livremente e tornou-se aliás num negócio próspero há já vários anos. Pois bem, a tonta Esquerda espanhola, certamente pensando distrair o povo do buraco negro para onde foi conduzido pelas mãos laicas e corruptas da aliança entre os armani-marxistas do PSOE e a corja mundial da especulação imobiliária e financeira, resolveu escarafunchar a legislação sobre a IVG e propor que qualquer jovem mulher com 16 anos ou mais possa decidir individualmente (no foro íntimo da sua consciência, dizem) sobre a sua gravidez até às 16 semanas de desenvolvimento do feto que eventualmente traga no útero. Quer dizer, sem necessitar de autorização dos pais, nem do namorado ou marido, caso tenha. No entanto, esta mesma jovem adulta está proibida por lei de fumar e tomar bebidas alcoólicas. A noção de livre arbítrio tem para o exibicionismo decadente da Esquerda actual, como se vê, dois pesos e duas medidas. Descriminalizar a prática do aborto é uma exigência de saúde pública e de tolerância social e humanista, liberalizar comportamentos irresponsáveis e conferir poderes absolutos à mulher em matéria de procriação é, pelo contrário, ilegítimo, contra-natura e uma insensatez cultural que pagaremos caro, mais cedo do que alguns previram.


OAM 636 18-10-2009 01:25

quinta-feira, outubro 15, 2009

Portugal 134

A Quarta Geração
"Todas as coisas humanas são redondas" — inscrição no templo de Atenas, Atenas (Grécia)
Porque é que as sondagens e os palpites falharam tanto no ciclo eleitoral que agora termina? Pois por uma razão simples mas ignorada: a Geração Silenciosa está a morrer! E morrendo esta geração (1925-1942), morre a base dirigente e os segmentos mais estáveis e importantes das coutadas eleitorais do PSD e... do PCP!

Estas duas forças políticas têm um dilema pela frente: já não podem confiar no que a lei natural aparta aceleradamente deste mundo, e não têm, por outro lado, gente nem solidariedades suficientes na geração seguinte (1943-1960), pelo que estão confrontados entre pescar algumas almas penadas insuficientes na geração X (1961-1981), ou esperar que da Geração Milénio (1980-2001) surjam os heróis capazes de enfrentar uma crise mundial e nacional cujo pico mais dramático será atingido entre 2015 e 2030.

As mortes da minha mãe (1923-2002) e do meu pai (1926-2009) fizeram-me pensar em algo que até à leitura do magnífico livro de William Strauss e Neil Howe —The Fourth Turning, An American Prophecy— me escapara: o determinismo teleológico de que todos padecemos desde os alvores da Modernidade. Isto é, desde o século 16 (se não mesmo desde a emergência traumática —até hoje— do Judaico-Cristianismo), e mais radicalmente desde que o Darwinismo, o Positivismo, o Idealismo Hegeliano e o Marxismo instauraram os mitos da Individuação e da História. Há muito, pois, que deixámos de olhar para uma faceta simples da vida: todos morremos, e damos continuidade à vida através dos nossos descendentes. Ou seja, o determinismo histórico e as teleocracias que continuam a dominar a estrutura mental da maioria das organizações —nomeadamente partidárias— são afinal ilusões efémeras do ciclo contínuo/descontínuo da realidade. Lutar contra este dinâmico mas imutável círculo tem conduzido a várias desgraças humanas, entre as quais o possível suicídio demográfico do Ocidente.

Portugal: em cada 100 pessoas com mais de 15 anos, terão 65 anos ou mais, em 2010, 27 delas; 39 em 2030; e em 2050, 61 (1). Como se este envelhecimento não bastasse, seremos em 2050 menos 693 mil portugueses do que hoje somos —i.e. o equivalente a mais do que população actual das cidades de Lisboa e Setúbal (2).

Para termos uma ideia da gravidade desta situação, convém observar as implicações da mesma na nossa economia: sem um boom no sector das exportações (3), para o que faltam capital, pessoas qualificadas, energia e um adequado sistema de transportes e mobilidade, será impossível escapar ao garrote das dívidas pública, privada e externa a que já começámos a sucumbir. Pior: se nos metermos pelo programa de obras públicas especulativas do Bloco Central, assassinaremos de vez qualquer hipótese de preparar o que se afigura cada vez mais como um programa de salvação do país.

Se continuarmos como até aqui, sob o império do oportunismo ou da indolência, seremos comidos vivos por uma Espanha dramaticamente a braços com a sua própria e gigantesca crise de identidade e de paradigma económico. É o mínimo que nos poderá acontecer. Mas também poderemos voltar à tragédia duma prolongada guerra civil imposta pelos grande interesses geo-estratégicos que neste preciso momento se preparam para uma grande crise, provavelmente bélica, de gigantescas proporções, lá para 2015-2020. Basta para tal que nos afundemos, como prometem o Bloco Central e o Bloco de Esquerda, no endividamento público e externo ao ritmo das últimas duas décadas (4).

Os Baby Boomers —geração de que faço parte (1943-1960)— tem em cima dos ombros a pesada responsabilidade de entender e corajosamente enfrentar os sérios desafios que temos pela frente. E tem-na quase exclusivamente, pois, por um lado, a "heróica" geração anterior está a desaparecer muito rapidamente, por outro, só marginalmente poderá contar com a ajuda dos egoístas compulsivos (5) da Geração X (1961-1981). Por fim, a esperada geração do milénio, metade física, metade virtual, omnipresente no território cultural, da eco-economia, bem como de uma nova filosofia, simbiótica, da política, tarda em chegar. Não chegou a tempo, por exemplo, do ciclo eleitoral deste Outono. Mas já cá estará, esperemos que em força, em 2012 e em 2013! Os primeiras aves do novo heroísmo acabam de chegar ao Parlamento: Isabel Maria Sequeira e Rita Rato. Bem-vindas!

Farão bem Manuela Ferreira Leite e Cavaco Silva se segurarem a actual direcção do partido, dando força ao seu grupo parlamentar, e sobretudo lançando-se numa corrida louca pelo sangue verdadeiramente novo de que o corpo envelhecido do PSD precisa urgentemente para morrer em paz, dando lugar a uma boa descendência. Dos néscios que agora exigem a cabeça da líder, nada podem esperar. Pelo que o melhor mesmo é expulsá-los do corpo partidário onde se alojaram como vírus perniciosos e carga inútil. Quanto ao boomer Jerónimo de Sousa, um conselho: que mil Ritas se multipliquem no seu partido, pois dessa proliferação depende o futuro ou o naufrágio de uma energia política essencial ao país. Bloquistas, muito cuidado no que dizem e fazem. Não se esqueçam que apenas vos emprestámos os votos por algum tempo. É um swap com retorno prometido! Se falharem a entrega dos juros, estarão arrumados bem antes das vossas legítimas expectativas. Até porque o Partido Socialista talvez tenha mesmo começado a mudar neste ciclo eleitoral.

Para quem pensar que estou a delirar, recomendo uma meditação prolongada sobre a arrumação generativa que fiz à luz da metodologia de Strauss e Howe. Se me quiserem dar o prazer de ampliar o exercício, façam favor!

Aplicando a cronologia das "grandes descontinuidades" (ekpyrosis ) elaborada por William Strauss e Neil Howe ao caso português, poderemos olhar para os protagonistas da grande crise que vai de 1961 (início da luta armada nos ex-territórios coloniais portugueses) a 1974-76 (golpe de Estado militar seguido de uma crise pré-insurreccional e estabilização constitucional) enunciando as correspondentes gerações desta forma:


G.I.Generation
/ Hero (Civic) - 1901-1924

Adquire consciência política entre a Grande Depressão, a Ditadura Salazarista, a Guerra Civil Espanhola e a II Guerra Mundial). Inicia os confrontos que levarão ao fim da ditadura Salazarista.

Bento de Jesus Caraça (1901-1948)
Adelino da Palma Carlos (1905-1992)
Humberto Delgado (1906-1965)
Adolfo Casais Monteiro (1908-1972)
Gen. Spínola (1910-1996)
Álvaro Cunhal (1913-2005)
Gen. Costa Gomes (1914-2001)
Almirante Pinheiro de Azevedo (1917-1983)
Jorge de Sena (1919-1978)
Eduardo Mondlane (1920-1969)
Agostinho Neto (1922-1979)
Vasco Gonçalves (1922-2005)
Francisco Salgado Zenha (1922-1993)
Amílcar Cabral (1924-1973)
Mário Soares (1924-)


Silent Generation
/ Artist (Adaptive) - 1925-1942

Adquire consciência política durante a II Guerra Mundial, a Guerra Fria e os movimentos anti-coloniais na Ásia e em África. Desencadeia a oposição institucional à ditadura Salazarista, e finalmente o golpe militar que em 24 horas a derruba (1974).

António Almeida Santos (1926-)
Maria de Lourdes Pintassilgo (1930-2004)
Medina Carreira (1931-)
José Silva Lopes (1932-)
Álvaro Siza Vieira (1933-)
Francisco Sá Carneiro (1934-1980)
Américo Amorim (1934-)
Paula Rego (1935-)
Jorge Jardim Gonçalves (1935-)
Magalhães Mota (1935-2007)
Manuel Alegre (1936-)
Francisco Pinto Balsemão (1937-)
Belmiro de Azevedo (1938-)
Jorge Sampaio (1939-)
Aníbal Cavaco Silva (1939-)
Manuela Ferreira Leite (1940-)
Boaventura Sousa Santos (1940-)
Artur Santos Silva (1941-)

Capitão Melo Antunes (1933-1999)
General Ramalho Eanes (1935-)
Major Otelo Saraiva de Carvalho (1936-)
Coronel Jaime Neves (1936-)
Capitão Vasco Lourenço (1942-)


(Baby) Boom Generation
/ Prophet (Idealist) - 1943-1960

Adquire consciência política com a Revolução Cubana, a ocupação e fim do Estado Português da Índia, o início da guerra colonial na África Portuguesa, a eleição de John F. Kennedy para a presidência dos EUA, a crise dos mísseis em Cuba, a Guerra do Vietnam, a cultura Hippie e Pop e os movimentos estudantis radicais da década de 60. É protagonista decisiva no eclodir da crise social, política e militar que conduz ao 25 d Abril. O seu idealismo radical afasta-a, porém, da condução da política, que viria a ser protagonizada por uma aliança pragmática entre a geração de Álvaro Cunha a Mário Soares e a geração silenciosa, que com vagar e prudência lá foi alinhando com a transformação do regime. O destino desta geração, cujos sobreviventes, em regra, só a partir da década de 80 acedem ao patamar da liderança política e cultural, é preparar a emergência e acolher a geração do milénio.

Mota Amaral (1943-)
Alberto João Jardim (1943-)
Vítor Constâncio (1943-)
Capitão Salgueiro Maia (1944-)
José Luís Saldanha Sanches (1944-)
António Damásio (1944-)
Ricardo Salgado (1944-)
Joe Berardo (1944-)
Capitão Diniz de Almeida (1945-)
Joaquim Ferreira do Amaral (1945-)
Ângelo Correia (1945-)
Jaime Gama (1947-)
Ruben de Carvalho (1947-)
Jerónimo de Sousa (1947-)
Helena Roseta (1947-)
Marcelo Rebelo de Sousa (1948-)
António Guterres (1949-)
José Pacheco Pereira (1949-)
Fernando Teixeira dos Santos (1951-)
Fernando Ulrich (1952-)
Luís Amado (1953-)
Luís Filipe Menezes (1953-)
Jorge Coelho (1954-)
Luís Campos e Cunha (1954-)
Francisco Louçã (1956-)
José Manuel Durão Barroso (1956-)
António Vitorino (1957-)
António Mexia (1957-)
José Sócrates (1957-)
José Pedro Aguiar Branco (1957-)
Rui Rio (1957-)


Generation X/ Nomad (Reactive) - 1961-1981

Adquirir consciência política no ambiente exuberante do Cavaquismo e dos efeitos surpreendentes da entrada de Portugal na União Europeia e no paraíso artificial do Euro. Não se reconhece em causas de qualquer espécie e instaura a cultura do egoísmo competitivo, das praxes académicas violentas, dos shots e da "natural" condescendência perante os fenómenos de corrupção. Factores internacionais que contribuíram para a atitude anti-política desta geração: Perestroyka, Queda do Muro de Berlim, corrupção das sociais-democracias.

António Costa (1961-)
Paulo Portas (1962-)
António José Seguro (1962-)
José Luís Arnaut (1963-)
António Filipe (1963-)
Pedro Passos Coelho (1964-)
Paulo Pedroso (1965-)
Francisco Assis (1965-)
Nuno Melo (1966-)
Zeinal Bava (1966-)
Marco António (1967-)
Paulo Rangel (1968-)
José Eduardo Martins (1969-)
Teresa Caeiro (1969-)
Bernardino Soares (1971-)
Sérgio Sousa Pinto (1972-)
Luis Figo (1972-)
Ana Drago (1975-)
Joana Amaral Dias (1975-)
Miguel Teixeira (1977-)


Millennial Generation / Hero (Civic) (1982-2003?)

Adquire consciência política com a Guerra Civil na ex-Jugoslávia, o 11 de Setembro, a Guerra no Iraque, as devastações do ciclone Katrina e do tsunami na Tailândia, a percepção das ameaças climáticas e do actual modelo de crescimento à sobrevivência das espécies, incluindo a humana, além de perceber, pela primeira vez, que apesar da sua exigente preparação académica, só poderá esperar um cenário de desemprego e falta de emprego estrutural pela frente (6).

Pedro Rodrigues (1982-)
Rita Rato (1983-)
Cristiano Ronaldo (1985-)
Isabel Maria Sequeira (1986-)
?


NOTAS
  1. UNdata - Elderly-dependency ratio (per cent).
  2. World Population Prospects: The 2008 Revision. UN.
  3. Modigliani's work implies that a country with an ageing population must grow its exports aggressively in order not to build up an unsustainably large current account deficit.

    The IMF has calculated that the cost of age-related spending in the average advanced G20 country will cause public debt-to-GDP to grow to over 400%, with Spain and Greece reaching over 600% unless the existing welfare model is cut back. -- Niels C. Jensen for John Mauldin's "Outside The Box". Ver ainda Ageing and Export Dependency on the Agenda. Por Claus Vistesen. Alpha.Sources (13-10-2009)
  4. Recomendo a este propósito a leitura do oportuno Portugal, que Futuro — o tempo das mudanças inadiáveis, de Medina Carreira (2009).
  5. É sempre perigoso e indelicado generalizar, como bem me avisa José Silva (do importante blog Norteamos). Levar-nos-ia, porém, longe elucidar de forma precisa o retrato comportamental da chamada Geração X. Basta, para já (voltarei ao tema), dizer que esta geração se deparou simultaneamente com a perda pública de inocência relativamente aos sonhos que cantam do "socialismo real" e súbita afluência de um Capitalismo virado agressivamente para o consumo ostensivo, para a desregulamentação dos mercados, para a competição sem freio e para uma cultura cada vez mais cínica, manipuladora, enfatuada e especulativa. Alérgica ao hedonismo intelectual dos boomers que progressivamente tomavam conta do poder, a dita geração MTV, ou Reagan Generation, de que os personagens Beavis and Butt-head são geniais protagonistas, é certamente mais do que uma geração egoísta. Não deixa porém de ser uma geração de transição. Ler a propósito: GenXegesis: essays on alternative youth (sub)culture, por Por John McAllister Ulrich,Andrea L. Harris.
  6. Esta perspectiva vem aliás assinalada num recente artigo da Christian Science Monitor online, que uma leitora amiga enviou depois de ler este artigo.
    "This is the worst time in a generation for young people, but it's the 16-to 18-year-olds who are worse affected" [...] "Almost a million young Britons are now called 'neets' – not in education, employment, or training." — in Will recession create another 'lost generation' of British youth?, CSMonitor.


OAM 635 15-10-2009 16:31 (última actualização: 16-10-2009 00:50)

quarta-feira, outubro 07, 2009

Ouro 2

Era uma vez o dólar...

The demise of the dollar

In a graphic illustration of the new world order, Arab states have launched secret moves with China, Russia and France to stop using the US currency for oil trading

By Robert Fisk
Tuesday, 6 October 2009 (The Independent)

In the most profound financial change in recent Middle East history, Gulf Arabs are planning – along with China, Russia, Japan and France – to end dollar dealings for oil, moving instead to a basket of currencies including the Japanese yen and Chinese yuan, the euro, gold and a new, unified currency planned for nations in the Gulf Co-operation Council, including Saudi Arabia, Abu Dhabi, Kuwait and Qatar.

Secret meetings have already been held by finance ministers and central bank governors in Russia, China, Japan and Brazil to work on the scheme, which will mean that oil will no longer be priced in dollars.

The plans, confirmed to The Independent by both Gulf Arab and Chinese banking sources in Hong Kong, may help to explain the sudden rise in gold prices, but it also augurs an extraordinary transition from dollar markets within nine years.

O Iraque foi invadido duas vezes depois de Saddam Hussein ter balbuciado a sua intenção de substituir o depauperado dólar americano por outra moeda qualquer nas transacções petrolíferas. A campanha contra o Irão tem a mesma origem, i.e. no facto de o Irão ter decidido vender petróleo a troco de euros e ienes (Global Research). Só que aqui a coisa tem-se tornado cada vez mais difícil para as intenções agressivas dos EUA, pois precisamente a China, o Japão e a Índia, já para não mencionar a França, Itália, Holanda, Grécia, Espanha e África do Sul, principais clientes do Irão (Iran Energy Data), não estão nada interessados em repetir na terra dos persas os desastres em curso no Iraque e no Afeganistão.

Daí que, ao que parece secretamente, alguns países importantes e/ou emergentes começaram a conspirar sobre uma maneira de acabar simpaticamente com a hegemonia da moeda americana nas trocas internacionais. Este abcesso criado em 1971, quando Richard Nixon rasgou abruptamente os acordos de Bretton Woods, que vinculavam as moedas de todo o mundo à moeda americana, mas na condição de esta ter uma paridade fixa com o ouro (1 onça de ouro fino valia então 35USD, hoje vale mais de 1000USD!), acabaria por rebentar por efeito das prolongadas e sucessivas crises financeiras e de endividamento do Japão (1990-2010?) e Estados Unidos (2001-2020?)

Ao contrário do que a propaganda político-financeira tem querido fazer crer, a crise de endividamento encadeado dos EUA, da Europa e do Japão não terminará tão cedo. Pelo contrário, poderá agravar-se de um momento para o outro, e de forma rápida e exponencial!

Os factores puramente financeiros que continuam a pesar sobre a actual crise são essencialmente quatro:
  1. a desvalorização constante da moeda americana,
  2. o endividamento profundo das economias mais desenvolvidas e a sua entrega irresponsável ao mundo onírico e puramente artificial do crédito barato e ilimitado,
  3. o insondável buraco negro dos produtos derivados,
  4. a falta de uma nova bolha especulativa credível, pois a das energias renováveis começou a esvaziar, e a do hipermercado dos futuros créditos de carbono poderá nem sequer levantar voo.
Nada, neste lado do problema pode sarar-se espontânea e rapidamente — como se vê. Quanto mais se endividam as economias maior será o peso das dívidas, do serviço das dívidas, e mais escasso e caro será o dinheiro no futuro. Se a resposta dos caloteiros for imprimir mais papel-moeda, ou digitar cifras num contador electrónico sem fim, as suas moedas desvalorizarão inexoravelmente (veja-se o que tem sucedido ao dólar americano e à libra inglesa.)

Por sua vez, os principais factores económicos que permanecem na origem profunda da crise, que não tem solução à vista, são os seguintes:
  1. a migração das indústrias para Oriente em busca de trabalho árduo e barato, com direitos sociais escassos e sem constrangimentos de segurança nem ambientais relevantes;
  2. a extinção e desmaterialização progressivas do trabalho, por efeito da incorporação crescente de novas tecnologias, nomeadamente electrónicas e de automação, com a consequente expansão do desemprego permanente e da falta de emprego;
  3. a substituição da lógica de acumulação/poupança por uma lógica de especulação/consumo, a qual só pode subsistir se assentar em formas de domínio imperial e/ou colonial (que tanto os EUA, como a Europa, deixaram de poder assegurar);
  4. o envelhecimento populacional, associado ao colapso anunciado dos sistemas de segurança social;
  5. a crise energética, para o que tardou, porventura irremediavelmente, a investigação e desenvolvimento atempados de novos paradigmas e/ou soluções de transição;
  6. a exaustão dos principais recursos em que assentou o desenvolvimento humano nos últimos 200 anos: água, carvão, petróleo, gás natural, terra arável, fauna, flora e biodiversidade;
  7. alterações climáticas provocadas por uma lógica de crescimento insustentável, cujos contornos foram precisamente detalhados em 1972 num célebre à época, mas rapidamente esquecido relatório do Clube de Roma, intitulado The Limits to Growth.
Finalmente, há uma conjuntura política internacional explosiva pairando em surdina sobre a Humanidade. A batalha mundial pelos recursos financeiros (i.e. fiduciários), energéticos, económicos e naturais já começou, ainda que sob a forma, aliás, clássica, dos conflitos periféricos e/ou vicariantes. Sabemos já que qualquer manobra militar, ou mesmo diplomática, corre o risco de fazer disparar os preços do petróleo, do gás natural e do ouro, a que se seguirão depois as subidas dos recursos alimentares. As perspectivas são muito preocupantes. Só não vê quem não quer.

As pessoas e os países devem pois preparar-se para o pior, e não adormecer nas cantigas de embalar dos especuladores de toda a espécie que inundam os canais de comunicação de massas. Antes de investir pense muito bem no que vai fazer. Persistir na lógica consumista e/ou especuladora do endividamento fácil, berrando por taxas de juros negativas, como fazem os populistas de todos os quadrantes, é pior do que dar um tiro na cabeça. Porque é convocar a tortura e a morte lenta da nossa civilização e da nossa cultura.

As fronteiras estarão de volta mais cedo do que agora conseguimos imaginar. Preparemos pois esse dia, e até lá, apliquemos parte das nossas poupanças nalgum ouro fino e em quintas e quintinhas com água potável e terra fértil.


OAM 634 07-10-2009 01:12

terça-feira, outubro 06, 2009

TAP 6

Temos que ser surdos à demagogia populista, de direita (CDS) e de esquerda (PS, PCP, BE)

Se a TAP desaparece e as Low Cost não querem Alcochete, para quê um novo aeroporto? E o fecho da Portela?!

A TAP e a RTP não são serviços tão essenciais ao país, i.e. sem quem os substitua com vantagem económica e qualidade, que mereçam continuar a ser generosamente subsidiados por todos nós, tornando mais difícil acudir às verdadeiras emergências sociais (pensões e reformas) e necessidades estratégicas do país (electrificação e renovação integral da rede ferroviária nacional, modernização dos portos marítimos e fluviais, adaptação das grandes urbes ao paradigma energético pós-carbónico e criação de uma rede de cidades ecológicas, desenvolvimento acelerado de uma verdadeira economia do mar e adequação do sistema de defesa nacional aos desafios que se desenham no horizonte.)

Há muito para criar e há por conseguinte centenas de milhar de novos empregos à espera de um Portugal liberto da geração de burocratas e especuladores que há uma vintena de anos impedem o seu desenvolvimento sustentável. Insistir na manutenção de empregos inviáveis é um estupidez sem nome.

O Estado e as empresas públicas em geral precisam urgentemente de emagrecer, para pouparmos nas dívidas pública e externa, para termos maior produtividade e qualidade nos serviços, para libertar recursos que permitam à sociedade civil produzir mais e melhor e sobretudo libertar-se da indigência burocrática e da subsidio dependência que vêm definhando o país.

O sindicato dos Pilotos de Aviação Civil (SPAC) defende que o encerramento da TAP teria como consequência para o país o "aumento da dívida pública em mais de 1,5 mil milhões de euros e do défice público em 1,5% do PIB, em 2010, devido ao aumento do desemprego em mais de 12 mil pessoas e ao pagamento de indemnizações por rescisão".

Em comunicado, reagindo à manchete de hoje do Diário Económico, os pilotos avançam que as consequências do encerramento da companhia aérea para o país "serão substanciais", sobretudo depois dos compromissos feitos, como a construção do Novo Aeroporto de Lisboa.

Além disso, os pilotos apontam a redução das exportações em 0,8%, a redução do número de ligações aéreas de Portugal a outros destinos, a perda de quota de mercado, entre outros.

O SPAC defende que a "a acontecer [o encerramento da companhia aérea] não será por culpa dos Acordos de Empresa dos trabalhadores ou dos pilotos (...) mas sim por causa dos erros de gestão, como as excessivas compras de aviões ou empresas falidas, financiadas por dívida onerosa".

Ref.: Fim da TAP agrava dívida pública em 1,5 mil milhões (Económico)


OAM 633 06-10-2009 18:45

TAP 5

A TAP acabou!

Que tal criar uma nova companhia transcontinental, com capitais lusos, brasileiros, angolanos, moçambicanos e caboverdianos?


A blogosgfera tem vindo a fazer avisos à navegação sobre este assunto há quase 3 anos. Os corruptos, os incompetentes, os néscios, os distraídos e os protestantes tardo-marxistas, tardo-leninistas e tardo-trotsquistas não nos ligaram nenhuma. O resultado está à vista!

A TAP tem mais pessoal que a Air Berlin, easyJet e Ryanair juntas —escrevemos isto uma boa dúzia de vezes.

Há coisas que não têm solução, a não ser que seja radical. Por exemplo, como é que um putativo grupo como a TAP+PGA pode aguentar-se na competição europeia pela concentração do sector aéreo transportador, quando os três maiores operadores de Low Cost europeus - Ryanair, Easy Jet e Air Berlin -, que movimentam conjuntamente mais de 87 milhões de passageiros/ano, têm menos assalariados ao seu serviço do que a TAP+PGA (9.945 contra 10.110), que, por sua vez, movimenta menos de um décimo daquele número de passageiros?! — in OAM, 8 JAN 2007.

TAP
Dívida acumulada: 2 467 milhões de euros (activos: 2 261 M€);
Défice em 2008: 320 milhões de euros;
Custo da inviável PGA (Grupo BES), impingida politicamente à TAP: 140 milhões de euros;
Número de trabalhadores por avião: 156,3 (Alitalia: 122,9; média da Ryanair, easyJet e Air Berlin: 37,5);
Load factor: 2005 = 72,3%; 2008 = 63,8% (easyJet = 85%)
Origem do tráfego aéreo nacional: Europa: 80% (Península Ibérica: 30%); Brasil, Venezuela, Angola e Cabo Verde: 14,5%
Futuro da TAP: falência e possível incorporação, com menos 3 a 5 mil trabalhadores, na Lufthansa ou na Air France. As hipóteses angolana e chinesa estão cada vez mais longínquas (apesar dos correios que não param de viajar entre cá e lá...) — in OAM, Abril, 2009.

Como qualquer ferida com pus deve ser lancetada quanto antes. Por profissionais, com atenção e cuidados extremos, para não ferir para além do inevitável.

Notícia no Económico


OAM 632 06-10-2009 18:38

sábado, outubro 03, 2009

Portugal 133

Cavaco-Sócrates: depois do arrufo, a reconciliação

Bloco Central soma e segue


Escrevi antes de a tempestade atingir o seu clímax que a razão e os interesses de ambos chamaria Aníbal Cavaco Silva e José Sócrates Pinto de Sousa à renovação dos votos de uma cooperação institucional reforçada. A telenovela das escutas não passou, pois, de uma encenação canalha destinada a travar uma vitória escassa —que a ser escassa seria muito inoportuna—, de Manuela Ferreira Leite nas eleições do passado dia 27 de Setembro.

De facto, o actual Presidente da República ajudou o PS a ganhar/perder as eleições, para com este resultado evitar levar ao colo o PSD até a uma mais do que previsível derrota de Cavaco nas próximas eleições presidenciais. Quer dizer, a simples hipótese de uma maioria relativa de Manuela Ferreira Leite, acompanhada de uma maioria de esquerda parlamentar, foi o grande pesadelo que afligiu Cavaco Silva até ao Domingo passado. E daí que, por incrível que pareça, o actual presidente da república talvez tivesse mesmo tido necessidade de prejudicar um bocadinho o PSD!

De facto, um governo PS sem maioria parlamentar, dependente do PSD para evitar ter que se aliar ao CDS (o que engrossaria as fileiras do Bloco), ou pior ainda, ao BE e ao PCP (o que rebentaria de vez com as possibilidades de reeleição de Cavaco Silva) foi a lotaria desejada no sonho cor-de-rosa do homem de Boliqueime. E saiu-lhe! Daí os beijinhos discretos soprados depois do encontro de reconciliação entre o actual e afinal futuro primeiro ministro, e o actual e possível futuro presidente da república latino-indigente que somos.

Como dizia alguém no Expresso desta Meia-Noite, o Presidente já não precisará de vetar com tanta frequência. A nova Oposição parlamentar encarregar-se-à de travar —à esquerda e à direita— o que manifestamente for excessivo, caprichoso, sem sentido ou simplesmente mal amanhado. Ou seja, Cavaco pode ir tratando paulatinamente da sua reeleição enquanto Sócrates tenta navegar à vista e salva a pele dos casos judiciais sob investigação.

O PSD procurará colaborar, para não dar pretextos ao CDS. O BE procurará colaborar, para não desbaratar o extraordinário acréscimo de votos (muitos deles emprestados) recolhidos nestas eleições. O PCP evitará ocupar as ruas para além do estritamente necessário, para não perder votos para um Bloco de Esquerda tendencialmente respeitável. O CDS está metido numa camisa de sete varas, ou melhor num submarino muito apertado e claustrofóbico! Em suma, salvo a muita retórica parlamentar e mediática, prevejo uma multiplicidade de tácticas de cooperação entre os rivais. Pelo menos até às eleições presidenciais.

Todos precisam de tempo. E ninguém quer ficar com o ónus de não atender com a imprescindível responsabilidade política, e mesmo competência técnica, aos tremendos desafios que temos pela frente, até às presidenciais, mas também até ao fim da legislatura que em breve terá início.


OAM 631 02-10-2009 01:01

quarta-feira, setembro 30, 2009

Portugal 132

Queijo Limiano, 0; Bloco Central, 1
"A luta continua! Cavaco para a rua!" — coro de militantes na sede de campanha do PS na noite de eleições (in Sábado).

"Homens fortes do PS [José Junqueiro, Vitalino Canas, Vítor Baptista, Vítor Ramalho e António Vitorino] falam em interferência na campanha. Socialistas próximos de José Sócrates lançam forte ataque a Cavaco Silva." (in Filomena Fontes. Público, 15.08.2009 - 09h07)

"Agora, passada a disputa eleitoral, e porque considero que foram ultrapassados os limites do tolerável e da decência, espero que os portugueses compreendam que fui forçado a fazer algo que não costumo fazer: partilhar convosco, em público, a interpretação que fiz sobre um assunto que inundou a comunicação social durante vários dias sem que alguma vez a ele eu me tenha referido, directa ou indirectamente." — Aníbal Cavaco Silva, Presidente da República, in Declaração do Presidente da República, Palácio de Belém, 29 de Setembro de 2009.

LIMA, Peru, 30 Set 2009 (AFP) - O ex-presidente peruano Alberto Fujimori foi sentenciado nesta quarta-feira a seis anos de prisão por três casos de corrupção - espionagem, suborno e compras ilegais -, informou o tribunal que o julgou em um processo que teve início na segunda-feira.

... O tribunal também ordenou que o ex-presidente pague uma indenização equivalente a 8 milhões de dólares em favor do Estado e um milhão em favor dos dirigentes políticos e jornalistas que foram espionados por seu regime. — in UOL Notícias.

Apesar de Sócrates procurar, tarde demais, pôr água na fervura, o mal está feito: Cavaco Silva sente o terreno a fugir-lhe debaixo dos pés, isto é, a sua reeleição cada vez mais comprometida, e tenciona castigar sem complacência o protagonista visível da sua queda em desgraça. A caça ao Pinóquio das Beiras continua, pois, aberta, e transformou-se, desde ontem, numa declarada guerra de todos contra todos. Espionagem (1), contra-informação e manipulação sistemática dos média foram e continuarão a ser o pão-nosso-de-cada-dia nos meses que aí vêm, até que um evento inesperado altere qualitativamente a situação. O "Liminha" (o misterioso assessor Fernando Lima) não agiu, se esta minha hipótese está correcta, em vão, nem sem expressa autorização do Presidente. O "Liminha", perante um sonoro —imagino eu— "Faça alguma coisa, homem!", fez o que sempre soube fazer: sussurrou, queixou-se, intrigou e, qual Marcus Tullius Detritus, provocou uma monumental zaragata na aldeia lusitana! Mas, mal ou bem, permitiu a Cavaco Silva declarar formalmente guerra a José Sócrates, depois de ter percebido que o seu sacrifício no altar das próximas presidenciais já fora de facto decidido há muito pelos estrategas socialistas. E agora?

Não vale a pena escutar os indigentes jornalistas e opinocratas de serviço sobre o assunto. 90% deles estão na folha de pagamentos do governo, directa ou indirectamente! Pensemos pois pela nossa cabeça.

Se bem nos lembramos todos, José Sócrates, ao ler no tele-ponto o seu discurso de vencedor tísico das eleições do passado dia 27, frisou três vezes, para que todos os bons entendedores percebessem a gravidade da situação, que o Presidente deveria, segundo a Constituição, chamá-lo a formar governo.

E se não chamar?!

Afinal de contas, José Sócrates perdeu a maioria parlamentar e, dadas as sucessivas declarações dos demais partidos representados na AR, não pode dizer claramente ao PR o que vai acontecer ao próximo Programa de Governo e, mais importante ainda, como tenciona fazer aprovar o próximo Orçamento de Estado. Perante tantas incógnitas e improbabilidades, ninguém no seu perfeito juízo consegue vislumbrar a formação de um governo minimamente estável. Como pode então o senhor José Sócrates Pinto de Sousa, de quem todos os partidos da Oposição desconfiam (e uma parte do PS deseja ver pelas costas), e que desde ontem perdeu expressamente a confiança do Presidente da República, ter a veleidade de chefiar o próximo governo constitucional? Quantos dias, ou semanas, aguentaria no poleiro?

Em face deste calamitoso panorama, Cavaco Silva poderá, em tese, 1) indigitar outro dirigente do PS, que não Sócrates, para formar governo; 2) chamar alguém do PSD com idêntico objectivo; ou ainda 3) optar por promover um governo de iniciativa presidencial.

Mas poderá Cavaco Silva optar por alguma destas alternativas? A primeira parece tentadora, mas arriscada, e as duas seguintes são muito inverosímeis. Vejamos porquê:
  1. Invocando a perda de confiança em José Sócrates, pois ainda que não tenha referido o seu nome na declaração presidencial de 29 de Setembro, visa-o claramente, na medida em que ele é o chefe do mesmo governo e partido que, na sua opinião, ultrapassaram "os limites do tolerável e da decência", Cavaco Silva poderá exigir amanhã ao actual secretário-geral do PS que indique uma outra pessoa do Partido Socialista, que não José Sócrates, para possível futuro primeiro ministro, colocando o actual dirigente máximo "socialista" na posição humilhante de ter que consultar os órgãos dirigentes do PS sobre esta sugestão presidencial. Seria provável que os órgãos dirigentes do PS viessem em uníssono a proclamar a sua eterna fidelidade ao timoneiro das Beiras, rejeitando a sugestão presidencial. Neste caso, mais do que previsível, Cavaco acabaria por nomear Sócrates, endossando porém parte substancial da responsabilidade da indigitação ao próprio Partido Socialista. Na balbúrdia mediática que se instalaria de imediato seria possível conhecer melhor os posicionamentos tácticos dos vários partidos da Oposição, e ainda conhecer mais em pormenor a teia mediática montada contra Cavaco Silva e a soldo de um certo Bloco Central, bem como descortinar o comportamento potencial dos diversos agentes económicos e forças sociais. Seria, a ocorrer, um grande teste ao pendor presidencialista mitigado do actual regime constitucional.
  2. Se o PS só a muito penar conseguirá as maiorias parlamentares necessárias para se arrastar numa governação caótica, que diríamos dum governo PSD? Com menos votos ainda do que o PS, sem fazer maioria com o CDS, rodeado então por uma "maioria de esquerda" oportunista, e longe de resolver a sua eterna crise de identidade, o PSD, dirigido por quem quer que fosse, seria incapaz de dar sequer o primeiro passo!
  3. Para haver um governo de iniciativa presidencial seria necessário previamente vislumbrar-se a possibilidade de alguma maioria parlamentar favorável a uma abrupta torção presidencialista do regime, o que nesta altura do campeonato e com o parlamento que foi eleito não passa de miragem académica.

Cavaco está, como se vê, condenado a empossar e deixar governar José Sócrates, pelo menos por algum tempo. No entanto, já a partir de amanhã, ou melhor, já desde ontem que começou a fazer a vida negra à criatura sem palavra (certamente por falta de tele-ponto) que o terá traído em pelo menos uma das habituais reuniões de Quinta-Feira, quando ambos discutiram a reforma do Estatuto de Autonomia dos Açores.

Como já escrevi, face aos resultados eleitorais, que ficaram aquém das minhas expectativas de crescimento do Bloco de Esquerda (condição essencial e prévia do seu amadurecimento democrático), só a formação de um Novo Bloco Central poderá garantir a estabilidade mínima de que o país precisa para enfrentar a longa e dramática década que se avizinha. Este Novo Bloco Central será, no entanto, bem diferente daquele que objectivamente imperou até hoje e levou Portugal a um novo limbo cinzento e vergonhoso de destruição e saque da riqueza pública, implosão estratégica, empobrecimento e falta de patriotismo e nobreza de carácter. A diferença entre as duas formas de entendimento ao centro resulta da maior transparência que necessariamente deverá presidir à formação do Novo Bloco Central, imposta de fora para dentro, pelo crescimento do BE e do CDS —que poderá ampliar-se substancialmente no decurso dos próximos quatro a oito anos (se tiverem lucidez e juízo)—, mas também de um muito mais exigente escrutínio democrático, não só institucional e profissional, mas também "popular" — por via da emergência de uma verdadeira democracia electrónica, cujo impacto na demolição da maioria absoluta de José Sócrates foi decisivo e está ainda por estudar. Não foram os indigentes meios de comunicação social convencionais que encostaram os maus hábitos da política portuguesa à parede. Foi a Net! E seguirá sendo a Net...

É impossível prever o futuro. No entanto, de uma coisa estou certo: não é desejável prolongar a vida política do mitómano que acaba de desbaratar uma maioria absoluta que lhe foi entregue há quatro anos e meio, de mão beijada, por uma maioria de eleitores bem intencionados.

Daqui a dois anos poderemos ter outro inquilino em Belém —não, não será Manuel Alegre (2)—, mas também um PS e um PSD renovados. Ou, se a actual guerra civil continuar, 9 milhões de eleitores clamando por um regime presidencialista, ou algo ainda mais forte!


Post scriptum: o regresso da polémica dos submarinos destina-se tão só a avisar José Sócrates de que a reedição do queijo limiano está interdita. E como quem faz este aviso também não quer uma Frente Popular pós-moderna, a conclusão é óbvia: precisamos de um Novo Bloco Central!

NOTAS
  1. Esperemos que a próxima Legislatura desfaça a intolerável concentração de poderes que a subordinação do Sistema de Informações da República Portuguesa ao Primeiro Ministro consagrou assim que José Sócrates se assenhoreou da maioria absoluta. Bastará uma iniciativa parlamentar concertada entre os partidos da Oposição para recolocar as Secretas no lugar próprio e sob o apropriado escrutínio democrático da Assembleia da República.

    O novo SIRP, que esperemos venha a ser constituído, deve, além do mais, ser precedido por uma reforma profunda do sistema de informações e segurança do país. Portugal deveria passar a ter uma comunidade integrada de serviços de informação, presidida por um Alto-Comissário designado pela Assembleia da República e assistida por uma Comissão Parlamentar Permanente. Embora repousando em várias agências e serviços diferenciados e com autonomia operacional, tal comunidade deveria estar harmoniosamente integrada sob a égide de um comum espírito de segurança, com missões e prioridades politicamente definidas pelo poderes democráticos legislativo, judicial, executivo e presidencial. Além do mais, e ao contrário do que ocorre com o nebuloso e invisível SIRP, um futuro sistema integrado de informações da República deveria ser transparente na natureza, propósitos e missões, dando por isso a conhecer-se aos cidadãos. Os exemplos britânicos da UK Intelligence Community e do próprio MI5 dão bem a medida que falta percorrer entre a pindérica Secreta portuguesa e os serviços de informações da Europa desenvolvida.

  2. Os movimentos de sedução em direcção a Jorge Sampaio já começaram (ler notícia do i), ao mesmo tempo que é lançado o balão de ar quente chamado Jaime Gama. Sobre este último paira, porém, a sombra da Casa Pia, que poderia deitar tudo a perder numa única e inesperada caxa de um qualquer atirador furtivo da informação. O risco é grande, suponho. Daí que a pressão sobre Sampaio tenda a crescer, sobretudo se Cavaco Silva perder o controlo da situação em Belém. Com a actual votação do Bloco de Esquerda, a hipótese Manuel Alegre foi definitivamente afastada, creio. Mas há mais hipóteses, menos serôdias. Por exemplo, Correia de Campos, um homem civilizado e inteligente. A Maçonaria do PS tem que arejar de uma vez por todas o seu olhar sobre o mundo e a realidade.

OAM 630 30-09-2009 23:29 (última actualização: 01-10-2009 10:41)

segunda-feira, setembro 28, 2009

Portugal 131

Queijo Limiano 2 ou regresso do Bloco Central?

Para a gestão corrente, Sócrates poderá dançar com Paulo Portas de vez em quando, mas não todos os dias, e dificilmente poderá fazê-lo por ocasião da aprovação do próximo Orçamento de Estado. Os resultados eleitorais apontam, pelo contrário, para um entendimento, in extremis mas possível, entre o PS e o PSD, com o beneplácito de Cavaco Silva, que assim praticamente garante a sua reeleição. Pois é, acabámos com a maioria absoluta do PS, mas o crescimento do CDS e do BE foram para já insuficientes para desfazer a lógica dos interesses conhecida pelo nome de Bloco Central.

Basta olhar para os números:

Resultados das Eleições Legislativas 2009
  • PS: 36,6%, 96 a 98 deputados (se obtiver 2 dep. pelo círculo da Emigração)*
  • PSD: 29,1%, 78 a 80 deputados (se obtiver 2 dep. pelo círculo da Emigração)*
  • CDS: 10,5%, 21 deputados
  • BE: 9,9%, 16 deputados
  • CDU: 7,9%, 15 deputados
* — actualização (7-10-2009): PS: 97 deputados; PSD: 81 deputados

Maiorias plausíveis na Assembleia da República (mínimo 116 deputados)
  • PS+PSD = 178
  • PS+CDS = 118
  • PS+BE+PCP+PEV: 130
Combinações minoritárias
  • PS+BE = 113
  • PS+PCP+PEV: 112
Maiorias constitucionais, i.e. necessárias para mexer na Constituição (155 deputados)
  • PS+PSD = 178

Errei!

De facto, as sondagens bateram certo, e a minha vontade de ver o senhor Pinto de Sousa pelas costas traiu-me.

A verdade é que Sócrates foi mais esperto e venceu os seus adversários ao longo da campanha eleitoral, apesar da derrota das Europeias. A crise internacional, paradoxalmente, favoreceu-o. A falta de uma luz ao fundo do túnel no discurso de Manuela Ferreira, e as inconsistências sucessivas (aceitação de Santana Lopes em Lisboa, escolha de candidatos a contas com a Justiça, apoio desajeitado a Alberto João Jardim, espionagem em Belém, etc.) acabaram por desfazer a solidez do diagnóstico inicial que a secretária-geral do PSD bem fizera do país. Louçã, por sua vez, acabaria por sucumbir à sua peculiar forma de arrogância intelectual e ao seu dogmatismo, não conseguindo aquele que deveria ter sido o seu objectivo principal: chegar aos dois dígitos na percentagem da votação eleitoral nestas Legislativas. O PCP vai declinando, como se previa. Só o CDS marcou a diferença, crescendo sobretudo em Lisboa, à custa do PSD, e tornando-se o único pequeno partido capaz de formar maioria com o PS na próxima Legislatura.

Mas um casamento entre PS e CDS é impossível, salvo em votações pontuais sobre temas secundários. Nunca, por exemplo, em matéria de Orçamento de Estado. Se o fizer, aí sim teremos de novo grande instabilidade dentro do PS, e crescimento orgânico do Bloco.

Resta pois uma saída para a desejável estabilidade estrutural do futuro governo na difícil conjuntura económica, financeira e social em que nos encontramos e que irá agravar-se em 2010-2011-2012: uma aliança in extremis entre o PS e o PSD, que não bloqueará a governação nos seus momentos essenciais —aprovação dos Orçamentos de Estado e de leis objectivamente consensualizáveis—, e garantirá, por outro lado, a possibilidade de revisões constitucionais ordinárias, ou extraordinárias. O mais curioso é que Manuela Ferreira Leite deu um sinal perceptível, no seu discurso de derrota, sobre esta possibilidade (1), em nome do interesse nacional — deixando para depois das Autárquicas —que espera vencer (2)— a discussão desta saída.

Se olharmos para o que hoje o PS é —um PSD cosmopolita e profissional—, se pensarmos na natureza ideológica íntima de José Sócrates, António Vitorino, etc., veremos que um tal cenário é bem mais realista que todas as demais combinações ardentemente desejadas —mas impossíveis— pelos pequenos partidos.

Estes últimos pedalaram bem no último ano, mas falta-lhes o principal: uma agenda pós-ideológica de acção, ponderada, tecnicamente competente e realista. Até lá, seguiremos com o Pinóquio das Beiras.


NOTAS
  1. Depois de começar o seu discurso de derrota por parabenizar o PS, afirmou que o PSD permanecia o principal partido do arco da governação, conjuntamente com o PS, claro, e que assumiria essa responsabilidade na actual conjuntura, não sendo de esperar da sua parte nada que possa bloquear o país.
  2. O resultado muito fraco do PSD em Lisboa augura boas votações autárquicas para António Costa+Helena Roseta e para o... CDS. O que não deixa de ser meio caminho andado para a derrota de Santana Lopes, esvaziando-se deste modo a putativa conspiração para derrubar Manuela Ferreira Leite. A actual líder do PSD é mesmo a solução que melhor convém à estabilidade interna e recuperação a prazo do PSD, a melhor solução para o novo Sócrates e a chave de ouro de que Cavaco precisava para garantir a tempo e horas a sua reeleição. Ou seja, o travão ideal para os excessos da Tríade de Macau e o melhor estabilizador possível da governação do país num momento particularmente difícil. Os pequenos partidos cresceram, mas vão ter que penar ainda muito para se tornarem fiáveis aos olhos do eleitorado. Os bloquistas cantaram de galo antes de tempo. Não se esqueçam, estalinistas e trotsquistas tardios e empedernidos, que muitos dos que em vós votaram, fizeram-no apenas para retirar a maioria absoluta a Sócrates! Os novos eleitores, em suma, votaram com mais realismo do que se pensava. O voto inteligente, vendo bem as coisas, funcionou e foi certeiro.


OAM 629 28-09-2009 01:10 (última actualização: 08-10-2009 01:42)

sexta-feira, setembro 25, 2009

Portugal 130

A grande manipulação em curso tem uma marca: José Sócrates!

Não nos percamos em sondagens, nem sobretudo prestemos demasiada atenção às barragens de contra-informação dos jornais e televisões. A manobra em curso é exactamente a mesma que foi usada nas Europeias, só que desta vez mais descarada, com mais meios e... mais desesperada.

As agências de comunicação e empresas de sondagens (que vivem do tráfico cada vez mais sórdido da contra-informação) têm vindo a manipular de forma criminosa a actual campanha eleitoral, seguindo à risca as instruções do seu principal cliente: o PS, o Governo PS e os patrões da indústria dependentes das encomendas suicidas da tríade de piratas que tomou de assalto o PS. Daí que estejamos debaixo do mesmo fogo numérico falsificado que ocorreu durante a campanha eleitoral para as idas eleições europeias. Se não, vejamos:

Sondagens Europeias 2009
Resultados finais das Europeias
  • PSD: 31,71%
  • PS: 26,53%
  • BE: 10,72%
  • CDU: 10,64%
  • CDS-PP: 8,36%
Legislativas 2009
  • média ponderada das sondagens entre 01 e 17 de Setembro (Público)
    PS: 35,8%
    PSD: 31,9%
    BE: 11,5%
    CDU: 8,1%
    CDS-PP: 7,3%
Olhando para estes números vemos um padrão claro: o PS sempre à frente nas sondagens (salvo no exercício, curiosamente apressado, da Marktest), rondando frequentemente a percentagem mágica dos 38% — a mesma que a maioria das "sondagens" sobre as eleições deste Domingo igualmente têm vindo a papaguear. Temos pois um lindo feito para Domingo: o PS vai passar de 26,53% para 35,8%, 38% ou mesmo 40%! Ou seja, vai trepar sem nada ter feito de diferente nos últimos 3 meses (a não ser mudar o tom de voz ao Papagaio das Beiras), qualquer coisa como 9,27, 11,47 ou mesmo 13,4 pontos percentuais na sua posição eleitoral relativa. É obra! Está tudo doido ou quê?!

Alguns amigos meus aventam a hipótese de uma descida do PSD por causa de uma suposta fraca prestação de Manuela Ferreira Leite, agravada pela sua tolerância face à tropa fandanga do Pedro Santana Lopes, e ainda pelos alaridos montados em volta do TGV e das supostas escutas ao Palácio de Belém. Eu não estou de acordo.

A contra prova é muito simples: alguém sabe o que é que o PS propôs para a próxima Legislatura? Eu não. Mas sei muito bem o que é que Manuela Ferreira Leite se comprometeu a realizar, se for primeira ministra (como julgo que será): reavaliar e renegociar com Espanha o programa de Alta Velocidade/Velocidade Elevada ferroviária; apoiar de forma clara e consistente as PMEs; acabar com os pagamentos por conta de IRC; rasgar o pseudo sistema de avaliação dos professores, substituindo-o por uma nova lei; impedir a subversão da ADSE, que o actual governo se preparava para fazer; desfazer o actual clima de asfixia democrática e de manipulação sórdida dos média e do Poder Judicial.

Creio que esta mensagem passou, ao contrário do fogo-de-artifício do senhor Pinto de Sousa, onde nada vemos a não ser megafones, vendedores de banha da cobra e uma espécie de brigada do reumático socialista, apavorada como a outra, com o fim de um regime. Neste caso, o regime do Bloco Central. Com Pinto de Sousa, ou com Ferreira de Leite, o que vai acontecer, trucidando sem cerimónias a macabra coligação das sondagens e agência de comunicação no terreno, é mesmo o fim do Bloco Central. Cavaco terá que aprender rapidamente a lidar com a nova situação, onde dificilmente poderemos aturar por muito mais tempo o travesti da Madeira.

Como é de prever que nem o Bloco, nem o CDS, queiram deixar de crescer após estas eleições, e como não estamos também a ver nenhum governo PS-PCP no horizonte, a viabilidade de um futuro governo liderado por Pinto de Sousa é praticamente de excluir. Pois! O melhor mesmo é Manuela Ferreira Leite ganhar estas eleições!



Declaração pessoal de interesses

Já escrevi neste blogue mais de uma vez, e repito, que tenciono votar no Bloco de Esquerda para a Assembleia da República, no próximo dia 27 de Setembro (se Louçã não cair entretanto na tentação de apoiar José Sócrates); em António Capucho (PSD), para a Câmara Municipal de Cascais; e que me candidato pelo PS+Helena Roseta à Assembleia de Freguesia de São João de Brito. Contradição? Incoerência? Nem por isso!

Há certamente muita gente por este país fora que é capaz de fazer o mesmo. O que não é vulgar é assumir a coisa. Há um tabu, que os partidos políticos alimentam como se fossemos todos imbecis e não soubéssemos distinguir as subtilezas de uma votação com os seus contornos de classe mais ou menos oportunistas e diferenças ideológicas cada vez menos claras. Em vez de cair na armadilha do "voto útil" —suplicado pateticamente pelo PS e pelo PSD—, os portugueses estão rapidamente a adoptar a praxis alternativa do que resolvi chamar "voto inteligente". Esta é certamente uma arma poderosa para mudar positivamente o rumo da democracia portuguesa. Usemo-la, pois, com a determinação estratégica que merece.


OAM 628 25-09-2009 18:10