quarta-feira, outubro 26, 2011

Setúbal-China

Autoeuropa, Palmela, Portugal

Quem disse que Portugal não conseguia exportar para a China? Com uma ajudinha alemã, claro. Ânimo!
No passado dia 18, foi efetuada, no Terminal Roll-on Roll-off do porto de Setúbal, a primeira carga direta de veículos fabricados na Autoeuropa para a China. As viaturas foram embarcadas no ro-ro “NOCC Atlantic”, do armador norueguês Norvegian Car Carriers, agenciado pela Barwil Knudsen - Agentes de Navegação, Lda e operado pela Setefrete – Sociedade de Tráfego e Cargas, SA.

Este carregamento, de 538 viaturas Scirocco e Eos fabricadas na Autoeuropa e parqueadas no terrapleno do Terminal Autoeuropa, foi o primeiro de vários embarques diretos previstos, até ao final do próximo ano de 2012, de viaturas destinadas ao mercado chinês, sendo de realçar o absoluto sucesso de toda a operação e o despacho rápido do navio sem qualquer atraso.

Com esta operação, o porto de Setúbal passa a constar como um porto de primeira linha da rede logística da Wolkswagen, com ligações diretas para outros continentes sem passar pelo Porto de Emden, porto principal do Grupo VW, como sucedia até agora. CARGO (25-10-2011) | E ainda APP.
Se o pirata Sócrates ainda estivesse ao leme do país tinha entupido todos os canais mediáticos com esta notícia.

Mais um argumento, portanto, a favor de duas realidades que não há meio de entrarem na caixa craniana dos nossos jornalistas e analistas económicos: a necessidade de dar máxima prioridade aos nossos portos, à renovação da ferrovia que ligue os principais portos (Sines, Setúbal, Lisboa, Aveiro, Leixões) e as principais cidades (Lisboa e Porto) ao resto da Europa e do mundo, e ainda a criação de uma indústria naval de cabotagem e recreio.

Isto e repovoar os campos com tecnologias verdes e cultura urbana, mais o turismo de marisol&surf, de fim-de-semana e residencial (nomeadamente orientado para a 3ª e 4ª idades), é uma receita que não pode falhar!

Mas primeiro, claro, há que não hesitar um minuto na dose cavalar de contenção que é urgente impor ao complot burocrático em marcha. Nada de cenouras, o pau basta!

act. 26-10-2011 13:05

terça-feira, outubro 25, 2011

A fuga fiscal

É preciso desblindar a corrupção, esteja onde estiver!



Senhores Pedro Passos Coelho, Carlos Costa, Vítor Gaspar e Álvaro Santos Pereira,

não basta actuar nas aparências, por mais importantes que estas sejam —refiro-me à caça que tem que ser feita aos privilégios da indecorosa nomenclatura que temos. É fundamental também atacar as raízes do problema que conduziu à bancarrota do país. E entre estas está a evasão fiscal maciça aos impostos das 19 maiores empresas portuguesas que deslocaram as suas sedes fiscais para a Holanda, um país de piratas que há muito aprendeu a roubar o que é nosso!

Vocês não podem enforcar o contribuinte indígena que não tem como deslocar a sua pessoa fiscal para a Holanda, Gibraltar ou para as ilhas piratas da rainha de Inglaterra, enquanto permitem que a burguesia rendeira se ria de vós e de todos nós!

E não me venham com as desculpas esfarrapadas dos contratos blindados (a EDP e as barragens da corrupção, SCUDs, PPPs, etc.), nem com a liberdade de circulação de capitais na Europa e neste mundo globalizado. Os mesmos advogados a soldo que blindaram, desblindam! E assim como o Japão soube muito bem tornar o seu país uma fortaleza inexpugnável às importações, e sabe muito bem levar pela trela a sua não menos luxuriante e indecorosa burguesia, também agora vossas excelências, se quiserdes sobreviver politicamente, tereis que fazer algo semelhante.

Basta querer!


NOTA: Rui Tavares no Parlamento Europeu, um discurso que subscrevo 100%. Mas este já não é do Bloco, pois não? Ainda bem!

domingo, outubro 23, 2011

A formiga e as cigarras europeias

A Alemanha tem razão, os bancos, não!

Sacrificar a poupança, nomeadamente de quem produz, em nome da rigidez dos direitos sociais adquiridos, de uma desmiolada cultura do consumo, e de um sistema bancário insolvente, será o caminho mais expedito para o colapso em cadeia do actual sistema capitalista. Não precisaremos de nenhum marxista para nos ajudar!

Se a cigarra triunfar, mais uma vez, sobre a formiga, em vez de uma transição pacífica para o pós-capitalismo teremos miséria e guerra nos próximos anos e décadas — OAM.

O fracasso redondo do Conselho Europeu deste fim-de-semana mantém em suspenso uma divergência fundamental entre a Alemanha, mais alguns países do norte da Europa, e a França, mais os endividados países do Sul:
  • Quem vai pagar as dívidas soberanas da Grécia, Itália, Bélgica, Alemanha, França, Reino Unido... ?
  • Quem vai pagar as dívidas externas do Luxemburgo, Suíça, Reino Unido, Noruega, Bélgica, Dinamarca, Suécia, Áustria, França…, quando o colapso da bolha de derivados financeiros atingir o zénite? 
  • Quem vai reequilibrar as deterioradas balanças de pagamentos da Espanha, Itália, França, Reino Unido, Portugal, Grécia…? 
  • Quem vai salvar os bancos sobre expostos às bolhas especulativas (imobiliária, soberana e dos mercados cambiais) da sua cada vez mais grave crise de liquidez e de um dominó de insolvências? 
O GEAB deste mês fala da falência inevitável de 10 a 20% dos bancos ocidentais! As praças financeiras de todo o mundo, entretanto, tornaram-se os alvos compreensíveis de uma indignação à escala global que apenas começou a crescer, que dificilmente será neutralizada pelas polícias, e que poderá muito bem ditar o fim do capitalismo tal qual o conhecemos nos últimos quatrocentos anos.

Há basicamente duas posições:

Uma é a posição da França e de todos os demais países europeus sobre endividados, para quem a solução passa por monetarizar as dívidas nacionais, expandindo a liquidez do euro e emprestando assim sem limite aos governos e aos bancos, com a consequente desvalorização monetária e disparo da inflação, nomeadamente por via do preço acrescido das importações e pelo estímulo artificial do consumo privado e público. Esta solução significaria, pura e simplesmente, um novo assalto à robustez comercial e industrial da Alemanha, um ataque sem precedentes à produtividade e competitividade externa desta trave mestra da União Europeia, e uma destruição inexorável da poupança europeia, onde quer que a mesma se encontre — nos países, nos negócios equilibrados, e nas pessoas produtivas e prudentes. Esta solução implicaria promover o que não pode deixar de ser considerado um crime: financiar os bancos, os especuladores profissionais e os governos populistas da Europa, à custa de quem planeou, produziu e poupou!

A outra solução, propugnada nomeadamente pela Alemanha, e agora também por Durão Barroso, passa por envolver os especuladores e os bancos na reestruturação inevitável dos países simultaneamente sobre endividados e incapazes a prazo de pagar os serviços das respectivas dívidas públicas sem colapsar económica, política e socialmente — casos da Grécia, Portugal, Bélgica e talvez mesmo de países como a Itália, a Espanha, ou a própria França. O BCE e Sarkozy aceitaram em Junho passado um haircut das expectativas de retorno especulativo das bolhas imobiliária e soberana na ordem dos 21%, mas a Alemanha exige agora maior responsabilização por parte dos especuladores privados no colapso financeiro em curso: 50 a 60%.

Acontece, porém, que este contra-ataque alemão à lógica insaciável do capital financeiro vem colocar em causa a situação já de si extremamente frágil de dezenas, se não mesmo centenas de bancos e fundos de investimento por essa Europa fora e ainda onde quer que haja sociedades financeiras e bancos atolados de obrigações soberanas europeias: Estados Unidos, China, Japão, Rússia, Abu Dhabi, Brasil, etc. A pressão sobre Angela Merkel não pode, pois, deixar de ser brutal.

Conseguirá a União Europeia sair deste dilema?

Os preços da alimentação tendem a acompanhar os preços do petróleo. Ler Gail Tverberg.

No decurso das décadas de 1950 até meados da de 1970, o fim do colonialismo e uma redistribuição mundial menos desequilibrada e menos injusta dos recursos disponíveis, sobretudo do petróleo, do gás natural, dos metais e das matérias primas alimentares, acabaria por induzir uma desindustrialização acelerada dos Estados Unidos e da Europa ocidental, com a subsequente deslocalização de sectores industriais inteiros para países com contingentes aparentemente infindáveis de trabalho barato e socialmente desprotegido. O consequente desequilíbrio resultante do aumento e encarecimento progressivo das importações, e a ameaça do abrandamento económico resultante da diminuição da actividade industrial nos países mais ricos do planeta, conduziram sucessivamente os Estados Unidos e a Europa ao desenvolvimento de uma estratégia de compensação apoiada em três pilares:
  1. a expansão do consumo interno, desenvolvendo para tal toda uma ideologia cultural apropriada (a sociedade de consumo);
  2. o crescimento do campo tecnológico e cognitivo, de que resultaria uma expansão sem precedentes nos sectores da educação, da investigação e do desenvolvimento de produtos inovadores (tecnológicos, mas também culturais);
  3. e a inovação financeira, sobretudo orientada para o desenvolvimento de estratégias de financiamento virtual de economias cujas rentabilidade e deterioração dos termos de troca com o exterior se prefiguraram desde muito cedo nos radares dos estrategas mais atentos.
Foi precisamente a aceleração contínua destes três factores que conduziu o capitalismo mundial à crise sistémica anunciada em 2005-2006, declarada em 2008, e que viria a mergulhar os Estados Unidos, a Europa e o resto do mundo na grande complicação em que agora se encontram. A bolha especulativa da China que acompanha a previsão, para 2012, do primeiro défice comercial chinês dos últimos vinte anos, mostra até que ponto estamos perante uma crise global, e até que ponto os países emergentes são incapazes de sustar o poder destruidor do buraco negro financeiro responsável por esta prolongada e profunda crise sistémica do capitalismo.

O paradigma do consumismo e do consumo conspícuo chegou ao fim, nomeadamente por efeito da inflação crescente, dos limites explosivos do endividamento, e ainda por causa do crescimento demográfico que de uma forma ou doutra implica um melhor aproveitamento e redistribuição dos recursos disponíveis à escala mundial. A tecnologia, por sua vez, evoluiu para uma rede geograficamente dispersa e desnacionalizada, diminuindo progressivamente a densidade dos antigos centros de ciência e tecnologia americanos, japoneses e europeus. A inovação financeira, por fim, acaba de esbarrar nos limites materiais da deteriorada hegemonia monetária da América, renovando o debate sobre a sustentabilidade do actual sistema bancário e financeiro global, desenhado à imagem e semelhança de um modelo que parece ter dado resultados desastrosos na China imperial, e volta agora a mergulhar a Europa numa sucessão catastrófica de bolhas especulativas.

É possível que os Estados Unidos estejam a preparar uma nova moeda, ou até a retoma da indexação do dólar ao ouro, através de uma operação súbita, surpreendente e sem precedentes de decuplicação do valor da onça de ouro. Para aqui chegar teria, porém, que lançar sucessivos pacotes de Quantitative Easing e afogar praticamente o planeta em notas verdes e inflação. Num cenário desta grandeza, que faria a União Europeia?

Uma parte da União Europeia, viciada no bem-estar gratuito, no consumismo, na corrupção, e no endividamento especulativo, não quer sofrer, quer continuar a satisfazer os seus caprichos sem pagar o preço justo das coisas, exige, portanto, dinheiro grátis, que alguém pague as contas, e que se esse alguém não aparecer (e for impossível sangrar mais o indefeso contribuinte europeu), então, que não se pague e pronto! A solução protagonizada nomeadamente por Cavaco Silva é portanto esta: que o contribuinte refinancie os bancos e que estes, depois de refinanciarem os governos, as nomenclaturas e as burocracias, e depois de pagarem os dividendos aos especuladores (nomeadamente do BPN), que retomem paulatinamente as operações de crédito à economia e ao consumo. Haverá riscos elevados de cairmos numa inflação galopante, e de uma desvalorização imparável do euro? Sim, há! Mas não faz mal, diria um qualquer assessor de Belém — os alemães, os árabes, os chineses, os iranianos, os russos e os brasileiros que paguem a crise!

A Alemanha já por duas vezes viu o seu sucesso industrial e económico ser desbaratado pelo resto de uma Europa, ou decadente e com maus hábitos difíceis de perder, ou simplesmente indolente. Será que iremos assistir a um terceiro suicídio colectivo?

Juntei a este escrito uma selecção de factos, observações e opiniões que me parecem de grande oportunidade para melhor compreendermos o que está em causa. De algum modo complementam as minhas reflexões sobre a nova e perigosa disputa entre as cigarras e as formigas desta velha Europa.


REFERÊNCIAS

Esta pirâmide entrou em modo especulativo (Ponzi) a partir da decisão de descolar o USD do ouro. Os CDO, CDS, e toda a parafernália de produtos financeiros criados para segurar/especular com o endividamento exponencial, privado e público, são as causas próximas do colapso sistémico actualmente em curso — OAM.
  1.  The European Financial Crisis in One Graphic: The Dominoes of Debt   (October 24, 2011)
    “After 19 months of denial, propaganda and phony fixes, the political and finance leaders of the European Union are claiming a "comprehensive solution" will be presented by Wednesday, October 26-- or maybe by the G20 meeting on November 3, or maybe on Christmas, when Santa Claus delivers the gift global markets are demanding: a "solution" that actually pencils out and that forces monumental writeoffs of debt and thus equally monumental losses on European banks and bondholders”.

    in Charles Hugh Smith.

  2. German Parliament Slows Euro Rescue Decisions
    “Europe’s leaders had only just presented themselves to their guests as a picture of unity, amid speeches praising the outgoing president of the European Central Bank (ECB), Jean-Claude Trichet, before the sparks began flying in another part of the building. Unfortunately, the German chancellor told a group of stunned men, she would not be able to make a decision on the euro bailout fund at the European Union summit on the following Sunday, because she needed the approval of the German parliament, the Bundestag, first. But because this approval was not to be expected, Chancellor Angela Merkel, a member of the center-right Christian Democratic Union (CDU), proposed postponing the meeting of the 27 heads of state and government.

    European Council President Herman Van Rompuy protested, saying a postponement was absolutely out of the question, if only out of consideration for the other member states. “This is the last exit on the highway,” French President Nicolas Sarkozy said excitedly. “If we don’t reach a decision now, we’re dead.”

    But it was of no use. By the end of last week, it was clear that the decisions would be postponed. Grudgingly, the majority of the EU was forced to follow the Germans’ lead.”

    By Ralf Neukirch, Christian Reiermann and Christoph Schult, in Der Spiegel (23-10-2011)
     
  3. M3 has ceased to be published by the US Federal Reserve
    The world is left without any reliable data on the dollar-value.

    As announced last February 15 by Leap/E2020, yesterday March 23, 2006, the US Federal Reserve has ceased publishing M3, the most reliable indicator of the amount of USDs circulating in the world.

    The Fed has also ceased publishing a number of less important indicators (such as the amount of EuroDollars, large-denomination time deposits, and repurchase agreements) which could have been used to calculate M3 on the basis of other aggregates.

    It is important to bear in mind that the Fed continues to calculate M3 and the other indicators. It doesn’t cease to gather these data, but it no longer shares the information with US citizens and the rest of the world. To use a simple image, it is as if, on the eve of a war, the Pentagone suppressed GPS guidance, including for its own allies.

    Such measure, which has had no equivalent since 1945, when the dollar imposed itself as the global monetary reference, is a major break in the confidence contract between the US and its Allies.

    in GEAB
    (March 24, 2006)
     
  4. The Seeds of Our Destruction Were - And Still Are - Sown in the Bond Markets

    Paul Brodsky:  All the way through 2006, where a monetary aggregate called M-3 -- which was the only aggregate that included repurchase agreements, which is the process by which banks fund themselves with each other -- grew almost 12% a year. It is an enormous amount, and that basically tells you that this overnight lending among banks provided the fuel from which all of the term credit, or the 30-year mortgages ultimately, and the auto loans, and revolving consumer credit that, of course, has never paid down from whence that came. So in effect, we knew that the system became highly susceptible to any hiccup.

    And what we were looking at was an economy where, according to recent data, we have got $53 trillion dollars in dollar-denominated claims, according to the Fed. Well, I actually think it is higher than that, significantly higher than that, but let us just take their figure. On top of a $2.7 trillion dollars in actual money, or M-zero, or to put it another way, currency in circulation plus bank reserves held at the Fed.

    So the system is levered at least 20 to 1, and there is effectively 20 times more debt than money with which to repay it. And so that is a long-winded way of setting the table for where we come down in our macro views. Clearly, it has great ramifications, negative ramifications, for the currency, and given that the dollar is the world’s reserve currency, we think it has significant ramifications for the global monetary system in general.

    [...]

    I think debt is still probably marked too high on balance sheets. Certainly at banks. And so I think it is still out there; it is still lurking. It does not necessarily have to be recognized, ever, frankly, if the Fed produces enough inflation that takes them out in nominal terms. But it is still out there, and I would argue it is not only sub-prime, but as we are seeing now, it is turning into prime as well.

    [...]

    Chris Martenson:  [...] Suppose, for the moment, though, that somehow things do get away from the Fed, they find themselves following, not leading the market. It has happened to them before. It has not happened recently, but certainly, that used to be the case. So I do not know, so there are all these people who have bond funds that are levered up 20 times, 10 times, some big giant number, and all of a sudden the rumor comes through the grapevine that China has decided enough is enough and they are quietly liquidating their custody account into what ever bids they can find. Would we not find that those levered bond funds would potentially get caught in the equivalent of a long squeeze, in essence? I mean, they would have to get out there and start liquidating into this madness. Is that a possibility? Let us admit that it is a possibility; how probable it is, is another question. Do you think the Fed has, with its infinite capability, can really step in and battle that?

    Paul Brodsky:  Well, functionally, yes, they can. Because again, let us say China has three trillion in dollar reserves (just to pick a round number). Yes, the Fed could print five trillion if they wanted to. They would always have more money than bonds outstanding, number one. And they could always assume anyone else’s debt, because there is literally no limit.

    [...]

    ...if we anger them for whatever reason and they decide as retribution, and maybe it is an economic decision that they just do not want to own Treasurys any more and they decide to liquidate. I would suspect at that point, you would see a, maybe even a formal devaluation, of dollars. And we could go into that in a bit if you would like, but I would think that is the point at which you would see obviously the Fed would have to come and buy a bunch and monetize a lot of debt. But my guess is that would see something more formal. And you would go into a weekend and you would come out of the weekend with a completely different new monetary system.

    Chris Martenson:  Okay, interesting. So where I am, what I am hearing here, is a fairly simple story then, had a very long, very protractive credit bubble, it ran up pretty hard. And the Fed has nearly infinite or probably infinite capability to just manufacture credit, or what we call "money," out of thin air. All U.S. debt is denominated in U.S. dollars in this point in time, so there is really no external forcing function. So, guess what, printing can always happen. You started all of this by saying that when you peered through this landscape, what you saw was actually a currency risk. Let us go there for a second, if we could. What do you, how would that play out, if it does not really play in a big bond market route, something has to give in this story. You are saying it is the currency; what does that play out like?

    Paul Brodsky:  I think the Fed is going to have to continue printing. They are going to go significant QE3 at some point; I do not know exactly what form it will take, but they are going to have to monetize debt. The process of doing that is, I am sure your listeners know, is when you buy debt, you print money with which to buy it. And which moves new money out, ostensibly into the system, but as we have seen, it only goes into banks as excess reserves. This process is the exact process of inflation, so if you print a dollar, you are diminishing the purchasing power of that dollar through dilution. And it is a very easy thing to understand more dollars chasing, let us say, the same amount of goods and services and assets, must drive the price level higher for those goods services and assets. And so what we see happening is, through this process of money printing, we will have rising prices that rise much faster than wage growth or income growth, and it is going to make the ability to service debt that much harder.

    [...]

    Chris Martenson: Uh-huh

    Paul Brodsky: So it looked as though we have output growth and in nominal terms, we did. However, I had to fire someone who was a consumer and so on and so forth and a taxpayer. And so the real economy actually shrunk while nominal growth grows. And so this is what has already been happening. The pressure is the fundamental economic pressures that build, through this juggling act of trying to keep all the balls in the air by printing money and giving the appearance of growth, and trying to instill confidence among consumers and among factors of production, and among manufacturers and so on and so forth. It really can’t last if there is no fundamental reason for it to continue. So in reality we think that they will print a lot of currency, the real economy will shrink. However, the good side of this whole thing, in an aggregate sense, and I am not judging the merits or whether or not it is moral or anything along those lines, but since the U.S. and Western Europe and Japan, the great majority of our populations are indebted. By printing all this money, the prices will rise and eventually even our wages will rise, but the only thing that won’t rise, is the amount we owe. And so this process of inflation reduces the burden of repaying debts. Both in the private and the public sector. While it does not reduce the debt at all but it does act as a de-leveraging. You can de-lever either by letting credit deteriorate and that has all terrible ramifications because you actually do have real contraction in the economy. Or you can print money up to meet the notional value of the debt. And those are the two ways to de-lever and I think they are clearly going to print money and that is the process of de-leveraging they are going to take. Thereby inflating the way the burden of paying the debt.

    Chris Martenson: Yeah, there is all kinds of reasons that, there is really no opposition to the idea of printing. At the political sphere, they love it. Politicians tend to get tossed out during deflationary episodes. Inflation you know, they tend to hold their jobs. So there is a job, job’s creation act for political people buried in there. And also, government cannot tax deflation. Meaning if I hold an asset like a house, and it inflates 100%, some of that is taxable, depending on the size, or any asset that inflates, that is a taxable moment. A deflating asset is not a taxable amount. So you cannot tax deflation. There is another reason why we hate deflation, because it does not perpetuate the entire model of continued growth. But you know at some point, in every credit bubble - and this has been true through all of history and Reinhart and Rogoff certainly proved that - at some point, you just hit the limit, you cannot go any further. Even leaving aside that we remove the natural resource pressure from peak oil or from other resources or that there are natural limits being hit, forget about all of that. There is always a moment when your credit bubble just cannot go any further. There are no more noses that can fog mirrors, that can take out a loan. In your estimate, you are looking at all of this, they have been pulling on the ripcord of the chain saw as hard as they can trying to get this thing started again. Have they? And if they cannot, do we not just face some sort of deflationary outcome anyway?

    Paul Brodsky: I think before we ever get to a truly deflationary outcome, meaning output contraction, shall we say. The Fed will formally devalue the currency, which will solve all these problems. They can do it tomorrow if they chose.

    Chris Martenson: Isn’t everybody trying to devalue their currency?

    Paul Brodsky: Well, they would devalue it to gulp and not against the Euro, or not against the Yen or the Renminbi. That alternating currency devaluation tag team, whack-a-mole, beggar-thy-neighbor  policy, works obviously for exporters and it works in the very near term but it really does not solve the problem which is all of these currencies are baseless and are losing their purchasing power versus the goods and services with inelastic demand properties. Such as natural resources and things of scarcity.

    Chris Martenson: Uh-huh

    Paul Brodsky: So it makes perfect sense that while they are trying to politically, through policy, devalue their currencies versus other fiat currencies. That is not a long-term solution. When I say devaluation, I mean against the currency that is scarce and that policy makers cannot manufacture because ultimately it comes down to if I have a widget that I want to exchange for money, no matter where I am in the world, the money I want in exchange, I want to know that that’s going to have. I want to have confidence in it that that is going to retain its purchasing power. And it will get to the point ultimately where the one I am going to want is something other than what you are offering. There is precedent obviously, that gold has backed money. And we happen to think that that is the end game. Ultimately, you will see probably the Fed formally devalue the dollar versus gold. After 40 years of it being untied, and that is all. This is just the pendulum swinging back we think. And they will do it at a price, a gold price, in dollar terms, that will reflect the amount of past monetary inflation that we have seen.

    Chris Martenson: Yikes

    Paul Brodsky: Or something close to that.

    Chris Martenson: That is a big number.

    Paul Brodsky: It is a big number, we think it is about little north of $10,000 currently.

    [...]

    What I am saying is, the government will want to retain control, the only way they will be able to do that, is through going back, is devaluing. As they devalued it in 1971, the irony is, they will be going back to a gold standard or a quasi gold standard. I think that the method that they will do that, you know they will print a lot of money with which to tender gold at some big number. That will be highly inflationary. And then they will probably make a market, target a gold price as today they target Fed funds and interest rate. They will target a gold price. You know we will buy your gold at $10,000 we will sell you our gold at $10,200 and if too many people tender, then they will take the price down and vice versa. And what I think that would do, that is not a gold standard by the way, that is maintaining a credit market in effect. However, what it would still place a little more pressure on lenders to watch their backs in terms of the unreserved credit that they are carrying. And it would probably, more than anything, just instill confidence.]

    in Chris Martenson, Transcript for Paul Brodsky
     
  5. The collapse of paper money & the vertical move of gold

    It is the charging of interest on money issued as loans from a central bank that is the foundation of capitalism. It should be noted that prior to capitalism, charging interest on money lending was considered immoral by Christians, Muslims and Jews alike.

    Outlawed by Islam, considered by the Catholic Church to be a sin and contrary to the Law of Moses, because of William Patterson’s combination of money and debt, money lending is now the basis of all modern economies.

    Jews, barred from all trade guilds in Medieval Europe, were allowed only two avocations in the Middle Ages, that of money lending and the selling of used clothing. It is not without irony that the once shunned practice of money lending has now catapulted Jewish bankers to their pre-eminent position of power and wealth in the world today.

    [...]

    When capitalism—institutionalized money lending in debt-based economies—became the world’s predominant economy, bankers found themselves temporarily on top. The operant word is temporarily because where credit and debt is concerned, that which goes up always comes down.

    [...]

    In 1971, capitalism began to unravel when the US was forced to suspend the convertibility of the US dollar to gold. Without gold’s constraint on the money supply, governments—especially the US—began printing and borrowing money virtually without limit. Today, that limit has been reached.

    William Patterson’s 300 year-old house of cards and credit is now collapsing as defaulting debt consumes what’s left of savings. Despite the efforts of governments to save the system that allows them to spend money they don’t have, the end of the banker’s reign is near.

    By Darryl Robert Schoon, in Goldsurvival, July 18, 2011.
É por isto que os bancos querem que os governos tapem o buraco dos derivados especulativos com a expropriação fiscal do cidadão comum — OAM.
act. 24-10-2011 01:38

sábado, outubro 22, 2011

Esquerda Empalhada

Que tal renovar o paradigma político-partidário?

“Considerando como "da mais elementar justiça" o aumento do salário mínimo nacional de 485 para 500 euros, Jorge Machado lembrou que, descontando o valor da inflação, entre 1974 e 2010 o salário mínimo só aumentou 88 euros.” — Jornal de Negócios, 21-10-2011.

Lenine morto @ Lenine Internet Archive


O nosso principal problema chama-se DESEMPREGO, ou seja, a missão impossível deste governo é a de CRIAR DIRECTAMENTE EMPREGO, temporário, para projectos públicos concretos, e sem prejuízo do emagrecimento do Estado, não é esganar as empresas com subidas de salários!

A Esquerda Empalhada e as suas burocracias oportunistas e populistas, partidárias e sindicais, tornaram-se uma verdadeira força de bloqueio do país.

É urgente começar a preparar o surgimento de um novo partido sensato e inteligente, não só para acantonar de vez estes esqueletos ressequidos do leninismo, mas sobretudo para criar um novo espaço político de ideias, acção e esperança.

O desgaste da coligação PSD-CDS deixará os respectivos partidos de rastos. Mas só de pensar que a alternativa poderá recair outra vez no degenerado PS, é assustador!

Logo, temos não mais de três anos para fecundar um novo movimento político capaz de induzir alterações radicais no sistema de representação democrática e exercício do poder. Não basta a indignação, presa fácil dos populismos da esquerda e da direita. É absolutamente necessário clarificar as ideias, traçar limites e definir objectivos nacionais que todos possam compreender, verificar e apoiar na base de compromissos ambiciosos, justos e realistas.

Marina Silva disse ontem o essencial sobre esta urgência de mudança dos paradigmas político-partidários. Há que começar, também em Portugal, a desenhar, sobre os escombros da bancarrota para onde fomos conduzidos, a esperança e o futuro que queremos ter e deixar às gerações vindouras.

act.: 22-10-2011 22:43

quinta-feira, outubro 20, 2011

O colapso do PSI-20

Que tal esperar para renacionalizar?

A bolsa nacional encerrou em queda, numa sessão em que o BES desvalorizou mais de 7,8% e fixou um novo mínimo histórico — in Jornal de Negócios.

Em Setembro de 2011 uma rodela de limão já custava mais do que uma acção do BCP

Uma acção do BCP (0,16€) já não chega para pagar a rodela de limão da Coca Cola; uma acção do BPI (0,61€) já não dá para a bica; a do BES (1,57€) não paga um capuccino; e são precisas sete acções da EDP (2,38€) para comprar uma da E.ON.

Creio que o governo de Passos Coelho já não vai a tempo de ganhar o que quer que seja com as privatizações. Sugestão: espere que o PSI20 comece a pedir água, e então retome ou reforce o controlo dos sectores estratégicos da economia (energia, água, portos, aeroportos, ferrovia e banca). É o que vai acontecer no mundo!

Até lá suspenda e rejeite todos os contratos leoninos realizados contra o interesse público, ponha as empresas públicas em dieta para-militar, e despeça/encolha/substitua todos os CAs quanto antes!

Quando chegar o momento tome posições reforçadas nestes sectores, usufruindo das poupanças amealhadas com as renegociações e renúncias de PPP, CIEGs, e outros contos de vigário, e recorrendo a novos empréstimos europeus e obrigações K —os eurobonds aplicados prometidos por Durão Barroso (o K é meu, ou melhor, de Keynes ;)

De contrário, o cenário que se avizinha pode não diferir muito do da vizinha Espanha:

La privatización de AENA: en el aire tras el fracaso de Loterías. El Gobierno pide por sus dos 'joyas de la corona' hasta 18 veces el ebitda — 30/09/2011 - 08:49. Finanzas.com

La liberalización de Aena, que incluye la concesión de los aeropuertos de Barajas y El Pat y la venta a inversores privados de hasta el 49% de la matriz corre el riesgo de seguir el mismo camino que la de Loterías.

Las razones serían las mismas que han acabado con la que pretendía ser la mayor privatización de la historia de España. Esto es, un precio pretendido por el Estado demasiado caro y, sobre todo, un freno político por parte del primer partido de la oposición.
Mais sobre o que aí vem: “Fitch alerta: Bancos portugueses estão 'muito vulneráveis à evolução da dívida pública'” — Jornal de Negócios online (20-10-2011)

act. 20-10-2011 23:05

quarta-feira, outubro 19, 2011

A Brigada do Reumático II

Cavaco Silva, o Insurrecto? Armou-se, ao que parece, em chefe de fila de uma vasta coligação de privilegiados e senis que não desistem de arruinar Portugal



Cavaco, o Insurrecto
Vítor Bento, economista, presidente da SIBS e Conselheiro de Estado do Presidente da República garante que a única forma de conseguir financiamento é mesmo fazendo os sacrifícios que são pedidos.

[...]

Cavaco Silva sinalizou que o seu entendimento é que o corte dos subsídios de Natal e de férias, em exclusivo para a Função Pública e pensionistas, traduz uma violação ao princípio da equidade consagrado na Constituição Portuguesa.

O Presidente da República mostrou também ter dúvidas sobre o princípio da protecção da confiança, igualmente consagrado na Lei Fundamental, ao revelar preocupação quanto à admissibilidade da amplitude da redução de rendimento que estas medidas provocarão, já que, para 2012, o Governo reconduz também o corte médio de 5% nos salários mensais do sector público — in Jornal de Negócios (19-10-2011).

Cavaco Silva, que esteve muito caladinho durante o consulado pirata de José Sócrates, deixando-o culminar o processo de contínuo desfalque do país, nomeadamente permitindo que o anterior governo concretizasse esses verdadeiros crimes económicos em que se transformaram as PPP rodoviárias e hospitalares, as SCUT do lunático Cravinho, as barragens do cabotino Mexia, Jorge Coelho e Sócrates (e respectivos acólitos: Paulo Campos e Carlos Zorrinho), e ainda as tropelias do BES e da TAP em volta da PGA, já para não falar das centenas de milhões de euros pagos às consultoras e gabinetes de advogados corruptos do Bloco Central, nomeadamente para empurrar o embuste da Ota para o embuste de Alcochete, ou fantasiar sobre, e depois construir, um aeroporto às moscas em Beja, ou ainda negociar os contratos leoninos que conduziram à falência das Estradas de Portugal, ou colocaram todos os portugueses e as suas empresas a desembolsar mais de 2,5 mil milhões de euros (duas pontes Vasco da Gama e meia!) anualmente para alimentar as rendas escandalosas da EDP e o despesismo da RTP/RDP/Lusa. Tudo isto, e ainda os casos de polícia do BPN, BCP e BPP, passou incólume por baixo do nariz do senhor Aníbal Cavaco Silva, presidente de Portugal.

Entretanto, o país está literalmente na bancarrota, e o grande macro economista Aníbal Cavaco Silva, reeleito presidente da República por uma escandalosa minoria dos portugueses, em vez de nos pedir desculpa pela sua óbvia e grande quota-parte de responsabilidade no descalabro financeiro, económico e social do país, resolveu atacar cobardemente o governo de maioria em funções, que não é obviamente culpado da actual situação, suscitando objecções constitucionais sobre temas que nunca, noutras ocasiões, o atrapalharam!

Foi este medíocre professor de economia e finanças quem afinal criou o monstro da administração pública que temos, e quem, ao mesmo tempo, permitiu que medrasssem as condições para o restabelecimento de um regime capitalista burocrático e rentista, retardatário e corrupto, hoje falido, mas que continua a pretender sobreviver a Pão de Ló e Beluga à custa da miséria dos demais.

Aníbal Cavaco Silva, esta mesma miserável criatura de Deus, vem agora ameaçar Pedro Passos Coelho, do alto da sua presidência, com um golpe de Estado, ou pior ainda, com uma insurreição burocrática, a partir do já sugerido uso do veto presidencial, certamente com o apoio dos conjurados conselheiros de Estado capitaneados pelo jornalista-conselheiro Marcelo Rebelo de Sousa. Menos mal que Vítor Bento manifestou e espero que também Ramalho Eanes e Bagão Félix manifestem opinião diferente e não alinhem nesta Brigada do Reumático II.

As alternativa aos cortes temporários de subsídios quais são? Despedir 70 mil funcionários públicos? Atrasar pagamentos como acontece a centenas de milhar de trabalhadores nas empresas privadas? Aumentar o IVA para 25% e mais? Desde quando é que a tarefa de uma rainha de Inglaterra, ainda por cima desterrada em Belém, é governar? Não lhe chegou o monstro que criou quando foi primeiro ministro?

POST SCRIPTUM

A Brigada do Reumático II e a Esquerda Empalhada apostam numa falência, dita controlada, de Portugal (a chamada "reestruturação"), copiando assim o exemplo da Grécia. O objectivo é óbvio: manter os privilégios da nomenclatura. É uma manobra de esperteza saloia típica, na medida em que, por um lado, atacam o governo pela via populista, e por outro, se este cair na armadilha, atirarão as responsabilidades da bancarrota assumida para cima de Passos Coelho!

É por isso que a posição de Angela Merkel é uma vez mais bem-vinda, ao recusar abrir os cordões à bolsa em nome desta corja. Os bancos e os especuladores que paguem a crise — ou pelo menos 60% das perdas especulativas. E os Estados que façam dieta, sobretudo uma severa dieta de privilégios!
Resposta global e "ambiciosa" adiada para quarta-feira.
Nicolas Sarkozy e Angela Merkel agendaram uma nova cimeira para dia 26 de Outubro. Acompanhe aqui todos os desenvolvimento sobre a Cimeira Europeia de 23 de Outubro. Jornal de Negócios, 21-10-2011.


act. 21-10-2011 12:24

terça-feira, outubro 18, 2011

China?

Um filho bastardo de Keynes viajou até Pequim, mas os resultados da sua receita revelam-se incertos e algo decepcionantes

The Last Train Home, um extraordinário doc de Lixin Fan

No momento em que a economia portuguesa colapsa diante de todos nós, e o governo hesita em atacar de frente alguns dos principais obstáculos e resistências à esperança de uma saída menos dramática, mais estruturada e mais ética da crise, vale mesmo a pena meditar um pouco sobre a China e a promessa que esta dificilmente poderá cumprir: substituir os Estados Unidos e a Alemanha no papel de locomotiva do mundo.

O filme conta a história de três dos duzentos milhões de trabalhadores migrantes responsáveis pela rápida subida da China ao pódio de terceira economia mundial, logo depois da União Europeia e dos EUA. É uma história triste e muito bela ao mesmo tempo: resume em 85mn a fuga à miséria dos campos tentada e concretizada por quase 20% da população chinesa, a ilusão do trabalho e vida na cidade, o inferno das idas à terra no único feriado anual existente, e o regresso forçado de muitos deles às aldeias de origem na sequência do colapso da economia mundial em 2008.

Na América, este regresso à terra foi-se tornando impossível à medida que as propriedades foram sendo confiscadas pelo sistema financeiro na sequência da falência de milhões de pequenos agricultores e ganadeiros descendentes das primeiras três ou quatro gerações de colonizadores europeus. A concentração fundiária nos EUA deixou os habitantes das cidades progressivamente sem retaguarda, e tornando por isso o desemprego uma verdadeira tragédia pessoal, familiar e social (algo que a lei portuguesa deverá impedir expressamente — seja no que se refere às propriedades rústicas familiares, seja no que se refere à habitação própria nas cidades).

A perda definitiva da terra não acontece ainda na China, nem sequer, por enquanto, em Portugal. Mas o problema, como comenta um analista chinês (McKinsey Quaterly, 2009) a propósito do regresso dramático dos trabalhadores desempregados às aldeias, é que o rendimento dos campos continua a representar pouco mais do que 10% daquele que se consegue nas cidades.




“Talk about being caught between a rock and a hard landing. China just reported (completely fabricated) Q3 GDP of 9.1%, which was the slowest GDP growth in the past 2 years and well below expectations of 9.3%, which has sent the Hang Seng index down to -3% on the news, and which confirmed that the Chinese economy is slowing...” — ZeroHedge.

Para a China, crescer abaixo dos 8% é estar em recessão! E a China tem vindo, de facto, a crescer muito perto deste valor desde 2008 (embora as marteladas estatísticas governamentais puxem os números para cima). A fim de atacar a dramática quebra no ritmo de crescimento e exportações desta potência emergente o governo apostou em duas medidas de compensação, uma de tipo keynesiana, e outra meramente especulativa.

A primeira foi um gigantesco programa de obras públicas: barragens, estradas e ferrovia, nomeadamente de Alta Velocidade. E a segunda foi inundar o mercado de crédito com liquidez, favorecendo nomeadamente o sobre endividamento das cidades e dos municípios em matéria de infraestruturas e construção imobiliária, e o consumo de bens duradouros por parte de uma emergente mas ainda algo desconfiada (e portanto poupada) classe média chinesa: automóveis e a parafrenália infinita de electrodomésticos e gadgets electrónicos que a China produz para todo o planeta mas deixou de exportar em tão grande quantidade.

Acontece, porém, que as estradas estão desertas, os comboios de alta velocidade andam meio vazios, e sobram casas aos milhões. Não tardaremos pois a escutar o estrondo catastrófico da gigantesca bolha com que os burocratas chineses tentaram contrariar os efeitos da recessão mundial sobre a sua economia florescente.

Esta pequena história chinesa ilustra bem o grau de interdependência dos problemas do mundo. Não vale a pena olharmos apenas para o nosso umbigo lusitano, inchados de razões, sem meditar seriamente no planeta em que vivemos temporariamente. A globalização económica e financeira tem que ser rapidamente revista em nome de um novo, humanamente decente e justo equilíbrio mundial.

POST SCRIPTUM

Nem de propósito: acabo de receber este clip do CHINA DAILY!
Trade deficit next year 'possible'

Country facing situation for first time since 1993 as export demand drops

BEIJING - China may see its first annual trade deficit for two decades next year, Wei Jianguo, former vice-minister of commerce, said.

September and October are traditionally the peak time for contracts ahead of the festive season in Europe and the United States but demand is sharply down this year, he said.

"China's export-reliant enterprises are facing their toughest time in years. The possibility of a full-year trade deficit cannot be ruled out next year," Wei, secretary-general of the China Center for International Economic Exchanges, a government think tank, told China Daily. — CHINA DAILY

act.: 18-10-2011 20:26

Greve Geral?

A próxima greve geral não passa de uma variante da cobra Uroboros, mordendo a própria cauda!

A anunciada greve promovida pelo PCP, PS, CGTP e UGT, não passa de uma movimentação burocrática, protegida por uma lei da greve demasiado permissiva, sobretudo no que respeita aos servidores e agentes do Estado que, por definição, cumprem funções de interesse público.

O PCP continua a confundir a democracia com a instrumentalização sindical oportunista

O PCP, a Intersindical e a UGT são basicamente grupos de interesses formados por burocratas, que não produzem qualquer riqueza mas ajudam a destrui-la quando lhes convém. A greve de hoje da Transtejo e Soflusa, tal como a esmagadora maioria das greves que ocorrem em Portugal, são greves de funcionários públicos ou de trabalhadores de empresas públicas, ou seja, de cidadãos que dependem directamente do Orçamento de Estado, isto é, dos nossos impostos e do endividamento insustentável do país. Não vivem mal, conseguiram mesmo, ao longo de trinta anos, viver melhor que a média dos trabalhadores e profissionais seus compatriotas que produzem alguma coisa, mas acham-se no direito de atrapalhar a vida a milhões de portugueses todos os anos, em nome das suas regalias. É por isto mesmo que defendo a privatização imediata destas falsas empresas, que mais não são do que cavalos de Tróia de uma parte da nomenclatura que governa o país — e se governa!

Há uma precaução constitucional que se chama Requisição Civil, e outra chamada Requisição Militar. O país não está em condições de dispensar estes instrumentos, sobretudo se for para impedir a sua destruição por uma casta de burocratas oportunistas, aliás co-responsável pela bancarrota do país. O governo terá que perceber esta verdade singela, mais cedo ou mais tarde, e de preferência antes que as vaias de cidadania contra os piquetes de greve degenere em algo mais grave e irreversível!

Por mais reaccionário que pareça o que acabo de escrever, estou apenas a suscitar a necessidade de evitarmos a inércia ideológica dos nossos pensamentos politicamente correctos, cada vez mais imbecis e suicidas.

Os sindicalistas são tão responsáveis pela situação actual, como os amigalhaços que têm nos partidos, nos governos, nos ministérios, nos municípios e nas empresas públicas.

Seria bom começarmos a imaginar outro tipo de lutas políticas, sociais e culturais, deitando no caixote do lixo da História as receitas estafadas e meramente destrutivas da esquerda empalhada que pouco ou nada aporta de inovador às sociedades contemporâneas desde a década de 1960.

O enxame social que hoje atacou a página da EDP no Facebook, a propósito da censura de comentários sobre o Plano Nacional de Barragens, é um sinal genuíno de que é possível transformar a sociedade e resistir às suas iniquidades sem ceder ao maniqueísmo corrompido e em última análise traiçoeiro dos velhos partidos estalinistas, trotsquistas e dos seus sucedâneos sem cafeína, vagamente embrutecidos.

A gente desgraçada que vota como fantasmas em Alberto João Jardim não difere muito dos cadáveres adiados do comunismo estalinista e trotsquista, ou das almas penadas da social-democracia. No sua miséria quotidiana e na sua pequenez oportunista vão mendigando pão e férias até ao dia em que lhes disserem que acabou. Se outra resistência ao empobrecimento que aí vem não houver, mais lúcida e criativa, o fim desta história será trágico.

domingo, outubro 16, 2011

Dívida odiosa!

Poderemos mesmo não pagar?

As manifestações de ontem em Portugal foram menos expressivas do que a convocada pela chamada Geração à Rasca. Foto: Roma, 15/10/2011

Os especuladores privados, os governantes aventureiros e os grupos de interesses instalados nos parlamentos podem e devem ser económica e criminalmente penalizados pelas suas responsabilidades directas na crise das dívidas soberanas europeias. Mas para além deste apuramento de responsabilidades, exigível em qualquer democracia, podem os povos, nomeadamente o português, renunciar às dívidas públicas e privadas que contraíram e que estão desde 2007 a conduzi-los ao colapso financeiro, económico e social? Foram estas dívidas resultado apenas da especulação financeira per se, ou também traduzem uma fuga em frente de economias encalhadas e o fim de uma ilusão colectiva de prosperidade alimentada ao longo das últimas três décadas por governos e regimes parlamentares cada vez mais populistas e irresponsáveis? Serão mesmo odiosas as actuais dívidas americana, inglesa, belga, francesa, italiana, espanhola, portuguesa ou grega? Creio que não. Nem sequer podemos compará-las aos casos irlandês e islandês — onde os colapsos ocorreram sobretudo por efeito de bolhas especulativas recentes, exclusivamente financeiras e claramente indexadas à ganância individual e colectiva.
“Quando um regime déspota contrai uma dívida, não para as necessidades ou interesses dum estado, mas em vez disso para reforço pessoal, para suprimir a insurreição popular, etc, esta dívida é odiosa para o povo e todo o estado. Esta dívida não obriga a nação; é uma dívida do regime, uma dívida pessoal contraída pelo governante, e consequentemente ela cai com o regime. A razão pela qual estas dívidas odiosas não podem ser ligadas ao território do estado reside no incumprimento de uma das condições que determina a legalidade das dívidas do Estado, nomeadamente que estas dívidas devem ser incorridas, e os dividendos usados, para satisfação das necessidades e interesses do Estado. As dívidas odiosas, contraídas e utilizadas para fins que, com o conhecimento do emprestador, são contrários aos interesses da nação, não obrigam a nação – quando sucede que o governo que as contraiu é derrubado – excepto quando a dívida está nos limites das reais vantagens que estas dívidas possam ser suportadas. Os emprestadores cometeram um acto hostil contra o povo, e não podem esperar que a nação que se libertou de um regime déspota assuma tais dívidas odiosas, que são dívidas pessoais do antigo governante.” — in Wikipéia, “Dívida odiosa”.
Este texto publicado na Wikipédia resume a posição do jurista russo, Alexander Sack, que formalizou pela primeira vez, em 1927, a ideia de que os Estados e os povos não são obrigados a pagar as dívidas odiosas, isto é, dívidas contraídas por regimes ilegais ou despóticos contra o interesse dos próprios povos. Não foi isto, porém, que aconteceu na Grécia, em Espanha, ou em Portugal.

Édouard Manet (1832-1883) — Exécution de l'Empereur Maximilien du Mexique (1868)

Benito Juárez, considerado o Lincoln mexicano, opôs-se e derrotou o imperador de pacotilha imposto militarmente ao país por Napoleão III, restaurando a soberania mexicana legítima e dando lugar à consolidação dos modernos Estados Unidos Mexicanos. O império ilegítimo de Maximiliano durou escassos três anos, mas contraiu enormes dívidas. Com o regresso da república, o governo de Juárez, com o apoio dos Estados Unidos da América, repudiou a dívida acumulada por Maximiliano.

Também a junta militar que viria a governar Cuba após a sua independência repudiou a dívida colonial, recusando-se apagar as dívidas contraídas nomeadamente durante a guerra de independência que culminaria na derrota espanhola em 1898.

Casos recentes de dívidas consideradas odiosas atingem os credores de países como o Iraque de Saddam Hussein. Em todos os casos, porém, o repúdio das dívidas não tem sido nunca um acto isolado do devedor, mas o resultado de alianças diplomáticas envolvidas na disputa de influências e territórios, quase sempre enquadradas por movimentos geoestratégicos regionais. A justificação para o repúdio de uma dívida odiosa pressupõe a demonstração da ilegitimidade do poder que a contraiu. Não há nenhum caso de repúdio de uma dívida soberana por parte de um estado de direito democrático.

Talvez por esta razão, o argumento do repúdio da dívida odiosa tenha vindo a ser substituído pela ideia da chamada reestruturação das dívidas soberanas, nomeadamente europeias, ou seja, por um repúdio parcial das dívidas, envolvendo os credores numa redução forçada dos dividendos e juros especulativos esperados — o chamado haircut.

Mas uma vez que o repúdio é parcial, parte muito substancial das dívidas terá mesmo que ser paga!

E o pagamento destas é induzido sob a forma de uma suspensão parcial do crédito ao devedor, de uma subida do preço do dinheiro disponível, de uma desvalorização dos activos do devedor e da correspondente venda ao desbarato dos mesmos, do assalto fiscal à poupança privada, de uma dramática destruição de empresas e de empregos, da diminuição brutal da despesa pública (com especial incidência na prestação dos serviços educativos, sociais e nas pensões), de uma diminuição duradoura dos salários, vencimentos e subsídios, e, em suma, da acentuada e prolongada perda de poder de compra da esmagadora maioria da população. Ou seja, o empobrecimento real dos países com dívidas soberanas exageradas, como o nosso, é uma inevitabilidade. O mais parecido com esta situação, é a que decorre de uma guerra perdida.

Mas assim como a Alemanha, por duas vezes em bancarrota, e por duas vezes vencida na guerra, teve que sofrer os espinhos de colossais dívidas por pagar, mas exigiu um plano de pagamentos exequível (ler este oportuno artigo de Avelino de Jesus sobre o Acordo de Londres de 1953 —Negócios online), também agora, por maioria de razão, a resolução da crise do endividamento privado e soberano europeu terá que passar por uma difícil mas imprescindível negociação.



Indignados buscam identidade e projecto

A menor aderência à manifestação de ontem, promovida pelo Indignados, faz-me supor que começa a haver no país uma interiorização não maniqueísta do grave problema em que estamos metidos. As responsabilidades, nem são só recentes, nem são só "socialistas", nem são só dos banqueiros, nem podem ser resolvidas sem uma responsabilização partilhada, activa e exigente, e uma enorme vontade colectiva de ultrapassar a ameaça de radical empobrecimento que pesa sobre nós e sobre os nossos filhos e netos.

Nesta fase da crise devemos manter um espírito aberto às opiniões e até ao experimentalismo social. O pior que nos poderia acontecer seria continuarmos a alimentar a passividade colectiva com o pretexto de que há quem pense por nós. Não há! Não podemos mesmo confiar mais nas burocracias partidárias, sindicais e corporativas que nos conduziram alegremente até ao fosso em que estamos. O grau de paralisia oportunista da nomenclatura que conduziu a quase democracia portuguesa à bancarrota é a pior conselheira a que neste momento podemos recorrer. Daí a importância dos movimentos cívicos independentes, não apenas aqueles que se manifestam (e devem manifestar-se!) na rua, mas também, e talvez sobretudo, aqueles que começam a organizar-se nos mais modestos e invisíveis organismos sociais, desde logo em casa, no trabalho e nos bairros.

A primeira coisa a exigir do poder não são férias pagas, nem subsídios de natal, nem viagens de borla, nem universidades gratuitas, mas sim trabalho! O governo é responsável, não só por impedir o colapso bancário do país, mas também pela criação directa de emprego produtivo para os mais de 500 mil desempregados actuais. Só o que pagamos a mais nas facturas da EDP daria para criar mais de 200 mil empregos produtivos! O Estado português já não pode ser um lender of last resort, pois está falido, mas pode, se gerir melhor o que tem, e negociar seriamente com os credores, ser um empregador de último recurso (não confundir com manter ou aumentar o funcionalismo público actual), desde que assuma as suas responsabilidades democráticas.

Para tal terá que imaginar o futuro, evidentemente, em vez de se perder no atendimento dos telefonemas das ratazanas atarantadas que não largam as tetas orçamentais.

Diminuir a intensidade energética da nossa economia, aumentar drasticamente a eficiência energética dos nossos edifícios (a começar pelos públicos), requalificar as cidades, criar uma nova rede ferroviária de bitola europeia para mercadorias e passageiros, requalificar os portos e relançar a indústria naval (navios de cabotagem, navios de recreio, acessórios náuticos, etc.), desenvolver o turismo residencial e sustentável, lançar um programa de defesa e valorização responsável da floresta portuguesa (com especial incidência no pinheiro e nas espécies de grande valor económico, como o sobreiro e a azinheira, o castanheiro, etc.), ou apostar na recuperação da agricultura em minifúndio, pela via das fileiras ecológica e dinâmica, são caminhos que, ao contrário dos modelos burocráticos, clientelares e especulativos da macro-economia ainda vigor, poderão fazer rapidamente a diferença e tirar o país da fossa para onde a irresponsabilidade, corrupção e cobardia de uma nomenclatura egoísta e populista atirou o país.


sexta-feira, outubro 14, 2011

Bang!

Se o orçamento é de guerra, então Passos Coelho deve formar um Gabinete de Crise



A comunicação de 13 de Outubro de Pedro Passos Coelho deixou o país em estado de choque. Mas não nos atingiu a todos por igual. Os que continuarem desempregados em 2012 e 2013, e que serão certamente mais de quinhentos mil, perderão muito mais do que os que conservarem os seus empregos, nomeadamente a esmagadora maioria dos setecentas mil funcionários públicos e equiparados. É quase certa uma perda de rendimentos, nomeadamente daqueles que trabalham para o Estado e empresas públicas, na ordem dos 30%, o que não pode deixar de ter consequências dramáticas nas suas vidas e na economia. Mas não é o mesmo que uma perda de 100%!

No entanto, se as corporações, nomeadamente sindicais, resolverem apostar contra este governo, e desencadearem um política de terra queimada, o resultado será desastroso para todos, e cairemos rapidamente numa situação bem pior do que a grega. Em 1974-1975, a balbúrdia revolucionária que permitiu a reorganização das clientelas do novo regime constitucional saído do golpe militar que derrubara a ditadura, e sobretudo a captura burocrática do Estado, custou ao país toda a poupança em divisas acumulada por Salazar ao longo de quatro décadas. Como se fosse pouco, desde 1975 para cá as reservas de ouro do Banco de Portugal passaram de cerca de 865 toneladas para 382 toneladas. E só não houve ainda novo desbaste governamental porque a legislação europeia associada à moeda única o impede.


O regime só aprendeu, muito rapidamente, a fazer uma coisa: gastar. 

Gastar em 1974-75 as divisas que havia, para alimentar o PREC; gastar depois mais de metade das reservas de ouro acumuladas por Salazar, para consolidar a quase democracia que nos tocou viver em permanente festa populista; gastar os fundos do primeiro quadro comunitário de apoio, em fantasias de formação e estradas; gastar aos soluços os fundos que vieram mais recentemente, pois começou a faltar a capacidade de financiar as participações indígenas nos projectos subvencionados por Bruxelas; gastar o endividamento acelerado do país durante a vertigem pirata e suicida do consulado de José Sócrates. 

Ao que parece, o novo moralista do PS, António José Seguro, conseguiu de Passos Coelho um silêncio negociado sobre os responsáveis que levaram o país à bancarrota, a troco, presumo, de um apoio parlamentar mais ou menos estável à coligação regulada pela Troika. Se é como imagino, é pena, e será muito mau para um governo que precisa de demitir depressa e bem quem fez tão mal ao país, o armadilhou e, continuando nos lugares que ainda ocupam alegremente, apenas aumentará a resistência ao imprescindível saneamento institucional do regime.

Embora só tenhamos ouvido das palavras pesadas do primeiro ministro os principais indicadores da dieta forçada que será aplicada ao pessoal do Estado, do sector público empresarial, e ainda aos reformados e pensionistas, tudo leva a crer que algumas medidas urgentes de alteração, suspensão e eliminação dos conselhos de administração e outros corpos dirigentes de muitos organismos públicos e para públicos serão concretizados ao longo de 2012 e 2013, a par do apertão imposto ao comum dos portugueses. Doutro modo, isto é, se o actual governo cedesse à força instalada e organizada dos privilegiados e grupos de pressão que entorpecem há décadas este país, não levando a cabo a necessária remoção da nomenclatura que o capturou e quase destruiu, o actual governo acabaria por se revelar incapaz de desarmadilhar os vários bloqueios institucionais que ameaçam, cada vez mais, a própria sobrevivência do regime. 

Destruição de um dos últimos rios selvagens portugueses, para satisfazer a ganância de políticos corruptos e incompetentes. A sobre endividada EDP cobra anualmente aos portugueses 2,546 mil milhões de euros em custos que nada têm que ver com o preço da electricidade, e servem apenas para pagar erros, e especular no mercado internacional de energia, por exemplo, comprando empresas eólicas nos falidos Estados Unidos da América. É por isto que a Goldman Sachs, antiga empregadora de Moedas e Borges, recomenda a compra de acções da empresa dirigida pelo cabotino Mexia! Foto: ©

O caso, por exemplo, do lóbi cavaquista que persiste desesperadamente na defesa do embuste imobiliário da Ota em Alcochete (o chamado Novo Aeroporto de Lisboa), ou o desse escândalo sem nome que é o saque monopolista anual de 2,546 mil milhões de euros realizado pela EDP através das facturas eléctricas pagas por todos nós, em nome duns supostos custos de interesse económico geral (ler PDF da ERSE, nomeadamente o gráfico da p.32), não podem ser omitidos pelo mesmo governo que ontem anunciou as medidas draconianas que anunciou.  O que pagamos na factura da EDP de cada mês, que nada tem que ver com a energia que consumimos, equivale a qualquer coisa como 28% da massa salarial da Função Pública! Nem a venda da posição estatal na EDP pode servir de pretexto para ocultar este assalto dissimulado ao bolso dos contribuintes e às normas de concorrência comunitária. A imprensa portuguesa tem mantido um pesado silêncio sobre este escândalo. Está na hora de emendar a mão.

O gráfico que deveria sentar Sócrates, Zorrinho e Mexia no banco dos réus.
(clicar no gráfico para ampliar)

Gabinete de Crise

Mas não tenhamos ilusões: quer a situação interna, quer a situação internacional, apesar dos entendimentos de última hora entre Durão Barroso e Angela Merkel, irão colocar Portugal sob uma pressão financeira, económica, social e política de que não temos memória. 

Há uma guerra em curso entre a moeda americana (com o apoio da libra) e o euro, cujos desenvolvimentos são imprevisíveis. Muito brevemente poderemos estar confrontados com dilemas ainda mais abruptos e sem saída aparente do que aqueles que já hoje atrofiam, por exemplo, as decisões do actual governo sobre as privatizações e/ou reestruturações das empresas públicas sobre endividadas (TAP e o restante sector de transportes públicos, EDP, etc.), ou sobre a política fiscal a seguir. Não vejo, aliás, como Passos Coelho poderá, a partir do próximo ano, governar este país em estado de emergência sem formar um gabinete de crise com poderes excepcionais devidamente aprovado no parlamento.


A situação compadece-se cada vez menos com o teatro político-partidário que nos conduziu à bancarrota. É urgente encontrar um mecanismo capaz de lidar excepcionalmente com um tempo que é de excepção. Um Gabinete de Crise, presidido naturalmente pelo primeiro ministro, e composto pelos ministros das finanças, da economia, transportes e emprego, da justiça, da administração interna e dos estrangeiros, teria por missão tomar em cada momento crítico as decisões urgentes que as circunstâncias impusessem, colectivamente ponderadas, ainda que num círculo governamental mais estreito. 


É bem possível que um futuro Gabinete de Crise precise de uma maioria constitucional para adoptar algumas medidas excepcionais sem ter que se submeter previamente a um processo de revisão da cartilha desconexa que rege o actual regime, quase democrático e populista. Mais do que mudar a Constituição, será preciso assegurar que esta deixe de ser um empecilho, pela sua rigidez, à necessária agilidade e prontidão da acção executiva em período de emergência como aquele que estamos atravessando, e que irá durar pelo menos mais três ou quatro anos.

POST SCRIPTUM: o Expresso publicou finalmente este Sábado um artigo, no suplemento Economia, sobre o escândalo do negócio da energia no nosso país. A informação está lá, mas distorcida! 

Os destaques foram editados para amaciar a gravidade do assalto dissimulado ao bolso dos contribuintes, não fosse o senhor Mexia telefonar ao tio Balsemão a protestar. Em vez de destacar tudo aquilo que pagamos na factura eléctrica mensal que não é energia, mas subsídios à RTP-RDP-Lusa, às autarquias, às regiões autónomas, à ERSE, ou compensações às centrais de ciclo combinado pela não importação de gás e carvão e pelo pára-arranca do processo produtivo (pois quando as eólicas injectam energia na rede, a produção a gás e carvão é interrompida), ou compensações à EDP sempre que esta não venda a energia que precisa para gerar lucros e remunerar os seus accionistas (onde está o risco do negócio? não há, é um monopólio!), rendas dos défices tarifários, etc. etc. Pior, o Expresso insinua que os portugueses não pagam o preço real da energia que consomem, lançando uma vez mais a culpa da crise para o cidadão comum que paga impostos. Mas então não é óbvio que se os contribuintes pagassem apenas a energia, em vez de subsidiarem generosamente os negócios monopolistas privados e de Estado, o défice tarifário deixaria, pura e simplesmente de existir? O défice tarifário actual é de €1,8 mil milhões, mas os Custos de Interesse Económico Geral são €2,546 mil milhões! 

O Expresso diz que com a magnífica receita de Sócrates-Mexia o país poupará este ano 1030 milhões de euros. Pergunto, como? As facturas da EDP provam o contrário! Mas sabem uma coisa? A EDP ainda vai dar-nos muitas surpresas desagradáveis, antes de ser vendida ou desfeita. As Dulces Pássaros e os Zorrinhos deste mundo serão recordados como o que realmente são: nódoas de um regime insolvente e que perdeu toda a credibilidade democrática.


act. 16 out 2011 12:59

quarta-feira, outubro 12, 2011

Pink Flamingos Airport (Lisboa-Montijo)

Pink Flamingos Airport (Lisboa-Montijo)

Portela+Montijo tem asas para voar!

Os aviões civis podem aterrar hoje mesmo no Montijo, sem qualquer problema, nem quaisquer custos acrescidos. No entanto, uma metamorfose mais elaborada do aeródromo militar do Montijo (1) e a sua transformação no aeroporto Low Cost de Lisboa seria da máxima conveniência, até para almofadar as vibrações negativas decorrentes da improvável privatização da TAP, ou, como é opinião minha e de muita gente, de um spin-off da empresa, que a mantenha nas mãos do Estado, mas sob um regime de administração mais inteligente, eticamente irrepreensível e espartano! 

Manobras desesperadas do lóbi cavaquista do embuste imobiliário da Ota em Alcochete montaram uma verdadeira barragem de tiro ao Álvaro (como alguém escrevia com graça) em volta deste tema e de outros que muito incomodam a nomenclatura que nos conduziu à bancarrota. Não nos esqueçamos, porém, que um tal Fantasia, da SLN/BPN, vizinho da rainha de Belém na urbanização da Coelha, adquiriu 250 milhões de euros de terrenos à volta do prometido NAL de Alcochete, quinze dias antes de Sócrates anunciar o abandono do NAL na Ota!

Mas vamos ao que interessa: Montijo, sim ou não?

Será que não bastaria, para já, entregar o Terminal 2 da Portela às Low Cost, e deixar as vinte mangas do Terminal 1 para a TAP e restantes companhias de bandeira, em vez de partir para obras necessariamente caras na Margem Sul? Há quem diga que a Ibéria, única interessada na compra da TAP, teria exigido a saída das Low Cost da Portela, para assim evitar a concorrência agressiva da easyJet e da Ryanair. Duvido que esta questão tenha estado em cima da mesa, pois suspeito que o essencial ainda não foi discutido: quem paga a dívida acumulada de 2,4 mil milhões de euros? quem despede o pessoal a mais (dois mil a três mil funcionários)?

Mas enfim, admitamos que o velho tema de uma segunda pista paralela à pista norte/sul da Portela, a construir na excepcionalmente bem colocada base aérea militar (NATO) do Montijo, acabou por ganhar a notoriedade que sempre mereceu na Blogosfera como alternativa decente ao estuporado NAL da Ota, Rio Frio ou Alcochete. Salvo a ameaça dos flamingos, dos corvos do mar, das garças e dos maçaricos-de-bico-comprido, protegidos por lei, tudo parece fazer do Montijo uma saída milagrosa para o actual aperto governamental em matéria de privatizações rápidas. A dimensão do endividamento das empresas públicas e da EDP (mais de 87 pontes Vasco da Gama!) tornou-se uma armadilha muito perigosa para este governo, o qual só poderá evitá-la com sucesso se demonstrar grande capacidade de manobra, decisão firme e imaginação.

Transformar a base aérea do Montijo num aeroporto Low Cost, a um passo da Ponte Vasco da Gama, e a vinte minutos do Terreiro do Paço, mas também com excelentes vias de comunicação em direcção à Costa da Caparica, Tróia e Algarve, já para não mencionar a proximidade à futura estação terminal do Transiberiano, no Pinhal Novo (é uma aposta da Blogosfera!), será certamente uma inesperada mas eficaz opção para atacar o impasse da TAP com um gambito infalível sobre os futuros herdeiros da companhia.

Mas se, mesmo assim, ninguém quiser casar com a TAP, pagando o correspondente dote, resta uma solução viável: fazer um spin-off bem feito do Grupo, vender o que não presta ou não serve a sua matriz genética (voar!) e criar uma TAP Low Cost com base operacional no futuro Pink Flamingo Airport (Lisboa-Montijo)! Na Portela, o hub Brasil-Europa, que o gaúcho soube construir a pulso (concedo-lhe este notável feito, mas condeno-o pela falência da empresa!), ganharia novas asas para voar, beneficiando das melhorias aeroportuárias em curso, de que falta todavia fazer o prolongamento do taxiway para evitar o cruzamento de pistas e passeios desnecessários das aeronaves uma vez em terra e a caminho das mangas.

Ao contrário do que acontece com as opções OTA, Rio Frio e Montijo A, a situação especifica do Montijo B permite encarar a possibilidade de operação quase imediata para reduzidos níveis de movimentos e passageiros, sem ampliação da pista, desde que não fosse utilizada por wide bodies nem por narrow bodies de maior capacidade, ou seja, no caso da TAP, não poderia operar com os Lockeed, nem com os 737-300, podendo contudo operar com os 737-200 e os Airbus 310 e 320, efectuando-se um reforço da pista, caminho de circulação e plataforma para 2/3 aeronaves, no montante de 750 000 contos.


[...]


A primeira questão que se coloca no caso da operação conjunta, refere-se às implicações resultantes em termos de controlo de tráfego aéreo diferindo, para as várias hipóteses de localização em análise, da seguinte forma :

Rio Frio - Com a orientação de pistas definida e atendendo ao afastamento físico desta localização face à Portela não se preveem problemas operacionais, derivados da operação conjunta, para além da necessidade de coordenação com mais uma entidade.

Montijo A (Orientação de pistas Norte/Sul) - Apesar da maior proximidade à Portela a orientação de pista paralela à actual pista principal, permite operar como um único aeroporto, não se prevendo que existam restrições ao tráfego com significado, embora exija um maior esforço de articulação e coordenação.

Ota - Atendendo a que ambas as pistas ficarão num mesmo eixo Norte/Sul, coincidente com os principais fluxos de tráfego da TMA de Lisboa, as descolagens da 03 na Portela interferem com as aproximações à 01 na Ota e, inversamente, as descolagens na pista 19 da Ota interferem com as aproximações à 21 na Portela.

Montijo B (Orientação de pistas Este/Oeste) - Situação mais complexa porque as linhas de aproximação da actual pista 03 na Portela, com a 08 no Montijo, se cruzam num ponto onde as aeronaves se encontram na trajectória final antes da aterragem. Também nas descolagens da pista 21 na Portela e da 26 no Montijo existe o mesmo tipo de conflito, bem como em caso de descolagem ou aproximação falhadas. Cada situação de conflito introduz uma redução de 5% na capacidade de pista. Face aos análogos regimes de ventos a atribuição das pistas em uso 03 ou 21 na Portela corresponderá, respectivamente, às 08 e 26 no Montijo.
in “NAL, Novo Aeroporto de Lisboa, Estudo de Localização”, ANA, 1994.
Interior dos modernos catamarãs que ligam o Montijo a Lisboa. Foto: Rui Rodrigues.

O futuro metro do Aeroporto (que já deveria ter inaugurado há mais de um ano!) levará praticamente o mesmo tempo a chegar ao Terreiro do Paço que o catamarã que liga o Montijo ao mesmo Terreiro do Paço, ao Cais do Sodré ou ao apeadeiro fluvial da Expo. E convenhamos que entrar em Lisboa pela grande porta do estuário do Tejo não tem preço!

Para os serviços aeroportuários da capital seria, por sua vez, uma boa oportunidade para deslocar o entalado terminal de carga da Portela para o Montijo, onde gozaria de inúmeras vantagens operacionais. Para a TAP e para a Groundforce, por fim, esta extensão do aeroporto para a Margem Sul seria um modo evidente de salvar algumas centenas de postos de trabalho inexoravelmente ameaçados pelo estado de falência e enorme endividamento (2,4 mil milhões de euros) a que os criminosos políticos do Bloco Central deixaram chegar o Grupo TAP.



NOTAS
  1. Os aeródromos militares do Montijo, Alverca, Ota e Sintra, e a quimera a que chamam Figo Maduro, existentes na cintura da área metropolitana de Lisboa, deixaram há muito de fazer qualquer sentido, além de, pela cativação de espaço aéreo que exigem, atrapalham inutilmente a aviação civil na cidade-região que é a capital do país. Por um lado, a frota de aviões e helicópteros da Força Aérea encontra-se numa situação quase caricata: alguma aeronaves nunca saíram dos caixotes e serviram apenas para reposição de peças, e outras viram recentemente os seus prazos de validade caducarem sem nenhuma alternativa no horizonte. Numa palavra: a força aérea portuguesa não existe! E como não existe não deve continuar a gastar dinheiro com pessoal, patentes e subsídios em nome dos fantasmas a que chama bases aéreas militares. À excepção das bases militares das Lajes, Monte Real e Beja, onde o esforço de manter uma força aérea militar operacional deveria concentrar-se, o resto pode e deve pura e simplesmente ser desactivado, colocado ao serviço do interesse público civil, se for oportuno, ou mantido em regime de espaços estratégicos adormecidos (com custos de manutenção reduzidos ao mínimo).