quinta-feira, março 15, 2012

Lóbi do novo aeroporto não desiste!

O Gaspar no bolso do BPN (perdão SLN), é isso? Se é, corram com o homem. Contabilistas é o que há mais por aí!

Um comboio bala na China viaja 664 milhas, de uma cidade costeira do sul até ao interior do país. O plano americano é ligar Tampa a Orlando. E em Portugal deveria ser ligar Lisboa a Paris, Lyon, Barcelona e Milão, passando por Madrid, e ainda Aveiro-Porto a Salamanca-Irún-França e à Galiza, até 2020.
(Foto: Shpherd Zhou/European Pressphoto Agency, in
"China Sees Growth Engine in a Web of Fast Trains"

Além do mais não se esqueçam deste pormenor importante: a Espanha é o nosso maior credor. Ou seja: poderá retaliar de duas maneiras: 
  1. exigindo mais ativos pela insolvência próxima do país; e 
  2. fechando a passagem ferroviária de Portugal para a Europa transpirenaica durante os próximos 50 anos, argumentando calmamente que a decisão de transformar Portugal num prolongamento das Berlengas, foi exclusivamente lusitana. 
Nessa altura, se o desastre vier a ocorrer, talvez, sob influência chinesa e de alguma ditadura militar entretanto instalada no terreno, já tenhamos adotado o mesmo código de tratamento punitivo que a China hoje aplica aos corruptos comprovados. É que a defesa dos interesses estratégicos de um país extravasam em muito o pormenor do perfil cultural dos regimes!

Para quem não entende todo este imbróglio, basta fixar o seguinte: se a prevista ligação ferroviária Poceirão-Caia for concretizada (como espero!) o embuste do Novo Aeroporto da Ota em Alcochete (eNAO-A) cairá por terra sem apelo nem agravo. O que é, sublinhe-se, o mais desejável, se nomeadamente pensarmos a gestão do sistema integrado de transportes, nesta fase de declínio das reservas petrolíferas, de uma forma racional e estratégica. O petróleo atingiu ontem um máximo histórico em euros!

Levar as companhias de baixo custo (Low Cost) para o Terminal 2 da Portela, situação que ocorrerá já no próximo dia 20 de Março, deixar as magníficas e novíssimas mangas do Terminal 1 para o famoso hub da TAP e outras companhias de bandeira, manter em stand-by o aérodromo militar do Montijo para expandir a Portela, nomeadamente nos segmentos Low Cost e Carga, e inaugurar enfim a mais do que pronta nova estação de Metro do Aeroporto, é o que se espera de um governo de crise e que afirma aos quatro ventos (falta demonstrar!) que não está no bolso dos execráveis rendeiros deste país (SLN, BES, Mellos, Mota-Engil, etc.) 

Quanto aos terrenos do aeroporto, prometidos ao senhor Stanley Ho, proponho uma alternativa: façam de Beja um grande centro internacional de lazer — Las Bejas! Seria, aliás, a única forma de recuperar os 38 milhões de euros lá enterrados pelos adiantados mentais do anterior governo.
Gaspar trava pressão de Bruxelas para avançar com TGV ‘low cost’ — Económico

A Comissão Europeia está a pressionar o Governo, mas receia que Vítor Gaspar enterre o projecto, mesmo na sua forma reduzida


 A Comissão Europeia está a pressionar o Governo português para apresentar rapidamente um plano de construção da linha de alta prestação de mercadorias e passageiros, que ligue os portos de Portugal a Espanha, aproveitando as verbas que o Fundo de Coesão tem disponíveis para este projecto, uma versão reduzida do antigo TGV.

A pressão está a ser exercida pela Direcção Geral de Política Regional e Transporte, onde um responsável ouvido pelo Diário Económico sublinha o facto de o País ter ainda "733 milhões de euros por atribuir a este corredor Sul-Oeste". Lisboa também tem sido pressionada por Madrid que, de acordo com a mesma fonte, "vai perder 133 milhões de euros" das redes transeuropeias (RTE) se Portugal não avançar com o projecto. As reuniões entre os responsáveis ibéricos têm sido inconclusivas, mas em Bruxelas espera-se um sinal na reunião europeia dos ministros dos Transportes, a 22 deste mês.

Em Bruxelas, este responsável justifica as reticências do Governo com o "problema político" do TGV ter sido uma "ideia forte do anterior Executivo" e com o facto de, neste momento, ser "politicamente difícil explicar aos cidadãos a aposta numa obra desta envergadura".  Económico, 15 mar 2012.

Se as manobras do lóbi criminoso do eNAO-A triunfassem isso significaria automaticamente o seguinte:
  1. A perda de mais de 800 milhões de euros de fundos comunitários não transferíveis e indemnizações, nomeadamente ao consórcio ELOS, de quase duzentos milhões euros, ou seja, e tudo somado, mais de mil milhões de euros perdidos, por um governo que se revelaria então, escandalosamente, como mais um boy dos rendeiros corruptos que levaram este país à bancarrota;
  2. A criação de zero novos postos de trabalho;
  3. A criação de zero novas empresas que poderiam, em Portugal, complementar e reforçar o já importantíssimo cluster ibérico associado ao transporte ferroviário;
  4. O encarecimento estrutural do nosso sistema de mobilidade e transportes, de pessoas e mercadorias, nomeadamente nos decisivos setores das exportações e da mobilidade de recursos humanos tecnologicamente avançada;
  5. A destruição do enorme potencial dos portos atlânticos portugueses, cuja dedicação ao transhipment seria virtualmente anulada pela barreira ferroviária que em breve a Espanha será para Portugal se não tornarmos a nossa rede ferroviária compatível com a rede ferroviária europeia em desenvolvimento (e que obviamente não usa a bitola ibérica);
  6. E finalmente, a perda completa de credibilidade de um país que rejeita utilizar recursos financeiros escassos —postos à sua disposição em nome de um projeto europeu integrado—, ainda por cima com graves prejuízos para o país vizinho, o qual, por via da irresponsabilidade extrema de uma corja de governantes corruptos portugueses, perderia também vultuosos fundos comunitários não transferíveis.
A lunática e mendicante imprensa portuguesa vai acordando lentamente para os problemas. Mas, enfim, mais vale tarde do que nunca.
Madrid e Bruxelas pressionam Lisboa a avançar com versão “Light” do TGVRTP
 
Outro responsável na Comissão Europeia pela área dos transportes reconhece que a escolha de avançar ou não com a versão reduzida do antigo TGV “ é uma decisão soberana do país” , mas adverte que “seria uma oportunidade falhada determinar o fim abrupto da linha de alta-velocidade”.

Segundo explicou ao Económico este responsável, “há uma boa razão económica “ para avançar com este projeto agora. Se os 733 milhões que estão ainda por atribuir ao corredor Sul-Oeste forem gastos até 2013 terão co-financiamento de 95 por cento e se o forem entre 2013 e 2015, a taxa de financiamento cai para 85 por cento.

A mesma fonte explica que a parcela nacional “pode ser facilmente compensada pela receita adicional que resultará de impostos e descontos para a segurança social dos trabalhadores das empresas de construção”.
O tempo está a esgotar-se
O tempo urge porque é preciso pelo menos um ano para o projeto passar por concursos públicos até avançar no terreno.

De acordo com este responsável, outro argumento a favor do projeto está no facto de, se Portugal não avançar com o projeto neste quadro financeiro (2007/2014) “terá mais dificuldade em obter fundos no próximo quadro de 2014/2020”. RTP, 15 Mar 2015.
 Última atualização: 15 mar 2012 11:57

quarta-feira, março 14, 2012

300 Pontes Vasco da Gama

Em 2009 Portugal já tinha acumulado uma dívida superior a 300 mil milhões de dólares. Quem paga?

O custo exagerado da Ponte Vasco da Gama (cerca de mil milhões de euros) tornou-se na medida-base do nosso escandaloso endividamento

Custos da Ponte Vasco da Gama (1998/ valores em euros)

Fundo de Coesão da U.E.: 319.000.000,00 (35,6%)
BEI: 299.000.000,00 (33,3%)
Portagens da Ponte 25 Abril: 50.000.000,00 (5,6%)
Acionistas, etc.: 229.000.000,00 (25,5%)

Custo Total da Ponte Vasco da Gama: 897.000.000, 00   

O memorando assinado pelos representantes de Portugal e pelo BCE, União Europeia e FMI, apontou um caminho: consolidação fiscal, abertura dos mercados protegidos à concorrência, e melhor redistribuição da riqueza, nomeadamente através dos mecanismos de transparência, supervisão e aplicação da equidade próprias dos regimes democráticos.

O governo foi rápido a esfolar a maioria dos contribuintes, conseguindo até a proeza de aumentar rapidamente a taxa de mortalidade do país! Já no que se refere à segunda metade do acordo que os portugueses sufragaram em mais umas eleições, realizadas em circunstâncias de crise agravada das contas públicas e privadas do país, o governo do Jota Passos de Coelho nada fez. Promete, vagueia, ausenta-se, mas a verdade é que os acontecimentos têm vindo a mostrar que o mesmo poder (isto é, o Bloco Central da Corrupção) que nos conduziu até à desgraça, escancarada desde 2008, persiste na mesma via, só que agora agravada pela falta que em breve será evidente de qualquer colete de salvação — seja o do crédito internacional privado, seja o dos resgates financeiros promovidos pela União Europeia em claro desespero de causa. Portugal não conseguirá atingir a meta do défice, nem mesmo roubando todo o QREN para martelar uma vez mais os balanços.

Os ingleses, que anunciaram um empréstimo público obrigacionista a 100 anos de vista (coisa igual só ocorreu naquele país para pagar a Primeira Guerra Mundial), decidiram também e ao mesmo tempo rever as suas PPPs. Não consta que algum político de pacotilha tenha ido ao parlamento assustar os deputados de sua majestade com o poder dos escritórios de advogados!

Os piratas da EDP, da Mota-Engil, do BES e do Grupo Mello, entre outros, cujas rendas escandalosas deveriam já ter sido drasticamente revistas e reduzidas, são a pedra de toque da sobrevivência do atual governo (ver quadro completo das PPP: Q1, Q2, e ler o Relatório). Se o que já transparece for o que parece, não dou mais de um ano de vida a esta coligação de fracos.

O contrato da Ponte Vasco da Gama, assinado em 1995 (governo de Aníbal Cavaco Silva, com Joaquim Ferreira do Amaral no cargo de ministro das obras públicas), tendo o seu custo atingido um total de 897 milhões de Euro — é disto mesmo um verdadeiro paradigma.

Os fundos comunitários representaram cerca de 35% do seu custo, e os comentários do Tribunal de Contas sobre o financiamento desta ponte foram deste quilate:

“Só pelo facto do Estado ter prolongado a concessão 7 anos as perdas foram superiores a 1047 milhões de euros”.

Fazendo contas chegar-se-à à conclusão de que esta infra-estrutura irá custar, no total, quase o triplo do preço original. Teria sido assim muito mais proveitoso para o Estado pagar a totalidade da obra, recorrendo a um empréstimo a 30 anos, deixando a amortização por conta das receitas de portagem portagem.

O TC é lapidar:
"Na verdade, afinal, o Estado concedente tornou-se no mais importante e decisivo financiador da concessão, sem a explorar" (Relatório completo/ PDF)
Mas o mais importante, que não está a ser discutido agora, a propósito da escandalosa tentativa governamental de entregar à Lusoponte receitas indevidas, por conta das portagens do passado mês de Agosto, que foram cobradas, ao contrário da "borla" habitual (paga por quem passa e por quem não passa na ponte), é outro assunto muito mais sério!

O Estado Português concedeu à Lusoponte, até às 24 horas do dia 24 de Março de 2030, o direito de opção na construção das novas travessias rodoviárias entre Vila Franca de Xira e Algés-Trafaria. Ou seja, o Estado não só financiou uma empresa privada, como lhe atribuiu o privilégio de rendeira monopolista de todas as pontes rodoviárias desde Vila Franca até ao mar!

Joaquim Ferreira do Amaral é desde 2008 um dos administradores não-executivos da Lusoponte, a qual foi entretanto adquirida pela Mota-Engil, presidida pelo "socialista" Jorge Coelho. Palavras para quê? São artistas portugueses e usam e abusam da ingenuidade dos indígenas que exploram e gozam alegremente.

segunda-feira, março 12, 2012

Pastel de Nata

Os pasteis do Álvaro? Um déjà vu!

Um verdadeiro pastel de nata, fabrico do bb Gourmet, Porto


‎Eu comprei um pastel de nata (juro!) em plena Xangai, numa rua pedonal, onde os chineses viam futebol numa pantalha gigante, tudo isto há mais de uma década — no ano 2000!

Há muito tempo, aliás, que sugiro aos portugueses que criem um McDonalds do bacalhau, isto é, um McCod! Basta substituir a carne picada pelo bacalhau picado, obviamente criado no mar alto como o salmão — hélas, la technologie ça se voie, non

E aos meus amigos espanhóis, que são muitos, venho recomendando, desde bem antes desta malfadada crise (1), a criação de uma cadeia mundial de pequenos hotéis dedicados à sesta, essa instituição de cultura, certamente inventada pelos árabes, mas ainda hoje religiosamente praticada por galegos, bascos, castelhanos, andaluzes e valencianos, e ainda pelos alentejanos que se prezam. Até lhes ofereci o nome para esta minha ideia luminosa: Siesta House!

Finalmente, uma outra ideia minha, não menos genial, passa por aproveitar o aeromoscas de Beja, um investimento de 38 milhões de euros, deserto de clientes, no vai-e-vem da futura Las Bejas — The Great Stanley Ho Adventure in Euroland. Não é preciso explicar mais nada, creio!

O tempo da chuva de euros terminou. Agora, ou temos ideias, ou empobrecemos. É esta a história dos pasteis de nata contada pelo nosso super ministro da economia, da indústria e do emprego. Só os burocratas, a corja partidária e os rendeiros do meu país não perceberam, ou não gostaram da moral que ela obviamente contém.


ACTUALIZAÇÃO (5 jun 2012) 


O Álvaro bem tentou avisar a malta, mas a malta anda a passo de caracol e olhar bovino... atrás da bola... e então, já está: 1300 milhões de comedores de pasteis de nata potenciais já têm fornecedor: a Julia e a cadeia Lillian Cakes de Xangai, que foi quem confecionou e serviu 1700 pasteis de nata num só dia no Pavilhão de Portugal da Expo de Xangai. Continuem à espera de São Bento e depois não se queixem!


NOTAS
  1. "Economists say euro crisis may not be over" (EurActiv)

sexta-feira, março 09, 2012

Chapéus há muitos!

A Gasparinho o que é de Gasparinho, e a Álvaro o que é de Álvaro!

É mais fácil ver o Gasparinho a claudicar do que o Álvaro
(Imagem de WHKITG)

O emigrante Álvaro resistiu como desde o início anunciei em contra-mão de toda imprensa de ouvido, da méRdia indigente e ainda da que está a soldo das ratazanas da energia, dos aeroportos que cantam, e das altas de Lisboa!
"O ministro Álvaro Santos Pereira está a fazer um bom trabalho à frente do ministério da Economia e não tenciono prescindir dele" — disse hoje o primeiro-ministro — Jornal de Negócios, 9 março 2012.
Imagine-se, por um momento, que Álvaro Santos Pereira saía. Como ficaria o governo de Passos Coelho depois de perder um ministro com tantas pastas (apesar de não ter dinheiro)? Quem iria para o seu lugar, sabendo que iria ocupar um ministério aparentemente indomável, sem dinheiro, com novos secretários impostos pelo primeiro-ministro, e subordinado aos humores gagos do agora recandidato a António de Oliveira Gaspar? Como seria a coisa vista de Bruxelas? Ou de Frankfurt? Ou de Berlim?! Em que situação ficariam Passos Coelho e Vítor Gaspar depois de atirarem ao chão, por medo, ou por fraqueza diante dos lóbis que se agitam como crocodilos num charco sem água, o membro mais importante do governo, depois deles próprios? Quem seria mais tarde responsabilizado pela recessão e pela falta de novas estratégias de desenvolvimento? Quem lidaria com as empresas? Quem aturaria os sindicatos? Eu sei que o PSD está cheio de trogloditas a salivar por um tacho onde só tenham que obedecer ao chefe, que é a situação mais confortável para ir roubando ou ajudando a roubar umas coisas! Mas não saberá já Passos Coelho aonde uma tal estupidez de condução política o conduziria em menos de seis meses? Esta tarde revelou, que sim!

Eu percebo, e já escrevi, que o ministro das finanças queira, e o país precise, de maior controlo no gasto dos dinheiros públicos, sobretudo quando há eleições autárquicas pela frente e a maioria dos municípios está tão ou mais insolvente que o resto do país. E que seja bom implementar uma vigilância financeira preventiva à aplicação dos fundos comunitários do QREN, e até uma reordenação das prioridades do esforço orçamental. Mas não é para estas coisas que servem os conselhos de ministros, o tribunal de contas, a unidade técnica de apoio orçamental, o conselho de finanças públicas recentemente criado e os tribunais convencionais? Aliás, se estes últimos funcionassem nestas coisas, como deveriam imperativamente funcionar, alguém crê que teríamos casos judiciais encalhados como o Freeport, ou outros que nem chegaram ainda a ser casos de polícia, mas que têm todo o aspecto de serem, como, por exemplo, o escândalo da requalificação dos edifícios escolares?

Para se salvar do desaire total Pedro Passos Coelho lá teve que inventar um "chapéu" para supervisionar a revisão e a aplicação do QREN. É caso para dizer: chapéus há muitos!

O pior da situação económica, social e financeira não passou. Encontra-se ainda à nossa frente, como evidencia a evolução do caso grego. Para todos os efeitos, a Grécia entrou em bancarrota parcial, e muitos investidores e sobretudo especuladores ficarão a arder, incluindo os bancos portugueses que andaram a jogar com a dívida grega soberana! Quem perdeu, e cria que iria ganhar o braço de ferro com a senhora Merkel, já começou a olhar para Portugal, Espanha e Itália, e a coçar a cabeça, a pensar nos descontos!

O nosso país dificilmente escapará de uma reestruturação da dívida pública, isto é, de uma bancarrota parcial, com incumprimento de obrigações nacionais e internacionais, e a troca de uma parte da sua dívida velha, insolvente, por novas promessas de pagamento.

Até que este pesadíssimo episódio ocorra, em 2013..., 2014..., 2016? (1) a nossa situação colectiva irá piorar e muito. Talvez por saber isto mesmo, o traste presidencial que elegemos tenha já começado a revelar o que até há pouco era matéria reservada das reuniões entre ele e o primeiro-ministro. Um verdadeiro sinal de desorientação e cobardia política inimagináveis. Está na altura de começarmos a pensar colectivamente na hipótese de impugnar este presidente, se o mesmo, entretanto, não tomar a boa iniciativa de renunciar ao cargo.

Vai ser necessário derrubar alguns Távoras, sob pena de cairmos no caos. Mas para isto o governo de Passos Coelho terá que evidenciar uma liderança independente e forte, mostrando claramente o que pode dar a cada um de nós, mas também o que ainda terá que cortar, para salvar o país de uma completa perda de independência. Tem que ser claro, e deixar-se de jogos políticos que só irritam mais uma população já muito irritada!

A força de que naturalmente precisa, naturalmente virá, se não brincar com os portugueses.

NOTAS
  1. Para o diário alemão Die Welt, segundo reportou a Lusa às 17:38 (ver notícia SIC-N das 21:01), a nova seringa do resgate português pode vir a ser necessária já no próximo Outono :(

Última atualização: 10 Mar 2012 21:53

quarta-feira, março 07, 2012

António de Oliveira Gaspar (II)

O Gasparinho atacou de flanco e recuou. Espera agora nova oportunidade para roubar mais um pedaço do orçamento... ou demitir-se, em vez do Álvaro!

Wolfgang Schäuble, 2010 (Getty Images)

O fogo das ratazanas, apesar de suportado pela gigantesca operação de contra-informação montada com o apoio canino da indigente méRdia que temos, para já, falhou o Álvaro. Tiveram todos que comprar umas perdizes na mercearia para chegarem a casa com alguma história que contar. Sabemos, porém, que as perdizes de aviário não prestam.

A tentativa de colocar o ministro das finanças na posição de chefe de governo, congeminada pelas ratazanas que de renda em renda, e de roubo em roubo, arruinaram Portugal por mais de uma década, servida de mansinho pelo Paulinho das Feiras, envergando o disfarce empoado de primeiro ministro, esmurrou o nariz na parede do emigrante que nunca precisou de rendas para coisa nenhuma, que vai continuar a não precisar, e que portanto não treme como vara verde a cada telefonema do Espírito Santo.

O moço das finanças que adormece a pensar no mestre Salazar e acorda disposto a trair todos os colegas de governo em nome da sua irrisória ambição, não desmentiu o essencial, isto é, que não quer ver todo o governo a despacho no seu gabinete. Por sua vez, o jota que faz de primeiro ministro vai flutuando no mar encapelado da crise e vozeia vacuidade para encher diariamente o chouriço da comunicação social, com a única preocupação de não salpicar a ponta do sapato.

Diz o pasquim "i", seguro das suas minhocas geralmente bem informadas, que na conversa a dois entre Passos de Coelho e o ministro Álvaro Santos Pereira, este se despediu, e que o PM, ao fim de duas horas, lá convenceu o Álvaro, não só a não bater com a porta, porque tal decisão intempestiva iria levar água benta ao seminarista do PS (coitado deste), mas a esperar que, em tempo oportuno, fosse o próprio primeiro ministro a despedi-lo! Álvaro Santos Pereira teria ficado tão desorientado com as artes de sedução do jota Coelho que acabaria por abandonar a reunião de emergência, em contramão e sem prestar declarações à imprensa paga para o destruir.

Se bem me lembro, isto é o contrário do que todas as minhocas geralmente bem informadas disseram no dia anterior sobre o despedimento com justa causa do Álvaro!

O homem não tinha sido "demitido em directo" pelo jota Passos "quando o primeiro-ministro anunciou que a 'palavra' de Gaspar é que é a 'decisiva'?

Como bem lembrou um que foi ministro de Sócrates, o devaneio do jota primeiro-ministro é a própria negação do cargo que ocupa. Se um ministro das finanças, para além de fazer o que lhe compete (e não faz!), ou seja, aplicar o Memorando da Troika, não apenas no assalto aos rendimentos do trabalho, mas também à redução acordada das rendas criminosas das ratazanas que dominam económica e financeiramente este país, pretende ainda ditar o que cada colega de governo pode ou não pode fazer com a fatia orçamental que lhe foi atribuída em sede de Orçamento de Estado, depois de árduas discussões estratégicas e sindicais, o resultado de tamanho atrevimento é, tão simplesmente, a destruição do próprio Conselho de Ministros, isto é, do Governo, perante a indecisão inadmissível do primeiro-ministro face à sua óbvia desautorização institucional.

Já todos percebemos que o Gasparinho está enrascado ao défice. Mas se assim é, e é, que tal acabar com as rendas da EDP, Endesa e Ibertrola? Que tal parar a criminosa barragem do Tua? Que tal rever as rendas leoninas das PPPs? Que tal investigar o que andou a TAP manutenção a fazer estes anos todos no Brasil, para se ter tornado na principal ferida de onde escorre a hemorragia do grupo? Que tal reverter a venda inexplicável da PGA (do omnipresente BES) à TAP? Que tal levar a tribunal os geniais zarolhos que congeminaram aeroportos (Beja) e europarques (Vila da Feira) para moscas, a peso de ouro, cobrando fundos comunitários ao mesmo tempo que deixaram o vazio de iniciativas idiotas à nascença e as subsequentes dívidas para nós pagarmos agora, com reformas e salários abocanhados pelos usurários? Que tal recuperar a massa roubada do BPN? Que tal acabar com as fundações e institutos por quem aparentemente até o prosador Vasco Pulido Valente descobriu afinal morrer de amores? Que tal perguntar ao extraordinário Centro de Investigação da Fundação Champalimaud, construído graciosamente em terrenos de luxo municipais, o que fez até agora pelos doentes portugueses? Tanta coisa para investigar, suspender, poupar, e o rapaz que não convenceu (nem de perto, nem de longe!) Wolfgang Schäuble, só pensa raptar os fundos do QREN para martelar as contas do nosso trágico endividamento público!

Será que os grifos de Frankfurt irão lamber mais esta farsa grega, para melhor nos comer depois?

Se é o caso, é melhor que fique desde já claro o registo de que nem todos os portugueses querem isto. Eu não quero! Prefiro desde já que o putativo António Oliveira Gaspar se demita no fim do ano, quando ficar claro para o ministro alemão e para todos nós que não cumprimos, e que não cumprimos, em primeiro lugar, porque não cumprimos a palavra do Memorando em tudo o que pudesse incomodar as ratazanas desta cloaca à beira-mar exposta.

Dizem as pegas da comunicação social que o Gasparinho
  1. teme que o QREN vá pela sanita das autarquias abaixo, ingloriamente; 
  2. ou, numa versão igualmente de fantasia, mas diametralmente oposta, que os cinco mil milhões, metade dos quais já consignados, mas não executados, e a restante metade ainda por distribuir, não sejam bem aplicados e depressa, por forma a induzir o célebre crescimento de que as Finanças precisam para poderem ver aumentada a base tributária dos orçamentos do Estado, de 2012 e 2013;
  3. ou ainda que desejaria apenas criar mecanismos suplementares de supervisão financeira da aplicação dos fundos comunitários, de modo a travar excessos e cunhas, o que seria razoável imaginar como próprio dum ministro das finanças.
No entanto, a verdade parece esconder-se noutro lugar:

— o que este ministro das finanças dum país insolvente quer é esconder simultaneamente o défice, o desemprego e a recessão. Como? Pois fazendo o mesmo que o seu antecessor fez:
  • colocar parte dos desempregados a estudar, retirando-os das estatísticas do colapso do emprego,
  • colocar parte dos desempregados em empresas sem acesso ao crédito, retirando mais alguns milhares de desempregados das estatísticas negras, ao mesmo tempo que mitiga os colapsos gémeos do consumo e do PIB,
  • e finalmente satisfazer o Bloco Central do Betão, dando largas aos seus desvarios aeroportuários e rodoviários, trocando o necessário mas sistematicamente amaldiçoado "TGV" pelo embuste da Ota em Alcochete, mais a célebre cidade aeroportuária da Palhota, e a nova ponte entre o Barreiro e o Montijo, e as novas barragens do Tua, do Sabor, do Tâmega, e por aí adiante, e os prémios Pritzker alinhados em bicha indiana atrás do Souto Moura, e a Alta de Lisboa finalmente entregue ao Stanley Ho, e a a plataforma logística do Poceirão entregue à Mota-Engil, que também é dona da Lusoponte, a cobrar direitos de passagem entre bitolas ferroviárias, e os nuclearistas, já agora, porque não, a plantar centrais nucleares na porra de Trás-os-Montes, pois do que aquela malta gosta é de expropriações e de dirigir agências de desenvolvimento a soldo da EDP e de todos os cabotinos que os levem a viajar e comer umas lagostas, e já agora umas gajas, por aí!
Eu admiro a pachorra do Álvaro!

Bem sei que no Canadá, embora com outro estilo, as coisas também não são melhores. Mas enfim, quem teve fibra para emigrar também tem fibra para lutar. E neste caso, a luta é a de sempre: entre a honestidade intelectual e a razão estratégica, de um lado, e as ratazanas do outro. Para já, Álvaro resiste à caricatura de Salazar que se senta à mesma mesa de governo. Não se demite. O jota Coelho que o faça, e justifique depois porque deu tanto que fazer ao ministro da economia para demiti-lo à primeira contrariedade manifestada pelas ratazanas do regime!

Ou então, porque não explicar ao Gasparinho, que ele, afinal, não passa dum contabilista?


POST SCRIPTUM
Merkel preocupada com dívida portuguesa

De acordo com a Reuters, que citou participantes no encontro entre Merkel e deputados do seu partido, a CDU, a chanceler alemã deu conta de algum alívio quanto à evolução do mercado da dívida pública espanhola e italiana, apesar das preocupações com a evolução das taxas de rendibilidade ('yields') da dívida portuguesa.

"Os prémios de risco de Portugal são uma preocupação" terá dito Merkel, de acordo com os participantes na reunião, citados pela Reuters. (Negócios online, 7 mar 2012.)

Tradução dirigida ao senhor Passos de Coelho e ao senhor António de Oliveira Gaspar:

Os ativos ainda disponíveis na Lusitânia terão que ir direitinhos para a Alemanha e para a Espanha, principais credores de Portugal, como garantia do resgate em curso. Nada de mais chinesices, nem carnavais tardios, nem moambas! Ou então...

Quer dizer, ou o Álvaro consegue dar cabo do ascendente que a matilha de rendeiros que arruinou o país exerce sobre o primeiro ministro e o seu contabilista-mor, ou Portugal não se livra de uma sauna grega!

As novas redes ferroviárias têm que avançar e já, e a TAP tem que fazer parte de uma solução europeia inteligente, sem mais concessões a esquemas de drenagem financeira da poupança europeia, canalizada, por exemplo, para os prejuízo brasileiros da TAP através da indecorosa Parpública, que por sua vez chupa impostos não apenas dos indígenas lusitanos, mas também de toda a Eurolândia, a começar nos bolsos alemães! Aquele olhar infinito de Wolfgang Schauble é um manancial de significados por descobrir!

Última atualização: 7 mar 2012 16:14

segunda-feira, março 05, 2012

António de Oliveira Gaspar

E Passos de Coelho, quando é que vai a despacho com o Gasparinho?

Maquiavel, uma leitura recomendada a Álvaro Santos Pereira

O Gasparinho continua borrado de medo desde a última conversa com o todo poderoso ministro alemão das finanças. O olhar azul de Wolfgang Schäuble, buscando um inatingível kantiano qualquer, depois do Gasparinho insistir que estava a fazer os trabalhos de casa (roubando os fundos de pensões da falida banca, claro está!), não o deixa dormir. Deste pesadelo que não desaparece, até tentar a solução de Salazar, isto é, colocar todos os ministros de joelhos e a despacho seu, foi um passo.

Esqueceu-se, no entanto, dum pormenor: o primeiro ministro não é ele, ainda que o que é não passe dum jota que nunca trabalhou na vida e que dificilmente chegará ao fim do mandato. Estará o alucinado Gasparinho a preparar-se para o substituir? Mas isso só com um golpe de estado —e militar— homem!

Depois da reunião entre Ana Pastor (Espanha) e Álvaro Santos Pereira (Portugal) as ratazanas do esgoto lusitano agitaram-se como nunca e, pela mente sempre conspirativa do Paulinho das Feiras (ele lá sabe o que o seu PP deve ao BES) temos o governo do jota Passos de Coelho em pleno Carnaval fora de horas (TSF1 e TSF 2), com os bombos da méRdia indigente que temos a rufar pandeiretas de esquizofrenia xenófoba até à náusea. Uma tal Ana Sá Lopes, do pasquim "i", que confunde a encomenda com a "opinião pública", é particularmente ressabiada, para a idade que aparenta, na sua sanha contra o emigrante Álvaro, como se parte do que almoça não fosse fruto do trabalho de gente como o emigrante Álvaro.

O dilema com que o país se depara é este: não temos nenhuma possibilidade de pagar o que devemos, nem que os crápulas do actual governo matem os velhos todos, arrasem por completo a classe média, e em cima disto expulsem do país todos os Álvaros que gostam, sabem e querem trabalhar.

O contabilista Gaspar descobriu uma nova receita extraordinária (chama-se QREN) para disfarçar o que não tem disfarce possível, isto é, que sem um novo resgate europeu a insolvência declarada de Portugal ocorrerá já em 2012, ou o mais tardar, em 2013. Desta vez, nem a China, e muito menos Angola, ou o Brasil, nos salvarão de uma perigosa e catastrófica aproximação do calvário da Grécia.

É aliás neste cenário que Cavaco aposta e para o qual se vem preparando através de sucessivos avisos ao governo e do namoro descarado com o PS. No fundo, o traste de Belém pensa assim: para salvar a sua pele, e evitar um golpe de estado militar, ou uma revolução social fora dos partidos, terá que se antecipar e preparar um governo de emergência nacional, com um primeiro ministro de sua confiança e muito obediente, até que a tempestade passe. E se a tempestade não passar, ou se agravar durante o seu mandato presidencial, um tal governo resultante do colapso do vigente daria enfim substância à suspensão da democracia de que um dia falou Manuela Ferreira Leite — para escândalo de tantos...

O "povo" pedirá então o fim da pouca-vergonha e o fim do império das ratazanas (dos que drenam a poupança nacional, seja através de empresas de manutenção aeronáutica que ninguém investiga, seja através de rendas criminosas, na energia, nas autoestradas, nas pontes, nas barragens e nos hospitais público-empresariais). Cavaco, que bem sabe o que sucedeu há 120 anos atrás, quando o país entrou em bancarrota e foi humilhado até aos ossos pelos credores, tentará evitar o pior, antecipando-se. O contabilista Gasparinho tem pois um sério rival pela frente!

O cavaquismo tardio planeou a nossa euforia económica e felicidade cultural apostando num cenário macro-económico assente em futuros barris de petróleo a custarem, em 2015, 28 dólares!

Tudo assentou em Portugal no automóvel individual e na rodovia. Desta desgraça não nos livraremos enquanto não houver uma revolução de racionalidade, nem que tenha que ser autoritária.

Autoestradas, pontes e aeroportos, barragens inúteis e assassinas, estádios impagáveis e rotundas estúpidas, seriam o mato ideal para engordar as ratazanas e os populistas de serviço. Acontece que o dito ouro negro ultrapassou as 100 notas verdes e tudo indica que não só não voltará a ser barato, como será cada vez mais caro. Portugal, dada a ignara irresponsabilidade de economistas, engenheiros e políticos (e a sempre avidez das ratazanas), precisa de 120 milhões de barris de petróleo por ano para manter o seu imprevidente e inviável estilo de vida. Na previsão irrealista do último governo de Cavaco Silva e dos que lhe seguiram as pisadas, o país deveria estar a gastar em 2015 qualquer coisa como 3.360.000.000 de dólares em importações de petróleo. No entanto, a verdade dos factos em 2012 andará certamente acima dos $12.000.000.000!

Os preços, especulativos ou não, dos recursos energéticos, minerais e alimentares acompanham o Pico do Petróleo. Gráfico do BoJ - Recent Surge in Global Commodity Prices, 2011.

O impacto desta inflação imparável sobre as restantes matérias primas, energéticas, minerais e alimentares, de que dependemos, é óbvio. Café, trigo, milho, soja, alumínio, níquel, chumbo, zinco e cobre viram os seus preços subir de 34% a 564%, entre 2003 e 2008. A partir do momento em que endividamento a custo zero, obtido através do esmagamento do valor do dinheiro e das poupanças (redução sucessiva das taxas de juro) e ainda por intermédio de processos de especulação com as dívidas privadas e soberanas, chegou ao fim, o colapso das economias, mais do que do sistema financeiro (pois este não passa de uma engenharia de sonhos e pesadelos, como a gestão do Gasparinho vem evidenciando à saciedade), tornou-se inevitável. Sem refundar as economias em novos pressupostos energéticos, o que é muito diferente do que gritar pelo "crescimento", como faz o seminarista inSeguro do PS, não iremos a parte alguma.

Não é só o transporte rodoviário, dominante em Portugal, que é caro, mas também o que lá vai dentro, quase tudo importado!

Se queremos recuperar a dignidade e a independência, uma vez mais perdidas, teremos que voltar a andar a pé, de bicicleta e em transportes coletivos movidos a eletricidade: elétricos, trolleys e comboios —internacionais, interurbanos, suburbanos e urbanos. Teremos que baixar drasticamente a intensidade energética da nossa economia, que é uma das mais elevadas, se não a mais elevada da União Europeia. Teremos que voltar costas ao subúrbio erguido com base no petróleo barato, para engorda e gáudio das ratazanas. Teremos que reforçar a auto-organização democrática como nunca o fizemos, dispensando em muitos casos, sobretudo localmente, nos negócios e no trabalho do dia a dia, a presença ruinosa e corrupta dos governos e dos partidos. Temos que rejeitar em uníssono o terrorismo fiscal!

Ao contrário do que agora possamos crer, só nos livraremos da escravatura e do assassínio económico de dezenas de milhar de portugueses, se substituirmos a insolvente, desmiolada e corrupta democracia que deixámos medrar nos últimos trinta anos, por uma democracia literal, transparente, responsável e unida em volta de uma visão estratégica para Portugal.

O populismo democrático que permitiu a criação duma vasta casta de burocratas de estado e de partido, cujos direitos estão sempre em primeiro lugar, levou-nos à insolvência e à humilhação de vermos Portugal transformado num protetorado de Bruxelas e Frankfurt, mendicante e sem futuro.

Acabará o país? Não creio. A crise mundial dará algum espaço à nossa independência.

Mas como perdemos boa parte dos nossos graus de liberdade ao longo dos últimos vinte anos, é preciso voltar a conquistá-los um a um! Desde logo, e em primeiro lugar, levando por diante uma verdadeira revolução no interior do nosso regime democrático. Algo que nenhuma revisão constitucional poderá conseguir, por estar à nascença marcada pela endogamia e por uma lógica de sobrevivência do excesso de burocracia que é urgente eliminar.

Precisamos de uma democracia com menos Estado e com menos poder partidário. Outras instâncias mais democráticas terão que nascer da ruína já evidente do atual regime. Eu, se fosse o Álvaro, aproveitava para ler O Príncipe, até quinta-feira que vem, e tomaria uma posição filosófica sobre a matilha que ladra em seu redor. Demitir-se não é opção. O jota disfarçado de primeiro-ministro que assuma a liderança do governo, se quiser, ou que a entregue ao Gasparinho, se não tiver coragem para enfrentar os dias difíceis que aí vêm!


POST SCRIPTUM: a rápida sucessão de acontecimentos que congregaram uma autêntica frente golpista contra o ministro da economia ocorreu logo depois da reunião entre este e a ministra espanhola Ana Pastor, onde foi reiterada, pela terceira ou quarta vez, a decisão de construir a linha ferroviária de alta velocidade entre Lisboa e Madrid, e em geral dar seguimento à ligação estratégica de Portugal à nova rede ferroviária europeia de Alta Velocidade, para passageiros, e completa interoperabilidade no transporte de mercadorias — em linha com o PET e com a própria decisão chinesa de fazer chegar os seus comboios AV até Londres! Como há muito aqui se escreveu, esta ligação ferroviária absolutamente necessária, como as que terão que ligar o centro (Aveiro-Coimbra) e o norte (AMP) do país à Galiza, ao resto da Espanha e à Europa atlântica e mediterrânica, mata o embuste do NAL da Ota em Alcochete — uma enormidade do quilate daquele que apressou o olímpico colapso da Grécia! Ora é precisamente por conhecerem este dado incontroverso, que os lobistas do novo aeroporto e da nova cidade aeroportuária da Ota em Alcochete (SLN/Fantasia, BES, Stanley Ho, Roquete, e a rapaziada ávida de almoços -- do genial descobridor do aeromoscas de Beja, ao não menos genial bastonário dos engenheiros do betão, passando por invertebrados de menor porte) fará tudo por tudo para destruir o Álvaro. Se o conseguirem, o país apodrecerá ainda mais depressa, e o coice que daí vier será então muito mais violento. A ideia de que o Português Suave é mesmo um morcão sem emenda (estou no Porto ;) pode revelar-se uma grande mentira histórica, como tantas outras.

Última atualização: 5 mar 201222:53

terça-feira, fevereiro 28, 2012

A Berlenga ferroviária

Quatro horas a partir pedra para quê?

Portugal: ilha ferroviária do arquipélago das Berlengas

2015: ano previsto pelos governos português e espanhol para a ligação ferroviária de Portugal e Espanha à França sobre linhas de bitola europeia.

Os governos de Portugal e Espanha, pelas assinaturas de Álvaro Santos Pereira e Ana Pastor, reiteraram ontem, pela quarta ou quinta vez, o compromisso de construir uma nova rede ibérica de ferrovia em bitola "europeia" (ou "internacional" — UIC) para comboios de alta velocidade e velocidade elevada, e transporte de passageiros e mercadorias. O objetivo é responder aos desafios energéticos causados pelo pico petrolífero e ligar a península ibérica, e nomeadamente os seus importantes portos, ao resto da Europa.

Foi em 1995 que Luís Filipe Pereira, então secretário de estado de Mira Amaral, do governo de Cavaco Silva, baseou toda a estratégia portuguesa de crescimento na previsão de que o barril de petróleo custaria 28 dólares em 2015! Daí em diante foi fartar vilanagem: autoestradas, pontes, túneis, barragens e muitos, muitos automóveis e crédito desvairado ao betão sem fronteiras. Sabe-se hoje que esta foi uma das principais causas, se não a principal (1), do nosso catastrófico endividamento e da bancarrota que se aproxima a passos largos do país :(

Recomendo vivamente as conferências de António Costa Silva na Culturgest (8, 15, 22, 29 de Fevereiro) sobre os dilemas energéticos com que estamos confrontados, e sobretudo a consulta dos seus inúmeros e exaustivos gráficos sobre a insustentabilidade absoluta do modelo energético que nos conduziu ao presente desastre, de que não sairemos sem uma revisão drástica do mesmo e sem uma mudança radical no nosso protegido e inimputável regime político-económico e partidário.

O silêncio conivente e a capitulação dos meios de comunicação social em tudo o que se refere aos temas energético, ferroviário e aeroportuário brada aos céus da democracia que temos, mesmo descontando a circunstância triste de não termos ainda mais do que uma democracia fraca, corrupta e populista.

Para que não se percam, aqui ficam as notícias que ninguém consegue lobrigar na mé(r)dia lusitana que temos.

 Reunión de la ministra de Fomento y el ministro de Economía y Empleo de Portugal. Madrid, 27 de febrero de 2012 (Ministerio de Fomento).

Los gobiernos de Portugal y de España coinciden en la importancia de que los proyectos de servicios ferroviarios de altas prestaciones se ajusten a las necesidades actuales y a la situación económica de austeridad.

Ambos países apuestan por llevar a cabo los proyectos ferroviarios del Corredor Atlántico hasta la frontera francesa, y en ancho internacional. Ambos gobiernos están de acuerdo con la necesidad de invitar a Francia a participar en este Corredor Europeo.

Ou seja, os compromissos de Estado, sobretudo quando são obviamente razoáveis e lógicos, são para cumprir.

Portugal y España desean implicar a Francia en corredor ferroviario atlántico
27/02/2012 Expansión/EFE

Lisboa, 27 feb (EFE).- Los gobiernos de España y Portugal manifestaron hoy su deseo de implicar a Francia en la creación del corredor ferroviario atlántico que conectará ambos países con el centro de Europa, tanto para transporte de pasajeros como de mercancías.

[...] Pastor destacó hoy que los proyectos ferroviarios de ambos países "van a estar coordinados", de forma que "un país no de un paso sin que el otro no esté al tanto" de sus planes.

"Los proyectos ferroviarios que tenemos los dos países deben tener interoperabilidad, con los requerimientos técnicos tanto de vía, de plataforma, como de electrificación y catenaria que hagan posible llevar tanto pasajeros como mercancías desde Sines hasta norte de España y Francia", abundó.

[...] "España y Portugal decidieron en el siglo XIX tener un ancho de vía diferente al del resto de Europa. Hoy esto supone que cuando las mercancías pasan a Francia, en ese trasvase se pierde tiempo y dinero, lo que supone un factor contrario a la competitividad", recalcó.

Respecto a la conexión entre Oporto y Vigo, un proyecto que también estaba previsto realizar en Alta Velocidad y que finalmente fue cancelado por el Ejecutivo luso, los ministros informaron de la creación de un "grupo de trabajo" que elaborará "a corto plazo" una propuesta que valore "los diferentes escenarios que garantizan el servicio público". EFE

No caso vertente, a alternativa que sobra a Portugal é simples: ou se transforma numa parte do arquipélago das Berlengas, ou terá que migrar a sua rede ferroviária (toda a sua rede ferroviária —ainda que ao longo dos próximos cinquenta anos) para a chamada bitola europeia — isto é, a única distância entre carris que permite a interoperabilidade das linhas férreas dos diversos países europeus.

Ana Pastor (ministra de Fomento): "No estoy dispuesta a vender mi país ni AENA a precio de saldo"
27/02/2012 Hispanidad

Respecto a si se va a privatizar AENA, Pastor ha indicado que "Aena tiene una deuda de 14.900 millones que tiene que pagar, estaba en marcha la privatización de los aeropuertos de Barcelona y Madrid. Se vendían por valor de unos 3.000 millones cada uno y el Estado se quedaba con la deuda, y con los aeropuertos en déficit, por ello lo paramos, no iba a vender a AENA a precio de saldo". "Yo no estoy dispuesta a vender mi país a precio de saldo ni a vender AENA, que es el principal operador aeroportuario del mundo en número de pasajeros, a precio de saldo". "En este momento estamos viendo de cada aeropuerto su viabilidad y su rentabilidad económica y social".

Espanha já percebeu que a venda de ativos a preço de saldo não passa de uma transferência de soberania entre devedores e credores soberanos.

Não tem havido privatizações durante esta crise, mas alienações de soberania! E se é assim, então é preferível forçar uma resolução global das múltiplas insolvências em curso: da Irlanda aos Estados Unidos, passando pelas ilhas da rainha pirata de Inglaterra.

España admite el interés de Renfe y Aena en las privatizaciones de Portugal
27/02/2012 La Razón

"Si se ponen en marcha -las privatizaciones previstas por el Gobierno luso-, empresas públicas españolas estarían interesadas en poder participar, ya fuese en colaboración con otros entes públicos o privados de Portugal u otros países", explicó Pastor en declaraciones a los periodistas tras una reunión bilateral celebrada hoy en Lisboa.

La ministra nombró concretamente a Renfe (Red Nacional de Ferrocarriles) y a Aena (el gestor de los aeropuertos españoles), de las que subrayó que se han convertido en "operadoras de reputación internacional".

A Espanha e a Alemanha são os dois maiores credores de Portugal. Não faz pois qualquer sentido pensar que poderemos, ou se sequer que deveremos impedir qualquer dos dois países de entrar nos processos de privatização em curso. Como não vamos poder pagar tudo o que devemos, alguma da nossa carne terá quer arrancada e entregue, pelo menos temporariamente, a quem nos emprestou dinheiro, ou tem uma balança comercial excessivamente excedentária relativamente às nossas próprias exportações. Não nos podendo armar em cavaleiros sem cavalos, o ponto é este: como, por quanto e a quem entregaremos alguns dos nossos anéis?

Eu preferiria ver a Espanha a explorar durante uma vintena de anos a nossa rede de bitola europeia, a vê-la tomar conta dos nossos aeroportos, ou da TAP. Creio que a ANA e a TAP (a TAP, só depois de um inadiável spin off) deveriam ser entregues a um consórcio com portugueses, alemães, chilenos, chineses e angolanos. Neste caso particular, os brasileiros terão primeiro que explicar o buraco da TAP no Brasil (TAP Maintenance &Engineering) antes de se verem metidos noutra parceria com a companhia cujos prejuízos mais volumosos têm uma não explicada origem carioca!

Finalmente, enquanto a imprensa portuguesa esconde tudo isto, a propaganda alegre dos lobistas do embuste da Ota em Alcochete segue com o seu Carnaval de contra-informação. É preciso ter perdido a vergonha toda para encomendar à Airbus uma previsão sobre o extraordinário futuro aeroportuário português. Então a Airbus não vende aviões?!


NOTAS
  1. Quem não sente não é filho de boa gente, e Luís Mira Amaral sentiu e reagiu com a franqueza conhecida.  O argumento de LMA, depois de elogiar Luís Filipe Pereira, é este: "acertar no Totobola à segunda-feira é fácil!". Em 1995 não se antevia ainda que os BRICS iriam irromper com tanta força, não se podendo portanto estimar a pressão que esta emergência exerceria e exerce no consumo petrolífero mundial e correspondentes preços. Por outro lado, à época, o aproveitamento dos fundos comunitários para a criação de infraestruturas caras que faltavam pareceu-lhe, e ao governo de que foi ministro, uma estratégia justificada e necessária. O que veio depois, segundo LMA, foi um exagero keynesiano de matiz cor-de-rosa, cujas responsabilidades são do PS.

    Tem razão quando afirma que as previsões à época apontavam para os tais 28-29 USD pb em 2015. Tem razão quando defende o aproveitamento dos primeiros quadros comunitários de apoio (I e II) para realizar infraestruturas de que o país carecia. Tem razão quando passa parte das culpas para o colo do PS. Mas não deixa de ser um facto que a subestimação prolongada do preço da nossa dependência energética do petróleo, acentuada pela ilusão criada pela queda sucessiva das taxas de juro, foi e é o maior responsável pela crise financeira sem precedentes que o país atravessa. 28 Fev 2011, 20:07.

segunda-feira, fevereiro 27, 2012

Déjà vu

Bancarrota I (1890-1893), Bancarrota II (2010-2013)

Raphael Bordallo Pinheiro. "Exactamente como os filhos do Padre Simões", in António Maria, 1892

Enviaram-me há dias um LINK precioso para o António Maria de Raphael Bordallo Pinheiro, arquivado e já integralmente digitalizado pela Biblioteca Nacional. É absolutamente incrível a semelhança entre a corja partidária de então e a de hoje. Nada mudou!

Vale sobretudo a pena ler a prosa deliciosa da geração dos Vencidos da Vida, apesar da ortografia não ser aquella que os Sousa Tavares e Graças Mouras desta paróquia gostam.

E mais importante ainda é comparar a degradação da economia, das finanças e do sistema político de então, cuja bancarrota tinha já levado a safada Inglaterra a abocanhar sem cerimónias os portos e o ouro do Brasil, e mais tarde os territórios entre Angola e Moçambique (na sequência de um humilhante Ultimato), com a situação que hoje atravessamos. Houve então deputados que quiseram mesmo dar todos os territórios ultramarinos, menos Angola e a Índia portuguesa, à Rainha Vitória!

D. Carlos teve então um comportamento bem diverso daquele que Cavaco Silva revelou em circunstâncias muito semelhantes: enquanto a criatura de hoje se queixa do pouco que tem, e nem sequer coloca a hipótese de cortar nos gastos escandalosos da turma interminável de aves raras que habitam os corredores do Palácio de Belém, o rei D. Carlos prescindiu à época de 20% da sua dotação em nome da diminuição do défice. Não lhe valeu de muito, pois a conspiração maçónica e anarquista para o assassinar já estava em marcha. Mas fica a memória da diferença dos comportamentos.

Recolhi no Portal da história alguns dados de cronologia histórica que ilustram bem como o tempo que estamos vivendo começa a ser cada vez mais um déjà vu...

1890

Janeiro, 11  - Entrega de um Memorando do governo britânico fazendo um Ultimato a Portugal, para a retirada das forças militares existentes no território compreendido entre as colónias de Moçambique e Angola, no actual Zimbabwe, a pretexto do incidente provocado entre os portugueses e os Macololos.

Maio, 1 - O 1.º de Maio é comemorado em Lisboa pela primeira vez.

Maio, 19 - Governo apresenta propostas financeiras, em que se prevê a entrega do monopólio dos tabacos por meio de licitação.

Julho, 1 - O escritor Camilo Castelo Branco suicida-se na sua casa em São Miguel de Seide.

Agosto, 20 - O Tratado de Londres é assinado entre Portugal e a Grã-Bretanha, definindo os limites territoriasi de Angola e Moçambique.

1891

Janeiro, 31 - Revolta republicana no Porto, com proclamação da República na varanda da câmara municipal.

Fevereiro, 5 - As Câmaras reabrem para votarem as bases do monopólio do tabaco e um empréstimo de 10 milhões de libras. O Conde de Burnay emprestará 3 milhões de libras, com a condição de lhe ser concedido o monopólio do tabaco.

Abril, 1 - Adiamento da reunião do parlamento. O governo anuncia que passará a governar em ditadura.

Maio, 7 - Bancarrota do Estado português. É suspensa por 90 dias a convertibilidade das notas de banco, o que provoca uma desvalorização do papel-moeda em cerca de 10%

Junho - Congresso do Partido Socialista Português, em Coimbra.

Setembro, 11 - Antero Quental suicida-se em Ponta Delgado, nos Açores, com dois tiros de revólver.

1892

Janeiro, 15  - O presidente do conselho João Crisóstomo confirma que o ministro da fazenda Mariano de Carvalho fez adiantamentos à Companhia Real dos Caminhos de Ferro sem conhecimento do governo.

Janeiro, 21  - O deputado Ferreira de Almeida propõe novamente a venda das colónias para se fazer face ao défice orçamental de 10 mil contos, excluindo da venda apenas Angola e a Índia.

Janeiro, 29  - D. Carlos cede 20% da sua dotação para diminuir o défice.

Fevereiro, 26 - Oliveira Martins apresenta a proposta de uma Lei de Salvação Pública.

Maio 10 - Nova pauta aduaneira, que termina com o livre-cambismo.

Junho, 15 - O processo de pagamento aos credores externos do estado é regularizado.

Junho, 27 - É assinado o contrato definitivo com a Companhia de Carris de Ferro de Lisboa.

Dezembro, 19 - Detonação de uma bomba em Lisboa, despoletada por anarquistas.

Maio, 14 - Ruptura das relações diplomáticas com o Brasil.

Junho - Conferência em Badajoz dos republicanos ibéricos.

Julho - Lei que restringe o direito de reunião.

Julho, 10 - Apresentadas propostas de lei sobre os caminhos de ferro e as obras no porto de Lisboa.

Agosto, 30 - Reforma da polícia

Setembro, 30 - Decreto de Bernardino Machado para promover o povoamento do Alentejo.

Outubro, 17 - João Franco, em nome da ameaça anarquista, defende meios extraordinários de governo.

in O Portal da História


sexta-feira, fevereiro 24, 2012

Burros lusitanos substituem "TGV"

O (in)Seguro seminarista do PS passa os dias a falar de crescimento. Ideias? Zero!! 

Só os imbecis poderão apostar numa alteração do plano ferroviário espanhol em marcha, ou que estes esperem indefinidamente pelas araras lusitanas.
—El AVE a Galicia es una prioridad para nuestro Gobierno. Nos hemos encontrado con que faltan por pagar del AVE gallego más de 8.000 millones. Es un proyecto vital, como lo es la «Y» vasca. Nuestro compromiso es que llegue el AVE a Galicia y pagarlo. ABC, 21 fev 2012.
 A relíquia do Partido Socialista que sobrou do desastre socratino nem sequer é capaz de defender uma coisa óbvia para estimular o nosso crescimento: a nova rede ferroviária de bitola europeia, muito avançada em Espanha, mas que é também uma das principais prioridades estratégicas da União. Estamos à espera de quê? Que seja a senhora Merkel a dar uma ordem?

As novas ligações (Lisboa-Badajoz, Porto-Vigo e Aveiro-Salamanca) não só deveriam estar mais do que assentes, estudadas e inscritas nos planos do Estado português, como, no caso da ligação Poceirão-Caia, já deveria estar a ser construída a todo o gás!

A ligação Poceirão-Caia, na realidade e se houver competência e juízo, deveria ligar a estação madrilena da Atocha a Entrecampos, ou melhor ainda, à nova Gare Central de Lisboa, que o apeadeiro da Expo '98 nunca poderá ser, mas a que o buraco da Feira Popular poderia dar um lugar efetivamente central, competitivo e com um forte impacto na requalificação urbana da zona. As análises de quem tem vindo a estudar estes temas de forma desinteressada estão feitas (VER DIAGRAMA e esta breve história da grande ponte sobre o Tejo), e concluem que a Ponte 25A pode servir perfeitamente para que os comboios de alta velocidade entre Lisboa e Madrid cumpram os horários essenciais à sua rentabilidade. O Poceirão, por sua vez, será o nó de ligação para o transporte de mercadorias de e para Espanha e resto da Europa, com especial ênfase nas ligações aos portos de Setúbal e Sines.

Não é preciso ter dois cérebros para entender que a nova era do transporte ferroviário que aí vem é uma oportunidade industrial e tecnológica para o nosso país, sobretudo porque os nossos vizinhos espanhóis são já uma das principais potências industriais e tecnológicas neste novo segmento da economia mundial. Os impactos serão diretos —desenvolvimento de um segmento industrial e de inovação tecnológica associado à nova era do transporte ferroviário— e indiretos — na competitividade que obviamente induzirá no importantíssimo setor das exportações.

O desnorte governamental, sobretudo por efeito dos cobradores de rendas locais, continua a ser preocupante e potencialmente fatal.

Portugal arrisca-se a tornar-se uma espécie de ilha ferroviária europeia. Antes de 2020 a Espanha ligará ao resto da Europa a sua nova rede de Alta Velocidade (a maior da Europa, e a segunda maior do mundo, depois da China) através de dois corredores: o Atlântico e o Mediterrânico.

Em Portugal, se continuarmos a discutir o "TGV", o resultado será inexorável: ficaremos sem acesso ferroviário a Espanha e ao resto da Europa, ou seja, mais de 80% das nossas exportações terão que passar a viajar de barco, a pé ou em cima de burros —pois em 2020 os transportes rodoviários e aéreos vão custar uma nota! Espero que então, se uma tal infelicidade nos cair em cima (como muitas outras já caíram, fruto da cleptocracia instalada) mandem calar os Sousa Tavares desta aldeia ignara e indecorosa, ou que os ponham a carregar os passageiros e as mercadorias ao lombo, como durante milénios foi prática comum, e ainda se usa em muitas paragens deste planeta desigual.

Espanha, apesar da crise e do desemprego, não se acomoda, não empata, nem assobia para o ar. Faz!

Vamos lá ver se a nova rapaziada governamental continua a pastar, sem ideias, e não prepara a próxima cimeira ibérica, como tem sido a regra. Ou se, pelo contrário, estuda de uma vez por todas o RTE-T, o plano avançado de projetos e a obra realizada pela Espanha, e sai da desconversa mafiosa que conduziu até à vergonha de andarmos a dizer aos espanhóis que não temos dinheiro, quando o que não temos é vergonha, e em vez desta temos, isso sim, muita corrupção!
El departamento de Ana Pastor pretende que el ejecutivo comunitario modifique los corredores que aprobó el pasado mes de octubre e incorpore nuevas plataformas multimodales de Castilla y León, que sumará 14, situadas en todas las provincias. El Ministerio ya ha planteado convertir en centro logístico de la red europea a Ávila y Arévalo, Burgos, Aranda de Duero y Miranda de Ebro, Segovia, Soria, Palencia, El Bierzo, Zamora y Benavente.

... Precisamente, Ana Pastor ha expresado su compromiso de instalar el ancho de vía internacional (UIC) en los corredores de alta velocidad para evitar el aislamiento de la red nacional. Por ello, Fomento mantiene el compromiso de adaptar los actuales corredores, que forman parte de la red básica –no global-, a los estándares europeos. Es decir, extenderá el ancho UIC (Unión Internacional de Ferrocarriles), la señalización y comunicación interoperable y el sistema de electrificación a 25.000 kilovatios. LeoNotícias.com.
Ou seja, depois de a Espanha migrar toda a sua rede ferroviária básica para o standard europeu, Portugal, ou acompanha, ou transforma-se numa espécie de Berlengas ferroviária :(

El servicio ferroviario Barcelona-Toulouse se duplica
Alimarket Transporte (TRANSmarket)

La ruta comenzó el pasado mes de junio con una única salida los sábados. Utiliza ancho internacional (UIC) y está orientada principalmente al tráfico marítimo de importación y exportación con origen/destino en las regiones de Midi-Pyrénées y Aquitania. Además, los mismos promotores de este servicio están trabajando en la puesta en marcha de otros con Europa orientados al tráfico marítimo.

Já agora: quando é que a nossa indigente imprensa convencional trata este tema com a isenção, o destaque e urgência que merecem? Talvez olhando para o que acaba de suceder ao diário Público espanhol, que hoje suspendeu a edição em papel, surja alguma luz nas cabecinhas do senhor Belmiro de Azevedo e do senhor Pinto Balsemão.

IMPORTANTE!

Nueva Propuesta de Red Española para la Red Transeuropea del Transporte, Madrid 15 de febrero de 2012 (PDF).

NOTA

É preciso evitar construir uma estação ferroviária sumptuosa e desnecessária (a não ser para os bolsos da corja betoneira de sempre) em Évora —como a que foi idealizada pelos piratas do Sócrates! Isto para evitar termos uma gare às moscas, como às moscas estão os 38 milhões de euros derretidos no aeroporto de Beja, o tal que iria atrair as Low Cost e exportar tomate e carapaus frescos para a Europa —ideia genial do não menos genial-todo-o-serviço Augusto Mateus!

POST SCRIPTUM

A incúria e incompetência parlamentares do PCP e do Bloco nesta, como noutras matérias concretas do que deveria ser a praxis política, são notórias e lamentáveis. Denotam, em suma, a decadência inexorável destes partidos e a necessidade urgente de os renovar ou substituir.

Atualização: 24 Fev 2012 18:26

quarta-feira, fevereiro 22, 2012

Seguro aposta na desgraça

Afinal o que quer o PS? Portugal ou a Grécia?

PS retoma aliança com os interesses de quem vive de rendas,
nomeadamente os bancos!

Foto Nuno Pinto Fernandes/Global Imagens/Arquivo

O Partido Socialista voltou a defender junto da troika um alargamento dos prazos para atingir o equilíbrio orçamental, defendendo também perante os chefes da missão que Portugal deve beneficiar das mesmas benesses dadas à Grécia no recente acordo. Público, 21 Fev 2012.

O BE e o PCP disseram hoje aos líderes da missão da troika que o programa não está a resultar, mas os chefes da missão consideraram que o programa "está no bom caminho" e que não será renegociado. Jornal de Negócios on-line, 21 Fev 2012.

O grosso da austeridade contra as pessoas e as micro empresas está feito. Não é possível esticar muito mais este violento programa de ajustamento fiscal. O seu cumprimento cabal vai, aliás, continuar a doer a muitos de nós, durante uma década ou mais, mas não à deputada do PCP que se escandalizou com o take away para os aflitos, pois essa jovem intocável come numa cantina de luxo, a da Assembleia da República, subsidiada pelo mesmo terrorismo fiscal que só aparentemente condena.

Mas falta, agora, passar à segunda fase do Memorando!

Falta a reforma estrutural do Estado, tornando-o mais seco, mas também mais responsável, competente, tecnicamente independente e respeitável. Falta descontinuar as rendas da elite de ricos incompetentes que muito contribuiu para arruinar este país. Falta estabelecer regras de concorrência na economia, e regras de concurso público universais nas relações entre o Estado e a sociedade das pessoas e das empresas. Falta estabelecer de vez a transparência, a justiça e a supervisão independente das leis e das regras e acordos. E falta, por fim, quebrar a espinha aos banqueiros e aos especuladores corruptos, assim como aos oligopólios da energia, das rodovias e da saúde.

Curiosamente, é precisamente agora, que falta tudo isto que o Memorando prevê, que o seminarista (in)Seguro vem exigir mais tempo! Mais tempo para quê? Ou para quem? Para perpetuar o anestesiado, indolente, paquidérmico e partidário Estado que temos? Para manter os monopólios? Para manter aconchegados os bancos e os rendeiros que fazem chegar o financiamento partidário, e sobretudo garantem os tachos de onde vêm e para onde vão os filhos partidários mais privilegiados da democracia degenerada que temos?

Ainda não vi o seminarista (in)Seguro do PS dizer ao país o que quer.

Só mais crescimento, é isso que o demagogo António José Seguro quer? Mas como, homem? Explique-se! Quer adiar tudo o que do Memorando da Troika ainda falta fazer: das reformas do Estado e da economia, ao fim dos privilégios desproporcionados e indecentes da burguesia parasitária e corrupta que domina o país? É isso que quer?

Que significado pode ter este lip sync do burocrata que sucedeu a Sócrates? Eu só vejo um: o medo de enfrentar a mão que alimenta boa parte dos incompetentes bonzos do PS!

O pedido deste transitório secretário-geral do PS não é mais, em suma, do que uma receita para colocar Portugal no estado miserável em que a Grécia está!

segunda-feira, fevereiro 20, 2012

Depois da Grécia, nós :(

Não sei porque nos chamam porcos. Porco é sinal de riqueza e poupança. O que voltámos a ser é um cão pele e osso! Da última vez (1891-1910-1926) semelhante colapso económico e financeiro deu no assassínio de um regime e em ditaduras.

Raphael Bordallo Pinheiro - Cavallo D'Estado... insaciável. O António Maria, 1891.

Para todos os efeitos, estamos falidos! Só ainda não fomos forçados a declarar bancarrota porque pertencemos a uma zona monetária muito jovem e insegura. O medo de contágio e do efeito de dominó potencialmente resultante do incumprimento financeiro de qualquer dos países mais endividados da União Europeia é tal que a Alemanha (1) tudo fará para evitar um "incidente de crédito" soberano, seja na Grécia, ou em Portugal — as democracias populistas e partidocratas porventura mais corruptas, falidas e desnorteadas de toda a Europa.

Portugal tem de renegociar metade da dívida pública. DN, 18 Fev 2012.

Mesmo crescendo 2% ou 4% ao ano, não dá. Portugal está numa "situação crítica" e vai ter de renegociar com os credores um desconto de "33% a 50%" da sua dívida pública, diz um estudo do Instituto Kiel para a Economia Mundial, um conceituado centro de investigação da Alemanha.

Vale a pena ler o original e ver as tabelas...

How Does the Debt Barometer Work? David Bencek, Henning Klodt. The Kiel Institute Barometer of Public Debt. Jan. 2012.

Our empirical assessment of historical developments in numerous countries leads to the conclusion that it is extremely difficult for a country to prevent its debt from increasing infinitely when the necessary primary surplus ratio reaches a critical level of more than 5%. When this level is exceeded for some time, it is almost impossible for a country to service its debt without receiving outside help.

Radical Greek and Portuguese Haircut Will Be Unavoidable

The data used by the debt barometer make it possible to calculate what size of haircut would be necessary to enable the countries hit by the crisis to shoulder their debt again on their own (…). Greece is close to be being completely bankrupt. Portugal would need a haircut to the tune of one-third to one-half. Ireland, Italy, and Hungary can only avoid a haircut if they can achieve high growth rates, whereby the outlook is relatively good for Ireland.

Tal como a Grécia, de uma maneira ou doutra, com mais ou menos inovação retórica, Portugal só evitará a declaração de bancarrota se aceitar sucessivos pacotes de resgate, ou seja e na prática, percorrendo o suplício de uma longa, humilhante e violenta reestruturação das suas finanças públicas, com a concessão a estrangeiros dos poucos ativos estratégicos que ainda lhe restam: energia, água, transportes, portos, aeroportos e, se não houver uma réstia de vergonha nos políticos que temos, nem mais alma popular, a alienação das trezentas e pico toneladas de ouro poupadas durante a ditadura de Salazar!

Não podemos crescer sem investimento de capital humano, mas também financeiro. E se não crescermos será impossível poupar para pagar as dívidas. Ou seja, porque o que tivemos desde 2001 foi estagnação, e porque o que temos agora é recessão, não há forma de evitarmos um perdão parcial das nossas dívidas, ou seja uma reestruturação. Chamem-lhe o que quiserem.

Famílias, Estado e empresas devem mais de nove vezes o empréstimo da troika (act.) Negócios on-line, 20 fev 2012.

Estas são algumas das conclusões que se retiram do boletim estatístico do Banco de Portugal que foi hoje divulgado e que passou a incluir um capítulo dedicado ao "endividamento do sector não financeiro".

"No final de 2011, o valor da dívida na consolidada do sector não financeiro ascendia a 715 mil milhões de euros, correspondendo a 418% do PIB (402% em 2010, escreve o Banco de Portugal numa nota explicativa.

A já célebre conversa de Vítor Gaspar com o ministro das finanças alemão, Wolgang Schäuble, captada informalmente por um repórter da TVI, explica quase tudo: se as coisas correrem menos mal com a Grécia, isto é, se a Grécia se mantiver dentro da zona euro, então poder-se-à ajustar uma solução mais confortável para Portugal. Mas o problema, acrescenta Schäuble, "é que o parlamento alemão e a opinião pública não acreditam que as nossas decisões sejam sérias; não acreditam nas nossas decisões sobre a Grécia...". Ao que Gaspar responde: "Nós fizemos um programa bastante apreciável no enquadramento europeu...". Schauble, olha para o lado, e depois responde a Gaspar: "Sim, fizeram" (ficando implícita o resto da frase: e depois?) Gaspar percebe as reticências implícitas no "Sim, sim" do ministro alemão e insiste: Sim, fizemos!" Schäuble abana afirmativamente a cabeça duas vezes sem proferir palavra.

Não foi preciso mais para Passos Coelho, depois dos apupos deste Domingo em Gouveia, já na Guarda, reconhecer que afinal "nós não sabemos se precisaremos disso ou não", isto é, se precisaremos ou não da ajuda da Alemanha para um reajustamento do Memorando.

De uma maneira ou doutra vamos precisar, e portanto, será melhor reservar algum dos lombinhos que ainda restam e teremos forçosamente que alienar, pelo menos durante umas largas décadas, para a Alemanha. Eu faço uma sugestão: entreguem a exploração da nossa rede ferroviária de nova geração (bitola europeia) aos nossos dois maiores credores: a Espanha e a Alemanha. E reformem, de uma vez por todas, a máquina avariada do Estado!


ÚLTIMA HORA!
Eurogroup - conferência de imprensa (6 idiomas)
Terça, Fev. 21, 2012 5:00

Comentário:
A solução negociada é mais um paliativo... A tempestade vem a caminho de Portugal :(

Deve ser o atual governo eleito, e não uma qualquer caldeirada a três a enfrentar a situação.
O seminarista (in)Seguro deverá ter ouvido que poderá ter que se sentar num governo presidido por um tecnocrata qualquer, da confiança do imprestável Cavaco. É tempo de Passos de Coelho cortar as amarras com as máfias e as tríades que o pressionam e começar a cumprir a parte essencial do Memorando: reformar o Estado, e criar condições de concorrência real na nossa economia (acabando com os privilégios indecentes e ruinosos da burguesia rendeira que temos).


NOTAS
  1. A guerra financeira em curso, entre o par dólar-libra, por um lado, e o euro (coadjuvado pela China, e agora Japão, por outro) tem atingidos picos de verdadeira guerra psicológica. Vale a pena ler alguns dos artigos desde Sexta Feira sobre as apostas a favor e contra a bancarrota da Grécia.

    Twitter/PIMCO/ Gross (19 Fev 2012): #ECB subordinates all #Greek debt holders & in so doing subordinates all holders of Euroland sovereign debt.

    Greek Rescue Close as Ministers Meet. Bloomberg, 20 Fev 2012. “A euro exit by one member could fundamentally change the nature of the euro as an irreversible currency and spark an unprecedented run on banks and sovereigns,” Joachim Fels, chief economist at Morgan Stanley, wrote in a note to clients yesterday.

    GREEK ‘DEAL’: It might be ‘agreed’ today, but it won’t be done. The Slog, 20 Fev 2012. (…) big hitters on Wall Street are heading for Lisbon this week. The pavanne continues.

    Greece must default if it wants democracy. Wolfgang Münchau. FT.com, 19 Fev 2012. A senior German official has told me that his preference is to force Greece into an immediate default. I can therefore only make sense of Mr Schäuble’s proposal to postpone elections as a targeted provocation intended to illicit an extreme reaction from Athens. If that was the goal, it seems to be working.

    Greek D-Day: Slog US source conforms Wall St plans as secret Berlin timetable emerges. The Slog, 19 Fev 2012. (…) for well over a month now, the Obama Administration’s conclusion has been a dead cert Greek default. The job of the President, the security services, the Reserve and the Treasury is to protect the United States from the consequences of that, and that’s just what they’ve been doing.”

    Drawing up plans for Greece to leave the euro. Bruno Waterfield. Telegraph, 18 Fev 2012. Plans for Greece to default, potentially leaving the euro, have been drafted in Germany as the European Union begins to face up to the fact that Greek debt is spiralling out of control - with or without a second bailout.

domingo, fevereiro 19, 2012

SMS Milénio afugenta Cavaco

PCP, a próxima revolução não é para velhos!

Alunos da António Arroio em protesto esperam por Cavaco Silva.
Uma visita programada para hoje [16 Fev 2012] de manhã por Cavaco Silva à Escola António Arroio, em Lisboa, foi cancelada à última razão por os elementos de segurança terem entendido que não estavam reunidas as condições necessária para garantir a presença do Presidente sem incidentes. 

Diário de Notícias, 16 Fev 2012.

 A meia-volta que Cavaco Silva deu ao saber que tinha uma turma de meninos e meninas protestando contra a subida dos transportes e sei lá mais o quê dá bem a medida do potencial revolucionário da juventude nos tempos que correm. Aos três anos já gatinham para cima dos teclados, aos seis dominam o SMS, e aos dez podem montar um golpe de Estado como se fosse um videojogo! 

Que tempos fantásticos nos esperam, e às velhas carcaças do poder. Barroso anda que nem uma barata tonta a pedir programas de emprego para os jovens dos 15 aos 24 anos. Mas estas não são idades de estudo, para que o país saia da iliteracia geral que o tolhe há décadas, para não dizer centénios? 

A par do envelhecimento populacional, um dos problemas da inércia política local e europeia deve-se, em meu entender, ao encapsulamento da juventude numa bolha protegida de consumismo, ao mesmo tempo que o prémio para aqueles que conseguem a qualificação académica que os pais nunca sonharam ter (licenciaturas, mestrados, doutoramento, pós-Docs...) tem sido a emergência de novas formas de escravatura laboral e desprezo social. 

Aconselhar as mulheres a terem filhos, quando nenhuma segurança institucional, económica, social e cultural lhes é dada em troca pelo serviço demográfico pretendido, só pode ser disparate de bispo iletrado e mais um suspiro presidencial. 

A primeira coisa que uma jovem sabe nos dias de hoje é que se quiser ter filhos vai ter que suportar, muito provavelmente, sozinha, o preço dessa decisão. Como se esta recompensa cínica pela química hormonal e pela memória cultural não fosse em si mesma um insulto à sua inteligência e independência, acresce que a sociedade, plasmada no Estado, não só não está disposta a pagar o preço mínimo da sua própria reprodução, como ainda sobrecarrega a progenitora com custos sucessivos — seja pela via das ameaças profissionais, seja nos preços da assistência médica e social, da alimentação, do vestuário, da educação e do próprio consumo estatutário dos filhos e das filhas à medida que vão crescendo.

Pela simples aritmética demográfica pode concluir-se que a geração milénio, isto é nascida depois de 1980, não vai ter quem lhe pague as reformas. Mas pior do que isto, esta mesma geração já hoje se confronta com um muro cada vez mais duro de vencer: por um lado, é muito difícil encontrar emprego, e por outro, os que neste momento têm trabalho, têm-no a título precário, mesmo quando ocupam postos profissionais altamente qualificados.

A chamada Primavera Árabe, a auto proclamada Geração à Rasca, Los Indignados e o movimento Occupy Wall Street nasceram há pouco mais de um ano. Seria precipitado dizer que acalmaram, que não tinham objetivos, ou que os poderes instituídos (de Washington ao Cairo), os movimentos fundamentalistas, e os partidos de esquerda, ou de direita (Tea Party, etc.), conseguiram anestesiar o ímpeto inicial desta verdadeira revolta à escala global, e que tudo regressará lentamente ao status quo ante. Não creio. Não creio mesmo nada!

A crise financeira, que é sistémica, está para lavar e durar. Começou em 2008 e sofrerá sucessivos episódios agudos ao longo, no mínimo, de toda a presente década. Na medida em que o colapso financeiro em curso é um sucedâneo —da crise energética, da crise de recursos, da crise climática, da crise demográfica, da nova divisão internacional do trabalho provocada pelo processo de descolonização, e das dramáticas assimetrias culturais existentes— só quando e se a humanidade for capaz de enfrentar com sucesso as causas de tantos dramas contemporâneos, começará então a estabelecer novas regras de reprodução social da espécie.

Os velhos partidos e os velhos sindicatos estão tão desfasados da realidade e dos desafios que temos pela frente quanto os partidos convencionais, as democracias populistas que temos, e as burocracias enquistadas nos aparelhos de poder. Já a imaginação juvenil, quando associada à dos jovens profissionais altamente qualificados, mas cujo futuro se afigura ameaçado, fazem um cocktail explosivo que, mais cedo ou mais tarde, rebentará com os alicerces das sociedades que ruem por toda a parte e à vista de todos, irrompendo então pelos bordéis dos poderes inconscientes, decapitando então, como sempre, os últimos tiranos.

A fuga do nosso imprestável presidente da república perante uma manifestação de jovens estudantes de arte é um verdadeiro sinal dos tempos!