quarta-feira, outubro 28, 2015

TAP, imagem aflita de um Portugal irrelevante

A Turkish Airlines e outras companhias aéreas do Médio Oriente comem ano a ano os nichos das empresas sem estratégia, nem futuro... (in This Is What “Startup” Class In A Turkish Airlines Flight Looks Like. Gulf Elite.) 

A TAP é uma das vítimas da irresponsabilidade e corrupção das elites políticas indígenas. Do Bloco Central ao PCP e Bloco de Esquerda, todos contribuíram, por ação ou omissão, para a falência desta empresa simbólica do país.


O que Fernando Pinto diz, em defesa da sua indefesa dama

TAP sem receio da concorrência da Turkish Airlines em Moçambique
27/10/2015 18:36 Económico com Lusa 
A TAP declarou hoje que não receia a nova ligação da Turkish Airlines a Moçambique, que será inaugurada na quarta-feira, realçando que “tem um produto competitivo e está habituada à concorrência”.

A nova ligação da companhia aérea da Turkish terá três frequências semanais, às quartas, sextas e domingos, sendo Moçambique o 45.º destino africano da companhia e o 111.º em todo o mundo. 
“O aumento de interesse por parte de investidores e turistas em Moçambique revelou-se uma boa oportunidade para a Turkish Airlines dar resposta à crescente procura”, declarou Hüseyin Alper Kuru, diretor-geral da empresa, sublinhando que a duplicação da capacidade do Aeroporto de Maputo para processar 900 mil passageiros por ano foi a “janela de oportunidade” para abrir esta rota.
No ano passado, as autoridades moçambicanas e francesas assinaram um memorando para a criação de uma ligação aérea entre os dois países.
Além de França, o Instituto de Aviação Civil de Moçambique celebrou um memorando similar com a Holanda, cuja principal companha aérea, KLM, está associada à Air France.



Mas a realidade é outra coisa

Quebra nos tráfegos no 3º trimestre de 2015 (em época alta) de e para

  • Brazil: -7%;
  • EUA: -2%
  • Angola: -4%.

O tráfego doméstico cresceu +15% devido sobretudo à operação da Ryanair entre Lisboa e Porto.

No espaço Schengen o crescimento foi de +10%, em boa medida esforço da Ryanair.

A solução Portela+Montijo é, por conseguinte, urgente face ao crescimento dos movimentos e tráfegos da responsabilidade das operadoras Low Cost, com especial destaque para a Ryanair.

Vale a pena ler o Boletim Estatístico Trimestral da Autoridade Aérea Nacional da Aviação Civil (ANAC) correspondente ao terceiro trimestre deste ano, e de que damos a conhecer o extrato seguinte.

O terceiro trimestre de 2015 apresentou um crescimento homólogo de 5.4% no que a movimentos realizados no conjunto dos aeroportos nacionais diz respeito. Para este crescimento contribuíram os principais aeroportos nacionais; Porto (11%), Ponta Delgada (9%), Lisboa (5%), Funchal e Faro cresceram ambos 2%. 
Por seu turno, o transporte de passageiros cresceu 8% neste trimestre, também em todos os principais aeroportos. O aeroporto de Ponta Delgada apresentou a maior variação homóloga mais expressiva (+22%), seguido do Porto (+16%), de Lisboa (+8%) e de Faro e Funchal (+4%). 
O segmento internacional regular (passageiros) é, efetivamente, o grande impulsionador do crescimento global do tráfego de e para as infraestruturas aeroportuárias nacionais, tendo apresentado um incremento homólogo de 7%. O espaço UE Schengen, excluindo o tráfego doméstico, foi o mercado mais dinâmico (+10%) destacando-se, neste trimestre, o contributo das operações da companhia aérea de baixo custo – Ryanair – especificamente no mercado alemão. O espaço UE não Schengen também cresceu, aproximadamente 7%, com enfoque nas operações de e para mercado inglês. 
As rotas para países terceiros apresentaram um decréscimo em termos homólogos (-3%). Para este decréscimo contribuíram, particularmente, as quebras registadas nos principais mercados, como sejam o Brasil (-7%), os Estados Unidos (-2%) e Angola (-4%). 
O trafego doméstico cresceu, quer em número de passageiros (18%), quer em número de movimentos (7%). Este crescimento centrou-se, fundamentalmente, na ligação Lisboa / Porto (+15%) e no especial contributo das operações da transportadora low cost – Ryanair, cuja oferta de serviços encontrou correspondência na procura de transporte aéreo nesta rota.

Um pequeno escândalo típico de uma empresa mal habituada 

Entre o Natal e o Ano Novo a TAP pratica preços entre Lisboa e Maputo, ida e volta, de cerca 3.500 euros, o que motivou o inicio da operação da Turkish Airlines, de Istambul para Maputo, sendo que as ligações entre Lisboa/ Porto  e Istambul estão assegurados pela companhia aérea turca, que opera com o mesmo sistema de gestão de reservas da Lufthansa – Revenue Management. Uma viagem Istambul-Lisboa-Maputo-Istambul custa menos de 1.400 euros!

terça-feira, outubro 27, 2015

Qual é a pressa, António Costa?



E agora, Costa, venha de lá o papel. Qual papel? O papel!


Costa: “Executivo não tem futuro e tem consciência disso” (Negócios)

A Política, ao contrário da excitação ofendida das esquerdas depois de ouvir a escolha presidencial para o próximo governo, não é um concurso de misses.

O tam-tam do perdedor António Costa, arrastando atrás de si a fanfarra comunista, esverdeada e bloquista, ao mesmo tempo que cumpria as formalidades, atiçou a populaça contra a maioria saída das últimas eleições e contra o presidente da república, o qual, na opinião uníssona das esquerdas parlamentares, deveria 'ganhar tempo' e empossar António Costa quanto antes. Qual é a pressa? Um dia destes saberemos.

 “PCP e Verdes, tal como o Bloco de Esquerda e o PS, dizem que é uma perda de tempo indigitar Passos Coelho para formar Governo.” Económico, 21/10/2015
Por isso, Costa pediu ao Presidente que não perca tempo. “Tivemos a oportunidade de chamar a atenção que julgamos que é do interesse nacional não prolongar no tempo esta situação de indefinição e agravar situações de incerteza através de soluções que antecipadamente sabemos que não têm viabilidade para terem apoio parlamentar maioritário”. Costa rematou: “Pelo contrário, temos de ganhar tempo”. Jornal i, 20/10/2015 16:46.

Os partidos perdedores tentaram encurralar o presidente da república, mas o presidente respondeu-lhes à letra: nomeio o líder do partido mais votado, e da coligação, por razões óbvias, e não encaro sequer a hipótese de indigitar o perdedor-mor da eleição de 4 de outubro, só porque este me diz que os seus adversários de véspera prometem deixá-lo amanhã passear-se pelo país mascarado de primeiro ministro de Portugal. Quando Cavaco pediu a António Costa uma prova documental da falsa frente popular invocada, ou seja, um papelucho que atestasse qualquer forma de compromisso credível entre o Partido Socialista, o Partido Comunista Português, o Partido Ecologista 'Os Verdes', e o Bloco de Esquerda, Costa só poderá ter respondido: qual papel? Perante esta mão cheia de nada o presidente da república concluiu razoavelmente que nenhum dos protagonistas da esquerda parlamentar tinha uma solução alternativa consistente a um governo minoritário dos partidos que ganharam as eleições.

E o problema, está bem de ver, é que as famosas esquerdas do hemiciclo continuam sem papel, e nem sequer sabemos se o procuram, ou tencionam encontrar.

Maiorias aritméticas de esquerda no parlamento houve várias, mas nunca deram fruto. Porquê? Desde logo, porque Mário Soares definiu no longínquo ano de 1975 uma cordão sanitário à volta do PCP e dos partidos eventualmente à sua esquerda, estabelecendo os quintais onde poderiam operar: parlamento, sindicatos e autarquias. Governo e presidência da república foram definidos desde então como áreas vedadas a esta esquerda à esquerda do 'social-liberalismo' do PS, pelo menos enquanto se mantivessem como forças partidárias anti-capitalistas, declaradas ou dissimuladas (1), tendo por objetivo estratégico eliminar a propriedade privada, a 'economia de mercado' e o 'Estado' (2), e chegar ao socialismo através de convulsões revolucionários e de um estádio intermédio de organização social que designam por ditadura do proletariado, democracia popular, democracia operária, democracia socialista, etc.

António Costa diz que o muro erguido por Mário Soares na Fonte Luminosa foi derrubado. Mas pediu licença a alguém, nomeadamente ao Partido Socialista?

Já no que respeita aos comunistas e bloquistas teremos que lhes perguntar: renunciam, ou não, aos vossos objetivos estratégicos? Estão ou não disponíveis para respeitar a propriedade, a economia de mercado, e o Estado?

Que pensam do comunismo pós-moderno chinês?



NOTAS

  1. Juntar Forças na Corrente 'Socialismo', resolução aprovada no XIX Congresso da APSRE [Associação Política Socialista Revolucionária]Combate, 23 março 2013.
  2. O Secretariado Unificado da IV Internacional (trotskista) recomendou no seu XVI Congresso Mundial realizado na Bélgica em 2010, a criação de 'partidos anti-capitalistas amplos', ou a entrada em formação partidárias híbridas que possam evoluir neste sentido (caso óbvio do Bloco de Esquerda).

segunda-feira, outubro 26, 2015

Barcelona prepara moeda própria

Bristol Pound, uma das moedas locais mais famosas de momento


União Europeia pretende, como se sabe, uma Europa das regiões...


Uma das características da Espanha antes da chegada de Napoleão era a cunhagem de moedas próprias em várias das suas províncias e reinos: Castela, Catalunha, Valencia, Aragão, Navarra e Maiorca. A sempre irrequieta Catalunha quer renovar em breve este hábito, começando por uma nova moeda para Barcelona.

Mas atenção, a moda já começou há algum tempo, nomeadamente na Europa.

O sucesso do Bristol Pound é quase sempre assinalado a propósito desta experiência monetária ainda em fase subliminar e quase sempre paroquial. A decisão da nova alcaidesa de Barcelona, Ada Colau, de implementar uma moeda local foi anunciada durante a sua candidatura ao posto que hoje ocupa.

Uma das potencialidades destas moedas locais, que embora convertíveis em euros, não cunham moeda, nem imprimem notas de papel, salvo na forma simbólica de recuerdos turísticos, é a retenção parcial da moeda em circulação no território das trocas, e portanto o estímulo ao comércio local, bem como a possibilidade de criar meios de pagamento suplementares, nomeadamente municipais, orientados para a economia social e para a própria criação de emprego em espaços económicos e culturais definidos por geografias humanas bem definidas e historicamente consolidadas. As cidades são, por isso, o lugar privilegiado de um renascimento fiduciário fractal, o qual poderá transformar-se a breve trecho numa das respostas à crise galopante das dívidas soberanas e ao buraco negro gerado pela sua astronómica monetização, especulativa e socialmente injusta.

Mais do que destruir o euro, as moedas locais poderão tornar-se, no futuro, verdadeiras almofadas protetoras dos grandes acidentes financeiros, como o que começou em 2008 e ainda não terminou.

Barcelona empieza a perfilar su polémica moneda localLa Vanguardfia, Barcelona | 21/10/2015 - 00:45h | Última actualización: 21/10/2015 - 21:40h 
El Ayuntamiento de Barcelona se ha fijado el próximo medio año para llevar a cabo los trabajos de divulgación y diseño de la futuramoneda local para Barcelona, que podría quedar definida en primavera. Una controvertida herramienta –que cuenta con la oposición del Banco de España, que hace unos meses la calificó de "imposible además de indeseable"– cuyo objetivo principal será la promoción económica de los pequeños y medianos comercios y en cuyo borrador de contenidos parece que están trabajando especialistas de la Universitat Pompeu Fabra. De entrada, se trabaja con un concepto de moneda digital, más operativo y menos caro que la moneda papel que, entre otras funciones, sirva a ciudadanos y comerciantes para comprar y vender y que el dinero se quede en la ciudad.

Barcelona Threatens to Print Parallel Currency, Madrid SeethesWolf Street, by Don Quijones • October 24, 2015 
While the Bristol Pound experiment has been a big success on a tiny scale, Barcelona’s move toward adopting its own currency is a proposition of a whole different magnitude. With a metropolitan population of 3.2 million people, Barcelona would be far and away the largest city council in the West to trial such a scheme. The council is also proposing using the currency to pay some salaries, social benefits and public services, which could propel the amount in circulation well into the millions, if not billions of euros.
Predictably,the opposition to the scheme in Madrid is fierce. In June, the Bank of Spain’s deputy governor Fernando Restoy delivered a shot across the bow by warning that the scheme proposed by Barcelona’s activist mayor, Ada Colau, was “impossible” as well as “undesirable.”

Governo de gestão, sim, ou não?

Aníbal Cavaco Silva
Foto: Daniel Rocha @ Público

Para já, o bluff da esquerda ainda não terminou


Legislativas 2015
Eleitores inscritos: 9.682.553
Votaram: 5.408.805 (55,85% dos eleitores)
Abstiveram-se: 4.273.748 (44,14 % dos eleitores)
Votos brancos e nulos: 202.395
Não votaram numa putativa coligação PS+BE+PCP: 2.664.160 + 4.273.748 = 6.937.908 (71,65%)

O parlamento poderá chumbar o programa do governo que lhe será submetido pelo indigitado primeiro-ministro, líder do partido mais votado nas eleições de 4 de outubro, e líder da coligação de centro-direita PàF. Mas até que tal ocorra, se ocorrer, nenhum líder partidário poderá presumir que todos os votos dos deputados são propriedade sua. Retirar aos deputados eleitos a liberdade de consciência e de voto é completamente inconstitucional, e mais do que isso, um completo escárnio sobre a essência do processo democrático. No limite, o Tribunal Constitucional deveria ser chamado a pronunciar-se sobre a violação que constitui esta chamada e indecorosa 'disciplina de voto', própria de um regime de caciques, e não de uma democracia.

Mas pior, obrigar os deputados de um regime que mal consegue mobilizar metade dos seus eleitores a votarem antecipadamente contra um programa de governo que ainda não conhecem, em nome de um acordo de coligação alternativo que também não conhecem, porque não existe, nem se sabe se e quando virá a existir, além de uma aberração democrática sem nome, configura algo muito próximo de um golpe de estado parlamentar. Uma maioria negativa de partidos, sem acordo nem programa de governo conhecidos, propõe-se derrubar uma coligação conhecida e que ganhou as eleições, sejam quais forem as cedências que esta maioria relativa estiver disposta a fazer no decurso da apresentação e discussão do seu programa de governo.

É por este lamentável estado de coisas que o presidente da república decidiu como decidiu.

Não só indigitou, como lhe competia, Pedro Passos Coelho para formar governo, como anunciou Urbi et Orbi que não daria posse a um saco de gatos cor-de-rosa e vermelhos, dispondo-se mesmo a deixar em funções de gestão um eventual governo chumbado pela coligação espontânea da esquerda e extrema esquerda parlamentar, até que novas eleições esclareçam a crise política criada pelo derrotado líder do Partido Socialista, António Costa. A primeira decisão do próximo presidente da república será convocar estas eleições!

Ao contrário do que o ruído oportunista começou a propagar no éter mediático, um governo de gestão tem ampla margem de manobra executiva, e servirá ainda e sobretudo para confrontar a putativa maioria de esquerda com as suas responsabilidades, dia a dia, hora a hora, minuto e minuto. Situações como as que vamos tendo conhecimento na TAP, no Novo Banco, no BCP, Banif, etc., impor-se-ão a toda a classe política como dilemas inadiáveis.

Governos de gestão têm sido um hábito na nossa vida democrática... e a sua capacidade de ação é bem mais lata do que parece. Exemplo: “o governo de gestão de António Guterres aprovou mais de 50 decretos-lei,...” (Aventar e Luís Costa Dias).

Além do mais, o bluff de António Costa ainda não terminou, e nem o Bloco, nem o PCP estão neste momento preparados para governar. Se governassem, o resultado seria desastroso para todos nós, mas também e em primeira instância para a esperada e necessária reconversão cultural da esquerda à esquerda do PS.

Por fim, a incontinência verbal de Marcelo Rebelo de Sousa poderá acabar com a sua candidatura presidencial mais cedo do que alguma vez imaginei.

domingo, outubro 25, 2015

Primavera angolana?

Luaty Beirão, ativista luso-angolano
Foto: autor desconhecido

Quem é Gene Sharp? Que anda Luaty Beirão a ler?


Francisco Louçã disse em tom cândido num programa televisivo que Luaty Beirão e os seus vinte e um companheiros e companheiras foram detidos por suspeita de estarem a preparar um atentado contra o presidente José Eduardo dos Santos e o derrube do regime angolano. O vídeo obtido por um 'infiltrado' (palavra de Louçã) entretanto mostrado a alguns diplomatas mostrava o referido grupo numa discussão sobre ações, manifestações e outro tipo de protestos públicos, de natureza pacífica, nomeadamente à semelhança das primaveras árabes (ainda nas palavras usadas pelo ex-líder do Bloco de Esquerda).

Por sua vez, Catarina Martins, a nova estrela do Bloco, disse às televisões num tom igualmente cândido que Luaty Beirão fora preso por estar a ler um livro. Que livro seria?

Provavelmente um destes:

  1. Da Ditadura à Democracia: Uma Estrutura Conceitual para a Libertação
  2. Poder, Luta e Defesa: Teoria e prática da ação não-violenta
  3. On Strategic Nonviolent Conflict: Thinking About The Fundamentals
  4. Self-Liberation, A Guide to Strategic Planning for Action to End a Dictatoship or Other Opressions
Ou todos estes, e ainda algum outro da vasta bibliografia de Gene Sharp, o maior teórico vivo da resistência pacífica e das revoluções coloridas, bem como das mais recentes e trágicas primaveras árabes.

Comprei e li alguns destes livros há já dois ou três anos. Percebi então como boa parte das rebeliões pacíficas pós-modernas, nomeadamente todo o folclore anti-globalização, segue meticulosamente os ensinamentos, vastos e igualmente detalhados, de Gene Sharp. 

Tal como os manuais do terrorismo sionista, por sua vez inspirados nas táticas de terror do IRA, instruíram boa parte dos movimentos guerrilheiros anti-colonialistas em África (MPLA incluído), talvez se possa afirmar agora que Gene Sharp desenvolveu a mais importante arquitetura teórica da guerra civil pacífica dos tempos pós-modernos. 

A diferença entre os dois paradigmas é evidente: enquanto as táticas modernas assentavam e assentam ainda no uso da violência extrema e no terror, as táticas promovidas por Gene Sharp assentam na retórica dos direitos humanos e da democracia, na ideia de resistência pacífica e no uso intensivo e programado dos meios de comunicação de massas, nomeadamente as redes sociais, para enfraquecer e derrubar regimes não-democráticos.

Esta nova teoria da ação política militante, mas não militar, tem-se revelado muito eficaz em vários teatros de guerra assimétrica, onde, além das ações diplomáticas e militares, convencionais e não convencionais, têm confluído também as táticas, dispositivos e ações públicas de protesto e/ou resistência desenhadas por Gene Sharp. 

Resta saber quando e como esta guerra pacífica é mais do que isso, e acaba ou não por fazer parte de uma guerra assimétrica maior, cujos promotores deveremos, pelo menos, reconhecer, sob pena de nos deixarmos envolver e manipular pela dimensão psicológica e cultural dos factos criados e das suas calculadas projeções virtuais.

The Albert Einstein Institution: non-violence according to the CIA 
Non violence as a political action technique can be used for anything. During the 1980s, NATO drew its attention on its possible use to organize the Resistance in Europe after the invasion of the Red Army. It’s been 15 years since CIA began using it to overthrow inflexible governments without provoking international outrage, and its ideological façade is philosopher Gene Sharp’s Albert Einstein Institution. Voltaire Network reveals its amazing activity, from Lithuania to Serbia, Venezuela and Ukraine. 
by Thierry Meyssan
VOLTAIRE NETWORK | 4 JANUARY 2005 

O governo angolano identificou certamente um padrão de comportamento e ação por parte do grupo de ativistas anti-regime, hoje simbolizado por Luaty Beirão, mas que tem outros protagonistas bem conhecidos, como o jornalista e opositor declarado do regime, Rafael Marques.

Em Portugal, enquanto o PCP apoia tacitamente José Eduardo dos Santos, o MPLA e o atual regime, já João Soares (o novo porta-voz dos socialistas) e a ex-MRPP Ana Gomes, bem como os trotskistas e maoístas do BE tendem a questionar um regime cujas origens estalinistas, ou 'social-fascistas', historicamente rejeitam. Ou seja, debaixo do manto diáfano dos direitos humanos e da democracia temos, como sempre, a nudez sórdida das várias agendas partidárias.

Angola é um país artificialmente desenhado na sequência da Conferência de Berlim (1884-85), convocada com o objetivo explícito de retalhar o continente africano, sob a enorme pressão do arrogante e ambicioso prussiano que fundou do II Reich, Otto von Bismarck, e do humilhante Ultimato Britânico (1890), que acabaria com o sonho português de criar uma colónia africana ligando Angola a Moçambique — o famoso Mapa Cor-de-Rosa

Ao contrário do que possa parecer, ouvindo os argumentos levianos de quem parece nada saber do passado, isto são factos históricos recentes. Se o Mapa Cor-de-Rosa tivesse tido ganho de causa, em vez de ter sido traído pelos britânicos, hoje não estaríamos a falar de Angola, nem da Zâmbia, nem do Zimbábue, nem do Malawi, nem de Moçambique, como estados soberanos pós-coloniais, mas de uma extraordinária potência africana.

Esta nota histórica é importante pelo seguinte: a ligação ferroviária entre os portos de Lobito, em Angola, e Nacala, em Moçambique, iniciada pelos portugueses em 1901, ainda que à época com um alcance mais limitado (Caminho de Ferro de Benguela), estará em breve pronta. O país que mais investiu no fecho desta ligação estratégica chama-se República Popular da China. Basta percorrer o mapa Tordesilhas 2.0, que tenho vindo a povoar de sinais, para percebermos a importância desta notícia.

O acesso ao petróleo, ao gás natural e às demais matérias primas é vital para a China, cujo crescimento projetado para os próximos três a cinco anos andará entre os seis e os sete por cento. O Mapa Cor-de-Rosa pode, pois, revelar-se uma peça essencial da sua estratégia de crescimento e abastecimento se porventura o Médio Oriente explodir.




Infelizmente, os Estados Unidos têm procurado defender a sua supremacia mundial através de erros estratégicos sucessivos, de agressões bélicas brutais e da criação de um sem número de guerras por procuração, tudo em nome, como sabemos, da defesa do mundo livre e, mais recentemente, da democracia, embora só onde mais lhe convenha a cada momento. O exemplo mais recente desta hipocrisia vem do Departamento de Defesa norte-americano, que acaba de aprovar uma despesa de 11,5 mil milhões de dólares para fornecer navios de guerra à Arábia Saudita—link).

As primaveras árabes, tal como uma possível primavera angolana, moçambicana, ou mesmo ibérica, servem claramente os interesses estratégicos dos Estados Unidos, na medida em que perturbam ou podem perturbar o euro, a União Europeia, e a expansão económica da China em direção ao Ocidente, mas também, na própria China, em direção à livre iniciativa privada, à concorrência económica leal, à democracia e à liberdade.

A pergunta que, no caso da greve de fome de Luaty Beirão, forçosamente teremos que nos colocar é esta: a quem serve objetivamente?

Mas há também uma pergunta a dirigir a José Eduardo dos Santos:

— que pensa fazer, agora que as receitas do petróleo encolheram consideravelmente e por tempo indeterminado, para merecer o país que governa? Permitir que a pobreza de muitos e a escandalosa riqueza de alguns continuem lado a lado, reprimindo cada vez mais quem nada tem, para proteger a insultuosa riqueza pilhada de tão poucos não será certamente a melhor forma de se salvar e de salvar o futuro de Angola.

sexta-feira, outubro 23, 2015

Mais uma desilusão à esquerda?

Manif em frente à Assembleia da República, novembro, 2012
Foto: autor desconhecido


Quanto mais tempo Costa estiver ao leme do PS maior será a probabilidade de termos um Costa Concórdia II


Draghi sobre Portugal: “A incerteza política faz parte da democracia”
Questionado por um jornalista italiano sobre a incerteza política em Portugal e Espanha, e em particular em Lisboa, onde após as eleições se negocia um governo em que partidos críticos da moeda única poderão chegar ao poder, Mario Draghi começou por dizer que “não” quer comentar desenvolvimentos políticos. Mas acrescentou depois, de forma breve, a sua posição: “A incerteza é má para a economia”, para as decisões de investimento e para o crescimento, mas atirou logo de seguida que “a incerteza política faz parte da democracia” —in Jornal de Negócios, 22/10/2015.

Como, em última análise, quem compra a dívida portuguesa é o BCE, e os próprios contribuintes portugueses (que terão que a pagar!), um governo de esquerda liderado por António Costa teria um impacto quase irrelevante no orçamento de estado e nas finanças públicas, locais e europeias. As variações previsíveis podem, aliás, ser acomodadas pela maioria PSD-CDS, residindo aqui uma das causas do silêncio da famosa maioria de esquerda em matérias concretas, como a do próximo orçamento.

Na melhor das hipóteses uma maioria de esquerda, se não fosse, como é, um teatro de sombras, poderia cumprir a parte do programa da Troika que ficou por realizar, ou seja:

  1. atacar as rendas excessivas da EDP, da Brisa e similares;
  2. realizar investimento público estratégico em linha com as prioridades estratégicas da União Europeia: rede europeia de transportes, e a interligação das redes energéticas;
  3. e por fim, realizar a famosa reforma do estado, tornando-o mais eficiente e menos caro para os contribuintes. 

Se a esquerda em governo apenas aumentasse ainda mais a despesa e a demagogia populista de que tem dado provas, a frente popular de António Costa acabaria por revelar-se a forma mais expedita de acabar com todas as ilusões sobre as velhas esquerdas marxistas, leninistas, trotskistas, estalinistas e maoistas. Ou seja, teria um efeito de vacina anti-esquerdista.

Precisamos de uma nova esquerda. Mas talvez só depois de enterrarmos a que ainda mexe haverá espaço para uma alternativa simultaneamente crítica, democrática, racional e humanista ao desvario terminal do capitalismo.

Mas para aqui chegarmos nada melhor do que convocar novas eleições, assim que for possível, colocando o eleitorado perante a escolha de uma coligação de centro-direita, e uma coligação de centro-esquerda.

Tomar o poder através de um golpe de estado parlamentar seria o enterro definitivo da esquerda portuguesa. Será que alguma ave rara desta confraria pensou seriamente nisto?

Cavaco começou a fritar António Costa

António Costa
Foto: autor desconhecido

Costa tinha e tem uma mão cheia de nada. Mas queria ser nomeado!


O discurso de Cavaco Silva foi um tiro de bowling no estômago de António Costa. Não o nomeio agora, nem o nomearei se a coligação negativa PS-BE-PCP-PEV chumbar o governo de Passos Coelho. Eis, em resumo, o que disse o presidente da república justificando a indigitação do vencedor das eleições de 4 de outubro para formar o próximo governo. Um governo irremediavelmente minoritário, salvo se houver uma excisão no PS lá mais para diante.

Ao abrigo do Artigo 187 da nossa Constituição, estas duas decisões são 100% legítimas e constitucionais. Politicamente, forçarão uma clarificação mais rápida do que se esperava, quer no PS, quer no PCP, quer ainda no Bloco. Os falsos Verdes já não existem.

A parte crucial do discurso de Cavaco Silva é esta:

Em 40 anos de democracia, nunca os governos de Portugal dependeram do apoio de forças políticas antieuropeístas, isto é, de forças políticas que, nos programas eleitorais com que se apresentaram ao povo português, defendem a revogação do Tratado de Lisboa, do Tratado Orçamental, da União Bancária e do Pacto de Estabilidade e Crescimento, assim como o desmantelamento da União Económica e Monetária e a saída de Portugal do Euro, para além da dissolução da NATO, organização de que Portugal é membro fundador. 
Este é o pior momento para alterar radicalmente os fundamentos do nosso regime democrático, de uma forma que não corresponde sequer à vontade democrática expressa pelos Portugueses nas eleições do passado dia 4 de outubro. 
Depois de termos executado um exigente programa de assistência financeira, que implicou pesados sacrifícios para os Portugueses, é meu dever, no âmbito das minhas competências constitucionais, tudo fazer para impedir que sejam transmitidos sinais errados às instituições financeiras, aos investidores e aos mercados, pondo em causa a confiança e a credibilidade externa do País que, com grande esforço, temos vindo a conquistar.
Devo, em consciência, dizer aos Portugueses que receio muito uma quebra de confiança das instituições internacionais nossas credoras, dos investidores e dos mercados financeiros externos. A confiança e a credibilidade do País são essenciais para que haja investimento e criação de emprego. 
É tanto mais incompreensível que as forças partidárias europeístas não tenham chegado a um entendimento quando, num passado recente, votaram conjuntamente, na Assembleia da República, a aprovação do Tratado de Lisboa, do Tratado Orçamental e do Mecanismo Europeu de Estabilidade, enquanto os demais partidos votaram sempre contra. 
Cabe ao Presidente da República, de forma inteiramente livre, fazer um juízo sobre as diversas soluções políticas com vista à nomeação do Primeiro-Ministro.
Se o Governo formado pela coligação vencedora pode não assegurar inteiramente a estabilidade política de que o País precisa, considero serem muito mais graves as consequências financeiras, económicas e sociais de uma alternativa claramente inconsistente sugerida por outras forças políticas. 
Aliás, é significativo que não tenham sido apresentadas, por essas forças políticas, garantias de uma solução alternativa estável, duradoura e credível.

Discurso completo 

quinta-feira, outubro 22, 2015

E se...



E se Cavaco tiver que nomear um governo de esquerda?



Se o PS, o PCP e o Bloco vierem a apresentar uma moção de rejeição conjunta do segundo governo de Passos Coelho, apresentando no decurso da discussão parlamentar um acordo inter partidário para a formação de um governo de esquerda, então sim, Cavaco terá que engolir semelhante paquiderme, e conheceremos então o segundo governo de inspiração marxista depois da queda da ditadura salazarista. 

É tempo de vermos todos o que há dentro deste caixote de promessas.

Uma coisa parece hoje evidente: o Bloco Central acabou!


ÚLTIMA HORA: Cavaco nomeia, como se previa, Passos Coelho para liderar o próximo governo. Mas mais: não tenciona chamar António Costa a formar governo, em caso algum...

ATO SEGUINTE: uma grande batalha parlamentar.



Última atualização: 22/10/2015 22:56

terça-feira, outubro 20, 2015

Política Sueca (2)


Política Sueca é uma lâmina nova na grelha da RTP3

Cristina Azevedo, Cerveira Pinto, Nicolau Pais, Ricardo Jorge Pinto

Moderadora: Sandra de Sousa

Todos os sábados
Direto, às 11:10
Diferido, à 01:00
E na box, para os colecionadores d'O António Maria ;)

Política Sueca (ver Episódio 2)
Política Sueca (ver Episódio 1)

segunda-feira, outubro 19, 2015

Foi V. que pediu crescimento?

O crescimento é uma miragem...




The Portuguese economy expanded 0.4 percent on quarter in the three months to June, the same as in the last two quarters and matching preliminary estimates. Domestic demand was the main driver of growth while net external demand dragged the expansion down, final figures showed. GDP Growth Rate in Portugal averaged 0.39 percent from 1988 until 2015, reaching an all time high of 3.30 percent in the fourth quarter of 1990 and a record low of -2.60 percent in the first quarter of 1991. GDP Growth Rate in Portugal is reported by the Statistics Portugal.

The Gross Domestic Product (GDP) in Portugal expanded 1.50 percent in the second quarter of 2015 over the same quarter of the previous year. GDP Annual Growth Rate in Portugal averaged 1.17 percent from 1996 until 2015, reaching an all time high of 5.10 percent in the fourth quarter of 1998 and a record low of -4.20 percent in the first quarter of 2009. GDP Annual Growth Rate in Portugal is reported by the Statistics Portugal. 
—in Trading Economics

O crescimento médio anual do PIB português foi de 1,17% entre 1996 e 2015

Três bons sítio para sabermos como estamos.

quinta-feira, outubro 15, 2015

Fim da austeridade em 2016-2019 é um mito

Jürgen von Hagen
Foto: Jure Eržen @ Delo


Conselho de Finanças Públicas arrasa demagogia financeira da esquerda


Conselho de Finanças Públicas (que não é propriamente uma instituição pacóvia) arrasa demagogia económico-financeira da Frente Popular nascida no dia 4 de outubro. É uma síntese curta e definitiva.

Aguardam-se as réplicas das sumidades do PS, Bloco e PCP...

CFP, "Finanças Públicas: Situação e Condicionantes 2015-2019
– Atualização" (14 outubro 2015) 
O Conselho das Finanças Públicas (CFP) divulga hoje o relatório Finanças Públicas: Situação e Condicionantes 2015-2019 – Atualização que atualiza as projeções macroeconómicas e macro-orçamentais para o período de 2015-2019, publicadas pelo CFP em março de 2015, com o pressuposto de políticas invariantes. Esta revisão tem em conta os desenvolvimentos entretanto ocorridos a nível interno e internacional e procura explicitar os riscos existentes. 
Após concluir o programa de assistência internacional, Portugal continua a defrontar desafios significativos em matéria de política económica em geral e de política orçamental em particular. No que a esta diz respeito, a acumulação de défices orçamentais ao longo de décadas e o peso da dívida pública daí resultante exigem manter a consolidação orçamental e a revisão em profundidade do processo orçamental como suas prioridades principais. Paralelamente, o país precisa de encontrar um modelo de crescimento estável da economia e do emprego, assente no aumento da produtividade e na competitividade da economia e não no seu endividamento e no aumento das despesas públicas. 
O cenário de políticas invariantes desenvolvido neste relatório indica, em primeiro lugar, que a simples ausência de medidas de política orçamental – que conduziria, nomeadamente, em 2016, à eliminação da sobretaxa sobre o IRS e à reversão integral da remuneração remuneratória aplicável aos trabalhadores das administrações públicas – poria em causa a revogação do Procedimento por Défices Excessivos, dada a projeção de um défice superior a 3% do PIB em 2016. Tanto ou mais importante seria o risco significativo do impacto dessa política sobre o crescimento a curto prazo da economia voltar a revelar-se insustentável. Esta seria a consequência do crescimento de novo impulsionado pelo consumo privado e pela quebra da poupança, levando a acentuar a contribuição negativa das importações e a deterioração do saldo da balança corrente.
No domínio orçamental, embora, com este cenário, o défice voltasse a descer abaixo do limite de 3% do PIB a partir de 2017, ele ficaria longe do objetivo de eliminação do desequilíbrio orçamental que o Programa de Estabilidade/2015 prevê, que as regras europeias impõem e que a experiência da economia portuguesa aconselha. Na ausência de medidas de política, verificar-se-ia um desvio significativo da trajetória do saldo estrutural face ao Objetivo de Médio Prazo, superior a 2 p.p. do PIB. Mesmo ignorando os riscos que o relatório refere, o rácio da dívida pública manter-se-ia em 2019 ainda acima dos 120% do PIB, um nível que representa um elevado risco para a estabilidade e o crescimento da economia, não só pelo custo que acarreta, mas também atendendo ao facto de ser financiado em muito larga medida pelo exterior, em condições cuja volatilidade este cenário acentuaria. 
LINK

quarta-feira, outubro 14, 2015

Somos todos socialistas!

Do Estudo eleitoral português de 2011


A grande ilusão eleitoral


“Por estes dias, toda a gente sabe o que os eleitores de cada partido queriam e preferiam quando votaram, o que significa o voto e que preferências transmitiu. Eu não tenho a certeza sobre 2015. Mas posso recuar a 2011, com os dados do estudo eleitoral português.”
— in Pedro Magalhães, “O que os eleitores ‘querem’”.

Este é o mais delicioso desmentido da demagogia que sustenta a ideia peregrina de que os eleitores votaram em 4 de outubro contra o PàF, ou pior ainda, por uma Frente Popular chefiada por António Costa. Vale a pena observar cada um dos sete gráficos publicados.

Ilha ferroviária portuguesa é um escândalo


Crescer, como? Se nada fazemos por isso...


“Y Basco” já está construído em 80% 
O Y Basco, como é conhecido o projecto da ligação ferroviária de Alta Velocidade Vitória-Bilbau-San Sebastian/Fronteira com França, está já concluído em 80%, segundo a conselheira do Meio Ambiente e da Política Territorial do governo daquela província de Espanha. 
— in Transportes e Negócios, 13/10/2015

A rede ibérica de bitola europeia ligará um dia Lisboa a Vladivostok, ou seja, será um dos sistemas circulatórios essenciais da Nova Rota da Seda.

O boicote que o ainda governo de coligação fez à linha Poceirão-Caia, com a conivência do Tribunal de Contas e a oceânica ignorância da nossa imprensa em matéria de transportes, energia e outras pastas sob alçada de Sérgio Monteiro —o rapaz das PPP—, e que o lóbi do NAL cuidou de proteger à medida dos seus interesses inconfessáveis, foi o maior erro estratégico cometido nos últimos quatro anos.

É que o investimento na referida linha, além de ser o mais baixo de quantos traçados haverá um dia que financiar e construir, contava com apoios comunitários e do BEI na ordem dos 85% do custo total da obra!

Pelo caminho deixámos de instalar em Portugal um cluster renovado e tecnologicamente avançado de indústria ferroviária, como hoje a Espanha tem e exporta para todo o mundo.

Mas sobre isto também nunca ouvimos a esquerda definir qualquer posição estratégica clarividente.

Não basta querer tomar o poder através da secretaria parlamentar, quebrando a tradição em matéria de interpretação de resultados eleitorais. São precisas ideias produtivas que funcionem.


CORREIO RECEBIDO

Ainda a propósito de uma notícia recente sobre a ilha ferroviária portuguesa, cujos responsáveis deveriam ser propriamente acareados:

Caro OAM.

A resposta às 'teorias' locais foi dada pela DB Schenker ao terminar com os comboios de mercadorias entre Portugal e a Alemanha. Para bom entendedor...
A demora na realização dos comboios da DB Schenker em Portugal chegava a ultrapassar uma semana.
Ninguém, ninguém de bom senso, realiza comboios de mercadorias para percorrer 200km, só mesmo quem não entende nada de caminhos de ferro.
Quem defende uma enormidade destas tem como objectivo ACABAR com o caminho de ferro para o transporte de mercadorias. É claro que não escreveram isto em parte nenhuma, pois confiam que o respeitoso público ainda acredite no Pai Natal, deixando-os assim prosseguir os seus intentos liquidatários.

Posteriormente divulguei um e-mail pela tertúlia com material relativo ao visionário Caldeirinha, onde referi que, segundo o entendimento dele, a preferência recaía agora num “hinterland para consumo (do) próprio”, de 200 km (até à fronteira), uma vez constatado o encerramento da bitola ibérica junto à fronteira do lado espanhol, o que veio a comprometer o seu (dele) conceito de hinterland perfeito, de Sines até Madrid – 600Km.
Azar dos Távoras: a Espanha decidiu acabar com a bitola ibérica, fechando 400 km de linha até... Badajoz! Os génios locais entenderam então que poderíamos viver confortavelmente com um hinterland de 200Km. A DB Schenker respondeu em linha, batendo à sola do país, e ninguém se demitiu, nem foi preso.

Quanto à interoperabilidade entre portos e ferrovia, era bom que fossem apuradas “responsabilidades” (que não as há) relativamente à linha Sines – Évora, da autoria, ao que se sabe, do Porto de Sines, isto numa época em que do lado espanhol já se estava a avançar para linhas UIC entre Madrid e Badajoz. Gitevas, LTM e outros conceitos híbridos creio que, entretanto, não tiveram a melhor recepção em sede da norma UIC, pois são “soluções” que colidem com aquilo que a EU entende ser 'standard', logo passível de financiamento...

Na notícia que botaram na imprensa, lê-se ainda “pomposamente” que no Y basco os espanhóis vão aplicar um 3º carril numa extensão de 16Km para fechar a passagem entre Espanha e França, como que a sugerir que temos todo o tempo do mundo para insistirmos na asneira e nos prejuízos. Ou seja, Espanha está a investir milhares de milhões de euros numa nova rede UIC para depois deixar uma ponta de 16Km em bitola antiga (ibérica) por fazer. Anda tudo doido, ou será impressão minha?

Com os melhores cumprimentos,
VSR

Atualização: 15/10/2015 12:35 WET

Política Sueca


Política Sueca é uma lâmina nova na grelha da RTP3

Cristina Azevedo, Cerveira Pinto, Nicolau Pais, Ricardo Jorge Pinto

Moderadora: Sandra de Sousa

Todos os sábados
Direto às 11:10
Diferido às 19:10
E na box, para os colecionadores d'O António Maria ;)


Política Sueca (ver Episódio 1)

terça-feira, outubro 13, 2015

Primavera ibérica

Mariana Mortágua
Foto: Nuno Ferreira Santos (pormenor); in Público

Quem são os protagonistas desta espécie de revolução?


Se os camponeses portugueses foram substituídos por tratores e drones, se os operários portugueses foram substituídos por operários chineses, indianos, paquistaneses, bengaleses, e por robots, se as ideologias mais fundamentalistas do PCP e do Bloco há muito deixaram de ser determinantes para a sua ação política quotidiana, quem são então os novos comunistas e socialistas que hoje se dispõem a tomar as rédeas do poder em Portugal?

A avaliar pelas transferências de votos que permitiram ao Bloco tornar-se na nova charneira partidária do regime, só tenho uma resposta: a classe média ameaçada.

Quer dizer: uma classe média profissional qualificada, que vive do seu trabalho e depende em geral da saúde das empresas, mas também a vasta burocracia, particularmente atenta à distribuição do dinheiro público, que povoa o estado, o setor público empresarial, as autarquias e os partidos do arco parlamentar.

A ameaça de domínio autoritário, empobrecimento e fragmentação que pende sobre as classes médias tal como se foram desenvolvendo ao longo dos últimos cinquenta anos —habituadas a um conforto relativo decorrente do seu estatuto social, conhecimentos adquiridos, espírito de iniciativa e méritos— provocou finalmente uma reação inteligente daquela que é a base essencial das democracias, ao subir o patamar da rua para o patamar institucional da disputa eleitoral democrática. Que o tenham feito votando também no Partido Comunista Português e no Bloco de Esquerda, e não em novos partidos que entretanto se apresentaram a escrutínio, é a novidade complexa nascida na noite de 4 de outubro.

A revolução que agora começa em Portugal será, pelo que temos visto e lido, uma revolução inteligente, programática, meticulosa, tecnicamente fundamentada, cognitiva e culturalmente sofisticada. Começa depois de uma destruição sem precedentes das nossas expectativas, e depois de uma devastação igualmente sem precedentes no tecido económico-empresarial e financeiro do país. Estamos praticamente em cima de uma tábua rasa, e é preciso reaprender quase tudo no que diz respeito ao desenho do novo estado social, da nova economia e do novo sistema financeiro.

Mais cedo do que imaginei, formou-se uma aliança tácita entre os jovens políticos visionários do PS, do PCP e do Bloco. Várias vezes chamei a atenção para os nomes de Pedro Nuno Santos, João Oliveira e Mariana Mortágua, entre outros. A ameaça que pende sobre a velha esquerda e os seus sindicatos, sobre a impotência ideológica que os dividiu até agora, e que já ninguém entende, acabaria, em suma, nestas eleições, por trazer à superfície uma solução óbvia: concretizar a maioria numérica de esquerda existente no parlamento numa maioria parlamentar substancial e num governo.

Claro que esta metamorfose implicará ajustamentos algo drásticos, sobretudo dentro do PS, mas também no PCP. Por isso pareceu-me que o processo deveria ser gradual, uma vez revelada e comungada a nova estratégia da esquerda. O perigo de deixar o derrotado António Costa liderar um governo apoiado pelo PCP e pelo Bloco é o deste trair à esquerda e à direita, e o de tentar, quando a dívida pública voltar a apertar em cheio, um golpe de asa bonapartista, como fez Alexis Tsipras. A laracha populista do nosso Costa concórdia, sobre os mais pobres, já começou!

Um pormenor...

O PS só contará com uma maioria parlamentar estável se puder contar com o apoio a 100% dos 17 deputados do PCP, 100% dos 19 deputados do Bloco, e, pelo menos, 80 deputados do PS.

Poderá António Costa prometer isto mesmo a Cavaco Silva?

Quantos deputados socialistas eleitos discordam da aventura do náufrago Costa? Será que o país precisa neste momento de um Costa concórdia?

Aconteça o que acontecer, o Bloco de Esquerda, e o PCP se aprofundar o aggiormanento que em boa hora iniciou, mas também o PS, que parece querer renascer das cinzas, terão ao longo dos próximos quatro anos um tempo precioso para mudar de alto a baixo a esquerda portuguesa.

Seja como for, as coisas avançaram já demasiado para que os diferente atores possam recuar.

Alea jacta est!

segunda-feira, outubro 12, 2015

A revolução de outubro

Palacete da Palma—a sede do Bloco de Esquerda, Lisboa

Acabaram-se as greves!


“O Governo de Passos e Portas acabou hoje” 
No que ao Bloco diz respeito, ficou hoje claro que o Governo de Passos Coelho e Paulo Portas acabou. Temos hoje as condições para termos um Governo e um Orçamento dentro da Constituição da República portuguesa, depois de quatro anos de uma direita que não soube nunca respeitar a lei fundamental do país” 
[…] 
A dirigente bloquista, com um discurso muito claro e objetivo, insistiu que "há outra solução de Governo". E acrescentou quais as "condições essenciais" que seu partido colocou sobre a mesa para dar estabilidade a um Governo socialista: "a recuperação da economia, a defesa do Estado social e o rompimento com a política de austeridade da direita.” 
—in Expresso, 12.10.2015 às 13h23

Como escrevemos na noite eleitoral, depois de se saber que nenhum partido ou coligação teria a maioria absoluta, houve um vencedor e não era obviamente António Costa. Esse vencedor foi e é o Bloco de Esquerda. Ficou demonstrado, pela forma como hoje Catarina Martins derrubou formalmente a coligação de centro-direita ainda no poder, que tínhamos razão na análise que então fizemos.

Quisemos crer que o Bloco preferiria entalar devagarinho o PS, deixando-o preso entre a opção de viabilizar o programa e o governo do PàF, e a opção de governar sozinho, sem obstrução do resto da esquerda, até que os espinhos da governação em austeridade acabassem por levar metade do PS para o colo do Bloco, preparando assim as condições de um futuro governo de esquerda a meio da próxima legislatura.

Fomos, no entanto, surpreendidos pelo cenário, já quase certo, da formação em breve de um governo de frente popular, ainda que de uma frente popular pós-moderna, pois os camponeses foram substituídos por drones, e os operários por robots, restando apenas uma imensa mole humana composta por reformados e pensionistas, desempregados, empresários aflitos, banqueiros insolventes, burocratas depauperados, profissionais humilhados e uma classe média em vias de extinção. Em suma, em vez de liderar uma revolução proletária, o PCP e o Bloco vão liderar, arrastando mais de metade do PS pelos cabelos, uma insurreição de precários contra um capitalismo que entretanto se esfumou em dívidas e paraísos fiscais. Um antepassado dos mesmos Rothschild que hoje administram a dívida portuguesa ficou conhecido por afirmar: Quando o sangue corre nas ruas de Paris, compro!

Não sabemos que resposta dará Passos Coelho a este xeque-mate do Bloco. Abdicará de formar governo? Se o fizer, então a coligação PSD-CDS/PP morre no dia em que tal decisão for comunicada ao país. Que fará então Cavaco? Chamará Paulo Portas para formar governo? Manterá o atual governo em funções de gestão, contra a vontade de Passos Coelho, alegando que é necessário um governo do Bloco Central? Mas como, se o que sai derrotado em todo este processo é, precisamente, o Bloco Central? Deixará o país suspenso até à sua substituição pelo novo inquilino do Palácio de Belém?

O mais provável, no imediato, é que todos esperem pela reação dos mercados!

Mas a avaliar pela recentes declarações de Mario Draghi a propósito da Grécia de Tsipras,

«Muitas coisas assumiram um rumo melhor nos últimos tempos e isso deve-se ao primeiro-ministro grego, ao Governo grego e ao povo grego. Creio que é do interesse de todos que a atenção se centre a partir de agora na aplicação rápida das medidas que foram acertadas em conjunto, de acordo com os prazos previstos», disse o responsável italiano, numa entrevista a ser publicada este domingo no jornal grego Katherimini. 
— in Expresso, 10.10.2015 às 20h23 


o mais provável é que os mercados digiram rapidamente a nova situação e a sancionem.

Se for o caso, Cavaco irá à vida e o Bloco Central também.

Objetivamente interessa a Washington e Londres enfraquecer a Alemanha e dividir a Europa, e sobretudo conter a aproximação de Berlim a Moscovo e Beijing. Tentaram destruir o euro, mas não conseguiram; escutaram ilegalmente Merkel e Sarkozy; lançaram fogo à pradaria ucraniana; alimentaram o terrorismo e derrubaram regimes no Médio Oriente e no norte de África e, cereja em cima do bolo, dificilmente levantarão um dedo contra a balbúrdia que em breve poderá tomar conta do sul da Europa. A pedra de toque será o comportamento dos famosos mercados, e ainda o que em breve dirão Christine Lagarde e Mario Draghi sobre a nova Revolução Portuguesa.

O povo é sereno, mas vamos estar muito atentos.

Costa concórdia II

António Costa
Foto @ José Sérgio/ Sol

Tsipras à portuguesa? A avaliar pelo andar da carruagem, é bem possível que sim!


Última hora: coligação sem governo; governo PS-Bloco-PCP a caminho

Presidente do BCE elogia Grécia 
«Muitas coisas assumiram um rumo melhor nos últimos tempos e isso deve-se ao primeiro-ministro grego, ao Governo grego e ao povo grego. Creio que é do interesse de todos que a atenção se centre a partir de agora na aplicação rápida das medidas que foram acertadas em conjunto, de acordo com os prazos previstos», disse o responsável italiano, numa entrevista a ser publicada este domingo no jornal grego Katherimini. 
— in Expresso, 10.10.2015 às 20h23 


A Alemanha está cada vez mais virada para a Eurásia e a Nova Rota da Seda sino-russa e, por outro lado, enquanto os Estados Unidos e o Reino Unido se preparam para enfraquecer ainda mais a União Europeia, Berlim não pode suportar mais, por si só, os custos de uma integração europeia atolada em dívidas, crescimento a caminho de zero e uma demografia cada vez mais envelhecida e improdutiva.

O eixo Paris-Berlim poderá ter assim os dias contados, sobretudo se Marine Le Pen continuar a progredir sob o impacto da instabilidade plantada pelos Estados Unidos no Médio Oriente, no leste da Europa e no Mediterrâneo, e as velhas esquerdas de Portugal, Espanha e Grécia conseguirem atravessar com êxito as metamorfoses ideológicas que já iniciaram. Não creio que Washington coloque quaisquer reservas à emergência de governos de esquerda nestes três países. E se assim for, o PàF e Cavaco Silva passarão rapidamente à história.

O escândalo da Volkswagen, que não por acaso rebentou nos Estados Unidos, abriu uma cratera na credibilidade alemã e começou a destapar o buraco negro do seu sistema financeiro.

Só o Deutsche Bank tem uma exposição aos contratos de derivados financeiros na ordem dos 54,7 biliões de euros (54,7x10E12), isto é, 19x o PIB da Alemanha! Para termos uma ideia ainda mais dramática do problema, basta pensar que o PIB mundial em 2014 andou pelos 68 biliões de euros.

A fraude ambiental da Volkswagen pode, pois, ter sido o cisne negro que levou o sistema financeiro global —e portanto o capitalismo como o conhecemos— a dar mais um forte sinal de que caminha rapidamente em direção ao colapso, que alguns já chamam pós-capitalismo. Para já, o que se vislumbra no horizonte mais próximo é o esgotamento da capacidade económico-financeira alemã de impor condições ao resto da União Europeia.

Nesta conjuntura, que à escala global é de agravamento das tensões entre o Oriente e Ocidente, mas sobretudo de avanço estratégico da China no Grande Jogo da Eurásia (que, como sabemos, vai de Lisboa e Vladivostok), os graus de liberdade dos países do sul da Europa, apesar das suas crises de endividamento soberano, poderão aumentar contra todas as expetativas.

É neste quadro que a renovação da esquerda se joga, e o futuro da direita que temos, também.

Para ajudar a compreender porque motivo o impensável se poderá realizar em breve, junto alguns artigos recentes que permitem perceber as mudanças rápidas que estão em curso


Central bank cavalry can no longer save the world 
LIMA (Reuters) - In 2008 central banks, led by the Federal Reserve, rode to the rescue of the global financial system. Seven years on and trillions of dollars later they no longer have the answers and may even represent a major risk for the global economy.
[…]
"Central banks have described their actions as 'buying time' for governments to finally resolve the crisis... But time is wearing on, and (bond) purchases have had their price," the report said.
[…]
Reuters calculates that central banks in those four countries alone have spent around $7 trillion in bond purchases.
The flow of easy money has inflated asset prices like stocks and housing in many countries even as they failed to stimulate economic growth. With growth estimates trending lower and easy money increasing company leverage, the specter of a debt trap is now haunting advanced economies, the Group of Thirty said. 
— in Reuters, Sat Oct 10, 2015 | 3:34 PM EDT, By David Chance
The Endgame Takes Shape: "Banning Capitalism And Bypassing Capital Markets" 
We believe that the path of least resistance would be to effectively ban capitalism and by-pass banking and capital markets altogether. We gave this policy change several names (such as “Cuba alternative”, “British Leyland”) but the essence of the new form of QE would be using central banks and public instrumentalities to directly inject “heroin into blood stream” rather than relying on system of incentives to drive investor behaviour. 
Instead of capital markets, it would be governments that would decide on capital allocation, its direction and cost (hence reference to British Leyland and policies of the 1960s). It could involve a variety of policy tools, with wholesome titles (i.e. “Giving the economy a competitive edge”, “Helping hard working American families” or indeed recent ideas from the British Labour party of “People’s QE”). Who can possibly object to helping hard working families or improving productivity? 
However as the title of our previous note suggested (“Back to the Future”), most of these policies have already been tried before (such as Britain in the 1960-70s or China over the last 15 years) and they ultimately led to lower ROE and ROIC as well as either stagflationary or deflationary outcomes. Whilst the proponents of new attempts of steering capital could argue that we have learned from the lessons of the past and economists would start debating “multiplier effects” and “private-public partnerships”, the essence of these policies remain the same (i.e. forcing re-allocation of capital, outside normal capital market norms), and could include various policies, such as: 
—Central banks directly funding expansion of fiscal spending;
—Central banks and public instrumentalities funding direct investment in soft (R&D, education) and hard (i.e. infrastructure) projects; and
—Outright nationalization of various capital activities (such as mortgages, student loans, SME financing, picking industry winners etc). 
Whilst, these policies would ultimately further misallocate resources, they could initially result in a significant boost to nominal GDP and given that capital markets are now populated by highly leveraged financial instruments, the impact on various financial asset classes would be immediate and considerable. In other words, neither China nor Eurozone need to spend one dime for copper prices to potentially surge 30%+. 
Are we close to such a dramatic shift in government and CB policies? 
We maintain our view that for CBs to accept this new form of QE, we need to have two key prerequisites: 
Undisputed evidence that it is needed. The combination of a major accident in several asset classes and/or sharp global slowdown would be sufficient; and there has to be academic evidence (hopefully supported by sophisticated algebra and calculus) that there are alternatives to traditional QEs. 
At the current juncture, none of these conditions are satisfied. However, we maintain that as investors progress through 2016-17, there is a very high probability that both conditions would fall into place.
— in Zero Hedge, Submitted by Tyler Durden on 10/10/2015 19:44 -0400

Why Are The IMF, The UN, The BIS And Citibank All Warning That An Economic Crisis Could Be Imminent? 
— in The Economic Collapse, By Michael Snyder, on October 8th, 2015
The Final Crescendo Of Cognitive DollarDissonance And The Remonetisation Of Gold 
There is good reason to believe that what is already underway is going to be more severe than 2008-09. This time around, interest rates are already at zero, or outright negative. QE has failed. Confidence in economic officials’ general ability to restore healthy, sustainable growth has weakened considerably. Indeed, at a recent roundtable event at Chatham House I attended, multiple prominent international economists suggested that with ‘conventional QE’ having failed, the next logical arrow in the monetary policy quiver is that of direct money injections into corporations or households, in effect a Friedmanesque ‘Helicopter Drop’ of money. This conversation would not be taking place at all were the macroeconomic outlook not so poor. 
— in The Amphora Report, Vol.6, 8 October 2015

domingo, outubro 11, 2015

O 'bluff' de António Costa

Sérgio Sousa Pinto expõe bluff de Costa
Foto: autor desconhecido

Onde é que Costa irá buscar os votos para chumbar o governo do PaF?


O PS elegeu, até ao momento, 85 deputados. Vamos admitir que elegerá mais 1 pelos círculos da Europa e fora da Europa, ficando então com 86 deputados. Para chumbar o PaF precisará, no entanto, 105, 106, 107 ou 108 deputados, consoante o PaF venha a estabilizar o seu resultado final definitivo em 104 deputados (se, por absurdo, não eleger nenhum deputado nos círculos fora do país), 105, 106 ou 107.

Onde irá então o PS de Costa buscar mais 19, 20, 21 ou 22 deputados não socialistas, necessários para chumbar o governo do PaF? O bluff diz que estes deputados se encontram no PCP e no Bloco, na medida em que, se António Costa apresentar uma moção de rejeição do programa de governo apresentado por Pedro Passos Coelho, o PCP e o Bloco terão que o secundar, acrescentando aos 86 deputados do PS, 19 deputados do Bloco, mais 17 deputados do PCP, o que daria uma soma de 122 deputados.

Mas quem disse que o Bloco de Esquerda, ao contrário do PCP, estará disposto a passar um cheque em branco ao PS? PS+PCP não chegam. E PS+Bloco, também não.

E quem disse que o PS estará unido na votação de uma moção de rejeição eventualmente proposta por António Costa?

Não haverá 18, ou mesmo 37 deputados do Partido Socialista dispostos a travar a aventura de quem perdeu claramente as eleições legislativas do dia 4 de outubro e pretende rescrever a história como se fosse um vulgar estalinista?

Para além dos novos deputados que apoiam António José Seguro, quantos mais estariam na disposição de evitar a deriva desesperada de um secretário-geral inventado por Mário Soares e José Sócrates? Basta olhar para o olhar de Carlos César, para adivinharmos mais de uma dúzia! Não creio que um tarimbeiro temeroso, como António Costa é, se arrisque a contar os votos com que realmente pode contar no parlamento se as coisas começarem a azedar.

Os sinais de que o embuste não passará começaram, aliás, a surgir a tempo e horas, e vão aumentar ao longo da próxima semana.

UGT não quer que PS faça acordo à esquerda
Carlos Silva, líder da UGT à Antena 1: Ficaremos mais tranquilos se efectivamente a decisão do PS for de encontrar um compromisso com o PSD e o CDS. Não me parece que efectivamente as forças à esquerda do PS dêem, na minha opinião, a garantia de estabilidade em relação ao futuro. Há dúvidas. E portanto o PS só conseguirá fazer maioria se tiver maioria na assembleia quer do PCP quer do BE. É uma maioria instável que não dá garantias de que no futuro a governabilidade será assegurada por 4 anos.
in RTP, 11 Out, 2015, 08:49 / atualizado em 11 Out, 2015, 08:49

Contra estratégia de aliança à esquerda, Sérgio Sousa Pinto demite-se
Sérgio Sousa Pinto na sua página do Facebook: “Aparentemente o BE e o PCP estão dispostos a viabilizar um governo do PS, um governo com menos deputados socialistas no Parlamento que a coligação de direita. Mas não estão disponíveis para integrar o governo e partilhar a responsabilidade de governar. O que se seguiria seria fácil de imaginar. Uns a pensar no país, outros a pensar na sua plateia, outros ainda a pensar em eleições e na maioria absoluta. A esta barafunda suicidária, sem programa nem destino certo, chamar-se-ia “governo de esquerda” – coisa que nem os eleitores do bloco desejaram, optando pelo partido do protesto histriónico (e agora fanfarrão). Um penoso caos que entregaria Portugal à direita por muitos anos. Mas talvez permitisse ao BE suplantar o PS. E não é essa a verdadeira agenda, velha de 40 anos, de quem se reclama “da verdadeira esquerda”? Talvez me engane.”
in Jornal i, 10/10/2015 12:40:56

Finalmente, como já escrevi, o fiel da balança da conjuntura nascida no dia 4 de outubro chama-se Bloco de Esquerda. E ao Bloco de Esquerda interessa fritar em lume brando, não Passos Coelho, mas o PS e o PCP. E para isso nada melhor que um novo governo PSD-CDS/PP. Precipitar uma Frente Popular seria destruir de uma só penada o futuro do Bloco.

POST SCRIPTUM (12/10/2015)

Enganei-me? O Bloco decidiu mesmo impor um governo de esquerda com a sua presença e a presença, presumo, do PCP. Alta tensão na política portuguesa. Mas um bom bluff é isto mesmo!

Atualização: 14/10/2015 14:24 WET

quinta-feira, outubro 08, 2015

E se fosse Maria de Belém?

Maria de Belém, candidata presidencial
Foto © desconhecido, in Luso Notícias

Uma candidata para derrotar Marcelo à primeira volta?


Ninguém compreenderia que o próximo governo fosse um governo de esquerda. Nem a própria esquerda lúcida que temos. Logo, aquilo a que estamos a assistir no rescaldo das eleições legislativas tem um alcance bem maior do que as aflições de Cavaco Silva, Passos Coelho e António Costa.

Há dois partidos no nosso espetro parlamentar que não fizeram o rejuvenescimento necessário para responder, com novos protagonistas, nova estratégia e nova linguagem, às mudanças profundas que têm ocorrido nas sociedades humanas nos últimos quarenta anos: o Partido Socialista, e o Partido Comunista. As lideranças oportunistas e as castas dirigentes destas organizações partidárias de origem jacobina, invariavelmente machistas, têm uma fatal e insuportável tendência para se perpetuarem nas cadeiras de poder que em dado tempo conquistaram. Nos tempos que correm, porém, estas características genéticas acabam por ser mais ameaçadoras da sua sobrevivência do que o próprio oportunismo marxista-leninista do PCP, ou do que o aburguesamento dos sociais-democratas do PS. O scratch ideológico de ambos deixou, aliás, de convencer e mobilizar. Resta-lhes, pois, fazer um reset das respetivas filosofias políticas, ou definhar.

Pelo contrário, o Bloco de Esquerda, cujo aggiornamento está em curso, terá as portas abertas para promover uma renovação sem precedentes do ideário socialista, cortando meticulosamente os nós górdios que tolhem o futuro tanto do PS, como do PCP. A necessária espada para o conseguir parece empunhá-la, a quatro mãos, Catarina Martins e Mariana Mortágua. Será, no entanto, imprescindível impedir o regresso dos fantasmas do oportunismo marxista-leninista e do trotsquismo mandeliano que ainda andam por aí. Há, tanto no PCP (João Oliveira), como no PS (Pedro Nuno Santos), jovens líderes e sobretudo muitos eleitores que há muito anseiam por uma verdadeira convergência da esquerda. Esta oportunidade chegou!

Não será, no entanto, no plano da formação do próximo governo —que deverá assentar na coligação que venceu as eleições, ainda que sem maioria e depois de uma sangria de mais de 720 mil votos— que os trabalhos ciclópicos e meticulosos da construção da almejada maioria de esquerda deverão confluir e precipitar-se.

A maioria potencial de esquerda atualmente existente no parlamento deve abrir um processo de convergência pragmática séria apontada à formação de um próximo governo de maioria, nomeadamente na sequência de um possível colapso do governo do PàF a que Cavaco Silva deverá dar posse, e o primeiro passo desta caminhada que recomendo é o da eleição de Maria de Belém para o cargo de Presidente da República — à primeira volta!

Se desafiar a maioria eleitoral de centro-direita obtida pelo PàF é um ato ilegítimo, e pior do que isso, aventureiro, já negar a possibilidade de eleger Maria de Belém à primeira volta seria a prova de que, afinal, o teatro montado por António Costa (que espero seja em breve substituído por Álvaro Beleza) não teria passado de uma farsa política inqualificável.

O país nunca precisou, e agora precisa ainda menos, de uma esquerda negativa.

O país precisará certamente, quando a atual coligação se esgotar, de uma esquerda positiva, capaz de governar com pragmatismo e assumindo com coragem as potencialidades, mas também os espinhos da transição social em que todos já estamos metidos.

O Partido Socialista, tal como existe ainda, morreu.

segunda-feira, outubro 05, 2015

O próximo presidente

Marcelo Rebelo de Sousa no Alentejo
Foto (pormenor): Manuel Isaac Correio/Jornal Alto Alentejo

O senhor que se segue no Palácio de Belém


A desastrosa situação em que se encontra o Partido Socialista catapultou o Bloco de Esquerda para o terceiro lugar do hemiciclo, à frente do CDS/PP, e do PCP, e promete estender uma passadeira vermelha a Marcelo Rebelo de Sousa em direção a Belém.

António Costa poderia ter-se demitido ontem, como deveria tê-lo feito se fosse o que não é —uma pessoa decente—, sem por isso deixar de assegurar a gestão corrente do partido até à realização dum congresso extraordinário que sarasse de vez o problema da transição geracional de que desesperadamente precisa para sobreviver. Ao obedecer, uma vez mais, aos pequenos imperadores que não desgrudam, prestou mais um péssimo serviço ao partido que Helena Roseta gostaria de ver numa Frente Popular com a duração dum fósforo aceso.

O Partido Socialista de António Costa simulou desesperadamente uma viragem à esquerda para evitar o que já se adivinhava, ou seja, um fuga maciça de eleitores moderados de esquerda para um Bloco inesperadamente mais realista e conciso.

O bluff cor-de-rosa falhou, pois as cartas de Costa são as cartas de José Sócrates Pinto de Sousa que, por sua vez, são as cartas de Jorge Coelho, Ferro Rodrigues, Almeida Santos, etc., etc., etc. que, enfim, são as cartas de Mário Soares. Ou seja, uma baralho viciado de traições ideológicas, populismo e processos judiciais por corrupção.

Nestas circunstâncias, quem irá o PS apoiar nas eleições presidenciais?

Será capaz sequer de apoiar um único candidato? Muito dificilmente. O Bloco de Esquerda tem um candidato natural razoavelmente credível: Francisco Louçã, capaz de se opor com autoridade e pedagogia a Marcelo Rebelo de Sousa, o agora óbvio candidato do PáF.

Maria de Belém, ou o fantasma proposto pela esquerda desorientada —Sampaio da Nóvoa—, têm ambos o mesmo problema: não sabem o que pensa o PS, nem sabem, por isto mesmo, de onde lhes virá o dinheiro para a campanha eleitoral. Ora sem dinheiro, nem apoio partidário, não há candidato que resista. Que o diga Henrique Neto!

Esta previsão é contra-intuitiva, na medida em que continua a haver aparentemente uma maioria de esquerda no país. No entanto, estou convencido de que algumas realidades acabarão por eleger Marcelo Rebelo de Sousa à primeira volta:
  • não haverá candidato único da esquerda, 
  • haverá candidato único do centro-direita (pois não creio que Passos Coelho e Portas venham a apoiar Rui Rio), 
  • a situação económica, financeira e política mundial continuará a dar muitas dores de cabeça ao mundo, à Europa e a Portugal até ao fim desta década, 
  • a gestão da nossa descomunal dívida pública e privada vai acabar por exigir uma diminuição do peso e preço da máquina do estado, exigindo assim uma negociação permanente entre a repressão fiscal e financeira dos contribuintes (pessoas e empresas—sobretudo as grandes empresas que vivem de rendas e em regime de quase monopólio), e a inovação, eficiência e transparência cada vez mais necessárias à sobrevivência do estado social.