quinta-feira, novembro 13, 2014

O incidente de Timor visto por Ramos-Horta

José Ramos-Horta, ex-presidente de Timor

Onde há petróleo há corrupção, e muita!


Não escrevemos nada sobre este assunto até hoje, por manifesta falta de informação. A agitação indígena sobre o ultraje sofrido por alguns portugueses expulsos de Timor pareceu-me exagerada e, como sempre, sem substância. Enquanto o caso não se esclarece, se é que algum dia será esclarecido totalmente, vale a pena ler o testemunho de um dos mais importantes embaixadores da causa timorense, antigo presidente de Timor e Prémio Nobel da Paz, José Ramos-Horta, sobre este desagrável assunto.

OAM

David Vs Golias 
- Xanana Vs Conoco Philips & Co.

Hesitei em opinar sobre esta matéria pois não estava na posse de informações fidedignas embora há muito me chegavam rumores muito perturbadores com alegações gravosas nada abonatórias da Justiça em Timor-Leste.

A Justiça em Timor-Leste padece de muitas debilidades; mas o mesmo acontece com a maior parte da nossa Administração Pública. Obviamente cada setor tem o seu peso relativo e a Justiça pesa muito mais porque tem ramificações mais graves quando não funciona com competência profissional e integridade inquestionáveis.

A questão central para o Governo Timorense e para todos os Timorenses, de todos os quadrantes sociais e politicos, está no Tribunal de Díli: o embate entre David (Timor-Leste) e Golias (as famigeradas "Sete Irmãs", assim são conhecidas as sete mais poderosas empresas petrolíferas do mundo).

O Governo exibiu provas documentais, até agora não contestadas, de falhas gravosas de quem julgou o processo - Estado de Timor-Leste Vs Conocco Philips - lesando seriamente o Estado. Que haja então uma auditoria objetiva e aprofundada da Justiça em Timor-Leste.

Como Timorense fiquei muito entristecido e profundamente desiludido com as ofensas públicas e injuriosas contra o nosso Primeiro Ministro Xanana Gusmão.

Houve poucas vozes serenas. Saliento o Prof. Pedro Bacelar (Universidade do Minho) e o Irmão Guineense, Fernando Casimiro "Didinho" (http://www.didinho.org/) que revelaram honestidade e coragem intelectuais impares.

Não existe em Timor-Leste qualquer animosidade em relação aos Portugueses. E não poderia haver! Este imbróglio implica apenas uma parte, embora muito importante, da cooperação Portugal / Timor-Leste.

Fiquei consternado com a ordem de expulsão. Eu teria gerido a situação de uma outra maneira: teria convidado o Embaixador de Portugal para uma conversa íntima de amigos; ter-lhe-ia entregue o dossier acusatório; e face à documentação apresentada, os dois Governos amigos decidiriam em conjunto os passos seguintes.

Durante mais de uma década, fui apoiado no MNE (2001-2006), na Primatura (2006-2007) e na Presidência, (2007-2012) por assessores de países da CPLP e de muitas outras nacionalidades - e todos foram um exemplo de profissionalismo e dedicação, de todos guardo gratas recordações.

A cooperação Portugal / Timor-Leste tem sido exemplar, a todos os níveis. Um exemplo saliente de sucesso no setor de Educação é comprovado pelas longas filas de espera em todo o País, de pais ansiosos por ingressar os filhos na Escola Portuguesa de Díli assim como nas Escolas de Referência nos Distritos.

Ainda nesta área, temos o programa coordenado pela Fundação das Universidades Portuguesas na formação e gestão da Faculdade de Direito da UNTL, hoje bastante prestigiada, talvez a que se pode classificar de maior sucesso.

Na área de Defesa e Segurança: as relações desenvolvidas entre as duas forças são um modelo; a qualidade de formação administrada por instrutores Portugueses é visível; outro tanto tem sido a cooperação no setor de formação policial com o apoio da PSP.

A GNR deixou muito bom nome entre todos os Timorenses pelo seu profissionalismo e eficácia na actuação operacional, granjeando respeito mesmo junto dos gangues que gostavam de provocar e testar a GNR.

E não nos podemos esquecer da excelente e generosa cooperação das autarquias, Câmaras, ONGs, Igrejas Portuguesas etc, que trabalham diretamente com as populações em áreas esquecidas do nosso Pais.

O Maun Bot Xanana é um Amigo sincero e grato de Portugal; que ninguém duvide disto.

Depois do malogrado poeta Borja da Costa e do escritor Luís Cardoso (Takas), Xanana será o maior poeta e cultivador da Língua Portuguesa em toda a Ásia.

Graças a ele, a sua visão e coragem, apoiado por líderes como Francisco Lu-Olo Guterres e Mari Alkatiri, Mário e João Carrascalão, os nossos venerados Bispos, o Jesuíta Pe. Filomeno Jacob, a língua Portuguesa, moribunda em 1999-2000, com menos de 1% de falantes, ressuscitou, bem viva, falada ou entendida, por cerca de 30% da nossa população em apenas 10 anos, número que continua a crescer.

O incidente dos magistrados toldou com uma nuvem carregada as relações entre os nossos Países, mas estas relações históricas e humanas profundas deveriam sair reforçadas deste mau tempo. Tentemos colocar este episódio dos magistrados no passado e ao mesmo tempo investir mais seriamente no setor de Justiça, pilar indispensável do Estado democrático.


in
José Ramos-Horta, Facebook 

ÚLTIMA HORA

A confusão está de volta a Timor

Juízes timorenses “apavorados” pedem ajuda. Público, 12/11/2014

Foi precisamente esta quarta-feira que se assinalaram os 23 anos sobre o massacre no cemitério de Santa Cruz, em Díli. Informações chegadas a Glória Alves dão conta de que na cerimónia que ali teve lugar, o primeiro-ministro Xanana Gusmão foi apupado e apelidado de corrupto. A procuradora pensa que o perigo que correm os seus colegas tem mais a ver com um eventual linchamento popular do que com aquilo que as autoridades lhes possam vir a fazer: “Em Timor é fácil criar focos de instabilidade popular e inflamar as massas, e já sucederam linchamentos no passado”.

Atualização: 13 nov 2014 14:02 WET

quarta-feira, novembro 12, 2014

Foi Você que pediu um Costa?

Diga lá, António Costa qual é a verdadeira dívida de Lisboa?

Lisboa continua com mais freguesias, mais burocracia e mais passivo por residente do que Madrid — além de piores transportes, pior limpeza, e pior oferta cultural


Basta comparar Madrid com Lisboa para perceber num ápice que António Costa tem uma cidade endividada, suja e inundada de cada vez que chove.

O quadro seguinte foi publicado neste blogue em 28 de fevereiro de 2008. Fizemos alguma atualização, embora seja praticamente impossível saber qual foi o PIB da capital portuguesa em 2013!

Duas capitaisLisboaMadrid
Superfície83,84 kmq607 kmq
Residentes556 797 (2001) ; 520 549 (2013)3 128 600 (2006) ; 3 166 130 (2014)
Densidade (hab/Km2)6 518 (2001) ; 6 209 (2013)5 154 (2008) ; (2014) 5 216
Nº Freguesias ; Distritos53 (passou a 24)21
Pessoal municipal 12 000 (2008) ; 9 368 (2013)26 416 (2008) ; 25 577 (2014)
Pessoal p/ 1000 Hab.21,5 (2008); 18 (2013)8,4 (2008) ; 8 (2014)
Pessoal p/ Kmq188 (2001) ; 112 (2013)44 (2001) ; 42 (2014)
Despesas c/ pessoal 238 006 101  (2008) 1 438 000 000 (2008)
Despesas c/ pessoal p/ Hab.427,45 (2007) 459,63 (2007)
Despesas correntes 107 247 666 (2007) 2 151 000 000 (2007)
Passivo municipal 1 500 000 000 (2007) ; 1 420 000 000 (2013)5 936 000 00 (2007) ; 6 704 631 119 (2014)
Passivo municipal p/ residente 2 694 (2007) 2 728 (2013)1 930 (2007) ; 2 117 (2014)
PIB per capita19 400 (2007) ; em 2013: ?27 279 (2008) ; 28 915 (2013)


VOTEM NO COSTA, VOTEM, MAS DEPOIS NÃO VENHAM PRA RUA GRITAR!

terça-feira, novembro 11, 2014

Goldman Boy não quer contribuintes a resgatar bancos

Pormenor da sede do nacionalizado Lloyds Bank na City de Londres

Quem pagará no futuro os prejuízos dos bancos que colapsem?


Ao contrário do que por vezes se crê, não é dos lunáticos da ‘esquerda’ que vêm as soluções, nomeadamente sobre como evitar a socialização dos prejuízos bancários. Mark Carney, atual governador do Banco de Inglaterra e presidente da Financial Stability Board, um ex-Goldman Boy, é quem veio propor que os futuros resgates de bancos, e em particular dos 30 maiores instituições financeiras do mundo (too big to fail/ to big to save), sejam suportados pelos próprios, pelos seus acionistas e obrigacionistas, através de mecanismos de resolução interna dos problemas (bail-in).

A dita ‘esquerda’, porém, também não irá gostar disto, pois a consequência imediata do mecanismo agora proposto à discussão pública internacional será a retração de todo o setor financeiro ao financamento e refinanciamento das dívidas soberanas, que são, como sabemos, uma parte muito substancial das suas carteiras de crédito de curto, médio e longo prazo. Ou seja, impedir a socialização dos prejuízos bancários implicará uma rápida e radical inflexão das espirais de endividamento público das economias ocidentais agarradas compulsivamente ao endividamento, incluindo junto dos bancos centrais.

Sem cintos públicos de segurança, os bancos irão finalmente tornar-se conservadores na concessão de crédito aos governos, municípios e empresas públicas. Estes, sem crédito fácil, para não morrerem na praia, lá terão, por fim, que reformar-se e ajustar-se às novas realidades energéticas e demográficas, globais e locais.

Quem não caça com cão, caça com gato.

Há novas regras para impedir que os grandes bancos sejam resolvidos com ajuda pública
Jornal de Negócios. 10 Novembro 2014, 11:56

“As linhas mestras sobre como acabar com os bancos demasiado grandes para falir estão aqui”, comentou Mark Carney, o governador do Banco de Inglaterra que está à frente do Financial Stability Board (FSB), aos jornalistas. “Aqui” é um conjunto de novas regras à escala global, desenhadas pelo FSB, para que a resolução deste tipo de instituições de grande dimensão, sem que tenham impacto no sistema financeiro e sem que haja injecção de dinheiro dos contribuintes.

O documento com estas novas regras, que estará para consulta pública até Fevereiro de 2015, prevê padrões internacionais sobre a capacidade dos bancos com efeito sistémico em absorver perdas. Daí que uma das propostas do FSB seja que tal capacidade seja equivalente a um quarto (25%) dos activos ponderados pelo risco.

“Uma vez implementadas, estas normas irão desempenhar um papel importante ao permitir que os bancos com importância sistémica a nível global sejam alvo de medidas de resolução sem recurso a subsídios públicos e sem afectar todo o sistema financeiro”, indica a nota de imprensa, publicada esta segunda-feira, 10 de Novembro. O objectivo é que os bancos, por si só (com base nos accionistas e obrigacionistas), consigam fazer face aos riscos que enfrentam.

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segunda-feira, novembro 10, 2014

A vontade catalã

© Albert Gea / Reuters

Maioria referendária quer uma Catalunha independente


Catalunha
  • Eleitores: 5.413.868 (2012)
  • Votantes nas últimas eleições legislativas catalãs (2012): 3.668.310 (67,76%)
  • Votantes no referendo, inconstitucional, de 9 de novembro de 2014: 2.043.226
    — 80,72% disseram 'sim, sim' à existência de um estado catalão independente.

Não se pode perguntar aos espanhóis no seu conjunto se querem, ou não, a independência de uma das suas nações históricas — seria, de acordo com a teoria do duplo vínculo de Gregory Bateson, colocar os castelhanos, aragoneses, andaluzes, leoneses, galegos, extremenhos, bascos, asturianos, catalães, valencianos, canarinos, murcianos, etc.,  numa situação de grande instabilidade e imprevisibilidade emocionais.

Por um lado, o desejo e a vontade de independência é por definição unilateral e só por implosão sistémica (caso da URSS), ou pela força política, imposta através da democracia, ou pelas armas, ou por ambas, se consegue. Nunca foi doutro modo em nenhum tempo e em nenhuma parte do mundo. O regresso das nações jugoslavas à condição de estados independenets algumas décadas depois de terem sido artificialmente unidas sob um estado federado dirigido por Tito, ou as guerras civis que grassam na Ucrânia e nos países onde o auto designado Estado Islâmico pretende restaurar o Califado em nome da unidade político-religiosa do Islão, ou ainda o processo democrático em curso para a independência da Escócia, são provas históricas contemporâneas da natureza intrinsecamente dramática de qualquer processo de separação litigiosa. A independência da Irlanda, conseguida com sangue, suor e lágrimas entre 1919 e 1937, foi um processo violentíssimo que, em boa verdade, não está completo, pois Belfast, os unionistas protestantes e a chamada Irlanda do Norte continuam ligados ao Reino Unido. No entanto, se há revolução nacionalista que tem inspirado processos similares na Europa contemporânea, a da Irlanda é seguramente a mais sintomática e importante.

Por outro, a legalidade constitucional de um estado soberano não se aplica, por norma e princípio, a quem dele se quer apartar. Madrid opôs-se à independência do País Basco porque os nacionalistas daquela região autónoma pegaram em armas e montaram um campanha de atentados terroristas seletivos contra os representantes do estado espanhol. Mas Madrid também se opõe à independência da Catalunha porque os processos democráticos que esta nação quer implementar, à semelhança, por exemplo, da Escócia, são, na ótica da monarquia espanhola, inconstitucionais. Inconstitucionais?! Mas que Constituição no mundo prevê mecanismos referendários, ou outros, para a sua fragmentação ou perda de território e poder?

A questão das independências do país Basco, da Catalunha, ou da Galiza, para mencionar apenas três nações históricas espanholas que defendem as suas autonomias e têm partidos políticos legais independentistas, não pode ser dirimida no plano puramente legal e constitucional da monarquia espanhola, até porque para defesa das leis constitucionais sobre a unidade do estado espanhol, que, como sabemos, é uma aquisição legal imposta aos povos espanhois por Napoleão quando invadiu a Península Ibérica a caminho de Portugal, contará sempre com as suas polícias e as suas forças armadas, como aliás Madrid não se esqueceu de exibir ao longo do processo referendário que ontem teve lugar em toda a Catalunha.

A Península Ibérica que se seguiu às sucessivas derrotas militares do Islão, que por cá andou durante mais de setecentos anos, era composta por reinos e condados feudais devedores do auxílio militar e ideológico vindo de Roma, França, Inglaterra e de outras partes da Europa cristã. Só em finais do século 15 os últimos estados muçulmanos da Península foram extintos, e só então começou um lento e sempre contraditório e incompleto processo de união política na antiga Al-Andalus.

Como é sabido, foram frequentes as guerras entre os várias reinos cristãos da península ibérica, e ainda entre os vários reinos e condados unidos em volta dos soberanos Fernando de Aragão e Isabel de Castela. A última e trágica Guerra Civil Espanhola (1936-39) foi ganha pelo general galego Francisco Franco, em nome, como se sabe, da improvável afirmação de uma pátria espanhola unida em volta de um rei exilado, de uma falange fascista e de Deus. Da repressão linguística à uniformização arquitetónica e gastronómica das Espanhas (fachadas brancas, leque e sevilhanas, touros, tortilhas e calamares), tudo foi tentado, em vão, para fazer dos povos e nações reunidos por iniciativa dos Reis Católicos, o que José Bonaparte, então rei francês de Espanha, sonhou e impôs em 1808 sob a forma do Acte Constitutionnel de l’Espagne: uma só nação, uma só moeda, uma lei única e um só soberano para todas as terras e gentes de Espanha, em suma, uma só Constituição. O sonho da razão francesa criou, como se sabe, desastres e monstros. Franco chegou mesmo a planear uma nova invasão e conquista de Portugal em 1940, depois de os falangistas o terem desafiado a fazer uma entrada triunfal em Lisboa em 1939, na sequência da vitória sobre os republicanos (1). Valeu-nos a vitória do Aliados sobre a Alemanha nazi.

Uma Espanha unida é mais conveniente aos portugueses, e aos espanhóis, pois evita a cíclica agitação nacionalista que há séculos percorre a Península Ibérica mergulhando-a em períodos de instabilidade, guerra, colapso económico, autoritarismo e atraso cultural, sobretudo quando os impérios se foram e quando já não há dinheiro para financiar aventuras de poder e egoísmos regionais que apenas enfraquecem a península. A Espanha de hoje volta a ter que enfrentar o problema da sua unidade como estado de várias nações e povos. Madrid já não tem onde ir buscar euros para saquear colónias e aimentar impérios, nem deve pretender continuar a ser uma senhoria autoritária e centralista. Terá, pois, que negociar a paz e a prosperidade futura das Espanhas em novas bases de diálogo, defendendo o que interessa a todos e todos fortalece, abrindo-se à possibilidade de ver nascer na Península Ibérica uma Escandinávia do Sul, certamente em moldes que não conhecemos ainda mas que é possível imaginar e construir se, para tal, houver vontade, generosidade, inteligência e criatividade suficientes.

Fazer da Catalunha um problema insolúvel seria o pior caminho que Madrid e os povos espanhóis poderiam escolher. E seria também uma preocupação que Portugal não deseja.

NOTAS
  1. Manuel Ros Agudo—"Plano de Campanha nº 1 (34)", in Expresso, 3 nov 2009.

Atualização: 14 nov 2014 10:38 WET

sexta-feira, novembro 07, 2014

Petróleo, gás, Síria e Estado Islâmico

Gasoduto do Nabucco: a resposta à chantagem de Putin

O dossier energético e a guerra na Síria: o caso do pipeline Irão-Iraque-Síria


Por José Manuel Castro Lousada

I - Primeiro as generalidades

De um lado temos o governo sírio, dirigido por um alauíta do partido Baath, xiitas, sunitas moderados, cristãos, ortodoxos, curdos e drusos. Assad é apoiado pela Rússia, Irão, Líbano, Hezbollah e palestinos. De outro lado, a oposição síria "livre" e grupos sunitas, alguns dos quais extremistas. EUA, Reino Unido, França, Arábia Saudita, Qatar e Turquia apoiam de alguma forma os rebeldes, fornecendo armas e dando cobertura política.

No Médio Oriente a política e a religião estão interligadas. A guerra mexe com toda a região e com a temperatura internacional. A Síria tem um governo autoritário. Não obstante, desde há duas décadas e até ao início da revolta na rua em 2011, Assad conseguiu manter a unidade nacional, proporcionando à população educação e saúde gratuitas, garantindo às diferentes comunidades étnicas uma convivência pacífica. Os cristãos não eram perseguidos, apesar de não serem a maioria, mas na Síria não há maiorias expressivas.

Os EUA e seus aliados são acusados de apoiar directa ou indirectamente a Jablat Al Nusra e outras organizações jihadistas por intermédio do Exercito Sírio Livre e de outros "moderados", para destruir a Síria laica e independente. Invocaram que Assad é um tirano e que usou armas químicas contra o seu povo, mas a Rússia e a imprensa internacional mostraram armas químicas na posse da Al Nusra que, segundo alegado, foram fornecidas pelos norte-americanos e estados do Golfo. Israel está de atalaia.

A rebelião popular de 2011 surgiu no quadro da Primavera Árabe. Para alguns analistas, especialmente iranianos e russos, houve um aproveitamento das primaveras árabes para orquestrar a queda de Assad. A revolução na rua terá sido incentivada pelos EUA, Reino Unido, Holanda e parceiros do clube Bilderberg. Argumentam que os operacionais da Al Nusra e organizações similares não falam siríaco mas sim árabe e que muitos rebeldes "moderados" não são sírios.

Em 2011 existiam dezenas de bancos na Síria, o que indiciava um razoável nível de liberdade económica. Haverá corrupção no governo ou em redor do governo, como em muitos outros países. Tem-se afirmado também que o regime não permite eleições livres, segundo um padrão ocidental. Mas qual é o país árabe onde existem eleições livres e democráticas? A Al Zajeera e a Al Arabia têm manipulado os media contra Assad e a comunidade internacional diabolizou-o a partir de 2003, quando recusou apoiar a guerra contra o Iraque. O que ainda mantém o regime são as instituições sírias, o povo e as forças armadas. E, evidentemente, o apoio da Rússia e do Irão.

É provável que se Assad cair a guerra civil sectária continue, numa senda de progressiva balcanização do território, sendo o poder ocupado por grupos islâmicos que não vão permitir a existência de outros credos. Cristãos, curdos, drusos, xiitas e alauítas, ou seja um total de 4 milhões de sírios, aguardarão o resultado da guerra para saber se podem continuar no país. Perspectivando soluções de governo: os sunitas são aproximadamente 65% da população e aspiraram exercer o poder. Olhando para o padrão da península arábica, o mais natural será o nascimento de um novo estado islâmico sob os auspícios da Irmandade Muçulmana. No que em particular interessa aos cristãos, a queda do regime de Damasco apressará o fim da história da Cristandade no Médio Oriente. Os maronitas do Líbano não conseguirão evitar a pressão dos islamitas sírios ou absorver a infindável chegada de refugiados.

O chamado Gasoduto Islâmico


II - A conexão entre a política energética e a guerra na Síria

O que estava errado num dos países mais democráticos e multi-culturais do Médio Oriente, a Síria, para chamar a atenção do Ocidente e concitar a oposição dos defensores da democracia, ao ponto de serem considerados "combatentes da liberdade" indivíduos que no Ocidente seriam tratados como terroristas?

Os problemas geopolíticos relacionados com a produção, transporte e uso do gás natural - eventualmente o principal combustível do século XXI - estão, talvez, mais do que qualquer outro tema, no radar dos estrategas ocidentais. F. William Engdahl, consultor em energia, diz que o gás natural é o ingrediente inflamável que alimenta a corrida à energia na região. A guerra em curso é sobre se os gasodutos que abastecerão a Europa, de leste para oeste, seguirão do Irão e do Iraque para a costa mediterrânea da Síria, ou se farão uma rota mais pelo norte, do Qatar e da Arábia Saudita, através da Síria e da Turquia. Tendo percebido que o fluxo do encalhado pipeline Nabucco (e de todo o Corredor Meridional) é abastecido apenas por reservas do Azerbaijão, e que não pode nunca igualar o fornecimento russo para a Europa ou impedir a construção do South Stream, o Ocidente está com pressa em recorrer ao Golfo Pérsico. A Síria, elo fundamental nesta cadeia, alinha com o Irão e a Rússia. Como tal, ter-se-á decidido nas capitais ocidentais que Assad tem de cair. A luta pela democracia é uma falsa bandeira exibida para encobrir objectivos não declarados.

Recorde-se que a rebelião na Síria teve início há três anos, quase ao mesmo tempo em que era assinado em Bushehr, no sul do Irão, em 25 de Junho de 2011, um memorando respeitante à construção de um novo gasoduto Irão-Iraque-Síria, para ligar 1.500 km desde Asaluyeh, no campo de gás natural de North Dome/South Pars (compartilhado pelo Qatar e pelo Irão), a Damasco. O gasoduto percorre 225 km em território iraniano, 500 km no iraquiano e 500-700 km em terra síria. Mais tarde, poderá prolongar-se pelo leito do Mediterrâneo até à Grécia. A possibilidade de fornecimento de gás liquefeito para a Europa através dos portos sírios no Mediterrâneo também está em cima da mesa. Os investimentos montam a 10 biliões de dólares.

O projecto, conhecido por "gasoduto islâmico", deveria entrar em operação entre 2014 e 2016. A capacidade projectada é de 110 milhões de metros cúbicos de gás por dia (40 biliões de m3/ano). Iraque, Síria e Líbano já assumiram que necessitam do gás iraniano (25-30 milhões de m3/dia para o Iraque, 20-25 milhões de m3 para a Síria e 5-7 milhões de m3 para o Líbano até 2020). Uma parte será fornecida através do sistema de transporte de gás árabe para a Jordânia. O projecto concorreria com o Nabucco, promovido pela União Europeia (capacidade estimada de 30 bilhões de m3 de gás/ano), que não tem reservas suficientes. Planeou-se o trajecto do Nabucco pelo Iraque, Azerbaijão, Turcomenistão e Turquia. Após a assinatura do memorando sobre o Pipeline Islâmico, o director da Companhia Nacional de Gás Iraniano (NIGC), Javad Oji, afirmou que o South Pars, com reservas de 16 triliões de m3, é uma "fonte confiável de gás e um pré-requisito para a construção de um gasoduto com uma capacidade que o Nabucco não tem". Cerca de 20 biliões de m3/ano seguiriam para a Europa, concorrendo com os 30 biliões do Nabucco, mas não com os 63 biliões do South Stream russo.

Um gasoduto do Irão seria altamente rentável para a Síria. A Europa também beneficiaria com a construção, mas no Ocidente há outras ideias. Os parceiros fornecedores de gás do Golfo Pérsico não estavam satisfeitos com a concorrência, nem era suposto estarem, nem sequer o transportador número um, a Turquia, que ficaria fora de jogo. A "Unholy Alliance" constituída para o negócio declarou ter por objectivo "proteger os valores democráticos" no Médio Oriente, ao arrepio da forma como as monarquias do Golfo lidam com tais valores.

Os estados sunitas percepcionam o Pipeline Islâmico segundo contradições interconfessionais, considerando-o um "gasoduto xiita do Irão xiita, através do território do Iraque com a sua maioria xiita e para o território do amigo xiita-alauíta Assad". Como refere F. William Engdahl, este drama geopolítico é intensificado pelo facto de o campo de Pars Sul se encontrar no Golfo Pérsico, directamente na fronteira entre o Irão xiita e o Qatar sunita que, não sendo adversário para o Irão, faz uso activo das suas ligações à presença militar dos EUA e britânica no Golfo Pérsico. No território do Qatar está um nó do “Pentagon’s Central Command of the U.S. Armed Forces”, o quartel-general do “Head Command of the U.S. Air Force”, o “N.º 83 Expeditionary Air Group of the British Air Force” e a “379th Air Expeditionary Wing of the U.S. Air Force”. O Qatar, escreve Engdahl, tem outros planos para o Pars Sul, é avesso a esforços conjuntos com o Irão, Síria e Iraque, e fará o possível para impedir a construção do pipeline, incluindo armar os "rebeldes", muitos deles sauditas, paquistaneses e líbios.

A determinação do Qatar é ainda alimentada pela descoberta, em 2011, de uma área de produção de gás na grande Síria, perto da fronteira com o Líbano, não muito longe do porto mediterrâneo de Tartus, arrendado à Rússia, e pela detecção de um importante campo de gás perto de Homs. Segundo estimativas preliminares, tais descobertas devem aumentar substancialmente as reservas de gás do país, que já ascendiam a 284 biliões m3. A perspectiva da exportação de gás sírio ou iraniano para a Europa através de Tartus joga contra os interesses do emirado e dos seus patronos ocidentais.

Segundo a Global Research, o jornal árabe Al-Akhbar revelou informações sobre um plano aprovado pela administração norte-americana destinado à construção de um gasoduto Qatar-Europa, envolvendo a Turquia e Israel. A capacidade não é mencionada, mas, considerando os recursos do Golfo Pérsico e do Mediterrâneo oriental, poderia ultrapassar tanto a do Pipeline Islâmico como a do Nabucco, fazendo frente ao South Stream russo. O principal encarregado do projecto é Frederick Hoff, "responsável pelas questões de gás no Levante" e membro do "Comité norte-americano para a crise síria". O pipeline teria origem no Qatar, atravessaria território saudita e jordano, contornando o Iraque xiita, até chegar à Síria. Perto de Homs, o gasoduto ramificar-se-ia em três: para Latakia, Trípoli, no norte do Líbano, e Turquia. Homs, onde existem reservas de hidrocarbonetos, é o "principal entroncamento do projecto". Nas proximidades da cidade e do ponto-chave Al-Qusayr travam-se algumas das batalhas mais ferozes e é o sector onde o futuro da Síria se joga: os locais onde os rebeldes operaram com o apoio dos EUA, Qatar e Turquia, ou seja a norte, Homs e arredores de Damasco, coincidem com a rota prevista para o gasoduto, em direcção ao Líbano e à Turquia. Um cotejo entre o mapa dos combates e o mapa da rota do pipeline Qatar-Europa indicia uma ligação entre a guerra e a necessidade de controle territorial. São três os objectivos a atingir: "quebrar o monopólio de gás natural da Rússia na Europa; libertar a Turquia da dependência do gás iraniano; e dar a Israel a oportunidade de exportar o seu gás para a Europa por terra, com menos custos". Pepe Escobar, analista do Asia Times, afirmou que o emir do Qatar fez, aparentemente, um acordo com a Irmandade Muçulmana, apoiando a sua expansão internacional em troca de um pacto de paz no Emirado. A Irmandade Muçulmana na Jordânia e na Síria alteraria abruptamente todo o mercado geopolítico mundial do gás natural - decididamente a favor do Emirado e em detrimento da Rússia, Síria, Irão e Iraque. Seria também um duro golpe para a China.

Entre outros objectivos, a guerra na Síria permitirá impulsionar o projecto do pipeline Qatar-Europa e desmantelar o acordo celebrado entre Teerão, Bagdad e Damasco. A implementação deste foi interrompida várias vezes devido à acção militar, mas em Fevereiro de 2013 o Iraque mostrou disponibilidade para assinar um acordo-quadro que permitiria a construção do gasoduto. Pouco depois, novos grupos xiitas iraquianos manifestaram-se em apoio de Assad. As participações no "jogo de eliminação" sobre o Pipeline Islâmico iniciadas na Síria pelo Ocidente continuarão a crescer. O fim do embargo da União Europeia ao armamento dos rebeldes sírios, que segundo a BBC mereceu a oposição inicial da maioria dos estados-membros, poderá não chegar para ajudar os rebeldes.

Quanto à civilização e à justiça, quando o lucro está em causa, os sentimentos não contam. O que importa é não jogar a carta errada neste jogo que cheira a sangue e a gás.

O pipelina que liga Síria ao Qatar

Fonte da parte II deste texto, correspondendo à sua quase tradução integral:

The Geopolitics of Gas and the Syrian Crisis: Syrian “Opposition” Armed to Thwart Construction of Iran-Iraq-Syria Gas Pipeline
By Dmitry Minin
Global Research, September 19, 2014/ Strategic Culture Foundation 31 May 2013 


NOTA (O António Maria)

Ainda a propósito dos contornos desta espécie de Cruzada pós-moderna contra países muçulmanos, cuja origam principal é, desde 1917, a decisão ocidental de controlar a principal região petrolífera do planeta, vale a pena ler este texto de Glenn Greenwald

Glenn Greenwald. ¿Cuántos países musulmanes ha bombardeado u ocupado EE.UU. desde 1980?

 Barack Obama, en su conferencia de ayer posterior a la elección, anunció que pedirá una Autorización para el Uso de Fuerza Militar (AUMF, por sus siglas en inglés) del nuevo Congreso, que autorice su campaña de bombardeo en Iraq y Siria – que comenzó hace tres meses. Si uno fuera generoso, diría que pedir autorización del Congreso para una guerra que comenzó hace meses es por lo menos mejor que librar una guerra incluso después que el Congreso rechazara explícitamente su autorización, como lo hizo Obama ilegalmente en el ahora colapsado país de Libia.

Cuando Obama comenzó a bombardear objetivos dentro de Siria en noviembre, señalé que era el séptimo país con preponderancia musulmana que había sido bombardeado por EE.UU. durante su presidencia (lo que no incluía el bombardeo por Obama de la minoría musulmana en las Filipinas). También señalé previamente que esta nueva campaña de bombardeo significa que Obama se ha convertido en el cuarto Presidente consecutivo de EE.UU. que ordenó que se lanzaran bombas sobre Iraq. Considerados por sí solos, ambos hechos son sorprendentemente reveladores. La violencia es tan corriente y continua que ya apenas nos damos cuenta. Precisamente esta semana, un drone estadounidense lanzó un misil que mató a 10 personas en Yemen, y los muertos fueron rápidamente calificados de “presuntos militantes” (lo que en realidad significa solo que son “varones en edad militar”); esos asesinatos apenas merecieron ser mencionados.

Para obtener una visión total de la violencia estadounidense en el mundo, vale la pena formular una pregunta más amplia: ¿cuántos países en el mundo islámico ha bombardeado u ocupado EE.UU. desde 1980? La respuesta fue suministrada en un reciente artículo de opinión en el Washington Post del historiador militar y ex coronel del ejército de EE.UU.,

Andrew Bacevich:

“Mientras los esfuerzos de EE.UU. por “degradar y finalmente destruir” a los combatientes del Estado Islámico se extienden a Siria, la III Guerra de Iraq se ha transformado discretamente en el Campo de Batalla XIV del Gran Medio Oriente. Es decir, Siria se ha convertido en por lo menos el 14º país en el mundo islámico que fuerzas estadounidenses han invadido, ocupado o bombardeado, y en los cuales soldados estadounidenses han matado o han sido muertos. Y eso es solo desde 1980.

Enumerémoslos: Irán (1980, 1987-1988), Libia (1981, 1986, 1989, 2011), Líbano (1983), Kuwait (1991), Iraq (1991-2011, 2014-), Somalia (1992-1993, 2007-), Bosnia (1995), Arabia Saudí(1991, 1996), Afganistán (1998, 2001-), Sudán (1998), Kosovo (1999), Yemen (2000, 2002-), Pakistán (2004-) y ahora Siria. ¡Vaya!.

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Atualização: 8 nov 2014, 16:28 WET

Toma Jerónimo!


O Fundo de Resolução é a machadada final na aliança entre os rendeiros indígenas e a partidocracia que rebentou o país. Ulrich recebeu os depósitos do es-BES, mas também vai receber a fatura


Ulrich: "Eu preferia a solução do Partido Comunista que era a nacionalização" do BES
Jornal de Negócios, 07 Novembro 2014, 08:36

O banqueiro avisou que os bancos podem vir a recorrer à justiça se o prejuízo com o resgate ao BES for elevado. "Provavelmente, se o problema for muito grande, os bancos não têm outro remédio senão litigar com o Estado e o Banco de Portugal".

O BES deveria ter sido nacionalizado quando foi resgatado por 4,9 mil milhões de euros. O Governo português devia ter escolhido esta via para o Banco Espírito Santo devido a ser a mais segura para a banca nacional por não implicar riscos de prejuízos, defende o presidente executivo do BPI.
Na realidade, o que o aflito do BPI está a dizer é simples: nacionalizando o BES, a fatura dos roubos e prejuízos passava toda para o lado do rebanho manso dos contribuintes indígenas. Os portugueses, como se sabe, aguentam tudo o que se lhe põe em cima da albarda — desde que venha do governo, do estado, dos senhores doutores!

Curiosamente os ingleses fizeram o que Ulrich quer que se faça relativamente ao buraco negro do ex-BES. Um dos seus maiores bancos, o famoso Lloyds, foi nacionalizado (temporariamente, claro!) para o que contrataram o nosso rapaz Osório. Sim, nacionalizaram o banco... até que os pacóvios ingleses, escoceses e galeses paguem a fatura dos banksters da City e das ilhas piratas de sua majestade. O povo de lá adora a monarquia...

PS: já perguntei, mas ninguém responde: que negócio fez o secretário-geral da UGT, e funcionário do ex-BES, com o governo, a propósito do emprego e pensões dos trabalhadores do ex-BES? Que paz podre negociaram? Será que ainda não perceberam que se vai saber tudo, e que depois de morto e enterrado o neocorporativismo que tivemos até agora, as contas serão pedidas aos responsáveis? No Triunfo dos Porcos os porcos eram todos iguais, mas havia uns mais iguais que outros. Na democracia populista portuguesa, pelos vistos, houve quem tivesse lido o livro!

Pobreza infantil: afinal...

Clicar para ampliar


Em termos relativos, claro...


No meio de tanta desgraça Portugal até nem é dos piores em matéria de pobreza infantil.
E no que toca a saúde pública e cuidados médicos estará ainda melhor do que os EUA e muitos outros países supostamente muito ricos. A esquerda populista indígena e a nossa imprensa indigente têm que começar a estudar antes de acusar e alarmar!

The Washington Post
By Christopher Ingraham October 29, 2014
Child poverty in the U.S. is among the worst in the developed world

The United States ranks near the bottom of the pack of wealthy nations on a measure of child poverty, according to a new report from UNICEF. Nearly one third of U.S. children live in households with an income below 60 percent of the national median income in 2008 - about $31,000 annually.

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quinta-feira, novembro 06, 2014

Tribunais, constitucional e de contas, bloqueiam Portugal

A nova rede ferroviária de que Portugal precisa
(clicar para ampliar)

Só Bruxelas poderá impedir a transformação de Portugal numa ilha ferroviária


A santa aliança entre os rendeiros e a oportunista esquerda que temos tem boicotado um dos principais vetores de saída da atual crise económica e social portuguesa

La licitación pública en obra ferroviaria creció un 253 por ciento hasta septiembre
Se situó en 2.442, 24 millones de euros y supone el 23,7 por ciento del total de lo licitado

(06/11/2014) En conjunto se licitó en obras ferroviarias un total de 2.442,24 millones de euros que suponen el 23,7 por ciento del total de la licitación pública. Adif licitó entre enero y septiembre por valor de 2.240,10 millones de euros, lo que supone un avance del 243,5 por ciento respecto al mismo periodo de 2013.

La licitación conjunta de todas las administraciones en los primeros nueve meses del año creció un 63,7 por ciento hasta los 10.291,74 millones. La de la Administración Local creció un 49,9 por ciento, la de la Autonómica un 13,1 por ciento, mientras que la Administración Central licitó un 113 por ciento más que en los tres primeros trimestres de 2013.

Vía Libre
A nova rede ferroviária espanhola para passageiros e mercadorias, de bitola europeia, chegará em breve a Badajoz e Vigo, e também à fronteira francesa no País Basco. A saída por Barcelona já está operacional há mais de um ano. A ligação entre Salamanca e a fronteira portuguesa, de que nem sequer existem estudos prévios, pelo lado espanhol aguarda que os portugueses se decidam (ver mapa detalhado dos corredores — Trans-European Transport Network | TEN-T Corridors).

A hesitação permanente e a paralisia criminosa dos sucessivos governos portugueses nesta matéria teve como resultado, até hoje, o desperdício de largas centenas de milhões de euros dos fundos comunitários (que acabaram por ir parar a Espanha e França!) e indemnizações devidas ao consórcio Elos que venceu o concurso da ligação ferroviária Poceirão-Caia, mas cujo concurso foi anulado pelo chamado, mas falso, Tribunal de Contas, sem apelo nem agravo, e mehor conveniência dos governantes de turno, que aproveitaram mais este pretexto para voltar a parar o processo na esperança de que a especulativa cidade aeroportuária de Alcochete e a Ponte Chelas-Barreiro (ambas muito desejadas pelo ex-DDT, Ricardo Espírito Santo, e pelo senhores Ho e Almeida Santos) um dia ressuscitassem.

Quando as ligações ferroviárias espanholas chegarem à fronteira portuguesa, ou perto, pessoas e mercadorias do lado de cá passarão a ter que mudar de combóio em Valença do Minho, Vilar Formoso, Badajoz e Vila Real de Santo António, para chegarem aos nossos principais mercados de exportação e trabalho. É que havendo descontinuidade de bitolas, isto é, da largura dos carris, na eletrificação das linhas e nos sistemas de sinalização e segurança, os comboios portugueses deixarão de poder circular na principal rede de transporte ferroviária espanhola e europeia!

Os prejuízos deste verdadeiro boicote indígena de acordos bilaterias e projetos europeus consolidados são enormes.

Um deles é este: as transportadoras rodoviárias nacionais emigrarão em massa para os portos secos da Galiza, Salamanca e Badajoz (onde o gasóleo é mais barato, e os impostos menos assassinos); outro é este: a já decadente rede ferroviária portuguesa colapsará de vez.

Todo este boicote começou por ser feito em nome de interesses ocultos, e acabou, durante o atual governo, por prosseguir, mas desta vez em nome da repressão do investimento público, ou seja dos cortes orçamentais nas despesas de capital impostos pela corja da chamada 'esquerda' parlamentar, e pelos imbecis do Tribunal do Constitucional. Sem credores externos que continuassem a alimentar burros a Pão de Ló e porcos a pérolas, o governo teria que fazer duas coisas de forma equilibrada e estratégica: diminuir a despesa do estado e aumentar as receitas. Na diminuição das despesas, a principal delas deveria ter resultado de uma reforma estrutural do estado, isto é, das suas funções e eficiência (energética e burocrática), e ainda de uma modificação radical do seu relacionamento (capturado por elites rendeiras e devoristas várias) com a economia e as instituições fora do seu perímetro orçamental estrito. Tendo sido impedido de o fazer, pelo bloqueio conjunto da 'esquerda', das corporações empresariais e sindicais, banqueiros rendeiros e Tribunal Constitucional, o governo acabaria por reprimir, muito para além do desejável, o investimento público, nomeadamente na construção da urgente ligação de Portugal aos corredores de transporte europeus. Quando a 'esquerda' demagógica e populista fala de crescimento, e critica o governo pela falta dele, sabe muito bem que é a principal responsável por este grave bloqueio económico do país.

A nossa única salvação é, apesar de tudo, a mão cada vez mais pesada que a Comissão Europeia e o BCE terão na condução da política orçamental e de concorrência portuguesas. O protetorado, no fundo, no fundo, ainda é o que poderá salvar Portugal da desgraça completa e da corja de rendeiros, piratas e devoristas que tem vindo a destruí-lo.


POST SCRIPTUM

Nem de propósito!

Comissão Europeia/ Representação em Portugal
Melhorar as ligações ferroviárias
06/11/2014

O Programa RTE-T da UE vai investir 400 000 euros em estudos técnicos para o melhoramento da infraestrutura ferroviária transfronteiriça em Portugal e Espanha, que irão contribuir para o desenvolvimento dos serviços ferroviários entre os dois países e o resto da Europa.


IMPORTANTE

Mas diz quem sabe...

“Este projecto estará a ser feito pela REFER, por indicação do Secretário de Estado dos Transportes e sob a proposta do Prof. José Manuel Viegas, e parece também envolver empresas privadas ligadas a essa gente.

Este projecto consiste apenas em acabar com a possibilidade dos próximos governos (provavelmente do PS) reiniciarem o processo de construir uma rede em bitola europeia em Portugal.

Trata-se da tal ideia de instalar o celebérrimo 3º carril, que possivelmente nunca deveria ser feito porque já se sabe que é um disparate em termos de eficiência ferroviária para longas distâncias (até pior do que os intercambiadores).

Eis um verdadeiro crime de traição à Pátria porque vai  afectar as gerações futuras por muito e muitos anos....

Conforme podem ver pelo descritivo que está em baixo, este projecto só interessa a Portugal e, para ser aprovado, teve a conivência do Director Geral das Infraestruturas em Bruxelas (que é um português...) e do antigo Presidente da Comissão Europeia (outro português....)

Conforme poderão confirmar, o descritivo do projecto, que apenas interessa Portugal, envolve apenas 400.000 Euros. Possivelmente será para pagar os estudos aos amigos do PSD, PS, etc. Mais um dinheiro esbanjado que para nada servirá...”

quarta-feira, novembro 05, 2014

Espanha: a má história repete-se?

Veículos militares nas estradas da Catalunha (Twitter)

Não é na Ucrânia, é na Catalunha!


Ao que parece estão a decorrer manobras militares de intimidação na Catalunha, quatro dias antes da prevista consulta referendária informal aos catalães sobre a independência do território, promovida pelo governo catalão em alternativa ao referendo oficial anteriormente anunciado e proibido por decisão do tribunal constitucional de Espanha

Pelos vistos o tema do separatismo permanece um tabu inultrapassável em Espanha, independentemente de ser promovido pela via guerrilheira, ou por ações pacíficas de cariz claramente democrático.

Infelizmente parece que a Espanha caminha para uma repetição da parte má da sua história :(

Porque não pode haver um processo democrático e pacífico de discussão e decisão, como na Escócia, já para não mencionar outros casos recentes na Europa, sobre a reconfiguração do estado espanhol? Não sabiam que ao avançarem para o estado das autonomias esta seria uma evolução previsível?

Os portugueses desejam tudo menos ver a Espanha tropeçar noutra tragédia revolucionária e contra-revolucionária. Uma Espanha unida é melhor para Portugal, mas como estão a evoluir as coisas, se não houver entretanto bom senso, o pior pode voltar a acontecer. Esperemos todos que não!

Spain Moves Military Assets Into Catalonia Ahead Of Weekend's 'Illegal' Secession Vote
ZeroHedge, Submitted by Tyler Durden on 11/05/2014 14:21 -0500

"Everything is all set for Nov. 9," says a senior Catalan regional government official as the region prepares to defy both the central government and the country's highest court and proceed with a much-disputed weekend vote on whether to secede from Spain. And while the Spanish government has not specified what legal consequences Catalan leaders, poll workers or voters might face Sunday, when they go to vote, The LA Times reports that Madrid has reportedly readied thousands of Civil Guard police officers to travel to Catalonia this weekend if needed.

Enquanto a questão do separatismo se agudiza na Catalunha —e veremos o que se passará no País Basco dentro de um ano ou dois— e o Podemos chega ao primeiro lugar nas intenções de voto dos espanhóis, o movimento neo-nazi grego Aurora Dourada abre sucursal em Espanha.

Os ingredientes de uma grande trapalhada estão a entrar no caldeirão de uma Espanha outra vez perdida entre os fantasmas da sua história recente.

Aurora Dourada legaliza-se em Espanha

Amanecer Dorado aterriza en España y fija su sede en Alcoy
Diario Información. m. v / m. c. 04.11.2014 | 11:49

La formación neonazi Amanecer Dorado, fundada en Grecia en 1985, ha desembarcado en España con la apertura de su sede en Alcoy. La organización ultranacionalista fue inscrita en el registro de partidos políticos del Ministerio de Interior la semana pasada, y su presidente es Antonio Vicedo, que en 2008 encabezó la candidatura por Alicante de Alianza Nacional.

Nós, PDR ou JGF?

"Quero ser um cidadão que ajude a desbloquear este país", afirma o jornalista
Expresso. "Quero ser um cidadão que ajude a desbloquear este país", afirma o jornalista /  Nuno Fox

Afinal em que ficamos? Perguntam ao António Maria alguns dos seus leitores


Sempre escrevemos que eram necessários dois novos partidos...

Entretanto, surgiram dois candidatos com potencial efetivo: o Nós, Cidadãos!, espécie de social-democracia aberta à colaboração com os monárquicos, rejeitando nesta matéria o perfil jacobino do PS. E o Partido Democrático e Republicano, protagonizado por António Marinho e Pinto, espécie de socialismo popular que rejeita liminarmente os excessos de oportunismo e sobretudo a corrupção que deram cabo do PS.

Claramente próximo do Podemos, que as sondagens colocaram esta semana em primeiro lugar nas preferências dos espanhóis, e podendo arrancar sózinho 10 a 15% dos votos nas próximas Legislativas, o PDR tem sobre o Nós, Cidadãos! a vantagem de apresentar uma cara combativa e conhecida de milhões de portugueses, ainda que o Nós, Cidadãos! tenha mais trabalho realizado no terreno e mais produção de ideias sobre o que pensa mudar no país.

Se o Nós, Cidadãos! conseguisse apresentar até ao fim deste ano um líder conhecido e credível, o seu potencial eleitoral dispararia. Como está, as perspetivas não apontam para nada efetivamente seguro.

Marinho e Pinto, pelo contrário, tenderá a beneficiar de dois fenómenos conjugados: o terramoto político e eleitoral espanhol chamado Podemos, que continua a crescer a uma velocidade impressionante, e a desagregação em curso do Partido Socialista, agora que ficou claro para boa parte dos portugueses que António Costa é uma nulidade político-intelectual, empurrada para a arena do colapso do regime com a missão forçada de segurar o que já não tem conserto. Quanto mais António Costa fugir da sua sombra natatória, mais Marinho e Pinto aparecerá como uma alternativa de esquerda não estalinista à direita rendeira e aos principais piratas que têm saqueado o país. Não me admiraria nada se, em breve, uma parte —inteligente— do Partido Socialista aderisse em bloco ao PDR!

Em que pé fica agora a declaração de hoje de José Gomes Ferreira?

Mais pragmático e capaz de atrair as pessoas e os apoios imprescindíveis a uma solução que impeça o país de resvalar para uma balbúrdia populista de esquerda —risco de que, por enquanto, o PDR não está, de todo, livre—, além de claramente ancorado na defesa da propriedade, da poupança e da liberdade e iniciativa privadas, embora defendendo também mão dura sobre o capitalismo especulativo, rendeiro e oportunista, José Gomes Ferreira, figura simpática, honesta, esforçada e comprometida com o país, poderá preencher o vazio que encontramos no Nós, Cidadãos!, e sobretudo apontar o caminho para mais de metade do eleitorado português que, não gostando particularmente de estado a mais, nem de burocracias parasitárias e incompetentes, está completamente farta das tropelias e enganos a que a direita portuguesa tradicional, representada pelo PSD e pelo CDS-PP, conduziram, de braço dado ao PS, o país.

Em que ficamos, perguntam os emails? Na melhor das hipóteses, ficaremos com duas portas de saída para o perigoso colapso do regime que está em pleno curso e já é incontrolável. Os portugueses, que não são todos iguais, nem se reveem numa só cartilha de valores, precisam, tanto quanto do pão para a boca e o emprego, de decidir que democracia querem ter depois deste regime corrupto implodir.

O tempo de apostar, de decidir e de cooperar é agora. Se tivermos duas portas de saída em vez de apenas uma, melhor.

José Gomes Ferreira admite entrar na vida política
Expresso | 10:29 Quarta feira, 5 de novembro de 2014

"Se aparecer um projeto independente, com pessoas credíveis do ponto de vista técnico, e com vontade de governar olhando ao interesse do país e não olhando a ideologias e se me disserem 'precisamos de ti', no futuro poderei pensar duas vezes e dizer 'sim, senhor'. Mas nunca nesta conjuntura político-partidária e nunca em algum dos partidos atuais". 

Sem papas na língua, José Gomes Ferreira admite, em entrevista ao jornal "i" desta quarta-feira, poder vir a participar num projeto político independente, mesmo garantindo estar sobretudo interessado em continuar a ser jornalista e escrever livros.

[...]

Lembrando as suas origens humildes, o jornalista diz acreditar que essa questão lhe garante uma maior proximidade às pessoas, que acredita ser essencial para a vida política. "Tento sempre ver as coisas do lado de quem está a partir do zero para ter coisas, porque também foi esse o meu percurso. Acho que isso dá bagagem para pensar a política e a organização da sociedade tendo em atenção essas pessoas", afirma.

Quanto ao futuro, Gomes Ferreira garante: "Quero ser um cidadão que ajude a desbloquear este país."

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Foi o Paulo que pediu um protetorado?



Governo apressa-se a fazer o downsizing da Segurança Social, a ver se o OE2015 passa em Bruxelas


Portugal entre os países que estão mais longe de cumprir o Tratado Orçamental
Público, Sérgio Aníbal, 04/11/2014 - 10:38 (actualizado às 07:38 de 05/11/2014)

O Governo ficou ontem em maior risco de receber de Bruxelas nas próximas semanas uma recomendação de inclusão de novas medidas na proposta de Orçamento do Estado actualmente em discussão na Assembleia da República. Nesse documento, o défice previsto pelo Governo já ficava acima do acordado com a troika e o défice estrutural falhava a regra prevista no Tratado Orçamental, mas agora a Comissão Europeia foi mais longe, prevendo que Portugal vai falhar esses objectivos por uma margem ainda mais larga.
Steen Jakobsen: "É mais provável o Real Madrid contratar-me que o PIB português crescer 1,5%"Jornal de Negócios, 05 Novembro 2014, 10:59
Sindicatos contestam redução de quase 700 trabalhadores da Segurança Socialdnoticias.pt, 5-11-2014, 03:59
  1. A Troika veio a Lisboa e não gostou do que viu — numa palavra, as reformas estruturais continuam adiadas, quer dizer, a redução do número de municípios continua por fazer, a redução do peso do estado na sociedade não anda nem desanda, antes pelo contrário, a eliminação das rendas excessivas da EDP e quejandos continua a marcar passo e a penalizar a economia, etc...; 
  2. a Europa vai entrar na terceira perna da recessão;
  3. as principais empresas rendeiras do país estão em modo Titanic;
  4. os compromissos assumidos em troca da massa emprestada não foram cumpridos e assim sendo a dívida e o défice continuam acima do previsto;
  5. o novo comissário europeu da economia discordou em Bruxelas das previsões do nosso governo;
  6. ou seja, a aprovação do OE2015 por Bruxelas pode estar comprometido, e esperam-se, por isso, recomendações...
  7. o governo, esbaforido, manda avançar com a dispensa de 697 funcionários da Segurança Social... e mais alguma coisa fará nos próximos dias e semanas para acalmar os alemães, franceses, holandeses, dinamarqueses, etc.
Ou seja, a conversa sobre o fim do protetorado é uma treta à Paulo Portas. Na realidade, o protetorado só agora começou!

Capiche?

Atenção a Angola e... Timor!

Primeiro cai a economia, depois cai o petróleo


Entretanto, os petrodolares deixam de andar por aí

Não há petróleo a mais, mas economia a menos


Os dois gráficos que publicamos neste post pouparão muitas horas de disparates televisivos e crónicas absurdas sobre quem nasceu primeiro, o ovo ou a galinha. É evidente que foi a economia!

Uma das consequências há muito prevista relativamente ao Pico do Petróleo —o período de transição em que sensivelmente metade das reservas petrolíferas mundiais, por sinal a metade mais acessível e menos cara de produzir, foi consumida— é que a partir deste patamar, ou pico, verificado em 2005, as tensões entre a procura expansiva do petróleo e seus refinados e a inflação inevitável do seu preço conduzem a uma espécie de pára-arranca na economia mundial: acima dos 100-120 dólares o barril a economia mundial caminha rapidamente para a recessão, mas depois, a recessão, ao diminuir a procura de crude, provoca a queda do respetivo preço, o qual, por sua vez, caindo abaixo do limiar dos 80 dólares por barril, começa a desequilibrar gravemente as balanças de pagamentos dos principais exportadores de petróleo, retraindo a descomunal circulação mundial de petrodólares, para desgraça das principais praças financeiras e de dezenas de governos sobreendividados que, embora vejam os preços da energia importada descer, a verdade é que são tremendamente afetados pela seca de uma liquidez normalmente alimentada pela reciclagem dos petrodolares e dólares dos principais exportadores líquidos mundiais. Por fim, vários países exportadores de petróleo, como a Venezuela, o Canadá, a Rússia, o Irão, etc., veem as suas balanças comerciais a degradarem-se rapidamente, com implicações políticas internas potencialmente catastróficas.

Se olharmos para esta realidade desta maneira simples e verdadeira, perceberemos então com facilidade a corrida desesperada dos americanos em direção à exploração criminosa do petróleo e gás de xisto (presos nas chamadas rochas-mãe), a crise do Médio Oriente e as tensões entre a Euro-América e a China-Rússia, o tiroteio nos corredores do parlamento canadiano, a próxima diminuição abrupta da presença angolana na nossa economia, ou a ridícula crise de Timor em volta duns juízes, de um procurador e de um polícia.

É o petróleo, estúpido! É a economia, estúpido!

A Europa caminha, ao que parece, para uma nova recessão, ou para a terceira queda num ciclo que os anglo-saxónicos chamam triple-dip recession. Falar de crescimento e de mais emprego é, pois, uma previsão demasiado arriscada.

terça-feira, novembro 04, 2014

Garganta Funda - sms 2



Caro António Maria

Aqui vai uma Adenda ao sms 1, como lhe chamou:

Apenas uns pequenos apontamentos sobre o que se pode passar nos próximos tempos (mais ou menos ano e meio) em Portugal.

As falências das grandes empresas farol do nosso capitalismo de pacotilha inventado pelo lázaro de boliqueime, ainda não pararam.

Na segunda-feira, a SONAE indústria enr.... os que apostaram na empresa, ao emitir 15 mil milhões de acções, sim, 15 mil milhões, levando o preço por acção a cair de € 0,340 para o valor mínimo possível € 0,01!

A empresa estava falida, mas com esta artimanha converteu parte da dívida em capital social e prometeu vagamente que asseguraria a compra das acções emitidas, em prazo pouco claro, recorrendo aos bancos que andaram a financiar estas operações. Na verdade, a diferença entre o que o Salgado propôs aos bancos e credores e o que o Belmirito fez é que o primeiro foi mais claro e transparente do que o segundo. Neste momento o Belmirito está a agradecer aos céus a hora bendita em que financiou o Público e contratou o tonecas das delicadezas (Lobinho Xavier).

A BRISA dos Melros de betão, está em situação periclitante, e o grupo familiar também. Tiveram k vender a maioria do capital da EFACEC aos chinocas da Three Gorges, porque não tinham capital para financiar dois anos maus de vendas. Com isso, resolvem um problema e esperam ganhar alguma liquidez e começar a pagar dívidas.

A GALP andou de braço dado com a PETROBRÁS (a tal que tinha descoberto uma Arábia Saudita no pré-sal de Santos, muito antes do Obama ter começado a escaqueirar xisto pela América fora), mas agora começa a pagar com língua de pau o otimismo bolsista das previsões. A aliança com a Isabel é mesmo um namoro de conveniência, e a jogada do Poiares (com o imposto verde) tresanda a manobra de diversão. Na verdade, na prática, o preço do refinado vai aumentar em mais de 15% quando o preço do crude baixou quase 20%!!!!!!!!!!!!!

Ou muito me engano, ou o rapaz Maduro acaba como administrador da GALP, ou pelo menos ganhará uma bolsa para irar um curso de direito na Suíça. O endividamento anual da GALP é mais de 2,5*EBITDA, o que, como qualquer financeiro honesto dirá, é um comportamento de risco...

A Arábia Saudita pode manter o crude nos 80 USD por mais três anos, porque tem reservas suficientes para jogar este jogo, arrasando o Irão e metade dos gringos que andam no petróleo e gás de xisto.

A GALP, para esconder os problemas que vai e está a enfrentar no Brasil, anunciou que de mãos dadas com um parceiro mistério, poderá começar prospeções no Alentejo... O cash flow estará assegurado enquanto Bruxelas não exigir que se cumpra o acordado a quando da venda da GALP, ou seja, o unbundling das operações de refinação e de distribuição. Neste bundle, que já deveria ter sido desfeito, suspeito que a GALP ganha mais de 2 cêntimos por litro.

A PT deverá ser vendida a um estrangeiro qualquer.

Ainda não se sabe a quem, mas será um estrangeiro qualquer. O problema das pensões e dos acordos de pré-reforma da PT vão ficar em cima da mesa e vão assombrar o governo até ao final do seu mandato. Os despedimentos serão em grande número, porque há que desalavancar a enorme dívida que a PT acumulou ao longo dos anos para remunerar os acionistas e os administradores, o principal dos quais se dedicou à vinha e aos chaparros. 

A Martinfer está falida e deve andar a tentar encontrar uma fórmula para reestruturar o buraco.

O mesmo se passa com o Grupo Lena.

A Mota Engil, na prática, já se cindiu em duas: a má, em Portugal, e a boa, em Londres.

A T. Duarte lava dinheiro dos angolanos e respeitabiliza o tráfico de diamantes e os que financiam os famosos empresários angolanos.

Com o EQE (European Quantitative Easing) ficará entretanto claro que os nossos bancos apostaram no cimento da habitação e nas grandes empresas....

...vai haver dinheiro, mas não vai chegar cá porque será necessário desalavancar as grandes empresas.

Ontem o chefe do BBVA em Portugal foi muito claro: os bancos andam a emprestar ou a tentar emprestar dinheiro uns aos outros...

Deixou de haver dízimo para distribuir :(

O que sucedeu ao BES colocou todos os empresários portugueses a pensar duas vezes e a serem muito mais criteriosos nos seus investimentos políticos.

O que se vai passar em Espanha será mais um elemento perturbador em todo este sistema de jogo de mikado em que se tornou a vida nacional.

Sobre isto falaremos mais adiante

Abraço

Garganta Funda

PS: as opiniões do nosso correspondente no Médio Oriente são livres, respeitadas, mas não são necessariamente seguidas pelo António Maria. 

Garganta Funda - sms1


Meu caro António Maria,

  • As previsões €/$ apontavam para k o euro chegasse aos 1.20/1.22 até ao final do próximo trimestre de 2015. 
  • As previsões €/$ para o final de 2015 eram de 1,18 e 1,20, ainda que com uma margem. Quando me refiro a previsões estou a aludir ao que a maioria dos analistas previa. No curto prazo é menos fiável, mas para o médio-longo, é aceitável.
  • Pode ser que ocorra mais cedo, isto é, entre fim de 2014 e início de 2015.

A novidade foi a inesperada acção do Banco do Japão (BoJ), ao alagar ainda mais o mercado com dinheiro. Não se esperava, e isso gerou liquidez no mercado. Efeito imediato: as acções em Tóquio subiram, o iene baixou face USD (moeda de refúgio) e o € baixou em relação ao USD. O que saiu do Japão não veio para a Europa, como tinha sucedido até Setembro.

Existem/existiam rumores de que o BCE iria alargar a compra de ativos e comprar mais agressivamente. Os rumores apontavam para que tal ocorresse no primeiro trimestre do próximo ano, como máximo. Assim, os investidores começariam a descontar esse efeito, e a partir de janeiro o euro baixaria. O BoJ veio alterar as previsões.

Neste momento, outro fator ainda vem complicar as análises: a birra entre a Alemanha e o Reino Unido sobre as quotas de imigração, e também sobre a contribuição do RU para o orçamento da UE.

Para além da histórica prova de força entre as duas nações (vamos lixarmo-nos e pagar com língua de palmo andarmos a dormir demasiado tempo na cama errada), o efeito sobre o euro será imediato assim que os investidores compreenderem que não se trata apenas de uma birra, mas de um problema real e que, mesmo com resolução mais adiante, vai abrir e deixar feridas.

Penso que isso deve suceder ainda esta semana. A maioria do pessoal foi apanhada desprevenida e aguardam que os representantes dos principais interesses —fundos de pensões, bancos, gringos e chinocas— façam o seu papel. Se isso não acontecer, ou seja, se demorar mais tempo, e pode demorar, porque o Cameron está entre a espada e a parede com o UKIP, o euro vem por aí abaixo mais depressa e chegará aos valores previstos para finais de 2015 já a meio do ano que vem.

Para a malta do Sul, será bem vinda esta desvalorização, sobretudo para a Espanha e Itália. Para nós, tugas, nem por isso, porque quem estava a ganhar com o euro alto e o barril a 100USD era a GALP, uma mama, contudo, em vias de secar. Aliás, segue a GALP com atenção porque pode ser o próximo grande problema que vamos ter nas páginas dos jornais e no país. Para o consumidor, até poderá ser melhor, mas terá impacto na balança, pelo menos durante meio ano.

Prepara-te para seres aumentado por via do câmbio em mais uns pp daqui até ao fim do ano.

Abraço

Garganta Funda

PS: as opiniões do nosso correspondente no Médio Oriente são livres, respeitadas, mas não são necessariamente seguidas pelo António Maria.

É preciso por os rendeiros petrolíferos na ordem, já!

Abaixo dos 80USD/ppb as economias petrolíferas afundam...

O ataque da GALP ao governo tem que ser denunciado! E não vai ser a indigente imprensa indígena a fazê-lo


Oops! Mais um problema para o cheque em branco chamado António Costa:
“...oil exporters are now pulling liquidity out of financial markets rather than putting money in. That could result in higher borrowing costs for governments, companies, and ultimately, consumers as money becomes scarcer.” (1)
Petróleo atinge mínimos de Outubro de 2011
04 Novembro 2014, 09:07 por Jornal de Negócios

Em Londres, o barril de Brent segue uma tendência semelhante, estando a perder 1,46% para 83,54 dólares. 
O preço do petróleo continua em queda e já atingiu novos mínimos. O West Texas Intermediate, negociado em Nova Iorque, e em queda há quatro sessões consecutivas, atingiu esta manhã o valor mais baixo desde 5 de Outubro de 2011, ao negociar nos 77,20 dólares por barril. O WTI segue agora a perder 1,57% para negociar nos 77,54 dólares por barril.

Independentemente dos jogos envolvidos nesta baixa do preço do crude, que a Arábia Saudita passará a vender mais barato nos EUA, e mais caro na Europa (!), a principal consequência, que terá efeitos significativos no sistema financeiro mundial, é o abrandamento da exportação de petrodólares para a especulação financeira (bolsas começam a cair por todo o lado) e para o financiamento necrófago dos governos e bancos sobreendividados. Ou seja, haverá menos dinheiro real e, provavelmente, mais dinheiro virtual, ou seja, mais dívida criada a partir dos bancos centrais...

Consequência desta queda do preço do crude para valores tendencialmente abaixo dos 80USD/ppb, ou seja, para o limiar da sustentabilidade financeira e política das monoculturas petrolíferas: menos petrodólares a circular nos mercados financeiros regulares e especulativos e um provável aumento das taxas de juro, ou seja, maiores dificuldades no acesso ao crédito. Os países com pesadas faturas de importação de petróleo e gás natural poderão, entretanto, beneficiar desta conjuntura, para a qual aliás contribuiram ao diminuirem a atividade económica e o consumo. Mas para isso terão que ter mão dura nos rendeiros e crápulas dos oligopólios da especulação energética. No caso português, o circo está aliás montado. Esperemos que Passos Coelho e Moreira da Silva não poupem o corticeiro e seus vassalos partidários e da comunicação social nesta guerra que vai durar mais de um semestre, ou até mais de um ano! Já agora, perguntem ao pascácio do PS o que pensa sobre este assunto.

Alguns governos, como o Japão, preparam-se para um hara-kiri soberano. Esperemos, ao menos, que sirva de vacina à pseudo esquerda europeia.

No fim de contas, a realidade é esta e é simples: o mundo está metido num ciclo recessivo prolongado, e o preço do petróleo —em geral o preço das matérias primas— vai continuar a oscilar abruptamente com as recessões sucessivas que temos pela frente.

Prioridades para Portugal: pagar as dívidas, mas mais devagar e com taxas de juro menos onerosas; reduzir as funções do estado ao que é essencial (nomeadamente reduzindo a metade o número de municípios); atacar os privilégios e os custos da partidocracia, do neocorporativismo e do capital rendeiro aninhados no Orçamento de Estado e na expropriação fiscal criminosa de 10 milhões de portugueses; liberalizar até à escala individual/familiar a produção/consmo de energias alternativas, nomeadamente biomassa, solar e eólica; impor administrativamente e pela via fiscal o transporte público movido a eletricidade nas cidades-região de Lisboa, Porto e Coimbra-Aveiro, com penalização agravada do transporte privado individual em veículos movidos a gasolina/gasóleo em todos os centros urbanos; estabelecimento de metas claras e próximas para a eficiência energética do país, a começar por todo o parque de edifícios públicos existente, bem como para a redução da intensidade energética da nossa economia; ampliar a economia digital e a telepresença social.

Poderemos travar a cleptocracia que nos arruinou? Poder, Podemos!


Notas
  1. How The Petrodollar Quietly Died, And Nobody Noticed
    Tyler Durden's @ ZeroHedge

    Two years ago, in hushed tones at first, then ever louder, the financial world began discussing that which shall never be discussed in polite company - the end of the system that according to many has framed and facilitated the US Dollar's reserve currency status: the Petrodollar, or the world in which oil export countries would recycle the dollars they received in exchange for their oil exports, by purchasing more USD-denominated assets, boosting the financial strength of the reserve currency, leading to even higher asset prices and even more USD-denominated purchases, and so forth, in a virtuous (especially if one held US-denominated assets and printed US currency) loop.

    The main thrust for this shift away from the USD, if primarily in the non-mainstream media, was that with Russia and China, as well as the rest of the BRIC nations, increasingly seeking to distance themselves from the US-led, "developed world" status quo spearheaded by the IMF, global trade would increasingly take place through bilateral arrangements which bypass the (Petro)dollar entirely. And sure enough, this has certainly been taking place, as first Russia and China, together with Iran, and ever more developing nations, have transacted among each other, bypassing the USD entirely, instead engaging in bilateral trade arrangements, leading to, among other thing, such discussions as, in today's FT, why China's Renminbi offshore market has gone from nothing to billions in a short space of time.

    And yet, few would have believed that the Petrodollar did indeed quietly die, although ironically, without much input from either Russia or China, and paradoxically, mostly as a result of the actions of none other than the Fed itself, with its strong dollar policy, and to a lesser extent Saudi Arabia too, which by glutting the world with crude, first intended to crush Putin, and subsequently, to take out the US crude cost-curve, may have Plaxico'ed both itself, and its closest Petrodollar trading partner, the US of A.

    As Reuters reports, for the first time in almost two decades, energy-exporting countries are set to pull their "petrodollars" out of world markets this year, citing a study by BNP Paribas (more details below). Basically, the Petrodollar, long serving as the US leverage to encourage and facilitate USD recycling, and a steady reinvestment in US-denominated assets by the Oil exporting nations, and thus a means to steadily increase the nominal price of all USD-priced assets, just drove itself into irrelevance.

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Alemanha trava apetite pavloviano da 'esquerda' europeia

Schaeuble não desiste de proteger a Europa da sua deriva suicidária


Quem não fizer reformas fica sem fundos


Alemanha quer cortar fundos a países que não cumpram reformas
Jornal de Negócios, 02 Novembro 2014, 16:22 por Lusa

A Alemanha quer reforçar o controlo do processo de reformas na Zona Euro e defende que as recomendações da Comissão Europeia sejam vinculativas e que os países que não as cumprem num determinado prazo sejam penalizados com cortes de fundos.

A proposta consta de um documento subscrito pelos ministros alemães das Finanças, Wolfgang Schäuble, e da Economia, Sigmar Gabriel, publicada este domingo, 2 de Novembro, pela revista Der Spiegel.

Segundo a publicação, o Governo alemão entregou a proposta em finais de Outubro à Comissão Europeia, ao presidente do Eurogrupo e à presidência rotativa da União Europeia (UE), actualmente ocupada pela Itália.

Lá se vai o sonho despesista dos populistas da 'esquerda' e do cheque em branco António Costa e seus patrões, Mário Soares, Almeida Santos e José Sócrates. A família Espírito Santo já era.

O pessoal já andava a salivar o QREN que nem Porquinhos-da-Índia. A guerra partidária de há quase um ano para cá resumia-se, aliás, a uma disputa pelo controlo, em 2015, dos famosos fundos comunitários. A receita orçamental já não pode crescer mais, apesar do fascismo fiscal em curso, e o crescimento da economia ainda menos, ou seja, sem a massa que vem de fora, do BCE, do FMI, de outros países europeus e dos emigrantes, o país voltaria a caminhar rapidamente para a bancarrota, arrastando na implosão uma parte substancial da partidocracia e do regime. Até lá, a demagogia, o populismo e o golpismo institucional tenderiam a agravar-se.

A menos que a Alemanha tome ela mesma a decisão de abandonar o euro, jamais permitirá a continuação do deboche orçamental nas corruptas partidocracias europeias, nomeadamente do sul da União Europeia. No entanto, se Berlim perdesse este braço de ferro, o resultado seria um tiro na cabeça da Europa, à semelhança daquele que a cleptocracia japonesa acaba de dar no seu sacrificado povo. A Rússia, Israel e a América agradeceriam certamente encarecidamente esfe favor da descerebrada e oportunista 'esquerda' europeia. Podemos, aliás, começar a olhar para o exemplo ucraniano como se de um espelho se tratasse.

Se a pseudo esquerda portuguesa ganhar as próximas eleições, criando expetativas infundadas e irrealizáveis, todo o sacrifício até agora feito será deitado à rua e a consequência de tamanha cegueira coletiva será um novo resgate bem mais duro do que aquele que tivemos, a par do descrédito completo da democracia populista que afundou o país. Nessa altura, se formos por aí, talvez surja então um movimento parecido com o espanhol Podemos, só que de sinal contrário!