sexta-feira, março 08, 2019

Estados Unidos já exportam mais petróleo que a Arábia Saudita

Ciclar para ampliar. Origem da img.


Al Gore, que esteve recentemente no Porto a dar mais um dos seus shows sobre as alterações climáticas e a necessidade de substituir as energias fósseis por energias verdes, começou bem, há uns anos, mas duvido cada vez mais da sua forma de proselitismo nos tempos que correm. No preciso momento em que os Estados Unidos ultrapassaram a Arábia Saudita na exportação de petróleo e seus derivados, e países como a China e a Índia, já para não falar de África, precisam de energia barata para poderem desenvolver as suas infraestruturas de saneamento, distribuição de água potável, produção agrícola intensiva, criação de cidades sustentáveis, mobilidade, etc., o discurso de Al Gore parece-me cada vez mais maniqueísta, e nada construtivo. A situação é muito complexa, e por isso, necessita de abordagens abrangentes, sofisticadas, e bem informadas. Não da repetição 'ad nauseam' de caríssimos shows para inglês ver.

O consumo de petróleo nos Estados Unidos estabilizou, mas a sua produção, não!

De facto, o aperfeiçoamento das tecnologias de extração de crude das rochas betuminosas levou o até agora maior consumidor de energia do planeta a transformar-se também num exportador, sobretudo de gasolina e outros derivados do crude. Esta é uma situação que vai ter consequências tectónicas na geopolítica mundial, nomeadamente na América Latina, na Índia e na China, e sobretudo em África.

Esta notícia desenvolvida pelos noruegueses da RYSTAD vai seguramente obrigar a uma revisão das nossas convicções e previsões sobre os efeitos potencialmente catastróficos do chamado peak oil (o fim do petróleo barato). Sabendo-se que a taxa de crescimento demográfico mundial estabilizou por volta de 1964-65, e que a população total do planeta, além de estar a envelhecer, começará a decair a partir de 2055 (segundo o Deutsche Bank), ou de 2100 (segundo as Nações Unidas), é hoje possível imaginar um cenário energético global mais eficiente e mais limpo, mas onde as chamadas energias limpas continuem a ser minoritárias relativamente às energias fósseis.

Eu diria, portanto, que teremos que estar cada vez mais atentos ao lóbi verde, das indústrias às ONGs, todas generosamente financiadas pelos nossos impostos. É que a sobrevivência de grupos de interesses ameaçados pela realidade tende a fabricar más notícias à medida que os consensos se desfazem.

NORTH AMERICA BECOMES SELF-SUFFICIENT IN OIL
RYSTAD ENERGY, March 7, 2019

In a pivotal geopolitical shift, the United States will soon export more oil and liquids than Saudi Arabia. This remarkable turnaround is made possible by the continued rise in oil production from US shale plays and the increased oil export capacity from the Gulf Coast. 
The US has for decades relied on large-scale imports to satisfy its thirst for oil, but this is about to change. The Energy Information Administration (EIA) reported last week that the United States exported more crude and petroleum products than it imported. Granted, the EIA followed up with a report this week that US crude oil stocks had risen by 7.1 million barrels in a week, driven by a renewed appetite among US refineries for imported heavy crude oil. However, for the rest of the year, US exports will grow fast with increasingly attractive price spreads, while US demand for imported heavy oil should again diminish. 
“The oil market is overly preoccupied with short-term US crude stocks, but the big picture tells a new story. Increasingly profitable shale production and a robust global appetite for light oil and gasoline is poised to bring the US to a position of oil dominance in the next few years,” said Rystad Energy senior partner Per Magnus Nysveen. 
He added: 
“The political and economic impact of this shift in global trade has already been dramatic, and will be even more pivotal within the next five years. The US trade deficit will evaporate and its foreign debt will be paid quickly thanks to the swift rise of American oil and gas net exports. The tanker shipping industry will see the boom of the millennium, as the excess fossil fuels from America will find plenty of eager buyers in fast-growing Asia.

quinta-feira, março 07, 2019

Costa mau e Costa péssimo

António Costa - O Programa da Cristina - captura de écrã (editada)

António Costa é um verdadeiro ás, a fugir


Mariana Mortágua tem razão: “O que está em causa é o negócio de venda do Novo Banco. O Governo não pode chutar para o Banco de Portugal e para o anterior Governo as responsabilidades”, diz, lembrando que o Bloco sempre avisou que esta venda iria dar problemas, porque o privado iria usar a garantia.

A resolução do BES foi decidida em Bruxelas, não em Lisboa. O BES não recorreu ao BCE, quando podia, pela razão simples de que não quis ou não pôde (...) mostrar os livros daquele polvo medonho, condição para qualquer operação de reforço de capitais autorizada por Bruxelas. Por outro lado, Portugal, atado ao programa de estabilização financeira da Troika, não tinha poder para decidir resgatar o BES com dinheiros públicos, o tal empréstimo que Ricardo Salgado foi pedir a Passos Coelhos e ao Aníbal. Ou seja, ao contrário do exemplo que Ricardo Salgado evocou na sua última entrevista radiofónica, desde que Portugal entrou em pré-bancarrota, o Banco de Portugal, subordinado ao Banco Central Europeu, deixou de ter plena autonomia para tomar certas decisões, tal como o nosso governo perdeu desde o Memorando de Entendimento de 2011, e não recuperou até hoje, autonomia suficiente para tomar certas decisões de natureza financeira. Em suma, o Banco de Portugal não é o Banco de Inglaterra, e António Costa, e antes dele Pedro Passos Coelho e José Sócrates não são a Rainha de Inglaterra. Por algum motivo pouco estudado surgiu o Brexit!

No entanto, uma vez realizada a experiência da resolução do BES, de que a DG COMP e o BCE foram decisivos e co-responsáveis protagonistas, as trapalhadas que vieram depois (venda do Novo Banco à Lone Star, etc.) já não são, de facto, da conta da toda poderosa direção geral da concorrência europeia, a DG COMP, mas sobretudo do governo que liderou o negócio com o famigerado abutre financeiro. 

António Costa, que sabe muito bem que pautas lhe foram transmitidas pelos banqueiros portugueses no almoço do Ritz de 16 de novembro de 2015, não pode tentar tapar o Sol com a peneira. Afirmou hoje, textualmente, o seguinte:

“Eu creio que desde a data da resolução em 2014 todos temos o dever de não estar surpreendidos com o que venha a acontecer com o Novo Banco: ficou claro qual era o estado da instituição financeira e tudo aquilo que aconteceu desde então tem permitido perceber que quando se fez a separação entre o chamado banco mau e o chamado banco bom, verdadeiramente o que ficámos foi com um banco mau e um banco péssimo”, apontou, referindo-se à operação realizada ainda na vigência do anterior Governo PSD/CDS-PP.” 
“Nós temos de ir à raiz do problema, a auditoria que foi ordenada pelo Governo será em tudo idêntica à da Caixa Geral de Depósitos e sobre a fase anterior à resolução”

Esta manobra só pode ter uma intenção: matar à nascença o apuramento da verdade sobre as responsabilidades de António Costa no buraco negro em que a venda do Novo Banco se transformou, sugerindo que uma parte das mesmas poderão estar, como de facto estão, em Bruxelas. Mas falta, ainda assim, retirar as necessárias conclusões sobre o que fazer ao 'banco péssimo'. E este é um dossier que pertence exclusivamente ao primeiro ministro da geringonça.

Convém, enfim, recordar o que o primeiro ministro disse sobre a venda do Novo Banco.

 

quarta-feira, fevereiro 20, 2019

PCP quer destruir a ADSE

Marta Temido, uma espécie de submarino nuclear do PCP à deriva no Governo

Se não é verdade, parece


ADSE não cede e diferendo com privados mantém-se 

Ainda não será desta que a “guerra” entre os prestadores privados de saúde e a ADSE ficará resolvida. A reunião marcada para esta tarde, entre o Conselho Geral e de Supervisão (CGS) do subsistema de saúde dos funcionários públicos e a ministra da Saúde, servirá para dar conta das preocupações a Marta Temido. O presidente do CGS, João Proença, referiu ao DN/Dinheiro Vivo que o objetivo é avançar para as negociações reafirmando a necessidade de “um urgente diálogo”. 
João Proença sublinha que “o governo é a nossa tutela, não é parte desinteressada, não é árbitro, não é moderador. É parte interessada”. O antigo líder da UGT espera, de resto, que o governo “defenda os interesses da ADSE, lembrando contudo que “as posições do Conselho Geral e de Supervisão não são necessariamente as da ADSE” e que o que “importa é negociar”, reforça o presidente do CGS. 
DN

A ADSE está transformada em mais uma arma de luta dissimulada do PCP. Pelo que não é de excluir ser a guerra que eclodiu com os hospitais privados tão só o resultado de uma manobra de provocação do PCP, e mais uma das suas táticas eleitorais.

As posturas atávicas do Presidente da República e do PM, mais a atuação desastrosa da que mais parece ser uma ministra sombra do PCP na Saúde, deu no que estamos todos a assistir. João Proença dá a cara para esconder o que os comunistas não querem que se saiba: que é o Comité Central do PCP quem, afinal, mexe os cordelinhos da ADSE, usurpando os interesses e direitos pagos pelos respetivos beneficiário. 

Que tal um referendo para saber se os associados da ADSE querem, ou não, o fim da ADSE? O PCP quer!

Se não, vejamos: os beneficiários da ADSE são cerca de um milhão e duzentos mil—já agora, convinha a ADSE informar o país qual é, afinal, o número exato dos seus associados. No entanto, apenas 8315 associados elegeram os seus atuais representantes no Conselho Geral e de Supervisão da ADSE, I.P.. Esta lista é composta por quatro pessoas, três do PCP e um híbrido do PS (João Proença).

Aqui vai a lista, para percebermos melhor o que na realidade poderá estar na base da tentativa de um governo de esquerda, apoiado por comunistas, trotskystas e maoistas, de destuirem a ADSE e reduzirem, pelo caminho, o Serviço Nacional de Saúde a escombros de uma qualquer Venezuela em chamas:

Francisco José dos Santos Braz (Membro do Comité Central do PCP)
António José Coelho Nabarrete (FENPROF/ SGPL)
João António Gomes Proença (Ex-SG da UGT)
Manuel Bernardino Cruz Ramos (PCP)
Mandatária da lista: Ana Joaquina Gomes Avoila (PCP/ Sindicato dos Trabalhadores da Função Pública)

A imprensa do regime continua a tapar o Sol com a peneira do ruído mediático que mais convém a quem os mantém na unidade de cuidados intensivos.

POST SCRIPTUM

A posição responsável e conciliadora da presidente da ADSE não bate certo com o que o advogado comunista Eugénio Rosa [Vogal do Conselho Diretivo da ADSE (eleito pelos representantes dos beneficiários)] e o socialista João Proença [Presidente do Conselho Geral e de Supervisão da ADSE] dizem pela boca fora, certamente ecoando os respetivos diretórios partidários, mas não o pensamento, nem a voz, nem sobretudo os interesses vitais de quem financia a ADSE com as suas quotas salariais mensais (3,5% dos vencimentos). Está na altura de se estabelecerem regras claras de transparência em mais uma instituição financeiramente independente (não é alimentada pelo Orçamento de Estado), mas capturada pelos partidos políticos.

ADSE recusa abdicar de 38 milhões de euros  
Vogal Eugénio Rosa contraria presidente Sofia Portela e garante que não voltam atrás no pedido de reembolso exigido a privados.  
Ler mais e ver video em Correio da Manhã, 20/2/2019 01:30.

Última atualização: 20/2/2019, 17:31 WET

quinta-feira, fevereiro 07, 2019

Pedro Marques e as Berlengas

G2 approaching from Shanghai Hongqiao on the first day of 350km/h operation on Beijing-Shanghai HSR.
Photo: N509FZ

A história da bitola explicada às criancinhas

“Ferrovia 2020 tem uma taxa de execução de 40%”, diz Pedro Marques 
SAPO, Ana Sofia Franco, 06/02/2019, 13:18 
“A nova ligação ferroviária a construir entre Évora e Elvas pretende reforçar a conexão ferroviária dos portos e das zonas industriais e urbanas do sul de Portugal a Espanha e ao resto da Europa.”
Esta é uma daquelas afirmações mecanicamente reproduzida por todos os jornais, seguramente fazendo copy-paste dum despacho da Lusa que, por sua vez, foi buscar a frase ao sítio da Infraestruturas de Portugal, sem sentido, nem verdade, mas que retrata bem o pântano de propaganda em que estamos mergulhados.

A Espanha vai ter todas as suas linhas ferroviárias transfronteiriças, quer em direção a França, quer em direção a Portugal, mudadas para bitola europeia (UIC), até 2023. Sendo assim, nenhum comboio oriundo de Portugal poderá em breve cruzar a fronteira, pois o anunciado plano ferroviário do ministro Pedro Marques continua a prever apenas linhas férreas de bitola ibérica. Sabendo deste atavismo ferroviário dos sucessivos governos lusitanos, os espanhois começaram a construir portos secos em Badajoz e Salamanca. Ou seja, os comboios portugueses levam as mercadorias até à fronteira e depois haverá que fazer o respetivo transbordo para a rede ferroviária espanhola de bitola europeia.

Os estados falidos não têm, por definição, capital. Logo, devem evitar negócios cada vez mais competitivos e assentes em capital intensivo, financeiro e humano. É por isso que a CP Carga foi entregue aos italianos da MSC, que a CP irá ser privatizada mais cedo do que tarde, e que a TAP acabará por colapsar, e o governo de turno será, então, obrigado a terminar o processo de privatização que ficou a meio.

Temos um país sem capitalistas, sem bancos, e com um Estado sem capital. Logo, não é assim tão difícil saber o que fazer... E no entanto, António Costa e o seu caricato ministro das infraestruturas, curiosamente semi-demissionário e a caminho de Bruxelas (dizem), insistem em despejar centenas de milhões de euros em soluções ferroviárias sem futuro. Fazem-no, quero crer, porque ninguém até hoje lhes desmontou a doutrina Cravinho sobre o território, e também porque simplesmente desconhecem o que é uma bitola ferroviária, e para que serve!

Vamos, enfim, esclarecer este mistério que tanto confunde governantes, políticos e jornalistas.

O mérito vai inteirinho para o Professor do Técnico, Jorge Faria Paulino, uma das vozes mais autorizadas em matéria de mobilidade e transportes que, como eu, participa num dos mais animados grupos de discussão da blogosfera sobre ferrovia, aeroportos e transporte aéreo, barragens e energia.

Pedro Marques leva mercadorias, de Sines até Badajoz...

Aqui vai...
Um pequeno esclarecimento relativamente à bitola... 
1. Em meados do século 19, quando o transporte ferroviário se implantou nos países do Mundo, as duas superpotências eram a França e o Reino Unido. E eram elas que controlavam o Globo, em termos tecnológicos, militares, comerciais e económicos.

2. A França utilizava a bitola [distância entre carris] internacional, também chamada "bitola francesa" (1,435 a 1,50 m). O Reino Unido usava duas bitolas: uma bitola larga (1,667 a 1,70 m ), para zonas planas e de grande circulação; e uma bitola estreita (0,90 a 1,0 m), para percursos sinuosos, pouco utilizados ou de montanha. 
A França estava na Europa Continental. Quem se queria ligar a ela e permutar produtos com a sua poderosa economia, tinha de ter a bitola francesa. Por isso a leste da França (Bélgica, Holanda, Alemanha, Itália, etc) todos os países usaram a bitola francesa (aliás, politicamente, quem mandava nesses países ainda era o que restava das monarquias implantadas por Napoleão e sua família ao redividir a Europa). 
Os britânicos implantaram a bitola inglesa larga e estreita no seu país (então, Reino Unido e na Irlanda) e no seu império (Áfricas, India e outras Ásias, América do Sul e central). A bitola larga era muito mais cara do que a bitola estreita, pelo que, nos territórios que constituiam o Império Britânico, se passou a privilegiar sempre a bitola estreita ou métrica (que ainda hoje lá está...). 
Por questões de marketing e de estratégia militar, o Reino Unido procurou assustar a Espanha e a Rússia, que tinham sofrido na pele com as invasões napoleónicos, afirmando que para melhor defesa dos seus territórios, deveria haver uma descontinuidade na via férrea. Assim não seriam tão rapidamente invadidos (as tropas napoleonicas andavam em marcha a pé; com o caminho de ferro passaram a circular de comboio e assim aconteceu até à 2ª Guerra Mundial). E foi assim que a Espanha e a Rússia passaram a ter bitola larga e a bitola estreita, britânicas.

3. Mais tarde, os ingleses acharam que era uma tolice ter 2 bitolas, porque assim tinham necessidade de ter vias algaliadas em muitos locais e percursos. E acabaram com a bitola larga e a bitola estreita e passaram tudo para a bitola francesa (que assim se passou a chamar de bitola internacional). E na Inglaterra e zonas limitrofes onde a Revolução Industrial fizera do Reino Unido a maior superpotência, eles mudaram a bitola em questão de poucos anos.

4. Em Portugal, os técnicos superiores (leiam-se engenheiros) tinham formação teórica na França (École Nationale de Ponts et Chaussées, onde tudo era republicano e defensor da Revolução Francesa). Por isso, em Portugal, a primeira linha que se fez na zona de Lisboa também tinha bitola francesa (ou internacional). 
Como os espanhóis tinham enveredado pela bitola larga e a bitola estreita britânicas, Portugal teve de seguir a mesma metodologia, para não ficar uma ilha ferroviária que não se poderia ligar à Europa. 
Agora os espanhóis estão a mudar progressivamente as suas grandes linhas para bitola internacional e Portugal estará de novo em risco de se tornar numa ilha ferroviária. Em suma, pensava-se melhor em meados do século 19 em Portugal do que agora... 
Jorge Paulino Pereira

quarta-feira, fevereiro 06, 2019

César e Francisco

El papa Francisco, durante la rueda de prensa en el avión de regreso a Roma.
ALESSANDRA TARANTINO (AP)/ cropped

O meu reino não é deste mundo


El cinismo del papa Francisco 
La neutralidad del Vaticano en la crisis venezolana sirve de apoyo a Maduro
RUBÉN AMÓN
El País, 5 FEB 2019 - 15:30 CET 
No es Irán la única teocracia contemporánea que abjura del presidente Guaidó. Se resiste a reconocerlo el Vaticano, tanto por la idiosincrasia bolivariana del papa Francisco como porque su actual secretario de Estado, Pietro Parolin, fue el artífice de la reconciliación —de la comunión— entre el chavismo y la Santa Sede en los tiempos idólatras del mariscal Hugo. 
Es la razón por la que Nicolás Maduro ha pedido la mediación moral y política del sumo pontífice. Pretende involucrarlo como árbitro de una conferencia de países “neutrales” —México, Uruguay— convocada en Montevideo este jueves como salida al aislamiento del tirano venezolano.

Interessante, esta análise! É um facto que as ditaduras nunca assustaram o Vaticano. Basta lembrar a Itália de Mussolini, a Espanha de Franco, o Portugal de Salazar, e o Chile de Pinochet. Porque haveria então o Papa Francisco, que encanta o hedonista Marcelo, de se preocupar com o chavismo e o seu desastrado herdeiro, Nicolás Maduro? A Deus o que é de Deus, a César o que é de César. Foi este negócio com as autocracias que garantiu a esta, como a outras igrejas, a longevidade do atavismo religioso. Secundariamente, esta posição 'simpática' para com o ditador Maduro, até permitirá ao Vaticano fazer a mediação que o resto dos europeus já não é capaz.

Russos e chineses acharam que poderiam avançar pelo Atlântico e pelas Américas dentro. Não podem. Mas lá que os Estados Unidos e os caniches europeus lhes deram pretexto, nomeadamente na forma hipócrita, interesseira e estúpida como lidaram com o colapso da União Sovética, e mais recentemente com a Ucrânia, ou ainda com a soberania sobre o mar do Sul da China, deram...

Agora vai ser preciso reequilibrar os dispositivos de forças, quer a leste de Berlim, quer no quintal latino-americano dos gringos. Voltamos sempre ao mesmo: a paz futura depende da realização dum Novo Tratado de Tordesilhas. Dum lado deve ficar a Euro-América, do outro a China. No meio, precisamos dum continente independente, próspero e neutral: a África.

Dito isto, a posição diplomática assumida pelo governo português é absolutamente correta. Não se defendem os interesses de Portugal, nem dos portugueses emigrados na Venezuela, apoiando um ditador alimentado com sinodólares e euros de Moscovo.

Vamos provavelmente assistir a um prolongado braço de ferro, sobretudo porque dependerá de concessões a fazer ao longo da antiga cortina de ferro, na Síria e... no Irão. Já agora, um Irão nuclear será um player decisivo no Médio Oriente, podendo mesmo afastar o espectro de Putin na região. Daí que seja tempo de os americanos e europeus darem corda aos snickers!


REFERÊNCIAS
El Papa sobre Venezuela: “Temo un derramamiento de sangre” 
DANIEL VERDÚ
El País, A bordo del avión del Papa 28 ENE 2019 - 14:23 CET 
La posición del Vaticano en el conflicto de Venezuela ha sido siempre ambigua y discreta. Su frustrado papel como mediador lo requirió en su momento. Pero ahora, en pleno ultimátum de un nutrido bloque de países a Nicolás Maduro para que convoque elecciones, millones de venezolanos y los propios mandatarios implicados —con Juan Guaidó a la cabeza de la oposición— se preguntan cuál es la opinión del Papa y la postura que adoptará la Santa Sede, con enorme influencia en la comunidad católica del país, en un conflicto que camina peligrosamente hacia la violencia. El Papa, tras varios días de silencio, pidió en el Ángelus del domingo en Panamá “una solución justa y pacífica”. Pero, ¿qué quiere decir eso? 
Los hombres de Pinochet en el Vaticano 
JUAN JOSÉ TAMAYO
El País, 2 MAR 1999 
Desde su toma de poder en Chile, tras el golpe de Estado contra el presidente Salvador Allende, el general Pinochet buscó denodadamente el apoyo del Vaticano a su dictadura militar alegando como credenciales su fe católica y su cruzada contra el marxismo, llevada a cabo en plena sintonía con Juan Pablo II, antimarxista como él. Mientras el arzobispo de Santiago de Chile, cardenal Silva Enríquez, denunciaba los atentados de Pinochet contra los derechos humanos -incluido el derecho a la vida- a través de la Vicaría de Solidaridad, el Vaticano legitimaba las actuaciones del dictador, sobre todo a través de la nunciatura.Tras los resultados adversos del plebiscito de octubre de 1988, que le obligaron a abandonar el poder, Pinochet redobló sus esfuerzos por asegurarse el aval del Vaticano, confiando en que saliera en su defensa en caso de que fuera procesado. Y la larga sombra del general se extendió hasta la curia romana, donde hoy ocupan puestos de responsabilidad de primera línea personalidades eclesiásticas afines a él.


domingo, fevereiro 03, 2019

Deem uma cana de pescar a África!

Origem

O atual modelo de ajuda humanitária a África é uma forma de colonialismo


A Europa está a envelhecer, os Estados Unidos estão a envelhecer, a China está a envelhecer, o Japão e a Rússia estão a envelhecer rapidamente. Por sua vez, a população dos Estados Unidos crescerá menos de 80 milhões até chegar aos 400 milhões de almas irrequietas em 2050. África, pelo contrário, viu a sua população passar de 140 milhões em 1900, para mil milhões em 2010. Mas já em 2050 poderão chegar aos 2,5 mil milhões de pessoas, mais do que um em cada três seres humanos do planeta!

Assim, enquanto os Estados Unidos viram multiplicar-se por quatro o número dos seus residentes entre 1900 e 2018, em África e no mesmo período a população multiplicou-se por nove!

Duas conclusões parecem óbvias: não houve nenhum genocídio visando a raça africana, e os conhecidos genocídios regionais e locais tiveram origens sobretudo de ordem geoestratégica mascaradas com conflitos religiosos e étnicos. A outra conclusão, que deverá ajudar-nos a ver com outros olhos a segunda maior massa continental da Terra, é esta: o modelo da ajuda humanitária a África é um modelo esgotado e cada vez mais oportunista, cujo prosseguimento só poderá dificultar a emancipação e o desenvolvimento genuíno deste continente e das suas gentes.

Quanto mais tarde percebermos isto, maiores serão os efeitos negativos sobre a Europa da continuação da espoliação africana em curso.

Os projetos que americanos, europeus e asiáticos continuam a desenvolver em África são sucedâneos do colonialismo. No essencial, aportam latas de feijão e de sardinha em troca de petróleo, ouro, gás natural, diamantes, metais raros, etc., corrompendo para este efeito as elites locais, e deixando as populações sem ferramentas, nem conhecimentos imprescindíveis a um crescimento endógeno, livre e saudável. A África precisa de saneamento básico, de cidades saudáveis, de hospitais, escolas e universidades, de redes de mobilidade física e eletrónica avançadas, de planeamento familiar, e sobretudo de estados constitucionais democráticos, onde a liberdade e a responsabilidade cidadãs ganhem plena expressão nos mecanismos de decisão e representação democráticas, nas liberdades individuais e coletivas, e na prevalência das leis sobre os poderes discricionários.

Chegou, creio, o momento de oferecer a África as estratégias e os conhecimentos que melhor e mais rapidamente permitirão transformar a sua explosiva demografia em formas avançadas e atuais de desenvolvimento económico, social, e cultural. O cinismo chinês não é senão mais uma forma de expropriação destrutiva do território e da paisagem humana. O brutalismo imperial dos Estados Unidos é moralmente inaceitável. A Europa, pela sua longa história de proximidade ativa e contato com África, está em condições para promover um quadro de cooperação inteiramente diverso do modelo assistencialista, que ou mascara interesses ocultos, ou meramente satisfaz as burocracias que vivem da especulação mediática com a miséria alheia.

Deixemos de assustar os europeus com as crises de migração e de refugiados oriundas de África, e pensemos nas melhores formas de saldar a nossa própria dívida para com os povos africanos.

REFERÊNCIAS

There’s a strong chance a third of all people on earth will be African by 2100 
By Gilles Pison 
Quartz, October 11, 2017 

The population of Africa is increasing rapidly. From an estimated 140 million in 1900, it had grown to a billion by 2010. According to United Nations “medium scenario” projections, this figure will rise to 2.5 billion in 2050 and more than 4 billion in 2100. Today, one out of six people on Earth live in Africa. These same projections predict that the proportion will be one in four in 2050 and more than one in three by 2100.

World Population Growth 
Our World Data, by Max Roser and Esteban Ortiz-Ospina 

200 years ago there were less than one billion humans living on earth. Today, according to UN calculations there are over 7 billion of us.1 Recent estimates suggest that today's population size is roughly equivalent to 6.9% of the total number of people ever born.2 This is the most conspicuous fact about world population growth: for thousands of years, the population grew only slowly but in recent centuries, it has jumped dramatically. Between 1900 and 2000, the increase in world population was three times greater than during the entire previous history of humanity—an increase from 1.5 to 6.1 billion in just 100 years.

sexta-feira, fevereiro 01, 2019

Para que serve o défice zero?

Este triunvirato do Bloco Central conta agora com os votos do PCP e do Bloco

Orçamento fictício do Estado financia bancos falidos


Caixa, BCP e BPI venderam os anéis, perdão, os palácios da Baixa. Daí os lucros. Só em 2018 a Caixa alienou 300 milhões de euros em património e crédito mal parado. Quanto ao resto, a realidade é simplesmente esta: os portugueses estão a pagar em austeridade cor-de-rosa e vermelha, nomeadamente através de cativações excessivas da despesa orçamental, o financiamento do Fundo de Resolução, ao qual os bancos, por sua vez, vão buscar a massa para manterem as portas abertas e fabricarem resultados virtuais.

O truque é este: Centeno força o défice zero nas contas públicas, para com a massa assim poupada ir mantendo o Fundo de Resolução com dinheiro (emprestado, claro!) para alimentar os burros financeiros a Pão de Ló e ostras. Doutra maneira, o BCE e Bruxelas não deixavam...

Caixa teve lucro próximo dos 500 milhões de euros em 2018 
O Jornal Económico, 01 Fevereiro 2019, 08:37 
A Caixa Geral de Depósitos (CGD) registou, em 2018, um resultado líquido próximo dos 500 milhões de euros, o que representa uma subida de 860% face aos 51,9 milhões de euros contabilizados no ano anterior, sabe o Jornal Económico. O banco do Estado divulga esta sexta-feira os seus resultados de 2018.

PS: Como escrevi no post anterior, o grande buraco da Caixa tem uma cor dominante: a cor da rosa. Tal não significa, porém, que o PSD e o CDS não estejam no mesmo barco do grande desfalque democrático: BPN, BES, BANIF, Montepio, Caixa. Estão, e tudo teve origem no fartar vilanagem do Bloco Central da Corrupção.

Do que consigo vislumbrar, o buraco negro do La Seda —uma das causas principais do colapso na Caixa— foi resultado, ou de um risco empresarial, ou de uma fuga em frente, ou de um embuste por parte da família Matos Gil face ao descalabro que começara a afundar, desde 2006-07, o grupo têxtil de Barcelona fundado em 1925.

A família Matos Gil era representada no La Seda por Fernando Freire de Sousa (marido de Elisa Ferreira), e tinha relações com este grupo catalão, pelo menos desde 2003, através da Selenis, uma fábrica de PET sediada em Portalegre, propriedade da Imogil. O La Seda comprou, em 2003, uma parte da Selenis, por 35 milhões de euros.

Através de Manuel Pinho (Governo e BES), a gula do inner circle de Sócrates, assessorado pelos então testas de ferro na Caixa, Carlos Santos Ferreira e Armando Vara, fez o resto.

Carlos Costa não teve, parece-me, qualquer papel no descalabro da Caixa, nem em Espanha, nem em Portugal.

Se bem que Fernando Freire de Sousa se tivesse afastado do La Seda em 2008. Por algum motivo o fez..., pois doutro modo não se percebe porque abandonou a família Matos Gil no preciso momento em que José Sócrates colocava a primeira pedra da grande fábrica de PET em Sines (2008), conseguida precisamente pelos manos Manuel e João Paulo Matos Gil. O antigo representante da Imogil no La Seda deve, pois, explicações sobre o envolvimento da banca pública e de José Sócrates na construção da fábrica de PET em Sines. Por sua vez, a ida de Elisa Ferreira para o Banco de Portugal, e do seu marido, Fernando Freire de Sousa para a direção do CCDR-N, pouco tempo depois do atual governo entrar em funções, com este histórico, não podem deixar de suscitar alguma perplexidade.

quinta-feira, janeiro 31, 2019

A caixa negra de um resgate

Caixa Geral de Depósitos (CGD) (3779646223)

Propaganda não é prosperidade, nem paga dívidas


Resgate a Portugal foi o terceiro maior de sempre na história do FMI 
O Jornal Económico. Mariana Bandeira, 03 Janeiro 2019, 14:09 
O resgate financeiro do Fundo Monetário Internacional (FMI) a Portugal foi o terceiro maior da história da instituição liderada por Christine Lagarde. O ranking das maiores injeções de capital do fundo é encabeçado pela Argentina e pela Grécia.

A venda de ouro português foi uma prática sistemática desde o fim da ditadura. Foi, aliás, esta venda que financiou, em primeiro lugar, os novos direitos sociais do Portugal democrático.

Tal delapidação só parou em 2010, quando o Banco Central Europeu proibiu o governo português de mexer nas 382,5 toneladas que ainda restam das 801,5 toneladas existentes em 1974 (Wikipédia).

Estas reservas são, pois, uma espécie de colateral dos 51,7 mil milhões de euros emprestados pelo BCE e pela UE, para evitar a bancarrota do país cor-de-rosa que temos.

Continuamos, ao fim de três anos de propaganda governamental e partidária responsável por uma divisão social e cultural crescente entre os portugueses, no top dos devedores mundiais:
  • quase 250 mil milhões de euros de dívida pública bruta (a líquida andará pelos 225 mM€) 
  • mais de 700 mil milhões de euros de dívida total. 
Existem mais ou menos dez milhões de contas bancárias em Portugal. Mas total do dinheiro depositado nos bancos não vai além dos 140 mil milhões de euros, ou seja, pouco mais de metade da dívida do Estado e das suas sinecuras.

Por outro lado, menos de 200 mil portugueses têm depósitos superiores a 100 mil euros.

É por estas e por outras que a recente decisão, do PS, PCP e Bloco, de forçar os bancos a comunicar ao fisco as contas com mais de 50 mil euros, se parece com a preparação para uma nova crise financeira indígena. Quando? Quando batermos outra vez à porta do FMI e do BCE, porventura na iminência de uma nova bancarrota nacional. O governo pretende, pois, saber em que bancos e contas estarão os montantes de depósitos e obrigações potencialmente sujeitos a perdas por efeito de um bail-in (resgate interno) em caso de nova crise bancária acompanhada de falência de bancos. A preocupação anunciada com fugas ao fisco não passa de uma cortina de fumo.

A crescente agitação sindical é um sinal claro de que a reversão da austeridade não aconteceu, e que o governo, aflito, se prepara para novas emergências. E você, já se preparou?

O grande buraco da Caixa tem uma cor dominante: a cor da rosa. Parece assim evidente que Geringonça rosa-e-vermelha tudo fará para esterilizar o novo inquérito e os possíveis processos judiciais que entretanto surjam à superficie. Basta investigar Joe Berardo e o que levou Elisa Ferreira (e Francisco Louçã...) para o Banco de Portugal, para que mais este esclarecedor artigo de Helena Garrido abra uma nova e mais negra Caixa de Pandora.
Se os deputados quiserem, haverá culpados na CGD 
Helena Garrido. Observador, 31/1/2019, 7:44 

Com a informação disponível neste momento já é possível concluir que o período que gerou mais perdas para a CGD foi o que vai de 2005 a 2007, quando Carlos Santos Ferreira era presidente do banco e Armando Vara e Francisco Bandeira faziam parte da sua equipa. No relatório e contas de 2016 conclui-se que 39,5% das perdas apuradas nesse ano (imparidades) vieram de financiamentos concedidos entre 2005 e 2007. 
É nesse período que se inicia o processo da Artlant com a espanhola La Seda; é nesses anos que se financia Vale do Lobo; é nesses anos que se concedem empréstimos que envolvem indirectamente a CGD na guerra pelo controlo do BCP e é nesse tempo que se dá crédito para controlar a Cimpor. Quando Carlos Santos Ferreira passa para o BCP, a administração seguinte da CGD, liderada por Fernando Faria de Oliveira e que vai até 2010, gera igualmente perdas significativas (23,6% dos 5,6 mil milhões de euros de perdas apuradas em 2016), mas já estamos perante erros por omissão, por não decidir acabar com alguns projectos.
Joana Amaral Dias: “A Caixa é um poço sem fundo” 
Jornal i, 01/02/2019 12:09 
Injetámos mais ou menos 20 mil milhões de euros na banca nos últimos dez anos; destes, seis mil milhões de euros foram para a Caixa. Recordo que, em 2012, a Caixa não fez parte do escrutínio da troika e logo nesse ano foram injetados pelo governo de Pedro Passos Coelho 1,5 mil milhões de euros sem qualquer auditoria. Agora não há imparidades no banco? Vão justificar esses 6 mil milhões como? E esta auditoria da EY é de 2000 a 2015 porque é óbvio que antes de 2000 exatamente a mesma promiscuidade se passou na Caixa Geral de Depósitos, não há dúvidas. Teve momentos melhores, teve momentos piores, talvez este momento tenha sido pior, sobretudo depois de 2005, mas isso não foi um vírus ou um bug do milénio. A Caixa sempre foi este poço sem fundo, serviu como braço forte do poder político para basicamente comprar aliados, para arquitetar uma perigosa rede clientelar que contribui para que Portugal seja campeão da corrupção.

Atualizado em 02/02/2019, 16:08 WET

quarta-feira, janeiro 30, 2019

Uma ciência do medo não é ciência

Trade and Migration @ Copenhagen Consensus

Parte significativa da ciência tornou-se, infelizmente, especulativa, ideológica e corrupta. Há boa e má ciência. A má ciência, uma espécie de máquina, dependente dos impostos que a financiam, que se alimenta da propagação do medo, está a expulsar a boa ciência do mercado. Por cá, e no resto do mundo.

Mas como não há bem que sempre dure, nem mal que nunca acabe, à litania do medo contrapõe-se paulatinamente uma espécie de novo otimismo racional. Vale a pena conhecê-lo.

Duas referências, para começar:


domingo, janeiro 27, 2019

Um novo Tratado de Tordesilhas, ou?

Federica Mogherini, chefe diplomática da União Europeia

Maduro terá que abandonar o poder em breve


A Rússia não tem força para transformar a Venezuela numa espécie de Ucrânia. E a China também não tem interesse em precipitar os acontecimentos nesta direção. O resultado de mais um braço de ferro entre o despotismo asiático e as democracias ocidentais só pode ser um: salvar ambas as faces, do Ocidente e do Oriente, levando o senhor Maduro a passar umas férias nas Caraíbas.

O modo como a crise na Venezuela evoluir (Guterres tem que abrir os olhos!) depois do reconhecimento de Juan Guaido pela maioria dos estados americanos (12 contra 3) e pela União Europeia, deixará ver de forma bem nítida a fratura em curso na famosa globalização. O recuo dos Estados Unidos e dos seus aliados na Síria depois de uma clara vitória da Rússia e do Irão da guerra civil que destruiu boa parte daquele país, será, por assim dizer, compensado com o despedimento de Maduro e a subsequente pressão contra a excessiva presença económica, militar e diplomática da Rússia e da China naquelas paragens. As negociações, que já estarão a decorrer, suponho, sobre a revisão drástica da permeabilidade do continente americano à influência chinesa, russa e indiana, ditarão a duração e os contornos mais ou menos violentos da guerra entre Maduro e Guaido.

O equilíbrio MAD nunca esteve na realidade em causa, mesmo durante a implosão da URSS. O que sim tem estado a mudar é a posição geográfica do centro de gravidade da prosperidade mundial. No século 15, por volta de 1430, a China fechar-se-ia paulatinamente ao mundo, assustada com o eterno perigo do Norte, ou por outro motivo ainda por esclarecer. O seu hoje incensado Almirante Zheng He (1371—1433 ou 1435), depois de sete viagens memoráveis (1403, 1407, 1409, 1413, 1416, 1421, 1429) pelos mares da China, Oceano Índico, até à costa ocidental de África, que poderiam ter aberto o caminho marítimo da China até à Europa, não chegou a conhecer o Infante Dom Henrique (1394—1460), vinte e três anos mais novo, o qual, em 1415, daria início a um ciclo de expedições marítimas que acabariam por nos levar à China, em 1513-1517, e ao Japão, em 1543.

Seiscentos anos depois, a China quer refazer a Rota da Seda, por mar e terra, cruzando toda a Eurásia, mas também os mares da China, o Oceano Índico, África e o Atlântico. A sua ambição é, pois, incomensurável com as pretensões algo tacanhas do que resta do império dos czares russos. Num certo sentido, podemos dizer que Putin é, de momento, o braço armado da China nesta sua acelerada fase expansionista, mas que a imensa terra russa é também uma espécie de espaço vital futuro da China.

Daqui a dificuldade de saber onde estão os meridianos do futuro Tratado de Tordesilhas que irá regular uma nova divisão ao meio do planeta humano. Há que procurá-los, pois a alternativa a uma divisão pacífica das influências pode ser mesmo a extinção da humanidade.

Existe uma teoria diferente sobre a carnificina venezuelana (1), a qual interpreta o 'golpe' contra Nicolás Maduro como uma placagem ao acesso oriental (sobretudo da China) ao petróleo venezuelano. De um ponto de vista geoestratégico, esta interpretação decorre de uma visão que, no essencial, diz isto: os impérios marítimos e coloniais que dominaram o mundo nos últimos seiscentos anos irão ceder ao poder da grande massa continental e humana que é a Eurásia. O objetivo tático para apressar esta mudança tectónica passa, segundo os teóricos desta visão, por separar a Europa ocidental da América, forçando-a a ser apenas a península ocidental cooperante de uma Eurásia centrada nos seus grandes poderes estratégicos: Alemanha, Rússia, Irão, Índia, e China.

Vale a pena, para uma melhor compreensão deste ponto de vista, ler dois artigos recentes (de que incluímos dois extratos) escritos por Pepe Escobar e por Federico Pieraccini.

“The supreme nightmare for the U.S. is in fact a truly Eurasian Beijing-Berlin- Moscow partnership.” 
“The Belt and Road Initiative (BRI) has not even begun; according to the official Beijing timetable, we’re still in the planning phase. Implementation starts next year. The horizon is 2039.” 
[...] 
“The New Silk Roads were launched by Xi Jinping five years ago, in Astana (the Silk Road Economic Belt) and Jakarta (the Maritime Silk Road). It took Washington almost half a decade to come up with a response. And that amounts to an avalanche of sanctions and tariffs. Not good enough. 
Russia for its part was forced to publicly announce a show of mesmerizing weaponry to dissuade the proverbial War Party adventurers probably for good – while heralding Moscow’s role as co-driver of a brand new game. 
Were the European peninsula of Asia to fully integrate before mid-century – via high-speed rail, fiber optics, pipelines – into the heart of massive, sprawling Eurasia, it’s game over. No wonder Exceptionalistan elites are starting to get the feeling of a silk rope drawn ever so softly, squeezing their gentle throats.” 
— in Pepe Escobar, “Back in the (Great) Game: The Revenge of Eurasian Land Powers”, Consortium News, August 2018.



“Even if the US dollar were to remain central for several years, the process of de-dollarization is irreversible.  
Right now Iran plays a vital role in how countries like India, Russia, and China are able to respond asymmetrically to the US. Russia uses military power in Syria, China seeks economic integration in the Silk Road 2.0, and India bypasses the dollar by selling oil in exchange for goods or other currency.  
India, China, and Russia use the Middle East as a stepping stone to advance energy, economic and military integration, pushing out the plans of the neocons in the region, thereby indirectly sending a signal to Israel and Saudi Arabia. On the other hand, conflicts in Syria, Iraq and Afghanistan are occasions for peacemaking, advancing the integration of dozens of countries by incorporating them into a major project that includes Eurasia, the Middle East and North Africa instead of the US and her proxy states.  
Soon there will be a breaking point, not so much militarily (as the nuclear MAD doctrine is still valid) but rather economically. Of course, the spark will come from changing the denomination in which oil is sold, namely the US dollar. This process will still take time, but it is an indispensable condition for Iran becoming a regional hegemon. China is increasingly clashing with Washington; Russia is increasingly influential in OPEC; and India may finally decide to embrace the Eurasian revolution by forming an impenetrable strategic square against Washington, which will shift the balance of global power to the East after more than 500 years of domination by the West.”
—in “Russia, China, India, and Iran: The Magic Quadrant That is Changing the World”
by Federico Pieraccini @ Strategic Culture Foundation, 25.01.2019


Post scriptum

Acabo de ler a comunicação de Georges Soros ao Forum de Davos deste ano. Pela sua clareza relativamente à China, recomendo a sua leitura e deixo aqui um extrato elucidativo.

Remarks delivered at the World Economic Forum 
Davos, Switzerland, January 24, 2019 
“China is not the only authoritarian regime in the world but it is the wealthiest, strongest and technologically most advance. This makes Xi Jinping the most dangerous opponent of open societies. That’s why it’s so important to distinguish Xi Jinping’s policies from the aspirations of the Chinese people. The social credit system, if it became operational, would give Xi total control over the people. Since Xi is the most dangerous enemy of the open society, we must pin our hopes on the Chinese people, and especially on the business community and a political elite willing to uphold the Confucian tradition.” 
—in Georges Soros
NOTAS



  1. Este relatório anual do Observatorio Venezolano de Violencia dá bem a dimensão da crise política, social e humanitária desencadeada pela ditadura de Nicolás Maduro.

Atualizado em 28/1/2018, 13:05 WET

sábado, janeiro 19, 2019

Stalindo!



O fim da suposta superioridade moral da esquerda


Não é um problema de cuecas. É um problema de máscaras que sucessivamente caem: o espancamento de gays na festa do Ávante, a generosidade do ex-BES para com a mesma festa, um gigantesco património imobiliário isento de impostos, e agora isto: o genro do secretário-geral Jerónimo de Sousa obtem adjudicação direta da Câmara Municipal (comunista) de Loures para realizar tarefas para as quais não tem histórico nem parece especialmente preparado. A Câmara diz que recebeu orçamento mais barato. Pois é, todos sabemos como se fazem estes orçamentos!

Dir-se-à que é o mesmo que os sucessivos governos escandalosamente fazem com os escritórios de advogados, etc. Pois, mas este é que é o ponto: não há nenhum problema de ilegalidade, até porque se desenharam as leis para que não haja. Mas há um problema de moralidade, e nisto, o PCP é, afinal, mais um partido político, igual aos outros, ou antes, mais hipócrita que os outros, pois assenta a sua lenga lenga ideológica numa superioridade moral que não possui, e numa epistemologia política que nunca passou de mera propaganda demagógica. Na primeira oportunidade, a máscara cai. Se pudesse, assim como louva os ditadores da Venezuela e da Coreia do Norte, o PCP imporia em Portugal uma ditadura do proletariado. Diz o seu Programa, recauchutado em 2016 por causa da geringonça, que mudou a "expressão", mas mantém o "conceito"!!!

Ler a propósito:

Contrato com genro de Jerónimo. Câmara de Loures repudia “eventual promiscuidade”
Observador, 18/1/2019, 13:16

PCP responde a nova realidade revolucionária
Sítio oficial do PCP, 25 Maio 2016

sexta-feira, janeiro 18, 2019

O embuste ferroviário da Geringonça

Aceder ao mapa interativo da UE


Orgulhosamente sós, mas socialistas!


Em 27 de Maio de 2010, a “Rede Ferroviária Nacional REFER E.P.E.” remeteu ao Tribunal de Contas, para efeitos de fiscalização prévia, um contrato de concessão, celebrado, em 8 de Maio de 2010, entre o Estado Português, enquanto Concedente, e a sociedade “ELOS – Ligações de Alta Velocidade, S.A.”, na qualidade de Concessionária, tendo por objecto a atribuição a esta última da concessão do projecto, construção, financiamento, manutenção e disponibilização de infra-estruturas ferroviárias no troço Poceirão-Caia e ainda do projecto, construção, financiamento, manutenção, disponibilização e exploração da Estação de Évora, o qual entrou em vigor na data da sua assinatura. 
—in Tribunal de Contas, Acórdão N.º 09/2012, 21.mar. - 1ªS/SS (Processo n.º 233/2011)
“Em vez de abordagens de concorrência desenfreadas que são sempre possíveis no mercado liberalizado, mas num mercado Ibérico que tem sempre uma proteção natural (bitola ibérica), precisamente a questão da bitola (a europeia) não nos faz sentido.” 
— Pedro Marques, ministro do planeamento (TSF, 21/10/2018) 

Em 2023, a Espanha vai concluir a sua ligação ferroviária UIC (vulgo, ‘bitola europeia’) a França, por Irún.

Até agora, janeiro de 2019, Portugal nada fez para cumprir o que sucessivamente assinou com a Espanha e com a União Europeia. Existe apenas um projeto desenvolvido pela sociedade ELOS para o novo traçado Poceirão-Caia em bitola europeia. Este projeto e o contrato estão prontos desde 2010, mas em 2012 o Tribunal de Contas recusou-lhe o necessário visto, encontrando-se desde então encalhado nos tribunais e na chamada Operação Marquês, nomeadamente por causa do envolvimento de José Sócrates e do Grupo Lena na embrulhada.

O dinheiro europeu que havia para a designada ligação ferroviária entre Lisboa e Madrid (Poceirão-Caia) perdeu-se. Só no Quadro Financeiro que se inicia em 2020 este processo poderá ser eventualmente retomado. Até lá, o Estado português não tem dinheiro para indemnizar a ELOS sem agravar o periclitante e vigiado défice público, quanto mais para realizar o que diz a propaganda eleitoral de António Costa.

O consórcio ELOS registou naturalmente os direitos do projeto de execução objeto do contrato público realizado. Se o Estado persistir na rejeição do mesmo, terá que lançar novo concurso, com a agravante de os futuros concorrentes saberem à partida que os governos indígenas se comportam como se vivessem numa qualquer república das bananas, onde há tribunais dominados pela política, e onde o direito é tratado como uma boneca de trapos.

O Estado alega que o concurso era ilegal. Mas quem elaborou o concurso foi a estatal REFER, hoje denominada Infraestruturas de Portugal (1). Logo, depois de condenado no tribunal arbitral a pagar 150 milhões de euros à ELOS, há uma probabilidade elevada de o Estado perder o recurso que fez para os tribunais judiciais.

A melhor opção para o interesse público seria pois chegar a acordo com a ELOS, retomando-se o contrato de concessão de 2010, que seria depois apresentado em Bruxelas com a correspondente candidatura aos fundos a disponibilizar pelo Quadro Financeiro que se inicia em 2020.

Qualquer país só terá acesso a fundos europeus se apresentar um projeto de execução. A propaganda, e os Power Point não chegam!

Dado que o troço em causa, entre o Poceirão e Caia, faz parte do Corredor do Atlântico, a comparticipação comunitária para a sua realização seria elevada. Este troço é provavelmente o mais fácil e o menos caro de construir em toda a Europa.

Dois anos e meio bastariam para concluir um projeto com estas características e dimensão.

A opção decidida por este governo aposta, porém, e uma vez mais, no erro, na ignorância crassa e na submissão a interesses de curto prazo (2), os quais irão transformar Portugal numa ilha ferroviária, com consequências destrutivas potenciais enormes e duradouras ao eliminar a necessária redundância do nosso sistema de transportes. Basta ver qual foi a resposta da Autoeuropa às sucessivas greves que o PCP provoca e dirige no porto de Setúbal: levar os carros para o porto de Santander!

Para já, a solução ainda é viável, pois a rede de bitola ibérica continua de pé em Espanha, mas assim que esta for descontinuada junto à fronteira portuguesa, o que certamente acontecerá até 2023, à Autoeuropa só restará uma resposta estratégica à instabilidade sindical e à política errática dos nossos desmiolados e corruptos políticos: transferir a sua fábrica de Palmela para Espanha.

Entretanto, esta foi a solução ferroviária anunciada pelo irresponsável e cobarde ministro Pedro Marques:

— Ligação Évora-Elvas: 80Km, via única, bitola ibérica

Custará 530 milhões de euros, mais 150 milhões de indemnização (+juros) à ELOS, ou seja, qualquer coisa, como 700 milhões de euros.

Esta falsa solução, que apenas se destina a vencer o medo atávico de Madrid, e os interesses de curto prazo dos operadores que entretanto tomaram conta da falida CP Carga, ficará rapidamente à mercê dos portos secos que a Espanha irá plantar em Salamanca e Badajoz.

Os portos de Matosinhos, Aveiro, Figueira da Foz, Lisboa, Setúbal e Sines, deixarão paulatinamente de receber mercadorias destinadas à Europa, ou mesmo a Espanha, assim que o país vizinho acabar com a bitola ibérica na raia, uma decisão já tomada e com datas conhecidas. Idem para as exportações de bens produzidos no nosso país.

Os grandes investimentos ferroviários desmiolados de Pedro Marques e de António Costa, e da nacionalista Geringonça, serão, em suma, um desperdício absoluto que pesará ainda mais na canga da divida pública e da falta de competitividade da nossa economia, tornando Portugal um país ainda mais periférico do que já é.

O novo troço Poceirão-Caia, com 167 Km, custaria 1200 milhões de euros. Chave na mão. Ou seja: 8,75 M€/ Km para uma solução errada, em vez de 7,2 M€/ Km numa solução certa e, além do mais, previamente assumida com Espanha e com a União Europeia!!!

Este post foi escrito em colaboração com Rui Rodrigues. Recomendamos a leitura da apresentação que se segue.

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NOTAS

1. “A de 1 de junho de 2015, na sequência do Decreto-Lei nº 91/2015 de 29 de maio, a Rede Ferroviária Nacional – REFER, E.P.E. (REFER, E.P.E.) incorpora, por fusão, a EP - Estradas de Portugal, S.A. (EP, S.A.) e é transformada em sociedade anónima, passando a denominar-se Infraestruturas de Portugal, S.A. (IP, S.A.).”
<http://www.infraestruturasdeportugal.pt/sobre-nos/historico/refer>
2. Perante a teimosia atávica do Bloco Central, formou-se uma espécie de oligopólio entre a Takargo, da Mota-Engil, associada para este efeito à espanhola Ibercargo, e o gigante MSC, a segunda maior empresa de transporte contentorizado do mundo, sediada na Suíça, e propriedade do bilionário italiano Gianluigi Aponte, que adquiriu a CP Carga S.A., mudando-lhe o nome para MEDWAY. O terminal rodoferroviário de Vila Nova de Famalicão é um remendo sem futuro, mas que assegura ao gigante MSC uma posição forte na grelha de partida da privatização do transporte ferroviário em Portugal, bem como no futuro do transporte contentorizado na Península Ibérica.

Atualização: 19/1/2019, 11:28 WET

A seca do PSD

O queiroziano conselheiro Menezes


PSD partido em três


A saída de Santana Lopes que rombo provocará no PSD, nas Europeias, e depois nas Legislativas? Montenegro, sem sequer se deslocar à arena dos conselheiros Acácio, para já, placou Rio, que até teve que repescar um cadáver de Gaia em seu auxílio para ver a sua moção aprovada, com apenas 25 votos de vantagem em 126!
Há muito que defendo o fim do Bloco Central, à esquerda, mas também à direita. 
A Geringonça acabou com o PS centrista. A cisão de Santana acabou com o PSD centrista. Só Rui Rio e o Parque Jurássico do PSD não entenderam ainda que o mundo mudou.
Carlos Moedas não virá para Lisboa tão cedo. Sobram portanto duas alternativas visíveis a Rui Rio: Luís Montenegro e Miguel Morgado. 

A crise europeia e a recessão mundial não chegarão a tempo de ferir dramaticamente a Geringonça, mas o PS não chegará à maioria absoluta. A Geringonça vai pois continuar por mais uma legislatura. 

O Rio vai entretanto secar. Se for até ao fim deste ano, Montenegro terá hipóteses de lhe suceder. Mas se fio de água se aguentar por mais um ou dois anos (2019-2020), então Morgado terá hipóteses de encabeçar um PSD muito diferente do atual.

Este país já não é para velhos que não souberam dar conta do recado enquanto mandaram.

terça-feira, janeiro 15, 2019

Era uma vez a TAP

Movimentos de passageiros nos aeroportos portugueses em 2017 (1)

Como tem vindo a TAP a perder os aeroportos para as low-cost...


As hélices dos ATR72 foram incapazes de competir com as turbinas dos B737-800 da Ryanair na ponte aérea entre Lisboa e Porto.

Se a TAP ainda detém 52% dos movimentos de passageiros na Portela, é igualmente verdade que esta vantagem relativa tem vindo a decair rapidamente face à concorrência das companhias e da lógica low-cost. Se incluirmos os voos low-cost realizados pela própria TAP, poderá concluir-se que a tendência dominante do transporte aéreo na Europa forçará a TAP a mudar radicalmente as ruinosas prioridades estratégicas estabelecidas por Fernando Pinto e pelo desmiolado Bloco Central que nos tem governado.

Por sua vez, o ataque das low-cost aos arquipélagos pode ser já considerado como a principal causa do boom turístico nos Açores. A TAP recua ano a ano em todos os aeroportos nacionais, e a SATA poderá não resistir a uma ofensiva privada às ligações entre os Açores e o continente americano, via Ryanair, ou IcelandAir. A IcelandAir é uma das potenciais compradoras da SATA, e já assegura a gestão da TACV - Transportes Aéreos de Cabo Verde.

Quanto à Portela, dado que 72% dos movimentos aéreos nos nossos aeroportos têm origem na Europa, a expansão do aeroporto de Lisboa dará necessariamente prioridade às companhias e tráfego low-cost.

Já nem a TAP usa as famosas mangas em parte das suas ligações aéreas — por dificuldades na triagem da bagagem, e por uma questão de preço (as mangas são caras, e as manobras de estacionamento consomem combustível) e rapidez, pois maioria dos passageiros ponto-a-ponto transporta a bagagem na cabine.

Como só 10% dos movimentos nos aeroportos portugueses são intercontinentais, haverá certamente na Portela novas áreas destinadas aos voos europeus ponto-a-ponto.

A ampliação da Portela não vai pois servir o estagnado hub da TAP, que tenderá aliás a sofrer mais com as crises económicas no Brasil, Venezuela e Estados Unidos, do que com a próxima recessão europeia. Algumas das mangas telescópicas construídas durante o consulado ruinoso do gaúcho Pinto deverão, pois, desaparecer. Do que a ANA precisa agora é de espaço para estacionar aeronaves, de explorar todo o espectro horário disponível e, finalmente, de continuar a otimizar a gare e os sistemas de check-in.

A ideia de que a Portela será um aeroporto para a TAP, IAG, Air France e Lufthansa, e o Montijo um apeadeiro para as low-cost parece-me, em suma, de pernas para o ar, pois conduziria a um negócio pouco eficiente. O conceito de eficiência dirá pouco às empresas públicas e a quem delas se serve, mas canta de modo completamente distinto junto das empresas que realmente competem no mercado e são ambiciosas, como a Vinci é.

Para já, portanto, a Portela vai ser transformada num aeroporto low-cost. Se houver crescimento que o exija, o Montijo será uma pista suplementar da Portela.

No entanto, a solução mais provável, apesar do acordo assinado entre o governo e a Vinci, é haver novo chumbo do estudo de impacte ambiental da solução Montijo, atirando o NAL para o fim da concessão: 2062.

Em 2040 será então retomada a decisão de construir o NAL de Rio Frio/ Canha, um aeroporto com 4 pistas, ligado por ferrovia à região de Lisboa e Setúbal, ao Algarve e a Espanha.

O aeroporto da Portela de Sacavém, projetado pelo arquiteto Francisco Keil do Amaral, será finalmente encerrado no dia 19 de outubro de 2062, depois de 120 anos de excelente serviço prestado ao país — dois anos depois da inauguração do Novo Aeroporto de Lisboa.

A venda dos terrenos da Portela contribuirá então para a construção do novo aeroporto.

Só não sei uma coisa: haverá ainda uma companhia portuguesa chamada TAP?

NOTAS

  1. ANAC – Autoridade Nacional da Aviação Civil. BET Boletim Estatístico Trimestral, nº36 - 4º Trimestre de 2017. 
Atualização: 16/1/2019 09:55 WET

segunda-feira, janeiro 14, 2019

The misandry fear (1967-2020)

Valerie Solanas. S.C.U.M. (Society for Cutting Up men) [1967, 1968*]

Life in this society being, at best, an utter bore and no aspect of society being at all relevant to women, there remains to civic-minded, responsible, thrill-seeking females only to overthrow the government, eliminate the money system, institute complete automation and destroy the male sex. 


It is now technically feasible to reproduce without the aid of males (or, for that matter, females) and to produce only females. We must begin immediately to do so. Retaining the male has not even the dubious purpose of reproduction. The male is a biological accident: the Y (male) gene is an incomplete X (female) gene, that is, it has an incomplete set of chromosomes. In other words, the male is an incomplete female, a walking abortion, aborted at the gene stage. To be male is to be deficient, emotionally limited; maleness is a deficiency disease and males are emotional cripples.

— in S.C.U.M. Manifesto 
(Society for Cutting Up Men)
by Valerie Solanas
New York, 1967

Women have a tremendous amount to lose by creating a lot of indifferent men. 


The Western World has quietly become a civilization that has tainted the interaction between men and women, where the state forcibly transfers resources from men to women creating various perverse incentives for otherwise good women to inflict great harm onto their own families, and where male nature is vilified but female nature is celebrated. This is unfair to both genders, and is a recipe for a rapid civilizational decline and displacement, the costs of which will ultimately be borne by a subsequent generation of innocent women, rather than men, as soon as 2020.

Now, the basic premise of this article is that men and women are equally valuable, but have different strengths and weaknesses, and different priorities. A society is strongest when men and women have roles that are complementary to each other, rather than of an adversarial nature. Furthermore, when one gender (either one) is mistreated, the other ends up becoming disenfranchised as well. If you disagree with this premise, you may not wish to read further.

[...]

Lefto-’feminists’ will be outbred and replaced very quickly, not by the conservatives that they hate, but by other cultures antithetical to ‘feminism’. The state that lefto-’feminists’ so admire will quickly turn on them once the state calculates that these women are neither producing new taxpayers nor new technologies, and will find a way to demote them from their present ‘empowered’ position of entitlement. If they thought having obligations to a husband was such an awful prospect, wait until they have obligations to the husband-substitute state.

[...]

Go to any department store or mall. At least 90% of the products present there are ones no ordinary man would consider buying. Yet, they occupy valuable shelf space, which is evidence that those products do sell in volume. Who buys them? Look around in any prosperous country, and we see products geared towards women, paid for by money that society diverted to women. From department store products, to the proliferation of take-out restaurants, to mortgage interest, to a court system rigged to subsidize female hypergamy, all represent the end product of resources funneled to women, for a function women have greatly scaled back. This is the greatest resource misallocation ever, and such malinvestment always results in a correction as the bubble pops.

[...]

This website has predicted that the US will still be the only superpower in 2030, and while we are not willing to rescind that prediction, I will introduce a caveat that US vitality by 2030 is contingent on a satisfactory and orderly unwinding of the Misandry Bubble. It remains to be seen which society can create economic prosperity while still making sure both genders are treated well, and the US is currently not on the right path in this regard. For this reason, I am less confident about a smooth deflation of the Misandry Bubble. Deflate it will, but it could be a turbulent hurricane. Only rural America can guide the rest of the nation into a more peaceful transition. Britain, however, may be beyond rescue.

— in “The Misandry Bubble”, by Imran Khan
The Futurist, January 01, 2010

An Antidote to Chaos


“Chaos, the eternal feminine, is also the crushing force of sexual selection. Women are choosy maters (unlike female chimps, their closest animal counterparts). Most men do not meet female human standards. It is for this reason that women on dating sites rate 85 percent of men as below average in attractiveness. It is for this reason that we all have twice as many female ancestors as male (imagine that all the women who have ever lived have averaged one child. Now imagine that half the men who have ever lived have fathered two children, if they had any, while the other half fathered none).41 It is Woman as Nature who looks at half of all men and says, “No!” For the men, that’s a direct encounter with chaos, and it occurs with devastating force every time they are turned down for a date. Human female choosiness is also why we are very different from the common ancestor we shared with our chimpanzee cousins, while the latter are very much the same. Women’s proclivity to say no, more than any other force, has shaped our evolution into the creative, industrious, upright, large-brained (competitive, aggressive, domineering) creatures that we are. It is Nature as Woman who says, “Well, bucko, you’re good enough for a friend, but my experience of you so far has not indicated the suitability of your genetic material for continued propagation.”

— in Jordan B. Peterson, 12 Rules for Life: An Antidote to Chaos (2018)

PS: I strongly advise you to read in tandem all Solanas' Manifesto, Peterson's 12 Rules, and Khan's post on the perils of misandry. It will certainly give powerful ammunition to anyone who wishes to follow the impact of gender issues on our societies for at least the last fifty years.

*
1967
self-published edition
excerpts from it were published as
Valerie Solanis
“S.C.U.M. Manifesto”
Berkeley Barb (June 7-13, 1968): page 4

1968
S.C.U.M. Society for Cutting Up Men Manifesto
(Olympia Press, New York)
with a preface by Maurice Girodias, and a commentary by Paul Krassner, “Wonder Waif Meets Super Neuter”

— in Smith, Donny, Valerie Solanas: Bibliography at the Wayback Machine (archived August 17, 2005)
https://web.archive.org/web/20050817015943/http://geocities.com/WestHollywood/Village/6982/solanas.html#paper

sábado, janeiro 12, 2019

O Rio secou. E agora?

Miguel Morgado


Santana, Montenegro, Morgado, ou uma iniciativa mais liberal?


A novidade, a juventude e o realismo informado serão fatores cruciais no desmantelamento do enquistado estado partidário e neo-corporativo que temos.

Vale, pois, a pena visitar um novo partido chamado Iniciativa Liberal e acompanhar as suas atividades. Não tem, e isso é bom, a carga populista reacionária de outras alternativas que começam a aflorar do pântano de dissolução em curso do atual regime.

Outra iniciativa liberal igualmente intrigante surgiu este fim de semana, desta vez com grande estrondo mediático. Chama-se MEL — Movimento Europa e Liberdade, quer dizer, a antítese da Geringonça, onde cresce dia a dia uma praxis anti-europeia e anti-ocidental, e ainda uma espécie de variante 'português suave' do socialismo chavista.

Aflito, Montenegro saltou também para a arena do colapso da desmiolada direita instalada, propondo-se desfazer o PSD. Vai consegui-lo! Se é bom ou mau para a democracia, é uma pergunta retórica que deixou de fazer sentido. Quando o furúnculo exibe tamanha quantidade de pús, há que espremer a borbulha, e pronto.

Marcelo, que poderia ser uma força de reforma constitucional, importante nesta curva apertada do regime democrático, está a revelar-se um embuste que nos vai custar os olhos da cara. O espelho partiu-se, e a criatura não sabe navegar sem mimos.

É certo que os portugueses estão tão habituados ao protecionismo e à corrupção do regime, que tudo aquilo que prometa maior liberdade e ousadia civilizacional assusta o regime e as pessoas acomodadas nas suas pequeninas conchas subsidiadas.

É, porém, melhor para todos nós libertar o regime das suas amarras neocorporativistas, e dos piratas que tomaram as rédeas do poder ao longo das últimas décadas, do que vermos, por inércia nossa, surgirem pequenos monstros de irracionalidade transformarem-se na face e espinha de um novo regime autoritário populista, de direita ou de esquerda.

Chegou o momento de malharmos no PS e nas esquerdas, pois o seu namoro com o populismo venezuelano, perante a apatia patética do presidente da república, ameaça tornar-se uma promessa de casamento. Os beijinhos do presidente são agora uma espécie de reality show. Disgusting!

Entretanto, a direita desmiolada, corrupta e inculta que temos, acordou enfim assustada com o óbvio: Marcelo não a vai salvar de coisa nenhuma, e Caracas pode estar ao virar da esquina.

Iremos sem dúvida assistir a uma implosão ruidosa e algo histérica da direita institucional e instalada, enquanto as esquerdas se agarram ao fascismo fiscal como se pudessem viver desta artimanha por muito mais anos. Não podem. Os credores não deixam.

O que eu quero dizer com isto é simples: tal como no resto do mundo, embora com algum atraso, Portugal vai precisar de novas referências políticas democráticas para se salvar de outra ditadura, ou, para já, de uma espécie de rotativismo populista, hoje 'de esquerda' (Costa, etc.), amanhã 'de direita' (Santana, etc.)

Se repararem bem, o país económico e financeiro português já não existe, ou o que dele ainda resta são duas realidades, felizmente com resiliência histórica. Por um lado, as pessoas que produzem, mais ou menos na clandestinidade fiscal, ou que emigraram e continuam a investir capital na sua terra, e as nano, micro e pequenas empresas. Por junto, estas são as verdadeiras tábuas de salvação da nossa soberania. Por outro lado, temos os sátrapas e capatazes indígenas (JL Arnaut e quejandos) dos poderes e empresas globais que têm vindo a comprar o país a patacos depois das asneiras e crimes da cleptocracia que arruinou Portugal. De fora disto fica uma enorme inércia institucional, partidária e burocrática, que nada produz e que se vem dedicando de modo cada vez mais descarado e desesperado ao assalto fiscal de quem produz ou simplesmente é topado a mexer-se!

O MEL deste fim de semana poderá chegar tarde demais às necessidade políticas do país. Já lá não vamos sem uma verdadeira transformação democrática do regime, com caras e ideias novas. E para aqui chegarmos, será indispensável apostarmos eleitoralmente em programas partidários e pessoas que querem e propõem ao país uma democracia simultaneamente responsável e liberal. O contrário, portanto, da direita e da esquerda que temos, ambas habituadas a viver do erário público, e a corromper-se alegremente com a pouca riqueza genuinamente criada pelos portugueses.

Este vai ser seguramente um ano agitado. Tempo de ouvir, ler e estar atento aos sinais de esperança.

Nota: quem é Miguel Morgado? Tentem no Google, mas vai ser difícil descobrir uma imagem sequer. Antecipou-se, porém, a Luis Montenegro, ao atirar-se à jugular de Marcelo, acusando-o de interferência nos assuntos internos do PSD. Boa malha!