sábado, junho 02, 2012

Portugal, pagar até morrer


Só podemos saldar a dívida e crescer, com trabalho, poupança e equidade

Sem renegociar as PPP, sem privatizar a TAP e a exploração dos transportes ferroviários, e sem uma reforma profunda da administração pública e do Estado ficaremos escravos da dívida e da indecorosa nomenclatura que levou o país à ruína, pelo menos, até 2020!

Portugal é neste momento atravessado por três grandes dilemas:
  1. O nosso insustentável endividamento fechou as portas ao investimento externo e interno, forçando o Estado a submeter-se a um programa de resgate, sem o qual há muito teria deixado de pagar aos seus funcionários, não sendo por esta razão possível crescer significativamente, na medida em que tal crescimento, pedido pela retórica populista da Oposição (1), implicaria agravar o sobre-endividamento público e privado do país, por sua vez um cenário inaceitável para o único credor ainda disposto a ajudar-nos a sair desta situação: a Troika.
  2. Só uma parte, 50% a 62%, da dívida total do país, é passível de um PSI, também conhecido por haircut; e para piorar as coisas, dado que boa parte da dívida pública reestruturável está nas mãos dos principais bancos portugueses, nomeadamente a colossal dívida das PPP, uma renegociação da mesma, com vista a um desconto privado, corre o risco de rebentar simultaneamente com os principais bancos e grupos económicos portugueses, dada a exposição destes às tetas orçamentais da escanzelada República que uma nomenclatura de piratas sem freio conduziu à posição de refém indefesa dos credores de última instância;
  3. Não conseguiremos libertar-nos da colossal dívida acumulada, sem impormos uma racionalização drástica e urgente do aparelho de estado, das instituições democráticas e do setor empresarial público, exigindo frontalmente o fim da apropriação parasitária do bem comum pela nomenclatura financeira e partidária, e sem causar por outro lado uma redução dramática dos recursos humanos que constam da folha de pagamentos da administração pública.
Estes dilemas terão no entanto e de uma forma ou doutra que ser resolvidos, sob pena de o país inteiro ficar numa situação sem saída, caminhando rapidamente para a alienação progressiva da sua riqueza, e para o advento de uma instabilidade social de consequências imprevisíveis.

Cabe aos partidos em primeiro lugar (para isso vos pagamos) estudar e encontrar com urgência as soluções mais justas e equilibradas para estes dilemas. E cabe ao resto da sociedade participar neste debate. Caímos no poço da dívida. Teremos que saber e conseguir sair dele quanto antes!

Os recentes números da execução orçamental e do desemprego são dramáticos. Veremos o que nos espera na próxima Segunda Feira, ao tomarmos conhecimento do mais recente relatório da Troika.

Até lá será muito instrutivo ler três artigos recentes e interligados sobre Portugal, escritos sucessivamente por Dimitris Drakopoulos e Lefteris Farmakis, do Nomura's Research, Joseph Cotterill, do FT Alphaville, e Claus Vistesen, do Alpha.Sources.CV.

“The math here is very clear. With only about 50 to 62 percent of the debt outstanding liable to restructuring the idea that Portugal may return to the market under “normal” conditions is ridiculous, especially if we assume that this includes the prospect of international creditors doing the bid.

However, there is an important difference between Portugal and Greece. Where Greece had a substantial part of its debt outstanding held by foreign creditors the restructurable debt in Portugal is mainly held by domestic corporates and banks. This is due to the increasing re-nationalisation of sovereign risk on the back of the crisis and specifically the ECB’s LTROs which have incited banks to buy their respective sovereign’s debt. This adds another layer to the Portuguese case in the sense that if the private sector gets hosed, it will mean domestic banking and corporate defaults. The ensuing re-capitalisation would be impossible for Portugal to deal with without EU/IMF help.”

— in Alpha.Sources.CV, “Time Unlikely to be a Healer for Portugal’s Economy”, April 2, 2012

“If you don’t see what Nomura are getting at here, Portugal could burn bondholders, but increasingly those are its own banks. On the Greek pattern, it would then need a eurozone loan to recap those banks, making any debt relief a mirage. And any private bondholders remaining, all the more subordinated.”

— in “If you thought Greek bondholders were subordinated…”, Joseph Cotterill, FT Alphaville, Mar 29 2012 09:03

“In this report we discuss whether a PSI operation similar to that undertaken in Greece will be repeated in Portugal in the near future. Our view is that in the short term momentum has shifted towards the extension of a new financing package to Portugal for a few years (potentially covering its financing needs until 2015) without a PSI operation being set as a prerequisite. Over the medium term, however, we see a fairly high probability of a debt management operation going ahead in Portugal given the country’s significant macroeconomic imbalances and fiscal risks that are likely to significantly delay its return to financial markets.”

— in “Portugal: To PSI or not to PSI?”, by Dimitris Drakopoulos and Lefteris Farmakis, Nomura, 27 march 2012.

NOTAS
  1. A sustentabilidade da economia portuguesa sofre de quatro constrangimentos fatais: a sua aflitiva dependência do petróleo/gás natural; a sua escandalosa intensidade e concomitante ineficiência energética; a sua inaceitável dependência de capital, o qual financia basicamente o consumo mas não o trabalho propriamente produtivo, nem a suficiente produção de bens transacionáveis; e, finalmente, o envelhecimento e encolhimento demográficos que destruirão inexoravelmente a sustentabilidade do estado social que conhecemos nos últimos trinta anos, ficando o setor das exportações, o turismo e, uma vez mais, a emigração, como únicos travões ao empobrecimento em espiral do país. Os quadros e gráficos do estudo promovido pelo banco japonês Nomura são a este título elucidativos.

Última atualização: 2 jun 2012 10:52

sexta-feira, junho 01, 2012

Capitalismo: seis meses de vida?

Foi assim no Zimbabué. E na Europa como será?

Teremos seis meses, ou seis semanas para nos preparar?

Os bancos e o grande dinheiro em geral estão a refugiar-se debaixo das asas dos bancos centrais, comprando-lhes dívida soberana — na América, como na Europa, mesmo se os governos americano, alemão e agora também o suíço já não paguem quase nada pela emissão das suas dívidas soberanas, ou comecem até a cobrar por pedir emprestado! (1)

Nos casos da Grécia, Portugal, Espanha, ou seja, em países à beira da insolvência, os títulos de dívida são depositados no BCE como colateral para obtenção desesperada de liquidez em princípio destinada a economias paradas e endividadas até aos ossos. Acontece, porém, que os bancos dos países que se encontram na unidade de cuidados intensivos da Troika deixaram há muito de emprestar à economia, a não ser em casos pontuais para evitar o colapso de grandes empresas por sua vez endividadas aos bancos que se dispõem a renovar-lhes as linhas de crédito. Preferem mesmo deixar parte substancial do dinheiro que pediram ao BCE a 1% à guarda deste, recebendo em troca 0,25% ! (2)

A situação é desesperada. Sinais deste desespero são, entre nós, a subida imparável do desemprego, os "erros" da execução orçamental, a queda dramática das receitas fiscais apesar da violenta austeridade imposta a todos menos à nomenclatura execrável do regime, os prejuízos que começaram finalmente a saltar dos balanços escondidos das PPPs, grandes empresas do regime, bancos, empresas públicas e autarquias, ou ainda a falta de compradores para a TAP. Finalmente, a fuga de capitais para refúgios como a Suíça e o Reino Unido, que está em curso a grande velocidade, e ao contrário do que a subida dos depósitos domésticos poderá fazer crer, prova que a desconfiança de quem tem algum dinheiro no nosso país subiu para níveis que se podem perfeitamente classificar de corrida aos bancos, e que esta recai não só sobre a situação portuguesa mas também sobre o euro. O dinheiro está a fugir basicamente para a Alemanha, Suíça e Reino Unido.


Raoul Pal, The End Game

Em Espanha, o colapso do bad bank Bankia —que se propôs absorver os balanços catastróficos de boa parte das caixas regionais espanholas— ameaça todo o sistema bancário ibérico, cujo colapso em cadeia desencadearia de imediato a implosão do sistema financeiro mundial (3). O anúncio do Wall Street Journal (4) e subsequente desmentido do FMI (5) da preparação dum plano de resgate da Espanha só pode significar que a crise está a piorar de hora a hora (6).

É possível que uma chuva dourada de euros esteja ao virar da esquina para adiar por mais uns meses a tragédia. Mas é também provável que não chegue a tempo, ou que já não remedeie coisa nenhuma. E se assim for, talvez o futuro venha a decidir-se nos próximos seis meses (ou nas próximas seis semanas) com o pior dos desfechos.

Que tal um regresso aos anos 70 do século passado? Ou mais distópico ainda, que tal uma antecipação do Blade Runner para 2013 (a história passa-se em 2019)? Funcionarão os sistemas energéticos e informáticos se houver um colapso em cadeia na Europa, Reino Unido, Japão, China, EUA (7)?

Raoul Pal pensa que não... Vale a pena ler a sua sintética apresentação, cujos principais tópicos resumo:

  • os dez maiores devedores do mundo devem mais do que 300% do PIB mundial
  • 70 biliões de dólares (70x10E12) correspondentes apenas a uma parte da dívida do G10 (Bélgica, Canadá, Estados Unidos, França, Itália, Japão, Holanda e Reino Unido) são o colateral de contratos de derivados financeiros OTC com uma valor nocional de 700 biliões de USD, ou seja, 12x o PIB mundial
  • a crise da dívida britânica é tão grave quanto a da dívida soberana na zona euro
  • o Japão tem a maior dívida do planeta
  • a China afinal também tem um stock de dívida preocupante
  • e os Estados Unidos poderão andar 30 ou 40 anos para trás em matéria de rendimento per capita depois das próximas eleições presidenciais
  • ou seja, a conjugação, ou dominó iminente destas crises (que não nos dará mais de seis meses de tempo de fuga) acabará com o sistema bancário tal qual hoje o conhecemos (fractional reserve banking e fiat money)
  • os rendimentos das obrigações irão encalhar nos EUA, UK e Japão na casa dos 1% — e até provavelmente abaixo deste número, como provam os recentes leilões de dívida soberana na Alemanha e na Suíça (nota minha)
  • o mercado de obrigações irá pois morrer em breve :(
  • vários instrumentos de investimento, protecção e sobretudo especulação financeiras irão ser banidos assim que o colapso começar (short selling on bonds, short selling stocks, CDS, short futures, put options)
  • sobrarão apenas o dólar e o ouro depois do grande colapso...

“We don’t know exactly what is to come, but we can all join the very few dots from where we are now, to the collapse of the first major bank...

With very limited room for government bailouts, we can very easily join the next dots from the first bank closure to the collapse of the whole European banking system, and then to the bankruptcy of the governments themselves.

There are almost no brakes in the system to stop this, and almost no one realises the seriousness of the situation.” — in Raoul Pal, The End Game.

The End Game

NOTAS
  1. "Europe's "Teleportation To Safety" In One Chart". ZeroHedge, 05/31/2012.
  2. ECB key interest rates
  3. "IMF Begins Spain's Schrodinger Bail Out". ZeroHedga, 05/31/2012.
  4. "IMF Begins Talk On Spain Contingency Plans - Sources". Wall Street Journal, 30/05/2012.
  5. "Christine Lagarde nega plano de assistência do FMI a Espanha". Negócios, 31-05-2012.
  6. "Futuro do euro joga-se “nas próximas semanas”, diz o ministro espanhol das Finanças". Público, 31-05-2012 22:20.
  7. "Greece's debt woes mutate into energy crisis". Reuters, 1 jun 2012 10:09.
     
Última actualização: 1 Jun 2012 19:42

quinta-feira, maio 31, 2012

Piratas unidos atacam governo!

Miguel Relvas, o general das nicas

A solução é avançar com a privatização integral da RTP quanto antes. Transparência e que ganhe o melhor!

Bruxelas desafia Governo a "enfrentar os fortes interesses instalados". Empresas públicas e municipais, autarquias e regiões podem pôr em perigo o cumprimento das metas de 2012.

Os recados não são novos, mas são significativos pela insistência com que são repetidos. Primeiro: o Governo precisa de determinação para "enfrentar os fortes interesses instalados" que estão a obstruir reformas. Segundo: apesar de o plano orçamental português estar bem desenhado, subsistem diversos riscos que podem levar a uma derrapagem das metas do défice orçamental com as quais o País se comprometeu — in Negócios, 31 maio 2012.

Esperemos que estes dois transmontanos lisboetas, Barroso e de Coelho, se entendam e que o país deixe de ser uma coutada de rendeiros bancários e de chulos partidários, ambos, ainda por cima, sem qualidades.

É preciso ter presente que neste momento os autarcas piratas e os piratas das fundações estão unidos num combate de morte (ainda que com luvas de boxe revestidas do veludo mais fino) contra Passos de Coelho. Eu não posso com o Relvas nem com molho de tomate, mas a verdade é que o desajeitado está a servir de alvo para atingir o governo em funções — com a fanfarra mediática que juntou o império falido da Impresa, o império igualmente falido da Prisa e o império que não chegou a nascer nem chegará nunca a levantar voo do Azevedo júnior.

Do Pacheco Pereira à querida Clara Ferreira Alves, passando pelo meio-irmão do alcaide de Lisboa, aquilo a que temos vindo a assistir é a um maremoto de propaganda em causa própria. Expresso-SIC-TVI-Público juntaram-se para defender os patrões. Elementar para quem quiser ver as coisas como são.

Ora aqui está uma boa oportunidade para Passos de Coelho e.... Barroso ganharem pé numa imprescindível e mais acelerada substituição da geração que tomou o poder democrático das mãos militares que derrubaram a ditadura, não tanto para construir uma verdadeira democracia, mas antes para enriquecer desmesuradamente à sua sombra, ao mesmo tempo que levaram Portugal sucessivamente à falência!

A crise das ditas Secretas, e o episódio Relvas devem servir, por outro lado, para travar a desmiolada ambição dos cabeças de brilhantina do Compromisso Portugal. Do que precisamos é de corrigir rapidamente o regime, com sabedoria histórica, conhecimento técnico, determinação política e franqueza democrática.

quarta-feira, maio 30, 2012

O PSD afinal move-se!

Jorge Moreira da Silva, coordenador da comissão política do PSD: uma surpresa!

Jorge Moreira da Silva (PSD), uma das primeiras vozes politicamente articuladas que escutei ultimamente no domínio partidário deste país.

O vice-presidente do PSD Jorge Moreira da Silva avisou hoje que os sociais-democratas não têm “o papel de ‘baby-sitter’” do PS nem podem obrigá-lo “a ser um partido responsável” acusando os socialistas de uma “retórica radical” — in DN, 28 abril 2012.

A prestação que este jovem vice-presidente e coordenador-político do PSD acaba de ter no Jornal das 9 (SIC/Mário Crespo) surpreendeu-me pela sua qualidade e auto-controlo.

Seria bom que o PSD inaugurasse um novo paradigma de comportamento partidário, conquistando progressiva e pública independência de espírito face ao parlamento e face ao governo de turno. Em última análise, em democracia, são os partidos que decidem a vida dos parlamentos e dos governos. Mas devem fazê-lo assumindo-se claramente como instituições públicas transparentes, responsáveis e assertivas, sem prejudicar, claro, os poderes e competências dos demais.

O modo muito inteligente como Moreira da Silva defendeu a esperança e o direito das jovens gerações a não verem o seu futuro destruído pela terceira idade manhosa que nos governa, repondo a justiça e a lei onde quer que tenham sido violadas, manipuladas, enviesadas — é um claro sinal de que há outra juventude para lá das matilhas de jovens ambiciosos sem escrúpulos que de qualquer maneira pretenderam tomar de assalto o regime. Refiro-me claramente aos yuppies de gel e Mercedes que promoveram o chamado Compromisso Portugal. E quando digo terceira idade que nos governa, deveria ressalvar: ainda governa —nomeadamente tentando condicionar a ação de Passos Coelho.

Quem é este novo protagonista? Encontrei boas notícias: nasceu (1971) em Vila Nova de Famalicão, engenheiro e gestor por universidades do Porto, e já trabalhou profissionalmente para o Banco Europeu de Investimento, Comissão Europeia, Presidente da República e Nações Unidas. Um dos seus interesses: a Plataforma para o Crescimento Sustentável. Tudo mais claro, depois desta pesquisa rápida!

 Jorge Moreira da Silva: Europa precisa de Plano Marshall

“Se a Europa fizer aquilo que deve no estímulo à economia, na consolidação orçamental, na maior harmonização do mercado interno, na mobilidade de pessoas e de bens, se for capaz de fomentar a política industrial, a economia verde, o conhecimento, se for capaz de fazer destas alavancas verdadeiras alavancas do crescimento, isso não apenas ajudará a responder à crise europeia, mas fará com que a crise em Portugal possa ser respondida também de uma forma mais solidária da Europa em relação a Portugal”, afirmou” — in Negócios, 20 maio 2012.

A ideia sobre o novo Plano Marshall (x100, claro!) é certeira, mas implicará, como se sabe, um salto quântico na União Europeia, nomeadamente em matéria de integração de políticas fiscais e orçamentais, programas económicos e educativos propriamente ditos, justiça e até de ação policial —não só anti-terrorista, mas também anti-corrupção. Vai ser difícil, mas quando a Grécia começar a deitar sangue pelos ouvidos o resto da Europa compreenderá!

E no PS, quando é que surgirá sangue verdadeiramente novo?


REFERÊNCIAS

Jorge Moreira da Silva e o Congresso do PSD, programa Contracorrente, com Ana Lourenço, SIC-N

terça-feira, maio 29, 2012

A caminho da Grécia?

Lisboa deveria seguir o exemplo de Pequim, para não morrer de pobreza e estupidez

Precisamos de duas cidades-região: Lisboa e Porto

Governo exige impostos e taxas no máximo a câmaras em ruptura
O Governo quer obrigar as cerca de 70 autarquias em situação de ruptura financeira a aumentar todos os impostos municipais e taxas para níveis máximos, como condição para aceder à linha de financiamento de mil milhões de euros destinada a pagar as suas dívidas de curto prazo. O acordo foi ontem firmado entre o Governo e a Associação Nacional de Municípios e estabelece ainda que, para se candidatarem, as autarquias devem desistir de processos que tenham interposto ao Estado — in Negócios on-line, 29-05-2012 0:09.

Tal como o Negócios tinha também já avançado, na retenção do IMI houve recuo do Governo: os 5% já foram retidos nas transferências efectuadas este mês. Os municípios conseguiram, porém, assegurar que a verba adicional de IMI, resultante da reavaliação de imóveis, fica mesmo nos cofres das câmaras. Em causa estão 250 milhões de euros — in Negócios, 28-05-2012 20:48.

Em vez de exigir a reforma imediata dos maus hábitos autárquicos, o fim de empresas municipais manhosas, das comissões por baixo da mesa, das mordomias, dos automóveis de alta cilindrada, e de outras palermices ruinosas, o Relvas exige, vejam só, que se aumente a carga fiscal sobre os indígenas municipais! É caso para suspirar... se estes continuarem embasbacados com a "a nossa seleção", encolhendo uma vez mais os ombros a propósito das coisas que deveriam chamar a sua atenção, terão o que merecem :(

Se não impusermos, por imperativo democrático, poupança, regras de transparência e competência de gestão aos autarcas, e não forçarmos em lei uma supervisão sistemática dos gastos municipais, serão os nossos credores a fazê-lo. Se este governo pensa que pode ensinar os dez milhões de burros que pagam impostos a não comer, nem beber, desengane-se. À medida que forem perdendo peso, pagarão menos impostos, e depois de mortos ainda custarão, pelo menos, um caixão cada um!

O ministro Miguel Relvas é um cadáver adiado. Logo Passos de Coelho, das duas uma, ou o substitui ou não terá qualquer reforma autárquica, nem privatização da RTP, nem coisa nenhuma daqui para a frente, a não ser dores de cabeça que irão aumentar até se tornarem insuportáveis.

O governo deve desenhar com os deputados a inadiável reforma autárquica de uma ponta à outra, em vez de mercadejar remendos de merceeiro aos alcaides ("...as autarquias devem desistir de processos"). E deve discuti-la no parlamento e nas autarquias, e deve promover o debate público sobre o tema, e deveria mesmo levá-la a referendo. Se o povo não quiser racionalizar a administração local, então pagará do seu bolso o preço do imobilismo e da ignorância. O exemplo grego está aí para todos vermos como vão ser os futuros estados falhados da Europa.

O principal da reforma autárquica deve começar pelas regiões de Lisboa e do Porto, e não pelas freguesias rurais! É em Lisboa e no Porto que se deve eliminar a principal gordura autárquica, fundindo freguesias, e sobretudo criando duas cidades-região como são hoje todas as grandes cidades que funcionam bem: Londres, Paris, Pequim...

No caso de Lisboa, o ponto de partida deveria ser o regresso ao conceito de uma cidade-região decalcada do mapa da antiga Região de Lisboa e Vale do Tejo, o qual só foi abandonado para efeitos estatísticos e de angariação de fundos do QREN (por causa do embuste aeroportuário da Ota?).

Esta cidade-região seria, como a de Paris, ou a de Pequim, organizada em anéis ou semi-circulares, de Lisboa para a Grande Lisboa e desta para a região de Lisboa, marcada por dois grandes rios: o Tejo e o Sado. Uma assembleia com 50 deputados, um por cada um dos concelhos, um executivo formado por um presidente e nove vice-presidentes, e 30 ou 40 unidades técnicas de gestão (Pequim tem 47), dariam coerência, riqueza conceptual, coesão, e grande força democrática às decisões estratégicas. As freguesias da cidade-região deveriam reunir-se anualmente em congresso, tecnicamente bem assessorado, com a missão clara de reforçar o exercício local da democracia e garantir um desenvolvimento equilibrado de todo o território municipal. A poupança, a eficiência e a capacidade de idealizar e desenhar a nova metrópole sustentável (urbana, suburbana e rural) para o clube das grandes cidades-região polinucleares mundiais seria quase imediato. Numa década a criação das cidades-região de Lisboa e do Porto, marcadas pela sua história e urbanidade, mas também pelos seus estuários e pelas suas cuidadas zonas e riquezas agrícolas mudariam radicalmente a performance estrutural do país.

Pequim é assim (LINK):

I — Cidade antiga (da Cidade Proibida até ao 2ª anel)
  • Xicheng: 46,5 km2; 1.243.000 hab.; 26.731 hab./km2
  • Doncheng: 40,6 km2; 919.000 hab.; 22.635 hab./km2
II — Zona urbana entre os 2º e 5º anéis
  • Haidian District: 426.0 km2; 3.281.000 hab.; 7,702 hab./km2
  • Chaoyang District: 470,8 km2; 3.545.000 hab.: 7.530 hab./km2
  • Fengtai District: 304,2 km2; 2.122.000 hab.; 6.043 hab./km2
  • Shijingshan District: 89,8 km2; 616.000 hab.; 6.860 hab./km2
III — Subúrbios urbanos próximos (6º anel)
  • 7.490 km2; 6.322.000; 844 hab./km2
IV — Subúrbios exteriores e áreas rurais
  • 7.947,9 km2; 1.574.000; 198 hab/ km2
Cidade-região
  • 16.815,8 km2; 23.452.000 hab.; 1.395 hab./km2

Lisboa é assim (segundo o modelo LVT):

Mapa da cidade-região de Lisboa (LVT)
ampliar

I — Lisboa
  • 83,84 km2; 547.631.000 hab.; 6.531,9 hab./km2
II — Área Metropolitana de Lisboa
  • 2.940 km2; 2.819.000 hab.; 959 hab./km2
III— Região de Lisboa e vale do Tejo
  • 11.741 km2; 3.664.000 hab.; 312hab./km2

Comparando as superfícies das duas cidades-região, nem sequer são tão díspares quanto se poderia supor. Pequim tem cerca de dezassete mil quilómetros quadrados, enquanto a região de Lisboa tem quase doze mil. Onde as diferenças resultam muito fortes é nas sucessivas áreas densa ou mediamente urbanizadas e na densidade populacional de cada uma das cidades.

Esta comparação com Pequim serve apenas de exemplo do exercício que é preciso fazer, e do que deve fundamentar as discussões e as decisões políticas. Em vez da gritaria parlamentar, sempre esvoaçando por cima da espuma da realidade, ou destas reuniões caricatas entre autarcas sabidos e ministros tão ambiciosos quanto desastrados, precisamos de discussões adultas sobre os problemas.

Portugal está a um ou dois passos de entrar no clube dos estados falhados da Europa. Haverá alguém capaz de explicar a gravidade da situação ao rapaz que o PSD colocou a representar o papel de primeiro ministro de Portugal?

segunda-feira, maio 28, 2012

Limitar o défice externo

Só os fracos não se protegem!
Foto: Gabriel Moreno para Repsol

Argentina conhece bem as feridas da especulação. Faz bem em colocar-se na vanguarda de uma globalização não destrutiva!

The European Union filed a suit against Argentina's import restrictions with the World Trade Organization (WTO) today (25 May), intensifying the disputes between the South American nation and its trading partners.

The EU's executive Commission said the case followed restrictive measures by Argentina, including an import licensing regime and an obligation on companies to balance imports with exports. EurActiv, 25 May 2012.

Argentine President Cristina Fernández de Kirchner unveiled plans yesterday (16 April) to seize control of leading energy company YPF, which is controlled by Spain's Repsol, drawing swift warnings from the European Union and risking the country's economic isolation.

YPF has been under intense pressure from Kirchner's center-left government to boost production, and its share price has plunged due to months of speculation about a state takeover.

Kirchner said the government would ask Congress, which she controls, to approve a bill to expropriate a controlling 51% stake in the company by seizing shares held exclusively by Repsol, saying energy was a "vital resource". EurActiv, 17 April 2012.

A abertura ilimitada de fronteiras à circulação de investimentos (nomeadamente especulativos), de bens e serviços é prejudicial à economia mundial e aos países. Aliás não se percebe a discriminação: limitam-se de forma ultra-liberal os movimentos de pessoas, mas permitem-se transações financeiras especulativas globais, dumping mercantil e banditagem empresarial livre entre países sem qualquer limte. Esta globalização de piratas, como é hoje patente em todo o mundo, borregou.

A América Latina, como antes a Ásia e ainda hoje a África e parte do Médio Oriente são coutadas de caça livre dos países ocidentais. Claro que para que isto aconteça é fundamental contar nestes continentes e sub-continentes com nomenclaturas económicas, financeiras e políticas completamente corruptas e sem nenhum sentido patriótico. Assim tem sido até que a China, a Índia e em certa medida o Brasil inauguraram um paradigma anti-colonial menos corrupto e sobretudo mais estratégico, diferenciando-se claramente do não-alinhamento rasteiro do cartel inicial da OPEP.

Talvez porque a importância estratégica crescente destes países (sobretudo a China e a Índia) derive mais do trabalho do que da simples extração de riqueza dos subsolos, a defesa dos interesses históricos, económicos e culturais dos respetivos povos assumiu uma importância inédita nas negociação estratégicas bilaterais e globais. O voo de rapina que a Espanha inesperadamente rica (sabemos hoje que foi resultado de uma gravidez de aluguer) realizou nas décadas de 1980-1990 sobre as suas antigas colónias americanas fez estragos violentos nesses países, e revelou até que ponto o colonialismo continua vivo no subconsciente recalcado dos herdeiros do antigo império espanhol. A reação da Bolívia e da Argentina à arrogância de Madrid e do caricato e decadente rei espanhol (quem não se lembra da arrogância chula do senhor Juan Carlos quando se virou para Hugo Chávez e ralhou: "por qué no te callas?!") assinalam na realidade o fim de uma ilusão europeia: que os antigos impérios (português, espanhol, holandês, inglês e francês) regressariam aos respetivos locais do crime com os bolsos cheios de euros e um novo plano de rapina escondido entre sorrisos. Não vai acontecer!

A Europa vai ter que se reinventar. E vai ter que optar entre morrer ou criar um novo paradigma cultural de vida, onde a felicidade ande de mãos dadas com o resto do mundo e com a Natureza a quem tanto mal fez. Esta, aliás, começa responder com crueldade divina!

Assim como é legítimo e além do mais racional impor limites institucionais (e constitucionais) ao endividamento público das nações, também terá que passar à categoria de lei internacional o limite ao desequilíbrio comercial entre os países. A dívida externa bruta de qualquer país e a sua balança de transações devem ser limitadas por leis mundiais, e controladas com base em mecanismos de decisão automática. É este o debate que temos que começar desde já, em vez alimentarmos o circo macabro da expropriação fiscal dos povos em nome dos piratas financeiros e das burocracias populistas que por estupidez continuamos a deixar liderar processos destrutivos em nome de vontades eleitorais fabricadas.

domingo, maio 27, 2012

O tio Balsemão está vivo, porra!

Maria José Oliveira, jornalista do Público. Foto: Enric Vives-Rubio

O alvo não é o perfumado Relvas, mas Passos de Coelho

Balsemão vai processar Ongoing por causa de relatório sobre a sua vida privada


De acordo com o processo das secretas, que está no DIAP – Departamento de Investigação e Acção Penal - Jorge Silva Carvalho, ex-espião e então quadro da Ongoing pediu, no início de Setembro do ano passado, a Paulo Félix, então quadro da empresa, que elaborasse um relatório sobre Balsemão, em especial informações financeiras como os empréstimos que o grupo Impresa tinha e quando venciam. Não se percebe de quem terá partido o pedido inicial, mas são conhecidas as guerras entre o presidente da Ongoing, Nuno Vasconcellos e o seu padrinho Francisco Balsemão — in Público, 26 mai 201 18:37 

Que eu saiba os jornais sempre compilaram informação sobre empresas, eventos e pessoas. Se não fosse assim como é que conseguiam publicar os obituários a horas? A Ongoing (que é um grupo com investimentos vários no sector de conteúdos, nomeadamente informativos), tal como a Impresa, dona da SIC, do Expresso, da Visão e do resto do quase falido império de publicações presidido pelo notável timoneiro da imprensa portuguesa, Francisco Pinto Balsemão, têm dossiês e fazem relatórios todos os dias sobre A, B e C. Não espiam, investigam, compilam, analisam, sublinham e selecionam para depois organizar a cacha da notícia! Não confundamos, pois, os procedimentos típicos do jornalismo com os procedimentos típicos das políticas secretas. São parecidos, mas não são a mesma coisa. No primeiro caso, a missão é informar o público satisfazendo a liberdade da informação e o direito democrático a tê-la. No segundo, a informação serve para defender os interesses vitais e estratégicos do Estado. Os relatórios até podem conter informação idêntica, mas o uso e a forma que se pode ou não dar a essa informação é que varia radicalmente.

As anunciadas relações de promiscuidade entre a Ongoing e os o serviços secretos nacionais (SIED), por via de ex-funcionários destes serviços (Jorge Silva Carvalho, etc.) entretanto contratados pela Ongoing, se são ilegais (deveriam ser, mas duvido que sejam) têm que ser explicadas e demonstradas antes de as tomarmos por evidências numa guerra de gerações cujos contornos é preciso antes de mais conhecer.

No caso vertente, se o ministro Relvas fez as ameaças destemperadas que parece ter feito ao Público, nas pessoas de uma jornalista e de uma editora, deve ser liminarmente demitido. Ponto final.

E se o Jota PM não perceber isto mesmo durante este fim-de-semana, então o verdadeiro alvo deste golpe de aiquidô desenhado pela nomenclatura que promoveu uma democracia de piratas inimputáveis e que teme agora perder alguns dos privilégios acumulados é ele!

Em qualquer democracia normal já se saberia quem é o namorado oposicionista da jornalista do Público, não por qualquer curiosidade erótica, mas pela simples e óbvia necessidade de saber se pode ou não ter havido instrução partidária da jornalista. No jornalismo, como na política, o que parece é, embora neste caso, se identificarmos a motivação da guerra em curso, só por solidariedade de geração alguém do PS poderia estar envolvido nesta trapalhada.

Dito tudo isto, e estando eu de acordo com a privatização integral da RTP (1), pois não faz qualquer sentido haver televisões públicas broadcast nos dias que correm, salvo para financiar por debaixo do tapete, com dinheiro dos contribuintes, mais uma extensão partidária da democracia populista que temos, a verdade é que, pelo que hoje se julga saber, a operação RTP terá sido uma oportunidade para o senhor Relvas, afinal, tentar entregar uma infraestrutura pronta a usar e com marca registada há décadas a um Iznogoud que de cada vez que tenta assassinar o tio, perdão, o Califa, sai a perder e deixa os leitores a rir à gargalhada. Mais um motivo para despedir sem justa causa o perfumado Relvas quanto antes. O homem mentiu, e é irascível!

Francisco Pinto Balsemão ainda se cruza comigo na genealogia. Eu sou um Pinto pós-moderno herdeiro de uma larga genealogia de Pintos de Riba Bestança, dos senhores de Torre Chã, em Tendais de Cinfães, e ele também, mas herdou de outro ramo, que cresceu a partir de Balsemão, em Lamego. O distrito e o apelido são os mesmos, mas as histórias separaram-se há muito. Se faço esta excursão pela genética é para lembrar apenas que não é fácil, nem aconselhável, subestimar ou pretender destruir de ânimo leve as malhas que tecem o país. Eu também creio que o regime desta II ou III República morreu de falta de lucidez, de falta de união, de falta de estratégia, de falta de firmeza nos princípios democráticos e morais, de corrupção em suma. Mas isso não significa que o país possa ser assaltado por uma qualquer quadrilha de novos ricos, sempre muito perfumada e de pelo esculpido, mas muito estúpida e ignorante das realidades e histórias básicas do país. A transição é necessária, mas não pode fazer-se de qualquer maneira. Até por que o que parece frágil e velho, pode ser apenas antigo e por isso surpreendentemente forte!

O país caminha para uma balbúrdia. Sempre que esteve tão falido como agora está, ou veio alguém salvá-lo —cobrando um preço, claro—, ou perdeu-se em medo, assassínios, roubos e finalmente golpes de estado e guerras. Um exemplo claro do mal que os parvenu, mesmo bem intencionados, podem trazer a Portugal é a insensatez com que o Gasparinho, do alto da sua fraca coragem, começou a confiscar as células e as famílias produtivas do país. O resultado é este: perde impostos, rebenta com uma economia de resistência quase milenar, e desvia os poucos recursos que ainda existem para alimentar o mesmíssimo monstro e as mesmíssimas clientelas que objectiva ou intencionalmente consumiram, para mais de um século, Portugal.

A resposta do velho Pinto Balsemão ao seu afilhado sem regras é, tudo pesado, um sinal de esperança num país que parece desabar sob o peso de uma amnésia suicida.

NOTA
  1. Toda a poeira ofendida levantada em volta do caso das "secretas" tem uma razão: a guerra de poder em curso entre Francisco Pinto Balsemão e Nuno Vasconcellos. Este último é afilhado de casamento do primeiro, e dono de 23% da Impresa, maioritariamente detida por Balsemão. Esta batalha é a ponta de uma guerra entre os yuppies do Compromisso Portugal e a geração mais velha que, de uma maneira ou doutra, domina o país desde que conseguiram fazer regressar o MFA aos quartéis. Sem este pano de fundo não se percebe nada!

    Depois há o caso RTP. E aqui as contas são simples: se a Ongoing, por intermediação (pelos vistos desastrosa) de Miguel Relvas, tivesse conseguido ganhar a corrida à privatização parcial da RTP, teríamos a principal marca registada da televisão portuguesa nas mãos do Moniz. A consequência seria praticamente inevitável: ou a TVI, ou a SIC acabariam por sucumbir à nova RTP. Daqui a aliança que entre Balsemão e os senhores da Prisa se estabeleceu com um único propósito: impedir a privatização da RTP, ou na impossibilidade de o conseguir (por causa do Memorando da Troika), queimar por todos os meios a estratégia da Ongoing. É aqui que Miguel Relvas se transformou num alvo, pelos vistos fácil de atingir. Solução? Fechar pura e simplesmente a RTP broadcast e criar em seu lugar a RTP webcast, exclusivamente de serviço público, assente numa plataforma inovadora de redes sociais e serviços de conteúdos multicanal especializados.
REFERÊNCIAS

Última atualização 27 mai 2012 23:34

sexta-feira, maio 25, 2012

AKB48 vendem o Japão!

Num país de velhos, o Japão, nada excita mais do que a juventude...

Depois da AK47 vêm aí as AKB48... salvar o mais endividado país do planeta

Japan hires top girlband AKB48 to sell government bonds
Japan's cash-strapped government is reportedly turning to popular music group AKB48 to help it sell government bonds, as interest in the low-yield paper wanes  — in Telegraph.

Frankfurt quer as pernas do Ronaldo no caso del agujero de nombre Bankia —19 mil milhões de euros à vida :-( não for rapidamente tapado (com quê? cimento não serve, nem há! só se for mais um ou dois milhões de espanhóis desempregados?!)

Já o BOJ (Banco do Japão) quer "ídolos" tenrinhos para vender dívida pública do país com a maior dívida soberana do planeta :(

Olhando para o quadro da dívida pública mundial, ainda sem os dados de 2011, é caso para dizer que só encharcados em álcool, pastilhas e sexo virtual é que algum gestor de fundos ou pirata milionário irá comprar mais dívida pública onde quer que seja. A não ser que queira ter uma trip muita louca no interior do buraco negro dos derivados tóxicos que estão a destruir.... O CAPITALISMO!

Entretanto, enquanto não morrem, deliciem-se!

Ronaldo: o meu reino pelas tuas pernas!

As belas pernas de Cristiano Ronaldo poderão servir de colateral para salvar o falido Bankia, com um buraco de mais de 15 mil milhões de euros … e a aumentar!!!

A crise chegou ao balneário!

The most expensive footballer in history may now be used to guarantee the solvency of a Spanish bank. “Ronaldo in the bailout fund,” headlines Süddeutsche Zeitung. The daily reports that the Bankia group of savings banks, which financed Real Madrid’s acquisition of the Portuguese player, is now seeking to borrow funds from the European Central Bank. In response to the ECB’s demand for guarantees, Bankio are putting up… Ronaldo and the Brazilian Kaka, who also plays for the Madrid football club. In 2009, Real borrowed 76.5 million euros to pay transfer fees of 100 millions euros to Manchester United, and 60 million to Milan AC — in presseurop.

Um colateral com pernas chamado Ronaldo! Poderá o madeirense evitar a queda estrondosa do Bankia? Duvido. Mas que a tragédia está a ficar engraçada, lá isso está!

Infelizmente estamos dentro daquele proverbio: "Casa onde não há pão, todos ralham e ninguém tem razão!"

O Ocidente (Europa-América) —pela lógica capitalista convencional— apostou na liberalização dos mercados, por interesse próprio, e perdeu. Exportou as principais indústrias e o trabalho produtivo para a Ásia, e passou a medir o seu crescimento pelo consumo, isto é, pelo endividamento púbico e privado! É este o principal pecado mortal que nos condenou a esta situação aflitiva...

A Europa só tem agora uma saída: o federalimso puro e duro... com redução drástica e porventura tumultuosa das atuais nomenclaturas demo-populistas e das vastas burocracias administrativas e partidárias.

A Espanha, por exemplo, não pode continuar com o estado paquidérmico que tem (50% da dívida pública é gerada pelas ditas autonomias, incluindo as inúteis televisões autonómicas, e outras tonterias....) E Portugal tem que diminuir para metade o número autarquias urbanas, nomeadamente nas regiões de Lisboa e Porto, e para menos de metade o número de zombies inúteis e submarinos parlamentares que elegemos inconscientemente de quatro em quatro anos. E a Itália..., e a França.....

Entretanto, o Super Mário vai baixar os juros outra vez, e a Alemanha lá terá que autorizar a impressão de pelo menos mais um ou dois biliões de euros, agora que a China anunciou que não vai comprar mais dívida podre europeia, exigindo a Alemanha, porém, e eu apoio, a concentração das decisões estratégicas, orçamentais e fiscais nas sedes de poder da própria União.

E para alegrar este folclore teremos as pernas do Ronaldo como colateral do Bankia ;)

PROGNÓSTICO

Itália e França aliados no tema das eurobrigações.

A Alemanha acabará por ceder mas vai exigir uma maior federação europeia. É o salto quântico que os verdadeiros europeístas, como eu, esperam! Temos que reduzir os excessos de endividamento parasitário, e de burocracia, nomeadamente partidária, bem como de protagonismos provincianos de quem já não tem dentes para mastigar. Um salto de racionalidade, de transparência e de justiça, precisa-se urgentemente!

Troika, ajuda-nos a limpar Portugal da corja de corruptos inúteis! Sim, é escandaloso o nível de vencimentos auferidos por quem nada produz e levou o país à insolvência.

quinta-feira, maio 24, 2012

Euros de quarentena

Não entre em pânico, mas o pânico já começou!

Para aceder ao gráfico explicado em áudio vá até ao Financial Times

Está na altura de tomar algumas medidas imediatas de precaução:
  • não ter mais de 50 mil euros em depósitos bancários, pois não acredito na garantia dos 100 mil euros prometida pelo governo se o pior acontecer —basta acompanhar o mais recente debate de surdos sobre a conveniência ou não de implementar uma garantia de depósitos única na zona euro, sobre o qual a Cimeira informal de ontem disse nim :(
  • manter uma despensa com provisões de produtos alimentares não imediatamente perecíveis para um/dois meses;
  • guardar num baú uma boa porção de euros: 1.000, 2.000, 5.000, 10.000, ... ;
  • mudar imediatamente todos débitos em conta para sistemas de cobranças convencionais: pagamentos de faturas contra recibo, nomeadamente via multibanco;
  • falar da crise e dos problemas pessoais e familiares com a família mais próxima e com os amigos;
  • não anunciar aos quatros ventos as medidas tomadas.
Atenção às dificuldades crescentes que o seu banco colocará aos levantamentos em numerário. O melhor mesmo é usar diariamente o Multibanco para este efeito: retirando o máximo autorizado.

Isto não é uma previsão, nem um conselho, mas apenas um aviso de que as coisas podem correr mal.

A decisão de enviar este sinal de alarme tem que ver com a deterioração rápida da economia mundial, nomeadamente na Europa, nos Estados Unidos e na... China, revelada nomeadamente pelo comportamento recente dos grandes investidores e especuladores.

Principais sinais de preocupação:
  1. Os bancos estão a colocar o dinheiro que obtêm emprestado do BCE em troca de títulos de dívida soberana à guarda do próprio BCE, perdendo até algum dinheiro nestas operações —de onde a conversa fiada sobre o crescimento não passar de mais uma burla mediática, pois aquilo a que assistimos neste momento é à destruição fiscal do país, que o manga de alpaca partidária António José Seguro obviamente não vê, nem quer entender;
  2. Os aforradores, investidores e especuladores estão a desfazer-se rapidamente dos Certificados de Aforro (mal por mal, o único papel que ainda vale alguma coisa é o euro!);
  3. Os grandes investidores e especuladores internacionais estão a reorientar enormes fluxos de liquidez para os títulos dos tesouros americano e alemão, ao mesmo tempo que se desfazem dos últimos títulos bolsistas das empresas e bancos a caminho da insolvência;
  4. O fracasso estrondoso do lançamento em bolsa do Facebook revela o pânico que grassa nos mercados especulativos;
  5. O endividamento público dos Estados Unidos (103% do PIB...) e o endividamento público de vários países europeus (Grécia, Portugal, Espanha, França, ...), bem como a situação financeira do Reino Unido desenham um panorama cada vez mais crítico, de onde mais cedo ou mais tarde surgirá uma crise inflacionista de grandes proporções;
  6. É muito improvável que a Alemanha aceite a criação de euro-obrigações sem obter em contrapartida um salto qualitativo na Eurolândia, isto é, sem a imediata federação financeira, fiscal e estratégica (infraestruturas, tecnologia, investigação e desenvolvimento) da União — o que só acontecerá quando países como a Espanha, Itália e... França estiverem descaradamente a caminho da situação em que hoje está a Grécia;
  7. Que resposta dará Hollande depois de ser informado pelos alemães da real situação de pré-insolvência de vários estados europeus?
  8. As medidas paliativas na Europa (e em Portugal) estão a chegar ao limite, sobretudo agora que a China anunciou que não continuará a alimentar este interminável festim de irresponsabilidade e cobardia política;
  9. Ou se dá um novo golpe de rins federal na União, ou seremos todos apanhado pelo inevitável colapso da economia grega este verão, semanas ou poucos meses depois das eleições de 17 de junho;
  10. Como tenho escrito repetidamente, a Alemanha tudo fará para manter o euro, que já é sem sombra de dúvida uma moeda de reserva mundial alternativa ao declínio inexorável do dólar;
  11. Até agora tivemos o euro-marco, que deu mau resultado. A crise sistémica em curso poderá assim forçar a Alemanha a optar por um euro menos forte (à volta dos $1.20) ou in extremis pelo estabelecimento de zonas de quarentena monetária dentro da zona euro, no interior das quais o euro circularia a par de moedas nacionais/regionais temporárias (euro-dracma, euro-escudo, euro-peseta, euro-lira, ...) A paridade entre o euro legítimo e os euros de quarentena estaria sujeita a uma banda de oscilação negocial estabelecida entre o BCE e os bancos centrais dos países em dificuldade ou de cabeça dura (a conversão automática dos depósitos e dívidas em moedas de quarentena seria uma consequência lógica deste passo —daí a minha recomendação para desviar o euro legítimo para o baú, enquanto é tempo!);
  12. Há sempre a possibilidade do regresso da Alemanha ao marco tout court, mas aí o par dólar-libra teria ganho mais uma guerra fratricida em curso entre anglicanos e protestantes —os financeiros judeus apostam, como sempre, nos dois :(
Sem nova revolução democrática este gráfico não será tão cedo invertido :(
 
Ao contrário da situação que agora temos e se vem deteriorando de forma acelerada e dramática (ver a queda expectável das receitas fiscais hoje divulgada pela DGO), em que a manutenção do euro-marco, como moeda forte cada vez mais inacessível nestes países falidos, improdutivos, indisciplinados, populistas e corruptos, apenas poderá potenciar a sua destruição, como tem ficado patente no caso grego, já com a criação de regiões de quarentena alguns países UE poderiam voltar a ter temporariamente moedas próprias, embora indexadas ao euro legítimo, ganhando desta forma uma nova possibilidade temporal de reformar as suas economias, as suas instituições, os seus sistemas de poder e os seus degenerados pactos sociais — destruindo de uma vez por todas as nomenclaturas parasitárias que deixaram de ter qualquer função nesses países e só contribuem para a inviabilidade sistémica dos mesmos.

O ciclo colonial europeu chegou ao fim, 600 anos depois da conquista de Ceuta (1415)


POST SCRIPTUM

We will start with an appetizer of Liquidity Tenders and Securities Market Program Bond Purchases, move on to a plate of Emergency Liquidity Assistance, sample a pre-entre of Pro-Growth measures and ECB Covered Bond purchases, dive into an entre of Fed Swap Lines, medium rare, with a side of Emergency Liquidity Assistance, and finally unwind with a desert plate of Firewalls. To close we will dream of tomorrow' menu which some say may feature the mythical Eurobonds and even the, gasp, legendary Europan Bank Deposit Guarantee...
Please charge it all to the taxpayer, of course — in ZeroHedge.




Uma eventual saída da Grécia do euro não será anunciada previamente! E se vier a ocorrer seria praticamente impossível evitar um contágio imediato a Portugal, Itália e Espanha, com inevitáveis corridas aos bancos nestes três países. O colapso da moeda única tornar-se-ia então iminente.

Portanto, se a Grécia acabar por ficar sem a moeda única, o mais provável é que sejam introduzidos controlos financeiros instantâneos e simultâneos em todos os PIIGS no preciso momento em que for anunciado o divórcio financeiro. Resta pois a esperança de que a Grécia do Syriza e de Alexis Tsipras acabe por empurrar a Eurolândia para um salto quântico em matéria de união financeira, fiscal e orçamental, com a Grécia a exigir uma maior e mais rápida harmonização institucional em toda a União e uma mais equilibrada e transparente repartição dos sacrifícios, apoiada por uma Alemanha que então exigirá em troca (nomeadamente de garantias de depósitos à escala europeia, das euro-obrigações e da transformação do BCE num verdadeiro banco central europeu) o reforço imediato dos instrumentos federais de gestão fiscal e orçamental da zona euro, aumentando os poderes do parlamento europeu, da comissão, do BCE e das cimeiras de chefes de estado e de governo da Eurolândia, e clarificando mais nitidamente as zonas de ação de cada uma destas instâncias de poder da UE.


Última actualização: 24 mai 2012 23:12 GMT

sábado, maio 19, 2012

Quebec: Primavera borda

Manifestação nas ruas de Montreal, 17 de maio, contra a subida prevista das propinas do ensino superior em 82 %. | AFP/Rogerio Barbosa

A crise árabe alastra ao... Canadá!

Le projet de loi spéciale déposé jeudi 17 mai au soir par le gouvernement québécois pour briser le mouvement de grève des étudiants, qui prévoit une forte restriction du droit de manifester, a été reçu comme une douche froide par les étudiants et l'opposition. Le texte instaure notamment toute une série d'amendes pour les organisateurs de piquets de grève, allant de 1 000 à 125 000 dollars (de 777 euros à 97 000 euros).

Un individu seul, par exemple, encourrait une amende de 1 000 à 5 000 dollars. Une association d'étudiants qui organiserait un tel rassemblement ou lancerait le mot d'ordre de bloquer l'accès à une université risquerait, elle, de devoir payer de 25 000 à 125 000 dollars, le double en cas de récidive — in Le Monde, Amériques.

Como diz uma amiga Québécoise que viveu muitos anos em Portugal, mas que a queda do dólar forçou a regressar ao seu belo mas frio país, o Canadá começa a estar entalado entre a anarquia e a ditadura :( Lá como cá e no resto do mundo pós-industrial e pós-moderno o estado social está sobre endividado e começa a romper pelas costuras da sua insustentabilidade financeira, motivada nomeadamente pela decadência produtiva, pelo consumismo, pelo ilusionismo orçamental, pela especulação, e pelo envelhecimento, crescimento e distorção demográficas.

Também por aquele país andam agora os chineses a cobrar em ativos materiais as vantagens da sua balança comercial. É na realidade inacreditável: o Canadá exporta matérias primas para a China, e importa da China produtos industriais, nomeadamente de alta tecnologia, não conseguindo aparentemente inverter o seu crítico défice comercial com Pequim: mais de 23 mil milhões de dólares canadianos (ver dados oficiais).

Enquanto não percebermos que a crise é global, e que deriva de um pico generalizado dos recursos disponíveis num mundo com uma demografia excessiva e de pernas para o ar, continuaremos a insistir na berraria interminável das ideologias obsoletas do século passado, como se não tivéssemos já provado os sabores amargos de ambas, e não fosse tragicamente evidente que nenhuma delas tem soluções para a tragédia que se aproxima.

É vital para a sobrevivência da espécie humana civilizada e tecnologicamente avançada perceber
  1. que a demografia humana chegou a um limiar de crescimento e de composição etária distorcida, a partir do qual não pode continuar a evoluir sem perdas insolúveis de qualidade;
  2. que os recursos são limitados, e em particular os recursos que permitiram a revolução industrial deixaram de ser facilmente acessíveis, tornando-se por isso cada vez mais caros;
  3. e que o fim do colonialismo ocidental tornou subitamente inviável a perpetuação de vantagens nacionais e regionais baseadas na simples imposição de regimes de troca e de exploração aos mais fracos.




A crise financeira em curso é um sintoma iniludível do grande colapso anunciado em 1972 por Donella Meadows et al. em The Limits to Growth. Há quem pense que o tempo para mitigar o desastre se esgotou irremediavelmente (Hirsch report). No entanto, será sempre melhor e mais produtivo procurar soluções onde aparentemente não as há, pensando fora da caixa quadrada das ideologias, do que deixarmo-nos levar pela alternativa: anarquia ou ditadura.

No Quebec milhares de estudantes saíram à rua contra as propinas. A dimensão dos protestos deu à luz a expressão Printemps Érable, num alusão simultânea à árvore nacional do Canadá (o bordo) e às manifestações da chamada Primavera Árabe. Esta sincronização aparentemente espontânea das lutas sociais, mais do que preocupante, é um sinal claro de que é urgente repensar os modelos sociais e culturais da humanidade.

sexta-feira, maio 18, 2012

O Partido da Papoila

Banner do Manifesto por uma Esquerda Livre
  
Quanto mais depressa formarem um novo partido, melhor!

O manifesto hoje apresentado em Lisboa, e que já foi subscrito por mais de 1500 pessoas, destacando-se os nomes de Rui Tavares e Daniel Oliveira (ex-Bloco de Esquerda), Ana Gomes, Ana Benavente, Alfredo Barroso, António Mega Ferreira (desempregados do PS), ou jornalistas, intelectuais e artistas vários, como José Vítor Malheiros, Francisco Belard, André Barata, Hélder Costa, Mário de Carvalho, Miguel Vale de Almeida ou Rui Zink começa assim:

“Portugal afunda-se, a Europa divide-se e a Esquerda assiste, atónita.”

E assim acaba:

“Uma União que faça do pleno emprego um objetivo central da sua política económica, que dê um presente digno aos seus cidadãos e um futuro promissor às suas gerações jovens.”

É pena que uma tão saudável iniciativa, de que aliás precisamos como de pão para a boca, comece logo por uma descarada imprecisão histórica: se algo mudou nestas últimas semanas na crise da Europa que não chegou a unir-se, a não ser para repartir conveniências e traficar oportunismos, e de que este manifesto por uma "esquerda livre" é a mais óbvia e primaveril consequência, foi precisamente a resposta da tal Esquerda — nada "atónita", e nada "assistente".

Desde logo, com a vitória de François Hollande, desde logo com subida vertiginosa do Partido Pirata alemão, e desde logo com a emergência explosiva do partido de esquerda radical grego Syriza, liderado por Alexis Tsipras, um jovem inteligente e ambicioso de quem os banqueiros e os especuladores de todo o mundo parecem estar neste preciso momento suspensos, se algo se move na Europa é precisamente a Esquerda. E a extrema direita, também!

Eu há muito que não consigo ver o mundo a duas cores, e por isso dificilmente me apanharão a assinar este manifesto algo piedoso e ensimesmado.

A ideia de pedir ao mundo uma sociedade de "pleno emprego", logo agora, parece-me de um irrealismo político e falta de rigor intelectual a toda a prova. Eu não quero "emprego", porque sou um profissional liberal; quero trabalho, clientes e amigos! E além do mais, numa sociedade tecnológica que envelhece, do que precisamos é mesmo de menos emprego, mas de mais vida, trabalho e cooperação, onde o regime das trocas materiais e simbólicas e a cooperação abundem, como na Natureza sempre abundaram. Do que precisamos neste preciso momento é de mudar a palavra, sob pena de perdermos as ideias e nos perdermos por décadas a fio numa balbúrdia mórbida de assassínios e suicídios. "Povo de Esquerda" é um populismo retardado que nada adianta. Puxem pela imaginação, por favor!

Os partidos da dita esquerda portuguesa estão há muito num beco sem saída: são velhos, oportunistas e maus! O PS, além destas doenças todas, ainda por cima, é corrupto. Ainda esperei que do interior deste saco de lémures saísse uma revolução depois do Zézito trincar a sua própria língua. Mas percebo agora que teremos que aturar nos próximos anos um travesti de François Hollande, repetindo depois do almoço o que o líder francês regurgitou depois do pequeno-almoço — ao mesmo tempo que tenta esconder diariamente as patifarias que o seu partido andou a fazer na Era Zézito.

A menos que deste manifesto enconado acabe por sair um partido, a dita Esquerda Portuguesa corre o risco de morrer de estupidez.

segunda-feira, maio 14, 2012

The debt in Spain stays mainly in the... banks!

A Espanha à beira do resgate? Ou o euro à beira do colapso?

Gráfico do ZeroHedge com base em dados do Banco de Espanha


Mais um gráfico terrível da situação financeira espanhola, criada por uma euforia irresponsável cuja responsabilidade vai inteirinha, ou quase, para os partidos e os bancos espanhois. A dívida dos bancos espanhois ao BCE duplicou de 31 de Dezembro de 2011 até Abril deste ano, correspondendo a mais do dobro do PIB português. É obra!

O subprime espanhol, tal como ocorreu nos EUA, é de tal modo gigantesco, que a única alternativa para sossegar este monstro imobiliário parece ser, de momento, tanto para os espanhóis, como para os alemães, injectar quantidades infinitas de euros sobre o buraco radioativo.

Até quando? Os rombos que começaram a abrir, no fim da semana passada, no Titanic da especulação mundial, o JP Morgan, apontam para duas certezas: o colapso financeiro do imobiliário em Espanha vai acontecer, e não vai demorar muitos meses :(

sexta-feira, maio 11, 2012

Dona Branca Europeia

 DBE quer dizer Dona Branca Europeia. Em inglês, chama-se Ponzi Patriotism™

Zero Hedge has a habit of trying to simplify that which is otherwise unnecessarily complex, convoluted and opaque. Today, we wish to explain the primary reason why Europe has still not be engulfed in fire and brimstone and collapsed straight to the 9th circle of overlevereged Hell(as). The reason, as we henceforth dub it, is Ponzi PatriotismTM.
What is Ponzi PatriotismTM you may ask? Good question - instead of providing verbal explanation we will demonstrate it visually, courtesy of the two Reuters charts below. The bottom line is that since everyone else is rushing far and away from Europe's doomed countries, it is up to the countries themselves to double, then triple, then quadruple down on their own terminal insolvency, until, finally one day, it's all over.

ZeroHedge, "Visualizing Europe's 'Ponzi Patriotism'"

 Os detentores externos de dívida pública europeia dos países sobre endividados estão a desfazer-se rapidamente dos títulos! Os detentores nacionais destes mesmos títulos (bancos, sobretudo) aumentam sem parar a sua carteira altamente tóxica de obrigações que colocam no BCE como colateral de empréstimos virtualmente sem juros, esperando um dia cobrar os ganhos desta especulação combinada com a corja burocrática que tomou de assalto os governos e a generalidade das instituições políticas, patronais, sindicais e culturais das democracias populistas europeias.

Que acontecerá? Nacionalizações em série, para não deixar falir boa parte da banca europeia? Desemprego imparável e galopante, na sequência da multiplicação das falências? Deflação suicida, ou hiperinflação criminosa?

Numa economia oportunista, virada do avesso, especuladora por natureza, capturada por uma imensa burocracia bem remunerada, que esperança podemos ter numa solução equilibrada para aquele que é já o maior desastre económico, financeiro, e em breve, social, que o chamado mundo desenvolvido conheceu desde a Grande Depressão dos anos 1930? Desta vez, nem sequer uma guerra tão criminosa e hedionda como a que terminaria com o holocauto nuclear de Hiroshima e Nagasaki seria uma solução possível. Por um lado, ainda bem! Mas por outro, falta responder à pergunta: onde tudo isto irá parar?

OLHEM E VOLTEM A OLHAR BEM PARA ESTE QUADRO PUBLICADO HOJE -- 11 DE MAIO -- PELA REUTERS :(

A tesoura assassina. Poderá Hollande travar o suicídio da Europa?


POST SCRIPTUM

Já agora, combinar este gráfico com estes dois, que ilustram o artigo "Explaining The European €2.5 Trillion Liquidity Catch 22 Closed Loop", de Tyler Durden (ZeroHedge):

Origem: Diapason


Origem: Goldman


ÚLTIMA ATUALIZAÇÃO: 11 Maio 2012 22:48

segunda-feira, maio 07, 2012

Merkollande?

Monsieur (Hulot) Hollande poderá baralhar a chancelarina alemã!

Ao lado de um homem normal...
Partido de Merkel com pior resultado desde 1950 em estado da Alemanha

"Em força esteve, segundo as sondagens, o grupo activista Partido Pirata, que conquistou 8,5% dos votos. É a primeira vez que vai conseguir ocupar assentos no parlamento da região. Os Piratas penas tinham arrecadado o voto de 1,8% dos eleitores no sufrágio de 2009." Jornal de Negócios online, 7 Maio 2012.

Salvo os países produtores primários de energia barata, matérias-primas alimentares e industriais essenciais, de trabalho sobre-explorado e sem direitos, e que não respeitam boa parte das regras internacionais sobre higiene e sustentabilidade, o resto do mundo, do Japão aos Estados Unidos e Inglaterra, passando pela União Europeia, e pelos desgraçados países africanos, asiáticos e sul-americanos que não dispõem nenhuma das vantagens competitivas dos chamados "países emergentes", está sobre endividado!

A explosão demográfica mundial, a competição por recursos limitados, a distorção dos modelos de crescimento dos países industrializados, através da produção e consumo conspícuos, destruição do trabalho produtivo, recente acumulação explosiva do desemprego e da falta de emprego, perda de competitividade comercial, expansão puramente monetária e financeira das economias, e endividamento sistémico dos governos, das empresas e das pessoas, acompanhados pela globalização especulativa dos mercados financeiros, espelha não apenas o declínio dos impérios coloniais do Ocidente, mas também a aproximação de um limiar de crescimento populacional incompatível com os recursos disponíveis. A máscara financeira que até agora escondeu a realidade de uma ecologia esgotada começou a cair de forma dramática, como os mais avisados previram. E o que vemos é assustador, nomeadamente porque ninguém sabe como sair desta situação.

Os governos caiem como dominós sob o impacto social e político do colapso financeiro, das falências e do desemprego. Em desespero de causa vota-se no desconhecido, ou no regresso do que há muito parecia andar arredado dos núcleos duros do poder. A "direita" regressa onde a "esquerda" governava, e vice versa, como vimos agora com a vitória fulminante de François Hollande em França, e a derrota do corrupto até à 5ª casa bloco central grego (atenção Jota Passos de Coelho! atenção Jota inSeguro!)

O novo presidente francês, se mantiver (e terá que manter!) as promessas do candidato, até às próximas eleições legislativas, que darão a França um novo governo, previsivelmente alinhado ou comprometido com Hollande (Bayrou no próximo elenco?), poderá ditar a morte política de Angela Merkel muito antes das próximas eleições alemãs, em 2014, e provocar um segundo terramoto político, desta vez no coração da locomotiva europeia.

As eleições de ontem no Schleswig-Holstein revelam até que ponto o efeito dominó acabará por derrubar a voluntariosa chancelarina vinda do Leste. Mas a pergunta fundamental persiste: poderá a Europa escapar à austeridade? Poderá a União Europeia entrar num novo ciclo de "crescimento duradouro", como pede Barroso ao senhor Hulot de Paris, sem reformar primeiro as suas economias, os seus sistemas financeiros, a sua fiscalidade e a sua governança?

Como já todos percebemos, o que a Alemanha não deixa que se faça, por um lado, faz-se por outro! No entanto, vai ser inevitável uma metamorfose profunda dos estados, das economias e do sistema financeiro mundiais. Estamos apenas no princípio desta dolorosa mutação.

As Férias do Senhor Hulot, de Jacques Tati (link)

Hollande, cuja figura me faz lembrar simultaneamente Mr. Chance e o Monsieur Hulot, tem um refinado bom gosto no que se refere ao sexo oposto, gosta de cozinhar e de fazer as suas compras gastronómicas — três atributos promissores e que me sensibilizam. Promete reduzir em 30% os honorários a que tem direito como presidente. Para começar, é mesmo simpático ;)


POST SCRIPTUM

Sobre este mesmo tema, o que escrevemos em Janeiro: Bem-vindo senhor Hollande!

quarta-feira, maio 02, 2012

Sete pontes Vasco da Gama

A exploração do petróleo de xisto é uma trajetória desesperada e muito perigosa. Além do mais economicamente inviável. Artigo/foto: Green Prophet.

Enquanto os piratas sonham com novos aeroportos e autoestradas, a fatura das importações de energia revela bem o beco sem saída onde nos encontramos :(

JdN: “É o valor mais alto dos últimos três anos: 7,1 mil milhões de euros foi o preço pago por Portugal em 2011 pela necessidade de importar energia do exterior. Uma factura que representa um agravamento de 27,7% face ao ano anterior, segundo os mais recentes números da Direcção Geral de Energia e Geologia (DGEG).”

Quando baixarmos a nossa circulação automóvel individual para metade ou menos de metade da atual, que farão as concessionárias das autoestradas e das SCUT? Continuarão a exigir indemnizações compensatórias aos contribuintes? Em nome de que contratos leoninos? Em nome de que negócios ruinosos para o Estado? Está na altura de levar esta gente e os seus gabinetes de advogados a tribunal.

Não há soluções milagrosas para um problema tão grave quanto o Pico do Petróleo e o sobre endividamento público e privado (que já é uma consequência invisível do dito pico) da maioria dos países não produtores líquidos de energia e de matérias primas fundamentais.

Pico do Petróleo: os cenários são todos desastrosos (The Oil Drum)

Temos que começar por algum lado a promover a transição!

Pontos cruciais:
  1. substituir o transporte privado individual pelo transporte coletivo;
  2. substituir os sistemas de transporte assentes no petróleo/gasolina por sistemas de transporte elétricos e em todo o caso menos dependentes de hidrocarbonetos;
  3. apostar na ferrovia e no transporte por mar e rio;
  4. associar a desmaterialização de uma parte dos sistemas produtivos a tecnologias avançadas de telepresença e teletrabalho, com a penalização das deslocações físicas desnecessárias (desde logo acabando com os subsídios às viagens dos executivos pagos pelo erário público);
  5. promover a transição das cidades sobreaquecidas e ineficientes do ponto de vista energético (a começar pelos edifícios e instalações públicas) para cidades mais ecológicas e libertas da captura especulativa de que foram alvo pelas lógicas de especulação e pirataria capitalistas;
  6. desconstruir o subúrbio urbano, seja recuperando os centros urbanos e as cidades, seja transformando os subúrbios em unidades urbanas auto-sustentáveis (quer dizer, com atividades produtivas próprias, e reagrupamentos democráticos de governança local)
  7. retirar o Estado de onde a sua presença não é estratégica, nem essencial (no caso português, o número de funcionários públicos terá que ser reduzido para não mais do que 1% da população, ou seja, para cerca de 110 mil funcionários, em vez dos atuais 512 mil...)
O tempo para evitar uma enorme catástrofe está a esgotar-se :(