quarta-feira, outubro 14, 2015

Somos todos socialistas!

Do Estudo eleitoral português de 2011


A grande ilusão eleitoral


“Por estes dias, toda a gente sabe o que os eleitores de cada partido queriam e preferiam quando votaram, o que significa o voto e que preferências transmitiu. Eu não tenho a certeza sobre 2015. Mas posso recuar a 2011, com os dados do estudo eleitoral português.”
— in Pedro Magalhães, “O que os eleitores ‘querem’”.

Este é o mais delicioso desmentido da demagogia que sustenta a ideia peregrina de que os eleitores votaram em 4 de outubro contra o PàF, ou pior ainda, por uma Frente Popular chefiada por António Costa. Vale a pena observar cada um dos sete gráficos publicados.

Ilha ferroviária portuguesa é um escândalo


Crescer, como? Se nada fazemos por isso...


“Y Basco” já está construído em 80% 
O Y Basco, como é conhecido o projecto da ligação ferroviária de Alta Velocidade Vitória-Bilbau-San Sebastian/Fronteira com França, está já concluído em 80%, segundo a conselheira do Meio Ambiente e da Política Territorial do governo daquela província de Espanha. 
— in Transportes e Negócios, 13/10/2015

A rede ibérica de bitola europeia ligará um dia Lisboa a Vladivostok, ou seja, será um dos sistemas circulatórios essenciais da Nova Rota da Seda.

O boicote que o ainda governo de coligação fez à linha Poceirão-Caia, com a conivência do Tribunal de Contas e a oceânica ignorância da nossa imprensa em matéria de transportes, energia e outras pastas sob alçada de Sérgio Monteiro —o rapaz das PPP—, e que o lóbi do NAL cuidou de proteger à medida dos seus interesses inconfessáveis, foi o maior erro estratégico cometido nos últimos quatro anos.

É que o investimento na referida linha, além de ser o mais baixo de quantos traçados haverá um dia que financiar e construir, contava com apoios comunitários e do BEI na ordem dos 85% do custo total da obra!

Pelo caminho deixámos de instalar em Portugal um cluster renovado e tecnologicamente avançado de indústria ferroviária, como hoje a Espanha tem e exporta para todo o mundo.

Mas sobre isto também nunca ouvimos a esquerda definir qualquer posição estratégica clarividente.

Não basta querer tomar o poder através da secretaria parlamentar, quebrando a tradição em matéria de interpretação de resultados eleitorais. São precisas ideias produtivas que funcionem.


CORREIO RECEBIDO

Ainda a propósito de uma notícia recente sobre a ilha ferroviária portuguesa, cujos responsáveis deveriam ser propriamente acareados:

Caro OAM.

A resposta às 'teorias' locais foi dada pela DB Schenker ao terminar com os comboios de mercadorias entre Portugal e a Alemanha. Para bom entendedor...
A demora na realização dos comboios da DB Schenker em Portugal chegava a ultrapassar uma semana.
Ninguém, ninguém de bom senso, realiza comboios de mercadorias para percorrer 200km, só mesmo quem não entende nada de caminhos de ferro.
Quem defende uma enormidade destas tem como objectivo ACABAR com o caminho de ferro para o transporte de mercadorias. É claro que não escreveram isto em parte nenhuma, pois confiam que o respeitoso público ainda acredite no Pai Natal, deixando-os assim prosseguir os seus intentos liquidatários.

Posteriormente divulguei um e-mail pela tertúlia com material relativo ao visionário Caldeirinha, onde referi que, segundo o entendimento dele, a preferência recaía agora num “hinterland para consumo (do) próprio”, de 200 km (até à fronteira), uma vez constatado o encerramento da bitola ibérica junto à fronteira do lado espanhol, o que veio a comprometer o seu (dele) conceito de hinterland perfeito, de Sines até Madrid – 600Km.
Azar dos Távoras: a Espanha decidiu acabar com a bitola ibérica, fechando 400 km de linha até... Badajoz! Os génios locais entenderam então que poderíamos viver confortavelmente com um hinterland de 200Km. A DB Schenker respondeu em linha, batendo à sola do país, e ninguém se demitiu, nem foi preso.

Quanto à interoperabilidade entre portos e ferrovia, era bom que fossem apuradas “responsabilidades” (que não as há) relativamente à linha Sines – Évora, da autoria, ao que se sabe, do Porto de Sines, isto numa época em que do lado espanhol já se estava a avançar para linhas UIC entre Madrid e Badajoz. Gitevas, LTM e outros conceitos híbridos creio que, entretanto, não tiveram a melhor recepção em sede da norma UIC, pois são “soluções” que colidem com aquilo que a EU entende ser 'standard', logo passível de financiamento...

Na notícia que botaram na imprensa, lê-se ainda “pomposamente” que no Y basco os espanhóis vão aplicar um 3º carril numa extensão de 16Km para fechar a passagem entre Espanha e França, como que a sugerir que temos todo o tempo do mundo para insistirmos na asneira e nos prejuízos. Ou seja, Espanha está a investir milhares de milhões de euros numa nova rede UIC para depois deixar uma ponta de 16Km em bitola antiga (ibérica) por fazer. Anda tudo doido, ou será impressão minha?

Com os melhores cumprimentos,
VSR

Atualização: 15/10/2015 12:35 WET

Política Sueca


Política Sueca é uma lâmina nova na grelha da RTP3

Cristina Azevedo, Cerveira Pinto, Nicolau Pais, Ricardo Jorge Pinto

Moderadora: Sandra de Sousa

Todos os sábados
Direto às 11:10
Diferido às 19:10
E na box, para os colecionadores d'O António Maria ;)


Política Sueca (ver Episódio 1)

terça-feira, outubro 13, 2015

Primavera ibérica

Mariana Mortágua
Foto: Nuno Ferreira Santos (pormenor); in Público

Quem são os protagonistas desta espécie de revolução?


Se os camponeses portugueses foram substituídos por tratores e drones, se os operários portugueses foram substituídos por operários chineses, indianos, paquistaneses, bengaleses, e por robots, se as ideologias mais fundamentalistas do PCP e do Bloco há muito deixaram de ser determinantes para a sua ação política quotidiana, quem são então os novos comunistas e socialistas que hoje se dispõem a tomar as rédeas do poder em Portugal?

A avaliar pelas transferências de votos que permitiram ao Bloco tornar-se na nova charneira partidária do regime, só tenho uma resposta: a classe média ameaçada.

Quer dizer: uma classe média profissional qualificada, que vive do seu trabalho e depende em geral da saúde das empresas, mas também a vasta burocracia, particularmente atenta à distribuição do dinheiro público, que povoa o estado, o setor público empresarial, as autarquias e os partidos do arco parlamentar.

A ameaça de domínio autoritário, empobrecimento e fragmentação que pende sobre as classes médias tal como se foram desenvolvendo ao longo dos últimos cinquenta anos —habituadas a um conforto relativo decorrente do seu estatuto social, conhecimentos adquiridos, espírito de iniciativa e méritos— provocou finalmente uma reação inteligente daquela que é a base essencial das democracias, ao subir o patamar da rua para o patamar institucional da disputa eleitoral democrática. Que o tenham feito votando também no Partido Comunista Português e no Bloco de Esquerda, e não em novos partidos que entretanto se apresentaram a escrutínio, é a novidade complexa nascida na noite de 4 de outubro.

A revolução que agora começa em Portugal será, pelo que temos visto e lido, uma revolução inteligente, programática, meticulosa, tecnicamente fundamentada, cognitiva e culturalmente sofisticada. Começa depois de uma destruição sem precedentes das nossas expectativas, e depois de uma devastação igualmente sem precedentes no tecido económico-empresarial e financeiro do país. Estamos praticamente em cima de uma tábua rasa, e é preciso reaprender quase tudo no que diz respeito ao desenho do novo estado social, da nova economia e do novo sistema financeiro.

Mais cedo do que imaginei, formou-se uma aliança tácita entre os jovens políticos visionários do PS, do PCP e do Bloco. Várias vezes chamei a atenção para os nomes de Pedro Nuno Santos, João Oliveira e Mariana Mortágua, entre outros. A ameaça que pende sobre a velha esquerda e os seus sindicatos, sobre a impotência ideológica que os dividiu até agora, e que já ninguém entende, acabaria, em suma, nestas eleições, por trazer à superfície uma solução óbvia: concretizar a maioria numérica de esquerda existente no parlamento numa maioria parlamentar substancial e num governo.

Claro que esta metamorfose implicará ajustamentos algo drásticos, sobretudo dentro do PS, mas também no PCP. Por isso pareceu-me que o processo deveria ser gradual, uma vez revelada e comungada a nova estratégia da esquerda. O perigo de deixar o derrotado António Costa liderar um governo apoiado pelo PCP e pelo Bloco é o deste trair à esquerda e à direita, e o de tentar, quando a dívida pública voltar a apertar em cheio, um golpe de asa bonapartista, como fez Alexis Tsipras. A laracha populista do nosso Costa concórdia, sobre os mais pobres, já começou!

Um pormenor...

O PS só contará com uma maioria parlamentar estável se puder contar com o apoio a 100% dos 17 deputados do PCP, 100% dos 19 deputados do Bloco, e, pelo menos, 80 deputados do PS.

Poderá António Costa prometer isto mesmo a Cavaco Silva?

Quantos deputados socialistas eleitos discordam da aventura do náufrago Costa? Será que o país precisa neste momento de um Costa concórdia?

Aconteça o que acontecer, o Bloco de Esquerda, e o PCP se aprofundar o aggiormanento que em boa hora iniciou, mas também o PS, que parece querer renascer das cinzas, terão ao longo dos próximos quatro anos um tempo precioso para mudar de alto a baixo a esquerda portuguesa.

Seja como for, as coisas avançaram já demasiado para que os diferente atores possam recuar.

Alea jacta est!

segunda-feira, outubro 12, 2015

A revolução de outubro

Palacete da Palma—a sede do Bloco de Esquerda, Lisboa

Acabaram-se as greves!


“O Governo de Passos e Portas acabou hoje” 
No que ao Bloco diz respeito, ficou hoje claro que o Governo de Passos Coelho e Paulo Portas acabou. Temos hoje as condições para termos um Governo e um Orçamento dentro da Constituição da República portuguesa, depois de quatro anos de uma direita que não soube nunca respeitar a lei fundamental do país” 
[…] 
A dirigente bloquista, com um discurso muito claro e objetivo, insistiu que "há outra solução de Governo". E acrescentou quais as "condições essenciais" que seu partido colocou sobre a mesa para dar estabilidade a um Governo socialista: "a recuperação da economia, a defesa do Estado social e o rompimento com a política de austeridade da direita.” 
—in Expresso, 12.10.2015 às 13h23

Como escrevemos na noite eleitoral, depois de se saber que nenhum partido ou coligação teria a maioria absoluta, houve um vencedor e não era obviamente António Costa. Esse vencedor foi e é o Bloco de Esquerda. Ficou demonstrado, pela forma como hoje Catarina Martins derrubou formalmente a coligação de centro-direita ainda no poder, que tínhamos razão na análise que então fizemos.

Quisemos crer que o Bloco preferiria entalar devagarinho o PS, deixando-o preso entre a opção de viabilizar o programa e o governo do PàF, e a opção de governar sozinho, sem obstrução do resto da esquerda, até que os espinhos da governação em austeridade acabassem por levar metade do PS para o colo do Bloco, preparando assim as condições de um futuro governo de esquerda a meio da próxima legislatura.

Fomos, no entanto, surpreendidos pelo cenário, já quase certo, da formação em breve de um governo de frente popular, ainda que de uma frente popular pós-moderna, pois os camponeses foram substituídos por drones, e os operários por robots, restando apenas uma imensa mole humana composta por reformados e pensionistas, desempregados, empresários aflitos, banqueiros insolventes, burocratas depauperados, profissionais humilhados e uma classe média em vias de extinção. Em suma, em vez de liderar uma revolução proletária, o PCP e o Bloco vão liderar, arrastando mais de metade do PS pelos cabelos, uma insurreição de precários contra um capitalismo que entretanto se esfumou em dívidas e paraísos fiscais. Um antepassado dos mesmos Rothschild que hoje administram a dívida portuguesa ficou conhecido por afirmar: Quando o sangue corre nas ruas de Paris, compro!

Não sabemos que resposta dará Passos Coelho a este xeque-mate do Bloco. Abdicará de formar governo? Se o fizer, então a coligação PSD-CDS/PP morre no dia em que tal decisão for comunicada ao país. Que fará então Cavaco? Chamará Paulo Portas para formar governo? Manterá o atual governo em funções de gestão, contra a vontade de Passos Coelho, alegando que é necessário um governo do Bloco Central? Mas como, se o que sai derrotado em todo este processo é, precisamente, o Bloco Central? Deixará o país suspenso até à sua substituição pelo novo inquilino do Palácio de Belém?

O mais provável, no imediato, é que todos esperem pela reação dos mercados!

Mas a avaliar pela recentes declarações de Mario Draghi a propósito da Grécia de Tsipras,

«Muitas coisas assumiram um rumo melhor nos últimos tempos e isso deve-se ao primeiro-ministro grego, ao Governo grego e ao povo grego. Creio que é do interesse de todos que a atenção se centre a partir de agora na aplicação rápida das medidas que foram acertadas em conjunto, de acordo com os prazos previstos», disse o responsável italiano, numa entrevista a ser publicada este domingo no jornal grego Katherimini. 
— in Expresso, 10.10.2015 às 20h23 


o mais provável é que os mercados digiram rapidamente a nova situação e a sancionem.

Se for o caso, Cavaco irá à vida e o Bloco Central também.

Objetivamente interessa a Washington e Londres enfraquecer a Alemanha e dividir a Europa, e sobretudo conter a aproximação de Berlim a Moscovo e Beijing. Tentaram destruir o euro, mas não conseguiram; escutaram ilegalmente Merkel e Sarkozy; lançaram fogo à pradaria ucraniana; alimentaram o terrorismo e derrubaram regimes no Médio Oriente e no norte de África e, cereja em cima do bolo, dificilmente levantarão um dedo contra a balbúrdia que em breve poderá tomar conta do sul da Europa. A pedra de toque será o comportamento dos famosos mercados, e ainda o que em breve dirão Christine Lagarde e Mario Draghi sobre a nova Revolução Portuguesa.

O povo é sereno, mas vamos estar muito atentos.

Costa concórdia II

António Costa
Foto @ José Sérgio/ Sol

Tsipras à portuguesa? A avaliar pelo andar da carruagem, é bem possível que sim!


Última hora: coligação sem governo; governo PS-Bloco-PCP a caminho

Presidente do BCE elogia Grécia 
«Muitas coisas assumiram um rumo melhor nos últimos tempos e isso deve-se ao primeiro-ministro grego, ao Governo grego e ao povo grego. Creio que é do interesse de todos que a atenção se centre a partir de agora na aplicação rápida das medidas que foram acertadas em conjunto, de acordo com os prazos previstos», disse o responsável italiano, numa entrevista a ser publicada este domingo no jornal grego Katherimini. 
— in Expresso, 10.10.2015 às 20h23 


A Alemanha está cada vez mais virada para a Eurásia e a Nova Rota da Seda sino-russa e, por outro lado, enquanto os Estados Unidos e o Reino Unido se preparam para enfraquecer ainda mais a União Europeia, Berlim não pode suportar mais, por si só, os custos de uma integração europeia atolada em dívidas, crescimento a caminho de zero e uma demografia cada vez mais envelhecida e improdutiva.

O eixo Paris-Berlim poderá ter assim os dias contados, sobretudo se Marine Le Pen continuar a progredir sob o impacto da instabilidade plantada pelos Estados Unidos no Médio Oriente, no leste da Europa e no Mediterrâneo, e as velhas esquerdas de Portugal, Espanha e Grécia conseguirem atravessar com êxito as metamorfoses ideológicas que já iniciaram. Não creio que Washington coloque quaisquer reservas à emergência de governos de esquerda nestes três países. E se assim for, o PàF e Cavaco Silva passarão rapidamente à história.

O escândalo da Volkswagen, que não por acaso rebentou nos Estados Unidos, abriu uma cratera na credibilidade alemã e começou a destapar o buraco negro do seu sistema financeiro.

Só o Deutsche Bank tem uma exposição aos contratos de derivados financeiros na ordem dos 54,7 biliões de euros (54,7x10E12), isto é, 19x o PIB da Alemanha! Para termos uma ideia ainda mais dramática do problema, basta pensar que o PIB mundial em 2014 andou pelos 68 biliões de euros.

A fraude ambiental da Volkswagen pode, pois, ter sido o cisne negro que levou o sistema financeiro global —e portanto o capitalismo como o conhecemos— a dar mais um forte sinal de que caminha rapidamente em direção ao colapso, que alguns já chamam pós-capitalismo. Para já, o que se vislumbra no horizonte mais próximo é o esgotamento da capacidade económico-financeira alemã de impor condições ao resto da União Europeia.

Nesta conjuntura, que à escala global é de agravamento das tensões entre o Oriente e Ocidente, mas sobretudo de avanço estratégico da China no Grande Jogo da Eurásia (que, como sabemos, vai de Lisboa e Vladivostok), os graus de liberdade dos países do sul da Europa, apesar das suas crises de endividamento soberano, poderão aumentar contra todas as expetativas.

É neste quadro que a renovação da esquerda se joga, e o futuro da direita que temos, também.

Para ajudar a compreender porque motivo o impensável se poderá realizar em breve, junto alguns artigos recentes que permitem perceber as mudanças rápidas que estão em curso


Central bank cavalry can no longer save the world 
LIMA (Reuters) - In 2008 central banks, led by the Federal Reserve, rode to the rescue of the global financial system. Seven years on and trillions of dollars later they no longer have the answers and may even represent a major risk for the global economy.
[…]
"Central banks have described their actions as 'buying time' for governments to finally resolve the crisis... But time is wearing on, and (bond) purchases have had their price," the report said.
[…]
Reuters calculates that central banks in those four countries alone have spent around $7 trillion in bond purchases.
The flow of easy money has inflated asset prices like stocks and housing in many countries even as they failed to stimulate economic growth. With growth estimates trending lower and easy money increasing company leverage, the specter of a debt trap is now haunting advanced economies, the Group of Thirty said. 
— in Reuters, Sat Oct 10, 2015 | 3:34 PM EDT, By David Chance
The Endgame Takes Shape: "Banning Capitalism And Bypassing Capital Markets" 
We believe that the path of least resistance would be to effectively ban capitalism and by-pass banking and capital markets altogether. We gave this policy change several names (such as “Cuba alternative”, “British Leyland”) but the essence of the new form of QE would be using central banks and public instrumentalities to directly inject “heroin into blood stream” rather than relying on system of incentives to drive investor behaviour. 
Instead of capital markets, it would be governments that would decide on capital allocation, its direction and cost (hence reference to British Leyland and policies of the 1960s). It could involve a variety of policy tools, with wholesome titles (i.e. “Giving the economy a competitive edge”, “Helping hard working American families” or indeed recent ideas from the British Labour party of “People’s QE”). Who can possibly object to helping hard working families or improving productivity? 
However as the title of our previous note suggested (“Back to the Future”), most of these policies have already been tried before (such as Britain in the 1960-70s or China over the last 15 years) and they ultimately led to lower ROE and ROIC as well as either stagflationary or deflationary outcomes. Whilst the proponents of new attempts of steering capital could argue that we have learned from the lessons of the past and economists would start debating “multiplier effects” and “private-public partnerships”, the essence of these policies remain the same (i.e. forcing re-allocation of capital, outside normal capital market norms), and could include various policies, such as: 
—Central banks directly funding expansion of fiscal spending;
—Central banks and public instrumentalities funding direct investment in soft (R&D, education) and hard (i.e. infrastructure) projects; and
—Outright nationalization of various capital activities (such as mortgages, student loans, SME financing, picking industry winners etc). 
Whilst, these policies would ultimately further misallocate resources, they could initially result in a significant boost to nominal GDP and given that capital markets are now populated by highly leveraged financial instruments, the impact on various financial asset classes would be immediate and considerable. In other words, neither China nor Eurozone need to spend one dime for copper prices to potentially surge 30%+. 
Are we close to such a dramatic shift in government and CB policies? 
We maintain our view that for CBs to accept this new form of QE, we need to have two key prerequisites: 
Undisputed evidence that it is needed. The combination of a major accident in several asset classes and/or sharp global slowdown would be sufficient; and there has to be academic evidence (hopefully supported by sophisticated algebra and calculus) that there are alternatives to traditional QEs. 
At the current juncture, none of these conditions are satisfied. However, we maintain that as investors progress through 2016-17, there is a very high probability that both conditions would fall into place.
— in Zero Hedge, Submitted by Tyler Durden on 10/10/2015 19:44 -0400

Why Are The IMF, The UN, The BIS And Citibank All Warning That An Economic Crisis Could Be Imminent? 
— in The Economic Collapse, By Michael Snyder, on October 8th, 2015
The Final Crescendo Of Cognitive DollarDissonance And The Remonetisation Of Gold 
There is good reason to believe that what is already underway is going to be more severe than 2008-09. This time around, interest rates are already at zero, or outright negative. QE has failed. Confidence in economic officials’ general ability to restore healthy, sustainable growth has weakened considerably. Indeed, at a recent roundtable event at Chatham House I attended, multiple prominent international economists suggested that with ‘conventional QE’ having failed, the next logical arrow in the monetary policy quiver is that of direct money injections into corporations or households, in effect a Friedmanesque ‘Helicopter Drop’ of money. This conversation would not be taking place at all were the macroeconomic outlook not so poor. 
— in The Amphora Report, Vol.6, 8 October 2015

domingo, outubro 11, 2015

O 'bluff' de António Costa

Sérgio Sousa Pinto expõe bluff de Costa
Foto: autor desconhecido

Onde é que Costa irá buscar os votos para chumbar o governo do PaF?


O PS elegeu, até ao momento, 85 deputados. Vamos admitir que elegerá mais 1 pelos círculos da Europa e fora da Europa, ficando então com 86 deputados. Para chumbar o PaF precisará, no entanto, 105, 106, 107 ou 108 deputados, consoante o PaF venha a estabilizar o seu resultado final definitivo em 104 deputados (se, por absurdo, não eleger nenhum deputado nos círculos fora do país), 105, 106 ou 107.

Onde irá então o PS de Costa buscar mais 19, 20, 21 ou 22 deputados não socialistas, necessários para chumbar o governo do PaF? O bluff diz que estes deputados se encontram no PCP e no Bloco, na medida em que, se António Costa apresentar uma moção de rejeição do programa de governo apresentado por Pedro Passos Coelho, o PCP e o Bloco terão que o secundar, acrescentando aos 86 deputados do PS, 19 deputados do Bloco, mais 17 deputados do PCP, o que daria uma soma de 122 deputados.

Mas quem disse que o Bloco de Esquerda, ao contrário do PCP, estará disposto a passar um cheque em branco ao PS? PS+PCP não chegam. E PS+Bloco, também não.

E quem disse que o PS estará unido na votação de uma moção de rejeição eventualmente proposta por António Costa?

Não haverá 18, ou mesmo 37 deputados do Partido Socialista dispostos a travar a aventura de quem perdeu claramente as eleições legislativas do dia 4 de outubro e pretende rescrever a história como se fosse um vulgar estalinista?

Para além dos novos deputados que apoiam António José Seguro, quantos mais estariam na disposição de evitar a deriva desesperada de um secretário-geral inventado por Mário Soares e José Sócrates? Basta olhar para o olhar de Carlos César, para adivinharmos mais de uma dúzia! Não creio que um tarimbeiro temeroso, como António Costa é, se arrisque a contar os votos com que realmente pode contar no parlamento se as coisas começarem a azedar.

Os sinais de que o embuste não passará começaram, aliás, a surgir a tempo e horas, e vão aumentar ao longo da próxima semana.

UGT não quer que PS faça acordo à esquerda
Carlos Silva, líder da UGT à Antena 1: Ficaremos mais tranquilos se efectivamente a decisão do PS for de encontrar um compromisso com o PSD e o CDS. Não me parece que efectivamente as forças à esquerda do PS dêem, na minha opinião, a garantia de estabilidade em relação ao futuro. Há dúvidas. E portanto o PS só conseguirá fazer maioria se tiver maioria na assembleia quer do PCP quer do BE. É uma maioria instável que não dá garantias de que no futuro a governabilidade será assegurada por 4 anos.
in RTP, 11 Out, 2015, 08:49 / atualizado em 11 Out, 2015, 08:49

Contra estratégia de aliança à esquerda, Sérgio Sousa Pinto demite-se
Sérgio Sousa Pinto na sua página do Facebook: “Aparentemente o BE e o PCP estão dispostos a viabilizar um governo do PS, um governo com menos deputados socialistas no Parlamento que a coligação de direita. Mas não estão disponíveis para integrar o governo e partilhar a responsabilidade de governar. O que se seguiria seria fácil de imaginar. Uns a pensar no país, outros a pensar na sua plateia, outros ainda a pensar em eleições e na maioria absoluta. A esta barafunda suicidária, sem programa nem destino certo, chamar-se-ia “governo de esquerda” – coisa que nem os eleitores do bloco desejaram, optando pelo partido do protesto histriónico (e agora fanfarrão). Um penoso caos que entregaria Portugal à direita por muitos anos. Mas talvez permitisse ao BE suplantar o PS. E não é essa a verdadeira agenda, velha de 40 anos, de quem se reclama “da verdadeira esquerda”? Talvez me engane.”
in Jornal i, 10/10/2015 12:40:56

Finalmente, como já escrevi, o fiel da balança da conjuntura nascida no dia 4 de outubro chama-se Bloco de Esquerda. E ao Bloco de Esquerda interessa fritar em lume brando, não Passos Coelho, mas o PS e o PCP. E para isso nada melhor que um novo governo PSD-CDS/PP. Precipitar uma Frente Popular seria destruir de uma só penada o futuro do Bloco.

POST SCRIPTUM (12/10/2015)

Enganei-me? O Bloco decidiu mesmo impor um governo de esquerda com a sua presença e a presença, presumo, do PCP. Alta tensão na política portuguesa. Mas um bom bluff é isto mesmo!

Atualização: 14/10/2015 14:24 WET

quinta-feira, outubro 08, 2015

E se fosse Maria de Belém?

Maria de Belém, candidata presidencial
Foto © desconhecido, in Luso Notícias

Uma candidata para derrotar Marcelo à primeira volta?


Ninguém compreenderia que o próximo governo fosse um governo de esquerda. Nem a própria esquerda lúcida que temos. Logo, aquilo a que estamos a assistir no rescaldo das eleições legislativas tem um alcance bem maior do que as aflições de Cavaco Silva, Passos Coelho e António Costa.

Há dois partidos no nosso espetro parlamentar que não fizeram o rejuvenescimento necessário para responder, com novos protagonistas, nova estratégia e nova linguagem, às mudanças profundas que têm ocorrido nas sociedades humanas nos últimos quarenta anos: o Partido Socialista, e o Partido Comunista. As lideranças oportunistas e as castas dirigentes destas organizações partidárias de origem jacobina, invariavelmente machistas, têm uma fatal e insuportável tendência para se perpetuarem nas cadeiras de poder que em dado tempo conquistaram. Nos tempos que correm, porém, estas características genéticas acabam por ser mais ameaçadoras da sua sobrevivência do que o próprio oportunismo marxista-leninista do PCP, ou do que o aburguesamento dos sociais-democratas do PS. O scratch ideológico de ambos deixou, aliás, de convencer e mobilizar. Resta-lhes, pois, fazer um reset das respetivas filosofias políticas, ou definhar.

Pelo contrário, o Bloco de Esquerda, cujo aggiornamento está em curso, terá as portas abertas para promover uma renovação sem precedentes do ideário socialista, cortando meticulosamente os nós górdios que tolhem o futuro tanto do PS, como do PCP. A necessária espada para o conseguir parece empunhá-la, a quatro mãos, Catarina Martins e Mariana Mortágua. Será, no entanto, imprescindível impedir o regresso dos fantasmas do oportunismo marxista-leninista e do trotsquismo mandeliano que ainda andam por aí. Há, tanto no PCP (João Oliveira), como no PS (Pedro Nuno Santos), jovens líderes e sobretudo muitos eleitores que há muito anseiam por uma verdadeira convergência da esquerda. Esta oportunidade chegou!

Não será, no entanto, no plano da formação do próximo governo —que deverá assentar na coligação que venceu as eleições, ainda que sem maioria e depois de uma sangria de mais de 720 mil votos— que os trabalhos ciclópicos e meticulosos da construção da almejada maioria de esquerda deverão confluir e precipitar-se.

A maioria potencial de esquerda atualmente existente no parlamento deve abrir um processo de convergência pragmática séria apontada à formação de um próximo governo de maioria, nomeadamente na sequência de um possível colapso do governo do PàF a que Cavaco Silva deverá dar posse, e o primeiro passo desta caminhada que recomendo é o da eleição de Maria de Belém para o cargo de Presidente da República — à primeira volta!

Se desafiar a maioria eleitoral de centro-direita obtida pelo PàF é um ato ilegítimo, e pior do que isso, aventureiro, já negar a possibilidade de eleger Maria de Belém à primeira volta seria a prova de que, afinal, o teatro montado por António Costa (que espero seja em breve substituído por Álvaro Beleza) não teria passado de uma farsa política inqualificável.

O país nunca precisou, e agora precisa ainda menos, de uma esquerda negativa.

O país precisará certamente, quando a atual coligação se esgotar, de uma esquerda positiva, capaz de governar com pragmatismo e assumindo com coragem as potencialidades, mas também os espinhos da transição social em que todos já estamos metidos.

O Partido Socialista, tal como existe ainda, morreu.

segunda-feira, outubro 05, 2015

O próximo presidente

Marcelo Rebelo de Sousa no Alentejo
Foto (pormenor): Manuel Isaac Correio/Jornal Alto Alentejo

O senhor que se segue no Palácio de Belém


A desastrosa situação em que se encontra o Partido Socialista catapultou o Bloco de Esquerda para o terceiro lugar do hemiciclo, à frente do CDS/PP, e do PCP, e promete estender uma passadeira vermelha a Marcelo Rebelo de Sousa em direção a Belém.

António Costa poderia ter-se demitido ontem, como deveria tê-lo feito se fosse o que não é —uma pessoa decente—, sem por isso deixar de assegurar a gestão corrente do partido até à realização dum congresso extraordinário que sarasse de vez o problema da transição geracional de que desesperadamente precisa para sobreviver. Ao obedecer, uma vez mais, aos pequenos imperadores que não desgrudam, prestou mais um péssimo serviço ao partido que Helena Roseta gostaria de ver numa Frente Popular com a duração dum fósforo aceso.

O Partido Socialista de António Costa simulou desesperadamente uma viragem à esquerda para evitar o que já se adivinhava, ou seja, um fuga maciça de eleitores moderados de esquerda para um Bloco inesperadamente mais realista e conciso.

O bluff cor-de-rosa falhou, pois as cartas de Costa são as cartas de José Sócrates Pinto de Sousa que, por sua vez, são as cartas de Jorge Coelho, Ferro Rodrigues, Almeida Santos, etc., etc., etc. que, enfim, são as cartas de Mário Soares. Ou seja, uma baralho viciado de traições ideológicas, populismo e processos judiciais por corrupção.

Nestas circunstâncias, quem irá o PS apoiar nas eleições presidenciais?

Será capaz sequer de apoiar um único candidato? Muito dificilmente. O Bloco de Esquerda tem um candidato natural razoavelmente credível: Francisco Louçã, capaz de se opor com autoridade e pedagogia a Marcelo Rebelo de Sousa, o agora óbvio candidato do PáF.

Maria de Belém, ou o fantasma proposto pela esquerda desorientada —Sampaio da Nóvoa—, têm ambos o mesmo problema: não sabem o que pensa o PS, nem sabem, por isto mesmo, de onde lhes virá o dinheiro para a campanha eleitoral. Ora sem dinheiro, nem apoio partidário, não há candidato que resista. Que o diga Henrique Neto!

Esta previsão é contra-intuitiva, na medida em que continua a haver aparentemente uma maioria de esquerda no país. No entanto, estou convencido de que algumas realidades acabarão por eleger Marcelo Rebelo de Sousa à primeira volta:
  • não haverá candidato único da esquerda, 
  • haverá candidato único do centro-direita (pois não creio que Passos Coelho e Portas venham a apoiar Rui Rio), 
  • a situação económica, financeira e política mundial continuará a dar muitas dores de cabeça ao mundo, à Europa e a Portugal até ao fim desta década, 
  • a gestão da nossa descomunal dívida pública e privada vai acabar por exigir uma diminuição do peso e preço da máquina do estado, exigindo assim uma negociação permanente entre a repressão fiscal e financeira dos contribuintes (pessoas e empresas—sobretudo as grandes empresas que vivem de rendas e em regime de quase monopólio), e a inovação, eficiência e transparência cada vez mais necessárias à sobrevivência do estado social.

Bloco, o único vencedor


António Costa vai ser empurrado. Mas quanto mais tarde, melhor para o Bloco


Em boa verdade, Miguel Portas é o grande vencedor póstumo destas eleições, pois deve-se a ele a decisão de renovar o Bloco de Esquerda, que mais tarde Fazenda e Louçã viriam a secundar.

Mas deve-se a Mariana Mortágua o clique que desencadearia a mudança decisiva deste saco de gatos de origem estalinista, maoista e trotsquista. Foi verdadeiramente durante o inquérito ao colapso do BES que, perante um PS visivelmente decadente, e um PCP tolhido pela sua incorrigível e egoísta gerontocracia, a jovem economista do Bloco imporia a todo o partido, e em geral à retórica da nossa esquerda partidária, um outro estilo de comunicação: disciplinado, racional, fundamentado, ponderado, compreensivo e, sobretudo, pragmático.

Depois deste histórico inquérito parlamentar, o PCP e o PS foram, como eles próprios costumam arengar, objetivamente encostados à parede. Não pela coligação de direita, mas pela voz sensata de uma militante de extrema esquerda que aprendeu a pensar de uma forma menos francesa. Agora, a estes dois partidos só resta arrastarem-se até uma morte inglória, ou fazer o aggiornamento que há anos lhes venho recomendando.

O PCP não percebeu que a classe operária, em nome da qual faz a sua propaganda há demasiadas décadas, não passa de umas centenas de milhar de idosos, a maioria deles reformados, cujas pensões, por serem baixas, nem sequer foram tocadas pela tal maioria de direita. O CC do PCP é uma turma de burocratas oportunistas que não percebeu ainda o essencial das mudanças sociais e culturais que têm vindo a ocorrer no mundo. Agarram-se às cadeiras como fez Salazar e como fazem os padrinhos e tias que continuam a manobrar os cordelinhos do corrompido até ao tutano Partido Socialista. Nenhuma destas oligarquias partidárias percebe, e por isso estão ambas a destruir o que supostamente amam, que ceder o protagonismo aos mais novos e às mais novas, e sobretudo abdicar de privilégios, económicos e de poder, que não são naturais, nem propriamente herdados, é uma condição essencial à sobrevivência da cultura democrática de que a Europa, e em geral o mundo, mais precisam neste momento de dolorosa metamorfose.

O Bloco de Esquerda tornou-se nestas eleições o terceiro partido político do nosso sistema democrático representativo—cortesia do Partido Socialista, do PCP e do PSD, de onde voaram muitos votos novos, sobretudo dos jovens profissionais, em direção ao que se perfila como uma nova forma informada e organizada de resistência aos rolos compressores da austeridade. Mas também e sobretudo mérito da visão estratégica de Miguel Portas e do impulso decisivo de Mariana Mortágua (1), sem o que a performance de Catarina Martins teria sido menos exemplar e eficaz.

Resumindo: temos três partidos do arco parlamentar que foram capazes de rejuvenescer a tempo, e por isso vingaram: CDS/PP, PSD e Bloco; e temos duas lanternas vermelhas que correm o risco de se apagarem de vez na próxima crise. Basta que não aprendam nada destas eleições.

Os partidos emergentes, entretanto, ficaram pelo caminho (2). E não foi culpa dos eleitores.


NOTAS
  1.  Poucos minutos depois de publicado este post lemos a nota de vitória de Mariana Mortágua. Sucinta, clara e estratégica.
  2. Ou talvez não... 140 mil eleitores votaram em partidos que não pertencem ao tradicional arco parlamentar, e o PAN, fundado em 2011, conseguiu eleger um deputado, pelo que gatos e cães, as suas queridas árvores e o seus dedicados donos estarão melhor defendidos daqui em diante ;) Mas mais: o Nós, Cidadãos! poderá roubar um deputado do círculo fora da Europa ao PSD (ou ao PàF), fazendo-se assim representar também na próxima legislatura parlamentar, o que, a verificar-se, baralhará ainda mais, mas neste caso bem, a atual conjuntura pós-eleitoral.

Atualização: 9/10/2015 00:08 WET

sábado, outubro 03, 2015

O suicídio do Rato


Não teremos tanta sorte


Um governo de zombies disfarçados de Frente Popular até nem seria mau para acabar de vez com o sonambulismo politicamente correto e desmiolado do país. Infelizmente, não teremos essa sorte.

Vamos mesmo ter instabilidade em 2016, 2017...

Ganhe quem ganhar, governe ou desgoverne quem governar ou desgovernar, vem aí uma nova dose de austeridade fiscal e o desmoronamento do capitalismo português.

É desta morte anunciada que verdadeiramente a Esquerda tem medo!


PS: António Costa regressa a Fontanelas no dia 5 de outubro.

quinta-feira, outubro 01, 2015

Syriza à moda de São Bento?


O importante é mudar a configuração do parlamento, votando em novas forças políticas


Num jantar comício da coligação PSD/CDS-PP, em Viseu, onde esteve Rui Rio, Passos Coelho defendeu que está em causa saber se “quem ganhar as eleições vai poder formar o Governo”, referindo que “já foi prometido, já houve quem o tivesse dito com todas as letras”, que “isso pode não ser assim tão simples, que uns podem ganhar e ser outros a governar”.

Passos acena com hipótese de Governo contra a vontade do povo
TSF, 30 de SETEMBRO de 2015

Outra maneira de apelar à maioria absoluta. No entanto, um governo PS+Bloco, ou PS+PCP, ou PS com acordos de viabilização dos orçamentos de estado de 2016, 2017, 2018 e 2019, parecem-me hipóteses altamente improváveis.

O Bloco e o PCP sabem perfeitamente que um Syriza em Portugal não duraria mais de um ano, e que uma tal experiência poderia fragmentar ainda mais a esquerda ideológica e politicamente atrasada que temos, arrumando-a de vez na mesma gaveta onde Mário Soares depositou o socialismo, em troca de uma cadeira garantida no topo da pirâmide do poder — capitalista, claro!

Não deixa de me surpreender os movimentos brownianos que agitam neste momento os donos da esquerda. Enquanto a extrema esquerda (Catarina Martins) se dirige ao eleitorado do centro-direita, o desastrado e nada recomendável líder improvisado do PS afasta-se, de forma suicida, do eleitorado que trouxe o partido da rosa ao arco da governação. Isto, e a corrupção que grassa nas entranhas mais viscerais do Partido Socialista são uma receita certa para o seu mais do que provável definhamento histórico.

Percebe-se o esforço retórico de Passos Coelho, pedindo de forma suave uma maioria para governar. Palpita-me que irá obtê-la. Até porque, com a nova fé marxista-leninista do PS, e o histórico pessoal de António Costa, que começa a aflorar no blogue Do Portugal Profundo, cautela e caldos de galinha não fazem mal a ninguém.

Além do mais, como me dizia o meu dentista há dois dias atrás, depois de um tratamento de choque, depois de iniciar-se um período de recuperação, ninguém quer mudar de médico. Seria trocar o certo e previsível, por uma incógnita que poderia levar-nos a uma recaída, com o consequente agravamento da doença e dos seus efeitos mais perniciosos.

É, no entanto, absolutamente necessário colocar no parlamento uma ou duas novas forças parlamentares ligadas à cidadania participativa, entre outras razões, para desdramatizar e anular o pendor populista da democracia que temos.

quarta-feira, setembro 30, 2015

Afinal, quem é que convidou a emigrar?

in Público, 29/09/2015

António Costa martela a verdade, à boa maneira marxista-leninista


O governo socialista português, por sua vez, promove, sem vergonha, a emigração portuguesa para toda a parte, sobretudo para a Europa, e em especial para Espanha, não registando tais movimentos nas suas estatísticas de emigração -- pois sendo livre a circulação de pessoas e bens na União Europeia, não faz formalmente sentido registar os movimentos demográficos internos à comunidade como migrações, ao mesmo tempo que se enganam as estatísticas do desemprego.

— in O António Maria; Portugal-Espanha: socialistas ibéricos promovem dumping social!, 24/5/2008

Quando António Costa acusa a coligação de deixar emigrar meio mundo, esqueceu-se dos dois gráficos que aqui publicamos. De 1984 para cá a emigração voltou a entrar numa curva ascendente, e em 2000 disparou. Desde que a emigração em massa portuguesa recomeçou (uma realidade aqui denunciada em 2008), até ao momento em que a hemorragia demográfica parece ter estancado (2013), os governos foram sempre cor-de-rosa, exceto durante os malfadados nove meses em que tivemos um 'intermezzo' chamado Pedro Santana Lopes. 

Ou seja, foi durante os últimos quatro governos 'socialistas' que os portugueses mais emigraram, repetindo um fenómenos que só na década de 60 do século passado, com o início das guerras coloniais, foi ainda mais grave. 

Convém, neste Carnaval eleitoral, não esquecer os factos. 

À boa maneira estalinista, António Costa martela a verdade como quem bebe um copo de água, e acha que o povo socialista deve insistir no erro de votar nesta corja (como escreve Rui Ramos) de oligarcas. 

Eu, por mim, vou votar num partido emergente. No Nós, Cidadãos! O regime partidário que temos sofre de gangrena irreversível.

Portugal: emigração anual entre 1850 e 2008
(clique para ampliar)

quinta-feira, setembro 24, 2015

Canha fica no Montijo!

NAL 2028? No Montijo, i.e. Canha?
(clique p/ ampliar)

As manobras de bastidor sobre o fim da Portela continuam. Quem está a dar as cartas neste momento? Senhora PGR, faça o favor de investigar!


Novo aeroporto ou Montijo? Dono da ANA já está a discutir com o governo
Observador, 22/9/2015, 19:34

O presidente da Vinci, dona da ANA – Aeroportos de Portugal, revelou esta terça-feira em Lisboa que iniciou discussões com o governo português sobre a possibilidade de um novo aeroporto em Lisboa, para responder ao aumento do tráfego aéreo de passageiros na Portela. A afirmação, citada pela Bloomberg, foi feita pelo presidente executivo (CEO) do grupo francês, Xavier Huillard, à margem da conferência Internacional Summit of Business Think Tanks.

As declarações de Huillard surgem no momento em que o governo está a acelerar a solução da Portela mais um, que passa pela utilização da base aérea do Montijo como infraestrutura complementar ao atual aeroporto. Esta solução é defendida como alternativa à construção de um novo aeroporto. E o objectivo do executivo é deixar fechado um memorando de entendimento para esta opção ainda na atual legislatura.

A Vinci, concessionária da ANA Aeroportos, é sobretudo uma multinacional de construção e exploração de obras e equipamentos públicos, nomeadamente auto-estradas e pontes. Em Portugal, além de se ter estreado na exploração de aeroportos, foi também a construtora da Ponte Vasco da Gama, cuja concessão de exploração hoje detém com a Mota-Engil.

Conclusão: com o recuo económico a que se assiste nos ec (países emergentes), como o Brasil ou Angola, a Rússia ou a China, o Egito ou a Líbia, a Argélia ou Marrocos, tudo paragens procuradas pelas nossas empresas de construção na sequência do colapso de 2008-2011, percebe-se a urgência em 'comprar' novas obras de betão ao nosso empobrecido Bloco Central da Corrupção.

No caso, o regresso da discussão sobre a eventual necessidade de um NAL (Novo Aeroporto de Lisboa), desta vez, já não na Ota (onde os figurões do Bloco Central, incluindo possivelmente partidos políticos, comparam terrenos), nem sequer em Alcochete (onde os figurões do Bloco Central, incluindo possivelmente partidos políticos, comparam terrenos), mas desta vez, numa localidade chamada Canha, que por acaso fica no concelho do Montijo, começou a ser enoculado nas mentes da opinião pública, seguindo-se para tal as velhas receitas da manipulação mediática das consciências, certamente a cargo de uma agência de comunicação conhecida.

A ideia de substituir a Portela por um grande aeroporto na rive gauche do Tejo continua, como se percebe, de pé, diga Passos Coelho o que disser em vésperas de eleições. O silêncio de António Costa e de Jerónimo Sousa sobre este assunto é, por outro lado, todo um compêndio de cumplicidades mas disfarçadas. O CDS vai à boleia, como sempre, e lá meterá também uns milhões ao bolso. Se deixarmos, claro!

A Vinci, uma multinacional francesa participada pelo fundo soberano do Qatar, e que foi objeto este ano de um processo judicial por alegadas práticas de 'escravatura moderna' (Yahoo/ AP) nas obras a decorrer no Qatar para o Mundial de Futebol de 2022, deve ter repensado recentemente (depois do colapso dos preços do petróleo e das bolsas chinesas) a sua estratégia de obras públicas!

Jorge Coelho, o senhor Mota e o CEO da Vinci, Xavier Huillard, lá terão almoçado no Armani Hotel Ristoranti, situado na famosa torre mais alta do planeta, o Burj Khalifa. Discutiram, saborearam, discutiram, beberricaram, e finalmente decidiram: temos que fazer o Novo Aeroporto de Lisboa, dê lá por onde der!

Mas o Passos não quer... Como fazemos? O principal é parar, para já, o memorando do Portela+1, no Montijo. Alguém que telefone ao Sérgio!

E assim foi que sonhei como tudo isto está a acontecer.

terça-feira, setembro 22, 2015

Montijo é para avançar!



Senhor António Costa, que opina sobre a extensão do Aeroporto de Lisboa (Portela) no Montijo?


Registamos a divergência entre o Primeiro Ministro e o rapaz das PPP - Sérgio Monteiro, a propósito do Montijo.

Passos quer aproveitar aeroporto da Portela “tanto quanto puder”

...esta opção de 'Portela mais um' dará perfeitamente para durante vários anos, e pelo menos seguramente até aos próximos seis ou sete anos, para podermos utilizar as infra-estruturas que temos".

Jornal de Negócios/ Lusa, 22/9/2015 12:59 

Lembramos que o alerta para as possíveis negociatas em curso, tendentes a protelar a decisão sobre a extensão do Aeroporto de Lisboa para o Montijo, foi aqui dado ontem, a propósto do desenvolvimentismo pacóvio do PS. E a pergunta que fizemos foi esta:

Governo deixou cair o Montijo para o colo do próximo governo. Quanto valeu este negócio?

Seguiam-se os avisos e as queixas... que voltamos a reproduzir.

Caríssimos confrades,

Reparem nas subtilezas das noticias (Jornal de Negócios)...

O edil do Montijo, um tal rapaz socialista que “Canta”, coloca uma série de requisitos à ida da Ryanair para o Montijo. Pretende uma autoestrada, uma rede de esgotos e águas, esquecendo outros requisitos como, por exemplo, a ligação ferroviária do aeroporto e da velha Aldegalega do Ribtejo à rede existente. A Ryanair compromete-se com um número astronómico de 5 milhões de passageiros por ano, o que levará à construção de outras infra-estruturas no Montijo. Os 5 milhões são 100% Ryanair, não contando portanto com aqueles que a Ryan vai ganhar à TAP (e às PGA e SATA).

As outras Câmaras com interesse neste projecto, tais como a da Moita (anda nos toiros), Alcochete, Palmela, Montijo e Barreiro, devem estar de férias, ou não existem.

Cinco milhões de passageiros, cerca de metade do movimento da Portela, mantendo embora a Ryanair voos para as principais cidades europeias a partir da Portela, significam pelo menos 5000 novos postos de trabalho na zona. Daí o interesse que a base do Montijo deveria ter para as outras autarquias. Presumo que não sabem o que é um avião, coisa a que já estamos habituados.

Por outro lado, embora não seja dito de forma expressa, e a quinze dias das eleições, torna-se evidente que estão a ser levantadas resistências cor-de-rosa e cor de laranja ao acordo anunciado.

Como é óbvio, o aeroporto do Montijo colide com os interesses instalados (e bem instalados) do Novo Aeroporto de Lisboa (NAL), colidindo também com a projetada (e entretanto abandonada pelo governo ainda em funções) ligação ferroviária em bitola UIC entre Pinhal Novo-Poceirão e Badajoz. A malta do PSD e do PS que meteu (via BPN, BES, CGD e BCP) muito cacau na Hipótese NAL (na Ota ou em Alcochete) quer o NAL de qualquer maneira (ou haverá sapatos de cimento por aí), e a meio caminho entre a Portela e o Aeromoscas Internacional de Beja, para que todos os modos sejam esmagados pelo fantástico NAL, certamente desenhado pelo Pritsker do estádio Axa de Braga. Como dizia um incansável e honesto Professor do Técnico, a seguir vão aparecer mais umas A13 para nenhures, como sucedeu com a famosa, idealizada, projetada, construída e às moscas A10, que serviria para ligar a capital ao NAL da Ota, lembram-se?

Mesmo com o Salgado apeado, os interesses ainda se movem bem.

É claro que, com o Dono Disto Tudo no ativo, o Aeroporto na Base do Montijo, nem pensar! Mas mesmo retido na Quinta da Marinha, a banhos com a Justiça, parece que o Montijo, nem pensar!

Pois então continuem alegremente a protelar a questão do Montijo, e não olhem para o que se está a passar na Galiza com a Ryanair, instalando-se por lá alegremente. Onde? Em Vigo, claro, onde vão começar a operar comboios de Alta Velocidade que se integram na REDE UIC (bitola europeia) espanhola. Porque será que a Ryanair está a apostar na Galiza? E o CEO da PGA, que clama por ligações ferroviárias compatíveis com a bitola europeia, ameaça mandar a pátria às urtigas se as lesmas e os piratas continuarem a mandar nisto tudo?

Para as Low Cost os aeroportos são fatores de competição. Os aeroportos da Galiza competem com o de Pedra Rubras, e as taxas que a Vinci (que ouve sempre a Mota-Engil)  está a cobrar não ajudam mesmo nada, aliás até ajudam a fixação da Ryanair na Galiza!

Os atrasos na extensão do aeroporto de Lisboa ao Montijo também têm implicações nos voos da Portela. Não abrem o Montijo? Então vamos para a Galiza! Não ligam Lisboa a Badajoz por TGV? Pois então vamos para Badajoz (Cáceres, Mérida, Évora ou até Beja!)

Algo me diz que o acordo para a Base do Montijo não vai para a frente.

Imaginem o que isto quer dizer: o NAL, Novo Aeroporto de Lisboa, no Canha, a 50 km de Lisboa, e a Portela transformada na prometida China Town do Senhor Ho. Se estou a especular, ..., então ando a especular desde 2006, e pelos vistos tem batido tudo certo.

Um bom fim de semana.

PS: Apenas para confirmar as suspeitas, muito embora se saiba que o Diário Económico alinhava estreitamente com as posições do BES.

De uma forma não tão clara, é dito no DE de que a decisão do Montijo transita para o novo governo, lavando daí as mãos o amigo Sérgio Monteiro. Caso caia nas mãos do PS, com pompa e circunstância, lá virá da mesa do canto um pedido e o anúncio de um NAL acompanhado com PPP.

Quanto é que o PSD e o CDS vão receber, com este adiamento, para a sua campanha eleitoral?

O amigo colombiano, por causa do negócio da TAP, está com vontade de falar.

Para breve esperam-se algumas revelações, digo "aparições", quanto ao financiamento encapotado da TAP por parte da Parpública,...., os 800 milhões foram para algum lado. "Quem cabritos voadores tem, e cabras voadoras não têm, de algum lado lhe vem."

Entretanto, e até às eleições, ninguém fala dos cortes que se vão fazer nas rotas de médio curso da TAP (e da SATA).

Até ao final do ano esperam-se "boas novas", e como a coisa anda, o processo da TAP corre o risco de borregar. No fundo, quase que se pode concluir que o negócio da TAP não é necessariamente o do transporte aéreo, mas antes o do imobiliário, dos terrenos da Portela e da construção do NAL, seja ele na Ota, em Canha, ou onde calhar. Há muito boa gente com dinheiro por ganhar.

Tal como o Novo Banco, antes de tentar vender, há que reestruturar para depois vender com menos prejuízo (possível). Malta na placa da Portela.

Alcochete, 19 de setembro de 2015
Garganta Funda

E hoje mesmo alertava-se para novo escândalo...

LÓBI DO NAL (NOVO AEROPORTO DE LISBOA), CONTINUA VIVO E BOICOTA INVESTIMENTOS DA DHL

A DHL continua à espera de uma solução para construir um novo terminal no aeroporto de Lisboa, um investimento de 10 milhões de euros, que diz ser vítima da indefinição em relação à manutenção da infraestrutura na Portela.

"Estamos à espera de uma solução. Queremos fazer o investimento em Lisboa, mas precisamos que o Governo e o aeroporto nos ajudem", afirmou à Lusa o diretor de operações da DHL Express, Roy Hughes, num encontro com jornalistas em Leipzig, na Alemanha, onde está instalado o principal 'hub' da gigante da logística.

O vice-presidente da DHL explicou à Lusa que o investimento em Lisboa começou por ser vítima da indefinição em relação à continuação da aeroporto na Portela, incompatível com "um projeto a longo prazo, de no mínimo 15 anos"— in CARGO NEWS, 13/9/2015.

E depois da Catalunha?



Que farão a Galiza e o País Basco depois de uma eventual independência da Catalunha?


Mas replica al riesgo de ‘corralito’ con la amenaza de no pagar la deuda | El presidente catalán considera las palabras de Linde "indecentes e irresponsables"
El País, Lluís Pellicer / Maiol Roger / Íñigo de Barrón Barcelona / Madrid 22 SEP 2015 - 00:13 CEST

La recta final de campaña del 27-S ya tiene un asunto nuclear de debate: las consecuencias económicas de una independencia unilateral de Cataluña. Ayer, el gobernador del Banco de España, Luis María Linde, advirtió sobre el riesgo de corralito y la salida inmediata de la Unión Europea y del euro en caso de secesión. La respuesta de Artur Mas, quien vio en esas declaraciones la intervención del Estado, fue inmediata: amenazó con que el Ejecutivo catalán no asumiría la “parte de la deuda” pública que le corresponde —alrededor de 180.000 millones de euros, el 18% del total— en caso de que el Estado no se siente a negociar la separación si su lista gana las elecciones del domingo.

Paradoxalmente, ou talvez não, as velhas tensões intra-nacionalistas europeias regressam em força, à medida que os velhos impérios coloniais europeus tentam formar uma união económica, financeira e política. Numa União Europeia plena, os estados deveriam dar espaço e liberdade às nações históricas, mas não é o que estamos a ver. Pelo contrário, os países europeus continuam agarrados às suas centralidades autoritárias, às suas prerrogativas de mando nacional, procurando receber o mais que podem, e pagar o menos possível, por terem juntado parcialmente os trapos numa união mole de vontades, desmiolada, atrelada aos interesses da América e de Israel, estrategicamente impotente, suspirando por uma superioridade há muito perdida, suando hipocrisia por todos os poros, como o êxodo de refugiados económicos e políticos das zonas de guerra criadas criminosamente por americanos e europeus plenamente vem atestando.

Do ponto de vista de Lisboa, a desagregação potencial do estado espanhol é um enorme problema que não gostaríamos de enfrentar. O fim do império iniciado pelos Reis Católicos não foi até hoje interiorizado por Madrid, não tendo tirado, por isso, as devidas ilações no que se refere às nacionalidades históricas do território cuja unidade formalmente vertida em texto constitucional só ocorreu quando Napoleão atravessou as Espanhas para invadir Portugal.

O Concílio de Trento, para lá da mercearia das indulgências e dos dogmas, talvez tenha tido por principal objetivo estratégico assegurar a Roma os proventos do vasto mundo que portugueses, andaluzes, extremenhos, leoneses, galegos, asturianos, bascos, navarros, castelhanos, aragoneses, valencianos, catalães, genoveses, etc., começaram a desbravar no início do século 15. Acontece que esta viagem terminou e o regresso a casa tem sido mais penoso do que se poderia imaginar. Atrasámo-nos no capitalismo industrial e financeiro, atrasámo-nos nas liberdades, atrasámo-nos na democracia e atrasámo-nos na cultura. Tornámo-nos, em suma, dependentes das traduções!

Os espanhóis pagaram já um preço muito alto em carnificinas fratricidas que ninguém quer recordar. Os tempos são outros, mas o que vimos nos Balcãs na última década do século 20, o que vemos no Próximo Oriente há mais de vinte e cinco anos, sem fim à vista, e o que vemos agora do outro lado do rio Mediterrâneo demonstra que a besta que existe em cada um de nós pode acordar quando menos se espera.

As guerras começam sempre por guerras de palavras. O bom mesmo é não começar.

Esperemos que o jovem rei saiba assumir as suas responsabilidades na cada vez mais complicada situação institucional espanhola.

segunda-feira, setembro 21, 2015

Grande sondagem OAM: PaF na frente


Onde votam os leitores do António Maria


  • PaF continua favorito
  • PS de rastos
  • Nós, Cidadãos! surpreende, mesmo O António Maria ;)
  • PCP parado, à espera da renovação
  • Livre, boas expetativas, à custa do PS
  • Bloco segura votação, à custa do PS
  • PDR mantém Marinho e Pinto em Bruxelas 
  • Os demais partidos que constavam da sondagem somam 1%
  • Reduzido número de votos brancos
  • Diminuição acentuada da abstenção

Em quem vai votar no dia 4 de outubro?

Esta foi a pergunta que fizemos na sondagem realizada com uma mini-aplicação do Blogger ao longo dos últimos seis dias. O universo abrangido é especial: os leitores d'O António Maria e os amigos destes leitores que viram o convite sucessivamente enviado.

A sondagem foi divulgada nas plataformas Blogger, Facebook e Twitter.
Universo: 1246 pessoas com mais de 18 anos, igualmente distribuídos por sexo e localização (Portugal e principais países da diáspora.)

RESULTADOS

PaF (PPD/PSD+CDS-PP) - 452 (36%)

PS - 194 (15%)

CDU (PCP+PEV) - 97 (7%)

BE (Bloco de Esquerda) - 81 (6%)

NC (Nós, Cidadãos!) - 203 (16%)

PDR (Partido Democrático Republicano) - 16 (1%)

L/TDA (Livre/ Tempo de Avançar) - 110 (8%)

PAN (Pessoas-Animais-Natureza) - 6 (0%)

PT (Partido da Terra) - 3 (0%)

Agir (PTP-MAS) - 7 (0%)

Voto noutro partido - 16 (1%)

Voto Branco - 22 (1%)

Não voto - 39 (3%)

O erro dos economistas iluminados de António Costa

Na Europa não é diferente...

Porque é que os economistas do PS só dizem disparates? Este gráfico explica quase tudo.


O maior problema do PS é a sua completa vacuidade ideológica e, mais recentemente, a desonestidade intelectual dos seus economistas que, como qualquer José Sócrates, ou qualquer António Costa (versão bastarda do primeiro), confundem economia com propaganda partidária e jogos de poder.

Na realidade, a coisa é bem pior: o verdadeiro problema do PS é estar de pés e mãos atados a negócios e compromissos inconfessáveis com o que há de mais corrupto na sociedade portuguesa.

Exemplo do que afirmo é o modo sorrateiro como Sérgio Monteiro despachou o contrato de ligação do aeródromo do Montijo ao Aeroporto de Lisboa para o próximo governo (1), ou o boicote do lóbi do NAL instalado no governo e na ANA-Vinci, aos novos terminais de carga aérea que a DHL quer construir no Aeroporto Sá Carneiro e na Portela (2).

Mas voltando à famosa literatura sobre o crescimento, nomeadamente o crescimento da economia portuguesa baseado da expansão do consumo e da produção interna, alimentado, claro está, por mais endividamento público e privado, e mais impostos, cortes e autoritarismo socialista, recomendo a leitura deste artigo ilustrativo da floresta que os obtusos e aldrabões da minha pátria recusam ver.

Charles Hugh Smith, Sunday, September 20, 2015
Why Has Labor's Share of GDP Declined for 40 Years?

How can households pay rising taxes, borrow more money and spend more to support a consumer economy on an income that's shrinking even when the economy is expanding?

Answer: they can't. "Something's gotta give": they can't pay higher taxes, borrow more money (and incur more monthly payments) and spend more on goods and services when their incomes are stagnating. It simply isn't possible.

ÚLTIMA HORA!

Registamos a divergência, entre o Primeiro Ministro e o rapaz das PPP - Sérgio Monteiro.
Passos quer aproveitar aeroporto da Portela “tanto quanto puder”
...esta opção de 'Portela mais um' dará perfeitamente para durante vários anos, e pelo menos seguramente até aos próximos seis ou sete anos, para podermos utilizar as infra-estruturas que temos". Jornal de Negócios/ Lusa, 22/9/2015 12:59

NOTAS
  1. Governo deixou cair o Montijo para o colo do próximo governo. Quanto valeu este negócio?

    Caríssimos confrades,

    Reparem nas subtilezas das noticias. O edil do Montijo, um tal rapaz socialista que “Canta”, coloca uma série de requisitos à ida da Ryanair para o Montijo. Pretende uma autoestrada, uma rede de esgotos e águas, esquecendo outros requisitos como, por exemplo, a ligação ao modo ferroviário que faça articulação com a restante rede. A Ryanair compromete-se com um número astronómico de 5 milhões de passageiros ano, o que obriga a outras infra-estruturas no Montijo. Os 5 milhões, 100% Ryan, sem contar com aqueles que a Ryan vai ganhar à TAP (e às PGA e SATA).

    As outras Câmaras com interesse neste projecto, tais como a da Moita (anda nos toiros), Alcochete, Palmela, Montijo e Barreiro, devem estar de férias, ou não existem.

    Cinco milhões de passageiros, cerca de metade do movimento da Portela, mantendo embora a Ryanair voos para as principais cidades europeias a partir da Portela, significam pelo menos 5000 postos de trabalho na região. Daí o interesse que a base do Montijo deveria ter para as outras autarquias. Presumo que não sabem o que é um avião, coisa a que já estamos habituados.

    Por outro lado, embora não seja dito de forma expressa, e a quinze dias das eleições, torna-se evidente que estão a ser levantadas resistências cor-de-rosa e cor de laranja ao acordo anunciado. Como é óbvio, o aeroporto do Montijo colide com os interesses instalados (e bem instalados) do Novo Aeroporto de Lisboa (NAL), colidindo também com a projetada (e entretanto abandonada pelo governo ainda em funções) ligação ferroviária em bitola UIC entre Pinhal Novo-Poceirão e Badajoz. A malta do PSD e do PS que meteu (via BPN, BES, CGD e BCP) muito cacau na Hipótese NAL (na Ota ou em Alcochete) quer o NAL de qualquer maneira, ou haverá sapatos de cimento por aí, e a meio caminho entre a Portela e o Aeromoscas Internacional de Beja, para que todos os modos sejam esmagados pelo fantástico NAL, certamente desenhado pelo Pritsker do estádio Axa de Braga. Como dizia um incansável e honesto Professor do Técnico, a seguir vão aparecer mais umas A13 para nenhures, como sucedeu com a famosa, idealizada, projetada, construída e às mocas A10, que serviria para ligar a capital ao NAL da Ota!

    Mesmo com o Salgado apeado os interesses ainda se movem bem. É claro que, com o Dono Disto Tudo no ativo, o Aeroporto na Base do Montijo, nem pensar! Mas mesmo retido na Quinta da Marinha, a banhos com a Justiça, parece que o Montijo, nem pensar!

    Pois então continuem alegremente a protelar a questão do Montijo, e não olhem para o que se está a passar na Galiza com a Ryanair, instalando-se alegremente na Galiza. Onde? Pois em Vigo, onde vão começar a operar comboios de Alta Velocidade que se integram na REDE UIC (bitola europeia) espanhola. Porque será que a Ryanair está a apostar na Galiza? E o CEO da PGA, que clama por ligações ferroviárias compatíveis com a bitola europeia, ameaça mandar a pátria às urtigas se as lesmas e os piratas continuarem a mandar nisto tudo?

    Para as Low Cost os aeroportos são fatores de competição. Os aeroportos da Galiza competem com o de Pedra Rubras, e as taxas que a Vinci (que ouve sempre a Mota-Engil, claro)  está a cobrar não ajudam mesmo nada, aliás até ajudam a fixação da Ryanair na Galiza!

    Os atrasos na extenão do aeroporto de Lisboa ao Montijo também têm implicações nos voos da Portela. Não abrem o Montijo? Então vamos para a Galiza! Não ligam Lisboa a Badajoz por TGV? Pois então vamos para Badajoz (Cáceres, Mérida, Évora ou até Beja!)

    Algo me diz que o acordo para a Base do Montijo não vai para a frente. Imaginem o que isto quer dizer: o NAL, Novo Aeroporto de Lisboa, no Canha, a 50 km de Lisboa, e a Portela transformada na prometida China Town do Senhor Ho. Se estou a especular, ..., então ando a especular desde 2006, e pelos vistos tem batido tudo certo.

    Um bom fim de semana.

    PS: Apenas para confirmar as suspeitas, muito embora se saiba que o Diário Económico alinhava estreitamente com as posição do BES.

    De uma forma não tão clara, é dito no DE de que a decisão do Montijo transita para o novo governo, lavando daí as mãos o amigo Sérgio Monteiro. Caso caia nas mãos do PS, com pompa e circunstância, lá virá o anúncio de um NAL e a respectiva PPP.

    Quanto é que o PSD e o CDS vão receber, com este adiamento, para a sua campanha eleitoral?

    O amigo colombiano, por causa do negócio da TAP, está com vontade de falar. Para breve esperam-se algumas revelações, digo "aparições", quanto ao financiamento encapotado da TAP por parte da Parpublica,...., os 800 milhões foram para algum lado. "Quem cabritos voadores tem, e cabras voadoras não têm, de algum lado lhe vem."

    Entretanto, e até às eleições, ninguém fala dos cortes que se vão fazer nas rotas de médio curso da TAP (e da SATA). Até ao final do ano esperam-se pois "boas novas", e como a coisa anda, o processo da TAP corre o risco certo de borregar. No fundo, quase que se pode concluir que o negócio da TAP não é necessariamente o do transporte aéreo, mas antes o do imobiliário, dos terrenos da Portela e da construção do NAL, seja ele na Ota, em Canha, ou onde calhar. Há muito boa gente com dinheiro por ganhar.

    Tal como o Novo Banco, antes de tentar vender, há que reestruturar para depois vender com menos prejuízo (possível). Malta na placa da Portela.

    Alcochete, 19 de setembro de 2015
    Garganta Funda
    |
  2. O Bloco Central da Corrupção, ou se quiserem, a CLEPTOCRACIA PORTUGUESA, dá nisto: O LÓBI DO NAL (NOVO AEROPORTO DE LISBOA), QUE CONTINUA VIVO, BOICOTA INVESTIMENTOS DA DHL

    A DHL continua à espera de uma solução para construir um novo terminal no aeroporto de Lisboa, um investimento de 10 milhões de euros, que diz ser vítima da indefinição em relação à manutenção da infraestrutura na Portela.

    "Estamos à espera de uma solução. Queremos fazer o investimento em Lisboa, mas precisamos que o Governo e o aeroporto nos ajudem", afirmou à Lusa o diretor de operações da DHL Express, Roy Hughes, num encontro com jornalistas em Leipzig, na Alemanha, onde está instalado o principal 'hub' da gigante da logística.

    O vice-presidente da DHL explicou à Lusa que o investimento em Lisboa começou por ser vítima da indefinição em relação à continuação da aeroporto na Portela, incompatível com "um projeto a longo prazo, de no mínimo 15 anos"— in CARGO NEWS, 13/9/2015
Atualizado em 22/9/2015, 14:55 WET

Estaremos assim tão zangados?

in The Portuguese missing link, Pedro Magalhães

O Grande Bloco Central tem-se aguentado contra ventos e marés!


Se repararmos bem, Portugal é o mais conservador dos três países europeus do sul que regressaram à democracia após longas décadas de ditadura. Refiro-me, neste caso, à constância eleitoral das nomenclaturas partidárias que dominaram cada um dos países até ao grande colapso mundial de 2008, e depois... Enquanto que a queda dos votos agregados dos partidos dominantes espanhóis e gregos é abrupta e profunda depois do colapso do Lehman Brothers, no caso português a mesma tem sido suave, tanto na velocidade quanto na profundidade.

Não deixa de ser curioso observar como os portugueses reagem positivamente/negativamente aos estímulos imediatos, como se todo o país fosse composto por funcionários e empresas públicas — que não é. A bancarrota de 1983 (governo do PS chefiado por Mário Soares), a chegada do FMI e a austeridade então imposta, apesar de menos dura da que se seguiu ao colapso do governo do PS de José Sócrates, com a aplicação do terceiro programa de austeridade imposto pelos credores, teve um impacto eleitoral bem mais acentuado do que a tragédia social que se seguiu à assinatura do Programa ainda curso, cujo sintoma mais gritante é o nível de emigração a que regressámos. A diferença no comportamento eleitoral resulta porventura das alavancas sociais e económicas que o PCP então ainda controlava. Isto é, se descontarmos este efeito secundário, a norma parece ser o de um conservadorismo eleitoral em volta do Grande Bloco Central (PS, PSD, CDS), cuja perda de influência relativa se iniciou por volta de 1994, e tem vindo a deslizar lentamente para valores cada vez mais próximos do período pós-revolucionário (1976...). Como não têm surgido novidades partidárias desde então, salvo o Bloco de Esquerda, e o PCP já não é o que era, a perda de representatividade do Grande Bloco Central equivale, por aumento dos níveis de abstenção, a uma deslegitimação lenta, mas consistente, do regime constitucional.

Esta constatação tem duas consequências analíticas:
  1. O fatalismo eleitoral português não permite, pelo menos sem que um novo e mais dramático abalo ocorra, uma alteração significativa do Grande Bloco Central;
  2. No entanto, à medida que a linha descendente da representatividade do Grande Bloco Central decai, aumenta o vazio e a frustração geral de onde já começaram a surgir sinais de inquietação traduzidos na vontade dispersa de repensar o regime.
Resta agora saber se 4 de outubro será o ponto de partida da necessária metamorfose da nossa democracia, ou se, pelo contrário, teremos que esperar mais quatro anos.

POST SCRIPTUM

Será que o clubismo partidário em Portugal é mais forte do que os jobs for the boys and gals? De onde vem o conservadorismo eleitoral indígena?

Vale a pena ler estes dois textos, que li já depois deste post.

Lower levels of clientelism in Portuguese politics explain why Portugal handled austerity better than Greece during the crisis.
By Alexandre Afonso, Sotirios Zartaloudis and Yannis Papadopoulos
The London School of Economics and Political Science/ EUROPP

In a recently published article, we argue that the strength of clientelistic links between voters and parties shape party strategies toward austerity reforms. Political parties that draw extensively on clientelistic links and the distribution of rents to their party supporters seek to avoid or delay agreements on fiscal retrenchment because their own electoral survival depends on the control of public sector employment, regulatory powers and budgets in order to reward clients. By contrast, parties that rely less on clientelistic links have a larger margin of manoeuvre in austerity reforms because their electoral fortunes are less tied to public spending as an electoral resource.

(...)

When citizens and parties are tied by ideology only, voters do not depend directly on parties for their resources, and policy drives toward austerity politics may be less constrained by vote-seeking concerns, as in the Portuguese case. Mass clientelism led Greek parties to systematically over-promise, and voters to over-expect, which led to brutal sanctions and anger when these promises had to be betrayed. In contrast, Portuguese parties did not promise as much, and voters did not expect much from them either.


Portuguese puzzle: the bailed-out country that bucks the trend
By Tony Barber
Financtial Times, Sep 17 2015

...Portugal differs from other bailed-out countries, especially Greece and Spain, in not having produced an anti-establishment populist movement inspiring widespread support. Compared with other EU states in the Atlantic-Mediterranean area, Portugal seems a rock of political stability.
 Atualizado: 22/9/2015 14:36 WET