terça-feira, fevereiro 11, 2025

Steve Bannon: “We don’t want to be an empire anymore”


Me — Mr. Bannon, if you’re serious about reviving Mahan’s (1) strategic theory about sea dominance, you should consider closing Russia’s access to the open sea through Turkey, the Baltic Sea, and the Arctic. This would make defeating Putin’s invasion of Ukraine (which would cause Russia long-term pain) essential to America’s new world nationalist strategy. I hope you’ll be able to tell us more about this soon.

Desde que Donald Trump se tornou, pela segunda vez, presidente dos Estados Unidos, que a avalanche de informação e contra-informação desassossegou o mundo inteiro. E a razão é simples de entender: boa parte das mensagens e do ruído tem origem no próprio presidente da mais rica e poderosa potência do planeta! Acontece que num ambiente destes a entropia toma rapidamente conta das mensagens, desvalorizando-as paulatinamente. E no entanto, a aparente senilidade de Trump esconde objetivos estratégicos que ele e o movimento MAGA perseguem e estão, em princípio, em condições de atingir. 

Ninguém melhor do que Steve Bannon explica o que está a acontecer nos Estados Unidos neste momento. Trata-se de uma revolução, e não de um golpe de estado constitucional. A constituição americana nem sequer está em causa nas exigências do movimento MAGA. 

O que está em curso é uma revolução nacionalista e populista, anti-globalista, visando, na minha terminologia, o estabelecimento dum Tratado de Tordesilhas 2.0, onde já não há geografia para descobrir e conquistar, mas tão só a urgência da dividir pacificamente os recursos que ainda restam e são vitais ao estado atual da civilização, antes de uma possível transição para outro paradigma energético, demográfico, antropológico (na realidade, pós-humano, ou trans-humano), assegurando ao mesmo tempo uma paz perpétua, necessária pela simples razão de já não existirem recursos suficientemente abundantes para criar um novo ciclo de guerras mundiais num planeta habitado por oito mil milhões de seres humanos e antes de se precipitarem pelas arribas abaixo de um inevitável colapso demográfico, provavelmente antes de 2100, cujos contornos se podem já adivinhar, mas não conhecer em detalhe.

A América de Bannon voltará a ser, no espírito geoestratégico de Alfred T. Mahan, mas também da Doutrina Monroe, uma potência marítima hegemónica no seu hemisfério, formado por dois grandes oceanos e o continente americano ligado nas suas pontas, norte e sul, ao Ártico e à Antártida. Sobre esta base irá disputar, ou no mínimo partilhar, o mundo com a China. Não sem o apoio ou, pelos menos, a neutralidade da Europa, da Índia, das Filipinas, da Coreia do Sul e do Japão. 

Não vejo melhor metáfora para descrever este desenrolar dos acontecimentos do que o Tratado de Tordesilhas assinado entre Reino de Portugal e a Coroa de Castela em 7 de junho de 1494.

Por fim, para evitar que o ruído mediático nos force, pequenos leitores que somos, a tomar partido em algo que de momento nos ultrapassa, recomendo vivamente ir ouvindo a iminência parda de Trump e do movimento MAGA: Steve Bannon.

PS — Uma derrota pesada da Rússia poderia enfraquecer de tal modo aquele país continental que a sua fragmentação seria praticamente inevitável. Uma tal fragmentação, por sua vez, abriria as portas a uma rápida penetração da China em vastas regiões da Federação Russa, reclamando território seu na Manchúria, ocupado abusivamente pela Rússia, mas avançando também até à Sibéria, para se fazer ressarcir de prejuízos e dívidas de Moscovo ao ex-Império do Meio. Este cenário, por fim, num tempo pós-Putin, poderia aproximar Moscovo a Berlim, Paris, Atenas, Roma, Madrid e Lisboa! Parece evidente que Biden e os seus conselheiros estudaram aturadamente este cenário. E que Trump estará também a dar-se conta do mesmo problema. Uma Sibéria independente, rica em gás natural, faria da Rússia um país irrelevante no tabuleiro mundial, ajudando, por outro lado, a Índia a demover Pequim dos seus devaneios no Índico.

Steve Bannon, nesta entrevista: 

— “Arctic’s the new great game”.

— “...you’re seeing Monroe Doctrine to look at our hemispheric defence”

— “...the years of us spending hundreds of billions of dollars around the rim of the Eurasian landmass may be over...”

— “[Trump]’s telling NATO, the countries of the continent and the United Kingdom: the Russian army is your problem. We’re a naval power, and the Russian Navy is our problem (...) Russian army in that part of the Eurasian landmass, in, you know, near Kursk and Stalingrad, it’s not an English problem (...), it’s not an American problem, it’s not in the vital National Security interest of the United States (...) We can’t afford it anymore...”


NOTA (1) — Mahan (who famously said: “Whoever rules the waves rules the world”) argued for a universal principle of concentrating powerful ships in home waters and minimising their strength in distant seas. At the same time, Fisher reversed Mahan’s position by utilising technological change to propose submarines for defending home waters and mobile battle cruisers for protecting distant imperial interests.

segunda-feira, fevereiro 10, 2025

Renováveis e indústria pesada

Insisto: o mundo caminha para uma crise energética sem precedentes. Não há suficiente carvão, petróleo, gás natural, urânio, e rios disponíveis para suportar a procura mundial de energia. 

Ou seja, em algum momento, o declínio já visível do consumo mundial de energia per capita dará lugar a um dominó catastrófico de colapsos económicos, demográficos, sociais, políticos e culturais. 

Racionalizar esta perspetiva será sempre um exercício psicológico demasiado doloroso. Preferimos, portanto, procrastinar as necessárias decisões difíceis e acreditar no mito das energias renováveis. Esta energia, na realidade, sempre existiu, mas então, quando dependíamos apenas do Sol, do vento, dos rios e da queima de árvores, éramos pobres, vivíamos com muito menos...

Significa isto que devemos abandonar as novas tecnologias de produção de energia, eólica, solar, nuclear?

Não. Na realidade, em regiões inteiras do planeta, onde escasseiam já o carvão, o petróleo e o gás natural, e onde não há mais rios para domesticar, não há mesmo alternativa às chamadas energias renováveis! 

Acontece, porém, que este novo paradigma significa o declínio, entre outras, das indústrias pesadas, e portanto uma mudança radical no estilo de vida humana na Terra, sobretudo nas sociedades industriais e pós-industriais desenvolvidas. A dificuldade objetiva, na Europa e nos Estados Unidos, em produzir projéteis de artilharia em quantidade suficiente para derrotar rapidamente Vladimir Putin, veio revelar uma mudança que, na realidade, já ocorrera há algum tempo,  mas que só agora começamos lentamente a perceber: a era da abundância industrial morreu.

A guerra de drones contra tanques, aeronaves e infantaria motorizada que prossegue na Ucrânia veio demonstrar, quer as fragilidades materiais do Ocidente (onde o pico do petróleo ocorreu há mais tempo), quer o colapso a curto prazo da vantagem petrolífera temporária da Rússia. As primeiras semanas da nova presidência americana, e a invasão não provocada e criminosa da Ucrânia pela Rússia, mostram à saciedade até que ponto o fim da abundância das energias fósseis está a mergulhar as sociedades humanas numa espiral de violência assustadora. Como a aniquilamento termonuclear mútuo não traz vantagem a ninguém, outras formas de assédio e guerra tenderão a emergir depois de terminada a barbárie que neste momento continua a sacrificar milhares de pessoas diariamente na Ucrânia. Para este fim macabro as grandes potências têm em mente uma única preocupação: capturar e controlar as principais reservas mundiais de petróleo, gás natural, carvão, urânio e metais raros, pois sabem que sem estes recursos as respetivas sociedades cairão rapidamente no abismo. Dilema mais evidente é difícil de vislumbrar...

Não tardaremos a ver o colpaso, por exemplo, do turismo mundial de massas. Seja porque não será em breve tolerável continuar a subsidiar o combustível do transporte aéreo, seja porque o declínio do poder médio de compra nas sociedades ricas se acentuará inexoravelmente no decurso deste século.

Oxalá me engane!

Recomendo, por fim, a leitura de mais um artigo certeiro de GAIL TVERBERG, de que publico alguns excertos.

Without enough oil, people may need to stay closer to home.

(...)

The Garden of Eden, mentioned in the Bible's Book of Genesis, seemed to have some of the characteristics of Southeast Asian countries today. If "warm and wet" was a solution in the early days, it may still be a solution in the future.

(...)

While Southeast Asia shares most of the world's energy problems, this region seems better positioned to handle the energy shortfalls ahead of many other areas. Southeast Asia's warm, wet climate is helpful, as is its coal supply, particularly in Indonesia. Many people in this part of the world are used to living in cramped quarters — three generations in a large one-room home, for example. Abundant forests provide a renewable source of energy. Religious traditions help provide order. These factors may work together to allow the economies of these countries to continue to some extent, even as much of the rest of the world pushes in the direction of collapse.

(...)

While China's rapid growth has been impressive, it is hard to maintain. Southeast Asia's slower growth curve, which is still rising, is easier to maintain. If it starts to fall, it will hopefully be slower.

(...)

Coal is an inexpensive heat and electricity source and essential for making steel. The Industrial Revolution around the world started with the use of coal, and coal is still heavily used in manufacturing. While the wealthy countries of the world talk a great deal about carbon dioxide and climate change, the poorer countries—including those in Southeast Asia—continue to use coal to the extent it is available.

Worldwide, China is number one in coal production (93.10 exajoules), according to the 2024 Statistical Review of World Energy. India is in second place, with an output of 16.65 exajoules. Indonesia is close behind in third place, with coal production of 15.73 exajoules. The advantage of Indonesia is that its population (281,000) is much lower than that of India (1.4 billion), so its coal benefit relative to population is much greater than that of India.


Figure 1 shows that Southeast Asia produces little oil. This oil production (blue line) peaked in 2000 and has fallen since then. Countries worldwide share this pattern: oil production starts falling once the easily extracted oil is removed.


Figure 2 shows that once natural gas production (blue line) began to decline, Southeast Asian natural gas consumption (orange line) flattened out and even declined slightly. Natural gas exports also started to fall, beginning more than a decade before the peak in production was reached. Some of the natural gas exports are liquefied natural gas exports under long-term contracts. These cannot easily be cut back because of inadequate output.

Ler artigo completo aqui.

domingo, fevereiro 09, 2025

Populismo fiscal

Sem um sistema fiscal estável, justo e atrativo, Portugal continuará na cauda da Europa.


Uma proposta oportuna de Aníbal Cavaco Silva e Carlos Tavares. 
Oxalá os zombies do parlamento e os partidos que os trazem pela trela acordem a tempo. Quer dizer, antes que sejam corridos de cena pela mole de 'deploráveis' que continua a crescer no país. O sistema de impostos não pode continuar a ser uma ferramenta do populismo que tomou conta deste país devedor, com uma boa parte da sua economia indefesa perante os credores, os novos abutres imperiais e os especuladores que nunca perdem uma boa oportunidade.

Está na hora, é urgente
Por Aníbal Cavaco Silva e Carlos Tavares
Observador, 09 jan. 2025

Os deputados propuseram mais de 2000 alterações ao orçamento (de estado de 2025) apresentado pelo Governo, cerca de 230 em matéria de impostos, a maioria sem qualquer fundamentação credível (...).

...

Ao longo dos primeiros nove meses da legislatura ficou claro que é mais fácil formar na Assembleia da República maiorias parlamentares de partidos opostos para aprovar alterações populistas de impostos do que aprovar alterações estruturais indispensáveis para que Portugal se aproxime dos níveis de vida dos países mais ricos da UE.

Neste contexto político, o que o atual Governo pode, entretanto, fazer em matéria de impostos, é procurar minorar os estragos e preparar o terreno para que uma verdadeira reforma fiscal possa ser feita no futuro, quando as condições políticas o permitirem.

Nesse sentido, juntamo-nos àqueles que têm defendido que está na hora de o Governo nomear a Comissão da Reforma Fiscal, tal como foi feito em 1984 pelo IX Governo Constitucional, presidido por Mário Soares, para preparar a reforma fiscal que viria a ser aprovada em 1988. Tal como então, deve ser uma comissão especializada, integrando pessoas da mais elevada competência técnica, presidida por um professor universitário e dispondo dos meios indispensáveis para realizar o seu trabalho. O relatório por ela produzido será um ativo da maior importância para qualquer Governo. É trabalho para um ano.

Emigração, imigração e populismo

A emigração portuguesa para fora da UE é minoritária. Por sua vez, os emigrantes portugueses na Europa são de dois géneros: os que residem nos países UE ou europeus (RU e Suíça), e os que vão e vêm por períodos de três meses ou menos, apenas para realizar trabalhos contratados por empresas locais, muitas delas de portugueses. É raro, quando passo por uma obra privada ou pública, não ouvir português! Esta emigração  pendular é recente, e tem crescido com a expansão das Low Cost. Quantos mais destinos diretos houver do Porto (por exemplo) para cidades europeias, mais intensa será a emigração yo-yo. Esta emigração, tal como a tradicional, é uma exportação temporária de recursos humanos que contribui para a riqueza dos emigrantes e do país.

Conheci há uns meses uma senhora que veio para Bruxelas realizar trabalho doméstico para portugueses, com o objetivo preciso de pagar contas em Portugal, ou seja, uma emigração a termo. Conheci um pequeno empresário português da construção que tem uma rede de colaboradores fixos em Bruxelas, mas uma outra rede de 'artistas' (estucadores, canalizadores, eletricistas, carpinteiros de obra) que vivem em Portugal e vêm a Bruxelas para cumprirem tarefas específicas com duração limitada. Ou seja, precisamos de olhar para a emigração no quadro da UE e da Europa atual como um fenómeno distinto do tempo em que os portugueses saíam das aldeias com uma mão atrás e outra à frente para Paris. Como diz o Rui Rodrigues, o emigrante de telemóvel substituiu o emigrante da mala de cartão.

Por sua vez a emigração de longo prazo continua forte. A novidade neste segmento é a emigração de quadros técnicos sem emprego decentemente pago em Portugal. Engenheiros, médicos, enfermeiros, informáticos, etc, têm engrossado a população portuguesa qualificada residente na Europa. Vêm frequentemente a Portugal para ver e rever família e amigos. As Low Cost dão uma grande ajuda, permitindo duas ou mais viagens por ano sem carregar demasiado os orçamentos familiares destes emigrantes de classe média.

Já na imigração, o problema também tem que ser visto sem xenofobia, nem complexos de superioridade escusados.

Embora mal gerida e corroída pela corrupção, a imigração é necessária, no nosso país, como na Europa, ou nos Estados Unidos. Se há país que não existiria sem imigração são os Estados Unidos. Há duzentos anos, como hoje!
Conheci há ano e meio em Bruxelas, numa loja de conveniência paquistanesa, um jovem bengali alto, dinâmico que, ao ouvir-me falar com a minha mulher, perguntu 'português?'. Sim. Respondemos. Num português asiático o jovem acrescentou: eu também, sou português! Trabalhava em Portugal, numa empresa agrícola no Alentejo, grande produtora de frutas e hortícolas. "Patrão muito bom!", dsse. Cumprimentei o Presidente Marcelo numa visita às estufas, acrescentou, rindo, no seu português macarrónico. Perguntei-lhe de seguida: mas então, porque veio para Bruxelas? Esclareceu que fora para ganhar um pouco mais de dinheiro, para que a esposa pudesse vir do Bangladesh para Portugal. E a estadia em Bruxelas está a correr bem? Perguntei. Não gosto 🙁 A gente só pensa em dinheiro! Menos de um ano depois, disse-me sorridente: vou regressar a Portugal, já consegui pagar a passagem de avião para a minha esposa! E vai conseguir trabalhar na mesma empresa, perguntei? Sim, patrão muito bom, português, a minha esposa já tem trabalho 🙂

Também poderia recordar a história de sucesso da barbearia Harvey de Carcavelos e Parede, de um venezuelano que revolucionou o negócio naquelas duas vilas da Linha de Cascais. Ou do brasileiro Fagner, que trabalha na mesma barbearia, que emigrou para Portugal para poder ter filhos e família! 

Muito do trabalho realizado em Portugal por imigrantes é trabalho que crescentemente os portugueses rejeitam fazer: construção civil, restauração, limpezas, agricultura (intensiva ou outra), etc. Mas atenção, a ida do goês António Costa à Índia não trouxe apenas condutores ilegais de Ubers a Lisboa e Porto, que dormem nas próprias viaturas (pois o rendimento não dá para alugar quartos, quanto mais apartamentos). Vieram também indianos empresários e indianos qualificados, nomeadamente em novas tecnologias e informática.

Portugal tem 90 mil Km2 e 10,5 milhões residentes.
A Holanda e a Bégica juntos tem 68 mil Km2 e 29,6 milhões de residentes.
O Bangladesh tem 148 mil km2 e 173 milhões de residentes!

Em suma, dizer que há imigração a mais no nosso país é pura propaganda populista, que faz o seu caminho num país onde sobram, infelizmente, centenas de milhar de pessoas indigentes, dependentes dos subsídios, apoios e isenções do Estado.

sábado, fevereiro 08, 2025

A conversa de taberna

Neuralink persona (transhumano)

Neuralink is currently seeking people with quadriplegia to participate in a groundbreaking investigational medical device clinical trial for our brain-computer interface.

If you have quadriplegia and want to explore new ways of controlling your computer, please consider joining our Patient Registry. 

Neuralink.com

Imagino que a mensagem que vou comentar seja do VPF. 

Seja como for, o texto que abaixo transcrevo suscita uma discussão necessária, cuja maior dificuldade reside em conseguir deslindar a reviravolta dos protocolos da comunicação política criada pelo populismo americano consubstanciado nessa espécie de albergue espanhol que é hoje a balbúrdia conhecida como MAGA. Steve Bannon, Donald Trump e Elon Musk, os três, com estruturas mentais, culturais e morais distintas, produziram uma hecatombe no que poderíamos chamar a linguagem diplomática da política. Até que este trio unido pelo oportunismo dominasse a paisagem mediática da política, havia basicamente dois protocolos de linguagem na Política: o protocolo da comunicação e do imaginário públicos (Public Relations/Propaganda) e o protocolo das conversações e conversas à porta fechada, posteriormente traduzidas pela oratória pública dos políticos e pelos comunicados e assessores de imprensa. Este último protocolo, em vigor há séculos, e que é, na realidade, uma conversa mole dissimulada, deu lugar à palavra da taberna, nua e crua. Esta convulsão dos protocolos deixa-nos ainda perplexos e confusos. Curiosamente, ainda que em registos bem diferentes, estes são os novos universos comunicacionais impostos ao mundo por Trump, Musk e Bannon.

Para complicar ainda mais as coisas, esta espécie de conversa de taberna global compete diretamente com a velha e caduca diplomacia da palavra política. Vamos precisar, pois, de algum tempo para que os observadores críticos desenvolvam uma nova e apropriada meta-linguagem.


Post de Victor Pinto da Fonseca

* … a ambição expansionista do regime autocrático do psicopata Putin de impor uma nova ordem internacional ampla e de longo alcance que permita interpretar a democracia e os direitos humanos aos seus olhos, introduzindo regras arbitrárias baseadas na lei do + forte, que força todos a viverem segundo o cânone de uma vida submissa como destino humano final acima de todos os outros, projectou Trump para o Olimpo, com a Rússia dia após dia atolada na invasão da Ucrânia! Por outras palavras: a reforma expansionista de Trump fundou-se no projecto de Putin de invadir/colonizar a Ucrânia, no violar do direito internacional. Trump não ficou indiferente ao novo nacionalismo de Putin, e não esperou que a corrente suba + alto do que a sua fonte. Só nas ultimas 48:00 assinou uma ordem que impôs sanções ao Tribunal Penal Internacional criticando as ações do Tribunal contra Israel, propôs [ou será que impôs] deslocar os palestinianos de Gaza para criar a nova Torremolinos, etc, etc. Até o Irão já reclama o alterar de Trump das “regras internacionais”, imagine-se! estão aterrorizados!!, enquanto Putin bloqueado - à velocidade que invade a Ucrânia precisava de 30 anos para se aproximar de Kiev - tudo faz para não criticar Trump: pudera! com a economia russa a colapsar [já não têm como disfarçar], o medo de que Trump imponha novas sanções (sanções, q a sua administração diz se encontrarem ‘somente’ numa escala 3/10) envergonha e deprime o psicopata Putin. De forma que não há como controlar, dirigir e prevenir os abusos de Trump. — Desesperado, Putin já começou a autocolonizar a Rússia, leia-se nacionalizar os próprios activos privados, as pequenas unidades, para serem entregues ao Estado, uma espécie de autocolonização que deseja tentar a tarefa impossível de regressar ás condições económicas de sobrevivência obtidas há 100 anos. — É aqui, no conceito do regresso ao passado, que os comentadores pró-russos deliram: entretanto, fiéis a Putin mas também eles desesperados lá vão tentando disfarçar que a Rússia [ainda] é uma grande potência. Não reconhecem Galileu! e o facto da Terra se movimentar [Eppur si muove ou E pur si muove (mas se movimenta ou no entanto ela se move, em português)]. As mudanças no mundo são o resultado da terra se mover e nós com ele. O esforço para proibir as mudanças falhará sempre [E por si muove]. A saída reside não na tentativa de impedir as mudanças, mas mudarmos com elas, uma vez que o mundo muda e nós mudamos com ele. Na sua opção pelo regresso ao retórico império soviético, Putin acabou a promover a amizade e o favorecimento de Trump e atirou o anti-americanismo para o caixote do lixo! A América de Trump está + próxima da Rússia e da China que da Europa. Agora, tudo o que os fiéis comentadores pró-russos desejam fazer em nome de Putin é ser anti-Europa democrática, hostis à liberdade! É ir ao encontro da extrema-direita fiel da “autocracia eleitoral” de Putin, como Le Pen, Ventura, Órban, etc, - um purificar da ideologia de género e despertar das escolas do país, erosões da liberdade académica, independência judicial e da imprensa livre. Uma aliança com o nacionalismo religioso. Um ataque a instituições democráticas, não há outra verdade.

* da série “despertar“ post de duração limitada


terça-feira, fevereiro 04, 2025

O que quer Trump?

Retrato ofical do Presidente Donald Trump (2025)

Sete coisinha a saber

1) a campanha militar ucraniana que tem vindo a danificar seriamente e a inutilizar mesmo parte importante da infraestrutura petrolífera russa, especialmente ao longo do que vai de 2025, é um verdadeiro tiro no porta-aviões da economia russa, revelando, escandalosamente, a fragilidade gritante das defesas antiaéreas russas face aos enxames de drones desenvolvidos por vários aliados da Ucrânia e pela própria Ucrânia;

2) as duas operações especiais das FFAA armadas ucranianas que eliminaram recentemente em Moscovo dois dos principais assassinos ao serviço de Vladimir Putin (Igor Kirillov e Armen Sarkisyan) demonstram os perigos letais que espreitam a elite russa, e as falhas gritantes dos seus serviços de segurança, ao ponto de se poder concluir que o próprio Vladimir Putin começou a dar entrevistas dentro de automóveis blindados (aqui a ideia principal é a da mobilidade, claro) temendo o pior;

3) China e Índia interromperam as suas compras futuras de petróleo à Rússia respeitantes ao próximo mês de abril;

4) Os desgraçados norte-coreanos que Putin enviou para a morte inglória e o suicídio retiraram da linha da frente em Kursk;

5) Os Estados Unidos, na corrida pela IA, sobretudo depois do aparecimento do Deepseek na mesma semana da posse de Donald Trump (o já chamado Momento Sputnik), entraram naquilo a que poderíamos chamar uma World Cool Soft War. Entretanto, Sam Altman fecha sucessivos acordos estratégicos na Coreia do Sul, Japão, e vai a caminho da Índia!

6) Para o desenvolvimento da IA os Estados Unidos precisam de um acréscimo substancial de energia dedicada aos super-processadores e bases de dados. Precisam de baixar o preço do petróleo para fazer implodir a Federação Russa. Precisam de acesso aos metais raros (conhecidos em inglês como rare earths), uma vez interrompido o fornecimento destes por parte de Pequim (38% das reservas mundiais). Estes metais raros encontram-se em países como a China, o Brasil (as maiores reservas mundiais depois da China), o Vietname (mesma percentagem do que o Brasil: 19%), a Rússia (10%), a Índia (6%) e a Austrália (3%). O Canadá, por sua vez, dispõe de importantes reservas como subproduto do urânio. A Ucrânia é outro grande reservatório de metais raros. A Suécia também. E Portugal dispõe de reservas suficientes para justificar a sua exploração comercial no curto prazo. A Gronelândia e o Ártico poderão esconder reservas minerais gigantescas, absolutamente necessárias aos processos produtivos altamente tecnológicos em curso e em perspetiva.

7) Finalmente, Trump abriu o jogo sobre a Ucrânia: armas, informação, treino militar e sanções contra a Rússia em troca de uma parte das reservas de recursos minerais e energéticos estratégicos existentes na Ucrânia, do carvão aos metais raros. Ou seja, cheque-mate à Rússia.

Casa Manoel de Oliveira muito aquém das expetativas



Mas não há uma Casa de Cinema Manoel de Oliveira? 


Várias capitais por esse mundo fora bem gostariam de homenagear de modo permanente o grande cineasta português. Desde logo, Nova Iorque, Tóquio, ou Lausanne. Por algum motivo Álvaro Siza Vieira deixa apenas parte do seu arquivo em Portugal.

Manuel Casimiro vem aqui defender o legado cinematográfico de Manoel de Oliveira em nome do direito que lhe assiste por vontade expressa do seu Pai, que aceitou cumprir. Conheço-o bem, e tenho ouvido as suas queixas e desilusão relativas à Casa de Cinema Manoel de Oliveira, a  que a Fundação de Serralves não tem dado a atenção e dinamismo que merece e eram esperados. Se a anterior Administração de Serralves ficou aquém das legítimas expectativas de todos, posso deduzir que a situação, com a nova Administração, só poderá piorar.

Não faltam países ricos e cultos prontos a acolher o legado de Manoel Oliveira!

(FR)

Mais n'existe-t-il pas une Maison du Cinéma Manoel de Oliveira ? 

Plusieurs capitales à travers le monde souhaitent rendre un hommage permanent au grand cinéaste portugais. Tout d’abord New York, Tokyo ou Lausanne. Pour une raison quelconque, Álvaro Siza Vieira ne laisse qu'une partie de ses archives au Portugal.

Manuel Casimiro vient ici défendre l'héritage cinématographique de Manoel de Oliveira au nom du droit dont il jouit par la volonté expresse de son Père, qu'il a accepté de respecter. Je le connais bien et j'ai entendu ses plaintes et sa déception concernant la Casa de Cinema Manoel de Oliveira, à laquelle la Fondation Serralves n'a pas accordé l'attention et le dynamisme qu'elle mérite et était attendue. Si l'administration précédente de Serralves n'a pas répondu aux attentes légitimes de tous, je peux en déduire que la situation, avec la nouvelle administration, ne peut qu'empirer.

Les pays riches et instruits ne manquent pas, prêts à accueillir l'héritage de Manoel Oliveira !

(EN)

But isn't there a Manoel de Oliveira House of Cinema? 

Several capitals worldwide wish to pay permanent tribute to the great Portuguese filmmaker: New York, Tokyo or Lausanne. For some reason, Álvaro Siza Vieira only leaves part of his archives in Portugal.

Manuel Casimiro comes here to defend the cinematographic heritage of Manoel de Oliveira in the name of the right he enjoys by the express will of his Father, which he agreed to respect. I know him well and have heard his complaints and disappointment regarding the Casa de Cinema Manoel de Oliveira, which the Serralves Foundation has not given the expected attention and dynamism it deserves. If the previous Serralves administration did not meet everyone's legitimate expectations, the situation with the new administration could only get worse.

There is no shortage of wealthy and educated countries ready to welcome the legacy of Manoel Oliveira!

domingo, fevereiro 02, 2025

Da Doutrina Monroe ao Tratado de Tordesilhas 2.0

Quando os portugueses chegaram à Gronelândia não havia por lá nórdicos.
Planisfério dito de Cantino (1501)

GRONELÂNDIA — dois milhões de Km2; 57 mil habitantes, 80% dos quais são parte da nação indígena do Ártico, conhecida por Esquimós, os quais habitam a Sibéria, o Alasca o Canadá e a Gronelândia há milhares de anos.

Que relação existe entre estes habitantes e a maior ilha do planeta? Uma relação tangencial do ponto de vista geográfico, pois a ilha há muito que está gelada, e a ocupação humana conhecida foi sempre escassa, local e periférica. Os vikings islandeses e noruegueses terão sido os primeiros povos a ocuparem uma parte minúscula da grande ilha, a que chamaram Verde. Atrás destes vieram, mais tarde, os dinamarqueses. Porém, entre os século 15 e 18, os povos nórdicos deixaram a Gronelândia, provavelmente por falta de condições climáticas. A Dinamarca reclamaria a posse da ilha, como colónia, a partir de 1721. Perderia mais tarde toda a soberania sobre aquele vasto território gelado e deserto, ao ver-se ocupada pelos alemães em 1940, durante a Segunda Guerra Mundial. No mesmo ano os americanos avançaram para a Gronelândia ao abrigo da Doutrina Monroe. Por tratado assinado com a Gronelândia em 1941, os Estados Unidos adquiriram o direito de estabelecer bases militares na ilha, até hoje...

Os indígenas e o resto da população da Gronelândia encontram-se há décadas num processo de afastamento da Dinamarca. Apesar de cidadãos comunitários, excluiram a Gronelândia da União Europeia. Fizeram um referendo sobre a independência com uma votação esmagadora a favor da mesma. Ora bem, que significa tudo isto? Estão a ver um novo país soberano com dois milhões de quilómetros quadrados chamado Gronelândia, cuja população não chega às 57 mil pessoas, das quais 46 mil são inuites da nação esquimó que habita o Alasca, o Canadá, a Gronelândia e a Sibéria (russa)? 

Olhando a localização da Gronelândia no Ártico percebe-se imediatamente que a ilha está praticamente encostada ao Canadá, logo muito próxima dos Estados Unidos, mas banhada por um mar hoje disputado por americanos, russos e chineses!

Não sei de onde vem o alarido contra a proposta de Donald Trump. É uma proposta antiga, que faz todo o sentido estratégico, quer na lógica da Doutrina Monroe, quer na de um eventual Novo Tratado de Tordesilhas!


Referência

Como correram as várias tentativas dos EUA de comprarem a Gronelândia

Desde a Era da Reconstrução até à Guerra Fria, diversas administrações tentaram (e fracassaram) comprar a ilha do Árctico. Saiba por que razão a Gronelândia tem permanecido fora do alcance – e porque sempre foi tão importante.

Jordan Friedman
National Geographic Portugal

Duas Bélgicas, um rei, uma confederação?

Bart De Wever, PM belga, 2025.

Vários fatores culturais e sócio-económicos têm levado mais de metade das mulheres nos países industriais e urbanos avançados a desistir da procriação ou a retardá-la para depois dos 30-40 anos de idade, quando a fertilidade é já muito menor, forçando frequentemente as mulheres a recorrerem a técnicas de reprodução assistida. Esta situação  corresponde, aliás, ao fim do boom demográfico mundial, o qual ocorre por volta de 1964-65, momento em que a taxa de crescimento demográfico mundial atinge o seu pico e começa a declinar. As consequências desta inversão da tendência demográfica são e serão dramáticas para toda a humanidade. No curto prazo, países desenvolvidos e urbanizados, incluindo a China, a Rússia, o Japão ou a Coreia do Sul, bem como praticamente todos os países do continente europeu, só têm três caminhos momentaneamente seguros para mitigar a inevitável depressão demográfica mundial: a mudança dos centros produtivos para países com populações mais jovens, custos laborais menores e menor regulação das condições de trabalho e ambientais; a automação dos processos produtivos, incluindo uma explosão demográfica no setor da robótica; e a imigração.

Este é, pois, um problema de fundo que o populismo não resolve, e poderá, aliás, agravar, ao bloquear as medidas de mitigação, por mais imperfeitas e de alcance temporário e contraditório que estas sejam. Há dilemas nesta crise história global muito difíceis de ultrapassar.

No caso da Bélgica, que agora tem um governo de coligação chefiado por um flamengo moderadamente eurocético, mas que defende a transformação da atual monarquia federativa belga numa confederação, mantendo o chapéu monárquico, enquanto a população francófona caminha para uma recessão demográfica e vê aumentar sem fim à vista a imigração (sobretudo muçulmana), a população flamenga, pelo contrário, continua a ter uma boa taxa de fertilidade endógena, opondo-se cada vez mais à imigração oriunda de países com religiões e hábitos culturais antagónicos aos seus. Neste contexto, parece-me que a tendência inaugurada pelo atual governo de coligação, predominantemente soberanista e anti-imigração, veio para ficar...


Referência

Up to 40% of women without children by the age of 30 never have them at all

Sunday 2 February 2025

By  The Brussels Times Newsroom


Just over 110,000 births were recorded in Belgium in 2023, the lowest level since 1942. Provisional figures for 2024 are even lower. This is due to a combination of factors, mainly because Belgians are starting to have children at an increasingly older age.

...

The birth drop is more pronounced in Brussels and Wallonia than in Flanders. However, projections show an increase in births in the Flemish region. 2023 there were 62,338, and by 2050, it may reach 70,000.

This was also reflected in the Federal Planning Bureau's demographics study last year, which showed that population growth would only occur in the Flemish region from the late 2040s.

sábado, fevereiro 01, 2025

O novo populismo estado-unidense

Steve Bannon by Yuki Iwamura/AP

Se ao menos tivéssemos um populista indígena que chegasse aos calcanhares de Steve Bannon, a discussão do colapso inevitável do regime democrático português, capturado pelas elites corruptas e os seus testas de ferro e piratas, seria bem mais produtiva e poderia estimular movimentos sociais afirmativos e transparentes nos seus objetivos. 

Ao contrário da sociedade norte-americana, que nunca esteve tão viva, a portuguesa parece um manicómio cuidado por mortos-vivos. Steve Bannon fala de um novo 'lumpen' social, a que chama os 'deploráveis'. E defende que serão estes deploráveis a restaurar a grandeza americana. Fá-lo-ão através de uma erupção revolucionária de soberania política e nacionalismo económico. Independentemente de estarmos ou não de acordo com a visão de Bannon, a verdade é que em Portugal não há nenhuma verdadeira alternativa ao declínio do regime, que possamos discutir (péssimo augúrio). O que por enquanto temos na comunicação social e nas redes sociais é demasiado mau.


Steve Bannon on ‘Broligarchs’ vs. Populism

The fight for Donald Trump’s ear.

Hosted by Ross Douthat

Jan. 31, 2025


Ross Douthat: On this week’s show, we’re continuing my one-on-one conversations with figures who represent different, potentially clashing worldviews within the new Trump administration. Two weeks ago I talked to venture capitalist Marc Andreessen about the newest faction in Trumpworld, the so-called tech right.

My guest this week, Steve Bannon, represents what I might call Trumpism Classic: the populist and nationalist movement that brought Trump to power in the first place and that aspires to exert significant influence in Trump’s second administration. Indeed, a lot of the wave of executive orders we’ve already seen from this White House on immigration, reshaping federal bureaucracy and more are Bannon’s populist, anti-establishment aspirations.

Bannon is also emerging as one of the most vocal critics from the right of Elon Musk and other members of the tech right. And we’re going to talk a lot about that brewing conflict.

https://www.nytimes.com/2025/01/31/opinion/steve-bannon-on-broligarchs-vs-populism.html?unlocked_article_code=1.tk4.9UXk.04Xcx7F9foC1&smid=url-share

Utopia ou populismo?

Gouveia e Melo, provável sucessor de Marcelo Rebelo de Sousa
Foto: José Sena Goulão/ Lusa (recortada)

Há quem diga que a careca do Vitorino mostra quem realmente domina o PS: os plutocratas indígenas disfarçados de socialistas. 

Trata-se de uma casta formada por Santos Silvas, Vitorinos, Vitalinos, Césares, Costas e outros figurões do género. Já a prole do PS, por outro lado, embandeirada pelo Tozé Seguro, configura uma espécie de 'deploráveis' cada vez mais desiludidos com o PS e a democracia, mas que faz ainda um último esforço para não aderir a líderes populistas credíveis, que André Ventura não consegue ser, mas que o próximo presidente da república (Gouveia e Melo) poderá facilmente suscitar, apesar da tentativa em curso de criar um cordão sanitário maçon à sua volta (1).

Este comentário é uma réplica e responde simultaneamente a um amigo socialista ético do PS, cada vez mais crítico do partido, mas que não desiste da utopia socialista. Eu acho que o meu amigo deveria estudar com atenção a natureza complexa do populismo e as suas origens. Pois o tempo atual parece não ter outros caminhos alternativos à decadência plutocrática das democracias amordaçadas pela hipocrisia. 

O populismo atual que Steve Bannon (co-criador da besta heróica chamada Donald Trump) defende é uma conjunção de forças sociais (os 'deploráveis') e políticas (os populistas) oposta aos oligarcas capitalistas, à imigração, à globalização e aos protagonistas de uma era tecnológica neofeudal (Zuckerberg, Bezos, Musk, etc.). Este modelo está a ser ensaiado nos Estados Unidos, e poderá vir a ser ensaiado numa União Europeia liderada pelos partidos populistas, especialmente se o empurrão soberanista estado-unidense ganhar tração.

Não importa o que as nossas almas de esquerda pensam sobre isto, pois o seu pensamento foi assassinado pela oligarquia de formigas brancas que desfez por dentro a alma original de todos os partidos da dita esquerda, no caso português, incluindo o PS, o PCP e o Bloco. Neste cenário de amplo espectro, Tozé Seguro não tem qualquer hipótese de resolver o problema do crescimento imparável da massa de deploráveis que cresce no PS, tal como cresceu no PCP (de onde saiu boa parte dos novos eleitores do Chega no Alentejo). Para tal, o franciscano socialista teria que ser ungido pela oratória de outro António, o de Lisboa, que foi santo depois de combater os hereges cátaros e albigenses. Tal hipótese parece-me, no entanto, altamente improvável.

NOTA

Maçons influentes criam movimento de apoio a Gouveia e Melo à Presidência — Observador, 02-01-2025

Não ao novo PREC!

O Estado não tem nada que comprar o Novo Banco. Seria o regresso a uma banca portuguesa predominantemente pública, ou seja, partidária, ou seja, ao serviço do Bloco Central da corrupção. O receio de que a banca espanhola, outra vez o Santander, ou a Caixa catalã, ou a banca galega, venham a controlar o setor financeiro indígena, combate-se simplesmente através do veto que o Estado pode e deve opor a qualquer venda que implique, precisamente, o perigo de uma posição dominante da banca espanhola em Portugal. Há, portanto, que combater o devorismo dos partidos PS, PSD, CDS, PCP e Bloco antes de combater o perigo espanhol!

SIC Notícias 31.01.2025 — Governo quer manter Novo Banco em mãos nacionais devido ao "perigo espanhol". José Gomes Ferreira, diretor-adjunto de Informação da SIC, explica as razões do Governo para tomar este “ato estratégico”, mas alerta para os "riscos" caso a Caixa Geral de Depósitos avance com a compra do Novo Banco.

terça-feira, janeiro 28, 2025

NAL e soberania

Aeroporto de Barajas, Madrid
Em 2026 terá a capacidade de processar 90 milhões de passageiros.

Temos mais um ignorante aventureiro à frente das infraestruturas do país: Miguel Pinto Luz. Parece um vivo-morto movido a pilhas caminhando sempre em frente, sob o comando de uma voz qualquer que só ele ouve. Esta é a voz imanada pelos pedreiros-livres que vêem o país sucessivamente sugado pelos credores e pelos países com interesses históricos na praia lusitana: espanhóis, ingleses, americanos (e ainda alguns herdeiros de antigos impérios do Islão: turcos e árabes).

O NAL, que um dia será inevitável, pretende ser sobretudo um contrapeso estratégico a Barajas, o mega aeroporto de Madrid. A sua vocação é atrair à margem sul de Lisboa os tráfegos aéreos do Brasil, Estados Unidos e Canadá, mas também de África, nomeadamente Angola, países do Golfo da Guiné, e Moçambique, nomeadamente. Uma ambição que nem a Portela, nem o Montijo, nem Alenquer jamais poderiam acomodar.

É por tudo isto que só o Pinto Luz ouve as vozes imperativas do NAL, enquanto outros debatem as vantagens e as desvantagens menores do negócio em vista.

Estou convicto que teremos um NAL na região de Benavente antes de 2050, mas não em 2030. Poder inaugurar esta infra-estrutura em 2040 já seria um êxito. Veremos.

As coisas andam ligadas: NAL e TAP.

As Low Cost servem o negócio do médio curso, mas não o transporte aéreo intercontinental. O países soberanos não jogam apenas em função da viabilidade comercial imediata. Há desígnios estratégicos que importam mais que o deve/haver das conjunturas económicas. Qualquer dia Madrid vai dizer, como o Trump disse agora sobre a Gronelândia, o Panamá, o Canadá e o México, que precisa de Portugal para garantir a sua segurança estratégica!!!

sábado, janeiro 25, 2025

Atavismo e utopia

Lebre atenta, 2025
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Me+DALL-E

A distopia como utopia é a moda mais recente entre os psicopatas narcisistas que parcialmente dominam o mundo desenvolvido. A lógica da sua propaganda constante diz-nos que no futuro os países serão habitados por gagás assistidos por robôs e alguma criadagem humana para lhes mudar as fraldas. Para já, o importante é meter medo e avançar as agendas do ciber controlo das massas. No entanto, o futuro não está nas sociedades de velhos caquéticos, xenófobos  em acelerado processo de extinção demográfica, mas nas sociedades capazes de reproduzir, não a longevidade, mas a juventude. Isto é, em países como os Estados Unidos, em continentes como África. 

O capitalismo não explora máquinas, mas humanos, negociando com estes o preço do trabalho. O preço das máquinas não varia ao longo das respetivas 'vidas' úteis, é, como diriam os velhos economistas do século 19, capital fixo. É sobre o capital variável, nomeadamente no preço do trabalho, da energia, das matérias primas e do conhecimento, que assenta o crescimento e a competitividade do capitalismo. As máquinas, burras ou inteligentes, são meros instrumentos que prolongam as nossas mãos e pernas, e a nossa mente.

Quando as sociedades capitalistas passaram dos cavalos de quatro patas para os cavalos a vapore e depois para os cavalos de explosão e elétricos, houve um salto quântico no crescimento demográfico e na qualidade de vida dos humanos. Com a automação, a robótica e a nano-robótica, as redes sociais e a IA, haverá outro salto quântico. Estamos, aliás, neste momento, no respetivo momento impulsivo. Fantasmas e medo da transformação são inerentes à vida, mas esta só progride vencendo o atavismo.

Já agora, religiões e ideologias tiveram pouca relevância nestas transformações...

sexta-feira, janeiro 24, 2025

Singularidade a caminho

Imagem arbitrária de uma singularidade, 2025
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Me+DALL-E+GIMP 2.10

Os Mapas de Democracia poderão, em breve, quando o que já existe se precipitar numa nova cosmovisão humana, abrir uma singularidade antrópica sem precedentes.

When A.I. Passes This Test, Look Out
By Kevin Roose
Reporting from San Francisco
The New York Times

Jan. 23, 2025

If you’re looking for a new reason to be nervous about artificial intelligence, try this: Some of the smartest humans in the world are struggling to create tests that A.I. systems can’t pass.

For years, A.I. systems were measured by giving new models a variety of standardized benchmark tests. Many of these tests consisted of challenging, S.A.T.-caliber problems in areas like math, science and logic. Comparing the models’ scores over time served as a rough measure of A.I. progress.

But A.I. systems eventually got too good at those tests, so new, harder tests were created — often with the types of questions graduate students might encounter on their exams.

Those tests aren’t in good shape, either. New models from companies like OpenAI, Google and Anthropic have been getting high scores on many Ph.D.-level challenges, limiting those tests’ usefulness and leading to a chilling question: Are A.I. systems getting too smart for us to measure?

A IA avança rapidamente. Em breve estaremos a discutir a transição dos atuais modelos de governança e representação democráticas para novos regimes constitucionais onde a IA iluminará pela via cognitiva os tradicionais poderes Legislativo, Judicial e Executivo, assim designados por Montesquieu no século XVIII.

DAO (Decentralised Autonomous Organization) é uma das experiências de governança democrática descentralizada em curso, a qual assenta no paradigma blockchain. Entretanto, surgiram conceitos novos para designar possíveis futuros no domínio das organizações, como ALGOCRACIA e CIBEROCRACIA. 

Eu próprio avancei uma ideia-modelo assente nos atuais e universalmente disponíveis ciber-poderes (redes computacionais, bases de dados online, redes sociais, blockchain, data-mining, etc.) a que chamei DEMOCRACY MAPS (October, 2012). Estes mapas de democracia dariam forma e representação a todos os paradigmas, sistemas e organizações do poder humano (sexual, social, económico, cultural e bélico), por forma a que os processos de decisão individual e coletivo pudessem dar um salto de singularidade na espécie humana assistida pelas máquinas materiais e imateriais por si criadas.

Vale a pena ir conhecendo este novo mundo...

sábado, dezembro 14, 2024

Limites do crescimento e colapso


O estudo de Donella Meadows et al. sobre os limites do crescimento (Limits to Growth), de 1972, permanece um cenário computacional válido. Se no trabalho original publicado em 1972, a poluição e o crescimeto industrial aparecem como as principais causas de um colapso do crescimento exponencial da humanidade, na revisão de 2023 há uma 'recalibração', tornada possível por uma melhor aquisição de dados empíricos essenciais ao modelo, da qual resulta a conclusão de que a causa da mudança do cenário de crescimento exponencial para um cenário de colapso será a escassez de recussos essenciais, nomeadamente energéticos. O crescimento industrial global está a perder claramente fôlego, mas as consequências deletérias da poluição demorarão algum tempo mais a confluir com a dinâmica de colapso do sistema. 

Aqui ficam alguns destaques do artigo...


Recalibration of limits to growth: An update of the World3 model

Arjuna Nebel, Alexander Kling, Ruben Willamowski, Tim Schell

First published: 13 November 2023

https://doi.org/10.1111/jiec.13442


Abstract

After 50 years, there is still an ongoing debate about the Limits to Growth (LtG) study. This paper recalibrates the 2005 World3-03 model. The input parameters are changed to better match empirical data on world development. An iterative method is used to compute and optimize different parameter sets. This improved parameter set results in a World3 simulation that shows the same overshoot and collapse mode in the coming decade as the original business as usual scenario of the LtG standard run. The main effect of the recalibration update is to raise the peaks of most variables and move them a few years into the future. The parameters with the largest relative changes are those related to industrial capital lifetime, pollution transmission delay, and urban-industrial land development time.


1 INTRODUCTION

The Limits to Growth (LtG) is the name of a study conducted in the late 1960s for the Club of Rome. A group of researchers at the Massachusetts Institute of Technology developed a computer model that simulated some of the world's most important material variables, such as population, food production, resource use, and environmental impact. A total of 12 scenarios were presented in 1972 in the first book of the same name (Meadows et al., 1972). The scenarios cover the period from 1900 to 2100. The authors emphasize that the scenarios are not predictions. Rather, they are intended to illustrate the complex interrelationships within a dynamic system based on exponential growth.

[...]


4.3 Future trends

So far, the results have mainly been considered in comparison with the empirical data for the recalibration. However, the course of the variables is also interesting in terms of future trends. Here, the model results clearly indicate the imminent end of the exponential growth curve. The excessive consumption of resources by industry and industrial agriculture to feed a growing world population is depleting reserves to the point where the system is no longer sustainable. Pollution lags behind industrial growth and does not peak until the end of the century. Peaks are followed by sharp declines in several characteristics.

This interconnected collapse, or, as it has been called by Heinberg and Miller (2023), polycrisis, occurring between 2024 and 2030 is caused by resource depletion, not pollution. The increase in environmental pollution occurs later and with a lower peak (Figure 3).

However, it is important to note that the connections in the model and the recalibration are only valid for the rising edge, as many of the variables and equations represented in the model are not physical but socio-economic. It is to be expected that the complex socio-economic relationships will be rearranged and reconnected in the event of a collapse. World3 holds the relationships between variables constant. Therefore it is not useful to draw further conclusions from the trajectory after the tipping points. Rather, it is important to recognize that there are large uncertainties about the trajectory from then on, building models for this could be a whole new field of research.

The fact is that the recalibrated model again shows the possibility of a collapse of our current system. At the same time, the BAU scenario of the 1972 model is shown to be alarmingly consistent with the most recently collected empirical data.

Herrington (2021) also concluded in her data comparison that the world is far from a stabilized world scenario where the overshoot and collapse mode is brought to a halt. As a society, we have to admit that despite 50 years of knowledge about the dynamics of the collapse of our life support systems, we have failed to initiate a systematic change to prevent this collapse. It is becoming increasingly clear that, despite technological advances, the change needed to put us on a different trajectory will also require a change in belief systems, mindsets, and the way we organize our society (Irwin, 2015; Wamsler & Brink, 2018).

[...]


CONCLUSION

In this paper, the World3 model of the LtG study has been recalibrated to reflect the behavior of empirical data over the last 50 years. For this purpose, 35 parameters of the model were selected and optimized for a selected set of eight different empirical data sets that most closely reflect historical developments. An algorithm was developed to minimize the aggregated NRMSD between the model data and the empirical data using an iterative method. A new scenario with the improved parameter set was presented. Of the original 1972 LtG scenarios, the BAU scenario matches these parameters and the evolution of the variables most closely. Like the BAU scenario of the LtG publication, the new scenario Recalibration23 reflects the overshoot and collapse mode due to resource scarcity. However, the peaks of certain variables are raised and partially shifted into the future.

quinta-feira, dezembro 12, 2024

A causa da guerra

Fé e heresia. Metáfora com duas leituras sobre a lenta e dramática libertação feminista do jugo patriarcal. Nesta escultura de Jules Jourdain, de 1917, o monge Jan van Ruusbroec pisa a cabeça de Heilwige Bloemart (Bloemardine). Esta obra colocada na catedral de São Miguel e Gudula, de Bruxelas, descreve um facto histórico improvável, ressaltando um conflito que fez inúmeras vítimas na Europa medieval e moderna: o da chamada fé contra a dita heresia.

Ao contrário do que parece, os povos não lutam até à morte por questões étnicas, religiosas ou ideológicas. Os povos lutam, se for preciso, até à morte, por recursos e territórios. Sempre foi e sempre será assim. A diplomacia e a política são as formas pacíficas desta luta ancestral. A guerra sangrenta e o terror são as modalidades bárbaras desta realidade biopolítica.

Os russos do psicopata Vladimir Putin lutam pelo petróleo e gás natural que existe em relativa abundância ainda no vasto território conquistado das suas colónias siberianas e do extremo oriente, ao mesmo tempo que impedem ou tentam impedir que outros produtores deste recurso ameacem ou ocupem a sua posição no fornecimento desta fonte energética ainda indispensável às regiões mais produtivas e ricas da Eurásia: Europa Ocidental, Índia e China, onde se encontra mais de 1/3 da população mundial.

Os níveis de endividamento soberano crescem em todo o mundo, da Europa aos Estados Unidos, passando pela China e Índia. As bolhas especulativas, por outro lado, alimentam crescimentos artificiais, hoje perigosamente evidentes na China comunista. Esta deformação dos sistemas económicos leva diretamente às febres do ouro, ou seja, à acumulação de ouro e outros metais e minerais preciosos como garantia dos sistemas financeiros nacionais e regionais, seja pelo lado da procura privada, individual, familiar e corporativa, seja pelo lado dos bancos centrais.

A população mundial continuará a crescer, prevê a ONU, até 2060-80. Depois iniciar-se-à um longo declínio demográfico (envelhecimento e não crescimento), aliás já evidente nalguns países e regiões da Europa e Ásia, de que os casos russo, ucraniano, chinês, sul-coreano, japonês e alemão são especialmente preocupantes. Segundo previsão da ONU, são estes, por ordem decrescente, os vinte países com maior declínio demográfico entre 2020 e 2050: 1-Bulgária, 2-Lituânia, 3-Letónia, 4-Ucrânia, 5-Sérvia, 6-Bósnia e Herzegovina, 7-Croácia, 8-Moldávia, 9-Japão, 10-Albânia, 11-Roménia, 12-Grécia, 13-Estónia, 14-Hungria, 15-Polónia, 16-Geórgia, 17-Portugal, 18-Norte da Macedónia, 19-Cuba, 20-Itália.

Declínio demográfico significa, pura e simplesmente, declínio económico e perda de poder. E a prazo, mudanças estruturais nos modos de vida, tendendo estes para a simplificação, a eliminação de redundâncias e o abandono das atividades e hábitos não essenciais.

E porque as guerras têm uma origem estrutural clara, de que os incidentes e as motivações que as provocam e alimental não passam de ilusões instrumentais, convém reter as causas principais que vêm conduzindo a humanidade para novos e pavorosos conflitos regionais e mundiais: 

— fim da energia barata (o consumo energético per capita mundial tem vindo a decair); 

— pico da taxa de crescimento demográfico mundial em 1964-65, e consequente previsão de um declinio demografico absoluto a partir de 2060-80;

— declínio da taxa de crescimento do PIB mundial, e paragem do crescimento pouco antes ou pouco depois de 2100, recuando porventura para intervalos semelhantes à era moderna pré-industrial.

Por fim, são estes os principais recursos ameaçados: água potável, oceanos, ar puro, terra arável, adubos sintéticos, metais e terras raras.

As perspetivas não são, como se vê, animadoras!

Segue-se um extrato de um artigo do New York Times sobre a nova febre do ouro, desta vez em África, com as suas consequências trágicas...

NYT — President Vladimir V. Putin has long heralded Russian gold mining in Sudan, and his country’s Wagner Group worked with the military and its rivals even before they went to war.

Now that Wagner’s boss is dead killed in a plane crash after his brief mutiny against Russia’s military leaders, the Kremlin has taken over the group’s business and appears to be pursuing gold on either side of the front line, partnering with the R.S.F. in the west and the nation’s army in the east.

The United Arab Emirates is also lighting both ends of the fuse. On the battlefield, it backs the R.S.F., sending it powerful drones and missiles in a covert operation under the guise of a humanitarian mission.

Yet when it comes to gold, the Emiratis are also helping to fund the opposing side. An Emirati company linked by officials to the royal family owns the largest industrial mine in Sudan. It sits in government-controlled territory and delivers a chunk of money to the army’s cash-strapped war machine — yet another example of the dizzying array of alliances and counter-alliances fueling the war.

sexta-feira, novembro 22, 2024

António José Seguro ou um Almirante?

Foto: Rita Chantre/Global Imagens (editado)

António José Seguro assume estar a ponderar candidatura a Belém DN

António José Seguro, candidato presidencial, seria um sinal de esperança para o decadente PS, mas não tem condições para chegar a Belém.

Prefiro um almirante que saiba de submarinos e de guerra! 

E que a corja partidária passe por um período de quarentena e desinfestação. 

Para tal, precisamos dum presidente não partidário, de preferência militar, que perceba até que ponto a duração do país depende de uma renovação radical do nosso poder naval, em particular no que se refere ao que é hoje o 'mar português': mar territorial, a zona económica exclusiva, incluindo a zona contígua ao mar territorial, e a plataforma continental. Isto é o mais importante, com o decorrente desenvolvimento de conhecimento fundamental, tecnologias e projetos económicos estratégicos associados. AInda na área militar, é fundamental desenvolver nichos militares de excelência, por exemplo, no setor das tropas especiais e aviação costeira.

As discussões sobre energia e infraestruturas (aeroportos e ferrovia, nomeadamente) foram ultrapassadas nestes últimos três anos, pela invasão russa da Ucrânia, pelas ambições cada vez mais agressivas da China comunista e pelo terrorismo fundamentalista islâmico. 

Temos um mix energético razoavelmente equilibrado, que fornece um produto essencial a preços comparativamente competitivos, cuja segurança relativamente às fontes intermitentes nos é garantida pela energia nuclear espanhola e francesa.

 Por outro lado, o setor ferroviário deve orientar-se para as ligações internas onde estas forem competitivas (nomeadamente nas principais regiões urbanas do país), e para os eixos internacionais prioritários: Corunha-Faro (Corunha, Santiago, Vigo, Braga, Porto, Aveiro, Coimbra, Sanarém, Lisboa, Setúbal, Faro) e Lisboa-Madrid. As ligações internacionais deverão, porém, obedecer a critérios de interoperabilidade eficientes e competitivos, e devem ser desenhados à partida em função da concorrência existente na Europa neste domínio.

Os dados digitais e a eletrónica são o petróleo de hoje e do próximo futuro. 

Por sua vez, o carvão, o petróleo, o gás natural e a energia nuclear, da era industrial ,vão continuar, embora sob condicionamentos crescentes e a par do crescimento exponencial das energias renováveis não poluentes que não roubem aos equilíbrios ecológicos e à produtividade económica os solos ricos em água e matéria orgânica.

Em suma, é preciso uma pequena revolução democrática para mudar o nosso paradigma indolente e populista de desenvolvimento. Prioridade absoluta: segurança e defesa do 'mar português', com tudo o que esta prioridade implica nos setores estratégicos militar, económico, cognitivo e cultural.

Nota: a nova Árvore das Patacas, que é o turismo português, deve ser acarinhada, dando lugar a uma especialização que não existe, que evite a todo o custo a destruição dos destinos turísticos pela massificação e pela homogenia comercial e cultural. Precisamos, neste domínio, de diferença!

segunda-feira, novembro 18, 2024

Não é só o petróleo. A energia nuclear também...

Mapa energético da guerra da Ucrânia (1)

It is easy to get the impression that the proposed new modular nuclear generating units will solve the problems of nuclear generation. They may allow more nuclear electricity to be generated at a low cost and with much less of a problem with spent fuel.

As I analyse the situation, however, I see that the problems associated with nuclear electricity generation are more complex and immediate than most people perceive. My analysis shows that the world is already dealing with “insufficient uranium from mines to go around.”

Nuclear electricity generation has hidden problems; don’t expect advanced modular units to solve them.

Posted on November 11, 2024, by Gail Tverberg on Our Finite World

Falta combustível para os reatores nucleares. Tal como ocorreu com o petróleo, atingiu-se o pico do que poderíamos chamar a produção rentável de urânio. Isto é, pode haver petróleo e ouro no centro da Terra, ou em Marte (!), e urânio nos desertos australianos, mas se não for possível extrair e produzir estes recursos energéticos a baixo custo, não haverá rentabilidade em futuras explorações, e o uso destes entra em colapso. 

Um colapso perigoso, de que a invasão russa da Ucrânia é claro testemunho. 

No norte e nordeste da Ucrânia (Chernihiv, Sumy, Kharkiv, Dnipro, Donbas, Luhansk, Donetsk) encontra-se a maior parte dos recursos mineralógicos relevantes para o modelo económico e social que temos. Por outro lado, em toda esta enorme bacia geológica a percentagem de russos na população é 40%, e 75% deles falam regularmente russo.

Por outro lado, os Estados Unidos deixaram praticamente de produzir urânio, recorrendo nomeadamente à importação de urânio proveniente de ogivas nucleares russas desmanteladas!

Percebe-se agora melhor o que tem motivado as cautelas europeias e norte-americanas na ajuda prestada à Ucrânia. Trump terá pela frente o mesmo problema. Os recursos fósseis — carvão, petróleo, gás natural, urânio e metais raros — continuam a ser essenciais à vida económica mundial, mas a sua disponibilidade a custos comportáveis está ameaçada, e ameaça a paz mundial para lá nossa imaginação.

As pandemias podem atrasar o desfecho induzido pelo esgotamento anunciado do nosso modelo energético, dominante desde o terceiro quartel do século 19, mas por pouco tempo e correndo o risco de fazer colapsar as sociedades humanas, nomeadamente através de uma multiplicação de conflitos bélicos particularmente mortíferos.

As ambições da Rússia são, assim,  inaceitáveis. Desde logo, pelos Estados Unidos, Europa, Índia, Médio Oriente e China...

O pico americano do urânio já foi...

Estagnação mundial da geração de energia nuclear


NOTA 1 — "The recent Russian invasion of Ukraine has been claimed to be due to a multitude of cultural and political reasons. New maps may hold additional clues and show interesting connections in the conflict.";  Sergio Volkmer.

Maps show Ukraine invasion lines versus existing energy resources.




A próxima grande guerra na Europa

A C-P + DALL.E, War, 2023

More than 70% of young respondents in Western Europe see terrorism as the biggest threat to European security, followed by concerns about cyberattacks, natural disasters due to climate change, and Russia. Furthermore, almost half of them believe their country will be directly involved in an armed conflict within the next ten years. Yet, all that being said, young people do not view security and defence as a structural concern given the absence of an imminent threat to their own countries. Other issues and policies, such as healthcare and education, are perceived as having a greater relevance for their daily lives.  
Next-Generation Security 
This research program analyses the European youth's perceptions of the security and defence landscape and its future. 
ie UNIVERSITY, Segovia, Spain 
@ieuniversity


A Rússia de Putin é uma autocracia medievo-industrial, assassina por herança histórica, incapaz de evoluir, salvo se voltar a ser ocupada, embora desta vez por um poder mais civilizado, a Europa, em vez de um da mesma laia, a China...

A probabilidade de uma guerra alargada entre a Europa e a Rússia, com botas europeias nos campos de batalha, e assistência norte-americana à distância, parece evidente a um número crescente de europeus.

Assim sendo, valem os velhos provérbios: mais vale prevenir do que remediar; há que pôr as barbas de molho; em tempo de guerra não se limpam espingardas; quem vai para o mar avia-se em terra...

Este cenário mais do que provável terá implicações profundas em Portugal, desde logo quando for intimado a subir o orçamento da defesa para os 3%. Os oportunistas, incompetentes, corruptos e indigentes populistas que desgraçadamente nos governam só irão mexer-se quando forem ferrados, e bem ferrados, pelos credores.