quinta-feira, fevereiro 09, 2012

Raia Airlines

Se já vamos ao Porto apanhar a Rya, porque não haveremos de ir a Badajoz apanhar a Raia?


Ryanair quer anunciar voos em Badajoz “dentro de semanas”

O vice-presidente da Ryanair, Michael Cawley, revelou à imprensa espanhola a intenção de anunciar operações no aeroporto de Badajoz nas próximas semanas. O presidente da região da Extremadura, José Antonio Monago, diz que se trata de uma remota possibilidade. Low Cost Portugal (ler mais).

Enquanto a ANA continua a boicotar a entrega do Terminal 2 da Portela às Low Cost, e a reserva do Terminal 1, entretanto renovado e dotado de vinte (7+13) mangas articuladas, para o hub brasileiro da TAP e demais companhias de bandeira, tendo até agora conseguido induzir nos nossos inimputáveis governantes uma política de transporte aéreo ruinosa para o país, e para a TAP, Badajoz poderá mesmo ser o que o aeromoscas de Beja nunca poderia ter sido, a não ser na mente brilhante de Augusto Mateus e de quem lhe encomendou o extraordinário estudo que levou a enterrar 38 milhões de euros em Beja, ao que parece, para testar automóveis de alta cilindrada. Exportação de carapaus, e importação de ingleses ao engano, por enquanto, nada!

O Terminal 2 está pronto há mais de quatro anos. A nova estação de Metro do Aeroporto da Portela, mais do que pronta a prestar serviço assim que o governo decida mandar inaugurá-la, encontra-se amordaçada e artificialmente "em obras" por pressão do lóbi da Ota em Alcochete (SLN e Palácio de Belém).

A privatização da TAP está num impasse, seja por pressão dos piratas da Ota em Alcochete, seja por aparente incapacidade governamental de lidar com a situação — isto é com o passivo de 1,4 mil milhões de euros da TAP, e com a manifesta incompetência, ou má vontade, da administração de Fernando Pinto, em matéria de gestão, nomeadamente no que toca a lidar com a concorrência das companhias de baixo custo europeias. Não nos esqueçamos que mais de 80% dos voos que demandam a Portela vêm ou vão para a União Europeia!

A Rya pode estar simplesmente a fazer bluff com Lisboa, pressionando uma decisão rápida sobre a hipótese de transformar parcialmente a TAP numa Low Cost sediada em Madrid (!), e ainda sobre a localização mais conveniente do terminal Low Cost da Portela, aproveitando ao mesmo tempo a embalagem da bancarrota da Spanair, para apanhar alguns cacos lucrativos deste negócio, até... 2015, 2020...

Mas também pode ser o Xeque-mate puro e simples à não-estratégia dos imbecis que conduziram a nossa política aeroportuária e de transporte aéreo ao desastre. Como já disse, e repito, as administrações da ANA e da TAP devem ser imediatamente despedidas!

Não há dinheiro, diz o Gasparinho. Mas não há dinheiro em parte nenhuma! Logo, temos que mudar de registo fonético, e começar a puxar pela imaginação negocial e empresarial. O país não pode continuar nas mãos de um contabilista de pensamento fechado e lento. Deixem o Álvaro respirar, caramba!

Na linha do que vimos defendendo sobre a TAP e a ANA, aqui vai uma precisão para evitar que os lisboetas passem a tomar os aviões da Raia Airlines em Badajoz, como já hoje fazem indo cada vez mais ao Porto apanhar os aviões da Rya, para Milão, Paris, Londres, Frankfurt, etc. (ver mapa)
  1. O Estado Português assume a reestruturação prévia da TAP e o pagamento de uma parte substancial da dívida desta companhia;
  2. O Estado Português  segmenta a operação da TAP em dois: TAP Europa (Low Fare Company nos trajetos intra-comunitários) e TAP Intercontinental (focado no Brasil, mas passando também por Miami e Panamá até ao Chile, Colômbia, Peru etc., e ligações pontuais à África, Médio Oriente e Ásia).
  3. O Estado Português vende 80-90% da TAP pondo como condição a prestação do serviço público das ilhas e a manutenção do hub brasileiro na Portela aos futuros acionistas maioritários da companhia.
  4. O Estado Português privatiza a ANA a 80-90%, definindo o número de aeroportos incluídos na concessão (Faro, Lisboa, Porto e Funchal, ilhas), e ainda a possibilidade futura de construção de novos aeroportos com novas concessões a outros operadores, por forma a garantir a concorrência e consequentes vantagens para o utilizador final em matéria de preço.
  5. O governo avança de uma vez por todas para a solução Portela+Montijo como solução  recomendada há muito pela Parsons (“NAL, Novo Aeroporto de Lisboa - Estudo de Localização, 1994”. ANA), por ser tecnicamente sólida e a mais rentável em matéria de custos e investimentos diretos e indiretos (a proximidade da Ponte Vasco da Gama é uma vantagem óbvia!)
  6. E finalmente, o governo decide de uma vez por todas a ligação ferroviária em bitola europeia, para passageiros e mercadorias, entre o Pinhal Novo-Poceirão e Badajoz-Madrid/resto de Espanha/resto da Europa!
Quem avisa, amigo é ;)

Balança comercial avariada!

Exportações encalham na recessão mundial

O porta contentores Rena após encalhar no recife Astrolabe Reef (Nova Zelãndia) em Outubro de 2011. Foto © New Zealand Defence Force via Reuters. MSN, PhotoBlog.
Crescimento das exportações trava a fundo no final de 2011

O único sector que tem impedido uma recessão mais profunda entrou em franca desaceleração no final de 2011. As vendas para os países da União Europeia tiveram mesmo a primeira queda homóloga em Dezembro, depois de, ao longo do ano, terem sempre registado crescimentos de dois dígitos. Jornal de Negócios online, 9 Fev 2012.

O abrandamento das exportações portuguesas confirma o que já se sabia à escala global da análise dos últimos dados do Baltic Dry Index :( A confirmação dada pelo INE é péssima para o barómetro da austeridade, sobretudo se tivermos em conta que o endividamento de Portugal é o pior da União, logo depois da Grécia, ao contrário do que a propaganda governamental quis fazer-nos crer há dias. Nas contas portuguesas continua fora do perímetro orçamental o buraco negro das PPPs.
E ainda isto:
Dívidas Portuguesa e Irlandesa: o Dr. Passos Coelho Engana-Se Ou Engana-Nos - O Economista português, 7 Fev 2012.
 


terça-feira, fevereiro 07, 2012

O FMI mudou

Austeridade ou Zimbabué, eis a questão!

Aconteceu na Alemanha nos anos 30, mas repetiu-se no Zimbabué em 2008-09.

Agora é oficial. Já era esperado e notado por muitos. Mas os sinais agora são fortes demais para não serem reconhecidos por todos. O FMI mudou a sua perspectiva quanto à forma de combater a crise. Não foi uma mudança idelógica, descansem. Está tudo na mesma. Foi uma mudança política, decorrente da observação da economia internacional e das economias nacionais mais preocupantes. Tal com deve ser feito na política económica e financeira. Para 2011, Blanchard achava que a agenda mais importante era olhar aos défices públicos e às dívidas nacionais, soberanas ou particulares. Agora, já não acha. Agora, o que se diz, do lado do FMI, é que é preciso rescalonar as políticas de austeridade. Simples. São muitos os documentos sobre isso, e um sumário pode ser visto num dos blogues do Fundo. 
Pedro Lains.

The IMF has argued for some time that the very high public debt ratios in many advanced economies should be brought down to safer levels through a gradual and steady process. Doing either too little or too much both involve risks: not enough fiscal adjustment could lead to a loss of market confidence and a fiscal crisis, potentially killing growth; but too much adjustment will hurt growth directly.

Carlo Cottarelli, FMI.

O comentário de Pedro Lains, seguindo um bloguista do FMI, é oportuno. Nem o excesso de ajustamento fiscal (diminuição da despesa pública, aumento de impostos e austeridade), nem um neo-neo-neo-keynesiano voluntarismo monetarista (de que o recente Quantitative Easing I e II, made in USA, são desesperados e fracassados exemplos), servem como saídas para a gravíssima crise económico-financeira que o mundo atravessa, muito por causa de termos passados os últimos quarenta anos a esconder o Sol com a peneira.

Crescimento demográfico mundial sem petróleo barato é impossível. E numa era pós-petrolífera haverá uma degradação inexorável do Estado Social iniciado por Bismarck com o objetivo de proteger a revolução industrial alemã dos salários mais elevados pagos então e durante muitas década depois pela América. Se vai ser assim, o melhor mesmo é começarmos desde já a estudar seriamente este enorme problema!

Em Portugal o serviço da dívida cresce a ritmo catastrófico (8,8 mM€ em 2012, 9,5 mM€ em 2013...) e os mercados financeiros fecharam-nos praticamente as portas. A menos que a Alemanha sucumba finalmente ao neo-neo-neo keynesianismo e se ponha a escriturar moeda como os doidos americanos, não temos outro caminho que não seja uma via sacra pela disciplina orçamental. O que nem sequer está a ocorrer como devia! A renegociação das PPPs mais ruinosas para o país (autoestradas e barragens), e o fim da escandalosa e imoral hemorragia de impostos e dinheiro emprestado a juros altíssimos para alimentar serviços autónomos, fundações e empresas regionais, municipais, já para não falar dos vencimentos injustificáveis dos gestores públicos, sem outra justificação que não seja o de alimentar a máfia partidária que tomou de assalto a nossa democracia, continuam no tinteiro do Jota Passos de Coelho.

Só austeridade, não!


POST SCRIPTUM

Se há um investimento público, aliás apoiado e desejado pela União Europeia e pela Espanha (nosso principal parceiro comercial... e credor!) que merece ser levado por diante em detrimento de todos os elefantes brancos adorados pela nossa burguesia rendeira (autoestradas e barragens), é a ligação de Portugal à nova rede europeia de transporte ferroviário — por Badajoz, por Salamanca, por Vigo e por Vila Real de Santo António.

Sob pena de Portugal se transformar rapidamente numa ilha ferroviária isolada da Espanha e do resto da Europa, não vejo melhor maneira de compensar a austeridade inevitável e prolongada que temos pela ferente, do que com a criação de empregos duráveis e diversificados que resultariam de uma aposta clara deste governo na nova geração de transportes ferroviários — incluindo ligações interurbanas, nacionais e internacionais, urbanas (Metro de superfície) e suburbanas.

Não conheço nenhum investimento com efeitos tão multiplicadores quanto este, agora que o imobiliário morreu e não ressuscitará tão cedo, sobretudo num país onde a ONU prevê uma recessão demográfica até 2100 que poderá ir até aos 50%!

segunda-feira, fevereiro 06, 2012

Mais barragens?

As Redes Inteligentes e o Mercado Único Europeu da Energia apostam na eficiência!

Redes Inteligentes e o Mercado Único Europeu da Energia — uma solução à vista. © Hoje Macau.

Poll reveals wide support for EU grid action
EurActiv
Published 06 February 2012

A survey of European stakeholders has found overwhelming support for giving priority, funds and planning waivers to allow the speedy construction of European grid infrastructure.

In a survey of businesses, industrial associations, NGOs and think tanks, 81% of respondents said that creating a single European electricity market, and the needed grid infrastructure, should be an EU policy priority.

“We couldn’t agree more,” said Susanne Nies of Eurelectric, an association representing major European power generators.

Rede Inteligente de Energia Pode Ser Hipótese para Macau
Hoje Macau
15 Dez 2011

Está implementada em diversos locais do planeta. A China e os EUA, os principais adeptos do conceito, já desembolsaram muitos milhões de patacas em projectos pilotos. Macau pode ser a “cidade ideal” para a sua implementação. Estamos a falar de Smart Grid, a rede inteligente de energia

O plano de construção de novas barragens hidroeléctricas foi engendrado para melhorar a intermitente produtividade dos geradores eólicos, e pelo caminho aumentar também os ativos não virtuais de empresas sobre endividadas como a EDP. No entanto, as dúvidas técnicas e ambientais sobre o acerto da decisão crescem dia a dia. Os motivos são de vária ordem:
  • O Plano Nacional de Barragens de Elevado Potencial Hidroeléctrico (PNBEPH) sofre da ausência ou de graves erros de avaliação, quer dos impactes ambientais e patrimoniais negativos das obras e barragens previstas, quer da rentabilidade a curto e médio prazo das mesmas. Esta, segundo alguns especialistas, não poderá deixar de ser nula, ou até negativa!
  • Findo o regime de monopólio partilhado pela EDP, Iberdrola e Endesa, e em particular depois de estabelecido o Mercado Comum Europeu da Energia, assente no conceito de redes energéticas inteligentes e democráticas (na medida em que a micro-geração, nomeadamente off-grid, se liberta das limitações legais conseguidas pelos cartéis energéticos), a falta de rentabilidade das barragens previstas no PNBEPH, sobretudo as dos rios Sabor, Tua e Tâmega, tornar-se-à um peso negativo no balanço geral das respetivas explorações, e uma perda de valor, nomeadamente em bolsa, para as empresas detentoras (Three Gorges, etc.) destes projetados elefantes brancos;
  • As empoladas reservas de gás natural, em África, Canadá e Estados Unidos, e as ainda mais empoladas reservas potenciais de petróleo e de gás de xisto, poderão no curto prazo tornar ruinosa, ou pouco rentável, boa parte dos investimentos em energias eólica e solar;
  • O Mercado Comum Energético Europeu, que acompanhará porventura o nascimento de uma União Europeia Fiscal e Orçamental mais equilibrada e competitiva, é uma ameaça óbvia ao cartel que hoje fornece energia cara ao país —às cidades, às empresas e às pessoas.
  • Sendo praticamente inevitável a renegociação das leoninas Parcerias Público Privadas (PPPs) que vêm arruinando de modo acelerado e catastrófico o país (1), cessará também, pelo menos em parte, a simbiose oportunista entre o cartel energético e o poder partidário instalado e, por esta via, o interesse empresarial e financeiro nas novas barragens.
  • Por fim, que fazer das renováveis já instaladas? À medida que a ilusão na imaginária abundância de gás natural e de gás de xisto se esbater contra a realidade de uma inflação crescente dos preços da energia e das matérias primas em geral, o que hoje dá prejuízo, talvez em 2015, ou 2020, comece a revelar-se uma fonte indispensável de produção própria de recursos.
Entretanto, a prioridade irá, mais cedo ou mais tarde, quer queiramos, quer não, para a adopção de políticas europeias comuns focadas na eficiência energética e na produção em rede, e fora dela, de velhas e novas formas de energia renovável que não destruam no seu caminho equilíbrios ecológicos e paisagísticos com milhões ou milhares de anos.


ÚLTIMA HORA

 6 Fev 2012, 16:15


NOTAS
  1. O grau de endividamento público de Portugal (DN, 6 fev 2012) é o segundo pior da União, logo depois da Grécia, se tivermos presente que aos 110% de dívida oficial, teremos que somar (para deixarmos de aldrabar a contabilidade) o endividamento programado e ou já contratado nas cento e vinte PPPs, cujo valor ascende a uns astronómicos 60 mil milhões de euros. Ou seja, a nossa dívida pública real é de, pelo menos, 145% do PIB! Pelo andar da bancarrota grega, a seguir seremos nós a entrar oficialmente em quarentena. Esta implicará, nomeadamente, uma dieta prolongada dos mercados de dívida soberana e o recurso condicionado ao BCE. Entre as condições que nos serão inevitavelmente impostas, e que constam aliás do Memorando da Troika, está, precisamente, a renegociação das PPPs, ou seja, a paragem e o adiamento inevitáveis de alguns projetos públicos lançados pelo anterior governo: novas autoestradas, novos aeroportos e novas barragens. Não por vontade da Troika, mas porventura por sabotagem dos piratas já infiltrados no governo do senhor Passos de Coelho, a ligação ferroviária em bitola europeia entre Lisboa e Madrid, que conta com 800 milhões de euros provenientes dos fundos comunitários, também poderá ficar no tinteiro, até novas núpcias :(

domingo, fevereiro 05, 2012

Tic-tac

Waiting for the big bang... or for the big badaboom?



It looks OK, but it is not so. The debt we are dealing with is unmanageable. Even USA is falling off the cliff. The financial world is coming to a halt, and the day after the reset we'll get a hell of an headache! The collapse of the Welfare-State is inevitable — unless broken Europe, broken USA, broken Israel and broken Japan go to war against... Iran, Russia, China, Pakistan, etc., and win. But then who's going to live in such a radioactive nightmare?

As an old Portuguese minister said yesterday, we should ask the United Nations to remedy what appears to be a global problem — a 700 trillion USD Ponzi problem!

China is preparing for the worst...

Counterfeit Value Derivatives: Follow the Bouncing Ball (Guest Essay)   (February 3, 2012)

[…]

No wonder the market goes up dramatically when there is talk about another quantitative easing (Fed bailout) or emergency rescue (government/taxpayer bailout). These financial game players already know that an open public spigot is on its way, pouring real capital directly into their pockets.
In regulatory actions and legal courts, unregulated insurance claims should simply be declared null and void when applied to real assets and real compensation. “You have no stake, therefore you have no claim. Your agreement was with a third party that did not have adequate capital to pay for a contract with you. Take them to court.” Or “You have an imaginary claim for imaginary damage. Here’s your imaginary money. Your deal was private and unregulated, then it should be settled in private between companies without public intervention or support.”
Did that happen? No, because AIG had collapsed its unregulated private and regulated public functions and Congress had allowed it to do so with the repeal of the Glass-Steagall Act. Because the wall came down between regulated and unregulated activity, transparent and “shadow” markets, traditional and investment banking, this private fiat virus broke quarantine and the resulting contagion cannot be put back in the lab.
Because world leaders and their regulators blinked and did nothing, counterfeit private fiat (backed by nothing) has metastasized and infiltrated “genuine” public fiat (backed by country’s productivity if not by gold), and more and more actual money and productivity in the form of austerity is being thrown at a gargantuan and unrecoverable sea of counterfeit obligation.

[…]

by Zeus Yiamouyiannis, copyright 2012.

and...

Chris Martenson presenting James Dines (author of The Dines Letter): "Owing 'Wealth In The Ground' Is Your Best Bet to Surviving the Coming 'Supernova of Inflation'" [PODCAST]

James Dines:
At the little-noticed Genoa Conference starting on April 10, 1922, the politicians slipped a profound change into the law by changing “the gold standard” into what they called “the gold-exchange standard.” Politicians decided to count gold twice (the gold itself and also the gold-backed currency). That doubled the money supply. (The fallacy is that the gold-exchange standard counted the gold twice-once where it was stored, and again in any country that held paper dollars or pounds backed by gold.) The unleashing of that much cash in 1922 was the true cause of the subsequent boom into 1929. It was an inflation that was punished by the subsequent deflation of the early 1930s. Believe it or not, this is a position almost totally disbelieved to this very day, and you won’t even readily locate that 1922 Conference in current history books, much less in the press!”

Updated: 2012-02-06 0:19

sábado, fevereiro 04, 2012

Lóbi da Ota não morreu

Novo governo parece já ter caído nas malhas aeroportuárias do Bloco Central do Betão

Basta olhar para este quadro para perceber a desorientação induzida do governo PSD-CDS em matéria de transportes.

Monago satisfecho después de conversar sobre el AVE con el Gobierno luso

Monago agregó que el Gobierno luso está "en un proceso de reprogramación" del proyecto, pero la intención de Lisboa es "empezar cuanto antes".
Tras llegar al poder el actual Gobierno conservador, Portugal suspendió en julio el tren de alta velocidad con España, ante la imposibilidad de hacer frente a sus costos por la crisis económica, y anunció que quería usar los fondos europeos asignados en un ferrocarril internacional enfocado en mercancías y de menor coste. Cotizalia.

Pelo que transparece das notícias, a confusão permanece no governo português sobre o que fazer da nova rede de transportes ferroviários, nomeadamente entre Lisboa, Madrid e resto de Espanha e da Europa.

A ideia peregrina de ligar o Poceirão ao Caia recorrendo a duas linhas férreas, em via única, sobre duas bitolas distintas (a velha "ibérica" e a nova "europeia"), sem perceber que só o Pinhal Novo poderá ser, para já, o terminal único da Região de Lisboa (até haver condições e justificação suficiente para uma nova travessia ferroviária do rio Tejo), é um colossal erro técnico que porá os cabelos em pé dos negociadores espanhóis que participarem na próxima Cimeira Ibérica! Pior: ideia tão obtusa será liminarmente rejeitada pelos responsáveis estratégicos e técnicos da rede espanhola de Alta Velocidade — por razões de fiabilidade, pontualidade, rentabilidade e segurança.

Só pode haver uma explicação para a manifesta inépcia, ou amadorismo do Secretário de Estado de Álvaro Santos Pereira, Sérgio Monteiro: o governo PSD-CDS, tal como o anterior, continua prisioneiro da malta que defende o embuste do Novo Aeroporto da Ota em Alcochete. Um tal Viegas continua, pelos vistos, a minar a clareza de ideias entre os governantes. O BES, a Mota-Engil, a Luso-Ponte (i.e. a Mota-Engil) e o Grupo Mello (Brisa) pagam e não desistem de meter areia neste projeto comunitário em riscos de ficar no tinteiro. Insistem os rendeiros do país, no 3 em 1: entrega da ANA e da falida TAP a quem construir o NAL — ou seja, a substituição dos atuais monopólios estatais por um monopólio privado. Ou será que também já negociaram outro monopólio estatal... com a China, ou Angola? Por algum motivo o Fantasia da Urbanização da Coelha foi o testa de ferro da SLN na compra dos 250 milhões de euros de terras urbanizáveis nas imediações do tão desejado novo aeroporto. Num país que a própria ministra da justiça já anunciou estar em bancarrota (1), este é o mais descarado exemplo de corrupção pós-Sócrates!

A União Europeia analisou no final de 2011, para efeitos de financiamento imediato, quatro propostas prioritárias, duas de corredores ferroviários em bitola europeia (UIC), para ligar a Península Ibérica ao resto da Europa, e dois projetos de interoperabilidade, todos no âmbito da Rede Trans-Europeia de Transportes (TEN-T), com financiamentos indexados aos Quadro Comunitários de Apoio de 2000-2006 e de 2007-2013, e com conclusão prevista para 2020. E são:
  1. Projeto Prioritário de Alta Velocidade número 3 (PP 3); 
  2. Projeto Prioritário número 16 (PP16), ou "corredor central", comportando uma "linha de alta capacidade" para mercadorias ligando Sines e Algeciras a Madrid e Paris, e que atravessaria os Pirinéus por túnel
  3. Projecto de interoperabilidade do corredor atlântico (PP19);
  4. Projecto de interoperabilidade do corredor mediterrânico (PP19)
TEN-T - Eixo Prioritário 3

Destas quatro propostas, uma foi recusada: a que defendia a tal ligação de Algeciras e Sines a Paris, passando por Madrid e furando os Pirinéus. Pois é precisamente esta que os Extremeños insistem em levar por diante, contando para tal com aliados tão inesperados como o senhor Cavaco Silva. Ficamos sem saber se a deferência se deve às suas excelentes relações com a malta da SLN/BPN, ou se por ter sido atingido pela queda de uma catenária!

TEN-T - Eixo Prioritário 16

Que Badajoz queira viabilizar a sua Plataforma Logística e dar maior ênfase à futura estação do AVE, em Badajoz também, compreende-se. Defende os seus interesses. Mas neste caso os seus interesses colidem com os interesses nomeadamente do porto de Sines. Tanto Sines como Algeciras são portos de transhipment, isto é, destinos finais para alguma da carga, mas sobretudo pontos de passagem da maioria dos graneis, contentores, automóveis, etc., para outros meios de transporte e outros destinos.

Ou seja, se ligarmos Sines e Algeciras a Madrid a partir dum entroncamento ferroviário novo em Puertollano (Ciudad Real), o que imediatamente ocorrerá é passarmos a ter Algeciras como um concorrente inevitável de Sines nas entradas e saídas de mercadorias vindas por mar. Há formas menos ridículas de suicídio económico!

Se ao menos Badajoz aceitasse criar com Elvas (que não aceita!) uma verdadeira eurocidade, ainda vá. Mas do que pude auscultar, o centralismo proverbial da direita espanhola, agora no poder, vai no sentido diametralmente oposto: aproveitar todas as oportunidades para empurrar a linha de fronteira Portugal adentro :(


POST SCRIPTUM

ADIF.

Estou convencido de que Portugal vai deixar cair a Alta Velocidade na próxima Cimeira Ibérica, em Abril —em nome do seu proverbial atavismo estratégico e para benefício dos mesmos corruptos que afundaram o país na bancarrota!

El AVE afianza su llegada a Zamora a finales de año, con más del 75% de las obras ya ejecutadas

Un nuevo corredor ferroviario de alta velocidad se abrirá paso este año sobre la meseta para cruzar el valle del río Duero y enlazar la línea Madrid-Valladolid con el ramal a Galicia. Si la situación económica y financiera del Estado lo permite, el AVE tendría lista su plataforma para ‘volar’ a finales del ejercicio entre Olmedo y Zamora, ya que en la actualidad están ejecutadas las obras de este tramo de 95 kilómetros, en más de un 72 por ciento —elnortedecastilla.es.
A integridade da Espanha depende cada vez mais da sua nova rede ferroviária, nomeadamente a de Alta Velocidade. Com o petróleo acima dos 100USD, e com as novas penalizações europeias sobre o tráfego aéreo no continente, nomeadamente para ligações inferiores a 800Km, o transporte aéreo na Península Ibérica terá que ceder lugar a outras formas de transporte menos penalizadas. A paragem do processo de privatização dos novos e moderníssimos aeroportos de Madrid e de Barcelona —por falta de procura!— dá bem a medida do que aí vem.

España cancela la privatización de los aeropuertos de Madrid y Barcelona

MADRID (EFE Dow Jones)--El nuevo Gobierno conservador de España ha cancelado la ambiciosa privatización de sus dos principales aeropuertos, dijo el lunes la ministra de Fomento, que citó la actual situación del mercado como una de las causas.

"La pérdida de valor sería irrecuperable", dijo Ana Pastor en una conferencia de prensa. "No podemos perder una empresa que cree riqueza en el futuro".

El anterior Gobierno socialista, que pretendía recaudar más de 5.000 millones de euros con la privatización de la gestión de los aeropuertos de Madrid y Barcelona, ya tuvo que ampliar el plazo de las ofertas desde octubre a final de enero por las dificultades de financiación de los potenciales interesados —Wall Street Journal Americas.

Espanha é o nosso principal parceiro comercial, porra! E só depois vem o resto da Europa. E só muito, muito depois, vem o resto do mundo, irra!! Esta simples e óbvia realidade deveria levar um qualquer governo com cabeça própria a decidir racionalmente. Infelizmente, os nossos governos há muito que perderam a cabeça; ou melhor, têm várias cabeças no ar, fora do governo, algures entre o BES e os Mellos, passando também pelas Mota-Engis e Teixeiras Duarte deste pacóvio canto lusitano. O resultado está à vista!

A autonomia aérea de Portugal é essencial, pelo que entregar aeroportos que nada valem no mercado, e a insolvente TAP, a Madrid seria uma traição merecedora de pena capital. Neste particular, só nos podemos aliar aos brasileiros, chilenos, colombianos e peruanos, ou aos angolanos e moçambicanos, ou aos de Cabo Verde e São Tomé e Príncipe, ou ainda aos chineses, marroquinos e árabes do Médio Oriente. Nunca à traiçoeira aliança entre Londres e Madrid!

Coisa bem distinta é a nova rede ferroviária de bitola europeia, para pessoas e mercadorias, que se tornou uma prioridade da União, e de que a Espanha é o pais mais adiantado, em obra feita, em tecnologia desenvolvida e no êxito comprovado da solução —pelo número de passageiros que vem atraindo e pela rápida decadência que vem induzindo no transporte aéreo entre as dezenas de cidades espanholas.

A Europa quer menos aviões nos céus europeus, e mais comboios de nova geração a circular. Como poderá então Portugal recusar esta via? Só por uma incomensurável estupidez, pela prevalência criminosa e sem limites da corrupção, ou por ambas!

A confusão mental que grassa entre as elites idiotas que temos (a começar pelo MST do Expresso/SIC) conspira a favor de mais um adiamento da ligação de Portugal à nova rede europeia de transportes ferroviários. Certamente por razões ocultas —os investimentos especulativos da mallta do BPN/SLN, a cobiça da nossa burguesia rendeira, e a mente exígua das nossa elites— "acham" que o comboio é coisa do passado. Porém, e paradoxalmente, acham que o "TGV" (como dizem) ameaça a "sua" falida TAP. Falida, entre outros motivos, por ter andado décadas a servir o conforto da nossa corja político-partidária.

O nuclear "deve continuar afastado"

Expresso: Porque não voltaram atrás com o plano nacional de barragens?

Governante: Praticamente todas as decisões relativas a essa matéria já estavam tomadas antes do início deste Governo. Não é uma questão do Ministério do Ambiente. A ser repensada, só o seria no seio do Governo — Expresso.

Pois bem, leve-se o assunto a Conselho de Ministros! E já agora ponha-se um ponto final ao embuste do Plano Nacional de Barragens. Aliás, creio que o dito já não interessa a ninguém, e vai deixar de interessar aos chineses quando estes analisarem bem as causas, ultrapassadas pelos acontecimentos, daquele embuste.

O Alto Douro e Trás-os-Montes, que correm o sério risco de perder a classificação da UNESCO, por causa do embuste criminoso das barragens do Tua e do Baixo Sabor, bem poderão ganhar com a preservação de um bem patrimonial precioso, como é a Linha Ferroviária do Tua.

Pensem bem na ligação das linhas ferroviárias do Douro e do Tua —do Porto até Bragança e Miranda do Douro; até ao Parque Natural de Montesinho, até ao Parque Natural del Lago de Sanabria, até ao Douro Internacional, até Zamora, Salamanca, Valladolid… Madrid…. ; e no potencial do turismo cultural, balnear e agro-ecológico desta região, se soubermos defendê-la da especulação e do abandono político.

Os comedores de impostos são capazes de arruinar países inteiros, apenas para satisfazer os seus grosseiros apetites materiais. Mas se soubermos reagir e impor uma verdadeira democracia participativa a este caso, as coisas ainda poderão mudar de rumo. Porque não desencadear, a este propósito, uma Sondagem Deliberativa sobre a Barragem do Tua e o Futuro da Bacia do Douro?


NOTAS

  1. Afinal não foi só ela, o Banco e Portugal também já faz seminários sobre o desastre iminente!
    Banco de Portugal
    Seminar: Optimal Sovereign Debt Default
    Klaus Adam, University of Mannheim
    6 February 2012, 5p.m.
    (imagem do anúncio)

Atualização: 7 Fev 2012, 11:49

terça-feira, janeiro 31, 2012

Colapso energético em 2014?

O petróleo acabou!

O desastre da plataforma de perfuração Deepwater Horizon, Golfo do México, 2010.

Medina Carreira parece já ter percebido o essencial:
  1. O Ocidente, a começar pelos Estados Unidos, desde meados da década de 1970, começou a exportar as suas indústrias para Oriente, substituindo uma economia material, produtiva e de crescimento endógeno, por uma economia de serviços, de consumo e de endividamento, cada vez mais virtual — a qual viria a ser replicada, uma década mais tarde, na Europa;
  2. As democracias ocidentais (as únicas que, na realidade, existem e são dignas do conceito que exibem para o resto do mundo) degeneraram em regimes burocráticos de representação partidária, populistas e corruptos, vivendo em simbiose oportunista com um sistema financeiro essencialmente especulativo e cada vez mais assente na fraude internacional organizada;
  3. A superioridade tecnológica, militar e diplomática permitiu, durante os últimos quarenta anos, aos Estados Unidos e à Europa ocidental, um endividamento público e privado sem precedentes, do qual viria a resultar o nosso declínio demográfico (envelhecimento populacional e perda de população) e a presente crise sistémica — financeira, económica, social e política;
  4. Na base mais profunda da crise do actual modelo de civilização encontra-se um fenómeno de que só muito recentemente Medina Carreira parece ter-se dado conta: sem petróleo barato a economia do consumo e do estado social não só não pode funcionar, como entra rapidamente em colapso assim que o preço da energia ultrapassa um certo patamar; acima dos 100 dólares, situação que tem vindo a consolidar-se (ver cotações), temos recessão em largas dezenas de países; e acima dos 150-200 dólares a economia muito provavelmente entrará num colapso irreversível, isto é, do qual não será mais possível sair, se não através da instauração de um novo modelo de economia e de sociedade!




No programa Olhos nos Olhos (TVI 24) dedicado à crise petrolífera apareceu um tal “Agostinho Pereira de Miranda, advogado, [e] um dos maiores especialistas portugueses em assessoria jurídica e fiscal na área da exploração petrolífera.” Disse coisas acertadas durante uma parte do programa, mas parece ter reservado para o fim duas mensagens contraditórias e desastrosas (certamente sintonizada com o frenesim da caça ao último atum!):
  1. que o Pico do Petróleo seria uma fantasia do passado, em que ele mesmo chegou a crer;
  2. e que a energia nuclear seria certamente uma alternativa, ou um elemento da "diversidade" a ter em conta no futuro do sector energético.
Se temos petróleo para dar e vender, então não se justifica o risco e o preço do nuclear. Se, pelo contrário, o futuro do petróleo é incerto, então o nuclear será sempre insuficiente para substituí-lo, dada a magnitude da presença do petróleo nas nossas vidas; e também não justifica, nem o preço, nem o risco de insistir na sua problemática utilização, depois de mais uma tragédia tão incomensurável como a de Fukushima, ou face à permanente instabilidade internacional decorrente de qualquer tentativa de alargar o clube nuclear!

Menos mal que Medina Carreira se não deixou levar pelas palavras confusas do seu convidado, e atalhou as contradições do tal assessor dizendo simplesmente que não vai haver tempo suficiente para substituir o petróleo leve e barato por petróleo pesado e caro!

Há certamente muito petróleo pesado e extra pesado a cinco e a seis mil metros de profundidade; e muito petróleo misturado nas lamas venezuelanas e nas areias betuminosas do Canadá, e ainda o chamado gás de xisto. O problema, porém, desta abundância, é que a mesma é ilusória, pois custa muito dinheiro obter tais formas impuras de petróleo e gás, e correm-se riscos tremendos na sua extração, como ficou provado no desastre da Plataforma Deepwater Horizon da BP no Golfo do México.

O Pico Petrolífero global já chegou, em 2006, ou chegará até 2015 se descontarmos o efeito da uma recessão global duradoura, como a que está presentemente em curso. Entretanto, teremos volatilidade dos preços (que não é apenas resultado da especulação, como se diz) e a real possibilidade de um oil crunch, ou seja, a contração repentina da oferta sempre que há uma retoma da procura — e a subsequente e instantânea alta dos preços.

Assim como não vimos o crédito mundial secar, antes do colapso financeiro nos bater à porta com toda a sua brutalidade, tudo parece apontar agora para que o  colapso energético irrompa um dia destes por entre gargalhadas parlamentares, cimeiras inconclusivas e algum reality show novo.

sexta-feira, janeiro 27, 2012

EDP criminosa

EDP: um estrago insustentável que tem que ser atalhado já!

Foz do rio Tua, acidente fatal em obras da EDP na inútil barragem (Foto ©SIC)

Responsabilizem o senhor Mexia, o senhor Sócrates, o senhor Zorrinho, e já agora, a senhora (sa)Cristas pelo sucedido! É assim que deve ser em democracias dignas do nome que ostentam!

Estamos fartos de insistir na bestialidade desta obra, na sua inutilidade económica (1), no peso insustentável que tem para o agravamento da dívida pública portuguesa e portanto para o aumento da probabilidade de bancarrota do país. Quando é que a corja partidária acorda?!

A opinião pública deve mobilizar-se para responsabilizar económica e criminalmente os responsáveis políticos por este desastre, e pelos desastres que se avizinham no futuro — desde logo, o da mais do que provável perda da classificação dada pela UNESCO ao magnífico vale do Douro, com particular relevo para o Alto Douro e a Região Demarcada do Vinho do Porto.


POST SCRIPTUM: a instabilidade na zona de obras da barragem (não previsto no estudo de impacto ambiental, que eu saiba) é óbvia e conhecida há muito. As cargas de dinamite e as grandes amplitudes térmicas da região concorrem para o aparecimento de fendas e quedas de rochas.

Ver vídeo demonstrativo da instabilidade do vale do Tua, nomeadamente na zona onde estão a construir a barragem (que deve ser parada, já!), realizado uma semana antes do acidente mortal.

NOTAS
  1. O Programa Nacional de Barragens de Elevado Potencial Hidroeléctrico (PNBEPH), previsto para ser executado entre 2007 e 2020, é um embuste engendrado pelo governo "socialista" de José Sócrates, com vários objectivos, falaciosos, ou movidos pela relação de dependência entre dois poderes corruptos: o político-partidário e o financeiro:

    Objectivo 1: atrair financiamento comunitário para o desenvolvimento de energias limpas e consequente redução do nível de emissões de CO2 equivalente — uma aposta errada, pois não descontaram o CO2 equivalente produzido pela construção das próprias barragens e complementar sistema de geração e transporte de energia eólica, pela inflação induzida na economia pelo acréscimo dos custos de energia e consequente deterioração da balança comercial, e ainda pela eutrofização galopante das águas das albufeiras das barragens (vale a pena acompanhar os argumentos de Luís Mira Amaral sobre esta matéria, aqui, e aqui (já não está!);

    Objectivo 2:  alimentar o Bloco Central do Betão e as rendas do monopólio energético assegurado pela EDP e dos bancos associados ao esquema;

    Objectivo 3: financiar o colossal endividamento da EDP em aquisições e investimentos eólicos nos Estados Unidos da América, entretanto comprometidos pelo próprio colapso financeiro americano, como prova a decisão recente da Iberdrola de suspender a construção de novos parques eólicos nos EUA, ou ainda a recente decisão do novo governo espanhol, de Mariano Rajoy, de suspender novos subsídios às energias renováveis. Na realidade, não se trata de um financiamento directo, mas sim indirecto, i.e., a construção de barragens inúteis em Portugal aumenta o peso dos activos reais face aos activos fictícios (meramente financeiros e especulativos), melhorando assim a qualidade das garantias que poderão ser oferecidas em troca dos empréstimos contraídos no mercado. A entrada dos chineses na EDP prova, no entanto, que esta estratégia, além de aventureira, ilegítima (pois foi realizada nas costas dos contribuintes e consumidores portugueses), e previsivelmente perigosa (a contagem das vítimas fatais já começou!) morreu.
Actualização: 27 Jan 2012 15:39

quinta-feira, janeiro 26, 2012

Corrida de lémures

Quem quer escapar ao precipício? 

Família de lémures. Foto © AFP

Recebi um elucidativo artigo sobre a matemática da crise actualmente em curso, que junto na íntegra ao meu comentário.

Concluo da sua leitura o seguinte:
  1. Tornar a Europa competitiva significa, de acordo com Thambapillai, deflação e desemprego estrutural — certo?
  2. Mas o problema é que se todos entrarem neste corrida de lémures para o abismo —depois do Japão, a China, os EUA, e agora a Europa— o que é que sobra?
  3. Talvez alguém se lembre, antes de esta década chegar ao fim, e entre os mais atingidos por este suicídio em massa —os países mais pobres, populosos e jovens do planeta— de responder com uma guerra, simultaneamente assimétrica e simétrica!
  4. Será isto que os piratas anglo-americanos andam a preparar? Quem lhes garante que se sairão oura vez impunes de mais um morticínio à escala global?
  5. É melhor começar a chamar os burros pelos nomes!

What is meant (in monetary policy) by the ‘zero lower bound problem’?
 By Ravin Thambapillai

tldr;
The zero lower bound problem is when the Central Bank wants to set the interest rate to be negative, but can't, because otherwise people would withdraw all their money from banks and just hold cash. Because the central bank can't choose its preferred interest rate, you get unemployment and disinflation, or worse, deflation.

The Zero Lower Bound problem is the problem that if the equilibrium interest rate falls below 0, the economy can fall into a self perpetuating slump, which can take an unusually long time to get out of.

Firstly:
1. The interest rate cannot go below 0 because if it did, those holding bank deposits might simply withdraw their deposits and hold the money as cash (which earns 0 nominal return, as opposed to a negative nominal return, which bank deposits would be earning).

Secondly:
2. The interest rate equilibriates inflation and unemployment. That is, if inflation is too high, raising the interest rate will bring it down. If unemployment is too high, lowering the interest rate will bring that down.

The Central Bank sets the interest rate according to a very complicated version of an equation that is effectively this (called the Taylor Rule):



i is the interest rate,
pi is the inflation rate
r is the real interest rate, or i - pi
a is just some coefficient that reflects how much you dislike excess inflation and excess unemployment (it can be any number but should be above 0, since excess is by definition too much)
the * represents "what this variable would be in the ideal economy
y is output/employment
y bar is output/employment in the ideal economy (you can have too much output, if that output starts causing unwanted inflation).
the t is basically irrelevant, but means "at time t"

(This equation says the interest rate should be set to the interest rate at equilibrium, plus some amont to adjust for unwanted inflation, minus some amount to adjust for unwanted unemployment).

Now
Imagine you have the following scenario:
Unemployment is high, so
is negative

inflation is below the target amount or equal to it (central banks tend to target about 2% inflation) so

is also negative or 0.
We can therefore conclude, that the optimal interest rate must satisfy:
now, by definition:

So:

But assuming

then you get that

 
But, we've already said this is impossible (its point 1 in this exposition), so in other words, the central bank cannot set an interest rate low enough to achieve equilibrium in the economy.

The consequence of this is that the interest rate must get set at best at 0, which is too high, and prevents the economy from achieving equilibrium employment. The economy therefore cannot achieve/restore full employment. Instead grinding disinflation or worse deflation and low employment continues, until eventually the country's prices have fallen so far that its exports look very cheap and it finds international markets for its goods.
in Quora 

Actualização: 26 jan 2012 14:16

quarta-feira, janeiro 25, 2012

Bem-vindo senhor Hollande!

Paisagem partidária europeia em mudança

Ségolène Royal e François Hollande: a separação de águas deu frutos! (Foto)

MADRID (MarketWatch) -- French presidential candidate Francois Hollande on Sunday said his real opponent was not current President Nicolas Sarkozy, but the "world of finance." In the first big speech of his campaign on Sunday, he said: "My principal adversary has no name, it has no face and does not belong to a political party. It has never presented its candidature and has never been elected, but it still governs," according to France24. "This adversary is the world of finance." Saying he wanted to "change the destiny of France," Hollande outlined his manifesto, pledging to cut presidential and government salaries by 30% and create a tax on financial transactions among other goals.

Uma surpresa chamada Hollande. As eleições presidenciais francesas poderão fazer do discreto socialista François Hollande uma das personalidades do ano. Se tal vier a ocorrer, e as sondagens apontam neste sentido, o namoro entre a Alemanha e a França mudará de protagonistas. Quem sabe se não teremos os sociais-democratas e os verdes à frente dos destinos da Alemanha em 2013...

E em Portugal? Estou cada vez mais pessimista relativamente às propriedades reformistas da atual coligação. O que vejo é um sprint desesperado da nomenclatura laranja e azul em direção aos benefícos certos do poder, e nenhuma preocupação de levar a sério o Memorando assinado com a Troika, e muito menos levar a sério os rapazes independentes que vieram estagiar no nosso país para conhecerem in situ como é a bancarrota de um país da zona euro, e como é que as dificuldades europeias em curso vão ou não permitir a consolidação da União, nomeadamente pela via de uma transferência mais acelerada de poderes das burocracias populistas nacionais para a grande burocracia de Bruxelas e para o BCE.

Se o meu palpite der certo, o senhor Passos de Coelho não aguentará mais de quatro anos à frente do Executivo. E para lhe suceder só vejo esta saída (democrática): uma coligação entre o PS e um partido que ainda não existe!

terça-feira, janeiro 24, 2012

A grande burla dos juros

Prédios abandonados em Alphabet City, Lower East Side, em Nova York em 1986 (Frances M. Roberts/Latinstock). Veja.

Euribor cai para os bancos e sobe para os particulares, penalizando estes últimos nos valores das prestações dos novos empréstimos (que sobem há 15 sessões consecutivas!) e nos valores das propriedades urbanas e rústicas, que continuam a cair.

As prestações dos contratos já realizados a taxas de juro indexadas à Euribor variam com a variação desta. Por enquanto, têm baixado, ou não têm subido. Mas como em muitos casos, fruto de uma política de juros e empréstimos especulativos (Subprime), num deserto programado de casas para alugar, as pessoas pediram quantias exageradas de dinheiro, as prestações são, por um lado, altas, cada vez mais altas face à degradação dos rendimentos do trabalho, e, por outro lado, o valor do ativo imobiliário que adquiriram, na melhor das hipóteses (se favorecido pela qualidade e localização favorável do imóvel) estagnou, ou tem vindo a cair!

Por outro lado, a destruição suicida das taxas de juro (nunca deveriam estar abaixo dos 4%, para toda a gente!), agrava a espiral do endividamento público, a austeridade, o colapso da economia, em suma, desvia, como nunca se viu, a riqueza de todos para os bolsos cleptómanos de 1% de ladrões e assassinos!

As taxas interbancárias na zona euro estão a descer há 25 sessões consecutivas nos prazos mais longos.

A Euribor a seis meses, que é a mais usada no cálculo dos juros no crédito à habitação, cedeu para 1,451%. No mesmo sentido, o prazo a doze meses diminuiu até aos 1,784%. Ambas as taxas caem de forma ininterrupta há 25 sessões Para observar um ciclo de quedas tão longo é preciso recorrer a 2009 — Económico.

Os bancos vão buscar dinheiro a 1% ao BCE e voltam a depositá-lo no banco central europeu, com uma remuneração de 0,25%, ou seja, perdendo 0,75% neste surpreendente negócio, só para manterem nos seus vigarizados históricos contabilísticos minimamente credíveis!

Ao contrário do que foi feito na Islândia, estamos perante uma aliança criminosa sem precedentes entre banqueiros, especuladores e burocracias partidárias em todo o Ocidente — americano e europeu :(

A taxa de juro implícita no crédito à habitação aumentou em Novembro pelo 18º mês consecutivo, revelou hoje o INE.

No mês passado, a taxa de juro implícita no conjunto dos contratos de crédito para comprar casa fixou-se em 2,720%. Foi a 18º subida mensal consecutiva, que colocou a taxa no valor mais elevado desde Julho de 2009, altura em que se cifrava em 2,770%, segundo o relatório do Instituto Nacional de Estatística (INE). Já em Dezembro de 2010 a taxa estava em 2,045% — in Económico.

Actualização: 25 Jan 2012 0:18

segunda-feira, janeiro 23, 2012

Espanha: monarquia moribunda?

Os sinais de desagregação da monarquia espanhola podem abrir caminho a uma república federal. Apostas?

America's Cup Building, Valencia, Spain by David Chipperfield Architects © Richard Walch

Os sucessivos escândalos que tolhem a decadente monarquia espanhola —anorexia da princesa Letízia, relação hipócrita entre os monarcas e corrupção à vista na casa real—poderão abrir caminho a uma transição pacífica da atual monarquia autonómica para um regime republicano de tipo federal. Tudo vai depender da carambola entre os escândalos monárquicos (cujo véu começa a levantar-se), o colapso inevitável do actual sistema autonómico, e a crise económica e social grave que afecta o país vizinho. Longe vão os tempos do triunfalismo democrático criado na alcova que uniu "socialistas obreros" e banqueiros arrivistas!

Valencia, el paradigma 'popular' de autonomía quebrada

“Es la segunda autonomía con mayor volumen de deuda (20.469 millones de euros); ha cerrado 262 camas hospitalarias en 2011; pagó in extremis a finales de año las nóminas de los profesores de colegios concertados y los 60 millones que debía a las farmacias; encabeza el ranking de fracaso escolar más alto de toda España (25%) y tiene a su ex presidente, Francisco Camps, sentado en el banquillo de los acusados por varios delitos de corrupción. La Comunidad Valenciana, tras modernizar la región de arriba abajo con más dinero del que tenía, busca ahora fórmulas para intentar contener el gasto y sacar a la región del atolladero en el que se encuentra.” El Confidencial.

Lembram-se de quando a Espanha, com condições naturais escandalosamente inferiores a Cascais (a prova em Valência teve que parar por falta de vento!) ganhou a realização da America's Cup? Pois é, a fatura não perdoa, e o processo autonómico caminha rapidamente para um beco sem saída :(

Los soberanistas catalanes alientan un nuevo frente contra Rajoy

“El presidente del grupo parlamentario de CiU en el Parlamento autonómico, Oriol Pujol, dejó claro ayer en la emisora RAC 1 que si Madrid no quiere hablar del tema, al Gobierno catalán no le queda otro recurso que tomar medidas, que podrían ir desde una consulta popular hasta un cierre de cajas, es decir, una insumisión fiscal. “No nos encontrarán tirando la toalla, sino al contrario”, subrayó Pujol.” El Confidencial.

O resultado do referendo escocês poderá ser decisivo para uma evolução rápida do processo de fragmentação federalista da Espanha.

Por outro lado, a suspensão da renovação da linha férrea entre o Porto e a Galiza pode encontrar nesta deterioração do centralismo madrileno/castelhano uma explicação mais do que plausível.

A União Europeia favorece objectivamente o renascimento das nações históricas do continente: Irlanda, Escócia, Catalunha, etc. No caso da Península Ibérica, a existência de uma federação espanhola, ou de uma federação ibérica, enfraqueceria, segundo alguns, a posição estratégica de Portugal. Não refleti ainda suficientemente sobre esta questão. Mas creio que é altura de começarmos a discutir o futuro da balsa ibérica!

Hors-texte (24-01-2012)

Reversão colonial

 Negócios da China? Privatizações? A terminologia da imprensa económica está errada!
O estado chinês avança rapidamente sobre os próprios recursos petrolíferos do Canadá!
“U.S. and Canadian companies have dominated Alberta's oil sands for decades. Now, though, Chinese firms are rushing to snap up Canadian oil sands resources and invest in ongoing projects - to the tune of $15 billion in the past 18 months in Alberta alone” — in China invests billions in Canada oil sands. By JENNIFER A. DLOUHY, HOUSTON CHRONICLE.

EDP, REN, privatizações? Quais privatizações?! É preciso corrigir a terminologia!

Não há nenhuma privatização parcial da REN a favor da State Grid, mas uma transferência de ativos soberanos de um país para outro — obviamente para pagar antecipadamente dívidas da República Portuguesa à China, com algo que se possa tocar! O Economist deste mês escreveu algo (que ainda não li) sobre esta confusão terminológica oportunista... Na realidade, os grandes credores do Ocidente, cujos cofres estão a abarrotar de conversa fiada e quimeras soberanas cada vez mais ilusórias, decidiram duas coisas muito preocupantes para os EUA e para a Europa:
  1. desfazerem-se paulatinamente dos excessos de reservas em dólares, passando a usar o yuan, o iene, o rublo, e o rial, entre outras moedas nacionais, nas trocas comerciais bilaterais, e
  2. trocarem uma parte do excesso de títulos de dívida soberana, que têm recebido para poderem continuar a exportar, por activos materiais efectivos — nomeadamente através da tomada de posições firmes em empresas estratégicas de recursos energéticos e alimentares, sistemas de transportes, e ouro.  
É a versão suave de uma reversão colonial!

Novo Partido Democrata

Pekka Haavisto, candidato presidencial finlandês, uma grande e agradável surpresa eleitoral

E foram mesmo os dois candidatos europeístas que passaram à segunda volta ;)

Helsínquia, Finlândia, 22 jan (Lusa) - Os candidatos pró-europeus Sauli Niinisto (conservador) e Pekka Haavisto (ecologista) vão defrontar-se na segunda volta das eleições presidenciais na Finlândia, anunciou o ministro da Justiça, após a contagem da totalidade dos votos da eleição de hoje.

Niinisto, o grande favorito do escrutínio, obteve 37 por cento dos votos, enquanto Haavisto alcançou 18,8 por cento. Os candidatos eurocéticos Paavo Vayrynen (centro) e Timo Soimi (nacionalista) foram afastados, com 17,5 por cento e 9,4 por cento dos votos, respetivamente, indicou o ministério. SIC Notícias.

Finlândia/ eleições: para quem a moeda única europeia já era, deve fazer alguma confusão o facto de os partidos que lideraram as intenções de voto na primeira volta das eleições presidenciais finlandesas serem claros defensores do euro!

Não foram só os mercados que leram bem o teatro de operações da guerra financeira movida pelo dólar/libra contra o euro, ao passarem ao lado das mais recentes notações das agências de rating (Standard & Poor's, etc.) Os eleitores também já começaram a perceber o embuste. Em breve começarão a pedir as cabeças... dos banqueiros que trocaram a sua função de credores de boa fé pela de croupiers corruptos e gananciosos do Grande Casino dos Derivados!

“O candidato do Partido Verde e amigável à União Europeia, Pekka Haavist, subiu para o segundo lugar nas últimas semanas, saindo da obscuridade para 13% dos votos na última pesquisa.” Diário do Grande ABC.

Na realidade Pekka Haavisto, o candidato presidencial da Liga Verde, chegou aos 18,8% — o que é um facto notável, sobretudo se for o sinal de uma grande viragem eleitoral na Europa. Também em Portugal precisamos dum Novo Partido Democrata (com um coração verde, claro!), defensor do que resta dos nossos genuínos recursos naturais e humanos — e da decência. O PS não voltará ao poder sem coligar-se com um partido credível, que nem o PCP, nem o Bloco, são ou poderão ser.

Um cenário governativo estável e alternativo à coligação PSD-CDS —que acabará por naufragar sob a evidência das suas fraquezas congénitas— parece-me impossível sem o surgimento dum novo partido, mais próximo de todos aqueles que hoje abominam a demagogia e o populismo oriundos das cansadas dicotomias do século passado.

A corrupção partidária e a submissão canina do PSD e do CDS à burguesia rendeira que tem vindo a chupar o sangue e a seiva de um país que merece melhor sorte acabará por destruir o espírito e a ação do atual governo, abrindo as portas a um novo ciclo eleitoral.

A EDP e as suas barragens criminosas, tal como as PPPs rodoviárias, escolares e hospitalares, já para não mencionar o regresso pé ante pé dos embusteiros da Ota em Alcochete, têm vindo a tomar paulatinamente conta da cabecinha fraca de Passos de Coelho, e da agenda governamental.

Quando será que este governo cairá na lama? No fim da legislatura? Antes mesmo? Tudo irá depender do tempo que Álvaro Santos Pereira aguentar. A sua saída ditará simbolicamente o fim da própria presunção de inocência do senhor Passos de Coelho e do cada vez mais irritante Gasparinho. Depois deste cabo dobrado, a corrida eleitoral recomeçará! Porque pensam que anda Sócrates e a corja que deixou plantada no parlamento tão agitados?

O cada vez mais débil António José Seguro precisará em breve de recorrer a uma Unidade de Cuidados Intensivos (estratégica e táctica). Esperemos que saiba encontrar o conselheiro certo. Mas, como venho insistindo, já não chega. Aquela roseira velha não recupera sem uma grande poda!

E nós, ou seja, os que hesitam entre deixar de votar de vez, e a ténue esperança de uma renovação do jogo democrático, precisamos doutro partido para mudar este estafado rotativismo em que estamos metidos há mais de três décadas e cujo triste balanço é a bancarrota. Já não acontecia há 120 anos!

sexta-feira, janeiro 06, 2012

A morte prematura do euro?

Imagem retirada do sítio The Ignorant Fishermen
2012 poderá ser o ano do Armagedão, e até o ano do fim do mundo, mas não o ano da morte do euro!

O euro permanece “muito forte” e uma queda maior ajudaria as exportações, defendeu o governador do Banco de França, Christian Noyer — in Jornal de Negócios online, 6 jan 2012.

Através da desvalorização deslizante do dólar, Washington procura diminuir o preço da sua descomunal dívida externa, refreando ao mesmo tempo o consumismo interno, uma vez que a parte das importações na economia dos EUA é cada vez mais pesada, a começar no petróleo importado, até quase tudo o que é mercadoria manufaturada: carros, computadores, telemóveis, mobiliário, roupa e calçado, brinquedos, etc.

Esta desvalorização da moeda americana (que é uma moeda de reserva mundial), a par de um política de destruição sem precedentes das taxas de juro interbancárias e do crédito a retalho, principais agentes da própria desvalorização do dólar, visa sobretudo equilibrar a balança comercial americana com a China, Japão e com os seus principais fornecedores de petróleo: Canadá, Arábia Saudita e México.

A desvalorização da moeda americana induziu, por sua vez, uma valorização excessiva do euro, segunda moeda de reserva mundial. E a consequência desta apreciação foi a perda acentuada de competitividade das economias europeias, sobretudo daquelas com menor produtividade tecnológica e menor sofisticação de produtos. Esta apreciação tornou as importações muito competitivas e atraentes, pelo seu baixo preço. O Forex especulativo com as subavaliadas moedas japonesa e americana (yen carry-trade e dollar carry-trade), por sua vez, forçou uma queda progressiva do preço do dinheiro na própria Europa, tornando o acesso ao crédito cada vez mais irresistível, e o trabalho produtivo local cada vez mais caro e desinteressante por comparação com as novas economias financeiras assentes no endividamento barato, na especulação bolsista e sobretudo cambial, e na importação de bens e serviços faturados em moedas sub-avaliadas: iene, yuan e sobretudo a moeda em que são cotadas as principais matérias primas energéticas, minerais e alimentares: o US Dollar.

O endividamento europeu não é apenas, nem sobretudo, público.

O endividamento privado é muito superior, e ambos confluíram para a presente e gravíssima crise de liquidez e de insolvência que aflige pessoas, empresas e governos. Os excessos terão que ser forçosamente corrigidos, assim como, e principalmente, o modelo de crescimento económico baseado na especulação financeira que tudo incha e depois liquida.

Neste contexto, uma desvalorização competitiva do euro, até aos 1,20 dólares, será provavelmente aconselhável, a par de uma revisão sábia do modelo social europeu, e de uma revolução no modo de produção tecnológico em curso, que terá que sofrer uma viragem de 180 graus — do consumismo desmiolado e da produção fictícia, para a sustentabilidade económica efectiva e uma nova cultura de criatividade e partilha social.

O ponto de partida para esta revolução não poderá deixar de corresponder a uma profunda alteração das atuais democracias representativas e seus sistemas de poder. A América caminha perigosamente para uma nova espécie de estado concentracionário, de exceção permanente e de ditadura, cada vez pior disfarçado pelo sofisticado sistema de propaganda desenvolvido desde 1914 (nomeadamente a partir das ideias do duplo sobrinho de Sigmund Freud, Edward Bernays). Não é este o caminho de que precisamos! A Europa tem, também por causa desta degradação cultural americana, uma grande responsabilidade na refundação democrática das sociedades globais e tecnológicas do futuro.

Uma solução militar para a actual crise global seria um desastre completo. No entanto, e infelizmente, é mais provável o fecho do Estreito de Ormuz do que a implosão do euro em 2012.

Por fim, esta previsão não significa que alguns países da zona euro, mais debilitados e prisioneiros de lógicas demo-populistas, consigam evitar um afastamento temporário da Eurolândia. Tal quarentena, porém, onde poderão cair a Grécia e Portugal, não implicará uma expulsão do Sistema Monetário Europeu, e muito menos da União Europeia. Faço figas, no entanto, para que a atual coligação que governa Portugal, e a Oposição, incluindo os sindicatos, percebam a tempo e horas os custos de uma aventura contra a inexorável correção dos nossos próprios desvarios. Isto é: a saída de Portugal do euro!


act.: 7-12-2012 19:09

sábado, dezembro 24, 2011

Um bom ano novo... chinês!

Aos meus pacientes e tolerantes leitores,

perdido neste país bipolar, quase no fundo de uma depressão histórica, de que somos todos responsáveis, uns mais do que outros (claro!), crítico por natureza, sem por isso deixar de ser um optimista avisado, agora na companhia mais próxima dos donos da terra que me viu nascer, Macau, desejo a todos os meus pacientes e tolerantes leitores, como nunca, dentes cerrados para o Ano Novo que aí vem, e uma consoada alegre junto de quem mais amam.

Um Feliz Natal e Um Grande 2012!

quarta-feira, dezembro 14, 2011

Garganta Funda para a EDP?

O estado português não pode ajudar a TAP, a EDP, ou a REN, mas pode vender estas empresas públicas estratégicas a estados comunistas. Que lindo enterro vamos ter!

Três Gargantas, maior barragem do planeta, é o novo ícone, por excelência transmontano, de Durão Barroso, Sócrates, Passos de Coelho, Assunção Esteves, Armando Vara, Edite Estrela e Francisco José Viegas. Coitado do Torga!
Como o Negócios revelou em primeira mão, os chineses da Three Gorges oferecem o preço mais alto (€3,45 por acção, ou quase 2,7 mil milhões de euros pelos 21,4%), seguidos dos brasileiros da Eletrobras e dos alemães da E.ON. (…) As três melhores propostas estão separadas, no entanto, por pouco: cerca de 200 milhões de euros — in Pedro Santos Guerreiro, “O negócio da China”, Negócios online, 12 Dezembro 2011 | 23:30.
A ameaça da UNESCO de retirar ao Douro a classificação de Património Mundial não incomoda Marcelo. Porque será? O professor da TVI boicotou descaradamente, no passado Domingo, a notícia da semana. Porque teria sido? Não é notícia? Claro que é! Terá então MRS algum conflito de interesses, directo ou por interposta pessoa, com a coisa? Se sim, e ao ponto de ter omitido um assunto tão obviamente relevante na sua crónica semanal, esclareça-o, ou deixe de opinar e de dar notas ridículas!

Em plena fase crucial da privatização da EDP, Marcelo, o governo e ainda o patético (in)Seguro do PS, não querem ouvir nada que possa perturbar a venda ao desbarato, e sem cautela estratégica aparente (a qual deveria ser clara e pública), do sobre endividado, mas nem por isso menos estratégico activo do país chamado EDP.

Medina Carreira disse ontem e bem ao Público que:
“O Governo quer ganhar competitividade vendendo a investidores estrangeiros posições que o Estado detém nas grandes empresas monopolistas e onde antecipa arrecadar seis mil milhões de euros“. “O Estado vai perder os rendimentos que essas empresas geram anualmente“ e “daqui a seis meses” Portugal “não terá activos, não terá rendimentos e estará na mesma situação”. Os seis mil milhões, assegura, “não resolvem nenhum problema”. Público, 13-12-2011.

A imagem do que pode suceder em Portugal se o gigante alemão da energia ganhar a corrida ao controlo da EDP foi dada pelo anúncio do despedimento de onze mil dos seus oitenta mil funcionários. Ou seja, para aumentar a escala e a concentração num tempo de escassa liquidez a solução passa, já imaginávamos, por aliviar a carga humana num lado, e aumentar os activos no outro.

Vai a E.ON limpar o passivo da EDP, de mais de 16 mil milhões de euros, retomando o acesso aos mercados para financiamento do mesmo? Quantos empregos tenciona a E.ON efectivamente criar em Portugal? Que prometeu Passos Coelho à E.ON? Prometeu as mensalidades chorudas dos CIEG e as rendas do Baixo Sabor e do Tua? Prometeu uma entrada no Brasil e nos campos eólicos americanos? Que mais prometeu?

Apesar de as perspectivas serem péssimas, tendo a crer que a alienação da EDP é infelizmente inevitável. A dívida é demasiado grande e as perspectivas a curto-médio prazo das renováveis, em matéria de custo e competitividade face às energias convencionais —sobretudo a hidroeléctrica e a de ciclo combinado a gás natural (dadas as recentes descobertas em África)— são menos que sofríveis.

Salvar a EDP do colapso financeiro tornou-se, em suma, assunto para outros campeonatos.

É aqui que entra a China!

A Alemanha, o Brasil e os Estados Unidos não querem a China a entrar nos seus territórios energéticos pela porta do cavalo lusitano. Espero bem que tenham explicado bem este melindre ao Gasparinho e aos nossos ansiosos sábios.

Por outro lado, dar a EDP à China seria o mesmo que entregar o domínio de uma empresa portuguesa privada com capitais públicos a uma empresa 100% pública do Estado Chinês — China Three Gorges Corporation (“a wholly state-owned enterprise”). Que é feito da legislação europeia sobre a liberalização das "utilities"? O Estado Português não pode ajudar a TAP, etc., mas o Estado Chinês pode comprar a EDP, a REN, a ANA e a TAP. Se for assim, é caso para repetir: pobre Europa!

Eu até defendo a entrada da China em Portugal, de preferência no negócio portuário e na indústria naval, mas sempre com conta, peso e medida. Nunca permitindo que um estado, ainda por cima extra-comunitário, tome conta dum sector estratégico mal liberalizado, só porque temos um ministro com uma grande carreira de tecnocrata pela frente. A insanidade da perspectiva é por demais escandalosa e configura problemas de soberania evidentes. Imaginem que o Alberto João deixa de pagar as facturas da iluminação pública do Funchal (se é que alguma vez pagou) —que aconteceria?

Nasci em Macau, e as boas peças de arte chinesa que possuo foram ganhas pelo meu pai numa noite de sorte em casas de jogo macaenses. À época, estamos a falar do princípio dos anos 1950, em frente à rua onde se situavam as casas de jogo, cresciam como cogumelos casas de penhores. Os que perdiam tudo na vertigem da especulação, acabavam vendendo o que tinham e o que não tinham, às vezes só pelo preço do bilhete do barco de regresso a Hong Kong. O valor das coisas passa, quando menos se espera, de zero a infinito e vice-versa. Quem perder esta realidade antiga de vista não se poderá depois queixar!

POST SCRIPTUM
24-12-2011 — Tenho andado a monte por este país bipolar, desligado da rede e dos média em geral, numa espécie de sauna das ideias! Soube ontem que a EDP sempre foi parar à China, como de algum modo intuí neste artigo. Preferia que a China se ficasse pelos portos e por duas plataformas logísticas, uma a norte, que já está em formação, perto de Vila do Conde e outra em Sines. Mas o dinheiro está onde está, e é tempo de a China se abrir ao Mundo. Bem-vinda!

PS: Caros administradores das três Gargantas, não se esqueçam de despedir o senhor António Mexia tão depressa quanto possível, pois este cabotino foi o irresponsável pela maior dívida privada do país, tendo entregado uma empresa outrora pública (como a vossa é) valendo hoje em bolsa substancialmente menos do que valia quando para lá entrou!