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sábado, fevereiro 12, 2011

Passos de coelho

Direcção do PSD tem trinta dias para mostrar o que vale

Se Passos Coelho deixar passar esta oportunidade de avançar para eleições antecipadas, perderá credibilidade e será visto como um líder medroso e oportunista, deixando o campo totalmente livre a Cavaco Silva.

Cavaco odeia Passos Coelho, e portanto aproveitará a sua hesitação e medo para o pendurar numa corda de seca até que caia de podre num próximo congresso extraordinário — quando o governo, seja ele qual for, caminhar para uma diminuição do número de freguesias urbanas e de municípios, e proceder à venda de algumas empresas públicas falidas, após liquidar os respectivos passivos (suponho).

Se a actual direcção do PSD hesitar, como parece que vai suceder, e ficar encalhada no apoio a José Sócrates, como se a responsabilidade democrática não estivesse, precisamente, na urgência da remoção deste desastroso governo e do mitómano que o conduz, teremos crise laranja até ao fim deste ano.

O senhor que se segue, Paulo Rangel, poderá então ser chamado a Lisboa, por aliados vários, entre eles o senhor Cavaco Silva e a sua interminável comissão de honra presidencial. Depois, é só esperar pelo adensar da balbúrdia "socialista", com a nova banda trotskista acoplada, para que Cavaco Silva tenha a esperada e inequívoca oportunidade de despedir o Mubarak das Beiras, convocar eleições gerais antecipadas, e colocar um PSD amigo no Executivo.

Um presidente, uma maioria e um governo estarão enfim no poder, com duas legislaturas limpas pela frente, e sem grande resistência.

O IVA manter-se-à alto (podendo até subir para 24 ou mesmo 25%); o IRC e o IRS baixarão. O princípio do utilizador-pagador será estendido, da energia, autoestradas e transportes públicos, aos cuidados de saúde e à educação, ou seja, todos pagarão um pouco menos, e os beneficiários dos serviços pagarão um pouco mais — lógico e sustentável!

A administração pública verá desaparecer algumas centenas de direcções-gerais, institutos e fundações, e uma parte do ensino superior público será entregue, de facto, às iniciativas privada e cooperativa, com a passagem instantânea de 10-15% dos funcionários públicos efectivos para um novo quadro de excedentes, onde os vencimentos sofrerão uma erosão paulatina ao longo dos anos... Algumas dezenas de milhar de contratações eventuais e precárias caducarão com a extinção dos organismos.

Por fim, espera-se que o futuro governo, que terá que ser uma coligação com o CDS, a fim de poder contar uma ampla maioria absoluta parlamentar, leve finalmente a cabo uma racionalização competente do aparelho de Estado e uma libertação efectiva da sociedade civil da canga paternalista que há séculos rege as relações entre o poder e a sociedade cortesã, analfabeta e corrupta, que desde a conquista de Ceuta se habituou a viver de expedientes palacianos, da exploração colonial fácil e da emigração.

Se depois do saque realizado pela tríade de Macau e pelos piratas da SLN/BPN, e se depois da fuga em frente da governação socratina, o que vier depois (e não creio que possa vir nada de bom do inseguro e medroso Passos de Coelho, nem muito menos da cabotina e irritante criatura que dá pelo nome de Miguel Relvas) não cumprir o que o país espera do poder —transparência, pragmatismo, eficácia, lucidez, ponderação, estratégia, liberdade de acção, e justiça— então o regime cairá mesmo numa espiral convulsa de desfecho incerto.

quinta-feira, março 24, 2011

Energia pirata

...quanto mais exportamos para Espanha, mais o consumidor português paga!” — Mira Amaral

“O INE mostra-nos que de Janeiro a Outubro de 2010, comparado com o período homólogo de 2009, houve um aumento de importações de combustíveis de 1 400 milhões de euros. As renováveis da moda não nos reduzem a dependência aflitiva do petróleo e vamos continuar a importar carvão e gás natural pois continuaremos a precisar das centrais térmicas quando não há sol ou vento! Até Novembro de 2010 houve 15,556 GWh de produção termoeléctrica contra 22,009 GWh no período homólogo de 2009, o que significará então, devido às renováveis, uma poupança de importação apenas de cerca de 174 milhões de euros em gás natural e carvão o que contrasta com um sobrecusto da Produção em Regime Especial bem superior! (...)
Em suma, com esta política centrada nas renováveis da moda, geraram-se terríveis sobrecustos para a economia e a dependência do petróleo mantém-se intacta!

Quando é que entraremos no realismo energético? Quando é que abandonaremos a mera propaganda política e começaremos a tratar da energia seriamente? Quando é que perceberemos que a eólica e a fotovoltaica só conseguem representar cerca de 3% do consumo total de energia primária? Quando é que perceberemos que discutir a Política Energética não se pode confundir com o apoio às renováveis da moda, com custos demasiados elevados para um País pobre como o nosso?” — in “Petróleo, renováveis e sobrecustos”, Luís Mira Amaral, Jornal de Negócios.

Este excelente artigo de Mira Amaral (vale a pena ler os detalhes do mecanismo perverso da formação dos preços da energia no nosso país) mostra claramente o gene que ao longo das últimas três décadas se infiltrou na estrutura económica, financeira e de poder em Portugal, transformando-o, de facto, numa democracia capturada por piratas. Admira-me muito que Mário Soares e Jorge Sampaio só agora tenham acordado deste pesadelo.

O problema que temos pela frente é, pois, gigantesco. Trata-se de corrigir um país onde tradicionalmente abundam a corrupção e a pequena corrupção, cujo sistema de poder traduz uma simbiose oportunista e familiar entre clientelas económico-financeiras, corporativas e partidárias, e que infelizmente se habituou a viver, desde 1415, de rendas coloniais, de monopólios e da emigração.

Como escrevi várias vezes, estamos no fim dum ciclo de 600 anos. E a razão deste colapso histórico é só um: as árvores das patacas já não nos pertencem.

Conclusão: o regime entrou num buraco negro de sobre endividamento de onde não sairá tão cedo, o qual induzirá inevitavelmente uma revolução social. A gente lúcida e honesta deste país (imagino que um punhado de pessoas) deve abdicar dos seus pergaminhos familiares, profissionais e partidários, juntar-se para conversar, e preparar o país para uma insurreição constitucional, da qual resulte uma nova assembleia constituinte e uma nova constituição: simples, justa, transparente e firme.

Portugal é uma língua de areia estreita com um grande e decisivo mar pela frente. Mais de 20% da sua população emigrou de 1960 para cá. Não tem como pagar o seu actual sobre endividamento — qualquer coisa como quinhentas pontes Vasco da Gama, quando só produz 170 pontes por ano, e apenas tem no banco 140. Que fazer? A nova centralidade do Atlântico Norte e Sul, bem como a crise das ditaduras do norte de África, são duas oportunidades que se avizinham a passos largos. Mas aproveitar o novo T deitado da geoestratégia da Europa Ocidental implica mudar Portugal de alto a baixo.

sábado, janeiro 22, 2022

A súbita impossibilidade da Geringonça

A Russian tank T-72B3 fires as troops take part in drills at the Kadamovskiy firing range
in the Rostov region in southern Russia, on Jan. 12, 2022. (AP Photo)

Uma nova guerra mundial na Europa?

O que é que Joe Biden, Nancy Pelosi, Kamala Harris, Alexandria Octavio-Cortez, Olaf Scholz, Annalena Baerbock, Marie-Agnes Strack-Zimmermann e Justin Trudeau têm em comum? A resposta é simples: são todos democratas, verdes e liberais progressistas. Por outro lado, estão todos dispostos a antecipar uma guerra contra a Rússia, por causa da Ucrânia ou doutro motivo qualquer,  mas também contra a China, ou seja, a defenderem a predominância do imperialismo atlântico e europeu sobre o despotismo russo e chinês antes que seja tarde! Se não é isto, assim parece.

Este realinhamento de forças e de retórica progressista envolve também os dirigentes conservador inglês Boris Johson e liberal de centro-direita Scott Morrison. Ou seja, uma coligação de ideias e de forças onde não cabe, de jeito nenhum, a geringonça engendrada pelos senhores Jerónimo de Sousa, António Costa e Francisco Louçã. Estes últimos pintaram o demónio Trump de todas as cores, mas afinal quem os lixou mesmo foram os belicistas do Partido Democrático dos Estados Unidos, os social-democratas, os verdes e os liberais alemães, e ainda os conservadores ingleses e o partido de centro-direita australiano.

Se as causas internas da implosão da Geringonça (sobre-endividamento, emigração em massa, descapitalização do estado e das empresas, alienação das empresas estratégicas, nomeadamente nos setores da energia, banca, portos e aeroportos, águas e saneamento, corrupção, e ainda o esgotamento das máfias partidáris que controlam o país há quarenta anos) são já de si suficientes para assustar quem quer que pretenda herdar tamanha falência desordenada, a rápida deterioração da globalização e da diplomacia mundial, na sequência da crise provocada, primeiro, pelo furacão Trump, e logo depois, pela pandemia, e que levou a uma recomposição de velhas alianças históricas, impõe claramente uma mudança de regime no nosso país. Quer dizer, o fim de uma esquerda toda poderosa mas incapaz, perdida no tempo e na taxonomia, em suma, que nunca percebeu a importância crucial da geografia e da história na condução da Política.

António Costa bem gostaria de fazer a pedratura do círculo, mas tal geometria é, por definição, impossível. Poderá, no entanto, como um qualquer náufrago agarrar-se à primeira tábua de salvação que encontre. Se perder as eleições do dia 30 terá a mesma saída de muitos outros políticos da nossa praça: a de comentador de televisão, provavelmente mal pago. Se ganhar as eleições, mas sem maioria, Rui Rio e a IL serão as suas únicas possíveis bóias para conseguir manter o PS no governo. Uma nova geringonça de esquerda, isto é, frente populista, está fora do horizonte e sobretudo das margens de tolerância de Joe Biden, de Olaf Scholz e da NATO. Capiche? 

domingo, novembro 24, 2013

Repovoamento ou morte

A crise não é para velhos?

O problema não é constitucional

“Portugal tem actualmente 26,6% da população [cerca de 2,8 milhões de pessoas] com mais de 65 anos, mas até 2050 esse valor deverá ultrapassar os 40% (...).” UNFPA/Sol, 1/10/2013.

Nada poderá salvar o nosso 'estado social' se perdermos quase 300 mil pessoas em vinte anos (2010-2030), se a população decair quase 37% entre 2011 e 2100 (ver tabela da ONU publicada pelo The Guardian), ou ainda se a emigração continuar ao ritmo a que tem vindo a crescer desde 1983. É preciso ter a consciência de que esta é a primeira vez na nossa história que a população deixa de crescer e atinge aparentemente um pico demográfico. Portugal, segundo a previsão da ONU terá apenas 10,3 milhões de pessoas em 2030, contra os 10.562.178 apurados no Censos 2011, e os 6.754.000 previstos para 2100, ou seja, perderá mais de 3,8 milhões de residentes nos próximos 89 anos. Basta atentar no facto de a EDP ter garantido rendas excessivas do Estado português até 2085 (ler Os Piratas da Energia), para percebermos as consequências e a inevitabilidade da rejeição frontal dos contratos criminosos assinados por José Sócrates. Quanto ao famoso 'estado social', das duas uma, ou repovoamos o país, ou a sua morte é inevitável, e nada nem ninguém poderá evitar tão triste fado.

Previsão da ONU
Sem percebermos o que vai ser dos fundos de pensões, privados e públicos, em Portugal, nenhuma estratégia de mitigação da crise sistémica em curso, nem nenhuma política de desenvolvimento, poderá ser desenhada e discutida democraticamente, e sobretudo de maneira consequente.

O terrorismo fiscal, aumentar a idade da reforma, cortar nas pensões, ou aumentar o salário mínimo nacional garantindo com tal imposição mais desemprego e maior destruição do tecido empresarial, são falsas soluções para um problema com a dimensão descrita. Eu só vejo duas vias possíveis: deixar morrer rapidamente os velhos e mais fascismo fiscal (que repudio como políticas criminosas), ou lançar um programa de repovoamento de aldeias, vilas, pequenas e médias cidades, com recurso a um programa de imigração orientada, acompanhado de uma redução clara e racional das burocracias.

Tendo em conta que a média de vida dos portugueses em 2011 era de 80 anos, boa parte dos baby-boomers (nascidos entre 1945 e 1964), em 2030, já terão desaparecido. O problema, porém, persiste, na medida em que dos 10,3 milhões de residentes que se estima virem a existir em 2030, três milhões terão mais de 65 anos — ou seja, mais 200 mil reformados e menos 300 mil residentes!

Em 2011 por cada 100 pessoas em idade activa, existiam 52 dependentes. E em 2030, como será?

Este é o lado puramente demográfico do problema. Mas há outro igualmente terrível, que um artigo publicado no Zero Hedge —“Why Your Pension Fund Is Doomed In Five Easy Charts”— explicita para o caso americano, mas que entre nós só poderá ser mais aflitivo: enquanto as responsabilidades dos fundos de pensões crescem a bom ritmo, os rendimentos das aplicações financeiras, do capital e sobretudo do trabalho diminuem.

Zero Hedge: um gráfico sobre o fim do Welfare State.

Bridgewater's Ray Dalio: “The reason why public and all other pension funds are the least discussed aspect of modern finance, is that while Bernanke has done his best to plug the hole in the asset side of the ledger resulting from poor asset returns, it is nowhere near sufficient since the liabilities have been compounding throughout the financial crisis since the two grow independently. Which means that anyone who does the analysis sees a very disturbing picture.

Indeed, while the asset side can and has suffered massively as a result of the great financial crisis, the liabilities are compounding on a base that has grown steadily. As Dalio notes, each year a growing percentage of assets are paid out in the form of distributions, leaving less assets to compound at a given return.”

Há adaptações importantes a fazer no sistema de pensões, sobretudo no plano da equidade e da limitação das responsabilidades públicas com pensões — criando limites inferiores e superiores para as mesmas (por exemplo, indexando as pensões mínimas a 80% do salário mínimo, e as pensões mais altas a 500% do mesmo salário), mantendo a idade da reforma nos 65 anos, mas permitindo a subida voluntária da mesma até aos 70 anos, favorecendo a mobilidade funcional dos trabalhadores em função da idade, etc.

É fundamental retirar este debate público do maniqueísmo partidário e sindical que tem vindo a contaminar todas as discussões sérias que o tema merece.

POST SCRIPTUM — Algumas ideias para um futuro programa de repovoamento do país:
  1. Subsídio de família, pelo período de 2 anos, para os primeiros dois filhos de cada agregado familiar, equivalente ao salário mínimo nacional.
  2. Definir uma faixa de neutralidade fiscal, energética e de telecomunicações, de 20 a 40 Km, ao longo de toda a fronteira com Espanha, por forma a que os custos de interioridade não sejam agravados pela competitividade fiscal, energética e de telecomunicações do país vizinho.
  3. Definir quotas de imigração por país de origem, idade, origem social e competência profissional, criando simultaneamente condições duradouros favoráveis à fixação de jovens famílias de agricultores, apicultores, artesãos e tecnólogos (esta medida seria suportada por uma bolsa de terrenos florestais, agrícolas e propriedades urbanas na posse do Estado e/ou não reclamadas pelos seus putativos proprietários, concedidas por períodos de 90 anos às famílias de imigrantes).
  4. Implementação de regimes fiscais preferenciais aos municípios com mais de 10 mil e menos de 30 mil habitantes por forma a estimular a agregação dos municípios mais pequenos e o dinamismo dos concelhos medianos (ver lista de município por população).
  5. Acabar com os regimes fiscais ilusórios dirigidos aos investidores de rapina e denunciar, investigar e punir os políticos corruptos envolvidos nesta negociata de espoliação.
  6. Gratuitidade absoluta para o ensino pré-primário e secundário através de transferências dos orçamentos públicos ponderadas de acordo com os custos reais e locais de cada unidade escolar pública, privada ou associativa.
  7. Liberalização dos sistemas de ensino profissional e superior, com o fim da interferência do Estado neste setor. Os bons alunos que demonstrem não ter meios económicos para prosseguir a sua formação terão direito a bolsas de estudo e liberdade total de escolha do estabelecimento de ensino, em qualquer parte da União Europeia.

quinta-feira, janeiro 20, 2011

Estado e liberdade

Alemanha, um exemplo a seguir...

Francisco de Goya - "Saturno devorando a un hijo", 1819-1823.

 Os países emergentes não são neoliberais, e os países governados por elites neoliberais são, aparentemente, responsáveis pela decadência do Ocidente, pela maior crise financeira desde 1929, e por uma vaga de destruição de riqueza (de empresas e de empregos) sem precedentes.

Esta é uma constatação a que não se consegue escapar. O mundo anglo-saxónico do dólar e da libra procuram resolver a actual crise financeira mundial insistindo estupidamente no abuso das práticas especulativas (Subprime; mais recentemente, a tentativa de criar um mercado mundial especulativo de emissões de carbono, etc.) e inflacionistas (Quantitative Easing; desvalorização competitiva das taxas de juro dos bancos centrais —Japão, EUA, UE; emissão imoderada de dívida pública; criação de moeda sob a forma de activos ficcionais, i.e. dívida pública, etc.) A Alemanha de centro-direita, pelo contrário, insiste na necessidade inadiável de impor uma maior disciplina orçamental aos governos e suas clientelas, e uma maior racionalidade nos negócios, insistindo também na necessidade de manter e potenciar elevados níveis de criação e produção efectiva de bens transaccionáveis, renovando as indústrias, com melhores tecnologias, mas também mais eficientes métodos de gestão e partilha social dos benefícios da produtividade e da competitividade. São duas visões que, curiosamente, continuam por debater — nos adequados termos que suscitam e merecem.

As duas citações que se seguem são bem sintomáticas do universo traçado por Christoph Schwennicke no excelente artigo publicado pelo Spiegel online. Que grande parte das pressões neoliberais na Alemanha tenha sido fruto, entretanto apodrecido, do SPD de Gerhard Schröder, é toda uma ironia política que o senhor Manuel Alegre, mas sobretudo quem no PS estuda a possibilidade de suceder a José Sócrates, deveriam estudar a fundo. Pois desse estudo poderá nascer um programa eleitoral que faça sentido e possa realmente prometer futuro a Portugal.

Tomás Correia: suspende pagamento
O Montepio (...) cessou as modalidade de reforma com juros de 4 a 6% por causa da crise e do aumento da esperança de vida. Já registava prejuízo de 30 milhões. — Correio da Manhã, 2011-01-19.

Central Bank steps up its cash support to Irish banks financed by institution printing own money

The Irish Independent learnt last night that the Central Bank of Ireland is financing €51bn of an emergency loan programme by printing its own money.
(…)
However, the figures also provide the latest evidence that responsibility for funding Ireland's broken banks is being pushed increasingly back on to Irish taxpayers. The loans are recorded by the Irish Central Bank under the heading "other assets". — Independent 2011-01-15.
 Germany and Europe Must Defy Political Trends
A commentary by Christoph Schwennicke

Germany's economy is in good shape because it resisted the fashion of neoliberalism. Europe should show the same defiance in the face of self-serving predictions that the euro is doomed. The financial and debt crises have highlighted the need for strong governments -- and for more Europe, not less.

(…)

The term "capital cover" was misleading in three ways. First, it covered up the fact that contributors must contribute fresh money of their own. Second, there was the risk inherent in the capital market. Finally, there was the question of who consistently benefits from this new system.

The risks have since caught up with the new system and, in the course of the financial crisis, brought down its apologists along with the economy. Hans Martin Bury, after serving as Schröder's right-hand man at the Chancellery, worked as an investment banker at Lehman Brothers, the firm whose bankruptcy triggered the financial crisis. Private health insurance companies face precisely the same problems -- obsolescence and financial difficulties -- as their competitors in the statutory health insurance system because, on the one hand, their hand-picked, young, healthy and dynamic clientele has become older and more susceptible to illness and, on the other hand, the return on their reserves is stagnating.

(…)
The Right Investment

The lesson to be drawn from the current experience should be not less Europe, but more Europe, a more integrated Europe, with weatherproof institutions like a European monetary fund, a common economic and social policy and -- if need be -- common bonds. Europe has more to offer and more to lose than just a common currency. It is more than a large trading zone. Continental Europe is a cultural zone with the world's most exemplary political value system. Anyone who attacks it or derides it is pursuing an interest, one that is economic or hegemonic. We should be aware of this. Even if Germany always supposedly pays more than everyone else, it's the right investment. — SPIEGEL online, 2011-01-18.
O nosso regime está no fim de um longuíssimo ciclo histórico. Um ciclo de seiscentos anos! Desde 1415, ano que levou Portugal a Ceuta, e daí a uma expansão marítima colonial sem precedentes, que duraria até à devolução de Macau à China, em 1999, vivemos uma situação privilegiada, apesar dos muitos que nunca lucraram nada com isso. Para esta reflexão, porém, importa reter um facto: o Estado foi sempre o centro do nosso universo económico e cultural. Todos dependemos dele até ao momento em que as suas inúmeras tetas coloniais secaram. À medida que foram secando, fomos caindo aos trambolhões, do Brasil para uma guerra civil e mais endividamento; do Mapa Cor-de-rosa para a ditadura de João Franco, o regicídio e a balbúrdia republicana que nos conduziria às ditaduras de Sidónio Pais e de Salazar; do 25 de Abril, aos solavancos de um regime cuja bancarrota só não foi ainda declarada porque a União Europeia nos tem posto a mão por baixo. As três últimas grandes tetas —emigração, turismo e fundos comunitários— estão em fim de ciclo, e vão provavelmente mirrar de vez até 2015. E depois de 2015, como vai ser? Ou melhor, e agora, que será feito de nós? O Estado? Qual Estado? Que novo Estado vamos querer e poder? O Estado alemão, que nunca foi outra coisa que não um think tank estratégico; ou o Estado português, tradicionalmente cabotino, arrogante, manhoso, preguiçoso, pejado de clientelas e carraças orçamentais, autoritário com os fracos e corrupto com os ricos e poderosos, em suma, faustoso, paquiderme, ignorante e cobarde? Só de ouvir o Pinóquio arranhar o seu inglês de fax, todo o meu patriotismo vacila!

Vamos precisar de Estado, dum Estado. Mas qual? Esta é a discussão de que dependerá a nossa continuidade histórica, ou o nosso desaparecimento (sim, as nações e os países aparecem e desaparecem.) Não percamos, pois, mais tempo com a tragicomédia mediática que entra pelas nossas casas dentro à hora de jantar!

quinta-feira, março 27, 2014

Turismo agradece às Low Cost

A TAP que todos pagamos perde mercado dia a dia.

Turismo cresce, mas não graças aos burocratas e rendeiros indígenas!

Se a TAP não fosse uma 'mala diplomática', há muito que teria sido reestruturada, e teríamos hoje uma TAP Europa, low cost, focada no espaço da União Europeia, norte de África e Médio Oriente.

Crescimento da ocupação hoteleira em Lisboa vai ser o maior da Europa em 2015

Em 2014, Lisboa fica-se pelo terceiro lugar na taxa de crescimento da ocupação hoteleira, sendo ultrapassada por cidades como Edimburgo e Milão

A capital portuguesa vai ter um crescimento de 2,7% na ocupação hoteleira no próximo ano, sendo a cidade europeia com um acréscimo mais visível, revela um estudo da PricewaterhouseCoopers (PwC) apresentado hoje em Lisboa.

Susana Benjamim, uma das autoras da investigação, explicou à agência Lusa que “as novas rotas aéreas de Lisboa para cidades europeias, nomeadamente da easyJet, Ryanair e TAP, conjugadas com toda a visibilidade” do turismo nacional, estão por detrás deste aumento. i online

A prolongada crise no norte de África e Médio Oriente, a queda dos preços e dos salários em Portugal, o efeito das companhias de aviação low cost, e a alteração da lei do arrendamento, tudo junto, trouxeram um boom de turismo a Portugal, com especial destaque para as cidades servidas por serviços aéreos low cost (Lisboa e Porto). Não fora isto, a par do aumento das exportações e das remessas dos portugueses forçados a emigrar, e a nossa tragédia teria sido bem pior. Esta mitigação objetiva da crise mantém, curiosamente, o inútil PS longe de um regresso apressado ao poder.

As low cost, a par do Skype, dois exemplos de adaptação tecnológica e de gestão à crise de recursos, aproximam os portugueses que emigram, ou simplesmente alargam o seu espaço de atividade, como nunca ocorreu na nossa longa história de emigração.

As low cost, mas também o modernizado aeroporto Sá Carneiro, ao qual falta, ainda, instalar instrumentos de apoio à aproximação mais segura das aeronaves e um taxiway decente (atenção Vinci aos capatazes locais), aproximam os negócios e melhoraram francamente a internacionalização da economia nacional.

Basta ver o dinamismo renovado do Porto-Norte desde que os seus empresários viajam semanalmente para Milão, Bruxelas, Londres, Paris, etc., sem depender duma morosa viagem até Lisboa, e sem a travagem devorista e rendeira da TAP e outras empresas do regime corrupto e falido que temos (CP, etc...)

A não reestruturação atempada da TAP e a demora criminosa da sua privatização, total ou parcial, são duas ocorrências politicamente determinadas por um regime corrupto que tem que ser mudado rapidamente. Ao contrário do que dizem os caricatos propagandistas de serviço da TAP, a empresa tem vindo a perder competitividade dia a dia, tem uma frota envelhecida, está sobre endividada, e sobrevive à custa de transferências orçamentais por baixo da mesa, a que Bruxelas, e sobretudo a Alemanha tem fechado os olhos, até ao dia em que decidirem aplicar um golpe de coelho a esta 'mala diplomática' com asas.

REFERÊNCIAS
  • Vueling liga Porto a Barcelona, Bruxelas e Paris a partir de Abril - 26/03/2014, 11:44 | Jornal de Negócios 
  • Low cost da Air Canada chega a Lisboa a partir de Junho [de 2014] - 29/01/2014, 19:13 | Público
ÚLTIMA ATUALIZAÇÃO: 27/3/2014, 11:48 WET

sexta-feira, novembro 02, 2012

As 6 medidas do Bloco

Jesus expulsando os vendilhões no templo.
Vitral na Igreja de Saint-Aignan de Chartres, Chartres, França.

Falta expulsar os vendilhões!

“By the year 1100, the hunger for specie was so great that the canons of Pistoia’s St. Zeno Cathedral melted down their great crucifix and used it for money. German princes sold their imperial seals. English nobles exchanged their silver sword mounts, and French bishops converted their golden chalices into cash. The theologian Fulbert of Chartres justified these practices with the casuistry that it was better to sell sacred vessels to Christians than to pawn them into the hands of jews.”

in The Great Wave by David Hackett Fischer, 1996.

Curiosamente, as seis medidas de emergência que o Bloco de Esquerda propõe para responder à crise das finanças públicas do país fazem sentido.

Que pena os dirigentes deste pequeno partido com assento parlamentar ofuscarem as suas ideias com tanta verborreia esquerdista serôdia. Provavelmente a medida proposta e que parece mais difícil de executar acabará, de uma forma ou doutra, por ser tomada pelo próprio BCE e pela Alemanha: o famoso corte de cabelo (haircut) nas dívidas soberanas e uma reestruturação global da dívida pública europeia.

Curiosamente, faltam no plano do Bloco duas medidas igualmente decisivas: o ajustamento da administração pública e do aparelho de estado à capacidade de criação de riqueza efetiva do país (vivemos de heranças e subsídios desde que a ditadura caiu), e o desmantelamento dos monopólios financeiros, industriais e de serviços, propriedades de meia dúzia de famílias e piratas partidários.

Nota: o regresso do imposto sobre heranças deve ser progressivo, aplicando taxas residuais às pequenas heranças, e a receita deste imposto deve ser alocada expressamente à despesa pública com a educação, da infância até ao fim do ensino secundário obrigatório. Nesta fase da vida todo o apoio, educação e instrução deverão ser assegurados pelo Estado e passar a ser integralmente gratuitos — incluindo acabar com o escandaloso negócio dos manuais escolares! O objetivo desta medida solidária e estratégica é contribuir para travar uma excessiva depressão demográfica ao longo deste século. Sem mitigar esta já inevitável depressão, o empobrecimento geral será ainda mais acentuado.


ANEXO (texto do BE)
“Em 2012, a dívida pública já aumentou 13,4 mil milhões e, só em Julho e em Agosto, cresceu 700 milhões. No final de 2012, esta dívida será mais do dobro do que era há oito anos. Em 2013, aumentará mais 12 mil milhões. Portugal está a empobrecer, a perder emprego e a promover a emigração, para ficar sempre mais endividado. Responder a esta falência anunciada é a maior tarefa da democracia. 
Este programa orçamental do Bloco de Esquerda determina:

1) A recusa do aumento do IRS no OE 2013, demonstrando que o défice pode ser corrigido com um conjunto de reformas fiscais no IRS (englobamento de todos os rendimentos), no IMI (progressividade com quatro escalões e fim de isenções), no IRC (progressividade por via de 3 novos escalões), um imposto sobre grandes fortunas (IGF), a reposição do imposto sobre heranças e ainda uma taxa marginal sobre transações financeiras. A receita estimada destas reformas é, em 2013, de 3.450 milhões, que deve ser usada para reduzir o défice.

2) A renegociação da dívida externa, de modo a que os juros pagos sejam reduzidos para 0,75% e o capital seja abatido em 50%. Os juros pagos em Obrigações e Bilhetes do Tesouro devem passar a pagar imposto, terminando a isenção a não-residentes e ao sistema financeiro. A poupança e o aumento de receita neste contexto é, nos próximos dois anos, de 9.405 milhões anuais, ou cerca de 5% do PIB, que devem ser utilizados para um choque de investimento.

3) A aplicação das receitas suplementares do novo regime do IMI em programas de investimento local com criação de emprego, com um gasto de 500 milhões.

4) A reintegração dos hospitais PPP na gestão pública e o resgate financeiro das PPP rodoviárias, garantindo a auditoria aos contratos estabelecidos e permitindo aliviar o esforço orçamental anual em cerca de 1.000 milhões no imediato.

5) A proteção do sistema de segurança social garantindo uma cobrança dos encargos sociais com os trabalhadores despedidos pelas empresas que se deslocalizam e outras medidas de financiamento.

6) Uma medida excecional de proteção das famílias desempregadas contra as penhoras por dívidas ao IMI e à banca, e ainda o tabelamento dos juros do crédito ao consumo para evitar a falência de famílias.” (LINK)

sábado, abril 12, 2014

Cavaco passa testemunho a Barroso

Foto: Nuno Ferreira Santos. Público, 11-03-2013

Nem Bloco Central Alargado (até ao PS), nem Frente Popular

Sondagem dá liderança mais destacada ao PS
Negócios, 11 Abril 2014, 13:40

A última sondagem da Eurosondagem registou uma completa inversão nas tendências registadas por esta empresa nos inquéritos de Março. PS e BE sobem enquanto o PSD, o CDS e a CDU caem em Abril depois de terem verificado subidas no mês anterior.

Se as eleições legislativas fossem hoje o Partido Socialista seria vencedor com mais votos do que os actuais partidos que compõem a coligação de Governo. Na última sondagem da Eurosondagem para a SIC e o “Expresso” o PS sobe 0,7 pontos percentuais para 37,3% das intenções de voto.
A nossa democracia é um sistema partidário viciado. Como disse o Freitas, neste momento, só uma improvável aliança entre o PS, PCP e BE poderia alterar dramaticamente a situação e o regime. O problema desta ideia lunática é que para a dita Frente Popular poder marchar teríamos que estar à beira de uma convulsão social, o que ainda não é o caso. Enquanto houver dinheiro para o rendimento mínimo e para financiar o desemprego e as pensões mínimas de reforma, enquanto a válvula da emigração continuar a funcionar, e enquanto houver turismo e exportações em alta, o regime não cai, e portanto mantém-se o que é: uma democracia populista irresponsável, que não percebe que o estado paquidérmico e corrupto que temos é o nosso maior inimigo, e uma cleptocracia de colarinho branco.

O Tó Zé é o que é: um zero à esquerda!

Por outro lado, se houvesse uma nova Frente Popular, o PS seria comido vivo em menos de uma legislatura. Por fim, as tensões na Ucrânia favorecem o protagonismo da Aliança Atlântica, e por esta via, Cavaco Silva e Durão Barroso. Daí a luta desesperada de Mário Soares para levantar as hostes 'socialistas'!

“Posso testemunhar a atenção que Durão Barroso sempre prestou aos problemas do país”, agradece Cavaco Silva

“Posso testemunhar, como poucos, a atenção que o doutor Durão Barroso sempre prestou aos problemas do país e a valiosa contribuição que deu para encontrar soluções, minorar custos, facilitar apoios e abrir oportunidades de desenvolvimento”, disse na tarde desta sexta-feira o Presidente na República na abertura da conferência Portugal: Rumo ao Crescimento e Emprego. Fundos e Programas Europeus: solidariedade ao serviço da economia portuguesa, que está a decorrer na Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa.

Daí que, quase a terminar o seu discurso de quatro páginas, Aníbal Cavaco Silva tenha sido ainda mais claro: “Portugal e os Portugueses, tal como os outros Estados-Membros, muito lhe devem.”

Público, 11/04/2014 - 17:25

segunda-feira, fevereiro 12, 2007

Portugal e o aborto 3

SIM!

Dos 8.832.628 eleitores inscritos votaram 3.851.613, i.e. 43.61%.

A legislação portuguesa obriga, estupidamente, a que 50% dos inscritos votem para que um referendo seja vinculativo. Imagine-se o que sucederia à nossa democracia se o mesmo critério fosse aplicado às eleições legislativas e presidenciais! Assim sendo, no caso do referendo de hoje, sobre o aborto até às 10 semanas, a primeira conclusão que se pode tirar é que o mesmo não é juridicamente vinculativo. Esta conclusão merece contudo ser analisada mais de perto.

Sabendo-se que há uma "abstenção técnica" na ordem dos 5 a 7 pontos percentuais, oriunda de erros nos cadernos eleitorais (eleitores falecidos e sobretudo importantes fluxos emigratórios recentes não reflectidos no cômputo nacional de eleitores), fica no ar a dúvida se na realidade não votaram mesmo 50% dos eleitores reais do país.

O "SIM" obteve 59.25% dos votos validamente expressos.
Esta vantagem de 18.5 pontos percentuais sobre o "NÃO", permite chegar a uma conclusão relevante: mesmo que todos os votos que faltam para atingir a meta jurídica dos 50% (mais um...) fossem votos do "NÃO", i.e. 6.39%, a "SIM" continuaria a sair largamente vencedor, tendo neste caso uma vantagem de 12.11%.

A validade política deste referendo alinha Portugal com a maioria europeia.
A verdade material dos resultados não pode, pelas razões acima aduzidas, oferecer grandes dúvidas ao eleitorado. Se os cadernos eleitorais fossem limpos da "abstenção técnica" (acentuada recentemente pelo novos fluxos emigratórios de longa e curta duração), ter-se-ia muito provavelmente cumprido o critério absurdo dos 50% estipulado pela lei do referendo; se todos os votantes que faltaram ao quorum deste referendo viessem a votar no "NÃO", nem por isso deixaria de vencer o "SIM" e portanto a tese daqueles que apoiam a despenalização do aborto e o apoio do Estado à sua realização em condições de dignidade e qualidade sanitária, no período que vai desde a fecundação até às dez semanas de gestação. Daí falar-se, com propriedade e justeza, da natureza "politicamente vinculativa" do resultado de hoje. Aduz ainda a este género de legitimidade o facto de se ter respeitado a vitória "não vinculativa" do "NÃO" aquando do anterior referendo sobre esta mesma matéria. Por uma questão óbvia de coerência, ter-se-ia agora que respeitar o "SIM".

O nova lei da IVG e a política orçamental da actual maioria socialista.
O referendo mostrou que o país não deixou de evoluir ideologicamente no sentido de uma convergência assinalável com os padrões racionais e democráticos dominantes na União Europeia. Apesar do peso reaccionário das religiões, sobretudo nas zonas rurais, e do atavismo natural das franjas socialmente mais desprotegidas da sociedade, a crescente urbanização e suburbanização do país, pela sua intrínseca natureza sociológica e económica, acabou por impor-se às fantasias misóginas de uma direita ideológica imbecil e hipócrita. O imediato acolhimento dos resultados do referendo por parte de Marques Mendes (líder muito fraco do segundo maior partido do arco governamental) reflecte, apesar de tudo, um saudável instinto de sobrevivência.

Quanto ao PS, terá que dar rápido andamento às expectativas criadas por esta vitória do "SIM". Não basta descriminalizar o aborto, pois o principal da tarefa está noutro lugar da política: assumir e garantir uma política de saúde à altura dos desafios decorrentes de um panorama económico-social muito preocupante. Portugal está à beira da recessão demográfica, não existe nenhuma política séria de incentivo à natalidade, a sangria da emigração regressou ao historial da nossa incapacidade política, o envelhecimento da população ameaça a estabilidade sociológica e económica do país, o aborto clandestino é uma praga. E como todos sabemos, na arena dos jogos políticos, a direita e o titubeante centro-direita nada de substancial e consequente têm a dizer sobre estas matérias. A sua visão do mundo continua a ser, infelizmente, puramente cínica e negativa.

Correndo o risco de me repetir, direi que atravessamos uma fase muito crítica da nossa existência colectiva. As principais ameaças, internas e externas, podem ser caracterizadas como longas emergências, cujos efeitos se farão sentir de forma cada vez mais dramática no decorrer dos próximos 20-30 anos: a emergência climática, a emergência nuclear bélica, a emergência energética, a emergência demográfica, a emergência alimentar e a emergência médico-sanitária. Quem não perceber isto e não agir em conformidade, perdendo tempo e dinheiro com devaneios grandiloquentes, ou insistindo nos velhos e esgotados modelos mentais da economia capitalista ("business as usual"), estará a perder estupidamente uma preciosa vantagem compeitiva: a de se preparar racionalmente para um longo inverno civilizacional.

Dados oficiais sobre o referendo

OAM #172 12 FEV 2007

domingo, dezembro 07, 2014

Prendam os ladrões primeiro!

Vítor Constâncio, vice-presidente do BCE
Foto ©
Bloomberg News

O regresso extemporâneo do PS ao poder seria um desastre


FRANKFURT—European Central Bank Vice President Vitor Constancio sent the strongest signal to date on Wednesday that the ECB is prepared to buy government bonds early next year if it decides that more aggressive stimulus measures are needed. (Update: Follow our ECB live blog). By Brian Blackstone and Todd Buell.

The Wall Street Journal, Updated Nov. 26, 2014 6:46 a.m. ET.

Quando a criação de dinheiro é um monopólio governamental, e a sua emissão deriva de uma operação simplesmente fiduciária, sem que as unidades monetárias criadas tenham qualquer valor intrínseco (por exemplo, o ouro ou a prata de uma moeda), ou as contrapartidas do valor declarado assentem apenas em garantias soberanas de países que não param de ver as suas dívidas públicas e privadas a aumentarem, afirmar que vivemos em economias neoliberais, sejam elas governadas à ‘esquerda’ ou à ‘direita’, não passa de uma fraude intelectual. Todos os governos que se conhecem atualmente neste planeta são réplicas extremistas do keynesianismo!

Nem sequer podemos qualificar estes regimes financeiros como Capitalismo de Estado, ou como Capitalismo Imperial, pois são economias intrinsecamente descapitalizadas (onde, no entanto, a concentração da riqueza cresce desmesuradamente) que há muito consomem mais do que produzem, e que por esta razão são forçadas a desvalorizar as respetivas moedas na competição externa (aumentando assim a competitividade relativa das respetivas exportações, ao mesmo tempo que diminuem o fardo financeiro da dívida externa caso a moeda em causa seja uma moeda de reserva), ao mesmo tempo que aceitam destruir as taxas de juro do dinheiro, resultado inevitável do aumento contínuo da massa monetária, ou seja das várias formas de dinheiro em circulação, promovendo desta forma uma ilusão de prosperidade, ao mesmo tempo ainda que proliferam máquinas especulativas insaciáveis que, em poucas décadas, substituem e devastam a economia produtiva e o emprego.

Não deixa de ser irónico que os megafones desta fraude intelectual sejam frequentemente empunhados por alguns protagonistas da dita ‘esquerda’.

A ideia, repetida numa famosa declaração de Jorge Sampaio, contra o que então chamou a ‘obsessão do défice’, e que desde o seu reinado se tornou uma litania da ‘esquerda’, volta a ganhar força na propaganda populista do PS, de António Costa e do mesmo Sampaio.

Poderia a austeridade brutal que atingiu Portugal ter sido menos violenta?

Podia. Mas para que tal tivesse ocorrido teríamos que ter cumprido as recomendações da Troika num ponto essencial: destruir a economia corrupta dos rendeiros que capturaram o regime partidário e que com este estabeleceram uma simbiose oportunista, transformando nomeadamente as PPP numa bateria de seringas que, sem pudor nem travão algum, tem vindo a chupar a sustentabilidade da nossa economia, destruindo empresas, empobrecendo a classe média, lançando milhões de portugueses no desemprego, na emigração e na morte antecipada por deterioração acelerada das reformas, pensões e acesso aos medicamentos mais caros ou de uso continuado.

Como se sabe (o caso do cerco e despedimento do ministro Álvaro Santos Pereira foi a este título plenamente demonstrativo), o Bloco Central da Corrupção, composto por piratas da banca, dos oligopólios indígenas e da execrável classe política que temos, com a fanfarra do Bloco de Esquerda, do PCP e da Intersindical atrás, demonizou a Troika, não em nome de uma menor ou mais calibrada austeridade, mas favorecendo precisamente o excesso desta, ao terem conseguido barrar a famosa redução da rendas excessivas dos oligopólios, a redução para metade do número de autarquias existentes, e o ajustamento da dimensão do estado em função das nossas possibilidades, prioridades e potencial tecnológico disponível, o qual tem evoluído rapidamente.

A litania que tem saído ultimamente dos velhos cérebros da ‘esquerda’ (novos não há) que enche de teias de aranha o temeroso sargento-ajudante de José Sócrates, António Costa, atirado à força para a fogueira que em breve o consumirá, é a mesma de sempre: menos austeridade e mais investimento público, como se não tivéssemos sufocados em investimento público inútil ou que apenas serviu para enriquecer os rendeiros e os devoristas desta democracia exangue, ou como se menos austeridade não implicasse automaticamente uma declaração de guerra à EDP, à Brisa e outras concessionárias rodoviárias, aos especuladores municipais da água, aos latifundiários-rendeiros da medicina e mesmo ao negócio sórdido da fome que entretanto proliferou como uma espécie de pandemia de novos parasitas.

A falsa esquerda que em nome da esquerda vocifera e prega é uma esquerda imprestável...

Deixou-se engordar no Clube dos Um Por Cento mais ricos da comunidade, e fez o favor de ajudar a corja rendeira a manter-se no poder num dos momentos mais difíceis da nossa história recente, quando, precisamente com a ajuda da Troika, teria sido relativamente fácil reduzi-la à insignificância estrutural exibida na estrondosa e súbita implosão do DDT BES.

Previsões do Scotiabank, 2 dez 2014
(clique para ampliar)


Se a Justiça trabalhar depressa e bem...

Se a Justiça trabalhar depressa e bem até às próximas eleições, metendo na cadeia os ladrões do Bloco Central da Corrupção, e este governo tiver ainda um golpe de asa para impor a renegociação imediata e global de todos os contratos de concessões e sub-concessões com cláusulas danosas (algumas delas secretas) para o estado português, tornando, por outro lado, transparente os processos de acesso e gestão relativos aos fundos comunitários do QREN 2014-2020, então a esperada janela de alívio temporário anunciada por Vitor Constâncio, através da continuação do ELA (“emergency liquidity assistance”), de empréstimos à banca a taxas reais negativas (taxa de juro do BCE a 0,05% contra uma inflação de 0,5%) e da compra direta de dívida soberana (“...purchases of covered bonds and asset-backed securities”—WSJ), será tempo ganho no inevitável ajustamento estrutural da nossa economia e das nossas instituições e hábitos de vida, a começar pelo estado e pela classe política.

As previsões apontam para que Portugal volte a convergir com a União Europeia, crescendo em 2015 e 2016 mais do que a média desta. Percebe-se, pois, a pressa dos 'socialistas'. Mas também se deve perceber que dar-lhes neste momento o poder poderia equivaler a deitar pela janela fora o sangue, suor e lágrimas dos últimos quatro anos.

Depois disto, e depois de o PS passar por uma profunda metamorfose, entretanto interrompida pelo golpe de estado dos soarista-socratinos, então sim, será tempo de sabermos o que a nova esquerda poderá fazer de bem ao século 21 português. Pois até agora fez tudo errado.

Mas nada de ilusões fora de tempo!

In Neil Howe. Forbes, 2014

Estamos ainda no interior de uma "Longa Depressão" (Neil Howe/ Forbes).

PS: Ao contrário da voz corrente, aprecio a personalidade e a competência técnica do socialista Vítor Constâncio. Tem sido uma peça essencial no BCE durante a gravíssima crise que atravessamos. Não é deste socialista que me queixo!

Atualização: 8 dez 2014, 01:55 WET

sábado, maio 19, 2007

Por Lisboa 4

Helena Roseta
Abaixo o Costa!

Só Helena Roseta poderá impedir que o candidato das patacas, o Costa, leve por diante a estratégia do lóbi de Macau, i.e. destruir o aeroporto da Portela e lançar Lisboa num beco sem saída.

Ouvimos hoje (18-05-2007) António Costa confessar à TVI três coisas terríveis: que não percebe nada de Lisboa, que apoia a destruição do aeroporto da Portela e a venda a patacas dos respectivos terrenos (a chineses, angolanos, e alguns socialistóides, seguramente), e que para ele, como para os fautores das "trapalhadas" que retoricamente condena, o desenvolvimento de Lisboa é sinónimo de especulação imobiliária (para cuja execução escolheu o medíocre arquitecto da Nova Moscavide e setubalices do género, Manuel Salgado.)

Eu até cria que o Costa era sério! Afinal saiu-me mais um traste típico da era socratintas em que infelizmente se consubstanciou a maioria absoluta do PS. Decoro? Nenhum. Basta ver como, ainda enquanto Ministro da Administração Interna, deu instruções à lacaia que leva o título de Governadora Civil de Lisboa (um dos inúmeros tiques policiais que sobrevive da era Salazarista) para fixar uma data eleitoral incompaginável com coligações pré-eleitorais e, sobretudo, com as esperadas candidaturas independentes. Basta ver como, depois, escolheu a dedo personalidades mediáticas à "esquerda" e à "direita": Saldanha Sanches (vai arrepender-se), José Miguel Júdice (conhecido tubarão oportunista da advocacia alfacinha), Manuel Salgado (era um cooperativista do PCP, mas há muito que se dedica ao negócio da construção civil, sob o disfarce cada vez mais caricato de umas ideias que diz ter sobre arquitectura e urbanismo) e ainda a tentativa de aliciar a desamparada Maria José Nogueira Pinto. Ou seja, o Costa quer desesperadamente a maioria absoluta, e para lá chegar está disposto a transformar a diferença ideológica que legitimamente caracteriza as sociedades democráticas numa tábua rasa, onde o único valor é a vontade de poder (e de não perder o poder.) Fazer da diferença democrática um trapo de usar e deitar fora é demasiado mau para crer. Mas foi assim. E é assim. O Costa quer fazer de Lisboa o que o governo socratintas está a fazer de Portugal: um coutada indefesa do dinheiro, uma província de Espanha e de novo um país de emigração! (1)

O perigo é real, embora os paspalhões da "esquerda" parlamentar ainda não tenham reparado no caso. Daí que só a candidatura de Helena Roseta tenha a virtualidade de impedir o descalabro que o PS prepara para a capital do país. Votar na lista de cidadãos por Lisboa é a única maneira de dizer a este governo de imbecis, inconscientes e aldrabões compulsivos, que dar maiorias absolutas, seja a quem for, é uma enorme imprudência. No caso vertente, seria o caminho mais directo para deixar o polvo de interesses que tomou de assalto o PS levar por diante as suas missões destrutivas.

Este polvo quer que o Estado (i.e. os impostos que pagamos) compre uma empresa aérea falida ao BES (chama-se Portugália Airlines). Este polvo quer privatizar a lucrativa ANA, para continuar a adiar a racionalização do Estado e alimentar a sua própria voracidade financeira. Este polvo quer destruir o aeroporto da Portela e vender os seus terrenos a patacas. Este polvo quer, em nome do chamado projecto da Baixa Chiado, expulsar a diversidade social da capital para os subúrbios mais longínquos e precários da grande Lisboa (tal como se fez recentemente em Barcelona, Sydney, Pequim e noutras cidades por esse mundo globalizado fora.)

Os imbecis que formam o dito polvo ainda não perceberam que desertificando o interior em direcção ao litoral, apenas estão a convidar a Espanha para avançar pelos territórios abandonados (sem educação, sem saúde, sem investimento e com autarquias falidas). Estes imbecis tentaculares ainda não perceberam que suburbanizando continuamente a cidade de Lisboa, em nome da avidez, da especulação e do roubo (ainda que decorada com as novas retóricas da competitividade e da criatividade) estão a criar as condições ideais para uma futura guerra civil urbana, à semelhança do que hoje ocorre intermitentemente em São Paulo, Rio de Janeiro, Copenhaga, Marselha ou Paris (2).

António Costa, já se percebeu, não é mais do que o factotum deste terrível plano de subversão urbana, que é urgente combater. Eu se fosse PSD, ou estivesse mesmo à direita deste partido, pensaria seriamente nas vantagens de votar em Helena Roseta. Quanto aos eleitores sérios e inteligentes do PS, PCP e Bloco de Esquerda, recomendo-lhes vivamente que pensem muito bem antes de votar. Este PS precisa de levar uma boa tareia eleitoral, para bem dos verdadeiros socialistas, e sobretudo para bem de Portugal.

Quem quer conquistar Lisboa não é o Costa, é o governo socratintas. Muito cuidado!



Notas

1- 21-05-2007 15:25 Público. O número de trabalhadores portugueses em Espanha subiu quase quatro por cento entre Janeiro e Abril deste ano, para mais de 75 mil, de acordo com os dados divulgados hoje pelo Ministério do Trabalho e Assuntos Sociais.
2- O actual governo Sócrates é uma caricatura tardia da democracia digital (versão Power Point) ensaiada por Tony Blair. A próxima saída deste do governo de sua magestade é o sinal mais claro do fracasso das teses sobre a "democracia negativa" de Isaiah Berlin, que Blair tentou aplicar à luz dos teoremas mais recentes e caricatos de Samuel P. Huntington e Francis Fukuyama, com desastrosos resultados
na ex-Jugoslávia, no próprio Reino Unido (veja-se a emergência do radicalismo islâmico naquele país), no Afeganistão e sobretudo no Iraque. Do ponto de vista social, o Reino Unido é hoje uma sociedade mais desigual, menos solidária, mais agressiva, mais autoritária, com menos liberdade e mais disfuncional. É esta a verdadeira herança que Blair deixa a Gordon Brown.
Para perceber o pano de fundo da era Blair-Bush (que mais não fez do que retomar e radicalizar a era Thatcher-Reagan), vale mesmo a pena ver o excepcional documentário da BBC, realizado por Adam Curtis, "The Trap", actualmente disponível na Net. Perceberemos então melhor os tiques e manhas da lógica que tomou de assalto o PS e hoje domina a acção do governo de José Sócrates. Tudo muito transparente... e condenado ao fracasso.


PS: se alguém souber quem foi o autor da fotografia da Helena Roseta, diga-me. Teria o maior gosto em creditá-la como deve ser.


OAM #204 18 MAI 2007

quarta-feira, julho 22, 2015

Porque cresce o turismo em Portugal e Espanha?

Photo: ruispotter.blogspot.com

O mérito dos políticos, neste caso, é nulo


Há oito causas essenciais para o crescimento do turismo em Portugal e Espanha, muito acima das suas economias, e nenhuma delas é mérito dos governos e políticos de turno, nem da sua propaganda:
  1. a queda do preço do petróleo;
  2. a queda continuada das taxas de juro;
  3. as guerras que assolam praticamente todos os destinos turísticos do Mediterrâneo oriental e os países do Magrebe; 
  4. o avanço das companhias aéreas Low Cost na Europa; 
  5. o aumento exponencial da emigração em Portugal e Espanha; 
  6. a deflação, que torna as estadias economicamente mais convenientes;
  7. o impacto da austeridade europeia e mundial nos bolsos dos viajantes (a Ásia e o Pacífico ficam mais longe);
  8. and last but not least, o colapso da Grécia :(

Aviso

A economia do turismo só não é sazonal e sujeita a contingências como as crises na Tunísia, Síria, Líbano, Egito, Turquia ou Grécia, se os países que recebem turistas forem económica e culturalmente fortes e diversificados, e não assentarem em regimes extrativos, nomenclaturas rentistas, estados devoristas e burocráticos, nem em setores económicos protegidos pelo corporativismo e pela corrupção político-partidária. Capiche?

Prova disto mesmo: a queda abrupta do turismo na Grécia ( Forget  Greece, We're Going to Spain, by Henrique Almeida, Maria Tadeo and Elco Van Groningen. Bloomberg Business, July 3, 2015)

sábado, janeiro 26, 2008

Ferrovia 1


Comemoração dos 50 anos da electrificação da Linha de Sintra.

Alguém que tome conta da ferrovia!

Por ocasião do 50º aniversário da electrificação da Linha de Sintra (19-01-2008) a CP organizou um comboio especial com uma Unidade Tripla Eléctrica da 1ª / 2ª fase, repleta de convivas, sobretudo do PS e do PSD (Bloco Central oblige!)

À chegada a Sintra, a rapaziada apanhou um grande susto. Quem desenhou o evento desconhecia obviamente o significado da palavra Gabarit. Isto é, um conjunto de medidas que descrevem a secção espacial livre de obstáculos imprescindível à progressão de um comboio, ou "unidade", como se diz no jargão dos amantes da ferrovia.

Resultado, o comboio à chegada a Sintra, levou pela frente, a plataforma da linha (até as pedras da calçada saltaram) e uma rampa para desembarque de deficientes, enviando directamente um aficionado do caminho de ferro para o hospital, isto sem falar no facto do comboio ter ficado sem estribos e tudo aquilo que o Gabarit não arrancou!

Responsabilidades, é claro que não há. Ou antes, este facto, a avaliar pela imprensa que temos nem sequer existiu! E se o tipo que foi parar ao hospital não era deficiente, pois então passou a sê-lo. Aliás, ninguém o mandou ir assistir à chegada do comboio!

Se não fosse grave o que possibilitou esta ocorrência, seria apenas cómico. O episódio faz aliás lembrar o ocorrido com a inauguração do caminho-de-ferro em Portugal, no longínquo ano de 1856, depois de enormes polémicas entre Velhos-do-Restelo e Fontistas. A revista Única, do Expresso (12-01-2008), traz um saboroso artigo de Filipe Santos Costa sobre a primeira grande polémica em volta da política de transportes no nosso país. Transcrevo o último parágrafo, para comparar com o fiasco de Sintra, ocorrido há precisamente uma semana:
A 28 de Outubro de 1856, após anos de polémicas, "vinha festivamente embandeirado o wagon em que viajava el-rei D. Pedro V", na muito esperada inauguração do caminho-de-ferro. Infelizmente, a festa durou pouco. Logo nessa viagem, as locomotivas inglesas deixaram para trás algumas carruagens, por manifesta incapacidade para as puxarem. O relato publicado nas "Memórias da Marquea de Rio Maior" é eloquente: algumas carruagens com convidados ficaram nos Olivais; a do cardeal patriarca foi deixada em Sacavém; outra, "recheada de dignitários, ficou ao desamparo na Póvoa. (...) Até andou gente com archotes pela linha, em procura dos náufragos do progresso."

São dois episódios pitorescos, mas ainda assim reveladores do estilo desenrasca e trapalhão que caracteriza, por vezes, a alma lusitana. A comparação só é reveladora e oportuna porque temos pela frente, nos próximos 20 a 25 anos, a mais importante renovação de paradigma no transporte ferroviário, realizada, se não desde que o caminho-de-ferro surgiu entre nós, pelo menos desde que passámos das locomotivas a carvão para as "unidades técnicas" movidas a energia eléctrica. O transporte ferroviário, diante do irreversível pico petrolífero, e das alterações climáticas induzidas pela exponencial produção e lançamento para a atmosfera de gases com efeito de estufa, já é uma prioridade europeia. Mas para que não fiquemos na última carruagem da nova revolução em curso -- redes de Alta Velocidade e Velocidade Elevada -- teremos que proceder rapidamente e em força à substituição da rede de bitola ibérica (1668 mm de largura entre carris) por uma rede de bitola europeia, ou standard (1435 mm). Só assim poderemos ligar os nossos portos, aeroportos, cidades e centros de produção a Espanha e ao resto da Europa (Paris, Londres, Berlim, Varsóvia, Kiev, Istambul, Moscovo...)

Ora o que as recentes declarações sobre a Terceira Travessia do Tejo (TTT), a propósito da ligação Madrid-Lisboa em Alta Velocidade e Velocidade Elevada, e o fiasco de Sintra revelam, é que o sector ferroviário português continua sem norte e prisioneiro da lógica partidária corrupta do Bloco Central. Saco sem fundo de financiamentos partidários e enriquecimentos pessoais ocultos, a Refer, a RAVE e o Metro de Lisboa, correm o sério risco, se não houver uma purga impiedosa nas respectivas administrações, e sobretudo uma alteração radical dos respectivos métodos de gestão, filosofia de acção, transparência e responsabilidade social, de se manter este e os futuros governos no limbo da mais lamentável incompetência executiva.

Os políticos com assento parlamentar, do Bloco ao PP, passando pelo PS e PSD, têm que estudar, de um ponto de vista estratégico e político, e abandonando de vez a sempre conveniente e hipócrita delegação de competências nos técnicos (como se os partidos não tivessem sempre a obrigação de pensar politicamente sobre bases bases científicas e técnicas sólidas), o que é urgente fazer relativamente à mobilidade ferroviária que temos, para apanharmos o comboio da eficiência energética, da integração europeia e da criação dos paradigmas imprescindíveis ao desenvolvimento sustentável.

Os dados estão lançados: a ferrovia será cada vez mais a solução mais eficiente para mitigar o duplo problema da escassez de petróleo e das alterações climáticas. A renovação da rede ferroviária ibérica (que implica desde logo substituir milhares de quilómetros de ferrovia) é uma condição irremediável da integração deste sistema de transporte de pessoas e mercadorias na grande rede ferroviária europeia (de Lisboa a Moscovo, de Lisboa a Istambul).

A exploração comercial da rede ferroviária europeia será completamente liberalizada a partir de 2012, tal como ocorreu na rodovia e vem ocorrendo no transporte aéreo. A perspectiva mais provável é a da emigração da filosofia Low Cost para este modo de transporte, e mesmo, o da integração multimodal dos vários tipos de transporte por parte de grandes operadores tecnológicos de transportes a baixo custo. Empresas como a Ryanair, a easyJet, e outras, irão permitir que cada um de nós programe e administre racionalmente à nossa própria mobilidade económica, social e cultural, independentemente de utilizarmos automóveis híbridos partilhados, comboios, metros de superfície, barcos ou aviões. O sector público será sobretudo responsabilizado pela garantia dos direitos políticos e económicos de circulação, detendo a propriedade de algumas das infraestruturas críticas, cujas concessões administrará em defesa estrita dos interesses estratégicos da comunidade. O resto irá parar inevitavelmente ao sector privado concorrencial.

O futuro é amanhã, pois a longa emergência energética já começou e esmagará todos aqueles que não souberem adaptar-se a tal contingência estrutural. No caso do Grande Estuário, isto é, da Lisboa-região, e no que à polémica das pontes, agora iniciada, se refere, só existe uma solução racional e economicamente justificável: uma nova ponte exclusivamente ferroviária entre o Montijo e Chelas (que faça chegar o AVE de Madrid a Lisboa) e, lá para o ano 2020, uma nova travessia entre Algés e Trafaria (permitindo a circulação de automóveis e Tram Train). Mas para aqui chegarmos teremos que fazer duas coisas: obrigar os políticos a trabalhar com a cabeça e não com os bolsos, e correr com os piratas da Lusoponte.

OAM 301 26-01-2008, 12:11

quinta-feira, julho 31, 2008

Portugal 36



2009: visão, lucidez e coragem - precisam-se!


"In December 2005, the Government [of Sweden] appointed a commission to draw up a comprehensive programme to reduce Sweden's dependence on oil. There were several reasons for this. The price of oil affects Sweden's growth and employment. Oil still plays a major role for peace and security throughout the world. There is a great potential for Swedish raw materials as alternatives to oil. But, above all, the extensive burning of fossil fuels threatens the living conditions of future generations. Climate change is a fact which we politicians must face. Broad and long-term political efforts are needed. -- Stockholm, 28 June 2006. Göran Persson, prime-minister, Commission on Oil Independence (Wikipedia).

O bloco central do betão, a preguiçosa, incompetente e corrupta burguesia de Estado, e sobretudo a nomenclatura partidário-corporativa que temos, alimentados todos pela generosidade adolescente da democracia portuguesa, levaram o país à ruína e a sociedade de volta à emigração. Por mais incrível que pareça, em vez de prendermos duas dúzias destas prejudiciais criaturas, toleramos alegremente que andem por aí exibindo sem vergonha os sinais exteriores de uma riqueza injustificável, como se fossem senadores de uma Roma debochada no fim dos seus dias. E são!

Os dados económicos miseráveis de Portugal são sobejamente conhecidos e nada têm que ver com a crise internacional, ao contrário do que arengam os vendedores governamentais e a laia de falsos jornalistas que tudo escrevem e dizem para manter o emprego. A catastrófica crise financeira internacional (1), que é sobretudo um sinal evidente da subalternização dos Estados Unidos, do Reino, da Austrália, da Nova Zelândia e da Zona Euro -- ou seja, dos países de consumidores ineficientes, pouco produtivos e sem recursos -- face aos países que produzem e/ou têm recursos, apenas veio precipitar a falência do nosso desmiolado e corrupto modelo económico.

A China por si só é responsável por 40% do recente acréscimo anual do consumo mundial de petróleo (2), pelo que depois das Olimpíadas veremos o preço do crude a subir de novo. Os países emergentes não dependem criticamente das exportações para manterem os seus elevados ritmos de crescimento, ao contrário do que alguns foram levados a crer. As suas demografias são mais do que suficientes para garantir taxas de crescimento anuais na ordem dos 6-10%. Tem pois absoluta razão Manuela Ferreira Leite quando avisa os portugueses que um Estado falido, tal como uma família falida, ou uma pessoa falida, não pode continuar a encomendar marisco como se nada se passasse. José Sócrates anda literalmente de mão estendida por esse mundo fora, mendigando liquidez: liquidez para o BCP, liquidez para a TAP (3), liquidez para o QREN!

Não o critico por isso, mas apenas por tal personagem ser cada vez menos primeiro ministro de Portugal, e cada vez mais o boneco atarantado da conspiração de ventríloquos apostados apenas em salvar-se a si próprios, afundando, se preciso for, o país. Note-se que esta conspiração promovida pelo bloco central dos interesses apenas estará ao lado de José Sócrates enquanto ele cumprir o guião histriónico que diariamente lhe põem nas mãos. No dia em que o actual primeiro ministro pensar um minuto na figura triste que anda a fazer, e der um murro na mesa em nome das aspirações socialistas que diz defender, verá como a turma cobarde que hoje move as baterias assassinas contra a sua adversária, Manuela Ferreira Leite, se voltará também contra si, sem dó nem piedade.

E no entanto, a aposta na prestidigitação política, como se a função de um primeiro ministro se pudesse confundir com a de um mero mestre de cerimónias, ou de um vendedor de produtos tecnológicos de duvidosa qualidade, vai levá-lo à derrota certa nas próximas eleições, apesar das sondagens actuais. Na apresentação do "Magalhães" -- um computador low cost da Intel, embrulhado em Portugal --, José Sócrates até imitou o Steve Jobs -- repararam? Ao que isto chegou!

As eleições de 2009 irão ser disputadas num ambiente de crise económica e instabilidade social grave ou muito grave. Quem falar verdade, sem subterfúgios, explicando claramente a causa das coisas, terá vantagem sobre quem quer que tenha andado com fantasias, não tendo por isso tomado as medidas apropriadas para mitigar os efeitos da crise. Mas tão importante como falar verdade, olhos nos olhos com os portugueses, é demonstrar coragem e firmeza na estancagem das pressões egoístas que atrofiam o país, contrapondo ao mesmo tempo uma visão para Portugal nos próximos 10 a 20 anos, sem ceder às métricas eleitorais, nem aos inúteis jogos florais em que o nosso inútil parlamento se especializou.

O que estava previsto fazer há três, cinco ou seis anos atrás viu caducar o prazo de validade, por razões óbvias:
  1. Portugal tem uma dívida pública e privada insustentável que inviabiliza a possibilidade de continuar a endividar-se em pseudo Parcerias Público Privadas, de que os negócios da Ponte Vasco da Gama e autoestradas SCUT são exemplos tristemente célebres;
  2. O alargamento da União Europeia veio enfraquecer a generosidade dos Fundos Comunitários, pelo que nenhuma das grandes obras públicas de que tanto se tem falado pode esperar de Bruxelas um apoio mais do que simbólico para a sua execução (não havendo, por outro lado, liquidez nos mercados financeiros para aventuras keynesianas improvisadas);
  3. O petróleo barato acabou de vez;
  4. A transição do paradigma energético vai ser longa, cara e dolorosa;
  5. A crise financeira internacional, que afecta sobretudo o Ocidente, é uma crise profunda e duradoura (20 anos, pelo menos...), tendo por origem um longo ciclo de energia e créditos baratos, do qual resultaram várias bolhas especulativas (algumas delas ainda por rebentar) e um extraordinario endividamento de países tão influentes como os Estados Unidos, o Reino Unido, a Austrália e a Espanha;
  6. O mundo está, por causa desta gravíssima situação, à beira de uma III Guerra Mundial. Se tiver juízo, evitá-la-à in extremis, por meio (proponho eu) de um Novo Tratado de Tordesilhas, através do qual o globo terrestre será dividido em duas metades com fronteiras aduaneiras claras, e a criação de zonas francas especiais como a Suiça, o Médio Oriente e os mares.
  7. Finalmente, as alterações climáticas exigem acção imediata e uma mudança radical de comportamentos económicos, sociais e culturais. Ver neste desafio inadiável uma oportunidade é seguramente uma forma positiva de ver os imensos problemas pelas frente, e de mobilizar as consciências, os recursos e a acção (4).



NOTAS
  1. New York Region - Governor Calls For Session On Fiscal Crisis
    By DANNY HAKIM. Published: July 30, 2008

    Gov. David A. Paterson of New York called on the Legislature to return next month to grapple with a budget deficit that will grow to $26.2 billion over the next three years.

    ... In his speech, the governor said taxes collected on 16 of the state's largest banks fell 97 percent between June 2007 and June 2008, to $5 million from $173 million. -- The New York Times.

    Australia faces worse crisis than America

    By Ambrose Evans-Pritchard, International Business Editor
    Last Updated: 6:39pm BST 29/07/2008

    The world's financial storm has swept through Australia and New Zealand this week amid mounting signs of contagion across the Pacific region.

    Australia now faces a worse crisis than America
    Many fear the economic party in Australia will end badly

    Financial shares were pummelled in Sydney on Tuesday after investor flight forced National Australia Bank (NAB) to slash a £400m bond sale by two thirds.

    The retreat comes days after the Melbourne lender shocked the markets by announcing a 90pc write-down on its £550m holdings of US mortgage debt, an admission that it AAA-rated securities are virtually worthless.

    In New Zealand, Guardian Trust said it was suspending withdrawals from its mortgage fund owing to "liquidity difficulties in the market".

    ... Hanover Finance - the country' third biggest operator - last week froze repayments to investors. The company said its "industry model has collapsed" as the housing market goes into a nose dive. Some 23 finance companies have gone bankrupt in New Zealand over the last year.

    It is now clear that the Antipodes are tipping into a serious downturn. Australia's NAB business confidence index fell to its lowest level in seventeen years in June. New Zealand's central bank began to cut interest rates last week on fears that the economy may have contracted in the second quarter, and is now entering recession. Housing starts slumped 20pc in June to the lowest since 1986. -- Telegraph.co .

    Merrill shocks Wall Street with $8.5bn share sale
    By Stephen Foley in New York
    Tuesday, 29 July 2008

    Merrill Lynch, the investment banking giant that has lost more than $40bn (£20.1bn) on its mortgage investments since the start of the credit crisis, shocked Wall Street last night with plans to raise $8.5bn in new shares.

    As part of a sweeping financial restructuring, the company is dumping most of its remaining holdings in risky mortgage derivatives and tapping the Singapore government for an emergency $3.4bn cash infusion.

    ... A portfolio of mortgage derivatives known as collateralised debt obligations (CDOs) that Merrill had valued at $11.1bn as recently as a fortnight ago, were offloaded last night for $6.7bn. Before the credit crisis struck, that portfolio had been worth $30bn. -- The Independent.

    Cortefiel's LBO Loans Signal European Retail Defaults

    If there is any doubt European shoppers are following their U.S. counterparts into a recession, look no further than retailers' debt.

    Chain stores, led by Madrid-based Cortefiel SA and Fat Face Ltd. in London, are the worst performers among the region's 140 billion euros ($220 billion) of leveraged-buyout loans, according to Markit Group Ltd. and Standard & Poor's data. The Spanish company's 1.4 billion euros of loans are trading at less than half of face value, the lowest for a European company that hasn't defaulted, data from Frankfurt-based Dresdner Kleinwort show. -- Bloomberg.

    Sovereign funds cut exposure to weak dollar
    By Henny Sender in New York
    Published: July 16 2008 22:35 | Last updated: July 16 2008 23:24

    Some of the world’s largest sovereign wealth funds are seeking to scale back their exposure to the US dollar in a sign of global concern about the currency.

    One big sovereign fund in the Gulf has cut its dollar-denominated holdings from more than 80 per cent a year ago to less than 60 per cent, while China's State Administration of Foreign Exchange (SAFE) has been looking to strike deals with private equity firms in Europe as a part of a strategy to reduce its dollar holdings. -- Finantial Times.

    European Banks May Need EU90 Billion, Goldman Says
    By Alexis Xydias and Ambereen Choudhury

    July 4 (Bloomberg) -- European banks may need to raise as much as 90 billion euros ($141 billion) to restore their capital after the U.S. subprime mortgage collapse caused credit markets to seize up, according to Goldman Sachs Group Inc.

    ... The European banks Goldman tracks have lost $900 billion of their market value since the credit crisis began last year. Anshu Jain, head of global markets at Deutsche Bank AG, said this week that that contagion is "by no means over," and Europe's banks have lagged behind the U.S. in raising money from investors.

    ... Goldman's analysts said in their report that "access to liquidity, capital adequacy and post-crisis profitability are the key areas of near to medium-term uncertainty" for European banks.

    Global financial stocks have led declines that wiped about $11 trillion from equity markets worldwide this year. Credit-related losses, surging oil prices and rising inflation have also stoked concern policy makers will have to raise borrowing costs as the global economy slows.

    LBO Defaults May Rise as About $500 Billion Comes Due
    By Neil Unmack

    July 4 (Bloomberg) -- Leveraged-buyout loan defaults may be "significantly higher" than ratings companies' estimates as about $500 billion of debt used to fund the takeovers comes due, the Bank for International Settlements said.

    Companies bought by private-equity firms worldwide must repay the high-risk, high-yield loans and bonds by 2010, the Basel, Switzerland-based bank said in a report today, citing Fitch Ratings data. They may find it hard to raise the cash because of a slump in demand for collateralized debt obligations that pool the loans, BIS said.

  2. China's Cars, Accelerating A Global Demand for Fuel

    "In China, size matters," says Zhang, the 44-year-old founder of a media and graphic design company. "People want to have a car that shows off their status in society. No one wants to buy small." -- 27-07-2008, Washington Post.

  3. British Airways and Iberia bow to economic and strategic necessity

    THERE is nothing like high oil prices, it would seem, to free a European airline from protective national sentiment. Late last year British Airways (BA) backed away from a bid it had made with four private-equity firms for Iberia, Spain's flag carrier, after Caja Madrid, a Spanish bank with government connections, bought a large defensive stake. On Tuesday July 29th, with the price of oil up 25% and BA and Iberia shares down 25% and 37% respectively, the two firms said they were in talks about an all-share merger. Both companies’ boards support the deal, as does Caja Madrid.

    ... In July Martin Broughton, BA's chairman, said the firm faced "perhaps the biggest crisis the aviation industry has ever known". As well as soaring fuel costs, airlines are bracing themselves for weakening consumer demand. Cost savings and revenue gains from a merger will help BA and Iberia mitigate the pain. -- Economist.

    Comentário: a TAP não tem condições para sobreviver à crise petrolífera, sobretudo depois da inconclusiva viagem da José Sócrates a Luanda, de onde Fernando Pinto não conseguiu, ao que parece, nem emprego! A solução da TAP passará irremediavelmente por uma fusão com outras companhias de aviação. Falhada a hipótese de promover uma companhia intercontinental de média dimensão, com um perfil estratégico claramente atlantista, i.e envolvendo países como Portugal, Angola, Cabo Verde, Brasil e Venezuela, por exemplo, parece-me que a única direcção consistente a tomar é a de bater à porta da BA e da Ibéria. O timing para uma decisão vantajosa está rapidamente a esgotar-se. Não creio que possa ir além do próximo Inverno.

    Ler a propósito: "A TAP e as Low Cost", de Rui Rodrigues: "A única forma de dar vantagens competitivas à TAP seria através da utilização de uma base para as Low Cost fora da Portela; caso contrário, a situação económica da transportadora nacional agravar-se-á ainda mais, pois já teve um prejuízo de 123 milhões de euros, no primeiro semestre de 2008." -- Público.

  4. The case for investing in energy productivity
    McKinsey Global Institute, February 2008

    Unless there is a shift in world energy policies, global energy demand is set to accelerate, putting increasing strain on the world economy and the environment. Yet additional annual investments in energy productivity of $170 billion through 2020 could cut global energy demand growth by at least half--the equivalent of 64 million barrels of oil a day or almost one and a half times today's entire U.S. energy consumption.

    MGI research suggests that the economics of investing in energy productivity--the level of output we achieve from the energy we consume--are very attractive. With an average internal rate of return of 17 percent, such investments would generate energy savings ramping up to $900 billion annually by 2020. Energy productivity is also the most cost-effective way to reduce global emissions of greenhouse gases (GHG). Capturing the energy productivity opportunity could deliver up to half of the abatement of global GHG required to cap the long-term concentration of GHG in the atmosphere to 450--550 parts per million--a level experts say will be necessary to prevent the mean temperature from increasing by more than two degrees centigrade. Moreover, the opportunities to boost energy productivity use existing technologies that pay for themselves and therefore free up resources for investment or consumption elsewhere.

    ... The International Energy Agency (IEA) estimates that on average, an additional $1 spent on more efficient electrical equipment, appliances, and buildings avoids more than $2 in investment in ekectricity supply. As Chevron CEO David O'Reilly recently pointed out, energy efficiency is the cheapest form of new energy we have."


    Will Soaring Transport Costs Reverse Globalization?
    By Jeff Rubin and Benjamin Tal, CIBC World Markets Inc. (PDF)

    While there remains a strong imperative in the world economy to arbitrage wage costs, the arbitrage will increasingly take place within the constraints imposed by soaring transport costs. Instead of finding cheap labor half-way around the world, the key will be to find the cheapest labor force within reasonable shipping distance to your market.

    Compare, for example, how relative transport costs have recently changed between the Pacific Rim and Mexico. If in 2000 American importers paid 90% more to ship goods from East Asia to the US east coast, today they pay 150% more, and when oil prices reach $200 per barrel, they will pay three times the amount it costs to ship the same container from Mexico. To put things in perspective, today's extra shipping cost from East Asia is the equivalent of imposing a 9% tariff on East Asian goods entering the US. And at oil prices of $200, the tariff-equivalent rate will rise to 15%.


    CREATE3S

    Short-sea shipping volumes are expected to increase by 50% between 2000 and 2020. Since 40% of the current fleet is older than 25 years, short-sea shipping needs a new generation of innovative ships to meet this potential market. These ships need enhanced economic, safety and ecological performance, fitting into future innovative logistic chains and providing a major role for EU shipbuilders. -- Transport Research.


OAM 400 31-07-2008 03:40