terça-feira, fevereiro 04, 2025

O que quer Trump?

Retrato ofical do Presidente Donald Trump (2025)

Sete coisinha a saber

1) a campanha militar ucraniana que tem vindo a danificar seriamente e a inutilizar mesmo parte importante da infraestrutura petrolífera russa, especialmente ao longo do que vai de 2025, é um verdadeiro tiro no porta-aviões da economia russa, revelando, escandalosamente, a fragilidade gritante das defesas antiaéreas russas face aos enxames de drones desenvolvidos por vários aliados da Ucrânia e pela própria Ucrânia;

2) as duas operações especiais das FFAA armadas ucranianas que eliminaram recentemente em Moscovo dois dos principais assassinos ao serviço de Vladimir Putin (Igor Kirillov e Armen Sarkisyan) demonstram os perigos letais que espreitam a elite russa, e as falhas gritantes dos seus serviços de segurança, ao ponto de se poder concluir que o próprio Vladimir Putin começou a dar entrevistas dentro de automóveis blindados (aqui a ideia principal é a da mobilidade, claro) temendo o pior;

3) China e Índia interromperam as suas compras futuras de petróleo à Rússia respeitantes ao próximo mês de abril;

4) Os desgraçados norte-coreanos que Putin enviou para a morte inglória e o suicídio retiraram da linha da frente em Kursk;

5) Os Estados Unidos, na corrida pela IA, sobretudo depois do aparecimento do Deepseek na mesma semana da posse de Donald Trump (o já chamado Momento Sputnik), entraram naquilo a que poderíamos chamar uma World Cool Soft War. Entretanto, Sam Altman fecha sucessivos acordos estratégicos na Coreia do Sul, Japão, e vai a caminho da Índia!

6) Para o desenvolvimento da IA os Estados Unidos precisam de um acréscimo substancial de energia dedicada aos super-processadores e bases de dados. Precisam de baixar o preço do petróleo para fazer implodir a Federação Russa. Precisam de acesso aos metais raros (conhecidos em inglês como rare earths), uma vez interrompido o fornecimento destes por parte de Pequim (38% das reservas mundiais). Estes metais raros encontram-se em países como a China, o Brasil (as maiores reservas mundiais depois da China), o Vietname (mesma percentagem do que o Brasil: 19%), a Rússia (10%), a Índia (6%) e a Austrália (3%). O Canadá, por sua vez, dispõe de importantes reservas como subproduto do urânio. A Ucrânia é outro grande reservatório de metais raros. A Suécia também. E Portugal dispõe de reservas suficientes para justificar a sua exploração comercial no curto prazo. A Gronelândia e o Ártico poderão esconder reservas minerais gigantescas, absolutamente necessárias aos processos produtivos altamente tecnológicos em curso e em perspetiva.

7) Finalmente, Trump abriu o jogo sobre a Ucrânia: armas, informação, treino militar e sanções contra a Rússia em troca de uma parte das reservas de recursos minerais e energéticos estratégicos existentes na Ucrânia, do carvão aos metais raros. Ou seja, cheque-mate à Rússia.

Casa Manoel de Oliveira muito aquém das expetativas



Mas não há uma Casa de Cinema Manoel de Oliveira? 


Várias capitais por esse mundo fora bem gostariam de homenagear de modo permanente o grande cineasta português. Desde logo, Nova Iorque, Tóquio, ou Lausanne. Por algum motivo Álvaro Siza Vieira deixa apenas parte do seu arquivo em Portugal.

Manuel Casimiro vem aqui defender o legado cinematográfico de Manoel de Oliveira em nome do direito que lhe assiste por vontade expressa do seu Pai, que aceitou cumprir. Conheço-o bem, e tenho ouvido as suas queixas e desilusão relativas à Casa de Cinema Manoel de Oliveira, a  que a Fundação de Serralves não tem dado a atenção e dinamismo que merece e eram esperados. Se a anterior Administração de Serralves ficou aquém das legítimas expectativas de todos, posso deduzir que a situação, com a nova Administração, só poderá piorar.

Não faltam países ricos e cultos prontos a acolher o legado de Manoel Oliveira!

(FR)

Mais n'existe-t-il pas une Maison du Cinéma Manoel de Oliveira ? 

Plusieurs capitales à travers le monde souhaitent rendre un hommage permanent au grand cinéaste portugais. Tout d’abord New York, Tokyo ou Lausanne. Pour une raison quelconque, Álvaro Siza Vieira ne laisse qu'une partie de ses archives au Portugal.

Manuel Casimiro vient ici défendre l'héritage cinématographique de Manoel de Oliveira au nom du droit dont il jouit par la volonté expresse de son Père, qu'il a accepté de respecter. Je le connais bien et j'ai entendu ses plaintes et sa déception concernant la Casa de Cinema Manoel de Oliveira, à laquelle la Fondation Serralves n'a pas accordé l'attention et le dynamisme qu'elle mérite et était attendue. Si l'administration précédente de Serralves n'a pas répondu aux attentes légitimes de tous, je peux en déduire que la situation, avec la nouvelle administration, ne peut qu'empirer.

Les pays riches et instruits ne manquent pas, prêts à accueillir l'héritage de Manoel Oliveira !

(EN)

But isn't there a Manoel de Oliveira House of Cinema? 

Several capitals worldwide wish to pay permanent tribute to the great Portuguese filmmaker: New York, Tokyo or Lausanne. For some reason, Álvaro Siza Vieira only leaves part of his archives in Portugal.

Manuel Casimiro comes here to defend the cinematographic heritage of Manoel de Oliveira in the name of the right he enjoys by the express will of his Father, which he agreed to respect. I know him well and have heard his complaints and disappointment regarding the Casa de Cinema Manoel de Oliveira, which the Serralves Foundation has not given the expected attention and dynamism it deserves. If the previous Serralves administration did not meet everyone's legitimate expectations, the situation with the new administration could only get worse.

There is no shortage of wealthy and educated countries ready to welcome the legacy of Manoel Oliveira!

domingo, fevereiro 02, 2025

Da Doutrina Monroe ao Tratado de Tordesilhas 2.0

Quando os portugueses chegaram à Gronelândia não havia por lá nórdicos.
Planisfério dito de Cantino (1501)

GRONELÂNDIA — dois milhões de Km2; 57 mil habitantes, 80% dos quais são parte da nação indígena do Ártico, conhecida por Esquimós, os quais habitam a Sibéria, o Alasca o Canadá e a Gronelândia há milhares de anos.

Que relação existe entre estes habitantes e a maior ilha do planeta? Uma relação tangencial do ponto de vista geográfico, pois a ilha há muito que está gelada, e a ocupação humana conhecida foi sempre escassa, local e periférica. Os vikings islandeses e noruegueses terão sido os primeiros povos a ocuparem uma parte minúscula da grande ilha, a que chamaram Verde. Atrás destes vieram, mais tarde, os dinamarqueses. Porém, entre os século 15 e 18, os povos nórdicos deixaram a Gronelândia, provavelmente por falta de condições climáticas. A Dinamarca reclamaria a posse da ilha, como colónia, a partir de 1721. Perderia mais tarde toda a soberania sobre aquele vasto território gelado e deserto, ao ver-se ocupada pelos alemães em 1940, durante a Segunda Guerra Mundial. No mesmo ano os americanos avançaram para a Gronelândia ao abrigo da Doutrina Monroe. Por tratado assinado com a Gronelândia em 1941, os Estados Unidos adquiriram o direito de estabelecer bases militares na ilha, até hoje...

Os indígenas e o resto da população da Gronelândia encontram-se há décadas num processo de afastamento da Dinamarca. Apesar de cidadãos comunitários, excluiram a Gronelândia da União Europeia. Fizeram um referendo sobre a independência com uma votação esmagadora a favor da mesma. Ora bem, que significa tudo isto? Estão a ver um novo país soberano com dois milhões de quilómetros quadrados chamado Gronelândia, cuja população não chega às 57 mil pessoas, das quais 46 mil são inuites da nação esquimó que habita o Alasca, o Canadá, a Gronelândia e a Sibéria (russa)? 

Olhando a localização da Gronelândia no Ártico percebe-se imediatamente que a ilha está praticamente encostada ao Canadá, logo muito próxima dos Estados Unidos, mas banhada por um mar hoje disputado por americanos, russos e chineses!

Não sei de onde vem o alarido contra a proposta de Donald Trump. É uma proposta antiga, que faz todo o sentido estratégico, quer na lógica da Doutrina Monroe, quer na de um eventual Novo Tratado de Tordesilhas!


Referência

Como correram as várias tentativas dos EUA de comprarem a Gronelândia

Desde a Era da Reconstrução até à Guerra Fria, diversas administrações tentaram (e fracassaram) comprar a ilha do Árctico. Saiba por que razão a Gronelândia tem permanecido fora do alcance – e porque sempre foi tão importante.

Jordan Friedman
National Geographic Portugal

Duas Bélgicas, um rei, uma confederação?

Bart De Wever, PM belga, 2025.

Vários fatores culturais e sócio-económicos têm levado mais de metade das mulheres nos países industriais e urbanos avançados a desistir da procriação ou a retardá-la para depois dos 30-40 anos de idade, quando a fertilidade é já muito menor, forçando frequentemente as mulheres a recorrerem a técnicas de reprodução assistida. Esta situação  corresponde, aliás, ao fim do boom demográfico mundial, o qual ocorre por volta de 1964-65, momento em que a taxa de crescimento demográfico mundial atinge o seu pico e começa a declinar. As consequências desta inversão da tendência demográfica são e serão dramáticas para toda a humanidade. No curto prazo, países desenvolvidos e urbanizados, incluindo a China, a Rússia, o Japão ou a Coreia do Sul, bem como praticamente todos os países do continente europeu, só têm três caminhos momentaneamente seguros para mitigar a inevitável depressão demográfica mundial: a mudança dos centros produtivos para países com populações mais jovens, custos laborais menores e menor regulação das condições de trabalho e ambientais; a automação dos processos produtivos, incluindo uma explosão demográfica no setor da robótica; e a imigração.

Este é, pois, um problema de fundo que o populismo não resolve, e poderá, aliás, agravar, ao bloquear as medidas de mitigação, por mais imperfeitas e de alcance temporário e contraditório que estas sejam. Há dilemas nesta crise história global muito difíceis de ultrapassar.

No caso da Bélgica, que agora tem um governo de coligação chefiado por um flamengo moderadamente eurocético, mas que defende a transformação da atual monarquia federativa belga numa confederação, mantendo o chapéu monárquico, enquanto a população francófona caminha para uma recessão demográfica e vê aumentar sem fim à vista a imigração (sobretudo muçulmana), a população flamenga, pelo contrário, continua a ter uma boa taxa de fertilidade endógena, opondo-se cada vez mais à imigração oriunda de países com religiões e hábitos culturais antagónicos aos seus. Neste contexto, parece-me que a tendência inaugurada pelo atual governo de coligação, predominantemente soberanista e anti-imigração, veio para ficar...


Referência

Up to 40% of women without children by the age of 30 never have them at all

Sunday 2 February 2025

By  The Brussels Times Newsroom


Just over 110,000 births were recorded in Belgium in 2023, the lowest level since 1942. Provisional figures for 2024 are even lower. This is due to a combination of factors, mainly because Belgians are starting to have children at an increasingly older age.

...

The birth drop is more pronounced in Brussels and Wallonia than in Flanders. However, projections show an increase in births in the Flemish region. 2023 there were 62,338, and by 2050, it may reach 70,000.

This was also reflected in the Federal Planning Bureau's demographics study last year, which showed that population growth would only occur in the Flemish region from the late 2040s.

sábado, fevereiro 01, 2025

O novo populismo estado-unidense

Steve Bannon by Yuki Iwamura/AP

Se ao menos tivéssemos um populista indígena que chegasse aos calcanhares de Steve Bannon, a discussão do colapso inevitável do regime democrático português, capturado pelas elites corruptas e os seus testas de ferro e piratas, seria bem mais produtiva e poderia estimular movimentos sociais afirmativos e transparentes nos seus objetivos. 

Ao contrário da sociedade norte-americana, que nunca esteve tão viva, a portuguesa parece um manicómio cuidado por mortos-vivos. Steve Bannon fala de um novo 'lumpen' social, a que chama os 'deploráveis'. E defende que serão estes deploráveis a restaurar a grandeza americana. Fá-lo-ão através de uma erupção revolucionária de soberania política e nacionalismo económico. Independentemente de estarmos ou não de acordo com a visão de Bannon, a verdade é que em Portugal não há nenhuma verdadeira alternativa ao declínio do regime, que possamos discutir (péssimo augúrio). O que por enquanto temos na comunicação social e nas redes sociais é demasiado mau.


Steve Bannon on ‘Broligarchs’ vs. Populism

The fight for Donald Trump’s ear.

Hosted by Ross Douthat

Jan. 31, 2025


Ross Douthat: On this week’s show, we’re continuing my one-on-one conversations with figures who represent different, potentially clashing worldviews within the new Trump administration. Two weeks ago I talked to venture capitalist Marc Andreessen about the newest faction in Trumpworld, the so-called tech right.

My guest this week, Steve Bannon, represents what I might call Trumpism Classic: the populist and nationalist movement that brought Trump to power in the first place and that aspires to exert significant influence in Trump’s second administration. Indeed, a lot of the wave of executive orders we’ve already seen from this White House on immigration, reshaping federal bureaucracy and more are Bannon’s populist, anti-establishment aspirations.

Bannon is also emerging as one of the most vocal critics from the right of Elon Musk and other members of the tech right. And we’re going to talk a lot about that brewing conflict.

https://www.nytimes.com/2025/01/31/opinion/steve-bannon-on-broligarchs-vs-populism.html?unlocked_article_code=1.tk4.9UXk.04Xcx7F9foC1&smid=url-share

Utopia ou populismo?

Gouveia e Melo, provável sucessor de Marcelo Rebelo de Sousa
Foto: José Sena Goulão/ Lusa (recortada)

Há quem diga que a careca do Vitorino mostra quem realmente domina o PS: os plutocratas indígenas disfarçados de socialistas. 

Trata-se de uma casta formada por Santos Silvas, Vitorinos, Vitalinos, Césares, Costas e outros figurões do género. Já a prole do PS, por outro lado, embandeirada pelo Tozé Seguro, configura uma espécie de 'deploráveis' cada vez mais desiludidos com o PS e a democracia, mas que faz ainda um último esforço para não aderir a líderes populistas credíveis, que André Ventura não consegue ser, mas que o próximo presidente da república (Gouveia e Melo) poderá facilmente suscitar, apesar da tentativa em curso de criar um cordão sanitário maçon à sua volta (1).

Este comentário é uma réplica e responde simultaneamente a um amigo socialista ético do PS, cada vez mais crítico do partido, mas que não desiste da utopia socialista. Eu acho que o meu amigo deveria estudar com atenção a natureza complexa do populismo e as suas origens. Pois o tempo atual parece não ter outros caminhos alternativos à decadência plutocrática das democracias amordaçadas pela hipocrisia. 

O populismo atual que Steve Bannon (co-criador da besta heróica chamada Donald Trump) defende é uma conjunção de forças sociais (os 'deploráveis') e políticas (os populistas) oposta aos oligarcas capitalistas, à imigração, à globalização e aos protagonistas de uma era tecnológica neofeudal (Zuckerberg, Bezos, Musk, etc.). Este modelo está a ser ensaiado nos Estados Unidos, e poderá vir a ser ensaiado numa União Europeia liderada pelos partidos populistas, especialmente se o empurrão soberanista estado-unidense ganhar tração.

Não importa o que as nossas almas de esquerda pensam sobre isto, pois o seu pensamento foi assassinado pela oligarquia de formigas brancas que desfez por dentro a alma original de todos os partidos da dita esquerda, no caso português, incluindo o PS, o PCP e o Bloco. Neste cenário de amplo espectro, Tozé Seguro não tem qualquer hipótese de resolver o problema do crescimento imparável da massa de deploráveis que cresce no PS, tal como cresceu no PCP (de onde saiu boa parte dos novos eleitores do Chega no Alentejo). Para tal, o franciscano socialista teria que ser ungido pela oratória de outro António, o de Lisboa, que foi santo depois de combater os hereges cátaros e albigenses. Tal hipótese parece-me, no entanto, altamente improvável.

NOTA

Maçons influentes criam movimento de apoio a Gouveia e Melo à Presidência — Observador, 02-01-2025

Não ao novo PREC!

O Estado não tem nada que comprar o Novo Banco. Seria o regresso a uma banca portuguesa predominantemente pública, ou seja, partidária, ou seja, ao serviço do Bloco Central da corrupção. O receio de que a banca espanhola, outra vez o Santander, ou a Caixa catalã, ou a banca galega, venham a controlar o setor financeiro indígena, combate-se simplesmente através do veto que o Estado pode e deve opor a qualquer venda que implique, precisamente, o perigo de uma posição dominante da banca espanhola em Portugal. Há, portanto, que combater o devorismo dos partidos PS, PSD, CDS, PCP e Bloco antes de combater o perigo espanhol!

SIC Notícias 31.01.2025 — Governo quer manter Novo Banco em mãos nacionais devido ao "perigo espanhol". José Gomes Ferreira, diretor-adjunto de Informação da SIC, explica as razões do Governo para tomar este “ato estratégico”, mas alerta para os "riscos" caso a Caixa Geral de Depósitos avance com a compra do Novo Banco.

terça-feira, janeiro 28, 2025

NAL e soberania

Aeroporto de Barajas, Madrid
Em 2026 terá a capacidade de processar 90 milhões de passageiros.

Temos mais um ignorante aventureiro à frente das infraestruturas do país: Miguel Pinto Luz. Parece um vivo-morto movido a pilhas caminhando sempre em frente, sob o comando de uma voz qualquer que só ele ouve. Esta é a voz imanada pelos pedreiros-livres que vêem o país sucessivamente sugado pelos credores e pelos países com interesses históricos na praia lusitana: espanhóis, ingleses, americanos (e ainda alguns herdeiros de antigos impérios do Islão: turcos e árabes).

O NAL, que um dia será inevitável, pretende ser sobretudo um contrapeso estratégico a Barajas, o mega aeroporto de Madrid. A sua vocação é atrair à margem sul de Lisboa os tráfegos aéreos do Brasil, Estados Unidos e Canadá, mas também de África, nomeadamente Angola, países do Golfo da Guiné, e Moçambique, nomeadamente. Uma ambição que nem a Portela, nem o Montijo, nem Alenquer jamais poderiam acomodar.

É por tudo isto que só o Pinto Luz ouve as vozes imperativas do NAL, enquanto outros debatem as vantagens e as desvantagens menores do negócio em vista.

Estou convicto que teremos um NAL na região de Benavente antes de 2050, mas não em 2030. Poder inaugurar esta infra-estrutura em 2040 já seria um êxito. Veremos.

As coisas andam ligadas: NAL e TAP.

As Low Cost servem o negócio do médio curso, mas não o transporte aéreo intercontinental. O países soberanos não jogam apenas em função da viabilidade comercial imediata. Há desígnios estratégicos que importam mais que o deve/haver das conjunturas económicas. Qualquer dia Madrid vai dizer, como o Trump disse agora sobre a Gronelândia, o Panamá, o Canadá e o México, que precisa de Portugal para garantir a sua segurança estratégica!!!

sábado, janeiro 25, 2025

Atavismo e utopia

Lebre atenta, 2025
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Me+DALL-E

A distopia como utopia é a moda mais recente entre os psicopatas narcisistas que parcialmente dominam o mundo desenvolvido. A lógica da sua propaganda constante diz-nos que no futuro os países serão habitados por gagás assistidos por robôs e alguma criadagem humana para lhes mudar as fraldas. Para já, o importante é meter medo e avançar as agendas do ciber controlo das massas. No entanto, o futuro não está nas sociedades de velhos caquéticos, xenófobos  em acelerado processo de extinção demográfica, mas nas sociedades capazes de reproduzir, não a longevidade, mas a juventude. Isto é, em países como os Estados Unidos, em continentes como África. 

O capitalismo não explora máquinas, mas humanos, negociando com estes o preço do trabalho. O preço das máquinas não varia ao longo das respetivas 'vidas' úteis, é, como diriam os velhos economistas do século 19, capital fixo. É sobre o capital variável, nomeadamente no preço do trabalho, da energia, das matérias primas e do conhecimento, que assenta o crescimento e a competitividade do capitalismo. As máquinas, burras ou inteligentes, são meros instrumentos que prolongam as nossas mãos e pernas, e a nossa mente.

Quando as sociedades capitalistas passaram dos cavalos de quatro patas para os cavalos a vapore e depois para os cavalos de explosão e elétricos, houve um salto quântico no crescimento demográfico e na qualidade de vida dos humanos. Com a automação, a robótica e a nano-robótica, as redes sociais e a IA, haverá outro salto quântico. Estamos, aliás, neste momento, no respetivo momento impulsivo. Fantasmas e medo da transformação são inerentes à vida, mas esta só progride vencendo o atavismo.

Já agora, religiões e ideologias tiveram pouca relevância nestas transformações...

sexta-feira, janeiro 24, 2025

Singularidade a caminho

Imagem arbitrária de uma singularidade, 2025
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Me+DALL-E+GIMP 2.10

Os Mapas de Democracia poderão, em breve, quando o que já existe se precipitar numa nova cosmovisão humana, abrir uma singularidade antrópica sem precedentes.

When A.I. Passes This Test, Look Out
By Kevin Roose
Reporting from San Francisco
The New York Times

Jan. 23, 2025

If you’re looking for a new reason to be nervous about artificial intelligence, try this: Some of the smartest humans in the world are struggling to create tests that A.I. systems can’t pass.

For years, A.I. systems were measured by giving new models a variety of standardized benchmark tests. Many of these tests consisted of challenging, S.A.T.-caliber problems in areas like math, science and logic. Comparing the models’ scores over time served as a rough measure of A.I. progress.

But A.I. systems eventually got too good at those tests, so new, harder tests were created — often with the types of questions graduate students might encounter on their exams.

Those tests aren’t in good shape, either. New models from companies like OpenAI, Google and Anthropic have been getting high scores on many Ph.D.-level challenges, limiting those tests’ usefulness and leading to a chilling question: Are A.I. systems getting too smart for us to measure?

A IA avança rapidamente. Em breve estaremos a discutir a transição dos atuais modelos de governança e representação democráticas para novos regimes constitucionais onde a IA iluminará pela via cognitiva os tradicionais poderes Legislativo, Judicial e Executivo, assim designados por Montesquieu no século XVIII.

DAO (Decentralised Autonomous Organization) é uma das experiências de governança democrática descentralizada em curso, a qual assenta no paradigma blockchain. Entretanto, surgiram conceitos novos para designar possíveis futuros no domínio das organizações, como ALGOCRACIA e CIBEROCRACIA. 

Eu próprio avancei uma ideia-modelo assente nos atuais e universalmente disponíveis ciber-poderes (redes computacionais, bases de dados online, redes sociais, blockchain, data-mining, etc.) a que chamei DEMOCRACY MAPS (October, 2012). Estes mapas de democracia dariam forma e representação a todos os paradigmas, sistemas e organizações do poder humano (sexual, social, económico, cultural e bélico), por forma a que os processos de decisão individual e coletivo pudessem dar um salto de singularidade na espécie humana assistida pelas máquinas materiais e imateriais por si criadas.

Vale a pena ir conhecendo este novo mundo...

sábado, dezembro 14, 2024

Limites do crescimento e colapso


O estudo de Donella Meadows et al. sobre os limites do crescimento (Limits to Growth), de 1972, permanece um cenário computacional válido. Se no trabalho original publicado em 1972, a poluição e o crescimeto industrial aparecem como as principais causas de um colapso do crescimento exponencial da humanidade, na revisão de 2023 há uma 'recalibração', tornada possível por uma melhor aquisição de dados empíricos essenciais ao modelo, da qual resulta a conclusão de que a causa da mudança do cenário de crescimento exponencial para um cenário de colapso será a escassez de recussos essenciais, nomeadamente energéticos. O crescimento industrial global está a perder claramente fôlego, mas as consequências deletérias da poluição demorarão algum tempo mais a confluir com a dinâmica de colapso do sistema. 

Aqui ficam alguns destaques do artigo...


Recalibration of limits to growth: An update of the World3 model

Arjuna Nebel, Alexander Kling, Ruben Willamowski, Tim Schell

First published: 13 November 2023

https://doi.org/10.1111/jiec.13442


Abstract

After 50 years, there is still an ongoing debate about the Limits to Growth (LtG) study. This paper recalibrates the 2005 World3-03 model. The input parameters are changed to better match empirical data on world development. An iterative method is used to compute and optimize different parameter sets. This improved parameter set results in a World3 simulation that shows the same overshoot and collapse mode in the coming decade as the original business as usual scenario of the LtG standard run. The main effect of the recalibration update is to raise the peaks of most variables and move them a few years into the future. The parameters with the largest relative changes are those related to industrial capital lifetime, pollution transmission delay, and urban-industrial land development time.


1 INTRODUCTION

The Limits to Growth (LtG) is the name of a study conducted in the late 1960s for the Club of Rome. A group of researchers at the Massachusetts Institute of Technology developed a computer model that simulated some of the world's most important material variables, such as population, food production, resource use, and environmental impact. A total of 12 scenarios were presented in 1972 in the first book of the same name (Meadows et al., 1972). The scenarios cover the period from 1900 to 2100. The authors emphasize that the scenarios are not predictions. Rather, they are intended to illustrate the complex interrelationships within a dynamic system based on exponential growth.

[...]


4.3 Future trends

So far, the results have mainly been considered in comparison with the empirical data for the recalibration. However, the course of the variables is also interesting in terms of future trends. Here, the model results clearly indicate the imminent end of the exponential growth curve. The excessive consumption of resources by industry and industrial agriculture to feed a growing world population is depleting reserves to the point where the system is no longer sustainable. Pollution lags behind industrial growth and does not peak until the end of the century. Peaks are followed by sharp declines in several characteristics.

This interconnected collapse, or, as it has been called by Heinberg and Miller (2023), polycrisis, occurring between 2024 and 2030 is caused by resource depletion, not pollution. The increase in environmental pollution occurs later and with a lower peak (Figure 3).

However, it is important to note that the connections in the model and the recalibration are only valid for the rising edge, as many of the variables and equations represented in the model are not physical but socio-economic. It is to be expected that the complex socio-economic relationships will be rearranged and reconnected in the event of a collapse. World3 holds the relationships between variables constant. Therefore it is not useful to draw further conclusions from the trajectory after the tipping points. Rather, it is important to recognize that there are large uncertainties about the trajectory from then on, building models for this could be a whole new field of research.

The fact is that the recalibrated model again shows the possibility of a collapse of our current system. At the same time, the BAU scenario of the 1972 model is shown to be alarmingly consistent with the most recently collected empirical data.

Herrington (2021) also concluded in her data comparison that the world is far from a stabilized world scenario where the overshoot and collapse mode is brought to a halt. As a society, we have to admit that despite 50 years of knowledge about the dynamics of the collapse of our life support systems, we have failed to initiate a systematic change to prevent this collapse. It is becoming increasingly clear that, despite technological advances, the change needed to put us on a different trajectory will also require a change in belief systems, mindsets, and the way we organize our society (Irwin, 2015; Wamsler & Brink, 2018).

[...]


CONCLUSION

In this paper, the World3 model of the LtG study has been recalibrated to reflect the behavior of empirical data over the last 50 years. For this purpose, 35 parameters of the model were selected and optimized for a selected set of eight different empirical data sets that most closely reflect historical developments. An algorithm was developed to minimize the aggregated NRMSD between the model data and the empirical data using an iterative method. A new scenario with the improved parameter set was presented. Of the original 1972 LtG scenarios, the BAU scenario matches these parameters and the evolution of the variables most closely. Like the BAU scenario of the LtG publication, the new scenario Recalibration23 reflects the overshoot and collapse mode due to resource scarcity. However, the peaks of certain variables are raised and partially shifted into the future.

quinta-feira, dezembro 12, 2024

A causa da guerra

Fé e heresia. Metáfora com duas leituras sobre a lenta e dramática libertação feminista do jugo patriarcal. Nesta escultura de Jules Jourdain, de 1917, o monge Jan van Ruusbroec pisa a cabeça de Heilwige Bloemart (Bloemardine). Esta obra colocada na catedral de São Miguel e Gudula, de Bruxelas, descreve um facto histórico improvável, ressaltando um conflito que fez inúmeras vítimas na Europa medieval e moderna: o da chamada fé contra a dita heresia.

Ao contrário do que parece, os povos não lutam até à morte por questões étnicas, religiosas ou ideológicas. Os povos lutam, se for preciso, até à morte, por recursos e territórios. Sempre foi e sempre será assim. A diplomacia e a política são as formas pacíficas desta luta ancestral. A guerra sangrenta e o terror são as modalidades bárbaras desta realidade biopolítica.

Os russos do psicopata Vladimir Putin lutam pelo petróleo e gás natural que existe em relativa abundância ainda no vasto território conquistado das suas colónias siberianas e do extremo oriente, ao mesmo tempo que impedem ou tentam impedir que outros produtores deste recurso ameacem ou ocupem a sua posição no fornecimento desta fonte energética ainda indispensável às regiões mais produtivas e ricas da Eurásia: Europa Ocidental, Índia e China, onde se encontra mais de 1/3 da população mundial.

Os níveis de endividamento soberano crescem em todo o mundo, da Europa aos Estados Unidos, passando pela China e Índia. As bolhas especulativas, por outro lado, alimentam crescimentos artificiais, hoje perigosamente evidentes na China comunista. Esta deformação dos sistemas económicos leva diretamente às febres do ouro, ou seja, à acumulação de ouro e outros metais e minerais preciosos como garantia dos sistemas financeiros nacionais e regionais, seja pelo lado da procura privada, individual, familiar e corporativa, seja pelo lado dos bancos centrais.

A população mundial continuará a crescer, prevê a ONU, até 2060-80. Depois iniciar-se-à um longo declínio demográfico (envelhecimento e não crescimento), aliás já evidente nalguns países e regiões da Europa e Ásia, de que os casos russo, ucraniano, chinês, sul-coreano, japonês e alemão são especialmente preocupantes. Segundo previsão da ONU, são estes, por ordem decrescente, os vinte países com maior declínio demográfico entre 2020 e 2050: 1-Bulgária, 2-Lituânia, 3-Letónia, 4-Ucrânia, 5-Sérvia, 6-Bósnia e Herzegovina, 7-Croácia, 8-Moldávia, 9-Japão, 10-Albânia, 11-Roménia, 12-Grécia, 13-Estónia, 14-Hungria, 15-Polónia, 16-Geórgia, 17-Portugal, 18-Norte da Macedónia, 19-Cuba, 20-Itália.

Declínio demográfico significa, pura e simplesmente, declínio económico e perda de poder. E a prazo, mudanças estruturais nos modos de vida, tendendo estes para a simplificação, a eliminação de redundâncias e o abandono das atividades e hábitos não essenciais.

E porque as guerras têm uma origem estrutural clara, de que os incidentes e as motivações que as provocam e alimental não passam de ilusões instrumentais, convém reter as causas principais que vêm conduzindo a humanidade para novos e pavorosos conflitos regionais e mundiais: 

— fim da energia barata (o consumo energético per capita mundial tem vindo a decair); 

— pico da taxa de crescimento demográfico mundial em 1964-65, e consequente previsão de um declinio demografico absoluto a partir de 2060-80;

— declínio da taxa de crescimento do PIB mundial, e paragem do crescimento pouco antes ou pouco depois de 2100, recuando porventura para intervalos semelhantes à era moderna pré-industrial.

Por fim, são estes os principais recursos ameaçados: água potável, oceanos, ar puro, terra arável, adubos sintéticos, metais e terras raras.

As perspetivas não são, como se vê, animadoras!

Segue-se um extrato de um artigo do New York Times sobre a nova febre do ouro, desta vez em África, com as suas consequências trágicas...

NYT — President Vladimir V. Putin has long heralded Russian gold mining in Sudan, and his country’s Wagner Group worked with the military and its rivals even before they went to war.

Now that Wagner’s boss is dead killed in a plane crash after his brief mutiny against Russia’s military leaders, the Kremlin has taken over the group’s business and appears to be pursuing gold on either side of the front line, partnering with the R.S.F. in the west and the nation’s army in the east.

The United Arab Emirates is also lighting both ends of the fuse. On the battlefield, it backs the R.S.F., sending it powerful drones and missiles in a covert operation under the guise of a humanitarian mission.

Yet when it comes to gold, the Emiratis are also helping to fund the opposing side. An Emirati company linked by officials to the royal family owns the largest industrial mine in Sudan. It sits in government-controlled territory and delivers a chunk of money to the army’s cash-strapped war machine — yet another example of the dizzying array of alliances and counter-alliances fueling the war.

sexta-feira, novembro 22, 2024

António José Seguro ou um Almirante?

Foto: Rita Chantre/Global Imagens (editado)

António José Seguro assume estar a ponderar candidatura a Belém DN

António José Seguro, candidato presidencial, seria um sinal de esperança para o decadente PS, mas não tem condições para chegar a Belém.

Prefiro um almirante que saiba de submarinos e de guerra! 

E que a corja partidária passe por um período de quarentena e desinfestação. 

Para tal, precisamos dum presidente não partidário, de preferência militar, que perceba até que ponto a duração do país depende de uma renovação radical do nosso poder naval, em particular no que se refere ao que é hoje o 'mar português': mar territorial, a zona económica exclusiva, incluindo a zona contígua ao mar territorial, e a plataforma continental. Isto é o mais importante, com o decorrente desenvolvimento de conhecimento fundamental, tecnologias e projetos económicos estratégicos associados. AInda na área militar, é fundamental desenvolver nichos militares de excelência, por exemplo, no setor das tropas especiais e aviação costeira.

As discussões sobre energia e infraestruturas (aeroportos e ferrovia, nomeadamente) foram ultrapassadas nestes últimos três anos, pela invasão russa da Ucrânia, pelas ambições cada vez mais agressivas da China comunista e pelo terrorismo fundamentalista islâmico. 

Temos um mix energético razoavelmente equilibrado, que fornece um produto essencial a preços comparativamente competitivos, cuja segurança relativamente às fontes intermitentes nos é garantida pela energia nuclear espanhola e francesa.

 Por outro lado, o setor ferroviário deve orientar-se para as ligações internas onde estas forem competitivas (nomeadamente nas principais regiões urbanas do país), e para os eixos internacionais prioritários: Corunha-Faro (Corunha, Santiago, Vigo, Braga, Porto, Aveiro, Coimbra, Sanarém, Lisboa, Setúbal, Faro) e Lisboa-Madrid. As ligações internacionais deverão, porém, obedecer a critérios de interoperabilidade eficientes e competitivos, e devem ser desenhados à partida em função da concorrência existente na Europa neste domínio.

Os dados digitais e a eletrónica são o petróleo de hoje e do próximo futuro. 

Por sua vez, o carvão, o petróleo, o gás natural e a energia nuclear, da era industrial ,vão continuar, embora sob condicionamentos crescentes e a par do crescimento exponencial das energias renováveis não poluentes que não roubem aos equilíbrios ecológicos e à produtividade económica os solos ricos em água e matéria orgânica.

Em suma, é preciso uma pequena revolução democrática para mudar o nosso paradigma indolente e populista de desenvolvimento. Prioridade absoluta: segurança e defesa do 'mar português', com tudo o que esta prioridade implica nos setores estratégicos militar, económico, cognitivo e cultural.

Nota: a nova Árvore das Patacas, que é o turismo português, deve ser acarinhada, dando lugar a uma especialização que não existe, que evite a todo o custo a destruição dos destinos turísticos pela massificação e pela homogenia comercial e cultural. Precisamos, neste domínio, de diferença!

segunda-feira, novembro 18, 2024

Não é só o petróleo. A energia nuclear também...

Mapa energético da guerra da Ucrânia (1)

It is easy to get the impression that the proposed new modular nuclear generating units will solve the problems of nuclear generation. They may allow more nuclear electricity to be generated at a low cost and with much less of a problem with spent fuel.

As I analyse the situation, however, I see that the problems associated with nuclear electricity generation are more complex and immediate than most people perceive. My analysis shows that the world is already dealing with “insufficient uranium from mines to go around.”

Nuclear electricity generation has hidden problems; don’t expect advanced modular units to solve them.

Posted on November 11, 2024, by Gail Tverberg on Our Finite World

Falta combustível para os reatores nucleares. Tal como ocorreu com o petróleo, atingiu-se o pico do que poderíamos chamar a produção rentável de urânio. Isto é, pode haver petróleo e ouro no centro da Terra, ou em Marte (!), e urânio nos desertos australianos, mas se não for possível extrair e produzir estes recursos energéticos a baixo custo, não haverá rentabilidade em futuras explorações, e o uso destes entra em colapso. 

Um colapso perigoso, de que a invasão russa da Ucrânia é claro testemunho. 

No norte e nordeste da Ucrânia (Chernihiv, Sumy, Kharkiv, Dnipro, Donbas, Luhansk, Donetsk) encontra-se a maior parte dos recursos mineralógicos relevantes para o modelo económico e social que temos. Por outro lado, em toda esta enorme bacia geológica a percentagem de russos na população é 40%, e 75% deles falam regularmente russo.

Por outro lado, os Estados Unidos deixaram praticamente de produzir urânio, recorrendo nomeadamente à importação de urânio proveniente de ogivas nucleares russas desmanteladas!

Percebe-se agora melhor o que tem motivado as cautelas europeias e norte-americanas na ajuda prestada à Ucrânia. Trump terá pela frente o mesmo problema. Os recursos fósseis — carvão, petróleo, gás natural, urânio e metais raros — continuam a ser essenciais à vida económica mundial, mas a sua disponibilidade a custos comportáveis está ameaçada, e ameaça a paz mundial para lá nossa imaginação.

As pandemias podem atrasar o desfecho induzido pelo esgotamento anunciado do nosso modelo energético, dominante desde o terceiro quartel do século 19, mas por pouco tempo e correndo o risco de fazer colapsar as sociedades humanas, nomeadamente através de uma multiplicação de conflitos bélicos particularmente mortíferos.

As ambições da Rússia são, assim,  inaceitáveis. Desde logo, pelos Estados Unidos, Europa, Índia, Médio Oriente e China...

O pico americano do urânio já foi...

Estagnação mundial da geração de energia nuclear


NOTA 1 — "The recent Russian invasion of Ukraine has been claimed to be due to a multitude of cultural and political reasons. New maps may hold additional clues and show interesting connections in the conflict.";  Sergio Volkmer.

Maps show Ukraine invasion lines versus existing energy resources.




A próxima grande guerra na Europa

A C-P + DALL.E, War, 2023

More than 70% of young respondents in Western Europe see terrorism as the biggest threat to European security, followed by concerns about cyberattacks, natural disasters due to climate change, and Russia. Furthermore, almost half of them believe their country will be directly involved in an armed conflict within the next ten years. Yet, all that being said, young people do not view security and defence as a structural concern given the absence of an imminent threat to their own countries. Other issues and policies, such as healthcare and education, are perceived as having a greater relevance for their daily lives.  
Next-Generation Security 
This research program analyses the European youth's perceptions of the security and defence landscape and its future. 
ie UNIVERSITY, Segovia, Spain 
@ieuniversity


A Rússia de Putin é uma autocracia medievo-industrial, assassina por herança histórica, incapaz de evoluir, salvo se voltar a ser ocupada, embora desta vez por um poder mais civilizado, a Europa, em vez de um da mesma laia, a China...

A probabilidade de uma guerra alargada entre a Europa e a Rússia, com botas europeias nos campos de batalha, e assistência norte-americana à distância, parece evidente a um número crescente de europeus.

Assim sendo, valem os velhos provérbios: mais vale prevenir do que remediar; há que pôr as barbas de molho; em tempo de guerra não se limpam espingardas; quem vai para o mar avia-se em terra...

Este cenário mais do que provável terá implicações profundas em Portugal, desde logo quando for intimado a subir o orçamento da defesa para os 3%. Os oportunistas, incompetentes, corruptos e indigentes populistas que desgraçadamente nos governam só irão mexer-se quando forem ferrados, e bem ferrados, pelos credores.

Haiti, uma sociedade pós-colonial falhada

Manuel López López - John Carter Brown Library, Public Domain, Wikimedia



O Haiti foi a primeira república da América Latina e a segunda do continente americano, depois dos Estados Unidos, a ser constituída. Foi o primeiro estado do mundo a nascer de uma revolta de escravos (1791), libertando-se do jugo colonial francês. O primeiro governo nascido da revolução Haitiana (1791-1804), interracial, presidido por antigo escravo, aboliu a escravatura, mas não o trabalho 'obrigatório' remunerado (trabalho forçado), que persistiu durante todo o século 19. 

O Código Rural, de 1926, não deixou lugar a dúvidas:

Art. 2: Os cidadãos de profissão agrícola não podem abandonar seus trabalhos exceto em casos previstos pela lei;
Art. 3: todos os cidadãos são obrigados a apoiar o Estado... aqueles que não estiverem engajados em cargos civis nem requisitados pelo serviço militar, os que não exercem
nenhuma profissão... enfim, todos aqueles que não puderem comprovar seus modos de existência, deverão cultivar a terra.

O Haiti sem escravos inspirou os movimentos abolicionistas da escravatura em todo o continente americano, e depois em África.

No entanto, como hoje se sabe, o fim da escravatura não significou o trabalho livre, nomeadamente entre os povos do Haiti, mas também do resto do continente americano. Pelo contrário, miséria decorrente da monocultura açucareira e da incapacidade dos sucessivos governos de criar verdadeiras democracias deixou feridas profundas na sociedade do Haiti até hoje.

Este tem sido um exemplo paradigmático de um 'estado falhado' e de como um 'estado falhado' pode durar muitos anos. décadas, e até séculos!

O debate pós-colonial ainda nem começou!

Nota—Ao escrever este comentário a um artigo do The New York Times sobre a permanente tragédia haitiana, encontrei este precioso texto de João Pedro Marques no Observador: "Os negros e o trabalho forçado de outros negros".

sexta-feira, novembro 15, 2024

Mercearia estatística e agenda climática

Albufeira, cheias, 2015
Foto: Carlos Santos
Lídia Pereira (PSD): “O grande instrumento que a União Europeia tem para o resto do mundo é mostrar que é possível descarbonizar e crescer, e é isso que tem acontecido”, afirmou, detalhando que “se olharmos para as normas nos últimos 20 anos, a União Europeia cresceu 27%, criou 26 milhões de postos de trabalho e, ao mesmo tempo, foi possível reduzir as emissões de CO₂ entre 25% e 30%”. TSF

A mercearia estatística dissimulada é a moda mais recente do populismo democrático. Nas ditaduras, como sabemos, os números são mesmo pura e simplesmente falsificados, como se soube recentemente a propósito da demografia russa: 90 milhões de residentes, em vez dos propalados 144 milhões.

Dito isto, a jovem eurodeputada Lídia Pereira (PSD), ao anunciar a magnífica performance ambiental da Europa ocidental esqueceu-se de dizer duas ou três coisas: que a Volkswagen e a Audi estão a caminho da irrelevância, que o governo alemão implodiu, que a economia alemã está a caminho de uma recessão profunda, e que boa parte da energia e do que usamos e consumimos na União Europeia vem (direta ou indiretamente) da China e de outros paísimplodiueus e euroasiáticos assentes nas energias fósseis. Ou seja, alguém continua a ter que fazer o trabalho sujo!

Já agora, senhores e senhoras do PSD: 

— que tal cuidar do ordenamento do território, nomeadamente florestal e urbano, em vez de cavalgarem soluções especulativas antes de tempo e por validar, de que são exemplos desastrosos os barcos elétricos da Transtejo, o Hidrogénio Verde de Sines, o Novo Aeroporto de Lisboa sobre um aquífero precioso que é ao mesmo tempo uma região inundável em caso de grandes precipitações e maremotos, ou as famigeradas novas linhas de Alta Velocidade ferroviária ao arrepio da tecnologia dominante, das diretivas europeias e dos acordos oficiais celebrados reiteradamente com Espanha?

Menos mal que o Trump ganhou as eleições americanas!


quarta-feira, novembro 13, 2024

Para travar a China é preciso derrotar a Rússia


A ascensão económica da China comunista chegou ao fim. As consequências deste facto são visíveis na crescente agressividade (e ânsia de controlo) por parte de Pequim e do ditador Xi Jinping relativamente a pessoas, países, e recursos em todos os continentes 

A guerra resultante da invasão russa da Ucrânia é já uma espécie de guerra por procuração entre Pequim e Washington. Daí a sua importância para ambas as superpotências. A derrota da Rússia será uma derrota da China, e a derrota da Ucrânia será uma derrota dos Estados Unidos. Daí, portanto, a dificuldade que Donald Trump terá em vergar Vladimir Putin, forçando o fim da guerra na Ucrânia em termos desfavoráveis ao criminoso russo. Deixar a Rússia levar por diante os seu plano de reconquista e genocídio cultural da Ucrânia seria uma óbvia derrota dos Estados Unidos, da NATO, e da Europa.

Os europeus e os norte-americanos não têm, pois, nenhuma alternativa que não passe pela derrota de Vladimir Putin. E para tal, a estratégia definida por Biden, de enfraquecer Moscovo, causando um desgaste progressivo, mas brutal, dos ativos materiais, económicos, financeiros e humanos da Federação Russa, não mudará radicalmente com o regresso de Donald Trump. Haverá mais retórica e zigzagues e, eventualmente, autorização para o uso dos seus sistemas de armas em território russo.

Quer os Estados Unidos, quer a NATO, já estão envolvidos profundamente na guerra de defesa ucraniana contra o psicopata de Moscovo, mas seria um erro assumir abertamente um envolvimento que equivaleria a uma guerra declarada entre as democracias ocidentais e a Rússia. A Rússia, como se tem visto, não passa dum estado ébrio falhado e fraco, perigoso apenas porque armado até aos dentes com milhares de ogivas nucleares. 

A discussão sobre a manutenção dos Estados Unidos como poder dominante no mundo, não é para se ter com Vladimir Putin, mas com o pretendente chinês. A guerra brutal que decorre na planície ucraniana é uma derradeira tentativa de evitar os males maiores que espreitam a humanidade à medida que a sua civilização industrial, com pouco mais de duzentos anos, se aproxima dos limites inerentes à modalidade do seu próprio crescimento.

domingo, novembro 10, 2024

War Room


Steve Bannon's full remarks after prison release in New York City (Oct. 29, 2024)

Fixem este nome, Stephen K Bannon, um dos ideólogos que pensam para Trump.

Bannon quer garantir a neutralização da Rússia a partir do fortalecimento das defesas europeias, pois só assim os Estados Unidos ficarão livres para o desafio chinês.

O próximo presidente

Ter uma visão sobre o futuro será fundamental nas próximas presidenciais. Marcelo e o minion que se pôs em bicos de pés só conhecem o passado. O próximo presidente da república tem que ser alguém exterior ao regime partidário incompetente e corrupto que degenerou a nossa democracia.

Ainda não conheço bem este Almirante. Não é necessário que o próximo PR seja militar. Qualquer civil serve desde que não faça parte da corja partidária DDT. Mas os militares têm em geral um sentido prático inexcedível. Prova-o o modo como os militares impediram um banho de sangue depois da queda da ditadura...

Perguntam-me: e os "aventais" vão deixar?

Os "aventais", quer da Maçonaria cor-de-rosa, quer da Maçonaria laranja (a Opus Dei foi comprada pelos "aventais"...) aproveitam-se das circunstâncias, mas também sabem adaptar-se 😉 

Com o panorama bélico na Europa-Eurásia, Médio Oriente e no Pacífico, que vai continuar a aquecer até 2028 (possível ataque chinês à Formosa), ou 2030, pelo menos, os militares vão regressar à Política. Aliás, remeteram-se prudentemente à defensiva depois da ofensiva do Mário Soares, apoiado pela Alemanha e Bruxelas, mas não têm estado desatentos. Prova-o a constante intervenção do General Ramalho Eanes no debate político português. 

Vai ser preciso aumentar e muito o investimento na Defesa, para 2 ou 3% do PIB. 

Esta subida da parada militar terá consequências, que a rapaziada extrativista dos partidos não conseguirá travar. O Almirante Gouveia e Melo, na presidência da república, servirá, em primeiro lugar, para garantir a exigida e exigível subida do orçamento da Defesa, naturalmente em detrimento dos outros ministérios. Depois, tratando-se dum homem com ideias e ‘dossiês’ estudados, vai estimular uma aliança a sério da indústria e dos serviços adaptada às necessidades militares internacionais que nos envolvem diretamente:

— indústria naval (mais três submarinos…); 

— transferência de uma parte da nossa economia (infra-estruturas, indústria, investigação&desenvolvimento, serviços) para o mar e a plataforma marítima; 

— regresso inteligente do serviço militar obrigatório (6 meses/ homens e mulheres — com remuneração adequada e formação em áreas profissionais de ponta); 

— reforço dos poderes presidenciais (revisão constitucional). 

quinta-feira, novembro 07, 2024

Escreve Trump direito por linhas tortas?

Credit: Reuters (cropped)

O que preferimos ignorar por demasiado tempo, ou seja, a postura hesitante e titubeante de Biden na política internacional foi também um fator importante da derrota de Kamala Harris. 

A saída desastrosa dos Americanos do Afeganistão foi, assim, um mau prenúncio. 

Mas há mais fatores que levaram a maioria dos eleitores a votar num narcisista condenado. Por exemplo, a abertura das fronteiras a uma nova vaga de imigração em massa para um país onde as ruas de dezenas de cidades estão povoadas de tendas e automóveis onde vive gente despejada ou sem rendimentos para alugar sequer um quarto. O emprego criado e propalado como uma vitória da governação democrática é precário e mal pago, tal como na Europa, e o crescimento económico foi assimétrico. O fosso entre os muito muito muito ricos e os pobres é cada vez mais escandaloso. A gloriosa classe média americana tem vindo a ser desfeita, nomeadamente por efeito da globalização neoliberal. Neste caso, o adjetivo 'neoliberal' parece-me bem aplicado. Ironicamente, a possível correção desta desigualdade que se tornou gritante exige, por assim dizer, uma desglobalização agressiva, a qual, por sua vez, foi iniciada por Donald Trump, e tudo leva a crer que os próximos quatros anos irão tornar mais clara esta espécie de correção da divisão internacional do trabalho. Daí a China ser a grande prioridade do dito novo isolacionismo americano (o conceito é errado, mas serve para sabermos do que estamos a falar). A Alemanha, que não se preparou a tempo para a reversão da deslocalização da sua indústria para a China, está a pagar caro os seus erros de avaliação e o seu raciocínio coletivo proverbialmente quadrado. A coligação alemã colapsou ainda antes de serem conhecidos os resultados definitivos das eleições americanas!

O colapso do centro democrático é um facto na Europa, como nos Estados Unidos. Um facto preocupante, mas não creio que possa ser comparado com a década de 30 do século passado. Não vejo no horizonte uma reedição do fascismo europeu, ou de um novo McCarthy na América, mas sim uma transição dramática mundial dos paradigmas geoestratégicos, económicos e culturais ainda dominantes. Quando o desesperado Putin tenta esconder-se atrás de um muro de BRICS, em nome da resposta a dar à nova fase do Excecionalismo americano, o que fica à vista de todos é mesmo a fraqueza do chamado Eixo do Mal, isto é, da aliança dos grandes regimes despóticos e teocráticos que todavia reinam na Rússia, China e Irão, na sua tentativa de atrair para o seu campo países intermédios do Terceiro Mundo, agora rebatizados como Sul Global. Quanto mais corda dermos aos desesperados Putin, Xi e ayatollahs iranianos, mais doloroso será o restabelecimento da paz mundial, a qual será ainda uma Pax Americana, assente, uma vez mais, no controlo de todos mares: Atlântico, Pacífico, Índico e Árctico.

A prioridade de Donald Trump é, portanto, travar a China e o Irão, o que depois da invasão russa da Ucrânia, significa também calar Vladimir Putin e reduzir a Rússia à sua expressão mais simples, talvez ajudando a China a ocupar uma parte da Sibéria.

Os europeus vão ter que acordar! 

O chapéu de chuva americano não desaparecerá, mas será muito mais exigente. Países como Portugal, por exemplo, vão ter que investir a sério na sua defesa militar, como parte do esforço armamentista urgente de que a Europa necessita, para acabar com os devaneios de Vladimir Putin, em vez de continuar a permitir o bacanal da corrupção e populismo que colocou o país na mão dos credores. Serão estes, aliás, que irão forçar a próxima vaga de austeridade e alteração das prioridades da indecorosa classe política que medrou no país nos últimos 50 anos, e das avestruzes, também. Comprar armas nos mercados americano e europeu irá representar uma modificação necessária das prioridades orçamentais do país. Em vez de continuarmos a arruinar o país nos buracos negros da TAP e da ferrovia, que tal produzir armas, munições e sistemas de auxilio à guerra? Que tal apostar nas conservas, nos têxteis e calçado técnicos; na Inteligência Artificial; na medicina reconstrutiva e na reabilitação dos estropiados da guerra tendo em vista não só a guerra na Ucrânia, mas também e sobretudo a necessidade de desenvolver uma força de dissuasão europeia integrada e homogénea?

E da moral, por fim, diremos: nos Estados Unidos, tal como em Portugal, ou Bruxelas, importa mais o que um político pensa e é capaz de fazer do que os seus problemas com a Justiça.

sábado, novembro 02, 2024

CCDR, o que são?

Quinta do Douro (Cinfães, Oliveira), setembro 2024


Regionalização disfarçada, ou uma solução interessante, se melhorada?

As alterações introduzidas nas CCRD configuram, aparentemente, uma estratégia destinada a colocar um ponto final na regionalização imaginada pelos caciques regionais dos partidos.

As novas CCDR tornaram-se institutos públicos, com gestão periodicamente indexada às eleições autárquicas (poder local) e, em menor grau (mas sem as descurar) a uma panóplia ampla de instituições relevantes da sociedade civil. A nova configuração das CCDR estabelece, de facto, e se for respeitada, uma importante instância de descentralização/regionalização do poder no nosso país.

As novas CCDR ganham novas competências, que são retiradas às antigas direções-gerais do Estado, invariavelmente sediadas em Lisboa. Refletem as maiorias partidárias regionais e locais (câmaras municipais e freguesias), e têm nelas representadas diversas instâncias da sociedade civil — como esta se configura, com o seu estado de desenvolvimento, cultura e tradições, em cada região. Têm grande poder na aprovação de projetos financiados pela UE, ou seja, sobre grande parte da atividade económica do país, região a região. Há, por conseguinte, descentralização administrativa e regionalização política supra-municipal.

Falta, porém, transformar os Conselhos Consultivos das novas CCDR em verdadeiras Assembleias de Democracia Deliberativa, com competência para analisar, criticar, reportar e fazer propostas de correção/melhoria da ação das CCDR, sem excessivo peso das lógicas partidárias.

Sem esta instância deliberativa democrática haverá sempre o risco de as CCDR se transformarem em mais uns tantos pequenos monstros burocráticos e vespeiros partidários.

https://diariodarepublica.pt/dr/legislacao-consolidada/decreto-lei/2023-213558674

terça-feira, setembro 03, 2024

Como acabar com a agressão russa contra a Ucrânia?

 

Civilians killed and cars destroyed in Russian missile strikes on Kyiv, 10 October 2022 (Wikipedia)

As defesas aéreas da região de Moscovo, a mais bem defendida da Rússia, falharam clamorosamente contra uma onda de pouco mais de 150 drones ucranianos no passado dia 1 de setembro de 2024. Este teste ajudará os ucranianos em futuros ataques, e deveria desde já levar os Estados Unidos a reverem as restrições inaceitáveis sobre o uso do seu armamento em território russo.

Por outro lado, os terroristas islâmicos, do ISIS e da banda Kadyrov (leia-se: as colónias muçulmanas) preparam-se para uma mais do que provável desintegração da Federação Russa. 

Mais do que uma vitória ucraniana contra Moscovo, o que está em marcha é uma segunda implosão no seio de decrépito império medieval moscovita.

A urgência de acabar com a aventura criminosa de Vladimir Putin tem, pois, ramificações muito perigosas, que o mundo democrático, a China, a Índia e até a Turquia e a Arábia Saudita terão que cercear, para a sua própria segurança.

Um plano de paz para a região deveria, creio, assentar em dez premissas:

1 - resignação de Vladimir Putin;

2 - retirada da Rússia de todas as terras ocupadas na Ucrânia, incluindo a Crimeia;

3 - constituição de um corredor desmilitarizado com 100 Km de largura ao longo de toda a fronteira entre a Rússia e a Ucrânia, vigiado por uma força militar de paz multinacional, da qual façam parte os Estados Unidos, a China, a União Europeia, o Brasil, a Índia, a Turquia e a Arábia Saudita;

4 - reparação dos danos causados pela invasão militar não provocada da Ucrânia, com recurso, nomeadamente, à riqueza criminosa dos oligarcas russos acumulada em bancos e paraísos fiscais ocidentais;

5 - julgamento dos responsáveis pelos crimes de guerra cometidos e documentados;

6 - aceitação por parte da Rússia de inspeções periódicas a todo o seu arsenal militar nuclear;

7 - imposição de um limiar às despesas militares russas totais na ordem dos 1,5% do seu PIB;

8 - perda do estatuto de membro permanente do Conselho de Segurança da ONU de que a Federação Russa atualmente goza;

9 - levantamento progressivo e seletivo das sanções comerciais e financeiras à Rússia;

10 - definição de um roteiro de democratização da Rússia, cujo seguimento permitirá o estabelecimento de futuros tratados de cooperação e desenvolvimento com os países da NATO.


[EN]

How do we end the Russian aggression towards Ukraine?

Air defences of the Moscow region, the best defended in Russia, failed resoundingly against a wave of just over 150 Ukrainian drones. This test will help the Ukrainians in future attacks and should now lead the United States to review the unacceptable restrictions on the use of its weapons on Russian territory.

On the other hand, Islamic terrorists, ISIS and Kadirov band (read: Muslim colonies) are preparing for a more than likely disintegration of the Russian Federation. 

More than a Ukrainian victory against Moscow, what is underway is a second implosion within the decrepit Moscow medieval empire.

The urgency of putting an end to Vladimir Putin's criminal adventure, therefore, has very dangerous ramifications, which the democratic world, China, India and even Turkey and Saudi Arabia will have to curtail for their safety.

We need a ten points peace plan for the region:

1 - Resignation of Vladimir Putin;

2 - Russia's withdrawal from all occupied lands in Ukraine, including Crimea;

3 - Creation of a demilitarised corridor 100 km wide along the entire border between Russia and Ukraine, monitored by a multinational military peacekeeping force, which includes the United States, China, the European Union, Brazil, India, Turkey and Saudi Arabia;

4 - Repairing damage caused by the unprovoked military invasion of Ukraine, using, in particular, the criminal wealth of Russian oligarchs accumulated in Western banks and tax havens;

5 - Trial of those responsible for committed and documented war crimes;

6 - Russia's acceptance of periodic inspections of its entire nuclear military arsenal;

7 - Imposing a threshold on total Russian military expenditure in the order of 1.5% of its GDP;

8 - The Russian Federation will lose its current status as a permanent member of the UN Security Council;

9 - Progressive and selective lifting of commercial and financial sanctions on Russia;

10 - Definition of a roadmap for Russia's democratization, which will allow the establishment of future cooperation and development treaties with NATO countries.

sábado, agosto 31, 2024

Que tal recomeçar o debate colonial?

Jovem cabo-verdiano confiante.
Gerado com a ajuda do ChatGPT


“But there’s also another aspect of the Portuguese colonial history, which is the existence of this big and important community of African descent” — Filipa Vicente.

Gostaria de ter visto esta exposição. A sua autora, Filipa Vicente, que não conheço, nem li, está de parabéns por esta abordagem da nossa íntima, contraditória, relação com tantos povos não-europeus. A ideia de levar, ainda que parcialmente, memórias fotográficas das comunidades africanas e afro-portuguesas residentes em Portugal e aqui chegadas desde 1975, i.e. desde o fim do império colonial, ao polémico Padrão dos Descobrimentos (peça central da exposição que Salazar mandou fazer, mostrando um império em relativa paz quando o mundo havia mergulhado na mais brutal guerra mundial que o mundo conhecera), foi um passo importante para desbloquear uma discussão que tarda sobre o nosso passado ultramarino, colonial e não colonial.

Convém explicar aos mais apressados, ou mentalmente condicionados, que as relações íntimas entre os portugueses e os povos das antigas colónias portuguesas, entre Portugal e os novos países que se libertaram (e que o nosso país libertou) da relação colonial, continuam bem e recomendam-se. Basta reparar que 50% das comunidades imigrantes residentes no nosso país provêm do Brasil, Cabo Verde, Angola, Guiné-Bissau, São Tomé e Príncipe. Curiosamente, a comunidade ucraniana é a terceira melhor representada no mosaico antropológico português, depois do Brasil e de Cabo Verde. Felizmente, estão todos, incluindo os agósticos e os ateus, embebidos no lastro histórico do Cristianismo.

Olhando para a demografia mundial, e em particular africana e europeia, perceber-se-à rapidamente que Portugal será no final deste século uma espécie de Cabo Verde em ponto grande, habitado por mulatos e mulatas. A nossa fraqueza tem sido, também, fonte de grandeza, sobretudo antropológica e de espírito. E já agora, neste ponto, ingleses, norte-americanos, alemães e russos nada têm a ensinar-nos. Os seus exemplos de colonialismo genocida e de racismo são sobejamente conhecidos. Desta gente gente nada temos que aprender em matéria de pós-colonialismo!

sexta-feira, dezembro 15, 2023

Os três erros fatais do AAE da CTI

PRIMEIRO ERRO FATAL

O Relatório Preliminar da CTI está ferido de morte ao dar uma resposta acrítica ao seguinte pedido do Governo (RCM 89/2022):

— DR Nº 199, 14/10/2022; 2.4 b) "Planificação aeroportuária, incluindo análise de capacidade e planos de desenvolvimento aeroportuário compatíveis com a evolução de um hub intercontinental".

A resposta crítica é esta: a manutenção, ou evolução dum hub inercontinental na Portela não passa duma miragem para políticos ignorantes e arrogantes, e para patos-bravos.

Porquê? Pois, porque 

1) a rede que no Brasil alimenta a Portela é uma situação excecional (herdada da falência da Varig e da entrada da TAP no Brasil) que em breve será acompanhada pela Espanha a partir dos 17 aeroportos brasileiros entretanto conquistados pela AENA

2) depois das ligações ponto-a-ponto nos grandes espaços regionais (Canadá, Estados Unidos, Brasil, Europa, China, etc.) é a vez das ligações ponto-a-ponto intercontinentais entrarem em cena. O Airbus A321XLR pode voar 5400 milhas non-stop, ou seja, ligar São Paulo e Nova Iorque a Madrid, Lisboa, Terceira ou São Miguel, de onde depois podem apanhar aviões Low Cost para toda a Europa. Vários hubs aeroportuários europeus sofreraão a partir de 2024 uma segunda vaga de erosão, e o conceito de grande hub aeroportuário continuará a desfazer-se nos grandes espaços regionais com malhas aroportuárias apertadas;

3) a ferrovia de alta velocidade, que já está a retirar muito tráfego aéreo entre Madrid e Barcelona, é outro fator de mudança nas dimensões e configurações dos aeroportos internacionais.

SEGUNDO ERRO FATAL

Não ter dada a importância devida ao facto de mais de 80% da procura do Aeroporto Humberto Delgado, bem como do seu recente crescimento exponencial, ter origem europeia (PORDATA, 2022). Os 20% de procura intercontinental, além de serem assimétricos (com picos bem determinados nos mercados do Brasil e mais recentemente nos Estados Unidos, e grande rarefação de procura no resto do mundo) não podem determinar o desenho e a estratégia de aumento da capacidade aeroportuária de Lisboa.

TERCEIRO ERRO FATAL

O facto de cerca de 80% da procura aeroportuária de Lisboa (como aliás dos restantes destinos nacionais) estar associado sobretudo 1) à procura turística; 2) aos movimentos pendulares de uma parte muito significativa da nova emigração portuguesa entre os países onde temporariamente trabalham e o nosso país (mais ou menos 50% dos emigrantes fazem parte da chamada 'emigração yo-yo'); 3) e aos negócios de milhares de micro, pequenas e médias empresas. O que une estas três categorias de passageiros é a adesão às ligações aéreas ponto-a-ponto, preferencialmente de baixo custo (vulgo Low Cost). Existem mais de 50 voos Low Cost, diretos, a partir do Aeroporto Humberto Delgado (todos para a Europa). Ou seja, sem ligações ponto-a-ponto de baixo custo, a Portela não seria o que hoje é, nem a procura do nosso país seria o que é desde 2002 (Ryanair: Dublin-Faro); 2006 (Ryanair: Londres-Porto); 2007 (easyJet: Porto-Genebra).

Em suma, não há mais fatores estatisticamente relevantes para o crescimento da procura dos aeroportos portugueses do que o  turismo, a emigração e as micro, média e pequenas empresas. E esta procura depende criticamente das ligações ponto-a-ponto e do baixo custo das viagens.

Tudo o resto são fantasias dos políticos e de quem os serve, pondo por vezes em causa a ética profissional.